sábado, 24 de maio de 2014

Ah, essa Plutocracia americana! A alianca entre o poder e o dinheiro num livro sobre a criacao do Federal Reserve (1913)

Livro percorre alianças entre bancos e o governo dos EUA
ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO
24/05/2014  

Na ilha de Jekyll, no litoral da Geórgia, costa leste dos EUA, surgiu o conceito de condomínio de milionários. Lá, no início do século 20, banqueiros, políticos e industriais passavam férias exclusivas numa paisagem onde predominavam carvalhos, pântanos, dunas e ventania.
Em 1910, o lugar foi cenário de uma reunião secreta. Por dez dias, um seleto grupo de banqueiros e altos funcionários do governo norte-americano discutiram as bases da criação do banco central dos EUA, o Fed.
Os Estados Unidos se recuperavam do pânico de 1907 e constatavam que precisavam de solidez no sistema bancário, cada vez mais amplo. Os barões industriais e seus filhos estavam se transformando em financistas e queriam uma fórmula para enfrentar emergências e catapultar sua influência pelo mundo.
A criação do Fed, em 1913, significou a aliança entre os poderes da presidência da República e dos banqueiros. Apesar da retórica da independência técnica, o banco central serve primeiro aos banqueiros, mantendo o fluxo de dinheiro e atuando como emprestador de última instância.
A visão é da jornalista norte-americana NomiPrins no recém lançado "All the Presidents'Bankers - The Hidden Alliances that Drive American Power" [todos os banqueiros dos presidentes, as alianças ocultas que movem o poder americano]. "A matemática das operações do Fed foi concebida para servir principalmente os grandes bancos", escreve.
Num trabalho minucioso, ela recupera cartas, jantares, telefonemas, documentos que contam a história dessa relação solidificada a partir dojantar de peru recheado com ostras na ilha de Jekyll há mais de cem anos.
GUERRAS E CRISES
Já na Primeira Guerra Mundial, onde foi importante a atuação do banco Morgan, o livro mostra como se confundiram os interesses de bancos e governo. Papéis para levantar fundos para guerra foram lançados amplamente.
Pequenos agricultores, trabalhadores urbanos e empresários se transformaram em investidores, num movimento que, depois, desaguaria na crise de 1929. Dinheiro barato do Fed para os bancos pavimentou a explosão especulativa daqueles anos.
Na recessão dos anos 1930, bancos foram criticados por segurar empréstimos para mover a economia. Mais do que isso: investigações comprovaram práticas fraudulentas e manipulações que levaram o país ao desastre.
Com Franklin Delano Roosevelt, os banqueiros viveram tempos tensos, com a aprovação de legislação restritiva. A lei Glass-Steagall, de 1933, forçou a separação entre bancos comerciais e de investimentos (ela só seria derrubada por Bill Clinton em 1999). Rooselvet, amigo e vizinho de MorgansRockefellers eVanderbilts, chegou a ser classificado por eles como um traidor de sua classe.
A Segunda Guerra Mundial turbinou o desempenho dos EUA e estreitou as relações entre as finanças e governo para acelerar a economia. Foi quando os bancos norte-americanos dispararam sua internacionalização, consolidando a dominação do dólar.
MAIS PODEROSOS
A partir do governo Reagan, começa a desregulamentação, beneficiando os grandes bancos, que passam a concentrar mais poder. No final dos anos 1990, milionárias contribuições a partidos políticos ocorreram na derrubada da legislação que restringia ações nasfinanças –abrindo a porta para a crise que estourou em 2008.
Detalhista até a gestão Carter, o livro fica mais rarefeito quando entra nos anos 1980. Segundo a jornalista, existe dificuldade em obter informações de bastidores a partir desseperíodo –não há gravações da Casa Branca desde Nixon, e banqueiros não costumam escrever cartas e telegramas como antes.
Já tendo atuado em instituições de Wall Street,Prins é pessimista. Enxerga bancos mais poderosos, interconectados e com menos preocupação com o público. Para ela, Obama não tem poder para forçar reconstrução nas finanças, que hoje ocupam uma posição de maior influência do que antes do crash de 1929.
"All the Presidents' Bankers - the Hidden Alliances that Drive American Power"
AUTORA Nomi Prins
EDITORA Nation Books
QUANTO A partir de US$ 15 (R$ 33,45; 544págs.)
CLASSIFICAÇÃO Bom 

