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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Retaliacao brasileira ao protecionismo argentino: a pior politica - Richard Sylvestre

Uma argumentação econômica sobre a atual guerra comercial:

Retaliar com barreiras comerciais é um bom caminho?
Richard Sylvestre
Deposito de..., domingo, 15 de maio de 2011

Muitos “intervencionistas” não se assumem como tal, eles dizem que não defendem a priori, como um “mandamento moral”, a intervenção do estado na economia, são apenas pragmáticos que acreditam que em certas situações, a melhor maneira de lidar com um problema específico é chamando o governo, mas que não há razões para achar que este é superior ao mercado em todas as situações assim como o contrário não seria válido.

Eu costumo dizer que esse povo defende uma espécie de “governo robô”, que só existe na cabeça deles. É como se o governo tivesse um botão de “liga e desliga” que o defensor da intervenção aciona conforme a sua vontade. Se a intervenção é momentaneamente desejável segundo algum critério do sujeito, ele “liga” o governo para fazer exatamente aquilo que tem em mente. Quando o momento passa, o nosso intervencionista desliga o governo e tudo volta a ser como antes.

Um exemplo dessa visão está ocorrendo exatamente agora na pendenga comercial entre o governo brasileiro e o argentino. Como é sabido, aproveitando a tara por protecionismo com a oportunidade oferecida pelos portenhos, o governo brasileiro dificultou a importação de carros da Argentina. Já que não é de bom tom se dizer protecionista e nem afirmar que a medida é uma retaliação às barreiras protecionistas levantadas anteriormente pela Argentina, o governo brasileiro tratou de dizer que a medida serve apenas para monitorar melhor o fluxo comercial do setor automotivo. Se foi por “amores ao protecionismo” ou por retaliação nós não sabemos, mas certamente não foi pelo motivo alegado. Para os propósitos deste texto, vamos supor que o motivo foi o “menos pior” dentre os disponíveis: por retaliação. Vamos aceitar a hipótese altamente improvável de que o governo brasileiro está convencido das benesses do livre comércio, mas que está tentando conseguir da Argentina o fim (ou diminuição) de algumas barreiras e para isso “blefa” com protecionismo também.

Voltando a idéia do “governo robô” e assumindo a hipótese acima temos o seguinte quadro: sabemos que o melhor dos mundos seria Argentina e Brasil não terem barreiras protecionistas, mas a Argentina colocou barreiras, o que nos faz perder. Se o governo não intervier, nós ficaremos abertos e eles fechados. É um cenário melhor do que nos fecharmos também, mas é uma situação pior do que se eles estivessem abertos como nós, logo, podemos usar o governo para nos fecharmos temporariamente, causando perdas a eles de forma que se “rendam”, desistam dessa politica protecionista e se abram novamente e quando isso ocorrer o nosso governo sai de cena e abre a economia novamente. É o típico exemplo de intervenção “pragmática”, “pontual” que supostamente melhora a situação de maneira geral.

Milton Friedman, economista de Chicago, gostava de dizer que nada é mais eterno que órgãos estatais criados sob a alegação de alguma politica temporária. Ele falava do FMI (Fundo Monetário Internacional) que foi criado para “garantir” o funcionamento do tratado de Bretton Woods, mas que continua firme e forte 40 anos após o fim do dito tratado que lhe deu origem. No Brasil nós temos inúmeros exemplos da mesma tendência. Um fantástico é o do Banco do Brasil, criado por Dom João para “fomentar o desenvolvimento”, continua vivo até hoje, mesmo depois de ter sido criado o BNDES (outro banco que teria a mesma função), SUDENE, SUDAM e até a Caixa Econômica Federal (mais voltada a subsidiar o setor de construção civil)– ou seja, mais de um século depois e com várias estatais e órgãos destinados a fazer a mesma coisa (ou quase a mesma coisa), o Banco do Brasil continua firme.

O velho mestre de Chicago falou de órgãos, mas o mesmo pode ser dito de politicas públicas como subsídios, tarifas, impostos etc.. Em suma, o governo não é um robô que você liga e desliga a hora que bem entende e a razão é muito simples. Não existe incentivo para se “desativar” uma imensa gama de politicas econômicas. Peguemos como exemplo a idéia de retaliar barreiras protecionistas. Imagine que uma dada proteção beneficia um setor da economia em $10 e prejudique toda a massa de consumidores em $20 que terá que pagar mais caro pelos mesmos produtos ou por produtos de pior qualidade. Economicamente, portanto, ela seria uma tarifa ineficiente que gera destruição de riquezas. Mas, por outro lado, mesmo que ela destrua riquezas, ela também redistribui riquezas em uma direção que faz toda diferença e gera os incentivos para sua execução. Os $10 ganhos pelo setor protegido é um valor muito alto mesmo que você divida tal valor por todos os membros desse setor. Já os $20, mesmo sendo o dobro do valor no total, individualmente, dada a imensa massa de consumidores, não significará muita coisa. Logo, individualmente cada membro do setor a ser protegido tem um belo incentivo para fazer lobbies e pressão em prol das barreiras, já a massa de consumidores, individualmente, não tem o mesmo incentivo para lutar contra as mesmas. O resultado final, muito provavelmente, será a aplicação das barreiras.

Mais importante ainda para nossa discussão é a “retirada de uma barreira”. Assim como o incentivo é maior pelo lado de quem recebeu o subsídio na hora de criar a barreira (dado o valor que o subsídio representa individualmente), também será maior para quem se beneficia dele na hora de derrubar a mesma barreira. O setor que será “desprotegido” perderá muito individualmente, enquanto os consumidores (também individualmente) ganharão pouco. Mesmo que no agregado, o montante ganho pelos últimos seja maior que o perdido pelos primeiros, a politica tende a não sair porque o incentivo mais forte na produção de lobbies e pressão está com o primeiro grupo. Barreiras protecionistas, portanto, podem não ser tão “eternas” quanto os órgãos/estatais lembrados por Friedman, mas são bem resistentes. Aplicar novas barreiras, mesmo que seja como retaliação, temporárias etc.. é brincar com fogo. Depois de criadas, a derrubada das mesmas não é tão simples como os defensores parecem acreditar.

Para complicar nada garante que uma nova barreira terá como resposta do “outro lado”, menos barreiras. Assim como A retaliou criando uma barreira, B pode responder do mesmo jeito, aumentando as suas barreiras. O resultado final será ambos os países fechados e com uma montanha de barreiras comerciais para serem derrubadas (o que como já foi explicado não é tão simples). Governos não são deuses fora de qualquer influência e incentivos, que são acionados ou desligados conforme a vontade de um “planejador central” ou de algum intelectual. Eles são formados e influenciados por pessoas iguais a quaisquer outras. Assim como uma empresa de sorvete fabrica os sabores que os demandantes mais estão dispostos a pagar, o governo também produzirá leis e regulamentos conforme a demanda daqueles que mais caro estão dispostos a “pagar”. E dada a natureza de um governo (de dispor sobre a propriedade de todos), infelizmente, na maior parte dos casos, sempre o lado que demanda algum privilégio, algum subsidio terá essa disposição a pagar mais e acabará levando a regulamentação.

Mesmo assumindo que a politica do governo brasileiro foi de retaliação (e não uma deliberada escolha pelo protecionismo), se trata de uma péssima politica. Se um país está se fechando, podemos até tentar convencê-lo do contrário, mas em termos de politica comercial o melhor que podemos fazer é nos abrirmos ainda mais, ou, se já tivermos tarifas zero, não fazer nada. Dadas as circunstâncias é a politica que gera o maior ganho. Cair na estratégia de retaliação só aumenta o prejuízo. O resultado mais provável é que não consigamos abrir o país que se fechou (até porque ele se fecha pelos mesmos incentivos perversos descritos anteriormente) e ainda temos as nossas próprias barreiras para tentar derrubar depois.

domingo, 15 de maio de 2011

Nem os professores ajudam a escola publica (estragam as privadas tambem)

Parece incrível, mas eu começo a acreditar na teoria conspiratória.
Acredito que haja um pacto perverso entre professores imbecilizados, pedagogas do MEC, dirigentes políticos "inguinorantes" e sindicalistas quadrúpedes em prol do afundamento definitivo dos padrões de qualidade (como se eles fossem muito altos) da escola brasileira.
Só pode ser por isso: todos eles complotaram para mediocrizar ainda mais nosso ensino, conservar nossas crianças na ignorância original e manter os pobres na pobreza.
Se as escolas privadas passarem a adotar os livros recomendados pelo MEC, estaremos caminhando um passo mais no pântano da estupidez fenômenal que já grassa em outros meios oficiais.
Só posso chegar a essa conclusão.
Eu era muito desconfiado dessas teorias conspiratórias, pois achava (ingenuamente como se vê), que as pessoas sempre visam mais alto do que sei nível rastaquera, e que sempre se procurava aperfeiçoar o que era precário, sofisticar o que era rústico, elevar o nível geral da galera.
Eu estava errado, como se vê: a conspiração não é uma teoria. É um fato...
Paulo Roberto de Almeida

Os livro mais interessante estão emprestado
Augusto Nunes
Blog da Veja, 13/05/2011

"A menção a leituras informa que a frase reproduzida no título do post não foi pinçada de alguma discurseira de Lula. Mas os autores do livro didático “Por uma vida melhor”, chancelado pelo MEC, decerto se inspiraram na oratória indigente do Exterminador do Plural para a escolha de exemplos que ajudem a ensinar aos alunos do curso fundamental que o s no fim das palavras é tão dispensável quanto um apêndice supurado. O certo é falar errado, sustenta o papelório inverossímil.

