quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Constituição: reformar via emendas ou por nova Constituinte - Adilson Dallari

 Consultor Jurídico 

INTERESSE PÚBLICO

Por que convocar uma Constituinte e redigir uma nova Constituição Federal

Por 

O mundo político e jurídico brasileiro desabou quando, em exposição feita na Academia Brasileira de Direito Constitucional, em presença de ministros do STF e outros magistrados, o deputado federal Ricardo de Barros (PP-PR), propôs a realização de um plebiscito para decidir sobre a instalação de uma Assembleia Nacional Constituinte, considerando que "temos um sistema ingovernável, estamos há seis anos com déficit fiscal primário, ou seja, arrecadamos menos do que gastamos, não temos capacidade mais de aumentar a carga tributária, porque o contribuinte não suporta mais do que 35% da carga tributária, e não demos conta de entregar todos os direitos que a Constituição decidiu em favor de nossos cidadãos". Segundo ele, a Carta é pródiga em direitos e avara em deveres, levando a uma excessiva judicialização.

Positivamente, não foi um gesto tresloucado e inoportuno, de um irresponsável. A manifestação foi feita em local apropriado, uma academia de Direito, perante juristas perfeitamente habilitados para apreciar devidamente a sugestão. O deputado não é um neófito, mas já está em sua sexta legislatura, depois de ter sido prefeito municipal de Maringá, tendo sido ministro da Saúde, no governo Michel Temer, e sendo atualmente líder do governo na Câmara dos Deputados. Nada justifica os destemperados protestos (até de gente respeitável) contra essa proposta, como se ela fosse um atentado contra a democracia e um verdadeiro crime de lesa pátria. 

Mais sereno, num cuidadoso texto, o respeitado constitucionalista, deputado constituinte e presidente da República Michel Temer se pergunta e responde: "Quando se justifica uma constituinte? Quando há uma ruptura no sistema jurídico constitucional". Para ele, se for necessária alguma alteração na Constituição, isso deve ser feito por emenda constitucional ("Nova Constituição?", Oesp, 1/11/2020, p. A2). Esse posicionamento seria aceitável se efetivamente vivêssemos tempos de normalidade, o que, deveras não ocorre. É tempo, isto sim, de uma reflexão mais aprofundada sobre o assunto.

Ninguém nega os benefícios trazidos com a reconstitucionalização do Brasil, em 1988. Mas é incontestável que o texto produzido era o melhor que se poderia fazer nas circunstâncias daquele momento. Não por acaso, ele já sofreu mais de cem emendas ao longo dos seus 30 anos de vigência. Essa quantidade de emendas mostra duas coisas: a) o texto original era bastante imperfeito, ou inadequado para realidades emergentes; b) não é possível corrigir os desacertos ainda presentes, por meio de mais emendas constitucionais, dadas as dificuldades políticas para a aprovação de cada uma, no momento em que temos 30 partidos políticos em funcionamento.

Mas, antes de entrar em detalhes, seja permitido recordar que a Constituição em vigor não foi produzida por uma assembleia constituinte, conforme já tivemos oportunidade de salientar neste mesmo informativo ("Por uma Assembleia Nacional Constituinte independente e exclusiva", ConJur, Interesse Público, 27/4/2017), nestes termos: "Entretanto, verdade seja dita, ela não foi resultante de uma assembleia constituinte e teve origem espúria, num arranjo político então possível. Ela nasceu de simples emenda constitucional, proposta pelo presidente Sarney (EC 26/85), que conferiu poderes constituintes aos membros do Congresso Nacional, os quais, após a conclusão dos trabalhos, continuariam sendo deputados e senadores. Vale notar que o Congresso constituinte foi eleito com sua composição determinada pelo chamado Pacote de Abril (de 13/4/1977), do presidente Geisel, que fechou o Congresso e editou 14 emendas constitucionais, com o indiscutível propósito de falsear completamente a representatividade, de maneira a garantir a vitória do governo ditatorial nas eleições do ano seguinte. O resultado mais direto e imediato desse arranjo foi que os 'constituintes' legislaram para si mesmos. O capítulo da CF, que dispõe sobre o sistema político, eleitoral e partidário, foi originariamente feito para propiciar a reeleição dos parlamentares, o desnaturamento dos partidos políticos e a perenidade dos caciques regionais"

