quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

A politica externa lulista e a dilmista: um observador externo - Thiago de Aragao (InfoLatam)

Política Brasil

Uma Política Externa Multifacetada

Arko Advice

Por THIAGO DE ARAGÃO, 12/02.2014

Quando o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva tomou posse em janeiro de 2003, inaugurava-se uma fase diferente da política externa brasileira. De algo tradicionalmente mais discreto, que vinha ocorrendo nos últimos governos e ajudou a consolidar os diplomatas brasileiros como os de primeiro escalão em vários países, passou-se a algo mais aberto, espalhafatoso e direto.
Sem entrar em juízo de valor sobre erros e acertos na política externa do ex-presidente Lula, o fato é que ela existia. Claro que estruturalmente funcionava de uma forma longe do tradicional. Enquanto antigamente se baseava quase que exclusivamente dentro do Itamaraty, Lula inaugurou uma fase “bicéfala” da política externa brasileira.
Essa fase contava com a grande participação e influência de Marco Aurélio Garcia. Militante antigo e respeitado dentro do PT, Garcia instigava e ainda instiga admiração entre militantes do partido e aversão entre outros que não concordam com sua forma de atuar.
De qualquer forma, para o bem ou para o mal, no governo Lula, existia uma política clara de atuação internacional que passava por várias categorias. A consolidação de uma liderança regional por meio do “soft power”, a consolidação de uma presença marcante na África por meio do comércio, a participação em eventos críticos no Oriente Médio por meio da negociação e um posicionamento firme em relação aos Estados Unidos e Europa por meio da contraposição.
Essas categorias, por mais que fossem contraditórias em muitas fases, deixavam claro que o Brasil possuía interesses delineados na política externa. Claro que houveram alguns equívocos de leitura no caminho, como por exemplo apostar em uma ampliação do bolivarianismo na região, ao colocar-se como uma liderançaa regional teoricamente neutra, porém, bastante inclinada para os países desse “bloco” bolivariano.
No Oriente Médio, a tentativa de negociação com o Irã, conjuntamente com a Turquia, foi uma passo ousado, e para quem sabe das negociações de bastidores, foi muito bem feita pelo Brasil. No entanto, o país não conseguiu costurar satisfatoriamente com o P5+1 e viu seus esforços irem por água abaixo apenas alguns dias após a histórica reunião em Teerã.
No caso da contraposição com os Estados Unidos e Europa, pode-se dizer que, do ponto de vista do Governo Lula, houve sim uma vitória a partir do momento que o BRICS viveu uma fase áurea, e a consolidação da China como principal parceiro comercial ocorreu. O aspecto interessante desse fato é que mesmo marcando posição como um país “não-alinhado”, o ex-presidente Lula se dava incrivelmente bem com o ex-presidente George W. Bush.
No entanto, a busca pelo assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, que sempre foi o pano de fundo dessas ações, ficou ainda mais distante. Por mais que o Brasil tenha colocado a “cara à tapa” em muitas situações, colocou-se também como um país contraditório em questões importantes que prejudicaram essa campanha.
Não imagino que teremos uma reforma tão cedo, por mais que seja hora e o Brasil mereça esse assento, contudo, qualquer tentativa de colocar-se entre os grandes decisores, ocorre por meio da geração de confiança mútua. Essa confiança se torna abalada, ao se tratar de temas que, teoricamente não seriam importantes o suficiente para o Conselho, o Brasil se mostra claramente contraditório. O caso da interpretação e leitura de direitos humanos, por exemplo, se torna confuso, na visão de alguns países e de algumas sociedades. Como condenar abusos (corretamente) em alguns países distantes e tolerar em muitos países vizinhos?
Ao fim do Governo Lula, consolidou-se um terceiro ator de grande importância para a formulação da política externa brasileira. Enquanto o Itamaraty era responsável por uma visão mais global – mas fora da América Latina, pois isso ficava (e fica) a cargo da Assessoria de Relações Internacionais da Presidência –, o BNDES se colocou como um grande “fomentador de alianças”. Obras começaram a surgir em vizinhos, países africanos, países da região, tendo sempre o BNDES como facilitador e fomentador.
Bem ou mal, o que antes da era Lula ficava restrito ao Itamaraty, após o início do seu governo se dividiu entre vários importantes atores: Itamaraty mantinha o controle sobre a diplomacia formal e protocolar, Marco Aurélio Garcia liderava a interação e aproximação com vários países latino-americanos, o BNDES aprovava e chancelava projetos (principalmente de infraestrutura) não apenas na região, mas também na África e o Ministério de Indústria e Comércio Exterior assumia uma posição mais forte em relação à crescente importância da China e da Rússia no comércio brasileiro.