A lição que convida ao extermínio da sinuosa consoante é um dos muitos momentos cafajestes dessa abjeta louvação da “norma popular da língua portuguesa”. Não é preciso aplicar a norma culta a concordâncias, aprendem os estudantes, porque “o fato de haver a palavra os (plural) já indica que se trata de mais de um livro”. Assim, continuam os exemplos, merece nota 10 quem achar que “nós pega o peixe”. E só podem espantar-se com um medonho “Os menino pega o peixe” os elitistas incorrigíveis.

“Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever tomando as regras estabelecidas para norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas”, lamenta um trecho da obra. Por isso, o estudante que fala errado com bastante fluência “corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico”. A isso foram reduzidos pelo Brasil de Lula e Dilma os professores que efetivamente educam: não passam de “preconceituosos linguísticos”.

“Não queremos ensinar errado, mas deixar claro que cada linguagem é adequada para uma situação”, alega Heloísa Ramos, uma das autoras da afronta. Em nota oficial, o MEC assumiu sem rubores a condição de cúmplice. “O papel da escola”, avisam os acólitos de Fernando Haddad, ” não é só o de ensinar a forma culta da língua, mas também o de combater o preconceito contra os alunos que falam linguagem popular”.

A professora Heloísa sentiu-se ofendida com a perplexidade provocada pelo assassinato a sangue frio da gramática, da ortografia e da lucidez. “Não há irresponsabilidade de nossa parte”, garantiu. Há muito mais que isso. Há um crime hediondo contra a educação que merece tal nome, consumado com requintes de cinismo e arrogância. O Brasil vem afundando há oito anos num oceano de estupidez. Mas é a primeira vez que o governo se atreve a usar uma obra supostamente didática para difundi-la.

Poucas manifestações de elitismo são tão perversas quanto conceder aos brasileiros desvalidos o direito de nada aprender até a morte, advertiu o post reproduzido na seção Vale Reprise. As lições de idiotia endossadas pelo MEC prorrogaram o prazo de validade do título: a celebração da ignorância é um insulto aos pobres que estudam.

A Era da Mediocridade já foi longe demais.

O chefe está tão empolgado com a Copa que nem lembrou que o governo termina em 2014 e já começou a procurar interessados no orçamento da Olimpíada de 2016″, contou um dos 325 assessores de Orlando Silva durante o lançamento da candidatura do ministro do Esporte ao título de Homem sem Visão de Maio. “Tudo sem licitação, sem limite para a gastança e sem fiscal do TCU dando incerta. Ele diz que é um grande negócio. Pra ele e pro Brasil. Nessa ordem”.

Na disputa por enxergar na Copa as vantagens que ninguém viu, e por fechar contratos que ninguém vê, Orlando Silva está convencido de que vai conseguir ao menos uma medalha. “O barato dele é aparecer no pódio”, revelou outro assessor. “Quando ouve o Hino Nacional, pensa em dinheiro e chora”.

Também nesta terça-feira, entrou oficialmente no páreo um genuíno peso-pesado: Nelson Jobim. Fantasiado de almirante da reserva, Jobim das Selvas fez a primeira aparição pública carregando a mala que guarda uma farda de brigadeiro da ativa e 437 medalhas. “O chefe ainda não decidiu se vai condecorar o José Dirceu ou o Marcos Valério”, revelou um dos 213 assessores do ministro. “Ele acha que maio é seu mês de sorte e jura que desta vez não vai morrer na praia”.

Tirem as crianças da sala, leitores-eleitores! A eleição de maio pegou fogo! É briga de foice no escuro! Quem será o vencedor? Ou vencedora? Que vença o pior!"

Nem as "classes populares" aguentam a escola publica

Para quem acha que a solução é a escola pública, vale a leitura desta materia.
A solução SERIA a escola pública, desde que de qualidade.
Como continua a piorar, até os "pobres" (ou a nova classe média) vai para a solução privada...
Paulo Roberto de Almeida

Emergentes, famílias das classes D e E investem em escola particular
Ocimara Balmant
O Estado de S.Paulo, 5 de maio de 2011

Com mensalidades mais baixas que um curso de inglês em uma escola de classe média paulistana, colégios atraem pais que buscam segurança e um ensino melhor que o da rede pública; há instituições que adotam material apostilado de sistemas tradicionais

Longe da rede pública. Gecielle Santos, de 6 anos, aluna do 1º ano do ensino fundamental, observa parquinho da Escola Oliveira Ferreira, em Perus
No sobrado alugado, a aula de jazz acontece na garagem. A quadra foi construída no quintal, onde ficavam os pés de frutas. Nos quartos, uns maiores e outros bem pequenos, funcionam as salas de aula. Essa é a escola Oliveira Ferreira, em Perus, a 30 quilômetros do centro de São Paulo.

A mensalidade do 1.º ano do ensino fundamental custa R$ 190, mais baixa do que um curso de inglês em um bairro paulistano de classe média, mas do tamanho que cabe no bolso dos moradores da região. Uma clientela que inclui filhos de faxineiras e frentistas.

Depois da ascensão da classe C, é a vez da D investir na escola particular. Pesquisa recente do Ibope Inteligência mostra que as classes D e E representam hoje 1,6% nas estatísticas de gastos com educação no País. Uma outra tabulação, do Instituto Data Popular, especializado em baixa renda, mostra que 21% dos estudantes dos ensinos fundamental e médio da rede privada pertencem às classes D e E.

É o caso de Gecielle Santos, de 6 anos, aluna do 1.º ano. Filha de empregada doméstica e coletor de lixo, é a primeira da família a estudar em uma escola paga (veja depoimento nesta página).

"A média de preços na periferia é de R$ 300. Esse novo público mora na periferia da periferia e começa a ter a educação como o grande sonho de consumo", explica Benjamin Ribeiro da Silva, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (Sieeesp). Ele estima que a taxa de inadimplência é a mesma de bairros ricos: 7%.

O esforço financeiro obedece a diversas razões: a preocupação com a segurança, a ideia de que o ensino será melhor e, em alguns casos, a falta de vagas em escolas públicas. "A questão da segurança é a principal. O pai pensa: "Lá meu filho não vai sofrer esse tal de bullying, não vai usar drogas"", diz Renato Meirelles, diretor do Data Popular. "Quanto ao ensino, mesmo com dificuldade de avaliar se é bom ou ruim, os pais acreditam que é melhor."

Uma volta pela cidade confirma a demanda. Assim como em Perus, escolas de bairros da extrema zona sul, como Valo Velho, e da zona leste, como São Mateus, funcionam no mesmo modelo: com mensalidades menores que R$ 200, instaladas em prédios improvisados e crescendo conforme os alunos são promovidos de série. A escola de Perus, por exemplo, oferece até o 6.º ano. Em 2012 vai oferecer o 7.º, para não perder os alunos.

Nesses colégios, o salário dos professores é padrão. Paga-se o piso da categoria: R$ 845 por meio período. "Tenho professores formados, mas também dou oportunidade para quem tem o magistério e está na faculdade", diz Lidiane Gonçalves Candeias, diretora e proprietária da Escola Crescer, que fica no Valo Velho.

Apostilas. No colégio, que tem 160 alunos, a mensalidade do 1.º ano custa R$ 158 e a diretora se orgulha de poder usar o material do Sistema Objetivo. Na primeira tentativa, assim que adquiriu o colégio, em 2007, Lidiane não conseguiu o credenciamento por problemas de estrutura. Após algumas reformas, veio o aval: "Aqui, nos Jardins ou em Alphaville, é tudo a mesma coisa. Temos o mesmo material e os professores recebem o mesmo treinamento do sistema".

