domingo, 4 de dezembro de 2011

Veja como torram o seu dinheiro, caro leitor; alias, desde o começo...

Não pense que as obras serão retomadas e terminadas, caro leitor; apenas lamente o dinheiro gasto inutilmente, especialmente se você for nordestino, ou sobretudo se você confiava em que o governo pode fazer coisas sensatas, com base em decisões insensatas...



Por Eduardo Bresciani 
Estado de S.Paulo, 4/12/2011

Entre Betânia e Custódia, obras estão paralisadas e placas de concreto começam a se soltar

Cenário de propaganda eleitoral da presidente Dilma Rousseff e responsável por parte de sua expressiva votação recebida no Nordeste, a transposição do Rio São Francisco foi abandonada por construtoras e o trabalho feito começa a se perder. O Estado percorreu alguns trechos da obra em Pernambuco na semana passada e encontrou estruturas de concreto estouradas e com rachaduras, vergalhões de aço abandonados e diversos trechos em que o concreto fica lado a lado com a terra seca do sertão nordestino.
O Ministério da Integração Nacional afirma que é de responsabilidade das empresas contratadas a conservação do que já foi feito e que caberá a elas refazer o que está se deteriorando. Informa ainda que vai promover novas licitações em 2012 para as chamadas obras complementares, trechos em que a pasta e as empreiteiras não conseguiram chegar a um acordo sobre preço. Segundo o ministério, as obras estão paralisadas em 6 dos 14 lotes e em um deles o serviço ainda será licitado.
Marcada por controvérsias, a obra da transposição começou a sair do papel em 2007 e, no ano seguinte, com os canteiros em pleno funcionamento, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua então ministra-chefe da Casa Civil e mãe do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) fizeram uma vistoria pela região para fazer propaganda da ação. Os dividendos eleitorais foram colhidos no ano passado por Dilma. Em Pernambuco, Estado onde começa o desvio das águas, ela obteve mais de 75% dos votos válidos no segundo turno da eleição. Nas cidades visitadas pelo Estado, onde as obras estão agora abandonadas, o desempenho foi ainda melhor. Em Floresta, a presidente obteve 86,3%; em Cabrobó e Custódia, 90,7%; e em Betânia, 95,4%.
Prometida para o final do governo Lula, a obra tem seu prazo de entrega sucessivamente adiado. A nova previsão é concluir os 220 quilômetros do eixo leste, de Floresta a Monteiro (PB), até o fim de 2014 e terminar no ano seguinte os 402 quilômetros do eixo norte, que sai de Cabrobó para levar água ao Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
A obra está atualmente orçada em R$ 6,8 bilhões, 36% a mais do que a projeção inicial. Segundo o ministério, foram empenhados R$ 3,8 bilhões para a obra e pagos R$ 2,7 bilhões às construtoras.
Abandono
Durante três dias, a reportagem percorreu cerca de 100 quilômetros da extensão dos canais da obra. O abandono foi a tônica da viagem, com canteiros completamente parados. As únicas exceções foram as partes da transposição sob responsabilidade do Exército.
Em um dos trechos visitados, na divisa das cidades pernambucanas de Betânia e Custódia, cerca de 500 metros de concreto estão totalmente quebrados, com pedaços se soltando do solo. Esse trecho terá de ser refeito para a água do São Francisco passar. O padre Sebastião Gonçalves, da diocese de Floresta, foi quem encontrou o trecho destruído durante vistoria frequente que faz pelas obras. “As empresas abandonaram as obras e já começou a se perder o trabalho feito. É um desperdício inexplicável.”
A parte que aparece com as maiores avarias está no lote 10 da obra, que teve as obras iniciadas pelas construtoras Emsa e Mendes Júnior.