Tudo isso, ainda ocorre hoje, no entanto, com uma grande e importante diferença. A presidente Dilma Rousseff não possui o mesmo interesse em política externa quanto o seu antecessor, Luis Inácio Lula da Silva. Esse buscava um papel internacional de conciliador semelhante ao que foi capaz de costurar dentro do seu próprio partido e muitas vezes frente a partidos de oposição dentro de seu governo. Com uma postura mais doméstica e voltada para garantir pilares macroeconômicos, Dilma abriu mão de seguir um caminho semelhante ao de Lula.
Uma importância crucial também passa pela Vice-Presidência da República. O vice-presidente Michel Temer assumiu a postura de capitão das relações de alto nível com China, Rússia e, em algum nível, com o Oriente Médio.
Pela sua característica e a característica da presidente Dilma, Temer se coloca como o principal expoente da política externa brasileira, no entanto, apenas em relação a esses dois países. Dilma até que buscou modificar as relações com os Estados Unidos. Sua tentativa, que buscava uma aproximação mais pragmática e menos ideologizada, esbarrou nas denúncias feitas por Edward Snowden. Mas, mesmo antes das denúncias, a perspectiva da parceria com os Estados Unidos em diversas áreas visava a fortalecer as balizas domésticas (que a presidente sempre se preocupou) e não necessariamente colocar o Brasil como um aliado em questões críticas de política externa. Seus resultados práticos seriam sentidos, principalmente no comércio bilateral e não necessariamente em posicionamentos semelhantes em questões geopolíticas.
O grande diferencial de um governo para o outro, é a referência que foi criada. Lula se colocou espontaneamente como a referência brasileira em uma época na qual o Brasil era reconhecido como a “bola da vez”. Com todos os equívocos e alguns acertos, a política externa brasileira tinha a cara de Lula e esta era bem vista na grande maioria do mundo. Dilma não quis ser a cara de sua política externa, tampouco elegeu uma figura dentro do governo para ocupar esta posição. Assim, dentro dos interesses setoriais, várias políticas externas são formuladas em paralelo.
Claro que podemos mencionar o discurso da presidente feito na Assembleia Geral da ONU como exemplo de posição tomada no campo da política exterior, no entanto, foi um discurso doméstico em um palco internacional para uma situação atípica. Suas criticas em relação as ações da NSA no Brasil visavam satisfazer correligionários mais do que mandar mensagens ao mundo. Hoje, os grandes feitos da política externa brasileira são feitos a porta-fechada e sem grande alarde. Isso pode representar um grande avanço em alguns pontos e um grande retrocesso em outros.
Os vários chanceleres da política brasileira: Michel Temer, Luis Figueiredo, Marco Aurélio Garcia, Fernando Pimentel, Luciano Coutinho, Celso Amorim e Guido Mantega seguem suas agendas e pautas individuais. Hoje é mais fácil ver quais da lista estão tendo êxito e quais não estão, no entanto, o que fica é que o Brasil não possui uma ambição clara sobre qual é seu papel no mundo. O que temos hoje são muitas faces onde o sucesso de um não representa o sucesso de outro, fazendo assim com que o país seja visto com desconfiança por muitos. Se antes haviam equívocos, ao menos estava claro qual o caminho que o Brasil queria seguir. Hoje esse caminho não está claro.

Museu das falcatruas totalitarias - Reinaldo Azevedo

Estas são as mentiras, as falcatruas, as fraudes do partido totalitário, no plano da política, da democracia e dos direitos humanos.
Eu poderia acrescentar os erros, os equivocos e todas as estupidezes cometidas no plano das políticas econômicas, macro e setoriais, que causaram imensas perdas ao país, a todos nós.
O maior é a perda de oportunidades: o Brasil deixa de crescer em função das estupidezes econômicas companheiras. Vou fazer a lista.
Paulo Roberto de Almeida 
O juiz Adriano Marcos Laroca, da 12ª Vara da Fazenda Pública, concedeu uma liminar contra a doação de um terreno de 4,3 mil metros quadrados, no Centro de São Paulo, ao Instituto Lula, que quer erguer ali o que pretensiosamente chama de “Museu da Democracia”. O tal museu, ora vejam!, pretende contar a história de Lula — e, claro, do PT. A doação do terreno foi aprovada pela Câmara dos Vereadores de São Paulo em 2011, por iniciativa do então prefeito Gilberto Kassab (PSD).
Ora, por que Lula deveria ter o direto de receber um terreno de graça? Por que o seu instituto, que é um ente privado, merece esse benefício?Escrevi a respeito no dia 15 de fevereiro de 2011. As minhas questões seguem as mesmas.
1: Constituição – A negativa dos petistas em participar da sessão homologatória da Constituição de 1988, uma das atitudes mais indignas tomadas até hoje por esse partido, fará parte do “Memorial da Democracia”, ou esse trecho sumirá da história? 
2: Expulsões  A expulsão dos três deputados petistas que participaram do Colégio Eleitoral que elegeu Tancredo Neves, pondo fim à ditadura – Airton Soares, José Eudes e Bete Mendes – fará parte do “Memorial da Democracia”, ou isso também será omitido?
3: Governo Itamar – A expulsão de Luíza Erundina do partido porque aceitou ser ministra da Administração do governo Itamar, cuja estabilidade era fundamental para o país, entra no Memorial da Democracia, ou esse fato será eliminado?
4: Voto contra o Real – A mobilização do partido contra a aprovação do Plano Real integrará o acervo do Memorial da Democracia, ou os petistas farão de conta que sempre apostaram na estabilidade do país?
5: Guerra contra as privatizações – As guerras bucéfalas contra as privatizações — o tema anda mais atual do que nunca — e todas as indignidades ditas contra a correta e necessária entrada do capital estrangeiro em setores ditos “estratégicos” merecerá uma leitura isenta, ou o Memorial da Democracia se atreverá a reunir como virtudes todas as imposturas do partido?
6: Luta contra a reestruturação dos bancos – A guerra insana do petismo contra a reestruturação dos bancos públicos e privados ganhará uma área especial no Memorial da Democracia, ou os petistas farão de conta que aquilo nunca aconteceu?
7: Ataque à Lei de Responsabilidade Fiscal – Os petistas exporão os documentos que evidenciam que o partido recorreu à Justiça contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, tornada depois cláusula pétrea da gestão de Antônio Palocci no Ministério da Fazenda?
8: Mensalão  O Memorial da Democracia vai expor, enfim, a conspiração dos vigaristas que tiveram o desplante de usar dinheiro sujo para tentar criar uma espécie de Congresso paralelo, alimentado por escroques de dentro e de fora do governo?
9: Duda Mendonça na CPI – Haverá no Memorial da Democracia o filme do depoimento de Duda Mendonça na CPI do Mensalão, quando confessou ter recebido numa empresa no exterior o pagamento da campanha eleitoral de Lula em 2002?
10: Dossiê dos aloprados – O Memorial da Democracia trará a foto da montanha de dinheiro flagrada com os ditos aloprados, que tentavam fraudar as eleições em 2006?
11: Dossiê da Casa Civil – Esse magnífico Memorial da Democracia trará os documentos sobre o dossiê de indignidades elaborado na Casa Civil contra FHC e contra, pasmem!, Ruth Cardoso, quando a titular da pasta era ninguém menos do que Dilma Rousseff, e sua lugar-tenente, ninguém menos do que Erenice Guerra?
12: Censura à imprensa – o Memorial da Democracia reunirá as evidências das muitas vezes em que o PT tentou censurar a imprensa, seja por meio do Conselho Federal de Jornalismo, seja por intermédio no Plano Nacional de Direitos Humanos?
13: Imprensa comprada e vendida  Teremos a chance de ver os contratos de publicidade do governo e das estatais com pistoleiros disfarçados de jornalistas, que usam o dinheiro público para atacar a imprensa séria e aqueles que o governo considera adversários nos governos dos estados, no Legislativo e no Judiciário?
14 – Novo dossiê contra adversário – O Museu da Democracia do Instituto Lula reunirá as evidências todas das novas conspiratas do petismo contra o candidato da oposição em 2010, com a criação de bunker para fazer dossiês com acusações falsas e a quebra do sigilo fiscal de familiares do candidato e de dirigentes tucanos?
15 – Uso da máquina contra governos de adversários – A mobilização da máquina federal contra o governo de São Paulo em episódios como o da retomada da Cracolândia e da desocupação do Pinheirinho entrará ou não no Memorial da Democracia como ato indigno do governo federal?
16 – Apoio a ditaduras  O sistemático apoio que os petistas empenham a ditaduras mundo afora estará devidamente retratado no Memorial da Democracia? Veremos Lula a comparar presos de consciência em Cuba a presos comuns no Brasil? Veremos Dilma Rousseff a comparar os dissidentes da ilha a terroristas de Guantánamo?
Fiz acima perguntas sobre 16 temas. Poderia passar aqui a noite listando as vigarices, imposturas, falcatruas e tentativas de fraudar a democracia protagonizadas por petistas e por governos do PT. As que se leem são apenas as mais notórias e conhecidas.
Não! Erram aqueles que acham que quero impedir lula — e o PT — de contar a história como lhe der na telha. Quem gosta de censura são os petistas, não eu! O Apedeuta que conte o mundo desde o fim e rivalize, se quiser, com Adão, Noé, Moisés ou o próprio Deus, para citar alguém que ele deve julgar quase à sua altura, mas não há de ser com o nosso dinheiro.