No prédio alugado, de três pavimentos de escadaria, Lidiane tem feito melhorias pontuais: instalou câmeras em todas as salas de aula e, em breve, vai inaugurar a brinquedoteca e a cantina. "Mesmo sabendo que o filho está seguro dentro dos nossos portões, o pai quer acompanhar. Muitos não têm internet em casa, mas veem o filho pelo computador do trabalho."

Concorrência. Além do olhar para dentro das grades bem trancadas, os donos precisam estar atentos à vizinhança. "A concorrência é cruel. Pegam meu aluno na rua, perguntam quanto ele paga e oferecem mensalidade menor. Até professores e funcionários são aliciados", diz Lidiane.

É a mesma preocupação que acomete André de Araújo Mendes, coordenador da colégio Limiar, na região de São Mateus, zona leste. A escola existe há 16 anos e tem visto a concorrência crescer. Com espaço para 130 alunos, está com 80 neste ano. Resultado da formatura dos estudantes do 9.º ano e da vizinhança esperta. "Nosso prédio não impressiona. Há pais que veem outro, com a fachada mais bonita, e acaba escolhendo."

Como é difícil baratear ainda mais a mensalidade (R$ 180 para o 1.º ano do fundamental), a escola quer trocar o material do sistema Universitário por um próprio. "Não temos margem nenhuma na mensalidade. Então, tentaremos diminuir o preço do material didático para não perder alunos e conquistar outros."

Governo totalitario se apropria de tudo...

Este é o nosso destino, se deixarmos...

Supremacia
Dora Kramer
O Estado de S.Paulo, 15 de maio de 2011

O governo já conseguiu fazer com que o valor do salário mínimo seja estabelecido anualmente por decreto, pondo fim ao debate de todos os anos no Congresso.

Agora, na proposta do novo Código Florestal, quer estabelecer que as permissões de plantio em área de preservação permanente nas margens dos rios sejam também decididas por decreto.

Para as obras necessárias à realização da Copa o Mundo de 2014, tenta aprovar uma legislação específica para fugir dos rigores da Lei de Licitações, alegando urgência depois de ter tido quatro anos desde a indicação do Brasil para dar início aos trabalhos pelo processo normal.

O controle dito "social" dos meios de comunicação só poderá ser considerado fora da agenda, como prometeu a presidente Dilma Rousseff, depois de divulgado o texto do projeto de regulação em exame no Ministério das Comunicações.

Já cooptou os movimentos sociais, desmontou a autonomia das agências reguladoras, manda na maioria dos partidos (cuidadosamente desmoralizados), influencia na redistribuição de forças dissidentes do campo adversário, estimula as lideranças que lhe parecem mais convenientes na oposição, trabalha para adaptar a reforma política aos seus interesses (por que Lula cuidaria pessoalmente do assunto?) e por aí vão os exemplos.

São fatos, não visões de fantasmas ao meio-dia.

O governo caminha, devagar e no uso dos instrumentos disponíveis na democracia, para conquistar o controle das instituições construindo uma hegemonia político, social, legislativa, cultural e mais o que puder açambarcar até consolidar-se na posição de suprema instância de decisão.

Faz isso nas barbas de uma sociedade inerte e de uma oposição cúmplice que parecem ter dificuldades para decodificar sinais e ligar os pontos.

O avanço do Executivo sobre as instituições é esperto, pois não se dá a partir de um projeto explícita e assumidamente autoritário: acontece de maneira sub-reptícia, por meio de movimentos isolados que, no entanto, têm sempre como pano de fundo o objetivo da dominação, da prevalência absoluta de uma força política sobre as demais.

A aparência é democrática, mas a intenção é francamente impositiva, considerando-se que não se vê um só gesto plural, que aceite o contraditório como algo natural. Só o pensamento alinhado ao governismo é tido como democrático e a divergência, tachada de antipatriótica, "perdedora", indigna de atenção.

O raciocínio segundo o qual quem ganhou as eleições é quem tem razão está disseminado em todos os setores: na política, no mundo dos negócios, na sociedade e, um pouco menos, também na imprensa.

A discussão e as tentativas de votação do novo Código Florestal encerram demonstrações de sobra a respeito do acima exposto: o governo não tem maioria para aprovar o ponto que para ele é crucial - o poder de mando discricionário sobre as áreas de proteção - e, no lugar de compor, procura impor. É a lógica de sua atuação.

Não há crise na base. O que existe são interesses conflitantes que permeiam todas as bancadas no tema específico do uso produtivo da terra e da preservação ambiental.

O impasse se dá justamente porque o governo não administra divergências. Simplesmente quer vê-las extintas.

Mal parado. Em um ambiente que se pretendesse decente, a acusação do deputado Aldo Rebelo ao marido da ex-senadora Marina Silva - "contrabandista de madeira" -, seguida da confissão de que como líder do governo ajudou a abafar o caso, não poderia terminar com o dito pelo não dito.

Mas, como a conjuntura não se pretende decente, prevalecerá o deixa-disso.

Resumo da ópera. Em entrevista ao jornal Valor, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, resumiu no que consiste o poder de atração do PSD: "O conjunto de forças que sempre esteve no governo, ao cabo de oito anos fora dele, resolveu mudar para ser o que sempre foi: base de governo"

Mafias sindicais e partidarias: nossos gafanhotos compulsorios...

A privatização cotidiana
Rolf Kuntz
Blog do Estadão, 11 de maio de 2011

O brasileiro terá subido um degrau na vida quando for somente esfolado por um Fisco voraz para sustentar governos incompetentes e perdulários. Sua situação, neste momento, é pior que essa. Ele é espoliado também para sustentar os interesses privados de partidos políticos, parlamentares, aliados do governo e uma porção de lucrativas entidades – fajutas ou não – oficialmente descritas como sem fins lucrativos. Mas não há sinal de upgrade. Por enquanto, o mais provável é o destino oposto, porque é quase certa a oficialização do financiamento público de campanhas. Com isso, a política brasileira continuará tão indecente quanto é hoje e o nariz de palhaço do contribuinte ficará mais ostensivo.

O Fundo Partidário distribuirá este ano R$ 301,5 milhões. Desse total, R$ 265,3 milhões correspondem à dotação orçamentária básica. O resto provém de multas cobradas pela Justiça Eleitoral e destinadas aos partidos, como determina a Lei n.º 9.096, de setembro de 1995. A dotação básica foi inflada com R$ 100 milhões, em janeiro, em manobra da Comissão Mista de Orçamento. Esse acréscimo servirá para cobrir dívidas de campanha do ano passado. A história pode ser escandalosa e, segundo o Estado, a presidente Dilma Rousseff chegou a examinar a possibilidade de um veto e foi dissuadida por auxiliares. Mas a manobra de socorro aos partidos endividados foi facilitada por uma aberração legal, o Fundo Partidário.

Não há justificativa política ou moral para a obrigação, impingida ao contribuinte, de financiar partidos, entidades privadas. Não se trata, nesse caso, de subsídios ou auxílios concedidos com base em considerações de interesse estratégico ou destinados a sustentar serviços essenciais, como aqueles prestados pelas Santas Casas. Falar em promoção da democracia para defender essa mamata é abusar das palavras.

Partidos políticos são legalmente definidos como pessoas jurídicas de direito privado. Cidadãos podem criá-los, fundi-los e extingui-los livremente, segundo o artigo 17 da Constituição Federal. Mas, segundo o mesmo artigo, os partidos “têm direito a recursos do Fundo Partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei”.

A garantia de dinheiro público a entidades privadas – e vinculadas à defesa de interesses corporativos, econômicos, ideológicos etc. – é uma das aberrações abrigadas na Constituição Federal. Algumas, como a limitação dos juros, no artigo 192, foram corrigidas. Outras, como a divisibilidade dos juízes, implícita no artigo 106, permanecem no texto. Segundo esse artigo, “os Tribunais Regionais Federais compõem-se de, no mínimo, sete juízes”, sendo um quinto recrutado dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade, etc. Um quinto de 7 é 1,4.

Muito mais importante que essa curiosidade anatômico-aritmética é a confusão entre o público e o privado. A presença dessa geleia política na Constituição não deve ser casual. É característica da história brasileira e manifesta-se na rotina das instituições e dos organismos públicos. As chamadas “verbas compensatórias” servem a interesses particulares de senadores e deputados. São usadas, por exemplo, para o custeio de escritórios e de seus contatos com as bases eleitorais. Por que diabos deve o contribuinte financiar a carreira política de cada parlamentar? Por que não deixar cada um cuidar de suas despesas, com recursos próprios ou, talvez, com auxílio de seus aliados ou de seu partido? Esse custo lançado na conta do pagador de impostos é simplesmente mais um abuso, cometido, como tantos outros, em nome da democracia.

