segunda-feira, 27 de abril de 2020

Um alerta global para zoonoses e segurança do alimento - Marcos S. Jank

Um alerta global para zoonoses e segurança do alimento

Jornal “O Estado de S. Paulo”, Opinião, 24/04/2020.

Marcos S. Jank*

Brasil deve liderar busca de novos paradigmas de sanidade animal nas cadeias agroalimentares.

A forte relação entre zoonoses, sanidade animal e segurança do alimento será um dos principais temas a serem revistos no mundo pós-pandemia. Zoonoses são doenças causadas por vírus e outros patógenos que contaminam animais, podendo ou não “pular” entre espécies e infectar seres humanos. Exemplos recentes são influenzas, HIV, Ebola, Sars e Mers. O coronavírus é só mais um que atinge humanos. E não será o último.

As primeiras pessoas infectadas pelo coronavírus frequentaram o mesmo mercado de produtos frescos e perecíveis em Wuhan, na China. Trata-se de um típico wet market ou “mercado molhado”, nome que se origina do uso frequente de água ou gelo para conservar produtos perecíveis, além da lavagem do recinto com água para escoar sangue e resíduos.

A maioria dos wet markets não dispõe de refrigeração adequada, daí o nome “molhado”, em vez de resfriado ou congelado, formas que conservam melhor o produto. Mais da metade da venda de alimentos frescos (frutas, verduras, carnes e pescados) nos países em desenvolvimento é feita em mercados desse tipo, onde o controle sanitário costuma ser bastante frouxo.

Muitos deles também oferecem animais domésticos vivos para abate, que ficam presos em gaiolas ou pequenos espaços e são abatidos, eviscerados e cortados no próprio mercado, de acordo com a demanda do cliente.

Não raro tais mercados têm ainda uma seção de “animais silvestres e exóticos” que oferta alguns tipos de roedores, macacos, tatus, tartarugas, sapos, morcegos e cobras, vendidos no mesmo modelo dos animais domésticos. Vale lembrar que mais de 800 milhões de pessoas se alimentam de animais silvestres, principalmente na Ásia e na África, a maioria por razões nutricionais e via autoconsumo, sem aglomerações.

O problema que estamos tratando é a existência de criação ou caça comercial de animais silvestres, que acabam sendo vendidos nos mercados molhados, elevando o risco de transmissão de zoonoses. Em outras palavras, uma parcela dos wet markets oferta animais domésticos e silvestres (vivos ou convertidos em carnes e subprodutos) no mesmo espaço sujo e comprimido em que circulam centenas de pessoas todos os dias. No período que trabalhei na Ásia visitei vários desses mercados de padrão século 19 (ou antes), encaixados em megacidades, ao lado de prédios moderníssimos de padrão século 21. A sensação era a de andar dentro de uma “bomba biológica” de alta periculosidade. Mas nunca imaginei que ela poderia ser tão avassaladora.

Acontece que as cadeias produtivas de alimentos são muito heterogêneas no mundo, seja na propriedade rural, no processamento, na distribuição ou no varejo. Empresas multinacionais que seguem os melhores padrões sanitários globais convivem no mercado com espeluncas que abatem e evisceram animais na frente do consumidor, sem nenhuma fiscalização. Dois pesos e duas medidas na aplicação de leis sanitárias. Régua alta para alguns, baixa para outros.

A solução para esse problema, que está na raiz da epidemia, é o controle sanitário rígido dos wet markets, incluindo coibir a caça comercial ilegal de animais silvestres, além da aplicação efetiva de legislações sanitárias e punição exemplar dos abusos. Mas há outros fatores de mudança, em que o Brasil tem vasta experiência e muito a ensinar. São eles: 1) a criação e manutenção de cadeias frias desde o abate dos animais até a preparação final da comida; e 2) o modelo de “integração vertical” produtor-processador vigente nas cadeias de aves e suínos - indústrias alimentares e cooperativas oferecem animais para engorda, rações, vacinas, medicamentos e assistência técnica plena a seus produtores integrados, melhorando a sanidade e a segurança do alimento.