Fronda empresarial: quando vira'? - Dora Kramer

Dda coluna de Dora Kramer, no Estado de S.Paulo, 12/02/2014:

Vantagem nenhuma. 
O governo trata as críticas do empresariado com desdém. Aqueles que não são qualificados como pessimistas, são incluídos na lista dos politicamente engajados em candidaturas presidenciais da oposição.
Fica faltando, porém, uma justificativa para as reiteradas recusas de empresários simpáticos ao Planalto em assumir a pasta do Desenvolvimento no lugar de Fernando Pimentel. Dois exemplos mais recentes, Josué Gomes da Silva e Abílio Diniz.
O último empresário de grande porte a participar do governo, Jorge Gerdau, ficou falando sozinho quando apontou a impossibilidade de se administrar o País com 39 ministérios.

Siria: um genocidio em curso, em camara lenta, mas visivel e comprovado...

O ditador da Síria, desde que começaram os protestos contra o seu governo, mais de dois anos atrás, em lugar de abrir-se a uma nova etapa do itinerário democrático no seu país, está destruindo o seu próprio país, e matando o seu próprio povo, pois não pretende renunciar ao poder.
Não que todos os opositores sejam democratas, longe disso: existem fundamentalistas islâmicos entre eles, que talvez promovesses outras matanças, caso chegassem ao poder, e seriam intolerantes contra outras religiões que não a deles, enquanto a Síria, mesmo sob uma das ditaduras mais anacrônicas do planeta, sempre foi um regime laico, tolerante, multiconfessional.
A questão é a dos direitos humanos e da democracia, e percebe-se que um genocício está em curso, quando se leem notícias como estas:

"Syria
The U.N. mission to evacuate civilians from the besieged Old City of Homs and deliver aid resumed Wednesday after being suspended for a day. Talal Barzai, the governor of Homs, said operations had been suspended due to "logistical difficulties." The temporary cease-fire is set to expire Wednesday, but Barzai said it could be extended if more people wish to leave the area. The United Nations expressed concern over men and boys who have been detained after being evacuated. According to the United Nations, about 400 men between the ages of 15 and 54 have been detained, while the governor put the number at 330. The disparity in counts has raised concerns that 70 men have been transferred to the custody of security agencies. U.N. mediator Lakhdar Brahimi said peace talks between the Syrian government and opposition are not making much progress. Brahimi has moved up a meeting to Thursday with U.S. and Russian officials, hoping they can put pressure on their respective allies. On Wednesday, Russia said it would veto a U.N. resolution on humanitarian aid access in Syria if it remains in its current form. Russian Deputy Foreign Minister Gennady Gatilov said of the draft that its "aim is to create grounds for future military action against the Syrian government." Meeting in Washington, U.S. President Barack Obama and French President Francois Hollande criticized Russian aims to block the resolution. Hollande said, "Why would you prevent the vote of a resolution if, in good faith, it is all about saving human lives?" Meanwhile, Syrian warplanes pounded the strategic rebel-held town of Yabroud near Lebanon Wednesday. Syrian government forces backed by Hezbollah fighters have stepped up an offensive in apparent efforts to consolidate control over the border region."

Na última segunda-feira, 10/02, fui a New Haven, na Universidade de Yale, onde assisti a este documentário sobre os genocídios do século 20, e sobre a vida de Rafael Lemkin, o polonês que assistiu ao genocídio de seu próprio povo pelos nazistas, e dos judeus, em seu país e nas cercanias, e que inventou o nome de genocídio para qualificar esses crimes de eliminação de pessoas.
Creio que o termo se aplica inteiramente ao que está ocorrendo na Síria.
Eis a informação sobre o documentário, que recomendo.


Monday, February 10th, 7:00pm - Yale University
Luce Hall Auditorium, 34 Hillhouse Avenue
On Monday, February 10th the Jackson Institute will premier "Watchers of the Sky a documentary film that exposes the uncanny parallels of genocides across time and culture. The film interweaves four stories of remarkable courage, compassion, and determination, while setting out to uncover the forgotten life of Raphael Lemkin - the man who created the word "genocide," and believed the law could protect the world from mass atrocities. Each of the stories open a different window onto the atrocities of genocide, and shows the accumulative power of individuals to transform the world from apathy to action.
Opening remarks by Jackson Institute Senior Fellow, Luis Moreno Ocampo, the first Prosecutor of the International Criminal Court and producers Amelia Green-Dove and Elizabeth Bohart.   

