terça-feira, 1 de janeiro de 2019

A missão do novo presidente - Editorial do Estadao (1/01/2019)

A missão de Bolsonaro

Jair Bolsonaro toma posse com a missão de promover as reformas das quais o Brasil depende para evitar o colapso das contas nacionais

Editorial Estadão, 01/01/2019

Jair Bolsonaro tomará posse hoje como presidente da República com a missão de promover as reformas das quais o Brasil depende para evitar o colapso das contas nacionais. Não se trata de uma escolha, tampouco de um projeto deste ou daquele partido, e sim de um imperativo nacional. É isso ou presidir um país ingovernável. 
É certo que Bolsonaro foi eleito por uma fatia expressiva dos brasileiros que viram nele não o reformista de que o País tanto precisa, mas o homem que se comprometeu a varrer para o passado, quem sabe para o esquecimento, o petismo e seu terrível legado. O presidente cometerá um grave erro, no entanto, se limitar sua agenda e suas energias a essa faxina política e moral. 
Pois não se pode ignorar que muitos eleitores de Bolsonaro esperam dele, antes de tudo, uma ação vigorosa e imediata contra o que enxergam como intolerável influência da esquerda na educação, nas artes e nos costumes. Na hipótese de ser levada a sério pelo presidente, essa visão tenderá a drenar forças políticas de um governo que deveria concentrar-se no essencial – e nem de longe o essencial, hoje, é fiscalizar o comportamento de professores, enquanto o sistema educacional continua em ruínas. 
A encruzilhada em que o País se encontra não permite distrações desse tipo, úteis somente para quem pretende desviar a atenção dos reais e múltiplos problemas que devem ser enfrentados sem delongas. Se quiser realmente transformar o Brasil “em uma grande, livre e próspera nação”, como prometeu em seu discurso da vitória, Bolsonaro terá de usar seu imenso capital político para convencer os brasileiros, a começar de seus eleitores, de que o mais importante neste momento é concentrar esforços para reformar a Previdência e racionalizar drasticamente os gastos públicos, medidas que normalmente são impopulares. Sem isso, o País não atrairá os investimentos que se traduzem em empregos. 
Os desafios são abundantes. Nos quatro anos do mandato que hoje se inicia, as despesas primárias (que não incluem o pagamento de juros) terão de ser reduzidas em R$ 148,8 bilhões, ou 0,5% do PIB, por ano. Um rombo desse tamanho não será eliminado sem grandes sacrifícios, que vão muito além do enxugamento de Ministérios e da venda de estatais. Será preciso cortar na carne. 
É urgente discutir a sério o engessamento do Orçamento, que impede o uso racional das receitas, pois grande parte delas tem destinação definida pela Constituição, e não pela realidade. É previsível que qualquer proposta que vise a desvincular receitas, cortando gastos onde eles não são necessários, seja recebida com a já tradicional zanga das corporações, até aqui muito satisfeitas com o loteamento do Orçamento entre elas; logo, o governo terá de estar pronto para enfrentar a vigorosa tradição patrimonialista que tanto atravanca o País. 
Ademais, o governo que está começando decerto sabe que não há espaço para novos aumentos salariais de servidores públicos, tema que gera profundo desgaste para qualquer presidente. Também é notório que a política de correção do salário mínimo, hoje bastante generosa, terá de ser revista, o que provavelmente terá repercussão negativa entre os milhões de trabalhadores que estão nessa faixa de remuneração, sem falar dos aposentados cujo benefício é reajustado por esse indicador. 
Além disso, será preciso modificar substancialmente a política de subsídios e incentivos fiscais, que, a título de estimular determinados setores da economia, acabou transferindo renda dos mais pobres para os mais ricos e não resultou em aumento significativo nem da produtividade nem da geração de empregos. 
E isso é só o começo. Há um profundo déficit de segurança pública, saúde, educação, saneamento básico e infraestrutura que está há anos à espera de quem se disponha a enfrentá-lo para valer, sem demagogia. 
Sempre que começa um novo governo, a esperança de que isso finalmente venha a acontecer se renova. Só não é possível imaginar que tantos problemas se resolvam por mágica ou por ato de vontade. É preciso muito trabalho e, acima de tudo, a consciência de que é a solidez dos fundamentos da economia que assenta todo o edifício de um bom governo. Com Jair Bolsonaro vão as esperanças de todos os brasileiros.