O FMI ajudado pela America Latina - The Washington Post


Inédito, sem dúvida, em termos históricos, o fato de países latino-americanos -- não todos, claro, e certamente não a Venezuela ou a Argentina, a despeito das imensas em receitas de petróleo do primeiro país -- estarem ajudando países europeus, via FMI.
Paulo Roberto de Almeida 

In role reversal, Latin America may help IMF
By Juan Forero
The Washington Post, December 3, 2011

SAO PAULO, Brazil — In years past, the International Monetary Fund would bail out Latin American nations on the brink of economic disaster, including Brazil, which was often hammered by international crises and its own fiscal mismanagement.
But this past week, the new director of the Washington-based multilateral lender, Christine Lagarde, visited Brazil, fast-growing Peru and economically solid Mexico to praise the region’s macroeconomic management and take steps to ensure that Latin America is not infected by Europe’s debt crisis. Brazilian and Mexican financial officials also told reporters their countries are leaning toward contributing to the IMF’s war chest, as Lagarde, who is French, determines how the lender will assist Europe.
“Those bilateral loans will be important,” Lagarde said in an interview here Friday in Brazil’s industrial heart. “They are a very efficient way to increase resources, if that was needed. And to have a strong signal from various emerging markets that should it be the case — if it’s necessary — they will stand ready to do so.”
Though the IMF has $390 billion available for loans, Lagarde has indicated that it may not be enough should the situation markedly worsen in Europe. The possibility of more contributions to its funds, then, is “reassuring,” she said.
“It gives confidence both within but also more importantly outside the IMF that the institution will be equipped to deal with the issue,” she said.
Economists and observers say Lagarde’s visit represents a sharp role reversal for Latin America and the IMF, which historically preached austerity in the face of hard economic times.
Over the past decade, Brazil and its neighbors have controlled inflation, implemented fiscally responsible policies and restored confidence. Chinese demand for commodities, along with increasingly robust domestic demand, has fueled the fastest sustained growth in Latin America in decades.Rainy-day funds in some countries and a well-managed banking sector helped shield the region from the subprime collapse in the United States and now from the European crisis.
“It seems like the tables have been turned,” said Michael Shifter, president of the Inter-American Dialogue policy analysis group in Washington. “Latin American finance ministers used to shudder when IMF officials came to the region. And they were scolded, they were berated by IMF officials, who told them the way to do things. . . . Now they’re the model of fiscal discipline and responsibility.”
Though not dependent on any one region or country, the IMF is looking to the biggest economies here — Brazil’s is the world’s seventh-largest, and Mexico is in the top dozen — to join forces with China, India, Russia and other muscular emerging economies. Lagarde stressed that it is not just about loans but about creating a buffer against European spillover while remaining a robust market for Europe’s exports.
“It’s often the case that when one part of the world is not doing so well, the other ones are going to drive the bus and take the global economy forward,” Lagarde said.
The 55-year-old former French finance minister, who became the IMF chief in July, said that she does not expect the emerging markets to have the firepower to rescue the developed countries that are in trouble. “But it’s terribly important for Latin America to continue on this very sustainable, solid, well-balanced path that they have embarked on 10 to 20 years ago,” she said.
To many countries in this region, the 1980s and much of the ’90s were considered lost years, as economies stagnated and inflation skyrocketed.
Now, those countries have a debt-to-GDP ratio hovering around 50 percent, less than half what it is in many European countries, said Claudio Loser, an Argentine economist who worked at the IMF for 30 years. As recently as last year, some countries grew at rate of 6 to 9 percent. Even this year, economic output for Latin America is expected to hit 4.5 percent, three times higher than in developed countries.
Loser said the region can contribute to the worldwide economy simply by adequately addressing troubles such as an uptick in inflation or a slide toward recession. “By being stable, they can continue demanding the products that they buy from Europe,” Loser said. “So a good situation in Latin America helps Europe.”
In the interview, Lagarde noted the region’s adherence to market fundamentals but said she had also been “amazed by the determination” of some governments to implement policies that reduced poverty. Indeed, her visit came as newly released U.N. statistics showed poverty in Latin America at its lowest level in 20 years, having fallen from 48 percent of the population in 1990 to 31 percent last year.
Lagarde also stressed that she was here to learn from countries that had been whipsawed by economic storms and to see “what suggestions, what advice, they can give.”
Latin American leaders, Lagarde said, “recognize in some of the European reactions their own reactions” to crises in the past, namely, a denial phase in the face of increasingly bad news. She said that finance officials here had emphasized to her the need “to act fast and to act decisively.”
Much of the public interest generated by her visit, though, centered on how much Brazil and other emerging countries might provide the IMF. That remained unclear even as Lagarde left Brazil late Friday, but the government here seemed to savor that there had even been talk about the issue.
“This time, the IMF did not come to bring money but to ask for money,” Finance Minister Guido Mantega told reporters Thursday. “I would prefer to be a creditor than a debtor.”
In a switch from the past, when the IMF made loans to the region contingent on certain conditions, officials in Brazil and other developing countries have been talking about the structural reforms needed in Europe as they consider funneling money there.
Carlos Marcio Cozendey, secretary for international affairs in the Brazilian Finance Ministry, spoke in a phone interview of the importance of lessening risk. Still, he said, Brazilian leaders felt obliged to help.
“Brazil has a stable economic situation and, on the external side, we have the reserves,” Cozendey said, referring to foreign reserves topping $350 billion. “It would be part of our responsibility to help in these efforts.”

