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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Stefan Zweig: 75 anos de sua morte - Casa Stefan Zweig de Petropolis tem eventos


Stefan Zweig foi considerado o best-seller de sua geração na Europa, embora para muitos, especialmente no Brasil, ficou conhecido apenas após sua trágica morte em Petrópolis. E é na Cidade Imperial onde hoje funciona um memorial da vida e obra do escritor austríaco, a Casa Stefan Zweig. Mais do que o trabalho de Zweig, o museu é dedicado aos refugiados da Europa nazista durante os anos 1930 e 1940 e é um dos atrativos que integram o Passaporte Cultural de Petrópolis. Neste ano, o espaço terá um calendário especial de eventos no primeiro semestre para marcar os 75 anos de morte de Stefan Zweig, completados nesta quinta-feira (23.02).

Um patrimônio de Petrópolis e do mundo, o museu está localizado na casa onde o escritor e a esposa Lotte se exilaram por cinco meses até que não suportaram a depressão, solidão, as notícias da guerra que se intensificavam e puseram fim às suas vidas. Zweig e Lotte ingeriram veneno e morreram em sua última morada em Petrópolis, no número 34 da Rua Gonçalves Dias.

Mais do que a triste lembrança de sua morte, Zweig deixou um legado com seus pensamentos e textos, muito à frente do seu tempo, chegando a ser o autor mais traduzido do mundo, best-seller em mais de 50 países. Suas biografias como Maria Antonieta, Fouché, Erasmo de Roterdã e Magalhães são reeditadas até hoje. Parte de sua obra, inclusive, teve o país que escolheu como sua pátria, ainda que temporariamente, como inspiração, como o livro “Brasil um país do futuro”. Nele, Zweig narra e exalta as qualidades da terra tupiniquim, mais ainda da pluralidade e hospitalidade do povo que o acolheu.

E é essa humanidade característica do povo brasileiro que encantou o escritor, conhecido por seu estilo pacificador, que ambienta a Casa Stefan Zweig. O museu, inaugurado em 2012, foi criado para lembrar de Zweig e de todos os outros exilados que compartilharam com ele o destino do exílio. O espaço, que recebe visitantes do Brasil e do mundo inteiro, também já se tornou uma referência para pesquisadores. O local, no entanto, não transmite a tristeza que levou o casal a tirar sua vida, mas a herança que Zweig deixou, entre ela pensamentos que traduzem com perfeição os dias de hoje.



“Não é uma casa de tristeza, lembrando morte. Queremos lembrar a vida e o legado que ele deixou. É um museu informativo, no qual queremos passar o trabalho incrível que ele fez. O visitante chega e tem a oportunidade de conhecer quem foi Stefan Zweig”, contou a coordenadora da CSZ, Dora Martini.



Casa Stefan Zweig tem programação especial



Um centro cultural ativo, com exposições, recitais, palestras, campeonatos de xadrez e oficinas para professores, a Casa Stefan Zweig está integrada ao roteiro cultural de Petrópolis, sendo um dos atrativos do Passaporte Cultural com programação variada. Neste ano especial, para homenagear os 75 anos de morte de Stefan Zweig - cuja obra teve um "revival" no mundo inteiro através da reedição de livros, de novos filmes e de artigos na imprensa dos principais países – o museu preparou um extenso calendário de eventos culturais ao longo do primeiro semestre com atividades na CSZ e em outros espaços.

Já está em cartaz a exposição “Stefan Zweig, escritor de cartas”, que pode ser visitada de sexta a domingo, de 11 às 17h, mesmo horário de funcionamento da CSZ, que tem entrada gratuita. Em março, será ministrado minicurso sobre o escritor austríaco, em parceria com a UCP, no Museu Imperial e acontece a pré-estreia no Brasil do filme “Depois da Aurora” (Vor der Morgenröte), de Maria Schrader. A data ainda não foi divulgada.

Em parceria com a editora Memória Brasil, a CSZ lança o livro “Unidade espiritual do mundo”, conferência proferida por Zweig por ocasião de sua primeira viagem ao Rio de Janeiro, em 1936.  O livro será lançado durante o simpósio “Stefan Zweig e o Brasil”, que acontecerá no Itamaraty, em Brasília, no dia 21 de março, e, depois, em São Paulo, Petrópolis, Rio de Janeiro, Florianópolis e Curitiba.

Em maio, no dia 2, começa na Casa da Europa (antiga Maison de France), no Rio de Janeiro, a exposição “Três humanistas: Stefan Zweig, Romain Rolland e Joseph Roth”. No dia 9, no Dia da Europa, haverá um simpósio sobre os três escritores e um coquetel com lançamento do livro “Unidade Espiritual do Mundo”.

Também será lançado, pela Zahar, o volume “A curar pelo espírito”, com posfácio de Alberto Dines e tradução de Kristina Michahelles, com perfis de Sigmund Freud, Franz Mesmer e Mary Baker-Eddy, assim como a correspondência inédita entre Zweig e Freud.



Programação permanente



Além da programação especial, o visitante pode conferir as atividades que são oferecidas permanentemente no espaço. No museu, que é multimídia, logo que chega o visitante pode assistir a um breve filme intitulado "A última morada de Stefan Zweig". O vídeo ambientaliza o visitante e o ajuda a entender o processo de depressão do autor. Talvez o maior estudioso, pesquisador e divulgador no Brasil da vida e obra de Stefan Zweig, além de presidente-diretor da CSZ e o grande idealizador do projeto, o jornalista Alberto Dines narra um vídeo no qual conta a história da famosa casa no Valparaíso. Além desse, narra outro filme exibido nas sessões multimídias, uma conversa com o também jornalista Flávio Tavares sobre a novela “Xadrez”, escrita por Zweig na casa.

Todos os meses, sempre no último sábado, acontece exibição de filmes sobre o exílio. No dia 25 de março serão perfis dos críticos e tradutores Otto Maria Carpeaux, Herbert Caro e Paulo Rónai. No dia 29 de abril perfis dos fotógrafos Kurt Klagsbrunn, Jean Manzon e Hans-GünherFlieg. Já em maio, no dia 27, tem perfis dos dramaturgos Gianfrancesco Guarnieri, Zbigniew Ziembinski e ZygmuntTurkow. E no dia 24 de junho, os livreiros Eva Herz, Walter Geyerhahn e Erich Eichner e Susanne Bach.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Stefan Zweig e o Brasil: exílio e integração, Kristina Michahelles - livro da Casa Stefan Zweig, 2020


 

Stefan Zweig e o Brasil: exílio e integração

Livro da Casa Stefan Zweig, 2020

A Casa Stefan Zweig recebe o apoio da KAS para publicar a cartilha Stefan Zweig e o Brasil: exílio e integração. A publicação apresenta e estimula o debate sobre várias das questões mais em evidência na atualidade, como migração, refúgio e exílio. A obra é dedicada a um amplo público, incluindo jovens, alunos de nível médio e estudantes universitários.