Essa é a realidade atualmente existente. Alguma melhoria foi possível com a edição da Emenda Constitucional nº 97/2017, que altera o artigo 17 da CF, mas é bastante sintomático o fato de que as alterações serão implantadas gradativamente, até o ano de 2030. Ou seja, a pior parte da CF em vigor foi objeto de uma única e parcimoniosa emenda constitucional, de escassa eficácia. Isso mostra duas coisas: 1) é simplesmente inviável alterar o tanto que precisa ser imediatamente alterado na CF, por meio de emendas constitucionais; 2) não faz sentido algum esperar que a crise que estamos vivendo se agrave, a ponto de causar uma ruptura no sistema constitucional, sendo muito mais racional que adotem medidas que possam evitar tal ruptura. 

O momento correto e oportuno para a edição de uma nova Constituição é matéria controvertida. Enquanto o professor e presidente Michel Temer sustenta que isso só teria cabimento no caso de uma ruptura constitucional, há quem pense exatamente o contrário. É bastante curioso, para dizer o mínimo, o posicionamento expressado pela Gazeta do Povo, do último dia 28/10 ("A nova Constituição desejada por Ricardo Barros"): "Portanto, não há nada de errado em desejar para o Brasil uma Constituição mais enxuta, menos engessada, que equilibre melhor as competências do Estado e da iniciativa privada, que dê ferramentas para um combate mais efetivo ao crime e à corrupção, que compreenda a necessidade do equilíbrio fiscal — este é um desejo legítimo e até meritório. Mas pelo menos algumas dessas mudanças podem ocorrer por emendas ao texto atual, e elas vêm sendo feitas, ainda que em ritmo mais lento que o necessário. Restam as limitações mais profundas, que realmente só poderiam ser sanadas com uma nova lei maior; mas isso exigiria um outro momento, de absoluta tranquilidade e serenidade, bastante diferente daquele que vivemos hoje, de turbulência e polarização". Nossa opinião, convém repetir, é no sentido de que o importante é evitar que o agravamento dos problemas atuais leve a uma ruptura constitucional.

Problemas a serem resolvidos não faltam, a começar pela total e completa renovação da disciplina dos sistemas político, partidário e eleitoral, onde abundam absurdos, abusos, desperdícios, que viciam completamente a representação popular, atingindo os limites do ridículo. A independência e harmonia entre os poderes não mais existem, dadas as invasões, as omissões, os excessos e os abusos havidos tranquilamente como inevitáveis e irremediáveis. A promiscuidade brasiliense é pública e notória, e o compadrio é havido como virtude. A administração pública é superdimensionada, esclerosada e dominada por uma casta superprivilegiada. O sistema tributário se caracteriza pela formidável complexidade, geradora de conflitos e de insegurança jurídica. Não é preciso dizer muito sobre a corrupção, a impunidade, o foro privilegiado, os infinitos recursos que sobrecarregam todas as quatro instâncias ordinárias que, na verdade, temos. O padrão moral é lastimável em todas as estruturas públicas, merecendo ser destacado como amostra o vergonhoso comportamento do STF, que mudou seu entendimento quanto à presunção de inocência, para beneficiar uma determinada pessoa.