sábado, 3 de dezembro de 2011

O FMI ajudando a Europa pode espalhar a crise pelo mundo - Washington Post

Um artigo do Washington Post que reflete as preocupações de Washington no sentido em que a mobilização do FMI, e do dinheiro de todos os 187 membros, para salvar os europeus, poderia espalhar a crise para todos os lados...
Paulo Roberto de Almeida 

Euro program at IMF could spread rescue risk worldwide

The Washington Post, December 2, 2011


The Obama administration has been adamant that Europe can afford to resolve its financial crisis on its own, and that U.S. taxpayers and others outside the region should not foot the bill for any expanded bailout effort.
But a developing plan for Europe to funnel rescue funds through a series of loans to the International Monetary Fund could leave the United States and other IMF members holding the bag.
Video
Dec. 2 (Bloomberg) -- Wolfgang Munchau, president and co-founder of Eurointelligence, talks about the European sovereign-debt crisis and the outlook for next week's leaders' summit. He speaks with Maryam Nemazee on Bloomberg Television's "The Pulse." Bob Janjuah, co-head of cross-asset allocation strategy at Nomura International Plc, also speaks. (Source: Bloomberg)
Dec. 2 (Bloomberg) -- Wolfgang Munchau, president and co-founder of Eurointelligence, talks about the European sovereign-debt crisis and the outlook for next week's leaders' summit. He speaks with Maryam Nemazee on Bloomberg Television's "The Pulse." Bob Janjuah, co-head of cross-asset allocation strategy at Nomura International Plc, also speaks. (Source: Bloomberg)
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European finance officials emerged from high-level meetings last week saying they would “rapidly explore” how to use the IMF as a way to channel money from European countries that can afford it, such as Germany, to ones such as Italy or Spain that might need extensive amounts of support.
Routing the money through the IMF would solve a number of political problems for Europe — chiefly allowing Germany and other wealthier nations to avoid the appearance of directly underwriting spendthrift nations such as Italy.
“There is a certain subterfuge” involved in the plan that is taking shape, said Edwin M. Truman, a senior fellow at the Peterson Institute for International Economics and a former adviser to the U.S. Treasury.
But the proposal would also spread the risks of bailing out struggling European countries throughout the IMF’s membership. Any loans made to the IMF would become obligations of the agency’s 187 members – including the United States, the fund’s largest single shareholder. If the money is used to pay for bailouts of major nations, such as Italy, and those efforts go sour, the fund’s members would have to ensure that the IMF repaid the nations that provided the funds.
U.S. officials are exploring a number of waysto allow the IMF to get more involved in Europe’s problems at no cost to U.S. taxpayers, including an increase in an IMF-administered loan pool that lets countries borrow major currencies, such as dollars and euros.
Treasury officials say that the IMF has never lost money bailing out a country and that any additional loans made by the agency would be subject to strict oversight.
Bilateral loans — with one country lending money directly to the IMF — have been used before as a way to boost the IMF’s financial power without forcing the full membership to pay for a general increase in the agency’s capital base.
IMF officials note that there has never been a complete default by a country on loans provided as part of an IMF rescue.
Countries do, however, occasionally fall behind on payments due the IMF. Sudan, Somalia and Zimbabwe, for example, are in “protracted arrears” for debts going back as far as the 1980s and now totaling around $2 billion.
While the prospect of a developed European country defaulting on a loan to the IMF may have long seemed slim, the agency has been navigating new terrain since the onset of the financial crisis in 2007 — with a dramatic increase in its funds, lending and the associated risks. Instead of its traditional role in helping individual countries that are facing difficulty, the agency has been supersized into a “systemic” backstop for the entire world economy. The IMF has expanded the types of loans and financing programs it offers and, with the start of the European debt problems, was plunged into a crisis in the industrialized world as never before.
Of the fund’s roughly $950 billion in financing, less than $400 billion remains available — not enough to comfortably shoulder major programs in Spain or Italy if they are needed.
“The IMF will need more resources should the crisis deepen further,” fund spokesman Gerry Rice said Friday.
But there is opposition, including from the U.S. government, to boosting IMF funding solely to help the euro zone, a region with $12 trillion in annual economic output and immense household and corporate wealth.
The bilateral loan arrangement would skirt that and other touchy issues.
Countries that don’t want to participate in the program wouldn’t have to. Increases in the agency’s general financing are paid for by member countries based roughly on their size and the importance of their economy. But no IMF member would be obligated to provide a bilateral loan. European officials say they hope the program may draw contributions from countries such as China, but they expect that much of any new funding would come from Europe itself.
Using the IMF also prevents the euro region’s deep-pocket countries, primarily Germany, from being pressured to make direct loans to any other countries.
Direct loans were provided by Germany and other countries to Greece for its current bailout. That provoked strong opposition from German citizens, who were resentful of helping a country seen as lacking financial discipline. Help for Italy, if it is needed, would be far more expensive — and the political controversy that much more intense.
Loaning money to the IMF, instead of directly to a failing euro neighbor, could defuse the difficult politics. The agency can use the money for rescue programs as needed, attaching economic and budget conditions to any bailout.