Coordenação editorial: 

Kristina Michahelles

Projeto gráfico: Ruth Freihof, Passaredo Design


Sumário: 


Apresentação, 6 

O viajante, de Luiz Aquila, 8

Artigo: Exílios - Renato Lessa, 11

Exposição | Legado do exílio, 15

Livro: Dicionário dos refugiados do nazifascismo no Brasil, 28

Perfil: Lore Koch, única discípula de Volpi, 35

Grupo de Estudos: Stefan Zweig no país do futuro, 40

Download: 

https://www.kas.de/documents/265553/265602/Stefan+Zweig+-+Ex%C3%ADlio+e+Integra%C3%A7%C3%A3o.pdf/69c28c71-5df3-efd1-cb7f-f2a08d3d9a6f?version=1.1&t=1607529230018


Grupo de estudos

Stefan Zweig no país do futuro


O Grupo de Estudos Stefan Zweig foi criado em junho de 2020 com o objetivo de ampliar a rede de especialistas na obra e a vida do autor austríaco nas universidades brasileiras. Coordenado por Kristina Michahelles, o encontro inicial contou com a presença de Larissa Fumis, Marina de Brito e Carlos Eduardo do Prado. 

Mariana Holms acaba de se juntar ao grupo.

Larissa Fumis é de São José do Rio Preto, SP. Fez mestrado em Literatura com uma tese dissertação sobre Stefan Zweig e seu livro Brasil, um país do futuroNo doutorado, fará uma análise contrapondo o mesmo livro ao Romanceiro Brasileiro, do também exilado Ulrich Becher. 

Marina Brito mora em Viena. Em sua tese de mestrado, fez um estudo comparativo das traduções para o português - em um intervalo de sete décadas - das duas obras icônicas de Zweig, Brasil, um país do futuro e a autobiografia O mundo de ontem.

Carlos Eduardo do Prado é professor de francês da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e se doutorou em Estudos de Literatura – Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense com um estudo comparativo entre as biografias de Balzac e Zweig, com base na obra Balzac, eine Biographiede Zweig.

Mariana Holms é doutoranda em Língua e Literatura Alemã pela Universidade de São Paulo. Depois de focar em Stefan Zweig no mestrado, atualmente concentra sua atenção na vida e obra da escritora e pintora austríaca Paula Ludwig, exilada no Brasil entre 1940 e 1953. 

As reuniões serão trimestrais. O site da CSZ (www.casastefanzweig.org) criou uma nova seção para abrigar trabalhos acadêmicos sobre Stefan Zweig no Brasil. 




quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Stefan Zweig: cerimônia de entrega póstuma de condecoração Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul - Paulo Roberto de Almeida

3208. “Stefan Zweig: cerimônia de entrega de condecoração”, Brasília, 12 dezembro 2017, 2 p. Texto oferecido como proposta de discurso do Sr. Ministro de Estado, em cerimônia de condecoração póstuma, com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, ao grande escritor austríaco, entregue à embaixadora da Áustria no Brasil, em 18/12/2017, para ser entregue à Casa Stefan Zweig, de Petrópolis.


 


Stefan Zweig: cerimônia de entrega de condecoração

 

IPRI-Funag: proposta de discurso do Sr. Ministro de Estado

[Objetivo: pronunciamento em cerimônia; finalidade: atribuição de comenda]

 

[Palavras protocolares de abertura (cerimonial),]

 

O motivo desta cerimônia de atribuição da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, no grau de Grã-Cruz, em homenagem a um dos maiores escritores austríacos de todos os tempos, Stefan Zweig, possui um significado especial para o Brasil, como país singularizado em sua vasta produção literária e intelectual, mas também para este ministério, que o acolheu com todas as honras, quando de sua primeira viagem ao país, em 1936. Naquela ocasião, Stefan Zweig foi homenageado com um banquete oferecido pelo chanceler José Carlos de Macedo Soares, a quem Stefan Zweig retribuiu com a entrega dos originais, em alemão, de sua famosa conferência, feita depois em francês, sobre “A Unidade Espiritual do Mundo”. Esse texto, traduzido em cinco línguas e objeto de nova publicação por iniciativa da Casa Stefan Zweig, de Petrópolis, e da editora Memória Brasil, sob a direção de Israel Beloch, esteve no centro da homenagem que prestamos novamente ao escritor, neste ano, em cerimônia no Instituto Rio Branco, com a presença do ex-chanceler Celso Lafer, que assinou uma bela introdução ao livro.

Ao reverenciarmos, novamente hoje, a sua memória e sua obra excepcional, não podemos deixar de mencionar que o nome de Stefan Zweig está para sempre ligado à imagem otimista que ele traçou de nosso país. Em seu trabalho sobre o Brasil como país do futuro, um dos seus últimos escritos no exílio, antes que ele assinasse suas memórias sobre “O Mundo de Ontem”, Zweig destacou especialmente uma das características que distinguem ainda hoje nosso país em face da diversas nações deste hemisfério e mesmo do mundo: a capacidade da nação em operar uma feliz mistura de raças, a fusão das mais diversas tradições culturais, nossa tolerância religiosa, o sincretismo harmonioso de tantas contribuições étnicas e sociais, o que constitui, justamente, uma realidade que combina com o título da sua conferência de 1936: uma “unidade espiritual”. 

Naquela conjuntura sombria, a Europa caminhava para a guerra, já antecipada na guerra civil espanhola que recém começava, para precipitar-se, pouco mais adiante, nos horrores do holocausto racial, ambos promovidos pelo bárbaro regime nazista, que também engolfou o seu país de origem, e que foi um dos motivos de seu primeiro exílio, na Inglaterra. Naquele momento, ele já tinha publicado a sua biografia de Erasmo, o símbolo da tolerância e do humanismo, nome que hoje batiza um dos mais famosos e apreciados programas europeus de integração educacional. Pouco depois, Stefan Zweig soube ver no Brasil as marcas da diversidade e da tolerância, características que ainda hoje distinguem o nosso povo e a nossa sociedade. Já famoso em todo o mundo, como grande autor de novelas e peças de teatro, Zweig se tornou imediatamente popular no Brasil, onde continua sendo lido e devidamente homenageado, notadamente por meio das muitas exposições e iniciativas culturais da Casa Stefan Zweig de Petrópolis. 