O Brasil também tem desafios internos a serem vencidos em sanidade animal, tais como a aplicação uniforme da legislação em todo o território nacional e o controle sanitário efetivo das nossas fronteiras. Mas não há a menor dúvida de que estamos muito à frente da grande maioria dos países, particularmente do mundo em desenvolvimento. Não seríamos líderes globais na exportação de carnes bovina, avícola e suína para mais de 150 países se não tivéssemos um sistema sanitário de padrão global, que pode e deve ser melhorado após esta pandemia.

Acredito que o Brasil deveria assumir posição protagônica nos debates sobre sanidade humana e segurança do alimento que certamente vão ser realizados na OMS, na FAO, no G-20 e na Organização Internacional de Epizootias (OIE).

A queda do Muro de Berlim, em 1989, marcou a reorganização política do mundo, com o fim da guerra fria. Em setembro de 2001, o atentado às torres gêmeas de Nova York marcou a reorganização da segurança internacional, com a conscientização sobre os riscos do terrorismo global. O coronavírus marcará a reorganização da sanidade humana, que descobriu sua inimaginável fragilidade ante a globalização. 

Alguns acharão que isso representará uma crise para o agronegócio. Eu prefiro ver como uma oportunidade de valorização e aprimoramento do nosso papel no mundo agroalimentar.

Pequena reflexão sobre o trabalho de resistência intelectual - Paulo Roberto de Almeida

Uma pequena reflexão sobre o trabalho de resistência intelectual
Paulo Roberto de Almeida

A resistência puramente “literária”, conduzida solitariamente na reclusão reflexiva de uma quarentena, no isolamento de um limbo institucional, ou no contexto de uma longa travessia do deserto, pode ser a menos eficiente de todas: ela não pertence a nenhum movimento, não está ligada a nenhum partido, não tem vínculos organizacionais nem pretende ter seguidores próprios.

Ela se sustenta em si mesma, na convicção de defender uma causa legítima, a preservação das liberdades, a necessidade de pensar com sua própria cabeça, a vontade de não fazer parte de nenhum rebanho, a certeza de que não se pode jamais renunciar à reflexão independente, ao espírito crítico, à contestação eventual das “idées reçues”, das verdades estabelecidas.

Isolada no seu canto, ela pode ter de se instalar numa pequena fortaleza feita de cadernos e livros, de se refugiar num humilde e obscuro quilombo de resistência intelectual, tendo como “armas” unicamente a palavra e a escrita, raramente um megafone, simplesmente pequenas mensagens, em garrafas, lançadas em um mar desconhecido.

Dificilmente, essas “pílulas” de resistência obstinada alcançam repercussão. Elas se perdem, na voragem do entusiasmo pelos novos tempos, na promessa dos “lendemains qui chantent”, nas mentiras confortáveis que satisfazem os ingênuos e os espíritos incautos.

Mas é preciso persistir, por um simples dever de consciência, individual e solitária, no mais das vezes, cidadã se for o caso. Não importa: o que se faz não tem intenção de criar nenhum movimento, de mobilizar nenhuma força organizada, apenas com a pretensão de alertar os demais membros da comunidade, a partir do conhecimento do passado, de uma atenta observação do presente e de alguma percepção quanto ao que pode vir pela frente.

Tive essa percepção, precocemente, em 2003, adquiri plena certeza em 2004, e vi confirmados meus piores temores nos dois anos seguintes. Mas aí já era tarde: eu já estava no limbo. E permaneci na minha longa travessia do deserto pelos dez anos seguintes, só cercado de meus livros e cadernos, refugiado em meu quilombo de resistência intelectual, de onde eu eventualmente lançava uma garrafa ao mar.
Não foi suficiente: o problema cresceu, o cancer da inépcia e da corrupção se agigantou, e terminou por engolfar o país na Grande Destruição, a maior de toda a nossa história.