A democracia deles e a da OEA: vale quanto pesa?

Países da assim chamada América Latina criaram uma coisa chamada Comunidade dos Estados Latino-Americanos, chamada de democrática pelos assim chamados membros da união sem tutela (do Império, entenda-se).
Parece que eles, os assim chamados, não são muito explícitos ao tratar da assim chamada democracia.
Na OEA, desprezada pelos que se reuniram em Caracas, a questão é tratada de forma bastante explícita.
Quem quiser conferir, pode ver este instrumento:

Carta Democrática da OEA, adotada em Lima, em 11.09.2001; disponível: http://www.oas.org/OASpage/port/Documents/Democractic_Charter.htm.

Nem todo mundo está contente com a criação de sua nova e vibrante substituta. O jornalista abaixo, por exemplo, acha que a comunidade sem o império fica menos democrática. Não é para menos.
Confiram...
Paulo Roberto de Almeida


Reinaldo Azevedo, 3/12/2011

Em 2010, decidiu-se criar uma estrovenga chamada Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez lutaram muito por ela. O ditador venezuelano, por exemplo, afirma que a nova entidade vai tornar caduca a OEA (Organização dos Estados Americanos). A tal Celac tem de assinar uma declaração sobre democracia. Mas como fazê-lo sem ferir os, digamos, sentimentos dos governos de Cuba, Venezuela, Equador, Bolívia ou Nicarágua, países governados pelas esquerdas em que ou há ditadura escancarada ou mecanismos típicos de regimes ditatoriais, como censura à imprensa?
Dilma está na Venezuela tratando do assunto. O governo brasileiro, que acaba de aprovar a “Comissão da Verdade” porque, vocês sabem, repugna-o a ditadura, foi lá dar piscadelas para tiranetes. Leiam o que informa Lisandra Paraguassu, no Estadão. Volto em seguida com algumas indagações de cunho puramente lógicos.
*
A declaração sobre democracia que será assinada pelos 33 países da recém-criada Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) teve de ficar no genérico. Para não ferir sensibilidades e ser aprovada por todos, a declaração, apoiada pelo Brasil, se concentra na condenação a tentativas de golpe e de “subverter o Estado de Direito”, mas deixa de lado questões como eleições diretas livres ou liberdade de expressão, pilares da democracia.
A cláusula democrática prevê que o país onde haja um golpe de Estado seja excluído da Celac e só possa voltar quando a situação tenha retornado à normalidade política.
No entanto, a não realização de eleições, o controle do Estado sobre a mídia e uma divisão nebulosa entre os poderes - características de países vistos como “democracias duvidosas” - não vão ser consideradas, pois poderiam causar constrangimento para países como Cuba e a própria Venezuela, anfitriã do encontro de cúpula.