Paulo Roberto de Almeida

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Alianca do Pacifico avanca agressivamente para o livre comercio; enquanto outros...

Parece que as comparações são inevitáveis, com certos "foot-draggers" (ou seja, os indecisos) do outro lado do continente.
Os desafios existem, inclusive o de aprofundar o déficit comercial, temporariamente, como preço a pagar pelo aumento geral dos fluxos comerciais. Mais adiante os desequilíbrios são corrigidos, via câmbio ou investimentos diretos, e o país fica melhor.
Só não acham os protecionistas renitentes...
Paulo Roberto de Almeida

Pacific Alliance: moving forward

Peru's Ollanta Humala, Chile's Sebastián Piñera, Colombia's Juan Manuel Santos, Mexico's Enrique Peña Nieto and Costa Rica's Laura Chinchilla in Cartagena, Colombia
Peru's Ollanta Humala, Chile's Sebastián Piñera, Colombia's Juan Manuel Santos, Mexico's Enrique Peña Nieto and Costa Rica's Laura Chinchilla in Cartagena, Colombia
It’s all about free trade. The Pacific Alliance, a growing bloc in Latin America that stands among the world’s 10 largest economies, sealed a deal on Monday to eliminate tariffs on 92 per cent of goods and services in a move that distances it further from some of its more protectionist neighbours.
“I don’t think there has been an integration process that has taken decisions so fast as the Pacific Alliance has done,” Colombia’s President, Juan Manuel Santos, told beyondbrics.
Formed in June 2012 and cemented in May last year, the tie-up links the free-trading economies of Chile, Colombia, Mexico and Peru, and is moving quickly to fulfil the goal of unrestricted movement of capital, goods and services, as well as people.
Santos, Ollanta Humala of Peru, Enrique Peña Nieto of Mexico, and outgoing Sebastián Piñera of Chile shook hands at a presidential summit in Colombia’s colonial city of Cartagena, also agreeing that the remaining tariffs for agricultural goods will be eliminated gradually over the coming years.
The total output for the four members accounts for more than a third of Latin America’s total gross domestic product. According to the latest available data, in 2o12 the bloc attracted some 41 per cent of all foreign direct investment inflows. Exports were $550bn and imports $561bn in the same year.
Even if trade between the nations has been flowing thanks to bilateral agreements that were in place before the Pacific rim union was established, the alliance also opens the door for member countries to export to markets where some of them had limited or no access, strengthening their value chains to be more competitive in the global supply chain, with a particular focus on Asia.
Santos added:
“We have a common vision on how to manage our economies, common attitudes regarding foreign investment, the role of the market in the economy, respect for private property.”
“Because we have common denominators, we would be able to play with more specific weight on the global economy.”
Other regional economies such as Brazil, Argentina and Venezuela – which are part of another regional bloc called Mercosur – are more inward-looking when it comes to trade and capital flows, and have been struggling with slippery economic growth.
Notwithstanding, late last week, Brazil’s foreign minister, Luiz Alberto Figuereido ,said Mercosur was interested in trade integration with members of the Pacific bloc.
The Pacific Alliance is set to expand in coming months with the entrance of Costa Rica as a full member. Panama and then Guatemala are likely to follow suit. Several other countries inside and outside the region act as observers – including the US, the UK and China.
In addition to removing trade barriers, member countries have opened joint trade offices and diplomatic missions around the world in places such as Ghana, Azerbaijan and Vietnam.
Sceptics say that, for the moment, the Pacific club is not much more than a very successful marketing strategy that highlights how the member countries are open for business. Eduardo Ferreyros, Peru’s former foreign trade minister, shrugs off the argument, saying “what’s been agreed today demonstrates there are concrete results, there is dynamism.”

Relacoes internacionais, como profissao e como oportunidade - um texto PRA, mas de 2006

Muita coisa mudou, desde então, mas um leitor deste blog me relembrou deste texto, aliás postado novamente alguns anos depois, no site MundoRI.
Parece que eu era um pouco pessimista, segundo se pode ler pelo comentário de uma leitora crítica, ou cética de meus propósitos, ao final.
Bem, nunca se pode contentar a todos, não é mesmo?
Paulo Roberto de Almeida

As relações internacionais como oportunidade profissional / Paulo Roberto de Almeida

  • 14/9/2012

    Originalmente publicado em 2006 no próprio site do Diplomata Paulo Roberto de Almeida, estas resposta às questões mais colocadas pelos jovens que se voltam para a carreiras de relações internacionais, ainda são atuais, somente temos que abrir uma ressalva feita pelo próprio autor, que a realidade melhorou um pouco, junto com as oportunidades de mercado, com tendência de melhoria continua. Espera-se que o texto sirva para como mesmo diz o autor, para as pessoas "arregaçarem as mangas",deixarem de serem passivos.(Redação, Portal MundoRI.com)

    1. Com quais expectativas o jovem ingressa no curso de relações internacionais?
    PRA: Provavelmente, na maior parte dos casos, com a expectativa de tornar-se diplomata ou funcionário internacional, ou então animado pelo vago desejo (ou mesmo vontade concreta) de sair do Brasil, passar sua vida entre capitais européias e da América do Norte, fazer-se no mundo, enfim. Deve-se observar desde logo que o ingresso na diplomacia, na verdade, acaba ocorrendo para uma fração mínima dos ingressados nesses cursos, uma parte também relativamente pequena voltando-se para as próprias atividades acadêmicas ligadas às relações internacionais e a maior parte devendo inserir-se, de algum modo, no mercado de trabalho "normal", isto é, do setor privado, altamente competitivo. 

    Aqueles muito jovens – digamos entre os 18 e 20 anos – ostentam uma visão relativamente romântica do que seja o mundo ou a projeção internacional do Brasil, não estando aqui excluídas motivações essencialmente idealísticas, no sentido da atuação em causas humanitárias, ecológicas, imbuídos que são do desejo de mudar o mundo ou de ajudar aqueles que são percebidos como "vítimas da globalização" ou de misérias ancestrais. Os mais "velhos" – que podem eventualmente ter iniciado o terceiro ciclo por algum outro curso e efetuado o desvio para relações internacionais no meio da rota – possuem expectativas mais concretas e realistas, eventualmente construídas a partir do exercício de alguma atividade profissional paralela aos estudos de terceiro ciclo, mas eles também podem estar imaginando ou aspirando por uma "vida diferente" da mesmice cotidiana em âmbito puramente nacional, algum relevante papel de "negociador", de "funcionário" ou de "executivo internacional". Ou seja, todos eles possuem altas expectativas em relação aos cursos e as oportunidades profissionais dele resultantes, sem talvez medir muito bem a distância que ainda separa o universo relativamente teórico do universo "mental" desses cursos e a realidade do mundo profissional, feita de muito esforço individual, salários nem sempre elevados como esperado e uma indefinição geral quanto ao exercício concreto das "generalidades" aprendidas nos bancos universitários.