Ao fazer a entrega, hoje, das insígnias e do diploma da Ordem do Cruzeiro do Sul à embaixadora da Áustria, Irene Giner-Reichl, este ministério e o governo brasileiro desejam reafirmar toda a nossa admiração pelo escritor que reafirmou a posição impar do Brasil no mundo, justamente pela imagem que ele soube consolidar de um país multirracial, como nos orgulhamos de ser, uma nação diversa, multicolorida, mas unida espiritualmente, tolerante com todas as raças e credos, uma sociedade, finalmente, imune a comportamentos xenófobos e exclusivistas. 

A Europa, como aliás recomendou a Economist em editorial de um ano atrás, deveria ler, ou reler, Stefan Zweig, sobretudo em sua mensagem em favor de uma Europa tolerante, infensa aos temores raciais, novamente unida espiritualmente em torno da ideia do congraçamento universal dos povos. Esta é mensagem que Stefan Zweig nos legou, e com a qual nós nos sentimos, mais do que nunca, profundamente identificados. Receba, senhora embaixadora, os símbolos de nossa contínua admiração pelo grande austríaco que, enterrado em nosso solo, continua reverenciado como um dos grandes amigos do Brasil, um traço de união entre nossos dois países. 


Brasília, 12 de dezembro de 2017.

 

 

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Stefan Zweig, Austrian Novelist, Rises Again - (The New York Times)



The New York Times, MAY 28, 2014

Zweig, who committed suicide in Brazil in 1942, is an object of current fascination and the subject of a new biographical study. 

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Stefan Zweig (1881-1942).CreditHulton-Deutsch Collection/CORBIS

In the decades between the two world wars, no writer was more widely translated or read than the Austrian novelist Stefan Zweig, and in the years after, few writers fell more precipitously into obscurity, at least in the English-speaking world. But now Zweig, prolific storyteller and embodiment of a vanished Mitteleuropa, seems to be back, and in a big way.
New editions of his fiction, including his collected stories, are being published, with some appearing in English for the first time. Movies are being adapted from his writing; a new selection of his letters is in the works; plans to reissue his many biographies and essays are in motion; and his complicated life has provided inspiration for new biographies and a best-selling French novel.
“Seven years ago, when I told friends who are writers what I was going to be doing, they looked at me with silence and incomprehension,” said George Prochnik, the author of “The Impossible Exile,” a biographical study of Zweig’s final years, published this month by Other Press. “But Zweig has become an object of fascination again.”
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Ralph Fiennes in “The Grand Budapest Hotel,” set in Europe between the wars, the milieu of much of Stefan Zweig’s work. CreditFox Searchlight Pictures
Born in Vienna in 1881, into a prosperous Jewish family, Zweig grew up in what he would later describe as a “golden age of security.” Success and acclaim came to him early and never left, but the rise of Nazism forced him into a painful and enervating exile, first in Britain, then the United States and, finally Brazil, where he and his wife, Lotte, committed suicide in February 1942.
The reasons for Zweig’s resurgence at this particular moment are not necessarily obvious, and that has provoked much speculation in literary circles. Zweig was, in many ways, an old-fashioned writer: His fiction relies heavily on plot, with some developments telegraphed long before they occur, and the tales he tells are often melodramatic, their language sometimes florid.
But that conventionality of structure and tone is accompanied by insights into character, emotion and motivation that were unusual, even revelatory, for their time and continue to resonate today. Not surprisingly, Zweig and Sigmund Freud were friends and mutual admirers — Zweig even delivered a eulogy at Freud’s funeral — and one of his eternal themes was the workings of the human mind.
At an event at the McNally Jackson bookstore in SoHo last week, the authors André Aciman, Katie Kitamura and Anka Muhlstein joined Mr. Prochnik in a discussion of what made Zweig relevant and appealing to modern readers. They immediately zeroed in on that perspicacity.
“The man is an absolutely brilliant psychologist,” Mr. Aciman said, placing Zweig at the head of a group of writers who “are very pointed in their ability to understand what makes human beings tick.” Ms. Kitamura added that Zweig was particularly astute in “the way he handles women” and their yearnings and frustrations.
There also appears to be an element of nostalgic curiosity in the renewed interest in Zweig, especially as the centennial of the outbreak of World War I approaches. He called his memoir, published in 1942 and reissued in paperback last year, “The World of Yesterday,” and some of his best-known works take place in elegant, long-vanished settings, like ocean liners, spas in the Alps or a cavalry regiment serving on the frontier of the Hapsburg Empire, a world evoked by Wes Anderson in his recent film “The Grand Budapest Hotel.”
“I think it partly can be attributed to a larger ongoing interest in the disaster of the 20th century and taking its pulse,” said Edwin Frank, editorial director of New York Review Books Classics, which has published Zweig’s novel “Beware of Pity” and four of his novellas in recent years. “Zweig was both a chronicler of that world and a victim of the disaster, which makes him an intriguing figure.”
Some of the most recent interest obviously stems from Mr. Anderson’s film. He acknowledges Zweig’s work as inspiration, and the film, whose main character, played by Ralph Fiennes, even looks like Zweig, addresses some of the questions that preoccupied the writer, like the emergence of borders, passports and other impediments to mobility and freedom.
“The interest was already there, but it has accelerated hugely” since Mr. Anderson’s film opened at the Berlin Film Festival in February, said Adam Freudenheim, managing director of Pushkin Books, which has published more than a score of Zweig titles. “It’s not just about the film being seen. It’s also the fact that people are hearing and talking about Zweig on social media in a way that wasn’t true six months ago, and that has a direct impact on our sales.”
In “The Society of the Crossed Keys,” a sort of companion book to his film that is available in Britain but not yet in the United States, Mr. Anderson selects some of his favorite passages from Zweig’s work and, in a conversation with Mr. Prochnik, explains what about them appeals to him. Zweig provides “details of a universe most of us have no experience of, and that’s great to discover,” he says in their conversation.
In his lifetime, Zweig’s easily digestible style and penchant for short works made him an author whose writing was frequently adapted to film. More than 70 movies have been made from his stories. “Letter From an Unknown Woman,” a disturbing account of obsession and what today would be considered stalking, was filmed four times and also made into an opera.
Even before Mr. Anderson’s film, that seemed to be happening again: “A Promise,” an adaptation of “Journey Into the Past,” directed by Patrice Leconte, was released last month, and another French director, Bernard Attal, has made “The Invisible Collection,” in which Zweig’s story of the same name is adapted to modern-day Brazil.
In continental Europe, where Zweig never quite disappeared the way he did in the English-speaking world, there are other signs of revived interest. Laurent Seksik’s novel“The Last Days,” a French-language account of Zweig’s final six months, recently published in the United States by the Pushkin Press, has been a best seller there, and Volker Weidermann’s “Ostend: 1936, Summer of Friendship,” a German-language study of Zweig’s relationship with his fellow Austrian novelist Joseph Roth, has just been published to strongly positive reviews.
The enthusiasm about Zweig is by no means universal, as evidenced by a notorious takedown in The London Review of Books in 2010, in which the poet, critic and translator Michael Hofmann described Zweig’s work as “putrid” and dismissed him as “the Pepsi of Austrian writers.” But even Mr. Hofmann’s outpouring ended up contributing to Zweig’s greater visibility.
Zweig may also be benefiting from Anthea Bell’s sparkling new translations. Ms. Bell, who previously translated the Asterix comic books and the fairy tales of Hans Christian Andersen, has been praised for bringing a crisper, more contemporary tone to Zweig.
The Brazilian writer Alberto Dines, who met Zweig as a child and is the author of the biography “Death in Paradise: The Tragedy of Stefan Zweig,” notes that this is not the first Zweig revival. There was also a flicker of interest after World War II, with the posthumous publication of Zweig’s late work, and again around 1981, at the centennial of his birth.
The difference this time, Mr. Dines argues, is that the current round of what he calls Zweigmania runs the risk of “creating a mythology that subtly transforms him into a character in one of his own stories,” with fiction and reality confused.
It is perhaps best to think of Zweig, he continued, as an apostle of “pacifism, tolerance and fellowship” who, in the end, was overwhelmed by the ascent of obscurantism. “Every generation has its own Zweig,” he said, “and this is ours, the fruit of an imprecise nostalgia and yearning.”
A version of this article appears in print on May 29, 2014, on page C1 of the New York edition with the headline: Austrian Novelist Rises Anew.