A geopolitica de uma nova Guerra Fria entre o "bloco" China-Russia e os EUA? - Marcos Troyjo

Discordo de dois elementos neste artigo: (a) de que a China seja uma nação-comerciante; (b) de que os dois novos aliados, China e Rússia, tenham encontrado a fórmula do eterno crescimento, uma afirmação aliás não contida neste artigo de Marcos Troyjo.
Para que uma nação seja um comerciante bem sucedido, não pode ser apenas intermediário, ou seja, é preciso produzir bens reais. A parte de produtos "estrangeiros" produzidos na China é provavelmente gradualmente menor do que os produtos propriamente chineses. Ou seja, o made in China vai ficando menor em relação ao made BY China. Esse é um fato.
Não creio, por outro lado, que grandes acordos governamentais, por mais bilhões que possam movimentar, representem o futuro do capitalismo (e não vejo outro futuro para os dois novos aliados).
A dinâmica do crescimento é sempre a da inteligência e da criação. Isso a China está fazendo, o que é duvidoso no caso da Rússia. Mas mesmo no caso da China, não creio que seja uma boa fórmula o capitalismo dirigido pelo Estado. Vão gastar dinheiro tomando decisões erradas, isso é inevitável.
Paulo Roberto de Almeida

O urso e o dragão
Marcos Troyjo
Folha de S. Paulo, Sexta, 23 de maio de 2014

Quebrar a espinha-dorsal do comunismo como força geopolítica. Topo da agenda da política externa norte-americana durante a Guerra Fria. 

Encontros secretos entre Kissinger e Chou-En-Lai nos anos 70 abriram avenida entre EUA e China -- e esta desacoplou-se do bloco comunista. 

Ante o potencial de relacionamento com o Ocidente, Pequim distanciou-se ainda mais de Moscou. Aprofundou-se o "Cisma Sino-Soviético". 

Desde então, a China embarcou num crescimento estonteante graças a seu modelo, agora em metamorfose, de Nação-Comerciante. 

A Rússia perambulou entre a memória de seu status como superpotência político-militar e a promessa -- não cumprida -- de prosperidade sustentada em formidáveis recursos humanos e energéticos.

Hoje, os dois gigantes voltam a aninhar-se. Para dissabor dos EUA, foi a Moscou que Xi Jinping fez sua primeira visita ao exterior como premiê. 

Nesta semana, Putin foi recebido na China como czar. Xangai foi fechada, aulas canceladas e feriado decretado para a visita do titular do Kremlin.

Constrangido no Ocidente pela mão pesada na Ucrânia, Putin saudou o relacionamento com Pequim como "prioridade incondicional da política externa russa". Acrescentou: elos com a China encontram-se no "nível mais elevado da História".

Os chineses aproveitaram as novas limitações russas no comércio com o Ocidente para barganhar num acordo de fornecimento de gás que se arrastava há 10 anos.

O negócio alcança US$ 400 bilhões. Foi concluído às pressas para que Gazprom e CNPC, megacorporações energéticas, o assinassem perante Putin e Xi Jinping.

Pequim e Moscou realizam manobras navais conjuntas. O comércio bilateral saltará dos atuais US$ 90 bilhões para US$ 200 bilhões em 10 anos.

Nos EUA, ninguém parece entender o que está acontecendo. Think-tanks como o Council on Foreign Relations e o Chicago Council on Global Affairs colocam os EUA no divã. 

Promovem "auto-análise" que opõe, de um lado, visão de política externa orientada pela opinião pública. Esta não quer encarar o preço da onipresença dos EUA.

Do outro, consolida-se a percepção nos setores mais treinados em assuntos globais de que esses movimentos da Eurásia fazem "renascer a geopolítica". Pregam reengajamento dos EUA mediante novo -- e caríssimo -- orçamento para relações exteriores e defesa.