    2. Em quais as áreas o bacharel em RI sai preparado para atuar?
    PRA: Como ele é um generalista em especialidades "internacionais" ele poderá, supostamente, atuar em todas as áreas nas quais alguma competência vinculada ao seu terreno é requerida, seja no campo da análise e processamento de informações relativas aos diferentes cenários regionais e internacionais, seja na pesquisa e ensino acadêmico, nas áreas de relações internacionais das burocracias públicas – o que inclui a diplomacia tradicional, novas "diplomacias" em ministérios setoriais, assessorias internacionais de diversos órgãos etc. – e, provavelmente em maior "volume", nas empresas privadas e nas chamadas ONGs que possuem ou aspiram possuir qualquer tipo de interface com o mundo exterior. O problema, aqui, é que as empresas requerem, em geral, uma competência mais específica e provavelmente mais especializada do que o conhecimento sintético das relações internacionais, a qualquer título. As empresas não estão minimamente preocupadas com a teoria institucionalista ou neo-realista das relações internacionais, tampouco com o funcionamento do Conselho de Segurança da ONU: elas desejam simplesmente vender ou fazer negócios com parceiros externos e por isso elas são mais suscetíveis de apelarem para profissionais especializados como economistas, advogados ou algumas outras profissionais mais "tradicionais". Afinal de contas, trata-se de fazer uma prospecção de mercado ou de elaborar um contrato de cessão ou compra de direitos e outros ativos entre dois agentes privados, que devem rentabilizar seu tempo e seus recursos humanos e materiais, não havendo muito lugar para teorizações indevidas ou abstrações fora do campo essencialmente pragmático no qual atuam essas empresas.

    Em outros termos, o bacharel de RI seria extremamente consciencioso se ele procurasse, de imediato, suprir suas carências em competências específicas buscando uma especialização dentro de seu campo de estudo, procurando estágios desde cedo ou mesmo fazendo algum outro curso paralelamente. Como para as demais especializações disciplinares, uma pós-graduação seria altamente recomendável, ou então uma outra via, mais racional, a formação de base numa profissão "normal" ou "tradicional" e uma pós ou estudos especializados em relações internacionais, eventualmente com orientação já definida para a área na qual o candidato a um bom emprego pretende atuar.

    3. Qual o nome dado ao profissional depois de formado?
    PRA: Não tenho certeza se o termo está consagrado, mas, aparentemente, seria "internacionalista" (uma expressão ainda não oficializada, diga-se de passagem, como a própria "profissão", que não corre nenhum "risco" de ser regulamentada no futuro previsível). Em todo caso, melhor assim, do que algo estranho como "internacionalóide" ou "internacionaleiro". 

    4. Existe a discussão sobre a relevância do curso para quem quer seguir carreira diplomática. É mesmo o melhor caminho ou o primeiro passo para o Instituto Rio Branco e o Itamaraty?
    PRA: Não tenho certeza de que este seja o melhor caminho para os indivíduos que aspiram a ter alguma atividade já consagrada no circuito profissional, pois se trata de uma área relativamente nova, ainda não suficientemente "testada" nos mercados de trabalho. O que ocorreu, nos últimos anos, levado pelos ventos da globalização e da regionalização, foi um fenômeno "anormal" de expansão "geométrica" dos cursos de relações internacionais, provavelmente sem qualquer relação com a demanda efetiva do mercado. Havia uma demanda da parte dos jovens, atraídos pelo que parece ser um campo novo e talvez vasto – mas provavelmente não suficientemente "elástico" como o desejado pelos jovens – e as instituições privadas de ensino se encarregaram de satisfazer essa demanda por cursos de "aspecto" internacional.

    Quanto à carreira diplomática, estrito senso, o recrutamento é altamente seletivo e a formação deveria ser, portanto, focada nas humanidades em geral, com um domínio igualmente satisfatório de ciências sociais aplicadas como economia e direito. Não é seguro que um curso de relações internacionais consiga dar todas as competências requeridas, mas ele é provavelmente o que mais estaria dentro do "campo" da diplomacia profissional. Acontece, porém – e isso precisa ficar muito claro aos jovens aspirantes à carreira – que, sendo o recrutamento caracterizado pela "hecatombe" de 90% dos candidatos, os "não-entrantes" precisam "sobreviver", de alguma forma, nas profissões normais, requeridas pelo mercado, e aqui o nicho das relações internacionais ainda é relativamente difícil. 

    Pode-se dizer, de uma maneira geral, que o curso, in abstracto, é relevante, mas os cursos, tomados concretamente, diferem muito entre si pela qualidade das matérias oferecidas, pela competência dos professores contratados, pela disponibilidade de recursos didáticos e materiais, etc.

    Parece ocorrer, atualmente, com os cursos de relações internacionais, algo semelhante ao que se passou, em outras épocas, com os cursos de ciências sociais, de psicologia, de jornalismo, que passaram a atrair multidões de jovens sem um perfil muito definido quanto à carreira desejada ou suas aspirações concretas. O modismo, como tudo a cada época, um dia vem abaixo… Mas é também possível que os patamares de demanda sejam mantidos ou até ampliados, pois há certas "modas" que não passam, seja por uma demanda regular – como ocorre hoje com os cursos de jornalismo – seja porque a globalização é mesmo irrefreável e contínua, um "universo em expansão"...