Video com Alberto Dines sobre a Casa Stefan Zweig em Petropolis: https://www.youtube.com/watch?v=5Dc_ZSEl_Uw

quarta-feira, 19 de junho de 2024

Stefan Zweig e o país que não chegou ao futuro in: Stefan Zweig no caleidoscópio do tempo - Paulo Roberto de Almeida

 Mais recente capítulo de livro publicado, este ensaio sobre Stefan Zweig e sua obra sobre o Brasil, de 1941, que eu havia escrito um ano e meio atrás: 


4294. “Stefan Zweig e o país que não chegou ao futuro”, Brasília, 22 dezembro 2022, 10 p. Colaboração a livro sob a coordenação da Casa Stefan Zweig e do Laboratório de Estudos Judaicos da Universidade Federal de Uberlândia. Publicado in: Kristina Michahelles, Geovane Souza Melo Junior e Kenia Maria de Almeida Pereira (orgs.), Stefan Zweig no caleidoscópio do tempoReflexões sobre o autor de Brasil, um país do futuro (Rio de Janeiro: Passaredo Edições, 2024, 294 p.; ISBN: 978-65-983721-0-1; p. 131-146). Relação de Publicados n. 1561


Trecho inicial de minha contribuição: 


Stefan Zweig e o país que não chegou ao futuro

  

Paulo Roberto de Almeidaa

Diplomata, professor.

 

"Antes que, por livre vontade e na plena possessão de meus sentidos, eu abandone a vida, me sinto obrigado a cumprir um último dever: agradecer, desde o meu mais íntimo, a este maravilhoso país, Brasil, que nos ofereceu a mim e a minha obra um lugar tão magnífico e acolhedor. Cada dia passado aqui contribuiu a querer ainda mais a este país, em nenhum outro lugar teria desejado reconstruir a vida novamente, depois que o mundo de meu próprio idioma se derrubou e que o meu lar espiritual, a Europa, se autodestruiu. Mas, depois de cumprir sessenta anos fazem falta forças para começar totalmente de novo. E as minhas estão esgotadas, depois de tantos anos a errar sem pátria. Por isso considero melhor cerrar em seu devido tempo e com uma alta atitude uma vida que o trabalho intelectual e a liberdade pessoal me deram as maiores alegrias e me parecem o mais elevado bem desta terra. Saúdo a todos os meus amigos. Oxalá cheguem a ver a aurora depois desta larga noite. Eu, excessivamente impaciente, me adianto a todos eles."

“Declaração”, Stefan Zweig (Petrópolis, 22/02/1942)

 

 

Como nasceu a ideia de escrever sobre o “país do futuro”?

Nas memórias que começou a conceber desde sua saída apressada da Áustria, após que Hitler alcançou o poder na Alemanha, mas que só foram terminadas por ocasião de sua vinda definitiva para o Brasil, Stefan Zweig descreve seus sentimentos ao atravessar o Atlântico em 1936, a partir da Inglaterra, onde se encontrava exilado desde 1934: 

Era apenas com o meu corpo, e não com toda a minha alma, que eu vivia na Inglaterra naqueles anos. E foi justamente a preocupação que me causava a Europa, essa angústia que pesava dolorosamente sobre os nervos, que me fez viajar bastante, e mesmo atravessar duas vezes o oceano, durante os anos que se estendem da tomada do poder por Hitler e o começo da Segunda Guerra Mundial. Eu estava impulsionado talvez pelo pressentimento de que era necessário me abastecer de impressões e de experiências, tantas quanto o coração poderia conter, enquanto o mundo permanecia aberto e que ainda era permitido aos barcos navegar tranquilamente pelos mares, talvez mesmo pela suspeita ainda muito vaga de que o nosso futuro, o meu em especial, estava além dos limites da Europa. Uma sequência de conferências nos Estados Unidos me ofereceu a oportunidade desejada de ver, de leste a oeste, de norte a sul, esse grande país em toda a sua diversidade, combinada, entretanto, a uma profunda unidade. Mas, talvez ainda mais forte foi a impressão que me deu a América do Sul, na qual aceitei de boa vontade participar de um congresso convidado pelo PEN-Club Internacional: nunca antes me pareceu tão importante quanto esse momento de fortificar o sentimento da solidariedade espiritual acima das fronteiras dos países e das línguas. (1993, p. 461)

 

Sua primeira estada na América do Sul, com uma curta passagem pelo Rio de Janeiro, entre o final de agosto e o início de setembro, foi relatada numa coleção de impressões de viagem que o próprio Stefan Zweig publicou separadamente ao retornar à Inglaterra no outono de 1936. Zweig concebeu escrever um livro sobre o Brasil logo depois dessa primeira passagem pelo país, a caminho de Buenos Aires. Eles foram reunidos em 1937 e publicados numa editora vienense com vários outros textos do autor: Begegnungen mit Menschen, Büchern, Städten (Encontros com homens, livros, cidades). Em 1981, foram novamente reunidos na coletânea Länder, Städte, Landschaften (Países, cidades, paisagens).