O STF merece um especial destaque. É realmente uma instância ordinária, como se observa no dia a dia. Qualquer partido político que tenha sofrido alguma derrota no Congresso recorre diretamente ao STF. No momento atual, entre outras, fervilham as disputas sobre identidade de gênero e sobre a vacina contra a Covid-19. O STF já decidiu até resultado de jogo de futebol: em 2017 ficou decidido que o Sport Club do Recife foi o campeão brasileiro de 1987. Os problemas do STF já foram por nós abordados neste informativo em vários artigos ("O necessário controle do Poder Judiciário", 17/10/19, "Supremo não é sinônimo de absoluto", 7/5/20, "Todos são iguais perante a lei, exceto os 11 brasileiros do STF", 11/06/20). No momento cabe apenas lembrar que, em pronunciamentos feitos à imprensa, a ministra Carmen Lúcia se pronunciou contra uma nova Constituição mas, ao mesmo tempo, reclamou da sobrecarga do STF. Seja permitido um exemplo de algo a ser mudado: está em discussão no STF a ADIN nº 6.524-DF, versando sobre a questão da proibição de reeleição dos presidentes das mesas da Câmara e do Senado, estabelecida no §4º, do artigo 57 da CF. Argumentam os interessados em sua reeleição que a matéria é regimental, ou seja, interna corporis de cada uma das casas. Invocam em seu favor decisão do então ministro do STF Carlos Velloso, no sentido de que a vedação de reeleição não é um princípio, mas uma simples norma. Porém o ministro salientou que: "A norma do §4º, do artigo 57, da CF, é uma norma constitucional. É dizer, a norma regimental foi constitucionalizada". Esse é apenas um exemplo de assunto que poderia ser objeto de lei, regulamento ou regimento, mas acaba sendo de competência do STF por figurar na Constituição. Há muito que "enxugar" no texto constitucional vigente.

Em resumo é quase unânime o entendimento de que muita coisa precisa ser mudada no texto da CF, para o aprimoramento da ordem jurídica vigente. A discordância está em como fazer isso. Nosso entendimento é no sentido da inviabilidade da correção por meio de uma infinidade de emendas constitucionais, sendo necessária e viável a convocação de uma verdadeira Assembleia Nacional Constituinte. Já salientamos, em diversos escritos, que o povo brasileiro não abdicou de sua soberania em 1988, ao contrário, a preservou, por meio dos instrumentos de exercício da democracia direta, como é o caso do plebiscito e do referendo. Ao povo, titular de todo poder, cabe decidir sobre o assunto. Por plebiscito poderia decidir sobre a convocação de uma verdadeira Assembleia Nacional Constituinte, independente e exclusiva, eleita pelo voto popular, independentemente de filiação partidária, para dispor apenas e tão somente da temas substancialmente constitucionais. O texto assim produzido poderia ser submetido a um referendo, possibilitando a instauração de uma nova ordem constitucional verdadeiramente democrática.


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Resultados electorales en EUA y sus posibles consecuencias - 10/11/2020 (Es.Global)


INVITACIÓN: LOS RESULTADOS ELECTORALES DE ESTADOS UNIDOS Y SUS POSIBLES CONSECUENCIAS

Invitación Club Resultados Elecciones eeuu

 

Mientras al comienzo de la noche electoral, que se ha seguido con intensidad inusitada, el actual inquilino de la Casa Blanca anunciaba otros cuatro años excelentes, unas horas después denunciaba que se estaba ante un fraude que iba a ser recurrido ante el Tribunal Supremo. Ahora, cuando se escriben estas líneas, la incertidumbre se mantiene en 10 estados y todavía no se sabe quién conseguirá los votos electorales que correspondan. Con lo que se está dando continuidad a una serie de situaciones nunca vistas o extravagantes y que han ido jalonando el proceso electoral en los meses precedentes.

Es de esperar que en los próximos días de continuada incertidumbre se sustanciarán los resultados de los escrutinios pendientes. De ellos no sólo depende la presidencia de Donald Trump, sobre la cual se han llevado a cabo numerosos análisis desde que ganase las elecciones en 2016, sino también los posibles escenarios propios y ajenos en los que convergen problemas decisivos para el futuro humano. Entre ellos, se encuentran: la sostenibilidad global, la evolución de las desigualdades, la mayor o menor debilidad del multilateralismo, la difusión o limitación de ejemplos populistas y la funcionalidad de las diversas gobernanzas que condicionan el desarrollo humano.

esglobal, en colaboración con el Capítulo Español Club de Roma, discutirá los posibles escenarios mencionados como resultado de las elecciones en este seminario web a través de ZOOM PRO y debatirá sobre las posibles repercusiones que puedan tener.