    5. O que diferencia o curso de RI dos cursos de comércio exterior e de direito e economia internacionais?
    PRA: Não existem cursos de "economia internacional", apenas de economia, tout court, assim como no direito, embora os egressos desses cursos possam buscar, nos últimos semestres, algum tipo de especialização informal dentro desses campos em suas respectivas áreas. Comércio exterior se apresenta hoje como uma orientação relativamente técnica, algo assim como "contador", embora seja uma área que requeira e deva contar com estudos aperfeiçoados, que aliás podem estar dentro de alguns cursos de relações internacionais – que assim exibiriam especializações mais para "ciência política" ou mais para economia internacional, segundo o gosto do cliente.

    Acredito mesmo que no decurso da sedimentação necessária e natural dos cursos de relações internacionais nas diferentes regiões do país, essas orientações geográfico-espaciais ou essas inclinações temáticas acabarão emergindo progressivamente. Ou seja, pode-se conceber cursos de relações internacionais voltados para o agronegócio nas principais regiões produtoras de commodities demandadas pelo mercado mundial, cursos voltados para a diplomacia e a pesquisa nas ciências sociais em algumas grandes capitais, outros cursos voltados para o comércio exterior e a integração regional nas regiões mais "expostas" aos processos sub-regionais de integração e assim por diante.

    6. O aumento de ofertas para o curso de RI em diversas faculdades públicas e particulares poderia significar que a procura é alta para a carreira?
    PRA: A procura ainda é alta por uma espécie de ilusão dos jovens quanto ao "charme" e a oferta de empregos nessa área, pelo efeito do já mencionado "modismo", ou porque o Brasil está mesmo deslumbrado com a globalização, ingressante tardio – e incompleto – que foi nos grandes circuitos da interdependência global. Não imagino que a demanda venha a se manter nos próximos anos, seja porque haverá um "plafonnement" e queda ulterior, seja porque o ritmo de crescimento tenderá a diminuir, ao descobrirem, muitos egressos, que os cursos não são assim tão "funcionais" para as necessidades de uma carreira concreta, seja porque a oferta, como sempre ocorre, supera a demanda efetiva. Não deve ocorrer, aqui, nenhum "keynesianismo" avant la lettre, pois o governo não parece estar em condições de garantir demanda efetiva numa área que não aparece como prioritária em termos de recursos humanos.

    Resumindo: a procura, a jusante, não é alta, mas sim está ocorrendo um crescimento da oferta de cursos para atender uma demanda pré-existente, a montante, portanto. O mercado deverá ajustar oferta e procura dentro em breve. De toda forma, não existe UMA carreira de relações internacionais, e sim diferentes "carreiras" – ou melhor, oportunidades de emprego – que vão se ajustando aos nichos existentes, muito diversos entre si. Como a profissão não é regulamentada, nem tem chances de sê-lo muito em breve, persistirá essa relativa indefinição do que é "carreira" ou "especialização" em relações internacionais.

    7. O jovem passou a se interessar mais por assuntos relacionados ao mundo?
    PRA: Certamente. O bebê já nasce ouvindo teclado de computador, e a internet, como as demais tecnologias de informação, permeia a vida das pessoas desde tenra idade. Não há como escapar, hoje, dos apelos do mundo. Mesmo que algum jovem não tenha o mínimo interesse por "coisas" do mundo, o mundo vem inevitavelmente até ele, pelos mais diferentes caminhos e meios. Ninguém escapa…

    8. Os atentados de 11 de Setembro e as subseqüentes guerras no Afeganistão e no Iraque podem ter tido alguma influência no aumento de interesse por Relações Internacionais?
    PRA: Provavelmente, mas não mais do que MP3, celular, internet de modo geral. Há hoje uma crescente interpenetração entre o nacional e o mundial, todo dia franquias estrangeiras vêem se estabelecer no Brasil, as viagens internacionais são cada vez mais freqüentes e acessíveis, o inglês tornou-se obrigatório para o simples exercício (e vício) preguiçoso do "cut and paste" para os trabalhos escolares, enfim, o mundo vem até nós, aos borbotões. É natural que cresçam e apareçam as profissões e especializações ligadas às relações internacionais, mas os interesses e as oportunidades são ainda muito difusos.

    9. Certos cursos, como direito e administração, são opções de vestibular para muitos adolescentes que não sabem exatamente o que querem fazer da vida. Por abranger muitas áreas, a carreira de RI não acaba atraindo mais jovens indecisos?
    PRA: Exatamente: direito e administração oferecem amplas possibilidades para todos os tipos de vocações, por vezes sequer diretamente relacionadas com os campos temáticos dessas duas áreas. As RI podem, também, oferecer muitas possibilidades, mas, à diferença das duas primeiras, elas não constituem uma profissão reconhecida, "testada" no mercado e expressamente demandadas pelos mercados ou pelas empresas. Essa pequena diferença pode ser decisiva na inserção profissional dos jovens: entre o certo de uma profissão tradicional e o incerto de um campo novo, talvez seja o caso de ficar com o certo. O problema é que o Brasil é um país dotado de muito pouco empreendedorismo, a despeito da tremenda flexibilidade de sua mão-de-obra, revelada na grande capacidade adaptativa e nos esquemas informais que permeiam os mercados de trabalho (existem vários, do mais inserido ao totalmente informal). Uma pesquisa na escola média revelaria, provavelmente, que poucos jovens aspiram lançar o seu próprio negócio, a maior parte deles estando voltada para cursinho ou estudo para algum concurso, qualquer um, em carreira dotada de estabilidade.