Suspensão. “A declaração é calcada na cláusula da Ibero-Americana (cúpula que reúne América Latina, Portugal e Espanha) e prevê que, se houver violação da democracia, o país pode ser suspenso da organização”, explicou o subsecretário-geral da América do Sul, embaixador Antonio Simões. Uma versão muito mais fraca, por exemplo, do que a cláusula democrática da União de Nações Sul-Americanas (Unasul).
A declaração constitutiva do grupo de países trata claramente da necessidade de respeito “as liberdade fundamentais, incluindo a liberdade de opinião e expressão” e o “exercício pleno das instituições democráticas e o respeito irrestrito dos direitos humanos”. “Com mais países, a tendência é que o mecanismo não fique tão forte”, reconheceu o embaixador. “Mas, dentro da expectativa que temos, é absolutamente adequada. Não se pode prever cada coisa. Situações específicas tem de ser enquadradas nas situações genéricas”, ponderou Simões.
Voltei
Antônio Simões é diplomata e coisa e tal. Entre as suas funções, está tentar dar nó em pingo d’água e usar as palavras mais para esconder do que para revelar. Como é? Se houver violação à democracia, o país pode ser suspenso, é? E quem já entra nela com a democracia violada, como Cuba e Venezuela? O que se entende por democracia está em prática no Equador, na Bolívia ou na Nicarágua, em que a imprensa vive sob constante assédio do estado? Que diabo de “declaração democrática” é essa que não pode fazer referência a eleições para não deixar zangados os irmãos carniceiros que governam Cuba, onde o Granma, jornal oficial, é usado como papel (anti)higiênico — e isso não é metáfora? Há a possibilidade, para, poucos, de consultar a versão virtual em www.granma.cubaweb.cu/; na edição internacional, basta www.granma.cu
Golpe não pode, mas ditadura pode! Venham cá: e se for um “golpe democrático” numa ditadura? Pode ou não? É claro que estou fazendo uma ironia. É preciso tomar cuidado quando gente como Chávez, Raúl Castro, Evo Morales, Rafael Correa e o orelhudo Daniel Ortega falam em “estado de direito”. A China, à sua maneira, é um estado de direito, né? Tem leis. Seus tribunais a aplicam. O Brasil escravocrata era um “estado de direito”. Romper a ordem de direito de uma ditadura é coisa desejável, não?
Diz o embaixador que “não se pode prever cada coisa”. É verdade! Esse negócio de tentar misturar democracia com eleições, dados esses parceiros, parece um excesso de rigor… A Celac nasce para ser uma vitrine de democratas exóticos. Dilma está pondo a sua assinatura num papelão.
PS - “Ah, mas ela não tinha o que fazer, né? Tinha de assinar. Não é pessoal!” Eu sei. Claro que não é pessoal! A Celac nasce de uma visão de mundo da qual ela faz parte.