Ganha corpo também, no mundo corporativo, a ideia de que sanções impostas a Putin criam "reserva de mercado" para potências não-ocidentais multiplicarem transações com a Rússia.

A política "principista" de Washington repetiria erros do tratamento dado a Cuba. Daí, o pior de três mundos. Afastamento no diálogo político, surgimento de projetos geoestratégicos alternativos e definhamento das relações econômicas.

Moscou reconforta-se na parceria chinesa. Pequim compraz-se ao ver os EUA rodopiarem na arena global feito barata tonta.

O Brasil, inocente, não pode vislumbrar no dueto urso-dragão idílio terceiro-mundista. São apenas dois monstros calculistas bailando à fria melodia de seus próprios interesses.


Piketty e a desigualdade distributiva: Financial Times diz que dados estao errados

Meus comentários iniciais a esta matéria do FT, abaixo transcrita, e que resumem um pouco o que penso a respeito das "teses" de Piketty.

Independentemente dos problemas de agregação de dados e de processamento da informação estatística presentes em seu livro, o que parece inevitável, dado o amplo espectro de valores e a grande dispersão cronológica com os quais Piketty trabalhou, o que mais parece contestável em sua tese principal é justamente o argumento histórico de que a riqueza tende a se acumular mais rapidamente do que o crescimento econômico geral das economias nacionais com as quais trabalhou (países desenvolvidos do Ocidente capitalista).
Não tenho dados ou condições metodológicas para contestar essa tese principal -- que em sua formulação sintética, r > g, tende a assumir ares de grande síntese genial, um pouco ao famoso estilo einsteiniano do e = mc2 -- mas ela me parece contradizer a lógica formal dos processos econômicos e a própria evolução civilizatória das sociedades humanas, cada vez mais educadas e mais sofisticadas intelectualmente, com amplo acesso à educação superior por amplas camadas de indivíduos e grupos sociais.
Não contesto o fato de que a renda, e sobretudo o patrimônio e a riqueza de forma geral, podem passar por processos temporários e parciais de acumulação preferencial e de concentração em certos grupos e indivíduos, provavelmente vinculados a atividades financeiras e comerciais (ou de serviços financeiros, como Piketty afirma), mas eu não transformaria isso numa nova "lei geral da acumulação capitalista no século XXI", como ele parece pretender. Assim como ocorreu com as teses de Marx, essa também vai ser provavelmente desmentida pela evolução histórica das sociedades capitalistas.
Mas sobretudo discordo da transposição de sua "tese" para o terreno das políticas econômicas, já uma operação economicamente discutível, no sentido de que a solução para a concentração de renda e riqueza, nas mãos de um fantasmagórico 1% de super ricos, é a imposição pelo Estado -- naturalmente de inclinações social-democráticas -- de uma taxa sobre o capital (este tem muitas formas) para sua posterior redistribuição ao resto da sociedade.
Ainda que isso fosse factível -- e não me parece ser -- não creio que melhoraria muito a situação dos 99% do "resto", e sobretudo atuaria numa direção ineficiente em si mesma, que é a ação sobre o estoque de riqueza acumulada (que logicamente diminuiria), em lugar de fazê-lo sobre os fluxos de criação de novas fontes e vetores de renda e de riqueza.
A melhor distribuição que os Estados podem fazer é a de educação, ponto, e deixar os indivíduos cuidarem eles mesmos de sua acumulação individual.
Foi assim que progrediram e avançaram as atuais sociedades capitalistas prósperas. Não vejo porque teria de ser diferente agora.
Qualquer outra solução estatal para a distribuição de riqueza me parece pertencer ao domínio das engenharias sociais, e a História já demonstrou quão negativas elas podem ser para os padrões civilizatórios.
Desenvolverei estes pontos.
Paulo Roberto de Almeida 

Financial Times’: contas de Piketty sobre desigualdade na distribuição de riqueza estão erradas