    Esse problema da "indecisão" dos jovens pode hoje estar levando muito deles para as RI, assim como no passado os jovens "revolucionários" eram atraídos pela sociologia – segundo Mário de Andrade, a "arte de salvar rapidamente o Brasil" – e as jovens casadoiras eram levadas a fazer psicologia, esperando marido… Hoje se faz RI, porque protestar contra a "globalização perversa" virou esporte quase obrigatório entre os jovens…

    10. Com tanta oferta de cursos, há espaço suficiente para o profissional em RI no mercado?
    PRA: Certamente tem ocorrido certa "inflação" de cursos, mas nisso os próprios demandantes levam a culpa: eles "pediram" e os empresários da educação correram para atender essa demanda do mercado de estudantes. Esses "industriais da educação" não estão minimamente preocupados com o espaço do "profissional" de RI – se é possível chamá-lo assim – no mercado de trabalho, esse não é o "departamento" deles. Sua função é a de apenas "fornecer" aquilo que lhes é pedido: um curso e um canudo, depois cada um que se vire como puder num mercado indefinido. Ou seja, num estamos num "supply side economics of international relations", mas essencialmente num mercado demandante por cursos e canudos, o resto fica ao sabor do próprio mercado…

    11. O mercado e as empresas estão preparados para entender o que é profissional de RI?
    PRA: A pergunta deve ser completamente invertida: nem os mercados, nem a fortiori as empresas precisam estar "preparados para entender o que é profissional de RI". Essa não é função deles. Sua única função é recrutar competências para o exercício de atividades profissionais específicas e os requerimentos são estritos: ou o profissional se adapta e atende ao que lhe é demandado, ou então ele pode procurar outro emprego. Por isso, volto a insistir: as empresas, na maior parte das vezes, não querem intelectuais brilhantes que sabem discorrer sobre o Conselho de Segurança da ONU ou o último livro do Keohane, elas querem alguém que saiba redigir um contrato, negociar um acordo com parceiro de outro país, fazer uma boa prospecção de mercado, trazer negócios, lucros e resultados, ponto. Este é o mercado, que deve ocupar pelo menos 80% dos egressos dos cursos de RI, qualquer que seja o seu número (o resto indo para os governos e as academias). 
    Quem deve entender as (e de) empresas e o (de) mercado são esses profissionais, que se não souberem lidar com essas realidades, se auto-excluem dos melhores empregos nesses mercados. Não é uma questão de preferência, é assim, ponto. As empresas não vão à cata de jovens egressos dos cursos de RI, eles é que devem tentar se oferecer para elas.

    Os jovens precisam, desde o início, tomar consciência de que, ao receber o canudo, ao saírem das faculdades, não vai haver uma fileira de "head hunters" esperando por eles na calçada, não haverá sequer um mísero recrutador esperando por eles para dizer: "Venha, meu jovem, tenho um emprego esperando por você!". Isso simplesmente não vai acontecer. Ou eles se preparam, desde o segundo ou terceiro ano, fazendo estágios, montando empresas juniores com seus colegas, pesquisando por conta própria novos nichos de mercado, ou eles vão ficar de canudo na mão reclamando da vida.

    Se eu fosse um jovem, hoje, e não um diplomata com 28 anos de carreira, mas ainda disposto a diversificar no privado (ensino e pesquisa, eventualmente consultoria), eu me perguntaria: "qual é o meu nicho no mercado futuro, o que o Brasil ou o mundo me reserva, dentro de dois ou três anos?" Uma breve pesquisa de internet me daria a resposta em 5 minutos, ou a minha própria vontade e vocação determinariam o meu destino imediato. Abstraindo-se a própria carreira diplomática – excessivamente restrita para servir de "colocação" para um grande número de jovens – e algumas outras carreiras no serviço público – analistas de comércio exterior ou de inteligência – e nas academias, o que sobra, obviamente, como "opção" são as empresas, grandes e pequenas. Eu até diria que o "profissional" de RI poderia montar a sua própria, mas o empreendedorismo individual ainda é muito pouco desenvolvido no Brasil.

    Nessa perspectiva, é óbvio que um jovem paulistano precisa ter uma visão "global business", é evidente que um jovem do "cerrado central" precisa pensar no Brasil como o grande fornecedor mundial – o que ele já é, mas será cada vez mais – de produtos do agronegócio, é evidente que aqueles que amam praia, sol, florestas e montanhas encontrarão excelentes oportunidades no turismo de massa ou especializado, está mais do que claro que o Brasil tem um imenso campo em todas as áreas nas novas energias renováveis, na exploração dos recursos naturais, na conformação de um espaço integrado na América do Sul. Se eu fosse jovem e quisesse ganhar muito dinheiro, eu já estaria estudando todas essas oportunidades. Tudo isso É relações internacionais, tudo isso é interdependência global, tudo isso é globalização. Quanto antes o jovem se preparar, e não ficar passivamente esperando o fim do curso para depois pensar no que vai fazer, será melhor para ele e para suas famílias.

    Desse ponto de vista, acho, particularmente, que os cursos, atuais, das faculdades voltadas para esse campo, e seus respectivos professores, estão muito pouco preparados para atender essa demanda. Trata-se de uma demanda real, não daqueles requisitos prosaicos de uma grade curricular tradicional, que copia passivamente a inércia "humanistóide" dos cursos tradicionais das universidades públicas – em ciências sociais em geral, mas fazendo uma combinação de direito, história, economia e ciência política – que, elas, parecem não ter nenhum compromisso com os mercados reais. Talvez os jovens não encontrem o curso ideal nem nas faculdades privadas nem nas públicas. O melhor, então, seria que eles "construam", sozinhos, e de maneira absolutamente auto-didática (se possível com os colegas), os seus próprios "cursos". Talvez eles não sejam melhores, em qualidade imediata, do que aqueles oferecidos oficialmente pelas instituições de ensino, mas eles certamente serão mais adaptados e estarão mais conformes às aspirações e necessidades dos próprios jovens.

    Acho que é hora de deixar de ser passivos: arregacem as mangas, jovens, mãos à obra, construam suas próprias vidas!

    Paulo Roberto de Almeida é Doutor em Ciências Sociais, mestre em Planejamento Econômico, diplomata. E-mail: pralmeida@mac.com
    Fonte: www.pralmeida.org
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Comentários

 

Katiane Bispo - 19/8/2013

Muito motivador... Esses tais donos da verdade são em suma cansativos.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Os idiotas vao herdar o mundo? - Luiz Felipe Ponde