PROGRAMA

  • 18.30 – 18.35 H. Presentación: José Manuel Morán. Vicepresidente del Capítulo Español del Club de Roma.
  • 18.35 – 19.15 H. Moderadora: Cristina Manzano. Directora de esglobal.
    • Juan María Hernández Puértolas. Economista, periodista, especialista en política interior norteamericana.
    • Carlota García Encina. Investigadora principal de Estados Unidos y Relaciones Transatlánticas del Real Instituto Elcano, y profesora de Relaciones Internacionales de la Universidad Francisco de Vitoria de Madrid.
    • Cristina Crespo Palomares. Directora de Relaciones Externas y coordinadora general del Instituto Franklin de la Universidad de Alcalá
  • 19.15 – 19.30 H. COLOQUIO GENERAL

 

Si quieres inscribirte en el evento, ¡regístrate en el siguiente enlace!

As difíceis relações do Brasil com a Argentina - Clarin

El aumento de la brecha cambiaria ya se hace sentir y complica más la relación comercial con Brasil

Annabella Quiroga

Clarín, Buenos Aires – 5/11/2020

 

El aumento de la brecha cambiaria ya se hace sentir sobre la relación con Brasil y apunta a aumentar aún más el déficit con el principal socio comercial. En octubre el rojo llegó a US$ 21 millones y para todo 2020 rozará los US$ 500 millones, lo que deja en el olvido el saldo a favor conseguido el año pasado.

En octubre, las importaciones desde Brasil aumentaron 12,5% y llegaron a US$ 820 millones. Esto marcó un cambio de tendencia, ya que en el año arrastraban una fuerte baja. 

Mientras las importaciones crecieron por segundo mes consecutivo, las exportaciones argentinas hacia ese país retrocedieron un 18,3% interanual el mes pasado.

Para los analistas no es casual que esto haya ocurrido en el mes en el que explotó la brecha. En octubre, el gap entre el dólar blue y el mayorista llegó a tocar el 150%. Si bien en las últimas jornadas se fue achicando hasta 104%, sigue siendo relevante para alimentar las expectativas de devaluación.

Para Matías Carugati, economista de la consultora Seido, "las expectativas de depreciación que señaliza una brecha alta se asociaron a mayores importaciones y (algo) de menores exportaciones. Los exportadores-importadores reaccionan como si estuvieran esperando una depreciación inminente y entonces tratarán de posponer-acelerar decisiones".

La consultora Ecolatina apunta al impacto de la brecha sobre el déficit. "Una brecha mayor al 100% entre el dólar oficial y paralelo alentó las expectativas de devaluación y pospuso exportaciones, a la par que impulsó la subfacturación de éstas, en la búsqueda por liquidar la menor cantidad de divisas posibles en el mercado oficial".

Con relación a las importaciones, Ecolatina consigna que "el salto se explica íntegramente por temores devaluatorios. Estas expectativas incentivan el adelantamiento de las compras, con el objetivo de atenuar los efectos negativos de un dólar más caro".

"Aunque la brecha se redujo sensiblemente, todavía falta mucho terreno por recorrer. Si la brecha no cede, el Banco Central deberá sacrificar cada vez más reservas para controlar al tipo de cambio oficial. En este contexto de nulo ingreso de capitales desde el exterior, las posibilidades de apuntalar el poder de fuego de la autoridad monetaria en el corto plazo son muy bajas, de modo que las expectativas de devaluación se refuerzan con los comportamientos nocivos", plantean.