Tive novamente a mesma percepção em meados de 2018, antes mesmo que a possibilidade se confirmasse. Imaginei que o desastre pudesse ser contido em algum momento, pelo temor de um novo desastre, por alertas que pudessem ser feitos em apelo à consciência cidadã — abafada, porém, pela ignorância eleitoral —, pela ilusão de que, uma vez consumada a escolha, as necessidades práticas da administração corrigissem as piores perspectivas de gestão.
Não foi suficiente: adquiri a certeza de estávamos embarcando numa viagem para o desconhecido logo nos dois primeiros dias da nova aventura, e obtive todas as confirmações nas semanas seguintes. Desde então, as etapas e sinais construtores da nova caminhada ao precipício foram se acumulando.

Fui levado novamente ao ostracismo, ao que eu chamo de limbo de resistência intelectual, e iniciei nova jornada de uma penosa viagem pelo deserto de minha solitude, cujo percurso e duração são ainda indeterminados.
Não importa, eu me disse: persistirei, como da outra vez, embora não deseje um novo desastre para a comunidade.

Recém adquiri a percepção de que essa é uma possibilidade real, um novo mergulho no desconhecido, tantas são as paixões desatadas. De novo sinto necessidade de lançar novas garrafas ao mar.
Assim faço, assim farei...

O desastre agora pode ser inclusive maior, por externalidades que nada têm a ver com as inconsistências da dinâmica interna, própria à inépcia e à corrupção embutidas no pacote adquirido lá atrás.

Como disse, não tenho movimento, nem partido, nem seguidores. Apenas minha liberdade, minha consciência, minha pluma, de vez em quando a palavra, quase inaudível.
Não importa!
Persistirei...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27/04/2020

O capitão minotauro no seu labirinto - Paulo Roberto de Almeida

O capitão minotauro no seu labirinto
Paulo Roberto de Almeida

O capitão escolheu assessores já previamente escolhidos, gente da tropa, para conduzir o ministério da justissa e a agência de desinteligência de nossa republiqueta bolsonarista.
As instituições, em si, se tornam algo mais do que simples puxadinhos da família. Junto vem um serviçal para todas as necessidades e mais um valet de chambre para as últimas informações do dia. Poderá agora dar instruções diretas a dois sabujos de capa e espada.
O capitão acaba de virar uma espécie de minotauro no seu labirinto.
Quem será o Teseu que vai livrar o povo do monstro devorador?
Não apostem em nenhum heroi singular, nem em gente de farda.
Tem de ser a consciência crítica da nação.
Isso demora mais um pouco.
Mas virá...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 26/04/2020

Um pequeno aviso às nossas “elites” - Paulo Roberto de Almeida

Um pequeno aviso às nossas elites
 (se de verdade elas existem):

‪Militares e grandes capitalistas da Alemanha apoiaram Hitler, entre 1933 e 1935, porque ele prometia livrá-la dos famigerados comunistas.
A pretexto desse empreendimento “saneador”, os nazistas se instalaram em todos os órgãos do Estado.
Quando se tentou reagir, já era tarde: eles conseguiram destruir todas as instituições muito antes de que começassem a  empreender qualquer aventura militar, a partir de 1938.‬  
Para atingir seus objetivos, depois de eliminar os seus comunistas “nacionais”, os nazistas fizeram inclusive uma aliança com os comunistas verdadeiros, Stalin e a URSS, o que os habilitou a destruir as democracias ocidentais, antes de voltar as armas contra os aliados circunstanciais.

Os militares da gloriosa Wehrmacht tiveram de prestar fidelidade não ao Estado Alemão, já convertido em III Reich, mas a Hitler pessoalmente, o que os levou a continuar uma guerra insana, já perdida a partir do inverno de 1942-43, até o final, levando a Alemanha e o seu povo à maior catástrofe de sua história.

O Brasil ainda está na Alemanha de 1933-34, quando se começa a “limpar o terreno”, a afastar os não aderentes à causa final e a instalar em seus lugares aqueles mais fieis ao líder, os sabujamente servis.
Um bando de fanáticos nas ruas aplaude as trocas, tratando como traidores e comunistas, queimando as efígies de quem os apoiou no momento da subida ao poder.
Servidores do Estado passam a ser apoiadores do governo, por oportunismo ou por simples instinto de sobrevivência.
Depois é muito tarde para reagir.