Transformado em “superstar” da economia após a publicação de seu estudo sobre o aumento da desigualdade, “Capital no século 21″, o economista francês Thomas Piketty está na berlinda. Uma reportagem do “Financial Times” aponta que a tese de 577 páginas de Piketty contém “uma série de erros que afeta suas descobertas”.
O “FT” afirma ter descoberto no trabalho do francês “erros e dados inexplicados em suas planilhas, similares às que enfraqueceram o trabalho sobre dívida pública e crescimento de Carmen Reinhart Kenneth e do ex-secretário de Tesouro americano Kenneth Rogoff”.
O argumento fundamental do livro de Piketty, que tem estado no topo das listas de best-sellers, é de que a imensa maioria da riqueza mundial está nas mãos de poucos e que desigualdade mundial voltou aos níveis encontrados antes da Primeira Guerra.
“O professor Piketty fornece fontes detalhadas para suas estimativas da desigualdade de riqueza na Europa e nos EUA nos últimos 200 anos. Em suas planilhas, no entanto, há erros de transcrição das fontes originais e fórmulas incorretas. Também parece que alguns dados foram escolhidos cuidadosamente ou construídos sem uma fonte original”, diz o “Financial Times”.
— Não tenho dúvidas de que minha série histórica de dados pode ser aprimorada e vai ser aprimorada no futuro… mas eu ficaria bastante surpreso de qualquer conclusão substantiva sobre a evolução no longo prazo da distribuição de riqueza fosse muito afetada por estes aprimoramentos — rebateu Piketty ao “FT”.

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Transcrição da matéria completa do FT, no original, com vídeo, neste link: 
http://www.ft.com/intl/cms/s/2/e1f343ca-e281-11e3-89fd-00144feabdc0.html?ftcamp=published_links%2Frss%2Fglobal-economy%2Ffeed%2F%2Fproduct#axzz32pMOSbYr

Piketty findings undercut by errors

Economist and author Thomas Piketty©Getty
Economist and author Thomas Piketty
Thomas Piketty’s book, ‘Capital in the Twenty-First Century’, has been the publishing sensation of the year. Its thesis of rising inequality tapped into the zeitgeist and electrified the post-financial crisis public policy debate.

Chris Giles outlines his issues with data in ‘Capital in the 21st Century’

Chris Giles
Some issues concern sourcing and definitional problems. Some numbers appear simply to be constructed out of thin air.
The data underpinning Professor Piketty’s 577-page tome, which has dominated best-seller lists in recent weeks, contain a series of errors that skew his findings. The FT found mistakes and unexplained entries in his spreadsheets, similar to those which last year undermined the work on public debt and growth ofCarmen Reinhart and Kenneth Rogoff.
The central theme of Prof Piketty’s work is that wealth inequalities are heading back up to levels last seen before the first world war. The investigation undercuts this claim, indicating there is little evidence in Prof Piketty’s original sources to bear out the thesis that an increasing share of total wealth is held by the richest few.
Prof Piketty, 43, provides detailed sourcing for his estimates of wealth inequality in Europe and the US over the past 200 years. In his spreadsheets, however, there are transcription errors from the original sources and incorrect formulas. It also appears that some of the data are cherry-picked or constructed without an original source.

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ON THIS STORY

For example, once the FT cleaned up and simplified the data, the European numbers do not show any tendency towards rising wealth inequality after 1970. An independent specialist in measuring inequality shared the FT’s concerns.
Contacted by the FT, Prof Piketty said he had used “a very diverse and heterogeneous set of data sources ... [on which] one needs to make a number of adjustments to the raw data sources.
“I have no doubt that my historical data series can be improved and will be improved in the future ... but I would be very surprised if any of the substantive conclusion about the long-run evolution of wealth distributions was much affected by these improvements,” he said.
His contention to have found a “central contradiction of capitalism” has in recent months made him a hero of the left. Although his conclusions have stirred controversy, there has, until now, been near unanimous praise for the quality of his statistical work.
On a tour of the US last month, Prof Piketty met Jacob Lew, US Treasury secretary, gave a presentation to the White House Council of Economic Advisers and lectured at the International Monetary Fund and the UN.