A marcha do Apartheid no Brasil: o estado do debate


Yvonne Maggie
Blog Contra a Racialização do Brasil, sex, 02/12/2011

O Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC) promoveu neste mês de novembro um seminário para discutir a política de cotas raciais. A ministra, Luiza Barrios, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), foi convidada a fazer uma palestra de 30 minutos, seguida de debate com os demais membros da mesa: a procuradora do Distrito Federal e mestre em direito pela UnB, Roberta Fragoso; o antropólogo e pós-doutorando da Faperj no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, Fabiano Dias Monteiro, e o professor titular do departamento de sociologia da USP, Antônio Sérgio Alfredo Guimarães. O presidente Fernando Henrique abriu os trabalhos e fechou o seminário.  Infelizmente não estive presente, por motivos alheios à minha vontade.
A imprensa e diversos meios eletrônicos noticiaram o evento e meu relato se baseia nas notícias por eles veiculadas. O seminário se concentrou nos debates sobre as estratégias de enfrentamento do racismo e em como resolver a questão da “raça” como fator decisivo nas políticas públicas.
A ministra Luiza Barrios expressou a posição da Seppir sobre a importância das ações afirmativas com base na raça não só no ensino superior, mas também no mercado de trabalho.
A procuradora Roberta Fragoso fez um discurso emocionado contra as políticas com base na “raça” que dividirão a nação em brancos e negros alertando para o fato de o Estado não poder obrigar ninguém a se classificar por uma ou outra categoria,  por ser  uma questão de foro íntimo.
O sociólogo Antonio Sérgio Alfredo Guimarães reafirmou que apesar de a categoria “raça” não ter a menor validade científica, é frequentemente acionada em termos ideológicos e políticos, dando origem à discriminação e à desigualdade e, por isto, deve ser vista como categoria sociológica.
O antropólogo Fabiano Dias Monteiro afirmou que a política de cotas ainda está sendo testada e é cedo para dizer se produzirá ou não a cisão racial. Segundo Fabiano, sendo o objetivo destas políticas a produção da categoria jurídica do “negro”, uma das consequências já palpáveis é a diminuição da criminalização do racismo em nome do combate ao “racismo estrutural”. Muitos programas de combate ao racismo foram extintos, como o Disque Racismo do Rio de Janeiro. Este é o argumento central da sua tese de doutorado que em breve sairá em livro.
O presidente Fernando Henrique afirmou acreditar ser difícil aplicar tais políticas de cotas por sermos um país em que ninguém sabe direito de que cor ou raça é. Disse que acha inadmissível a existência de tribunais raciais.
Concordo com o presidente. Os tribunais raciais são inaceitáveis porque são constitutivos desta política e não de sua má aplicação. Embora, até hoje, na maioria das leis promulgadas,  a cor ou a “raça” sejam  definidas  por autoclassificação, em todas elas, o cidadão deve se autodeclarar “negro” ou “índio”, sob as penas da lei. Ou seja, o Estado pode julgar se houve má-fé, mentira,  e pode punir. O Estado é o detentor da verdade sobre a autodefinição de cor ou “raça”. Ao contrário dos levantamentos censitários em que o indivíduo, embora obrigado a se definir de acordo com os cinco quesitos de cor: branco, preto, pardo, amarelo e indígena (não existem as opções – não quis responder  ou não sabe), não está sujeito às penas da lei caso se declare preto sem o ser.
Isto não acontece no que se refere às leis de cotas raciais ou  àquelas emanadas do legislativo – no estatuto da igualdade racial, nos concursos públicos em alguns estados, e para o acesso ao ensino superior em outros – onde há reservas de vagas para negros e índios. Nestas, fica-se sujeito a um julgamento. Ao se classificar para um concurso, um indivíduo de pele clara, que tenha uma avó um bisavô negros, ao se declarar negro poderá ter sua “confissão”  posta em questão e ainda ser levado às barras do tribunal.
Os tribunais raciais, como a violência física contra as mulheres, não são um epifenômeno, são, de fato, intrínsecos às relações estruturais, às políticas com base na “raça” e às relações de poder entre homens e mulheres. Se o movimento feminista obteve enorme sucesso em convencer muita gente, inclusive legisladores, de que a violência contra a mulher é inadmissível, o mesmo parece não estar ocorrendo em relação aos tribunais raciais que se multiplicam.
Dizer-se contra os tribunais raciais é dizer-se contra as políticas baseadas na “raça”, pois um e outro são constitutivos do mesmo sistema, sistema que pressupõe que os cidadãos precisam ser divididos, legalmente,  em “raças” para fazer jus a direitos universais.