Zweig já estava, então, planejando escrever um livro mais alentado sobre o Brasil e por isso recusou, no final de 1937, uma proposta de seu editor brasileiro, Abraão Kogan, para publicar uma edição traduzida, o que não se realizou de imediato. Ainda assim, Kogan juntou os relatos a outros textos do livro Begegnungen e publicou-a em 1938, numa edição uniforme de sua obra, sob um título similar: Encontros com homens, livros e países. Apenas oitenta anos depois de sua primeira viagem ao Brasil, os textos foram novamente publicados sob o título de Kleine reise nach Brasilien, traduzido e publicado como Pequena Viagem ao Brasil (2016). Vários trechos da Pequena Viagem foram de fato incorporados ao País do Futuro, que se beneficiou, assim, daquele projeto inicial necessariamente sintético, dada a brevidade de sua passagem em 1936, numa travessia atlântica durante a qual ele também começou a escrever a biografia de Fernão de Magalhães, na epopeia da primeira volta ao mundo (obra terminada e publicada em 1937).

A primeira estada de Zweig no Brasil se dá, portanto, sob o governo constitucional de Getúlio Vargas – eleito em 1934 pela Assembleia Constituinte –, mas já depois da Intentona Comunista de novembro de 1935, sob a vigência da Lei de Segurança Nacional, e dois anos antes das eleições previstas para 1938, quando deveria ser eleito, por voto direto e secreto (pela primeira vez), o próximo presidente. Zweig certamente tomou conhecimento do golpe do Estado Novo, em novembro de 1937, por acaso o mesmo nome já adotado pela ditadura portuguesa quase dez anos antes, na esteira de diversos outros regimes autoritários, geralmente de direita, que estavam se multiplicando na Europa e na América Latina. Já estabelecido na Inglaterra desde 1934, quando fugiu apressadamente de Salzburg, Zweig teve o “privilégio” de ver os seus livros queimados pelos nazifascistas duas vezes: em 1933, em Berlim, e novamente na Áustria em 1938, depois do Anchluss, a anexação ao Terceiro Reich. 

(...)

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O livro pode ser adquirido junto à Casa Stefan Zweig: 

Contato: casastefanzweig@gmail.com

https://casastefanzweig.org.br/

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Stefan Zweig no Brasil: livro sobre sua primeira viagem, em 1936

Já sob o impacto da Lei de Segurança Nacional, mas ainda antes do Estado Novo. Em todo caso, ele foi muito bem recebido, com todo o apoio do Itamaraty, como convinha ao maior escritor da época, um dos grandes intelectuais do século.
Paulo Roberto de Almeida

Versal Editores, Casa Stefan Zweig e Goethe-Institut apresentam

8O ANOS DA CHEGADA DE STEFAN ZWEIG AO BRASIL

Em 21 de agosto de 1936, o RMS Alcântara atracou no porto do Rio de Janeiro trazendo a bordo uma celebridade: o austríaco Stefan Zweig, um dos maiores sucessos literários do mundo. De passagem para uma conferência do P.E.N. Club em Buenos Aires, essa escala de pouco mais de uma semana no Rio de Janeiro foi decisiva: Zweig se encantou pelo país. Registrou suas impressões no texto que intitulou "Pequena viagem ao Brasil", precursor do famoso "Brasil, um país do futuro".

Outras duas vezes Zweig haveria de desembarcar no mesmo porto: em 1940 e em 1941, já para vir morar em Petrópolis, onde ele e sua segunda mulher, Lotte, decidiram pôr um fim à vida em fevereiro de 1942, no meio da Segunda Guerra Mundial. Como diz seu biógrafo Alberto Dines em Morte no paraíso, a tragédia de Stefan Zweig: "Morreu pouco depois de completar 60 anos. De tanto retornar, revive. Stefan Zweig matou-se, mas recusa desaparecer. Está vivo."

Para falar dos 80 anos desde que Zweig pisou pela primeira vez no Brasil, a Versal Editores e o Goethe-Institut convidam dois diretores da Casa Stefan Zweig de Petrópolis: Tobias Cepelowicz (que, garoto, testemunhou a ida de Zweig a uma escola judaica no Rio) e Kristina Michahelles, tradutora de diversas livros de sua obra.

PALESTRANTES: Kristina Michahelles (Jornalista, tradutora de diversas obras do autor e diretora da Casa Stefan Zweig) e Tobias Cepelowicz (Diretor da Casa Stefan Zweig)
DIA E HORÁRIO: 18 de novembro, das 18h30 às 19h45
LOCAL: Biblioteca do Goethe-Institut Rio de Janeiro (Rua do Passeio, 62, 2° andar - Centro)
ENTRADA FRANCA

Convite
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quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Brasil, um país sem futuro? Revisitando Stefan Zweig - Paulo Roberto de Almeida