Sindicatos também são entidades privadas e representam interesses privados. Mas são beneficiados pelo imposto sindical, agora dividido também com as centrais, graças ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pode-se até discutir se o imposto sindical tem algum sentido, mas o uso desse tributo, no Brasil, tem servido principalmente para alimentar distorções na organização trabalhista e para sustentar um peleguismo cada vez mais escancarado. É, novamente, dinheiro cobrado compulsoriamente e usado para distribuir benefícios a particulares – incluídos os grupos políticos aliados aos pelegos.

O empreguismo e a distribuição de postos a aliados são formas tradicionais de privatização não declarada. Seu uso se acentuou nos últimos oito anos. A novidade recente é a disputa entre o PT e os partidos da base, motivada pelo apetite excepcional exibido neste ano pelos petistas.

Pulverizar verbas orçamentárias por meio de emendas para atender a interesses eleitorais e beneficiar entidades amigas – e às vezes fraudulentas – é prática tradicional. Também nesse caso as atenções de suas excelências passam longe do interesse público. Diante de todos esses fatos, a manobra para pagar as dívidas de campanha é quase rotineira.

Abaixo o doutoramento (nos EUA, por enquanto) - Mark Taylor (Nature)

Por aqui ninguém ainda se revoltou contra o teatro dos doutoramentos. Se pensa baixo, e se fala menos ainda. Um dia o debate chega aqui. Mas vai demorar mais uns 30 anos, por baixo...
Por enquanto fiquem com um debate americano...


Column: World View
Reform the PhD system or close it down
Mark Taylor
Nature 472, 261 (2011), online 20 April 2011 (doi:10.1038/472261a)

There are too many doctoral programmes, producing too many PhDs for the job market. Shut some and change the rest.

The system of PhD education in the United States and many other countries is broken and unsustainable, and needs to be reconceived. In many fields, it creates only a cruel fantasy of future employment that promotes the self-interest of faculty members at the expense of students. The reality is that there are very few jobs for people who might have spent up to 12 years on their degrees.

Most doctoral-education programmes conform to a model defined in European universities during the Middle Ages, in which education is a process of cloning that trains students to do what their mentors do. The clones now vastly outnumber their mentors. The academic job market collapsed in the 1970s, yet universities have not adjusted their admissions policies, because they need graduate students to work in laboratories and as teaching assistants. But once those students finish their education, there are no academic jobs for them.

“Most doctoral programmes conform to a model defined in the middle ages.”
Universities face growing financial challenges. Most in the United States, for example, have not recovered from losses incurred on investments during the financial fiasco of 2008, and they probably never will. State and federal support is also collapsing, so institutions cannot afford to support as many programmes. There could be an upside to these unfortunate developments: growing competition for dwindling public and private resources might force universities to change their approach to PhD education, even if they do not want to.

There are two responsible courses of action: either radically reform doctoral programmes or shut them down.

The necessary changes are both curricular and institutional. One reason that many doctoral programmes do not adequately serve students is that they are overly specialized, with curricula fragmented and increasingly irrelevant to the world beyond academia. Expertise, of course, is essential to the advancement of knowledge and to society. But in far too many cases, specialization has led to areas of research so narrow that they are of interest only to other people working in the same fields, subfields or sub-subfields. Many researchers struggle to talk to colleagues in the same department, and communication across departments and disciplines can be impossible.

If doctoral education is to remain viable in the twenty-first century, universities must tear down the walls that separate fields, and establish programmes that nourish cross-disciplinary investigation and communication. They must design curricula that focus on solving practical problems, such as providing clean water to a growing population. Unfortunately, significant change is unlikely to come from faculty members, who all too often remain committed to traditional approaches. Students, administrators, trustees and even people from the public and private sectors must create pressure for reform. It is important to realize that problems will never be solved as long as each institution continues to act independently. The difficulties are systemic and must be addressed comprehensively and cooperatively. Prestige is measured both within and beyond institutions by the number and purported strength of a department's doctoral programmes, so, seeking competitive advantage and financial gain from alliances with the private sector, universities continue to create them. As is detailed on page 276, that has led most fields to produce too many PhDs for too long.

The solution is to eliminate programmes that are inadequate or redundant. The difficult decisions should be made by administrators, in consultation with faculty members at their own and other universities, as well as interested, informed and responsible representatives beyond the academic community who have a vested interest in effective doctoral education. To facilitate change, universities should move away from excessive competition fuelled by pernicious rating systems, and develop structures and procedures that foster cooperation. This would enable them to share faculty members, students and resources, and to efficiently increase educational opportunities. Institutions wouldn't need a department in every field, and could outsource some subjects. Teleconferencing and the Internet mean that cooperation is no longer limited by physical proximity.

Consortia could contain a core faculty drawn from the home department, and a rotating group of faculty members from other institutions. This would reduce both the number of graduate programmes and the number of faculty members. Students would have access to more academic staff with more diverse expertise in a wider range of fields and subfields. Faculty members will resist, but financial realities make a reduced number of posts inevitable.

Higher education in the United States has long been the envy of the world, but that is changing. The technologies that have transformed financial markets and the publishing, news and entertainment industries are now disrupting the education system. In the coming years, growing global competition for the multibillion-dollar education market will increase the pressure on US universities, just when public and private funding is decreasing. Although significant change is necessary at every level of higher education, it must start at the top, with total reform of PhD programmes in almost every field. The future of our children, our country and, indeed, the world depends on how well we meet this challenge.

Mark C. Taylor is chair of the department of religion at Columbia University in New York and the author of Crisis on Campus: A Bold Plan for Reforming Our Colleges and Universities (Knopf, 2010). e-mail:mct22@columbia.edu

A mediocrizacao academica - eu e Janer Cristaldo (com razao)

Sou um acadêmico, eu sei, vocês sabem, ademais de ser também funcionário público federal da carreira do Serviço Exterior Brasileiro, mais exatamente diplomata, como se diz comumente.
Não sei em qual profissão eu me divirto mais, sou mais anarquista, ou ganho mais. Não importa. Olho as duas com olhar crítico. E acho que mereço os dois salários que ganho, pois como todos sabem, eu trabalho, produzo (supostamente coisas úteis à sociedade), mostro o que produzo, e me submeto a avaliações (dos chefes, dos alunos, dos pares, da sociedade, todos podem ler, ou não, o que escrevo, comprar meus livros publicados, enfim, me julgar de modo aberto, alguns até anonimamente, aqui mesmo neste blog até agora gratuito).
Não é de hoje que eu digo que a universidade vai para o brejo, que ela está decadente, que o ensino é medíocre, enfim, o que constato, visualmente, diretamente.
Claro, não pretendo ofender os colegas, chamando-os de medíocres ou preguiçosos, tanto porque escolho me relacionar com pessoas produtivas, inteligentes, dedicadas e honestas intelectualmente. Sinto muito, mas não consigo me relacionar com "maus-caráteres", desonestos, fraudadores. Esses eu simplesmente deixo de lado. Mas eu os encontro, aqui e ali: numa palestra (ou numa arenga), num artigo entregue para revisão e publicação (e quando chega para meu parecer sou apenas rigoroso), pelo que leio por aí, nesses jornalecos medíocres, nesses blogs alimentados com o dinheiro público.
Pois bem, o Janer Cristaldo é um provocador (como eu), embora ele seja muito mais anarquista do que eu. Ele não tem nenhum respeito pelos poderes constituídos (nem eu, mas preciso manter as aparências, por enquanto).
Ele não só critica as universidades (em geral, e as brasileiras em particular), no que acho que ele faz muito bem, mas ele critica a instituição do doutoramento. Concordo em grande medida com ele: tem muito teatro nessa coisa e muita embromação. Mas não ouso criticar sem oferecer uma solução alternativa. Não tenho ainda um substituto. Mas concordo em que as universidades estão defasadas e precisam se reformar, se modernizar, se transformar completamente...
Seguem três posts do Janer sobre um dos muitos motivos da decadência acadêmica
Paulo Roberto de Almeida

A ARMADILHA DOS DOUTORADOS
Janer Cristaldo
Blog do Janer, Quarta-feira, Maio 11, 2011

Em 2005, a Capes previa investir R$ 3,26 bilhões para aumentar o número de doutores por ano no Brasil. O Plano Nacional de Pós-Graduação apresentado ao então ministro da Educação, Tarso Genro, propunha a aplicação nos seis anos seguintes de R$ 1,66 bilhão a mais em bolsas e fomento de pós-graduação, o que permitiria passar dos 8.000 doutores titulados por ano para 16 mil em 2010. O plano “será acolhido integralmente", disse Genro na ocasião.