A frase da semana: o Brasil, tal como visto por dois realistas...


No Brasil, ninguém tem a obrigação de ser normal. 
Andrei Pleshu, filósofo romeno


Complementado por Olavo de Carvalho:

Se fosse só isso, estaria bem. Esse é o Brasil tolerante, bonachão, que prefere o desleixo moral ao risco da severidade injusta. Mas há no fundo dele um Brasil temível, o Brasil do caos obrigatório, que rejeita a ordem, a clareza e a verdade como se fossem pecados capitais. O Brasil onde ser normal não é só desnecessário: é proibido. O Brasil onde você pode dizer que dois mais dois são cinco, sete ou nove e meio, mas, se diz que são quatro, sente nos olhares em torno o fogo do rancor ou o gelo do desprezo. Sobretudo se insiste que pode provar.

Clube do Bolinha (latino-americano): a presenca do nao-presente...

Quanto mais se afastam do gigante indesejado, mais se reforça a ideia de sua presença na região.
Curiosa maneira de construir algo, em qualquer setor, pela exclusão...
Deve ser despeito, ou complexo de inferioridade.
Se não for atraso mental, claro...
Paulo Roberto de Almeida 



Presidentes latino-americanos criam novo bloco regional e deixam EUA de fora
Claudia Jardim
De Caracas para a BBC Brasil, 2/12/2011

Presidentes e representantes dos 33 países da América Latina se reúnem nesta sexta-feira, em Caracas, para formalizar a criação da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac).
Grupo enfrentará o desafio de implementar políticas independentes dos EUA

Será a primeira vez que os países do continente se articulam em uma mesma plataforma política - com a tarefa de tentar aprofundar a integração regional - sem a presença dos Estados Unidos e do Canadá.
Segundo analistas, a Celac nasce com o desafio de criar uma organização capaz de gerar consenso entre os países e cuja institucionalidade seja capaz de implementar políticas de integração autônomas em relação aos Estados Unidos.
Entre as contradições a serem enfrentadas pelo bloco está a de construir políticas comuns em uma região ainda marcada por diferentes níveis de desenvolvimento econômico, pobreza, crime organizado e, em especial, antagonismos no campo político-ideológico.
O presidente venezuelano Hugo Chávez, conhecido pelas críticas ao governo de Washington, e pelo discurso anti-imperialista em encontros regionais, adotou um tom moderado ao falar sobre a nova organização regional e reconheceu que ela deverá respeitar a heterogeneidade dos países e de seus projetos, estejam eles à esquerda ou à direita do campo político.
"Temos que ter muita paciência, muita sabedoria. Não podemos deixar-nos levar pelas ideologias governantes em um país ou outro", disse Chávez na última quinta-feira, minutos antes de receber a presidente Dilma Roussef no Palácio de governo.
"Este processo tem que ser independente do socialismo cubano, do socialismo venezuelano, ou do sistema de governo e ideologia do governo do Brasil, da Colômbia (...) é a união política, geopolítica, e sobre esta união vamos construir um grande polo de poder do século 21."
O primeiro debate do grupo, realizado na noite desta quinta-feira, já mostrou como deve ser difícil conseguir o consenso entre os países do novo bloco. Os países não chegaram a um acordo sobre como será o mecanismo para a tomada de decisões - por unanimidade ou por maioria qualificada. O debate deve ser retomado nesta sexta-feira.
Institucionalidade
O maior desafio para a Celac será "passar da afirmação de uma identidade e articulação política a uma institucionalidade que permita aos países tomar decisões", disse à BBC Brasil Luis Fernando Ayerbe, coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Unesp.
Uma das propostas do documento constitutivo da Celac é um protocolo de defesa da democracia e direitos humanos, aos moldes da cláusula anti-golpe de Estado estabelecida pela Unasul (União de Nações Sul-Americanas).