Brasil, um país sem futuro? Revisitando Stefan Zweig

Paulo Roberto de Almeida

Brasil, país do futuro é um livro singular no conjunto da obra de Stefan Zweig. Pretendeu ser uma apresentação didática sobre o Brasil e ao mesmo tempo uma homenagem sincera ao país que o acolheu tão generosamente, em meio a uma guerra ainda mais catastrófica do que o conflito global precedente, que ele havia presenciado na Europa, mas que ele não quis tratar em profundidade em seu livro de memórias, O Mundo de Ontem, que se refere, na verdade aos anos que precederam à Grande Guerra. Zweig, um pacifista visceral e radical, acreditava ter encontrado no Brasil um país profundamente devotado à paz.
À diferença de suas outras obras, não tanto as novelas, que são textos de pura literatura, mas sobretudo as biografias de personagens famosos, ou angustiados, como ele, o livro que ele dedicou ao Brasil é um trabalho de circunstância, meio relato de viajante, meio interpretação pessoal de uma terra em tudo diferente do que ele havia vivido até então, na “sua” Europa da cultura clássica, dos grandes pensadores, da arte nas suas mais diversas expressões, mas também um continente dividido pelas paixões guerreiras, que tinha se dilacerado a si mesmo em incontáveis batalhas feudais, em conflitos entre as grandes potências da era moderna e contemporânea, em guerras civis e de religião de todas as épocas.
Stefan Zweig realmente gostava do Brasil, e não apenas por ser sua terra de exílio, mas por ser uma realidade que não existia em nenhuma outra parte do mundo, a mistura de cores, de etnias, de religiões, o sincretismo natural de seus habitantes, e aquela flexibilidade de costumes e de modos de vida que ele nunca tinha encontrado na rigidez social da Europa central e nas nítidas sobrevivências das estruturas estamentais do Antigo Regime, ainda bem visíveis na maior parte do velho continente. Por isso, ele lança um olhar simpático aos cenários, paisagens naturais e humanas, aos comportamentos que ele observava no Rio de Janeiro, em São Paulo, nas costas do Nordeste, em todos os lugares por onde andou, não apenas nas casas e prédios elegantes das capitais, mas também nas favelas, nos subúrbios, na pobreza do interior entre uma fazenda e outra de grandes proprietários. Ele assistiu a muitas festas e folguedos populares, e talvez tenha sido simbólica sua despedida do mundo em pleno Carnaval do Rio de Janeiro, mas em Petrópolis, seu último refúgio de uma vida bem vivida, entre os sucessos da produção literária e as homenagens que recebia, onde quer que fosse.
O livro não se pretendia apenas um retrato do presente, aquele que ele via, e um retorno ao passado, do que ele pode ler sobre nossa história e desenvolvimento, mas era também uma aposta sobre o futuro, daí o seu título ao mesmo tempo otimista e afirmativo. As traduções do título – Brasilien, Ein Land der Zukunft – em português hesitaram durante muito tempo entre o “país de futuro” ou o “país do futuro”, a primeira versão sendo uma promessa, a segunda uma quase certeza. Sim, ele previa um futuro otimista para o Brasil, o fim das favelas, a mescla de raças produzindo uma nação quase sem conflitos sociais, uma quase beleza na pobreza e até na miséria, a alegria dos carnavais escondendo as durezas da vida no resto do ano. Inevitável, ainda que não buscada diretamente, a comparação com os padrões civilizatórios europeus, e até com uma geografia menos castigada, ne velho mundo das vastas planícies, na confrontação com a vastidão de ermos desconhecidos no Brasil não atlântico.
Não é um guia de viagem, embora seja basicamente um livro de um viajante, mas é uma obra interpretativa da alma do Brasil, ou pelo menos aquele espírito que ele buscou ver, e acreditou ter encontrado, em todas as pessoas com as quais conversava, burgueses e fidalgos da terra, e até em homens e mulheres do povo, que ele buscou entender a partir de uma postura preventivamente simpática ao povo que o acolheu, no país que foi sua última morada, a fase mais angustiada de sua vida, esperança perdida de ver sua terra natal retornar aos tempos anteriores à Grande Guerra. Oitenta anos depois de ter sido escrito e publicado rapidamente, vale retornar ao Stefan Zweig do “país de/do futuro”, para ver que tipo de país emergiu de sua visão generosa para com nossas qualidades e defeitos.
Ao apresentar o seu livro ao público brasileiro, seis meses antes do suicídio de Zweig e de sua segunda mulher, Lotte, em Petrópolis, o prefaciador Afrânio Peixoto, membro da Academia Brasileira de Letras desde 1910, ocupando a vaga deixada por Euclides da Cunha, e reitor da Universidade do Distrito Federal desde 1935, descreveu o escritor austríaco como um “namorado de nossa terra e de nossa gente”. Deteve-se no que era bem conhecido: livros editados em seis e mais línguas, alguns em dezoito idiomas: “É o escritor mais impresso, mais adquirido e mais lido do mundo: ensaios, biografias romanceadas, ficção pura.” Enalteceu seu espírito ameno e cativante: “O autor é um encanto de convivência, de conversação, de simplicidade: ternura e poesia.”
Refere-se, sem mencionar o ano (1936), à sua passagem pelo Rio de Janeiro, a caminho da Argentina, para um congresso internacional do Pen Club:
...aqui esteve, sem ruído, no Brasil. Aqui não foi ao Catete, nem ao Itamaraty [Afrânio se engana; ele foi, sim, ao Itamaraty, convidado pelo chanceler Macedo Soares], nem às embaixadas, nem à Academia, nem ao DIP [Departamento de Imprensa e Propaganda do governo Vargas], nem aos jornais, nem aos rádios, nem aos Hotéis-palaces... Andou, virou, passeou, viajou, viveu. Não quis nada, nem condecorações, nem festas, nem recepções, nem discursos... Não quis nada.
A Bahia desejou ser vista por ele e convidou-o. Ficou comovido, mas pôs condição: nem ajuda de custo, nem hospedagem oferecidas, nem recepção, conferência, nada. Gostava do Brasil, gostaria da Bahia, não queria mais. Queria ver, sentir, pensar, escrever, livremente...

Afrânio Peixoto interpreta que foi dessa primeira viagem que saiu o seu único livro dedicado a um país, publicado quando para cá se mudou definitivamente:
De tudo, este livro, este grande livro, livro de amor presente e esperança futura que sai em imensas edições, na América [do Norte], na Inglaterra, na Suécia, na Argentina, em francês e em alemão também – seis de uma vez, a menor, a brasileira...

O acadêmico sintetiza, então, o espírito da obra:
É o mais ‘favorecido’ dos retratos do Brasil. Nunca a propaganda interesseira, nacional ou estrangeira, disse tanto bem do nosso país, e o autor, por ele, não deseja nem um aperto de mão, nem um agradecimento... Amor sem retribuição. Amor de caboclo supercivilizado: a namorada vai saber agora e ficará confusa de tanto bem querer. Ele, porém, já partiu... Deixou apenas esta declaração. Declaração de envaidecer à formosura mais presumida. Os ‘pátriaamada’, os ‘ufanistas’ ficarão de cara à banda, pois ninguém até hoje escreveu livro igual sobre o Brasil... O amor faz desses milagres. Se ele fosse político, ou diplomata, ou economista, ficar-se-ia perplexo; a explicação é só esta, Stefan Zweig é poeta: é hoje o maior poeta do mundo, poeta com ou sem versos, mas com poesia, sentida, vivida, escrita pelo mais suave prosador do mundo...