Se foi acolhido integralmente, não sei. Na época, falei da desmoralização do título de Doutor que, entre nós, se deve à universidade brasileira, ao distribuir doutorados a torto e a direito, como quem joga milho aos porcos. Não faltou quem protestasse. Que quem jogava milho aos porcos era a universidade francesa, com seus diversos doutorados, o Dr. Ingénieur, o Doctorat d’Université, o Doctorat de IIIe Cycle e o famigerado Doctorat d’État. Pode ser.

O missivista considerava que o único doutorado francês válido seria o Doctorat d’État. “Um doutorado na França é conhecido por doctorat d’Estat (sic!) e esse sim é equivalente o doutorado no Brasil. Lá existem vários tipos de doutorado, a maioria pode ser realizada em no máximo dois anos, à exceção do doctorat d’Estat (resic!), cuja duração é equivalente aos dos outros países – uns cinco anos. Quase todos os nossos intelectuais de esquerda fizeram um curso Troisiéme Cycle na França e se dizem doutores".

O ilustre especialista em doutorados – que escreveu sob pseudônimo – sequer sabia redigir corretamente a designação do título. Também ignorava que o Doctorat de IIIe Cycle se faz em quatro – eventualmente cinco – anos e que o famigerado doctorat d’Estat, como ele grafava , era feito em dez ou mais anos. O Doctorat de IIIe Cycle sempre foi reconhecido como doutorado em todos os países europeus. O d’État era tido como mais uma bizarrice dos galos.

Distorção da universidade francesa, servia como placebo ao desemprego, ao mesmo tempo que mantinha o doutorando afastado por uma boa década do mercado de trabalho. O candidato ao título desenvolvia teses monumentais, às vezes de quatro ou cinco volumes, que nem mesmo a banca julgadora lia na totalidade. Tais calhamaços ficavam entregues às traças e à poeira nas bibliotecas e a universidade francesa sequer percebia que delas poderia tirar algum lucro. Exportando para a Holanda, por exemplo, para fazer diques. O governo Mitterrand tomou consciência desta perversão acadêmica e a extinguiu. Agora existe apenas Doctorat, tout court.

Há horas venho afirmando que os doutorados são uma solene inutilidade. Ou melhor, uma armadilha acadêmica. Você faz um curso universitário e desemboca no desemprego. Para capear a adversidade, você se inscreve em mestrado. Mais quatro anos afastado do mercado de trabalho. Conclui o mestrado e de novo vê o breu pela frente. Seu professor, que precisa de doutorandos para cumprir sua carga horária enquanto folga em casa ou no Exterior, o convida para um doutorado. Você aceita, afinal está desempregado e a bolsa não é de se jogar fora. Mais quatro ou cinco anos fora do mercado.

Quando você vai ver, tem mais de trinta anos e nunca teve carteira de trabalho assinada. Em um país onde se tende a considerar que uma pessoa com 35 anos já é idosa, ou você tem pistolão na guilda e entra no magistério – para que a poleia sem fim dos doutorados continue rodando – ou vai talvez dirigir um táxi ou ser corretor de imóveis. Afinal, comer é preciso.

Isso sem falar no que chamei de mestrandos carecas. Entre as muitas anomalias da universidade brasileira estão os mestrandos quarentões. Aquela iniciação à pesquisa, pela qual o candidato deveria optar tão logo terminasse o curso superior, é adiada para uma idade em que do acadêmico já se espera obra consolidada. Pior mesmo, só os doutorados de terceira idade. Marmanjos de cinqüenta e mais anos, em idade de aposentar-se, postulando um título que só vai servir para pendurar junto com as chuteiras.

Mestrado não é para carecas. Já um doutorando, este deveria defender sua tese no máximo aos trinta e poucos, para que sua experiência em pesquisa possa ser útil ao ensino e à sociedade. Que mais não seja, é patético ver um homem já maduro humilhando-se, ao tentar iniciar-se em metodologias que devia desde jovem dominar. Isso sem falar em métodos que não passam de masturbação acadêmica, como ocorre na área das ditas Humanas. Na universidade brasileira, o doutorado nem sempre é visto como início de uma carreira, mas como louro a coroar a calva do acadêmico quando este está prestes a usar pijamas. Quem paga tais vaidades senis? Como sempre, o contribuinte.

Pelo jeito, os acadêmicos começam a se dar conta desta catástrofe. Acabo de receber artigo de Mark C. Taylor, presidente do departamento de religião da Universidade de Columbia em Nova York e autor de Crise no Campus: um plano arrojado para reforma das nossas Faculdades e Universidades (Knopf, 2010). Em seu ensaio, o professor considera que o sistema de doutorado nos Estados Unidos e em muitos outros países é insustentável e precisa de ser remodelado. Em muitos campos, ele cria apenas uma fantasia cruel de um futuro emprego, que promove o auto-interesse dos membros do corpo docente, em detrimento dos estudantes. A realidade é que existem poucos empregos para as pessoas que gastaram até doze anos em sua formação.

“A maioria dos programas de educação-doutoramento está em conformidade com um modelo definido nas universidades européias durante a Idade Média, em que a educação era um processo de clonagem, que treinava os estudantes para fazer o que os seus mentores faziam. Os clones já ultrapassam o número de seus mentores. O mercado de trabalho acadêmico entrou em colapso em 1970 e as universidades ainda não se ajustaram as suas políticas de admissão, porque precisam de estudantes de pós-graduação para trabalhar nos laboratórios e como assistentes de ensino. Mas uma vez que os alunos terminam o ensino, não existem trabalhos acadêmicos para eles.

Para o professor Taylor, só há duas saídas: reformar radicalmente os programas de doutoramento ou fechá-los. “A especialização levou a áreas de investigação tão estreitas que são de interesse apenas para outras pessoas que trabalham nos mesmos domínios, subcampos ou sub-subcampos. Muitos pesquisadores lutam para conversar com colegas do mesmo departamento, e comunicação entre departamentos e disciplinas podem ser impossíveis".

A bicicleta precisa continuar rodando. Milhões de teses no mundo todo, que já não cabem nas bibliotecas oficiais, precisam de anexos para serem guardadas. Guardadas para quê? Para juntar pó. Uma tese é algo que sai caro ao Estado. É preciso subsidiar os graduandos e os professores que os orientam. Deveria ter retorno aos contribuintes que, no fundo, são quem as financiam. Você já viu alguma tese publicada? Às vezes encontramos alguma, mas precisamos pagar por ela. O doutor recebe para redigi-la e depois cobra de novo para que seja lida.

Se o Brasil eliminasse hoje seus cursos de doutorado, não me parece que perderíamos grande coisa. (Vou mais longe: cursos de Letras, Filosofia ou Sociologia não fazem falta alguma). Os professores americanos parecem estar despertando para o problema. Como o Brasil adora importar modas ianques, seria salutar que esta postura chegasse até nós.

Mas não vai chegar. O Brasil prefere importar rock, blockbusters e outras mediocridades do Primeiro Mundo. Do melhor que acontece lá, Pindorama só quer distância.

PS – O artigo do professor Mark Taylor pode ser lido na íntegra em http://www.nature.com/news/2011/110420/full/472261a.html

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AINDA OS DOUTORADOS
Janer Cristaldo, 13 de maio de 2011

De uma boa amiga que está concluindo seu doutorado em Letras na USP, recebo:

Oi, Janer
Lendo seu texto, concordo com a avaliação feita. Os alunos são enviados por inércia ao doutorado por não enxergarem muitas perspectivas (no caso das ciências humanas) no mercado de trabalho, principalmente o acadêmico. E, para sobreviver, aceitam passar mais quatro anos na vida de bolsista. Ocorre que desde 2007 vige uma portaria da CAPES a respeito da publicação de teses e dissertações que obriga o ex-aluno a disponibilizar integralmente o conteúdo de seu trabalho na internet, no banco de dados das universidades brasileiras. Portanto, qualquer pessoa pode ter acesso em um clique. Eu só me pergunto sobre os direitos autorais nesse caso. Existem? - na medida em que o autor é obrigado a cumprir tal medida - embora na lei de 1998 exista um artigo a respeito de que trabalhos financiados pelo Estado não pertencem a ele por conseqüência. Qual sua opinião?

