terça-feira, 8 de julho de 2025

O Brasil no Brics - Rubens Barbosa O Estado de S. Paulo

 Opinião:

O Brasil no Brics

O Brics é visto, em Brasília, como instrumento-chave para reequilibrar a ordem mundial, contrapondo o domínio do G-7
Rubens Barbosa
O Estado de S. Paulo, 08/07/202

        No contexto atual de incertezas e insegurança global, o governo brasileiro organizou ontem, no Rio de Janeiro, o encontro de cúpula do Brics, sem a presença dos líderes da Rússia, China, Egito, Turquia, Irã e México.
        O Brics, hoje, ampliado, é integrado pelos cinco países originais (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul) e agora pelos novos membros, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes. Foi igualmente criada uma categoria de Países Associados, tendo sido convidados Cuba, Bolívia, Turquia, Nigéria, Indonésia, Argélia, Bielorrússia, Malásia, Uzbequistão, Cazaquistão, Tailândia, Vietnã e Uganda. A expansão do Brics permitirá um maior conhecimento e novas oportunidades de ampliação do intercâmbio comercial entre os países-membros. Existem cerca de 200 mecanismos de interação entre os países-membros, com reuniões entre ministérios e instituições oficiais e privadas que vão nessa direção. No tocante ao funcionamento do bloco, o Brasil apoiou a expansão do grupo (2023-2024) e defende termos de referência para a entrada de novos membros para preservar a coerência e eficácia do bloco. Há cerca de 35 países que manifestaram interesse em se juntar ao Brics.
        Apesar de dois de seus membros estarem envolvidos em conflitos regionais, o Brics, pelo seu peso político, econômico e comercial, tem sido um polo de atração, o que indica uma tendência à sua consolidação como um ator relevante no cenário global. Heterogêneo e com interesses nem sempre coincidentes, o Brics se tornou uma fonte de propostas de regras para a nova ordem internacional, embora haja preocupação de parte de seus membros com o risco de que o grupo se torne excessivamente politizado ou antiocidental, o que comprometeria sua capacidade prática. Por isso, apresentar-se como uma força de construção e de estabilização será um grande desafio para o bloco, levando em conta as guerras em curso e as atitudes antiocidentais de alguns de seus membros.
        A reunião mostrou a grande diversidade entre os países-membros e a divergência de interesses político e econômico-comerciais, mas a moderação prevaleceu sobre a confrontação. Além da declaração de líderes, foram aprovadas declarações sobre finanças climáticas; sobre governança global da inteligência artificial e a parceria do Brics para a eliminação de doenças socialmente determinadas. O Brasil contribuiu para encontrar fórmulas de conciliação sobre os temas dominados por questões geopolíticas globais, em especial, as guerras no Oriente Médio e na Europa e o protecionismo, em função do tarifaço dos EUA. O grupo condenou os ataques militares ao Irã e ao programa nuclear iraniano, reiterando o apoio às iniciativas diplomáticas relativas aos desafios regionais e reiterou as posições nacionais sobre a guerra na Ucrânia, expressas na ONU. O comunicado final registra a grave preocupação com a ocupação de Gaza e expressa o direito dos palestinos de um Estado independente e, quanto à ampliação do Conselho de Segurança da ONU, que Brasil e Índia deveriam ter um papel mais ativo em temas globais e nas Nações Unidas, inclusive no Conselho de Segurança.
        No contexto das atuais prioridades na política externa, o governo brasileiro mantém seu compromisso com o Brics como um meio estratégico para reforçar sua política externa, aumentar sua autonomia e atuar como liderança entre os países em desenvolvimento (Sul Global). O Brics é visto, em Brasília, como instrumento-chave para reequilibrar a ordem mundial, contrapondo o domínio do G-7, o esvaziamento do G-20 e de instituições lideradas por EUA e Europa. A presidência brasileira defendeu a reforma da governança global e a ampliação da voz dos países em desenvolvimento. Reiterou a necessidade da reforma do Conselho de Segurança da ONU, o fortalecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC) e enfatizou a necessidade de mudanças no Fundo Monetário Internacional e no Banco Mundial, com maior representatividade e poder de voto para os emergentes. Ressaltou o diálogo sobre o uso de moedas locais no comércio com o objetivo de reduzir os custos das operações financeiras e sobre a cooperação entre os países do Brics para melhor utilização do sistema financeiro vigente. Defendeu maior atuação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), com financiamentos que beneficiem infraestrutura e transição energética no Sul Global.
        Ao lado do apoio à agenda do Brics, o Brasil incluiu, com êxito, nas discussões e no comunicado final, a ampliação da cooperação entre os países em desenvolvimento nas áreas de saúde, com o estabelecimento de parcerias e projetos com os países-membros para ampliar a cooperação no combate a doenças tropicais; clima, no tocante ao aprimoramento das estruturas de financiamento para enfrentar as mudanças climáticas levando em conta a agenda da COP-30; comércio, na defesa de princípios básicos do comércio internacional, como o da nação mais favorecida, visando ao incremento do comércio entre os dez membros do bloco e buscando revigorar a OMC e crítica à política protecionista dos EUA; taxação dos super-ricos; inteligência artificial, com vistas a aprofundar as discussões sobre a governança da IA, com o apoio da governança inclusiva e responsável da IA para o desenvolvimento.

Presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE) e membro da Academia Paulista de Letras.

https://www.estadao.com.br/opiniao/rubens-barbosa/o-brasil-no-brics/

A volta ao mundo em 80 livros: revisitando Jules Verne - Paulo Roberto de Almeida (série “Clássicos Revisitados”)

A volta ao mundo em 80 livros: revisitando Jules Verne

Proposta de um novo livro da série “Clássicos Revisitados”.
Cidades, regiões e países pelas quais passaram Phileas Fogg e Passepartout

1) Londres, Inglaterra, Reform Club, Museu Madame Tussaud, Bank of England: Planning de Voyage: De Londres à Suez par le Mont-Cenis et Brindisi, railways et paquebots ... 7 jours De Suez à Bombay, paquebot ... 13 jours De Bombay à Calcutta, railway ... 3 jours De Calcutta à Hong-Kong (Chine), paquebot ... 13 jours De Hong-Kong à Yokohama (Japon), paquebot ... 6 jours De Yokohama à San Francisco, paquebot ... 22 jours De San Francisco à New York, railroad ... 7 jours De New York à Londres, paquebot et railway ... 9 jours Total = 80 jours
2) Dover,
3) Calais,
4) Paris
5) Mont Cénis,
6) Turim,
7) Brindisi,
😎 Suez,
9) Aden,
10) Bombai, Great Peninsular Railway
11) Buhrampour, Assurghur, Rothal, Kholby (por trem)
12) Allahabd (via Terrestre, por elefante, 2.000 libras)
13) Florestas da Índia: Bundelkung, Vindhias, Kallenger, Pillaji, Salvamento
14) Benares, Chandernagor, ville française
15) Calcutta,
16) Singapura,
17) Hong Kong
18) Shanghai
19) Yokohama pela linha Pacific Mail Steam, com o valor General Grant
20) San Francisco: Central Pacific,
21) Sacramento;
22) Reno
23) Salt Lake City (mórmons); Ogden station;
24) Wyoming
25) Medicine-Bow: ponte destruído
26) Denver, Colorado
27) Fort Kearney, ataque dos Sioux
28) Travessia em trenó sobre a neve
29) Columbus, Omaha, estado do Nebraska;
30) Iowa,
31) Des Moines,
32) Iowa City
33) Illinois
34) Chicago, rail-road, Chicago Rock Island Road
35) Indiana
36) Ohio
37) Pennsylvania
38) New Jersey
39) New York; o barco para Liverpool tinha partido 45 minutos antes
40) Barco Henrietta, em direção de Bordeaux, desviado para Liverpool
41) Queenstown, Irlanda
42) Dublin
43) Liverpool; preso em nome da Rainha
44) Londres
45) Reform Club, um minute antes da hora final
80 – 45 = 35 livros faltantes.
AGORA: livros para falar de todos esses lugares, desde o momento em que Phileas Fogg passou (1872) e nas décadas seguintes, até chegar à atualidade...
O que era o Brasil nessa época (Censo desse ano...)
Reproduzir trechos de Jules Verne (o imperialismo europeu, a supremacia colonialista britânica), a ausência de passaportes de entrada, vistos consulares, Suez e Lesseps, Aída de Verdi, os vapores e cabos telegráficos, a dominância da libra britânica, os horários dos trens e o cronograma dos vapores, a ausência de vacinas.
O atraso da Índia (livro de Robert Barro e Xavier Sala-i-Martin, Economic Growth), a selvageria dos EUA matando bisões e índios, e a fleugma dos ingleses: Phileas Fogg em nenhum momento perde a calma ou a cabeça, e sim se mantém imperturbavelmente sereno e tranquilo.
Livros de turismo e de história econômica.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4982, 8 julho 2025, 2 p.