En lo que va del año el saldo bilateral para Argentina es negativo. En diez meses nuestro país acumula un déficit de US$ 491 millones frente al superávit de US$ 368 millones en el mismo período de 2019. Este desempeño responde a la disminución de las exportaciones argentinas hacia Brasil (27,7% en lo que va del año), que superaron la baja del 18,7% de las importaciones desde Brasil.

Desde la consultora Abeceb estiman que el déficit bilateral sería de US$ 488 millones, contra el saldo favorable de US$ 230 millones que consiguió el año pasado. "Las exportaciones a Brasil caerían en promedio un 24%, en lo que será el tercer año consecutivo de merma, y las importaciones desde ese origen, un 18%. Las importaciones argentinas desde Brasil se reducirían a casi la mitad en tan solo dos años".

Esto ocurre en un contexto en el que la economía brasileña se va recuperando del efecto de la pandemia más rápido de lo que se esperaba. El Banco Central de Brasil espera un retroceso en el PBI del 5% para 2020, 1,4 puntos porcentuales por debajo de la estimación anterior.

Eva Bamio, analista de sector externo de Abeceb, sostiene que en los próximos meses "la relación con Brasil va a ser compleja porque no es puramente la economía lo que manda. Con la recuperación de la actividad allá, nuestras exportaciones deberían ir mejorando, pero la brecha pone una variable ficticia de presión. Esto también hace que los importadores ingresen más productos, pese a que aquí el consumo no se recupera".

"El año pasado habíamos terminado con superávit después de muchos años de déficit y este año no lo vamos volver a tener", apunta. "Esto pasa porque las exportaciones tuvieron una caída fuerte, pero la brecha terminó de empiojar todo. Y a esto se suma que la relación institucional está paralizada por las diferencias políticas entre los dos presidentes. Hay que trabajar mucho para volver a poner esta relación en el centro".

Um Ornitorrinco no Itamaraty: crônicas do Itamaraty bolsolavista - Ereto da Brocha (o cronista misterioso)

Tendo recebido estas crônicas paulatinamente, ao longo das últimas semanas, desde agosto, resolvi compilar as duas dúzias recebidas numa brochura, que coloco agora à disposição dos interessados. 


“Um Ornitorrinco no Itamaraty: crônicas do Itamaraty bolsolavista”, Brasília, 5 novembro 2020, 35 p. Compilação de 24 crônicas do cronista misterioso, um diplomata aposentado que se apresenta como “ministro Ereto da Brocha”, publicadas individualmente no blog Diplomatizzando, e agora reunidas em uma brochura. 

Índice

 

 

Nota liminar à 2ª. edição das Crônicas do Itamaraty bolsolavista

Introdução pessoal às crônicas do diplomata anônimo 

Paulo Roberto de Almeida

 

Crônicas recebidas até 4/11/2020

 

1. O papel do asno na sociedade brasileira (semana 01) 

2. Gusmão rendido  (semana 02)

3. Pela restauração! (semana 03)

4. Franjas lunáticas (semana 4) 

5. O Anti-Barão (semana 05) 

6. Alienáveis alienígenas (semana 06) 

7. Nobel (semana 07) 

8. Sussurram os Corredores (semana 08) 

8bis. Bolo de Laranja Lima (semana 08-bis) 

9. Meu caro amigo (semana 09) 

10. Aos fatos (semana 10) 

11. Kejserens nye Klæder (semana 11) [As Roupas Novas do Rei] 

12. A Era do Rádio (semana 12) 

13. Era uma vez na Arábia um homem chamado Abu (semana 13 - Parte 01) 

14. ABU V, o heterônimo (semana 14 - Parte 02)

15. O estranho caso de Abu (semana 15)

16. A jornada do herói (semana 16) 

17. Rumo à Idade Média (semana 17) 

18. Patriotas (semana 18)

19. Os leitões de Niemöeller (semana 19) 

20. Receita contra o globalismo (semana 20) 

21. O Ig Nobel (semana 21) 

22. O Discurso [na ONU] (semana 22) 

23. As cinzas de Pompeia (semana 23) 

24. Réquiem para um povo (semana 24)  

 