Bom, Aninha,

essa portaria de 2007 é uma boa notícia. Mas tem gente que não vai gostar. Em Florianópolis, nos anos 70, houve um incêndio numa sala da Reitoria, justo aquela em que estavam depositadas as teses. Alguns professores me confessaram que adoraram o incêndio, pois tinham vergonha do próprio trabalho. Quanto a direitos autorais, acho que o autor deveria renunciar a eles. Afinal, foi pago pelo contribuinte. Que devolva, então, gratuitamente, o que lhe foi financiado.

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Esta do Janer é mais forte:

SOBRE TESES E PAPEL HIGIÊNICO
Janer Cristaldo, Sexta-feira, Maio 13, 2011

Do Vanderlei Vaselesk, meu fiel leitor, recebo uma resposta a meu artigo sobre os doutorados, postada em algum fórum da Internet.

Gente,
Esse cara é ultraconservador no pior dos sentidos. O cara propõe praticamente o fechamento dos doutorados e a extinção de determinados saberes tais como Letras, Filosofia e Sociologia. Acho que ele deve ter nascido de chocadeira últra-moderna com a idade que ele tem, pois creio que não deve ter tido um(a) professor(a) de língua portuguesa ou, então, deve ter sido reprovado em Estudos Sociais e OSPB. É possível que a capacidade intelectual dele de raciocinar tenha sido comprometida pela falta de abstração filosófica. De qualquer forma, nem de longe entende que a universidade abre portas e cria possibilidades de se romper com determinadas restrições socio-culturais e econômicas, viabilizando a construção da cidadania e de pessoas efetivamente críticas.

O cara alega que os doutorados são inúteis e custosos. É claro que são custosos e ainda falta investimento! A universidade precisa ser democratizada (algo que não depende só dela para que isso ocorra), mas, agora, associar à inutilidade foi demais! A gente sabe que as universidades têm problemas mil, que ultrapassam questões estritamente pedagógicas ou administrativas, mas a miopia ultra-neoliberal-conservadora do cara é de enojar. Tese e papel higiênico para ele é a mesma coisa. Para ele, as pessoas mais velhas que entram na universidade são praticamente um desperdício de dinheiro público, porque, fica subtendido, são figuras pateticamente anacrônicas. Não vê os professores mais velhos como pessoas que tem algo a contribuir com seu conhecimento e experiencia.

Fico só lembrando também dos meus alunos e alunas com mais de 45 anos que estão fazendo a faculdade pela primeira vez, buscando não somente melhorar de vida ou simplesmente conhecer e explicar o mundo em vivemos a fim de ajudar a mudá-lo. O cara nem está a par do mercado editorial virtual ou não! Para mim, o que está em jogo é um discurso ou uma atitude perigosamente conservadora de um recalcado que só justifica os investimentos válidos se forem direcionados para os cursos da moda, especialmente os relacionados à economia capitalista e à alta tecnologia. Ah, ele diz que é jornalista, escritor e ensaista! Outra coisa: acho que ele não fez o mestrado e doutorado! Ah, entendi!


(Retoma o Janer:)
Vamos por partes. Tese e papel higiênico não são para mim a mesma coisa. Jamais afirmaria tal heresia. Papel higiênico é um dos grandes avanços da humanidade. Tanto que sempre faltou nos países mais atrasados do mundo, os socialistas. Tese nem como papel higiênico serve. Não vou negar que cá e lá – falo da área humanística - encontramos alguma tese que constitui uma contribuição à cultura. Mas são raríssimas. Tanto que a maioria quase absoluta delas fica relegada ao pó das bibliotecas. Tese, no fundo, só serve para manter as mordomias dos PhDeuses orientadores e aumentar salários dos acadêmicos. Também é muito conveniente para fazer turismo às margens do Sena, Tâmisa ou Spree.

Que velhos façam a universidade pela primeira vez, nada contra. Mas estas pessoas já avançadas em idade nunca procuram os cursos realmente úteis à sociedade, como enfermagem, odonto, medicina ou engenharia. Geralmente buscam aqueles cursos de vestibular fácil, isto é, as tais de Humanas. Como lazer de terceira idade é uma opção interessante. Melhor que ficar espichado no sofá vendo novelas. Daí que isto traga alguma contribuição ao país vai uma longa distância. Mas minha restrição não é a quem busca universidade em idade provecta. E sim aos mestrandos e doutorandos carecas. Terceira idade não é idade para se fazer mestrado, muito menos doutorado.

Se um ancião quiser fazer doutorado, para seu prazer espiritual, pagando de seu próprio bolso, que esteja a gosto. O que é obsceno é ver macróbios subsidiados pelo contribuinte para satisfazer uma vaidade. Ou para aumentar a aposentadoria. Tanto o mestre como o doutor devem formar-se ainda jovens, para que possam prestar bom tempo de serviço ao ensino. Tenho visto gente que começa doutorado lá pelos cinqüenta. Quando obtém o título, está em idade de aposentar-se. Isto é uma perversão típica da universidade brasileira.

Professor mais velho é outra coisa. Nada a ver com mestrandos carecas. Um professor mais velho acumulou experiência e saber durante todo seu magistério. Desde que não tenha começado a aprender quando já era velho. Neste caso, é muito curto seu período de aprendizado.

Em seu arrazoado precário, o missivista apela ao argumento ad hominem: “acho que ele não fez o mestrado e doutorado”. De fato, mestrado não fiz. Quando ia inscrever-me em curso de mestrado na Université de la Sorbonne Nouvelle – Paris III – encontrei numa fila M. Raymond Cantel, doyen da antiga Sorbonne, que não mais existe. Considerou que era uma perda de tempo matricular-me em mestrado. Eu tinha publicações suficientes para postular um doutorado. Naquele breve diálogo, meu mestrado se transformou em doutorado.

Mas ninguém pense que um dia almejei tal título. Quando terminei minhas universidades – Filosofia e Direito – prometi a mim mesmo que jamais voltaria a pôr os pés nesses templos do saber. Enveredei pelo jornalismo. Acontece que sempre gostei de viajar. Bolsa é uma boa chance de viajar, os acadêmicos tupiniquins que o digam. A França oferecia bolsas. Candidatei-me a uma delas, na área de Literatura Comparada. Certo dia, encontrei na rua o cônsul francês em Porto Alegre. “Tu és o nosso candidato. Mas não podes trocar de área? Em literatura é difícil. Não pode ser Direito?”

Poder, podia. Mas nada mais queria com Direito. Ao terminar meu curso, em gesto simbólico, joguei meus códigos e tratados no Guaíba. Tive uma extraordinária sensação de libertação. Insisti em Literatura e fui contemplado com a bolsa.

Ora, eu nem sabia o que era doutorado e muito menos Literatura Comparada. O que eu queria, lá no fundo, era Paris, sua estética, seus cafés, seus queijos e vinhos. E também suas mulheres. Se o preço era redigir uma tese, eu o pagava com prazer.

Paguei. Comprei vários ensaios na área, estudei a disciplina e redigi minha tese. Menção? Très Bien. Isso após uma defesa tumultuada. Fiz um ensaio absolutamente antiacadêmico, sem citar nenhum teórico. O que constitui heresia no universo dos PhDeuses. Método é um freio mental que a banca impõe ao thèsard. Você não pode pensar com seu próprio intelecto. Seria o caos.

Tant pis pour moi. Eu não buscava nenhum título e não tinha compromisso com universidade alguma. Minha tese, fosse aprovada ou não, não mudava nada em meus propósitos. Havia escrito um ensaio útil e, mais importante, legível. Fiquei surpreso quando, ao final do doutorado, soube que uma tese servia para lecionar. Foi assim que caí no magistério de Letras, os quatro anos mais inúteis de minha vida.

A defesa, peça teatral que dura em geral uma hora, se estendeu por quatro horas. Uma doutora da banca não admitia tese sem metodologia. “Où est votre méthode?” – questionou-me. Respondi que não havia ido à França para pensar com a cabeça de terceiros. Pensava com a minha. “Ma méthode, c’est la cristaldesque”.

Após longos e tensos debates entre os membros do júri, a tese foi aceita. Atribuo um pouco esta concessão à platéia. Na salle Bourjac, da Sorbonne, havia entre cinqüenta e sessenta mulheres, e um único rapaz. Não só a banca, como eu e minha mulher, estávamos perplexos. “Trabalhaste duro neste tempo todo” – me disse a Baixinha. Bom, confesso que tinha me esforçado. No fundo, penso que devo àquelas meninas minha aprovação. Seria uma grosseria rejeitar meu trabalho ante platéia tão florida.