O Brasil, repito, ainda está na fase das substituições...

Muitos vão achar que eu estou exagerando: “imaginem, que ridículo, o capitão não é capaz desses exageros, inclusive porque é um estúpido...”
Pois é, Hitler também era um caporal ridículo, embora psicopata...

Depois, não digam que eu não avisei.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27/07/2020

As duas últimas décadas do século XX: fim do socialismo e retomada da globalização (2006) - Paulo Roberto de Almeida

Acabo de postar na plataforma Academia.edu, este trabalho que consolida a informação sobre as duas últimas décadas do século XX no plano das relações internacionais: 


As duas últimas décadas do século XX: fim do socialismo e retomada da globalização


Paulo Roberto de Almeida
Capítulo 8 do livro organizado por Flávio Saraiva, Relações internacionais contemporâneas. Publicado em José Flávio Sombra Saraiva, Relações internacionais: dois séculos de história, v. II: Entre a ordem bipolar e o policentrismo (de 1947 a nossos dias) (Brasília: Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, IBRI; Fundação Alexandre de Gusmão, FUNAG; Coleção Relações Internacionais, 2001, v. II, p. 91-174);
Republicado in: José Flávio Sombra Saraiva (org.), História das Relações internacionais Contemporâneas: da sociedades internacional do século XIX à era da globalização (2a. revista e atualizada; São Paulo: Editora Saraiva, 2006, p. 253-316; ISBN: 85-88270-03-X).


Sumário: 
Introdução: a grande transformação do final do século XX
1. A década de 80: dez anos que abalaram o mundo 
1.1. O fim do socialismo e seu impacto nas relações internacionais
1.2. Fim da Guerra Fria e mudanças no cenário internacional
2. Nova Guerra Fria e a derrocada do socialismo 
2.1. Relações entre as superpotências: da détente à nova Guerra Fria
2.2.O socialismo na contracorrente da História
2.3 Razões da derrocada socialista: irrelevância econômica internacional
2.4. Impossibilidade de reforma e perda de prestígio externo
3. A economia mundial: crise, crescimento de diversificação 
3.1. Integração de mercados financeiros e anarquia monetária
3.2. Comércio internacional: crescimento e protecionismo
3.3. Fragmentação e diversificação do Sul
4. Relações estratégicas internacionais e conflitos regionais 
4.1. Controle de armamentos: contenção nuclear vertical e horizontal
4.2. Conflitos regionais: a disseminação horizontal
4.3. A Ásia e o enigma chinês
4.4. Progressos na busca da segurança coletiva
5. A década de 90: a nova balança do poder mundial 
5.1. A era do Pacífico? Da pax niponica ao triunfalismo americano
5.2. Volatilidade de capitais e crises bancárias: a instabilidade financeira
5.3. A emergência de múltiplas polaridades
6. Os problemas globais: a nova agenda internacional
6.1. Novos e velhos problemas: a complexa agenda mundial
6.2. Limites da soberania estatal
6.3. Globalização e regionalização: tendências irresistíveis?
7. A globalização e o Brasil 
7.1. A América Latina no contexto internacional
7.2. O Brasil na globalização 


Texto integral disponível na plataforma Academia.edu, link:



domingo, 26 de abril de 2020

Postagens mais acessadas no Diplomatizzando

Estatísticas de acesso válidas para a semana que passou (19 a 26 de abril de 2020) no blog Diplomatizzando: 

Postagens 



A necessidade da utopia (Rui Barbosa) - Editorial Estadao (OESP, 26/04/2020)

A necessidade da utopia
Editorial de O Estado de S.Paulo (26/4/2020)

Há pouco mais de um século, em janeiro de 1919, o Estado publicou, neste espaço, um editorial em que defendia mais uma candidatura presidencial de Rui Barbosa, uma forma de protestar contra os arranjos oligárquicos e militaristas que degradavam a então jovem democracia republicana. Embora fosse político experiente, Rui Barbosa era, na ocasião, o que hoje se convencionou chamar de outsider, por ter sido o primeiro a fazer campanha eleitoral dirigindo-se aos eleitores, algo raro numa República que, embora nominalmente democrática, definia os presidentes nos salões do poder e depois os instalava no governo por meio do voto de cabresto e de fraudes nas listas de votação. Rui Barbosa perdeu a eleição para Epitácio Pessoa, que passou toda a campanha em Paris.