Um jantar “inesquecível” na Casa Branca, e uma conversa inacreditável - Paulo Roberto de Almeida

Um jantar “inesquecível” na Casa Branca, e uma conversa inacreditável:

Trump e Netanyahu coincidiram ontem, mais uma vez, em que é preciso expulsar, vender, eliminar os 2 milhões de palestinos da Faixa de Gaza, se livrar deles, para enfim construir, no espaço livre desse incômodo humano, uma Big, Beautiful, bright Riviera, um resort de luxo à beira do Mediterrâneo, para os seu negócios imobiliários e acolher os BBBs, os bilionários brancos e belos naquelas paragens.

Gostaria de ouvir a opinião a respeito dos meus amigos e conhecidos judeus, sionistas ou não l, apenas seres pensantes, o que eles, em especial o Julio Benchimol Pinto, têm a dizer sobre esse Big, Belo Projeto de dois supremacistas arrogantes. 

Não adianta me chamar de antissemita, pois estou apenas refletindo o que ouvi ontem na inacreditável entrevista à imprensa antes do jantar (quando devem ter combinado, em segredo, coisas ainda piores contra os pobres palestinos).

Se concluído o projeto, ele não eliminará o terrorismo: ao contrário, produzirá centenas, talvez milhares, de novos terroristas pelos anos à frente, não só no Oriente Médio, mas em todas partes do mundo, com força no território americano, contra americanos.

“Meu ódio será tua herança”, mas não é um filme…

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 8/07/2025


Postagens mais recentes neste quilombo de resistência intelectual - Paulo Roberto de Almeida

 Um amigo me merguntou sobre uma (ou mais de uma) postagem que eu havia feito recentemente neste pequeno espaço de opiniões libertárias, contrarianistas, anarquistas (à escolha de quem pretende me classificar). Sem saber exatamente qual era, alinhei as mais recentes, de opiniões próprias, sempre céticas, mas saudáveis. Ei-las, para usar uma mesóclise tão ao gosto de alguns: 

O que eu postei no período recente: 


4/07: 

Esta postagem foi objeto de dezenas de visualizações, por isso esta nova divulgação. A lição de Rui Barbosa perdura, pela sua sensatez elementar.

Ser neutro em face de um crime representa ser conivente com o criminoso

O Brasil de Lula (como antes o governo Bolsonaro) afirma ser neutro na questão da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia.

Rui Barbosa, em 1916, já tinha chamado a atenção sobre a impossibilidade da neutralidade, ou “imparcialidade”, em face de uma grave transgressão do Direito, a propósito da invasão da Bélgica neutra invadida pelo Reich alemão na Grande Guerra (desde 1914). Ele disse que não se pode ser “neutro” em face de uma clara transgressão ao Direito Internacional.