Texto mais acessado: política exterior do Brasil - relações com a Argentina - entrevista PR Almeida

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segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

O papel da diplomacia nas reformas do Brasil - Paulo Roberto de Almeida

Dando continuidade a meu exercício de transparência, transcrevo abaixo um texto meu sobre o papel da diplomacia em alguns temas setoriais no contexto das reformas modernizadoras que o Brasil necessita empreender. Como em outros casos, não tinha sido ainda divulgado publicamente, pois eu pensava incluir em um trabalho mais amplo, antes de disponibilizar o texto em questão.
Paulo Roberto de Almeida
Tubarão, SC, 31/12/2018, 23h24


O papel da diplomacia na reforma do Brasil: Justiça, Trabalho, Educação


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 11 de janeiro de 2018
[Objetivo: discorrer sobre novas tarefas diplomáticas; finalidade: reforma do Brasil]

Este texto é uma continuidade de trabalho anterior (de 10/12/2017, disponível neste link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/12/propostas-basicas-de-politica-externa.html), voltado para as grandes reformas internas do Brasil, por meio de uma comparação internacional sobre nossas disfunções mais graves, que impedem o crescimento econômico e o desenvolvimento do Brasil. Não se trata exatamente de questões de política externa, ou de uma agenda para as relações internacionais do Brasil, e sim de um trabalho cooperativo para o qual a diplomacia profissional pode ser mobilizada com vistas a auxiliar num processo de reformas setoriais no Brasil, concebido como sendo de implementação a médio e longo prazo.
Naquele trabalho o que basicamente se propôs foi que o Itamaraty passasse a colocar o Brasil numa perspectiva comparativa internacional, evidenciando nossas mais graves limitações em termos de custo do capital, de ambiente de negócios e de ganhos de produtividade. O que se sugeriu, então, foi que tomássemos como parâmetros os relatórios classificatórios e analíticos do Banco Mundial sobre ambiente de negócios (Doing Business), do World Economic Forum sobre competitividade, do Fraser Institute sobre liberdades econômicas e também os dados da OCDE sobre deficiências educacionais, que incidem sobre a produtividade do capital humano. A intenção seria fornecer um guia sobre onde, como e com qual ritmo trabalhar para superar nossas limitações setoriais, sendo que a análise internacional teria de ser intensamente confrontada aos dados internos e, sobretudo, ao ambiente regulatório nacional, para verificar e identificar uma agenda de reformas.
O Itamaraty precisaria ser mobilizado nessa nova frente de trabalho para pesquisar, pensar e propor reformas fundamentais no plano interno, com base numa análise qualitativa (mas apoiada em sólidos dados quantitativos) das informações internacionais com respeito às políticas e instituições de maior eficiência relativa em três áreas fundamentais para o bom desempenho do país: Justiça, Trabalho e Educação.
Alguns dos dados a respeito dessas questões setoriais — mas que são, ao mesmo tempo, políticas horizontais e de caráter praticamente macro, ainda que incidindo sobre cada uma dessas instituições no plano do seu funcionamento micro — já estão presentes nos relatórios e levantamentos classificatórios acima referidos, mas um trabalho de pesquisa suplementar precisa ser conduzido para isolar fatores, mecanismos e instrumentos que atuam para dar maior eficiência na condução desses setores em países que apresentam as melhores performances setoriais.
A intenção não seria fazer com que o Brasil copie modelos estrangeiros ou adote estruturas e instituições moldadas para outros contextos sociais e culturais, mas identificar nossas deficiências relativas — em alguns casos absolutas — e fazer as reformas adaptativas necessárias para aumentar o grau de eficiência no funcionamento desses importantes setores da vida pública.
Por acaso se trata de três áreas nas quais comportamentos corporativos, deformações patrimonialistas e resistência às reformas são mais entranhados, exigindo, por isso mesmo, uma demonstração cabal de como o Brasil destoa dos exemplos de maior eficiência setorial, para justificar e defender a necessidade de reformas nessas áreas. O que se pode desde já antever é que reformas nessas áreas superam um mandato governativo e que elas devem ser vistos como um processo de adaptações contínuas aos dados sempre cambiantes da realidade.
Estudos setoriais complementares precisariam igualmente ser conduzidos para outras importantes questões de interesse nacional relevante, como o sistema tributário e as instituições e medidas de segurança pública, mas cuja complexidade supera, provavelmente, a capacidade analítica do Itamaraty, que pode, no entanto, ajudar a identificar as melhores práticas em outros contextos nacionais, em cooperação com os órgãos pertinentes do Brasil, que de toda forma já possuem suas assessorias internacionais. 
Termos de referência e instruções para a condução do trabalho diplomático teriam de ser elaborados em maior grau de detalhe para os estudos setoriais aqui propostos.

Paulo Roberto de Almeida
11 de janeiro de 2018

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