O editorial, ao cobrar que o voto deveria ser a expressão da vontade popular, e não o instrumento de um poder antidemocrático do qual as elites se serviam, salientava que “segrega-se da regularidade das soluções tradicionais o país em que os governos incorrigíveis teimam no erro e no crime, e em que povos, cansados de deitar nas urnas votos inúteis, desistem do direito de votar”. E mais: “Na nossa desgraçada República os governos, quase sem exceção, e o povo, quase em unanimidade, de há muito se haviam fixado neste sistema anormal de se viver – os governos contando com a covardia eterna do povo, e este simplesmente resignado”.

Passados cem anos, o País parece ainda prisioneiro de arranjo semelhante – mas o outsider, quanta diferença! Em vez de um Rui Barbosa, que no palanque fez os brasileiros verem a importância do exercício da cidadania e das políticas sociais, temos um Jair Bolsonaro, que representa os inconformados com a democracia.

Entre a campanha de 1919 e a campanha de 2019, a degringolada é evidente. Com raros intervalos nesse período, em que tivemos lideranças lúcidas e conscientes de seu papel no comando político do Brasil, a trajetória, de Rui Barbosa a Jair Bolsonaro, é a de um País em que a República parece ser quase um mal-entendido.

A utopia, essência da política e tão bem traduzida nas palavras de um Rui Barbosa, transforma-se em farsa quando enunciada por um Jair Bolsonaro. A utopia bolsonariana não é a da democracia plena, a da realização do potencial do País e a do aperfeiçoamento nacional, fruto de amplo debate democrático; é, ao contrário, a promessa de um mundo em que tudo se resolve pela vontade do líder, que se confunde com a do “povo”.

A pergunta, aludindo ao editorial de um século atrás, que fez referência aos governos que contam “com a covardia eterna do povo”, é: onde estão os democratas do Brasil? O que justifica a apatia dos amantes da liberdade ante tão flagrante assalto à República? Para encurtar: como fomos capazes de trocar Rui Barbosa por Jair Bolsonaro?

É preciso reavivar a utopia democrática. A política não pode se resumir à necedade [sic] bolsonarista ou à malícia lulopetista, ou ainda aos titubeios tucanos, ou à caradura do centrão. Em todos e em cada um desses casos, salvo honrosas exceções, prevalece o interesse paroquial e imediato, cuja fatura será paga, como sempre, pelas gerações seguintes. 

Mas nem sempre foi assim. Há exemplos na história – Rui Barbosa é apenas um deles – de líderes que procuraram instilar na população o sentimento de coletividade, do pertencimento verdadeiramente patriótico, e que olhavam não apenas para a resolução dos problemas do presente, mas para a semeadura do futuro.
Não é possível imaginar que tão poderosa mensagem – a da utopia de um amanhã melhor, construído não por um demagogo, mas pela vontade concertada de todos os cidadãos – não seja capaz de emocionar os brasileiros e fazê-los recobrar a esperança na democracia. Para que essa mensagem prevaleça, no entanto, é preciso que a elite nacional se apresente e valorize a cultura em vez da orgulhosa ignorância; a ciência em vez do obscurantismo militante; a articulação de consensos em vez da truculência política.

A democracia é um regime exigente porque demanda que cada um dos cidadãos assuma sua responsabilidade na construção da Nação. É o que pregava Rui Barbosa – que, mesmo derrotado, jamais deixou de acreditar em sua utopia.

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Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...