Um cronista misterioso anima a RESISTÊNCIA no Itamaraty 

Paulo Roberto de Almeida

Postado na plataforma Academia.edu; link:

https://www.academia.edu/44437505/Um_Ornitorrinco_no_Itamaraty_cronicas_do_Itamaraty_bolsolavista_Ereto_da_Brocha_2020_

Nota liminar à 2ª. edição das 

Crônicas do Itamaraty bolsolavista

 

Um cronista (até aqui) misterioso

 

No dia 20 de agosto de 2020 recebi, de um colega de carreira, uma dúzia de arquivos assinados com um nom de plume, nitidamente de um diplomata aposentado, empenhado em criticar os descaminhos do Itamaraty bolsolavista. Eles foram seguidos, nas semanas seguintes, por mais uma dúzia, perfazendo, até aqui, 24 crônicas saborosas.

Li, gostei, e resolvi republicar, por minha conta e risco, no Diplomatizzando, uma por uma destas crônicas, que tratam todas da lamentável situação do Itamaraty sob a gestão atual governo aloprado. Elas foram redigidas certamente por um diplomata experiente, mas já aposentado, o que o coloca ao abrigo de retaliações maciças que possam aflorar no cérebro confuso do seu principal objeto, o ornitorrinco que vive submergido, fora do alcance da imprensa e do escrutínio dos próprios colegas.

Como detectei grande interesse no material, resolvi compor uma pequena brochura para colocar essas crônicas de um autor ainda desconhecido à disposição dos interessados, consolidando o material recebido com pequenas introduções a cada uma delas e uma introdução geral ao conjunto, todos esses textos feitos claramente de improviso, no calor da hora.

Acredito que o cronista anônimo vai continuar se exercendo nas doçuras da crítica sarcástica, mas não tenho contato com ele. Dependo de colegas que recebem e me repassam o material, que não sei exatamente como circulam. O fato é que essas crônicas são lidas com indizível prazer pela nossa corporação de ofício, que assim pode desfrutar (ainda que clandestinamente) do sarcasmo que são a sua marca irrecusável.

Numa conjuntura de tantos absurdos e bizarrices, a maior parte composta de declarações presidenciais imensamente constrangedoras para nosso país, internamente e externamente, uma das reações usadas em todas as épocas é a derrisão, ou seja, a ironia ferina, ou sarcástica, usada como armas da crítica, desde Erasmo e Swift, até nossos dias. Dois dos nossos saudosos cronistas de costumes, Stanislaw Ponte Preta – autor do (hoje de mais rara menção, mas inesquecível) Febeapá, o “Festival de Besteiras que Assola o País” – e Millôr Fernandes, também conhecido como Vão Gogo, se sentiriam à vontade e escreveriam novas crônicas impagáveis sobre os atuais pândegos do poder estabelecido.

Se eu tivesse de dar um conselho ao nosso cronista misterioso, eu pediria que ele datasse, pelo calendário efetivo, cada uma de suas saborosas crônicas, pois o registro cronológico é importante para a história, uma vez que o Brasil necessita ter um registro preciso destes tempos tão pouco memoráveis, não convencionais, em nossa vida de retinas fatigadas pelas pedras no caminho que temos de enfrentar em nossa incerta trajetória em direção a um vago futuro.

Em todo caso, desejo uma excelente continuidade no bom trabalho que vem sendo desenvolvido pelo cronista misterioso. Não sei se a Funag, em alguma administração futura, poderá publicar estar crônicas de costumes, mas fica a sugestão, talvez num estilo não muito diferente daquele seguido, no século XIX, por uma dupla que se exercia nesse tipo de crítica: Bouvard e Pecuchet. 

  

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 24 de agosto, 4 de novembro de 2020

 

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...