Um ano depois o Brasil deixou de ser neutro na Grande Guerra, rompeu relações com as potências centrais e ingressou na guerra do lado dos agredidos.

Lula precisaria reler Rui Barbosa, ou alguém ler para ele.

Paulo Roberto de Almeida”


6/07: 

Statement of fact

Paulo Roberto de Almeida 

        Não combato pessoas, luto por ideias, contra ou a favor. Não ideias em geral, abstratas, conceitos vagos, mas ideias, afirmações, opiniões sobre fatos concretos, como por exemplo o desenvolvimento do Brasil e o bem-estar de seus habitantes, em primeiro lugar os mais pobres, desvalidos ou não educados, e por isso mesmo pobres ou remediados. 

        Na história, o Brasil tem sido um país dominado por oligarquias, não por cidadãos livres, conscientes e educados, e esta é a razão de porque somos, em grande maioria, pobres, deseducados e desvalidos.

        Trata-se não de um projeto consciente de malvados oligarcas, mas o resultado de um tipo de estrutura social impessoal, que vai moldando formas de organização social, política e econômica que podem ser mais ou menos conducentes à evolução de uma sociedade para uma melhor condição geral de bem-estar geral.

        No caso do Brasil ainda não conseguimos evoluir para um grau de desenvolvimento social capaz de reduzir o número dos menos qualificados pelo nascimento ou pela condição de origem.

        A origem colonial por um Estado precocemente unificado, mas também oligárquico e centralizado dificultou a modernização. As oligarquias escravistas e latifundistas bloquearam aquilo que se classificou como sendo uma “revolução burguesa”, ou seja, a ascensão de camadas médias ao poder político e econômico, o que não quer dizer que todas as camadas médias (os imigrantes, por exemplo) estivessem em condição de suplantar o poder das oligarquias. 

        Durante minha formação, busquei as vias intelectuais para escapar do subdesenvolvimento, com base no estudo e na observação da realidade ambiente, no próprio Brasil ou no exterior. Nem sempre fui exitoso no empreendimento, por limitações pessoais ou do meio ambiente. Creio ter contribuído modestamente para a difusão de um conhecimento mais preciso sobre nossos impedimentos ao pleno desenvolvimento material e cultural de nossa nação, com resultados também limitados pelo pouco alcance de minhas ideias.

        Daí uma preocupação persistente com os escritos — livros e artigos publicados — que são os que perduram acima das palavras que se perdem na confusão natural das sociedades.

        Não tenho maiores instrumentos para difundir o conhecimento adquirido ao longo de uma vida de estudos e de atenta observação das realidades que me cercam ou das quais sou consciente pelos meios disponíveis de informação e de comunicação.

        Persistência em certas ideias e disposição para revisá-las em face de novas evidências científicas parecem ser as chaves para algum êxito nesse tipo de empreendimento.

        Por que o faço? Simplesmente, ou conscientemente, porque provenho dessas tais classes desprivilegiadas em face das oligarquias dominantes, sempre as elites. Nunca pertenci às elites, sequer às intelectuais, mas sempre me esforcei para, no mínimo, me integrar a essa tribo diáfana e pouco influente em face dos oligarcas poderosos.      

        Infelizmente, o Brasil vai demorar muito para deixar de ser um país de oligarcas para se tornar uma nação de cidadãos conscientes. O processo é longo e demorado e segue caminhos sempre únicos e originais.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 6/07/2025


7/07: 

 Mensagem a meus colegas diplomatas, da ativa e aposentados (como eu)