Sou doutor por diletantismo, não por projeto. Me candidatei a outro doutorado na Espanha, queria curtir Madri. Ganhei a bolsa, curti Madri, mas me recusei a redigir a tese. Era picaretagem. Exigiam a redação de uma tese em seis meses. Ora, nenhuma tese séria pode ser redigida em seis meses, ainda mais com uma carga horária de cinco horas de aula por dia. Escrevi uma carta a meu orientador. Cito de memória.

“Dr! Quando se recebe uma bolsa para doutorado, os doutorados são dois. Um deles resulta numa tese que fica mofando nas bibliotecas. O outro é aquele que defendemos nos bares e restaurantes, lendo a imprensa e a literatura do país, conhecendo suas cidades. Esta eu a defendi com brilho e com ela me contento. Salud y felicidad a los suyos”. (Esta era a fórmula burocrática com a qual se terminava um pedido de estada à polícia).

Doutor por acaso, não tenho maior respeito por doutores. Sim, existirão os que merecem consideração por seus trabalhos. Mas estes são muito raros. O que vejo, o mais das vezes, são pavões que se apóiam em teorias sem pés nem cabeça e vivem da antiga fórmula francesa, “louons-nous les uns les autres”.

Antes que me esqueça: até hoje não peguei meu diploma de doutorado. Quando fui apanhá-lo na secretária da Sorbonne Nouvelle, uma velhota burocrata me atalhou: “C’est pas comme ça, Monsieur!” Meu diploma estava ali, do outro lado do balcão. Mas eu precisava enviar uma carta à universidade e esperá-lo em casa. Ora, eu já estava de pé no estribo, entregando as chaves do apartamento. Desisti. Não fui a Paris buscar um papelucho.

Last but not least, quem está propondo o fim dos doutorados não sou apenas eu. Mas também o professor Mark C. Taylor, presidente do departamento de religião da Universidade de Columbia em Nova York.

Papel higiênico, meu caro, é muito mais necessário que uma tese acadêmica. A humanidade consegue viver sem teses. Sem papel higiênico já é mais complicado.

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Bem ficamos por aqui, e esperemos os próximos rolos de papel higiênico.... quero dizer, teses acadêmicas...
Paulo Roberto de Almeida

Retrocesso mental parlamentar: mais um exemplo (íntimo, se ouso dizer)

Já postei aqui uma matéria sobre o inacreditável projeto que acaba de ser aprovado no Congresso, para interferir nas nossas roupas de baixo...
Abaixo, sem trocadilho, uma crônica bem-humorada de um que já desistiu de ser brasileiro (contrariamente ao moto bem conhecido...).
Paulo Roberto de Almeida

GOVERNO INVADE MINHAS CUECAS
Janer Cristaldo
Blog do Janer Cristaldo, 13/05/2011

Essa agora! Leio na Folha de São Paulo que um projeto de lei determina que roupas íntimas – cuecas ou calcinhas - terão de ser vendidas no Brasil com etiquetas que alertarão contra os cânceres de mama, colo de útero e próstata. O projeto de lei que prevê a nova regra foi aprovado ontem de forma conclusiva pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara dos Deputados. Como o projeto já havia passado pelo Senado, o texto seguirá para a sanção presidencial, caso não haja recursos no prazo de cinco dias. Pela proposta, as cuecas de tamanho adulto terão de trazer uma etiqueta com advertência sobre a importância do exame de câncer de próstata para os homens com mais de 40 anos.

Também será obrigatória a fixação de mensagem em calcinhas no tamanho adulto sobre “a importância do uso de preservativos como forma de prevenção do câncer de colo de útero e da realização periódica, por todas as mulheres com vida sexual ativa, de exames de detecção precoce dessa doença”. Nos sutiãs, a etiqueta deverá alertar sobre a importância do auto-exame dos seios para detecção precoce de câncer de mama, além de trazer informações sobre como fazer o exame. A regra se aplica a todas as peças produzidas ou vendidas no Brasil, mesmo aquelas importadas.

Antes que me esqueça, o estúpido autor do estúpido projeto é o ex-deputado Barbosa Neto, do PMDB de Goiás. A estupidez tramita no Congresso há mais de década. Enquanto o Legislativo, por desídia, delega ao Judiciário a tarefa de legislar, um deputado idiota invade um dos últimos resíduos de privacidade do cidadão, suas cuecas. Ou calcinhas. Se o tal de projeto passar, o Congresso estará desmoralizado de vez. Com que direito, um parlamento, decide carimbar minhas roupas íntimas? Será que um adulto precisa de um lembrete na cueca para fazer exame de próstata?

Ainda segundo a Folha, o projeto prevê ainda uma série de punições para as empresas que descumprirem a regra, como apreensão do produto, suspensão da venda ou da fabricação, cancelamento de autorização de funcionamento da empresa e proibição de propaganda. O Ministério da Saúde irá definir como será a aplicação e a fiscalização da nova regra. Após a sanção presidencial, fabricantes e comerciantes terão 180 dias para se adaptar à novidade.

Desista das grifes tipo Lupo, Gucci, Armani, Calvin Klein. O must agora é câncer de mama, colo de útero, câncer de próstata. Do universo entre as nações, resplandece a do Brasil. Pela primeira vez na história universal, um parlamento pretende imprimir palavras de ordem em suas cuecas. Como até as peças importadas devem ser carimbadas, se você quiser escapar da ditadura que determina como devem ser suas roupas íntimas, só viajando e comprando in loco. Isso se a aduana não impedir a entrada das cuecas ilegais.

Antes eu ia a Europa para comprar música e livros que não encontro aqui. Se passar o projeto infame, terei mais um pretexto para ir a Paris: comprar cuecas.

Como retrocedem os politicos: um exemplo (entre muitos outros)

O artigo abaixo é de um colega de espanto (sim, existe isso, caro leitor). Ele se espanta, tanto quanto eu, com a inacreditável característica que apresentam políticos de retrocederem mentalmente.
Ao contrário da incrível história de Benjamin Button, que nasceu velho e ia ficando cada vez mais moço, fisicamente, os políticos brasileiros retrocedem mentalmente.
Um exemplo, o senador Cristovam Buarque, do PDT-DF, que já foi inclusive reitor da UnB (coincidentemente ela começou a decair em sua gestão) e ministro da (des)Educação (ele deve acreditar nas bobagens do Paulo Freire, também).

A indecência da mentalidade proibicionista
Bruno Garschagen
Ordem Livre, 11 de Março de 2011

A capacidade dos políticos brasileiros de nos surpreender é infinita. Mas nem vou dizer que fui surpreendido porque desde há muito os preclaros membros do Legislativo e do Executivo fizeram-me perder essa extraordinária capacidade humana da surpresa sincera. O assunto não é novo, mas merece reiterada repulsa. Falo do projeto de lei nº 480, de 2007, de autoria do senador Cristovam Buarque, que diz o seguinte:

"Art. 1º Os agentes públicos eleitos para os Poderes Executivo e Legislativo federais, estaduais, municipais e do Distrito Federal são obrigados a matricular seus filhos e demais dependentes em escolas públicas de educação básica".

A justificativa do senador à necessidade da aprovação do projeto era a seguinte:

"No Brasil, os filhos dos dirigentes políticos estudam a educação básica em escolas privadas. Isto mostra, em primeiro lugar, a má qualidade da escola pública brasileira, e, em segundo lugar, o descaso dos dirigentes para com o ensino público.Talvez não haja maior prova do desapreço para com a educação das crianças do povo, do que ter os filhos dos dirigentes brasileiros, salvo raras exceções, estudando em escolas privadas. Esta é uma forma de corrupção discreta da elite dirigente que, ao invés de resolver os problemas nacionais, busca proteger-se contra as tragédias do povo, criando privilégios.

Além de deixarem as escolas públicas abandonadas, ao se ampararem nas escolas privadas, as autoridades brasileiras criaram a possibilidade de se beneficiarem de descontos no Imposto de Renda para financiar os custos da educação privada de seus filhos".

E a lei, em vigor, teria quatro objetivos:

a) ético: comprometerá o representante do povo com a escola que atende ao povo;

b) político: certamente provocará um maior interesse das autoridades para com a educação pública com a consequente melhoria da qualidade dessas escolas.

c) financeiro: evitará a “evasão legal” de mais de 12 milhões de reais por mês, o que aumentaria a disponibilidade de recursos fiscais à disposição do setor público, inclusive para a educação;

d) estratégica: os governantes sentirão diretamente a urgência de, em sete anos, desenvolver a qualidade da educação pública no Brasil.