Piketty response

Occupy Wall Street activists protest in Duarte Square after police removed the protesters early in the morning from Zuccotti Park
I am happy to see that FT journalists are using the excel files that I have put on line! I would very much appreciate if you could publish this response along with your piece.
Nobel Prize-winning economists have heaped praised on Mr Piketty’s work. Professor Paul Krugman of Princeton University, said it was safe to say the book “will be the most important economics book of the year – and maybe of the decade”.
Professor Joseph Stiglitz of Columbia University said Prof Piketty’s “fundamental contribution” was the provision of data on the distribution of wealth. It was the subject of laudatory reviews in the Financial Times and other publications.
In Britain, Ed Miliband, Labour leader, told the Evening Standard: “I’m in the early stages of the book. In a way, he is symptomatic of what people are actually feeling”.
In his response to the FT, Prof Piketty said that more recent data not in his work showed “the rise in top wealth shares in the US in recent decades has been even larger than what I show in my book”.

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Universitarios irresponsaveis fazem greves contra universidades irresponsaveis... (vao chover no molhado)

Que prejuízos trazem ao país greves em universidades públicas?
Depende. Em países normais, onde as universidades produzem coisas com valor de mercado, podem provocar graves prejuízos.
Em países anormais, onde elas atuam em completo isolamento da vida econômica do país, pode causar muito pouco prejuízo, ou quase nenhum.
No Brasil, esse tipo de greve pode se prolongar durante meses, na indiferença geral, e de fato não faz muita diferença se a universidade funciona ou não: sua interface com o país real é muito tênue, quase inexistente.
Assim, a minha previsão é de que a greve se arraste por algum tempo, na indiferença geral, do público, das empresas, dos governos.
São, assim, uma espécie de férias não remuneradas com o adicional de 1/3 do salário (embora o PSOL possa querer reivindicar esse acréscimo nas compensações).
Minha recomendação, como aconteceria no setor privado, seria cortar imediatamente o ponto de todos os faltosos, e já preparar uma folha de pagamento refletindo essa realidade.
Afinal de contas, alguém precisa ter responsabilidade, não é mesmo?
Se não são os reitores, quem seria?
Ninguém?
Afundem, universidades...
Paulo Roberto de Almeida