        Muitos sabem, talvez os mais jovens não saibam, que eu não tive nenhum cargo na SERE de 2003 a 2016, ou seja, durante toda a duração dos primeiros governos lulopetistas. Fui novamente chamado a exercer um cargo, apenas acadêmico, não executivo, como diretor do IPRI, de agosto de 2016 ao início de 2019, quando o Itamaraty foi literalmente assaltado pela franja lunática dos antiglobalistas. Fui demitindo do IPRI, com alívio, pois me sentiria muito mal tendo de servir a um governo e a uma administração na SERE totalmente esquizofrênicos. Como vários sabem, escrevi quatro livros contra o bolsolavismo diplomático – começando por Miséria da Diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty (2019) e terminando por O Itamaraty Sequestrado (2022), todos digitais, mas concluindo o ciclo pelo livro impresso Apogeu e Demolição da Política Externa (Appris, 2022), cobrindo 30 anos de diplomacia, nos seus altos e baixos.
        No intervalo, durante o segundo ano do bolsolavismo esquizofrênico, tentei articular um projeto de "resistência clandestina" aos malucos da Casa de Rio Branco e uma espécie de planejamento para o período de reconstrução, após as eleições de 2022. Enviei correspondência bilateral para mais de meia centena de colegas, de meu conhecimento, pedindo sugestões para uma agenda futura de trabalho. Talvez por temor, talvez pela turbulência da pandemia em seu início, recebi poucas sugestões (todas registradas, um dia farei um relato, não nominal), e dei por encerrado o exercício.
        Obviamente que apoiei a luta contra o bolsonarismo delirante, ainda que o resultado não fosse o ideal.
        Pois bem, confirma-se agora que a atual diplomacia do lulopetismo declinante está engajando o Brasil,  acintosamente, abertamente, decididamente numa vertente bastante negativa para todo e qualquer diplomata consciente de nossa doutrina, de nossos valores e princípios, aliás para todo e qualquer cidadão benm informado, aqueles que eu acredito que contemplem com extrema rejeição a aliança do Brasil com duas grandes autocracia e vários outros regimes autoritários numa agenda claramente antiocidental, em busca de uma mal definida "nova ordem global multipolar".
        Todos os que me conhecem, e que acompanham eventualmente o que escrevo (no Diplomatizzando ou em outros canais), sabem exatamente o que eu acho desse projeto míope, desviante, prejudicial ao Brasil e ao seu conceito diplomático.
Esta nota serve apenas como denúncia de uma deriva deformadora das melhores tradições do Itamaraty e de sua diplomacia profissional.
Creio que as últimas manifestações do chefe de Estado e da diplomacia já provaram que há uma ruptura clara com nossa postura independente e autônoma em relação aos conflitos interimperiais e quaisquer enfrentamentos entre grandes potências (o que talvez nem seja mais o caso, dada a clara aderência do outrora "farol da democracia" ao neoczarismo expansionista).
        Lamento por meus colegas diplomatas, lamento pelo Brasil, lamento pela quebra das diretivas que sempre guiaram nossa política externa no caminho da independência em relação aos enfrentamentos geopolíticos, que não têm absolutamente nada a ver com nossos interesses nacionais.
        Estarei atento aos desenvolvimentos nessa área.
        Com pesar, mas com confiança, um abraço a todos os meus colegas diplomatas.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 7 de junho de 2025

Tudo isso está no Diplomatizzando. Tem mais algumas coisas no Facebook e no Threads ou Linkedin.
O abraço do
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Paulo Roberto de Almeida

segunda-feira, 7 de julho de 2025

Livro: De Bonifácio a Amorim: elementos de uma teoria social da política externa brasileira - Dawisson Belém Lopes (Editora UFMG)

De Bonifácio a Amorim: elementos de uma teoria social da política externa brasileira

Dawisson Belém Lopes

Sinopse

O livro explora conexões e continuidades do pensamento autóctone em política externa, forjado como resposta a desafios de ordem empírica que se puseram, no curso de dois séculos de história de Estado independente, aos tomadores de decisão do Brasil. Está centrado em quatro linhas investigativas, a saber: o imaginário da política exterior e as variáveis socioeconômicas e culturais; o impacto da ossatura institucional na construção da política exterior; os alinhamentos internacionais cambiantes da política exterior e suas justificativas; e os projetos de nação e de inserção internacional para o Brasil. A partir desses balizadores, reconta-se a evolução das práticas sobre o “estar no mundo” brasileiro, de 1822 aos dias correntes, de José Bonifácio a Celso Amorim, com proposta de teorização sobre o caso. Produzida entre o Reino Unido e o Brasil, esta obra condensa mais de duas décadas de pesquisas do seu autor no campo da Política Externa Brasileira.