Ao encerrar seu prefácio, em julho de 1941, Afrânio Peixoto provavelmente esperava levar Zweig para a uma conversa com seus pares escritores na Academia Brasileira de Letras, ele que já tinha sido presidente da Casa de Machado de Assis, em 1923. Não o conseguiu: Zweig refugiou-se em Petrópolis, na casa que é hoje o seu museu, uma casa de cultura, uma homenagem construída por um de seus biógrafos mais brilhantes, Alberto Dines, que dedicou uma obra excepcional ao grande escritor: Morte no Paraíso: a tragédia de Stefan Zweig (1981; várias edições posteriores). Dines era um garoto de oito anos em meio a dezenas de outros, numa foto feita na escola progressista Sholem Aleichem, da comunidade judaica do Rio de Janeiro, quando da visita de Zweig em setembro de 1940, quando o escritor estava justamente preparando o seu livro dedicado ao Brasil. Seu suicídio, um ano e meio depois, deve tê-lo abalado, antes da adolescência, a ponto de ter motivado Alberto Dines a escrever, mais tarde, uma das melhores biografias da vida, da obra e dos sentimentos de Stefan Zweig.
A dedicatória que ele me fez, da 3ª edição desse magnífico livro, em junho de 2006, depois de eu ter contribuído para um volume de estudos por ocasião da reedição da coleção completa do Correio Braziliense, empreendida por ele com a colaboração da historiadora Isabel Lustosa, me tocou profundamente:
Para Paulo Roberto, um outro Hipólito da Costa que se atrapalhou com a sua utopia. [assinado] Alberto Dines, São Paulo, agosto de 2004/junho de 2006

Nesse mesmo ano de 2006, Alberto Dines já havia organizado um debate, no quadro do Foro Nacional organizado anualmente pelo ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso no BNDES, dedicado justamente a uma discussão em torno da obra de Zweig dedicada ao Brasil, que foi logo em seguida objeto de uma publicação da José Olympio Editora, sob a coordenação do próprio Reis Velloso e de Roberto Cavalcanti de Albuquerque, Brasil, um país do futuro?, ao qual eu dediquei uma resenha simpática (mais pelos novos projetos apresentados pelos debatedores do que propriamente pelo texto de Zweig). Reproduzo aqui o que escrevi em janeiro de 2007, e que vale reproduzir, pois é dedicado ao livro em questão:
Stefan Zweig teria gostado de assistir ao seminário que lhe foi dedicado, em setembro de 2006, por ocasião do 125º aniversário de seu nascimento e dos 65 anos da publicação do seu livro tão famoso, quanto desconhecido (hoje), terminado poucos meses antes do suicídio do autor, no carnaval de 1942, em Petrópolis. Ele concordaria com o artigo indefinido e talvez até com o ponto de interrogação [Eu tinha intitulado a minha resenha “Futuro preterido? Zweig e um projeto para o Brasil”]. A primeira edição brasileira modificou o título original, agora restabelecido – Brasilien, ein land der Zukunft, não der land – e o colóquio agregou a condicionalidade, refletindo o ceticismo dos examinadores quanto à utopia não realizada. No essencial, Zweig provavelmente se alinharia aos argumentos dos seus revisores contemporâneos.
Alberto Dines, autor de uma biografia que pode considerar-se completa do escritor austríaco – Morte no Paraíso: a tragédia de Stefan Zweig (3ª ed.; Rocco, 2004) –, considera que Zweig, depois de assinar mais de quarenta biografias de personalidades mundiais, fez a biografia de uma nação, no “inferno do Estado Novo”. Como ele diz, essa obra “tornou-se a crônica mais conhecida e a menos discutida, a mais celebrada e mais negligenciada” do Brasil. Ela foi um dos primeiros lançamentos simultâneos da história editorial mundial: oito edições em seis línguas diferentes. Em vista dos percalços recentes no processo de crescimento, parece difícil concordar com Zweig em que, “quem conhece o Brasil de hoje, lançou um olhar sobre o futuro”.
Bolívar Lamounier e Regis Bonelli examinam, respectivamente, os avanços políticos e econômicos obtidos pelo Brasil desde que Zweig traçou seu diagnóstico sobre o Brasil do início dos anos 1940. Para Lamounier, o Brasil é um país de “muitos futuros”, mas ele critica as utopias institucionais que frequentemente pretendem revolucionar a participação e as formas de se fazer política no país: a romântico-participativa da democracia direta, a do parlamentarismo clássico que ressurge sempre em momentos de crise e a utopia barroca do presidencialismo plebiscitário. Já Bonelli opera uma “volta para o futuro” ao examinar os elementos de continuidade e de mudança na esfera econômica: o Brasil certamente mudou muito, nesse terreno, mas a propensão a esperar tudo do Estado permanece, assim como uma certa desconfiança dos mercados externos. Algumas mudanças foram na direção errada, como o aumento na tributação, outras permanências são irritantes, como a péssima distribuição de renda e as incertezas jurídicas. Finalmente, o “fantasma do estrangulamento externo” estaria, de fato, superado?
Boris e Sérgio Fausto acrescentam um ponto de interrogação ao título de Zweig, temperando o otimismo do autor com certa dose de pessimismo. Não se trata do niilismo da esquerda, que vê na “dominação imperialista” a razão do nosso atraso. O duplo nó górdio da carga tributária e do gasto público limita hoje as possibilidades de crescimento. João Luís Fragoso analisa a “equação” de Zweig para o Brasil: concentração de poder + tolerância. Três comentários finais tratam das promessas não cumpridas de um olhar estrangeiro, do futuro que já chegou sob a forma da votação eletrônica e das dificuldades para a retomada de taxas razoáveis e sustentáveis de crescimento. No conjunto, o livro oferece uma boa visita ao que se poderia chamar de “futuro do pretérito”.