A greve nas universidades

23 de maio de 2014 | 7h 05
Editorial O Estado de S.Paulo
Em resposta à decisão do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo (Cruesp) de não conceder reajuste salarial de 2014, professores e servidores da Universidade de São Paulo (USP) anunciaram que deflagrarão uma greve por tempo indeterminado a partir do início da próxima semana. A greve conta com o apoio do Diretório Central Estudantil. Docentes e funcionários da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) já tomaram a mesma iniciativa, mas ainda não a anunciaram.
As duas categorias, que obtiveram 5,39% de reajuste salarial em 2013, reivindicavam aumento de 9,78% este ano. Em resposta, além de lembrar que seus orçamentos já estão inteiramente comprometidos com a folha de pagamento, os reitores da USP, Unicamp e Unesp alegam que as três instituições enfrentam a mais grave crise financeira de sua história e não dispõem de recursos para atender a essa reivindicação.
Na USP, os salários consomem 105,33% do orçamento, o que tem obrigado a Reitoria a recorrer a uma reserva estratégica. Na Unicamp e na Unesp, os gastos com a folha são de 97,33% e 95,42%. Nas universidades estaduais paulistas, não há dinheiro para investimentos em pesquisa científica e atividades de extensão. Para assegurar o equilíbrio orçamentário, a USP, a Unicamp e a Unesp deveriam gastar com a folha de pagamento não mais que 85% de seu orçamento, argumentam os técnicos do Cruesp.
O descontrole de gastos nas três instituições ocorreu nos últimos quatro anos. Ele foi causado pela concessão de sucessivos reajustes salariais acima da inflação e pelas contratações de docentes e servidores técnicos para atuar nos campi criados na década de 2000. Com a posse de Lula na Presidência da República, em 2003, a União passou a investir na expansão da rede de universidades federais no Estado de São Paulo. Como resposta ao PT, o governo paulista, sob controle do PSDB, fez o mesmo com as universidades estaduais. Juntas, elas têm 186,3 mil alunos, 11,2 mil professores e 31,9 mil funcionários.
As entidades de docentes e de servidores da USP, da Unicamp e da Unesp alegam que essa expansão ocorreu sem planejamento e sem a concessão de recursos adicionais por parte do Palácio dos Bandeirantes. Assim, as três instituições - que por determinação constitucional recebem 9,75% da receita do ICMS - teriam sido obrigadas a aumentar suas despesas de custeio sem contrapartida financeira, o que as desequilibrou financeiramente.
Essas entidades defendem que a cota das universidades estaduais paulistas no ICMS seja aumentada para 11,6%. Pedem, também, que o cálculo leve em conta a receita bruta desse tributo e não a receita líquida (pelo critério em vigor, o governo estadual não inclui no cálculo do montante a ser dividido as multas, os juros de mora e a dívida ativa). E ainda exigem que o reajuste salarial seja bancado com as reservas técnicas das três universidades.
Diante dessa situação, a greve dos docentes e servidores é despropositada. Também não é razoável a proposta de aumento da fatia de ICMS para as universidades. Para 2014, o orçamento da USP é de R$ 5 bilhões; o da Unicamp é de R$ 2,56 bilhões; e o da Unesp, de R$ 2,7 bilhões. No total, as três instituições receberão quase R$ 10 bilhões este ano. Se ampliar a fatia do ICMS a que elas têm direito, o governo paulista será obrigado a reduzir investimentos em saneamento básico, saúde, transportes e segurança pública, o que é um contrassenso.
O que cabe ao governo do Estado é complementar o orçamento das universidades, para que superem a crise. E, para evitar que as despesas de custeio sejam maiores do que as receitas, levando-as a consumir o que resta de suas reservas estratégicas, a USP, a Unicamp e a Unesp devem cortar gastos, redimensionar seus quadros de pessoal, impor metas de produtividade e ampliar as parcerias das fundações de apoio com a iniciativa privada. Por maior que seja a resistência das entidades de docentes e de servidores contra essas medidas, as universidades estaduais paulistas não têm outra saída para sair da crise em que se encontram.

India: an economic regime change? Unlikely - Deepak Lal

Deepak Lal: A change in economic regime?

At a panel discussion on "The economic agenda of the next government: is an economic regime change necessary and possible?" at the Indian School of Business in Mohali, I answered that such a change was necessary but not likely. This column elaborates on these answers.

The 1991 reforms ended the Nehruvian licence permit raj, removing major policy-induced distortions in the commodity markets, but failed to do so in the markets for labour and land. Most of these distortions go back to Indira Gandhi's leftward turn after she won her "Garibi Hatao" election in 1971, with the nationalisation of banks and coal, the attempt to nationalise the wholesale grain trade, and the tightening of the  for establishments employing more than 100 workers. These and other dirigiste measures still cripple the Indian economy. , her son, loosened the licence permit raj, but , his widow - by promoting various "rights-based" subsidies in her decade-long reign - has saddled India with a premature European-style welfare state. My suggestion at the panel, that it would be best for India's future economic performance if the incoming government rescinded all the economic Acts passed during the Indira and Sonia reigns, got loud cheers from the assembled students. My answer to the second question was that such a change was unlikely, since the intellectual hegemony of Nehruvian  was still in place, though the coming crisis of the demographic dividend turning into a demographic bomb might at last induce a change.

A little personal history might be in order to explain these answers. In 1972-73, I was working as an advisor in 's Planning Commission when Indira Gandhi's left turn was evident. Like my peers, I was still largely a Nehruvian social democrat. The commission was torn between ' voice of economic rationality and  's Marxist voice. Witnessing their heated debates and the absurdity that was Indian planning led to my Damascene conversion to.