"Washington ainda é o principal problema no hemisfério, especialmente com respeito à democracia e à auto-determinação nacional."
Mark Weisbrot, co-diretor do Center for Economic and Policy Research

Entre as divergências iniciais está a posição do novo bloco a respeito do futuro da Organização de Estados Americanos (OEA), cujo papel passou a ser questionado durante a crise boliviana, em 2008 e depois do golpe de Estado em Honduras, em 2009.
Venezuela, Equador e Bolívia defendem que a OEA já teria cumprido seu papel histórico no hemisfério e deve ser substituída.
"Não é possível que os conflitos latino-americanos tenham que ser tratados em Washington", defendeu o presidente equatoriano Rafael Correa, dias antes da Cúpula.
"(Espero) que mais cedo que tarde (a Celac) possa substituir a OEA, que historicamente tem tido grandes distorções", acrescentou.
Esta posição, no entanto, ainda não é um consenso entre a maioria dos países da região, que até agora preferem defender a coexistência das duas instituições.
Para o analista internacional Edgardo Lander, professor da Universidade Central da Venezuela, a Celac tende a contribuir para o enfraquecimento da OEA, mas ainda é cedo para falar de sua extinção.
"A substituição da OEA pela Celac não será fruto de um decreto ou de declarações a favor ou contra, e sim pelas vias de fato", disse à BBCBrasil.
Lander cita como exemplo a atuação da Unasul na resolução do conflito da Bolívia, em 2008, que ele considera 'decisiva'. "Se a Celac mostrar que pode solucionar os conflitos regionais sem a intervenção dos Estados Unidos, o papel da OEA vai perder força naturalmente."
Independência
Para o o economista americano Mark Weisbrot, co-diretor do Center for Economic and Policy Research, de Washington, a Celac é criada em um momento em que a América Latina se consolida como uma região "mais independente do que nunca".
"Washington ainda é o principal problema no hemisfério, especialmente com respeito à democracia e à auto-determinação nacional", disse Weisbrot à BBC Brasil.
O analista político venezuelano Carlos Romero, professor de estudos internacionais da Universidade Central da Venezuela, diz que a criação da Celac é um "passo positivo que marca um processo de maturidade política"da região.
No entanto, ele afirma que isso não necessariamente significará a existência um bloco antagônico a Washington. "Os EUA já não exercem a mesma tutela do passado", diz.
A discussão do grupo ainda deve incluir a criação de um fundo de reserva para enfrentar a crise financeira internacional.

Brasil deverá ter papel de liderança na integração regional, segundo analistas

"Quanto mais nos integrarmos, mais estaremos preparados para enfrentar este furacão que a economia mundial está vivendo e a instabilidade do resto do planeta", afirmou o presidente colombiano Juan Manuel Santos, principal aliado dos Estados Unidos na América do Sul.
Liderança brasileira
Os especialistas concordam que o Brasil tende a assumir um papel de "liderança natural" na Celac, protagonismo que antes era dividido com o México quando se tratava do hemisfério como um todo.
"O Brasil é uma potência regional, tem sido (protagonista) pró-democracia e em defesa independência regional na América Latina. Deve ajudar a desempenhar este papel dentro Celac", disse Mark Weisbrot.
O governo brasileiro vê a Celac como o "terceiro anel" do processo de integração regional, seguido do Mercosul e da Unasul.
A reunião de Cúpula para a abertura da Celac havia sido marcada para 5 de julho, mas foi adiada imediatamente após o presidente venezuelano Hugo Chávez ser diagnosticado com câncer, no final de junho.
A Celac unificará as estruturas do Grupo do Rio, mecanismo de consulta internacional regional criado em 1986, e da Calc (Comunidade América Latina e Caribe) e deve trabalhar em cinco áreas: política, energia, desenvolvimento social, ambiente e economia

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...