Eu já tinha lido, desde a adolescência, alguma coisa de Stefan Zweig, mas voltado basicamente aos estudos de ciências sociais, pouco li de sua obra literária, a não ser uma ou outra das pequenas biografias que ele dedicou a personagens emblemáticos. A leitura, cativante e ininterrompida, da excepcional biografia de Dines me levou a retomar alguns dos livros de Zweig, sobretudo suas angustiantes biografias – Erasmo, Fernão de Magalhães, Fouché –, mas confesso que sempre dei uma atenção menor ao “livrinho” do “país do futuro”, provavelmente porque deduzia ser uma espécie de livro de encomenda em homenagem ao país que o acolheu, um representante da família dos “ufanistas”, justamente, uma peça menor na vastidão diversificada da sua produção intelectual. Eu me enganava, claro, mas, como anarco-contrarianista, sempre tive certa rejeição a livros ao estilo do Conde Afonso Celso, Por Que me Ufano de meu País (1900), por considerá-los meros panegíricos.
Por julgá-lo quase um panfleto de propaganda, talvez um ato de gratidão ao regime varguista, deixei-o de lado, mesmo quando empreendi, naquela época, uma série de “clássicos revisitados”, que incluíram uma versão do Manifesto de Marx e Engels para os tempos de globalização capitalista, uma releitura do Príncipe de Maquiavel, uma nova missão de Tocqueville às Américas, mas desta vez ao Brasil, além de algumas outras digressões modernizantes de Benjamin Constant – De la liberté des Anciens comparée à cellle des Modernes – e mesmo do Sun Tzu, adaptado para os diplomatas, além de vários outros que figuravam e ainda figuram no meu pipeline (mas não o de Zweig).
Dez anos depois, já ocupando o cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, tomei a iniciativa de organizar um evento em homenagem a Zweig, aos 80 anos de sua primeira visita ao Brasil, justamente quando foi publicado no Brasil seu breve relato de viagem: Pequena Viagem ao Brasil (Rio de Janeiro: Versal, 2016). Contatei a Casa Stefan Zweig, de Petrópolis, e sua diretora, a tradutora Kristina Michahelles, ofereceu-me um programa ainda melhor: o lançamento da primeira edição internacional – em diversas línguas – da conferência que Zweig havia feito no Rio de Janeiro em 1936, numa belíssima edição preparada por Israel Beloch e prefaciada por Celso Lafer: A Unidade Espiritual do Mundo, novamente traduzido a partir do manuscrito sobre a “unidade espiritual da Europa”, que Zweig tinha deixado com o chanceler Macedo Soares, na própria Escola Nacional de Música, onde havia sido feita sua memorável palestra (depois expandida em Buenos Aires em 1940). O texto, resgatado de um injusto esquecimento foi publicado em 2017 pela Casa Stefan Zweig e pela editora Memória Brasil, em cinco línguas (alemão, francês, espanhol, inglês e português), com colaborações de Alberto Dines, Klemens Renoldner e Jacques le Rider, e uma belíssima iconografia.
Preparei um dos meus melhores eventos para esse feliz lançamento, feito no Instituto Rio Branco em 21 de março de 2017, para cujo convite fiz questão de contatar a família do famoso cartunista da New York Review of Books, David Levine, já falecido, para poder reproduzir, sem custos, uma famosa caricatura de Stefan Zweig, que eu havia visto, muitos anos antes, nas páginas do famoso jornal literário da esquerda americana (como abaixo).

Celso Lafer fez uma palestra baseada em grande medida em seu texto constante do livro e a diretora Kristina Michahelles exibiu um excelente documentário sobre o personagem e sua Casa brasileira, transformada em museu graças ao grande jornalista que foi Alberto Dines. Eu mesmo preparei uma apresentação em 27 slides, “Stefan Zweig e o Brasil”, que não me lembro de ter podido expor por inteiro no evento, mas que transformei em notas em Word, para circulação mais ampla, divulgando-a na plataforma Academia.edu e, no formato original em Power Point, na plataforma Research Gate (links: http://www.academia.edu/31826161/Stefan_Zweig_e_o_Brasil e https://www.researchgate.net/publication/314720659_Stafan_Zweig_e_o_Brasil?ev=prf_pub ). O auditório estava repleto de diplomatas brasileiros e estrangeiros e, ao final, fui muito cumprimentado pelos austríacos ao lhes lembrar, ademais do próprio Zweig, da excepcional contribuição de Oto Maria Carpeaux à cultura brasileira (e também universal).
Na sequência, por sugestão de meu colega diplomata Antonio de Moraes Mesplé, providenciamos a concessão da condecoração póstuma, com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, ao grande escritor austríaco, feita mais adiante em cerimônia de entrega da comenda à embaixadora da Áustria no Brasil (18/12/2017), remetida mais tarde à Casa Stefan Zweig, de Petrópolis. Na ocasião, preparei um discurso a ser pronunciado pelo Ministro de Estado das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, na cerimônia de condecoração póstuma, que não sei se foi ou não pronunciado, mas que, por ser relativamente inédito, resolvi colocar à disposição de todos no meu blog Diplomatizzando (17/11/2021; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/11/stefan-zweig-cerimonia-de-entrega.html).
Ainda assim, e com tudo isso, o “fatídico” livro sobre “país do futuro” permaneceu no limbo inexplicável de meus projetos inacabados durante vários anos mais, até que chegaram, finalmente, os 80 anos de sua publicação original, em 2021, e as vésperas dos mesmos 80 anos da infausta morte do grande escritor, no início de 2022, quase coincidentes com o centenário da Semana de Arte Moderna em São Paulo. Tendo concluído, no período recente, um outro volume sobre os projetos para a construção do Brasil, mas sintetizando unicamente as contribuições de intelectuais brasileiros, de Cairu a Merquior, considero que é mais do que chegada a hora de também oferecer uma análise, sob a forma de minha série dos “clássicos revisitados”, dessa obra muito falada, mas praticamente desconhecida do grande intelectual austríaco, falecido no Brasil.
Já não era sem tempo, e desculpo-me com o escritor por essa duplamente tardia homenagem a quem buscou, sinceramente, traçar um panorama simpático do país que lhe aparecia como uma espécie de síntese viva da diversidade racial, da mistura étnica, da conjunção de culturas, da tolerância religiosa e do pacifismo bem resolvido, características que ele não mais encontrava no seu continente de origem, certamente não naquele momento de desespero que ele não antevia senão destruição, mortes e de aniquilação do seu próprio povo sob as botas, fuzis e gases dos totalitários doentios. Deste canto do planeta, ainda em paz naqueles meses, ele certamente teria esperado muito mais do Brasil, nestes quatro quintos de século decorridos desde então, sobretudo em termos de eliminação da pobreza, de diminuição das desigualdades sociais e regionais, de virtual desaparecimento das favelas e de prosperidade ampliada. Não sei se é o caso de nos desculparmos, ainda que postumamente, por não termos realizado as esperanças do escritor, mas certamente é o caso de retomar o seu testemunho pessoal sob a forma de uma grande promessa feita em direção ao futuro, para examinar o que ficou no registro de um pensador humanista como projeto de construção de uma nação integrada, um país mais justo e, sobretudo, mais conforme ao seu ideal racional com respeito à unidade espiritual do mundo. Valeu Stefan, muito grato a você, por ter dedicado seu empenho intelectual na interpretação do seu derradeiro país de eleição.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4020: 17 novembro 2021