After I returned to London, at events at the Institute of Economic Affairs (IEA), I got to know Friedrich A Hayek and other leading classical liberals such as Milton Friedman, Peter Bauer and Alan Walters. This was also the period when  was converted to classical liberalism by her mentor, Keith Joseph. Many years later, when we became friends, Joseph told me that he had been shocked in the late 1960s when he met Walters, an old friend, on the street outside Parliament, who refused to shake hands, and instead wagged a finger exclaiming, "you are an inflationist". This shook Joseph, then part of the statist intellectual social democratic political consensus known as Butskellism. He got a reading list of classical liberal writings from Ralph Harris at the IEA. This was his Damascene conversion. He set up a think tank with Thatcher: the Centre for Policy Studies developed the classical liberal programme, which Thatcher implemented when she came to power in 1978. She would fling a copy of Hayek's The Constitution of Liberty at her colleagues, telling them they needed to read it to restore Britain's economic fortunes.

Her success in restoring Britian's economy and standing in the world led to a shift in the climate of opinion; the Labour Party under Tony Blair came to embrace Thatcherism. When his successor, Gordon Brown (much like the second term of the United Progressive Alliance, or UPA), tried to use the burgeoning tax proceeds of the ensuing economic prosperity to expand entitlements, he suffered a crushing defeat.

I wrote a book for the IEA, The Poverty of Development Economics (1983), in which I applied classical liberal ideas to the economics of developing countries. This was revised and updated, rebutting many of the fashionable arguments against classical liberalism, in my Reviving the Invisible Hand (2006). On my frequent visits to India, I found that these ideas had fallen on stony ground. Even after the 1991 economic liberalisation, after growth accelerated with the easy economic pickings from ending the licence raj, the same old social democratic mindset - reminiscent of Butskellism - prevailed. There were no think tanks in India - like the IEA, or the American Enterprise Institute, Cato Institute or the Heritage Foundation in the United States - to propagate the case for classical liberalism. With the demise of the Swatantra Party in the 1971 Indira wave, no leading politician supporting classical liberalism was left in politics. When the unreconstructed Left denounced even the limited 1991 reforms as hurting the interests of the poor, the stage was set for Sonia Gandhi to use the rising tax proceeds from growth to expand the entitlement economy.

What of the opposition by the Bharatiya Janata Party, which has just won a stunning and well-deserved election victory? Do its election slogans - "development, not doles", "maximum governance, minimum government", constantly reiterated by its incoming prime minister - mean that he and his party are shorn of the Nehruvian social democratic mindset? Note that during its reign, the UPA did not vote against various "rights-based" entitlements enacted at the behest of Sonia Gandhi's jholawalas in the . Moreover, in the 1980s, the BJP was burning effigies of Arthur Dunkel, former head of the General Agreement on Tariffs and Trade (). Though its tune changed in the 1990s, the continuing hold of "Gandhian socialism", as Atal Bihari Vajpayee called it, is still evident in the party's support for "swadeshi", its backsliding on foreign direct investment in retail, and its purported support for public sector enterprises, instead of their privatisation, as in Thatcher's flagship programme. Maybe this will change with a Thatcherite Damascene conversion of Mr Modi and his party.

For me, this would be signalled if Mr Modi does battle with the "insiders" of the industrial labour aristocracy, who have kept the massive number of semi-skilled workers willing to work for much lower wages, as "outsiders" in the manufacturing sector. There seems to be widespread acceptance of the industrial caste system India has created, with its segmentation through distortions of the industrial labour market. As the experience of China and of the other Asian Tigers has shown, it is impossible to jump the labour-intensive industrialisation phase and move into a post- industrial service economy. It is not top-down skill development that India needs, but removing all the colonial labour market restrictions that prevent freedom to hire and fire labour, as China - an ostensibly socialist economy - has done. This requires rescinding the colonial-era labour laws (see my The Hindu Equilibrium, 2005) and the 1947 Industrial Disputes Act. Without this, India's demographic dividend will turn into a demographic nightmare, even as the millions of unemployed, semi-skilled and sex-starved youth increasingly disturb social order. Perhaps only then will India's continuing dirigiste intellectual mindset change.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Really Good Books, Part I - David Brooks