Área:
Ciência Política
Coleção:
ISBN:
9786558581499
Ano | Edição:
2025 | 1
Páginas:
373
Editora:
UFMG
Dimensão:
23,00 x 2,00 x 16,00 cm
Peso:
0.52 g

https://www.editoraufmg.com.br/#/pagamento

A guerra de Trump no Oriente Médio - J. A. Guilhon Albuquerque (O Estado de S. Paulo)

 Opinião

A guerra de Trump no Oriente Médio
O conceito de crise sem solução descreve um problema cuja existência é reconhecida por todas as partes, que todos sabem que tem solução, mas que se arrasta indefinidamente
Por J. A. Guilhon Albuquerque
O Estado de S. Paulo, 07/07/2025

        Dentre os conflitos em andamento no Oriente Médio, o ataque de Israel contra o Irã, surpreendente, mas não inesperado, gerou um conflito que encarna as peculiaridades de uma guerra sem solução. O conceito de crise sem solução descreve um problema cuja existência é reconhecida por todas as partes, que todos sabem que tem solução, mas que se arrasta indefinidamente.
        O conflito latente e indireto entre Israel e Irã começou com a revolução iraniana de 1979 e, até hoje, não apenas não tem solução, mas deixou de ser indireto e tornou-se uma guerra aérea, embora, por enquanto, não terrestre.
        Quando tomou o poder, o Aiatolá Khomeini rompeu com o Estado Judeu por motivos religiosos e passou a apoiar econômica e militarmente movimentos muçulmanos contrários à ocupação israelense da Faixa de Gaza e sua expansão em todo o território palestino.
        Durante o governo Obama, os EUA firmaram um acordo com o Irã, em conjunto com os membros do Conselho de Segurança da ONU e da União Europeia, que restringia a produção e o emprego de material atômico pelo Irã, impedindo, assim, o seu uso militar. Opondo-se diretamente a esse acordo, Israel executou, desde então, centenas de ataques indiretos, contra unidades militares iranianas em terceiros países, promoveu assassinatos de cientistas e autoridades iranianas e efetuou ataques cibernéticos, com o objetivo de obter a cumplicidade e uma possível intervenção direta dos EUA.
        A neutralização da ameaça nuclear do Irã no governo Obama foi apenas uma parte de sua política de desenvolvimento do Médio Oriente. Tratava-se de fazer um pivô de seus objetivos geopolíticos para a Ásia (a competição econômico-militar com a China), livrando-se os EUA do peso proporcionado por suas funções como potência hegemônica do Levante.
        Com sua vitória sobre os democratas, Trump, em seu afã de apagar os rastros de Obama, retirou seu país do Grupo dos Seis, eximindo-se de respeitar o acordo com o Irã.
        Com isso, Trump abriu as portas para suspeitas de que Teerã também ficasse livre de cumprir seus compromissos assumidos perante o Grupo dos Seis. Com isso, o Irã tornou-se alvo de eventuais ameaças militares dos EUA ou de quaisquer outros inimigos do Irã. Em particular Israel, a única potência que reunia interesse vital e capacidade militar para tanto.
        Em seu primeiro mandato, Trump criou seu próprio pivô para a China, por meio de um acordo a ser adotado entre Israel e os países árabes, com o fim de promover a pacificação e o desenvolvimento no Oriente Médio.
        Sem um objetivo estratégico bem fundamentado, mas crente na beleza de sua obra pacificadora, não levou em conta que sua realização dependeria de eliminar os empecilhos causados pela diáspora palestina em Gaza, na Cisjordânia, no Egito e, sobretudo, nos campos de refugiados espalhados pela Jordânia, a Síria e o Líbano.
        As tratativas para a assinatura do acordo entre a Arábia Saudita e Israel, que selaria o pacto, previam uma data no final de setembro de 2023, o que teria, segundo alguns autores – entre os quais me inscrevo – provocado o ataque do Hamas no dia 7 de outubro. Os dirigentes desse partido extremista teriam pretendido suscitar uma reação desproporcional do governo Natanael, capaz de desencadear uma guerra que tornasse inviável qualquer acordo dos sauditas e demais Estados árabes com Israel.
        À medida que Natanael estendeu sua guerra contra o Hamas para o Hezbollah e outros partidos e grupos armados pelo Irã, passou a subordinar sua posição no governo à continuidade e ampliação dos objetivos de guerra, tendo que encarar também a ameaça de perder o poder e, consequentemente, sua liberdade. O que chamei de “as mil guerras de Natanael”.
        Foi também nesse contexto de sobrevivência política e pessoal que, a meu juízo, Natanael deixou claro que até mesmo a libertação dos reféns israelenses era secundária à prioridade da guerra. O premier israelense jogou todas as suas cartas com objetivo de atrair Trump para um ataque militar conjunto capaz de destruir o suposto poderio nuclear iraniano, uma vez que, a despeito de todo o seu poderio militar, sem a permissão prévia de Trump e a intervenção militar direta dos EUA, Israel teria demasiado a perder.
          A Agência Internacional de Energia Atômica da ONU (AIEA), a própria diretoria de Inteligência Nacional dos EUA, a quase unanimidade dos cientistas, especialistas e observadores do programa nuclear iraniano, têm opinado que a bomba não existia, nem poderia ser testada a curto prazo, e que o ataque não teria sido inteiramente bem-sucedido. Formou-se um consenso internacional de que, mutatis mutandi, sem uma destruição em massa da economia e das instituições iranianas, sem pôr as botas no chão - o que logo saiu da agenda Natanael/trumpiana, Israel não alcançaria seu objetivo de extinguir a ameaça iraniana.
        O que levou os EUA, por enquanto, a tentar novamente voltar à diplomacia.