Quem herdará a Terra?
LUIZ FELIPE PONDÉ
Folha de S.Paulo, 10/02/2014
A emancipação feminina tornou as mulheres inférteis por escolha. Estranho? Nem tanto
A sociedade secular moderna está condenada. E por quê? Por uma razão muito simples: as mulheres seculares (sem prática religiosa cotidiana) não querem ter filhos. Quando têm, têm um ou dois no máximo.
A emancipação feminina tornou as mulheres inférteis por escolha. Estranho? Nem tanto, vejamos.
Quem herdará a Terra? Os religiosos fundamentalistas cristãos, judeus e muçulmanos. Suas mulheres têm muitos filhos, e as nossas não. Para as nossas mulheres, filhos só depois dos 35, depois da pós, com maternagem terceirizada caríssima. O individualismo moderno nos deixou a todos estéreis e histéricos.
Não, não estou criticando a vida secular nem defendendo a vida religiosa radical. Parafraseando o dito popular, "não é política, imbecil, é demografia".
Nós, seculares, que em grande parte temos simpatia pela teoria evolucionista, esquecemos que seleção natural é demografia. Podemos ter muitas ideias de como o mundo deve ser, mas os fundamentalistas têm mais bebês. E quem decide no final das contas é a população de bebês. Mulheres férteis implicam civilização poderosa.
Essa é a hipótese do livro escrito pelo canadense Eric Kaufmann, professor de política da Universidade de Londres. Claro que os "progressistas" o criticam e acusam a ideia de ser propaganda fundamentalista --como é comum em nosso mundo em que a inteligência cedeu lugar às políticas da difamação.
As suspeitas de que riquezas e conforto (causas culturais e econômicas, e não biológicas) diminuem a fertilidade feminina estão presentes desde a Grécia e Roma (Cícero já falava disso). Adam Smith, no século 18, chamava a atenção para o fato de que o "luxo e a moda" tornam o sexo frágil desinteressado na maternidade.
Já por volta do ano 300 da Era Cristã, os cristãos somavam 6 milhões, enquanto no ano 40 eles eram uns poucos hereges coitados. Logo conquistaram o Império Romano. E não só por conta das mulheres romanas serem vaidosas, ricas e interessadas em sexo, mas não em filhos (exatamente como as nossas). Os homens pagãos eram mais violentos e menos atentos a mulheres e filhos enquanto os cristãos eram do tipo família.
O fator fertilidade não é o único, claro, mas é um fator que em nossos debates inteligentinhos não tem sido levado em conta com a devida reverência.
Enquanto as mulheres seculares hoje têm cerca de 0,5 filho por mulher pronta para maternidade (a partir dos 15 anos), as religiosas (no caso aqui específico de grupos como evangélicos fundamentalistas, amish, menonitas, huteritas e judeus haredi ou ortodoxos) variam de 2,1 a 2,4.
No caso do Estado de Israel, por exemplo, a cada três crianças matriculadas no jardim da infância, uma é haredi. Depois do Holocausto, os haredi eram uma população quase insignificante. Em países do leste do mundo, como Japão, Coreia do Sul, Cingapura, Austrália e Nova Zelândia, o quadro é muito próximo do Ocidente moderno.
A medicina, o saneamento, a tecnologia e Estados mais organizados diminuíram a mortalidade tanto das parturientes quanto das crianças. O efeito imediato foi o crescimento populacional na geração dos "baby boomers". Mas, já no final dos anos 60, as mulheres americanas, canadenses e europeias ocidentais começavam e declinar em fertilidade.
Por quê? A causa são os "valores" seculares. Nós investimos na vida aqui e agora e na realização de desejos imediatos. E, para piorar, as universidades ficam publicando pesquisas dizendo que casais sem filhos são mais felizes. Além de não termos filhos, ainda fazemos passeatas para matá-los no ventre das mães com ares de "direitos humanos".
Família cansa, filho dá trabalho, custa caro, dura muito. Os seculares escolhem não ter filhos, os religiosos escolhem tê-los.
Mas não é só a fertilidade que coloca os religiosos em vantagem. Os grupos mais fechados detêm uma alta retenção da sua prole: colégios comunitários, shoppings, redes sociais, colônias de férias, casamentos endógenos, calendários festivos, baladinhas de Jesus (ou similares). Sempre juntos.
Enfim, a pílula vai destruir a civilização que a criou. Risadas?
Comentário recebido:
Giselle deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Os idiotas vao herdar o mundo? - Luiz Felipe Ponde...": 

Concordo com a conclusão do Pondé, mas não com as premissas. Se a sociedade secular precisa de filhos, deve assumir o custo (ou parte dele). Da maneira como está hoje, o custo está todo com a mulher e nenhuma mulher inteligente o quer assumir.
Terei filhos no dia em que a sociedade me der:
a) creche, próxima à minha casa ou trabalho, com horário suficiente para cobrir o meu tempo de trabalho, o meu horário de almoço e o meu tempo de deslocamento casa-trabalho-casa (de 8hs às 17hs não me serve, este é o meu horário de trabalho);
b) escola com o mesmo horário da creche, já que crianças de até 16 anos não podem ficar sozinhas em casa de acordo com o ECA sob pena de abandono de incapaz;
c)alguém pode me dizer por que cargas d´agua as escolas fecham nas férias por 2 meses no verão e 15 dias no inverno? Eu só tenho 30 dias de férias! Vou fazer o que com as crianças no período? Pagar colônia de férias? Ou deixar com a empregada? (aqui, sou absolutamente favorável aos direitos das domésticas, muitas tratadas como se fossem móveis, mas para fornecer esses direitos, é preciso que a sociedade forneça alternativas);
d) licença maternidade suficiente para educar um filho com seriedade sem ficar atabalhoada de tarefas e colocar o meu casamento em risco tentando dar conta do filho, do trabalho e do sono - não são os filhos que acabam com o casamento, é contexto da vida moderna e corrida atual, em que a mulher simplesmente não tempo para o marido. Aliás,por que conceder às mulheres aposentadoria 5 anos mais cedo se a gente precisa desse tempo para educar meus filhos antes? E no mais, nossa expectativa de vida é maior.
d) saúde. Nem digo gratuita. Digo disponível. A falta de pediatras é crônica até para quem pode pagar. Pediatra não faz exame caro, é só consulta mesma. O que eles ganham não compensa. Os médicos preferem outras especialidades. 

Enfim, do jeito que está hoje, as mudanças que eu teria que fazer na minha vida. O custo, financeiro e de oportunidade - deixando de viajar, de estudar e de tocar projetos profissionais - simplesmente não comporta filhos. 
Minha mãe me criou com ajuda de vó, de tias, de empregada, de amigas, gente que podia ficar comigo? Como o trânsito de hoje, não posso contar com ninguém!
Se a sociedade quer filhos, que dê às mulheres condições. 

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