The Opinion Pages | OP-ED COLUMNIST

Really Good Books, Part I

People are always asking me what my favorite books are. I’ve held off listing them because it seems self-indulgent. But, with summer almost here, I thought I might spend a couple columns recommending eight books that have been pivotal in my life.
“A Collection of Essays,” by George Orwell. If you want to learn how to write, the best way to start is by imitating C.S. Lewis and George Orwell. These two Englishmen, born five years apart, never used a pompous word if a short and plain one would do. Orwell was a master of the welcoming first sentence. He wrote an essay called “England Your England” while sheltering from German bombs during World War II. Here is his opening: “As I write, highly civilized human beings are flying overhead, trying to kill me.”
Here’s the first sentence of his essay on Gandhi: “Saints should always be judged guilty until they are proved innocent, but the tests that have to be applied to them are not, of course, the same in all cases.”
Here’s how he opened an essay on his schoolboy days, “Soon after I arrived at Crossgates (not immediately, but after a week or two, just when I seemed to be settling into the routine of school life) I began wetting my bed.”
There’s a disarming rhythm to each of those sentences; reality is odd, and it takes a few shimmies to get it right. Orwell was famous for sticking close to reality, for facing unpleasant facts, for describing ideas not ideologically but as they actually played out in concrete circumstances. Imperialism wasn’t an idea; it was a lone official haplessly shooting an elephant.
His other lesson for writers, even opinion writers, is that it’s a mistake to think you are an activist, championing some movement. That’s the path to mental stagnation. The job is just to try to understand what’s going on.
“Anna Karenina” by Leo Tolstoy. This is a novel about characters who are not quite in control of themselves. Kitty goes to the ball in a perfect dress. Even the strip of velvet around her neck fits just so. She is swept up in a sort of ecstasy of movement until a glance at the man she thinks is her beau crushes her in an instant.
Levin falls in love in a way he didn’t plan. He experiences unexpected transcendence cutting grass, of all things. He cannot account for his own happiness, which is in excess of what he deserves, and still has to hide the noose at dark moments for fear he might use it.
Anna is a magnetic person propelled by a love that is ardent and unexpected but also headlong and unpredictable. She’s ultimately unable to surmount the consequences of her actions or even live with the moral injuries she causes. Was Anna right to follow her heart? Should she have settled for a mediocre life in line with convention? This is a foxlike love story, with many angles, which does not lead to easy answers.
“Rationalism in Politics” by Michael Oakeshott. This essay dismantles a common form of contemporary hubris — the belief that it is possible to solve political problems as if they were engineering problems, with rational planning. Oakeshott distinguishes between technical knowledge and practical knowledge. Technical knowledge is the sort of information that can be put in a recipe in a cookbook. Practical knowledge is the rest of what the master chef actually knows: the habits, skills, intuitions and traditions of the craft. Practical knowledge exists only in use; it can be imparted but not taught. Technocrats and ideologues possess abstract technical knowledge and think that is all there is. Their prefab plans come apart because they simplify reality, and don’t understand how society works and the rest of what we know.
“All the King’s Men” by Robert Penn Warren. This is nominally a novel about Huey Long. But it is also a novel about irony, the way good can come from bad, and bad can come from good, the way people march into public life imagining they are white lambs only to be turned into guilty goats. The main characters are tainted and mottled, part admirable, part noxious. The book asks if in politics you have to sell your soul in order to have the power to serve the poor.
It’s written in an elegiac tone that I’m a sucker for. “The Great Gatsby,” “Brideshead Revisited” and Ford Madox Ford’s “The Good Soldier” are also written in this tone. The narrator of “All the King’s Men” has to lose his innocence to understand the multiplicity and sadness of the truth.
Most of today’s books are about limitation — about being propelled by passions we can’t control into a complex world we can’t understand. For Tuesday, I’ll find some books that are more self-assured.
A version of this op-ed appears in print on May 23, 2014, on page A23 of the New York edition with the headline: Really Good Books, Part I.


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