Opinião por J. A. Guilhon Albuquerque
É professor titular aposentado da USP

https://www.estadao.com.br/opiniao/espaco-aberto/a-guerra-de-trump-no-oriente-medio/

Lista cumulativa dos livros doados à Biblioteca do Itamaraty (2020-2025) - Paulo Roberto de Almeida

Lista cumulativa dos livros doados à Biblioteca do Itamaraty (2020-2025)

Paulo Roberto de Almeida
Junção das diversas listas setoriais das entregas progressivas de livros para a Coleção PRA na Biblioteca do MRE, até julho de 2025. Em evolução.

Sumário:
1. Livros individuais impressos (de 1 a 37) 1
2. Ensaios, artigos, capítulos em obras coletivas (de 38 a 165) 2
3. Obras de terceiros, autores diversos (de 166 até 1002) 10

Doações sucessivas à Biblioteca do Itamaraty de livros impressos

1. Livros individuais e editados impressos (de 1 a 37)
1) Contra a Corrente: ensaios contrarianistas sobre as relações internacionais do Brasil, 2014-2018 (2019)
2) A Constituição Contra o Brasil: ensaios de Roberto Campos sobre a Constituinte e a Constituição de 1988 (2018).
(...)
1000) Iglesias, Francisco. Constituintes e Constituições Brasileiras (1985
1001) Assidon, Elsa. Les théories économiques du développement (2002).
1002) Castro, Josué de. Géographie de la Faim: Le dilemme brésilien, pain ou acier (1964).

(em seguimento)

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4980, 7 julho 2025, 34 p.

Relação completa neste link da plataforma Academia.edu:



Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...