Muito embora a intenção da medida seja fazer com que os políticos sintam na pele o que é ter um filho estudando numa escola pública e tal situação os pressione a trabalhar para melhorar a educação do país, há diversas consequências não-intencionais que a tornam problemática, para usar um eufemismo. Pensando bem, às favas com o eufemismo; trata-se de uma indecência e de uma estupidez.

Em primeiro lugar, essa mentalidade de obrigar o cidadão a agir de determinada forma mediante uma lei é autoritária quando tal norma não serve para proteger um inocente de um agressor. Em segundo lugar, é legítimo que uma criança ou adolescente sejam obrigados a estudar numa escola pública porque o pai é político? Impor aos filhos a responsabilidade exclusiva dos pais como agentes políticos de trabalhar para melhorar a educação (considerando que eles devam fazer
isso, o que discordo) é uma indecência.

Acreditar que o simples fato dessa obrigatoriedade irá, necessariamente, melhorar a educação por causa da pressão direta sobre a família do político não me parece razoável porque há uma série de contingências e eventos que podem fazer com que a lei até piore a situação. Você pode me perguntar: e se a educação, de fato, melhorar? Eu pergunto: por causa de uma finalidade utilitária a ser perseguida devemos renunciar aos princípios, valores e à ordem que nos sustentam enquanto sociedade?

Mais uma vez, um político tenta resolver um problema sério por uma imposição legal. Se aceitarmos que tal ação se converta num hábito e, depois, num valor social, insisto, abriremos uma vereda para qualquer tipo de sandice, desde nos obrigar a comer salada porque carne vermelha faz mal a esterilizar os pobres porque, enfim, os pobres provocam mal-estar na sociedade.

O projeto de lei é mais um da galeria do senador, que no ano passado achou por bem converter a felicidade em assunto de Estado e elaborou uma proposta para acrescentar ao artigo 6º da Constituição Federal a busca da felicidade como um direito social. Tal acréscimo, por certo, consagraria a farsa deste dispositivo constitucional, que define como direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados. Para não fazer a indagação óbvia sobre quem vai pagar a conta, gostaria humildemente de perguntar se eu poderia receber a minha parte em dinheiro e livre de impostos.

O senador, novamente, pretende validar a genial máxima do saudoso Helio Beltrão: “O Brasil é uma ilha de iniciativa cercada de governo por todos os lados”.

Bill Gates nacional: mas este não faz software (nao daquele tipo...)

SOftware é um produto intangível, ou seja, não tem exatamente uma aparência material.
São instruções, códigos, bits and bytes, que conformam um programa, ou seja, riqueza tirada literalmente do ar, ou da inteligência.
Como Bill Gates. Esse garoto prodígio, hoje um quase velho mecenas e benefactor, acumulou dezenas, centenas de bilhões de dólares, vendendo programas de computador.
Nunca extraiu um quilo de mineral de qualquer país africano, jamais explorou minas e terras na América Latina, sequer transacionou com commodities, nada, literalmente zero de bens físicos.
Pura inteligência, produtos intangíveis. Foram anos e anos de pesquisa e de trabalho duro.

Bill Gates, o homem mais rico do mundo, não está com nada. Ele precisa aprender como fazer, de verdade, riqueza a partir do nada. Nossos milionários são muito mais criativos do que ele.
Conseguem acumular mais riqueza, proporcionalmente, do que Bill Gates o fez em toda a sua vida: computando-se os 50 e tantos anos de Bill Gates, e trabalho pelos últimos 35 pelo menos, vê-se que certos milionários brasileiros conseguem fazer muito mais em menos de oito anos (8 ANOS!!).
Pois é, depois dizem que no Brasil não existe inovação...
Paulo Roberto de Almeida

Palocci multiplicou por 20 patrimônio em quatro anos
ANDREZA MATAIS, JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
Folha de. S. Paulo, domingo, 15 de maio de 2011

Chefe da Casa Civil comprou apartamento de R$ 6,6 milhões antes de assumir. Imóvel foi registrado em nome de empresa que ministro criou para dar consultoria quando era deputado federal

DE BRASÍLIA - Semanas antes de assumir o cargo mais importante do governo Dilma Rousseff, o ministro Antonio Palocci (Casa Civil) comprou um apartamento de luxo em São Paulo por R$ 6,6 milhões. Um ano antes, Palocci adquiriu um escritório na cidade por R$ 882 mil. Os dois imóveis foram comprados por uma empresa da qual ele possui 99,9% do capital.

Em 2006, quando se elegeu deputado federal, Palocci declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio estimado em R$ 375 mil, em valores corrigidos pela inflação. Ele tinha uma casa, um terreno e três carros, entre outros bens. Com o apartamento e o escritório, Palocci multiplicou por 20 seu patrimônio nos quatro anos em que esteve na Câmara -período imediatamente posterior à sua passagem pelo Ministério da Fazenda, no governo Lula.

Nos quatro anos em que exerceu o mandato de deputado, Palocci recebeu em salários R$ 974 mil, brutos. A quantia é insuficiente para pagar os dois imóveis que ele adquiriu. Os dois já foram quitados, de acordo com documentos aos quais a Folha teve acesso.

Procurado pela reportagem, Palocci disse que as compras foram feitas com recursos da sua empresa, a Projeto Administração de Imóveis. O ministro da Casa Civil não quis identificar seus clientes nem informou o faturamento da empresa. Palocci abriu a Projeto com sua mulher, Margareth, no dia 21 de julho de 2006, duas semanas depois de encerrado o prazo que tinha para entregar sua relação de bens à Justiça Eleitoral. Por esse motivo, a empresa não apareceu na declaração.

CONSULTORIA
Segundo os registros da Junta Comercial, a Projeto foi criada como consultoria e virou administradora de imóveis dois dias antes de Palocci chegar à Casa Civil. O ministro disse que os dois imóveis que comprou são os únicos que a Projeto administra. A empresa tem como sede o escritório que Palocci comprou antes do apartamento. Ele foi adquirido em 11 de dezembro de 2009 e fica num prédio na região da avenida Paulista, uma das áreas mais valorizadas da capital.

O apartamento fica perto dali, nos Jardins, bairro nobre da zona sul. Ocupa um andar inteiro do edifício, tem quatro suítes e 502 metros quadrados de área útil, mais cinco vagas na garagem. Palocci comprou o apartamento direto da construtora e pagou o imóvel em duas parcelas, uma de R$ 3,6 milhões e outra de R$ 3 milhões. A propriedade foi registrada no nome de sua empresa em 16 de novembro de 2010. Segundo vizinhos, Palocci mora atualmente no apartamento. Os moradores do prédio pagam taxa de condomínio de R$ 3.800 mensais.

POUCOS BENS”
Ao assumir, todo ministro deve informar seus bens à Controladoria-Geral da União e ao Tribunal de Contas da União, além de autorizar o acesso às suas declarações de Imposto de Renda. Palocci disse à Folha que encaminhou à Comissão de Ética da Presidência da República todas as informações sobre a Projeto e as propriedades que a empresa tem.

Na autobiografia “Sobre Formigas e Cigarras”, lançada em 2007, Palocci se descreveu como um homem de “poucos bens” e manifestou “indignação” com “boatos” que circularam sobre suas finanças pessoais no passado.

Palocci deixou o cargo de ministro da Fazenda em março de 2006, depois de se envolver no escândalo da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, que trabalhou numa casa que Palocci frequentava com amigos e lobistas em Brasília.

Em 2006, o ministro vivia numa casa em Ribeirão Preto, no interior paulista. Em sua declaração à Justiça Eleitoral, ele estimou em R$ 56 mil o valor da casa, que ainda pertence a Palocci. Corretores da cidade calculam que o imóvel vale R$ 550 mil hoje.

OUTRO LADO
Rendimento de consultoria pagou imóveis, diz Palocci

Ministro afirma ter informado ao governo a existência da empresa e dos imóveis, mas evita identificar clientes

DE BRASÍLIA - O ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, disse que os dois imóveis registrados em nome da Projeto foram adquiridos com recursos que sua empresa recebeu no período em que atuou como consultoria, quando ele exercia o mandato de deputado.

Em nota encaminhada por sua assessoria de imprensa, o ministro disse que informou a existência da empresa e das suas propriedades ao órgão de controle interno da Presidência da República.

"Tais informações foram registradas junto à Comissão de Ética Pública da Presidência quando da nomeação do ministro", afirma a nota.

Com o fim das atividades de consultoria, a atribuição da Projeto passou a ser "a administração dos dois imóveis registrados na Junta Comercial", diz a nota do ministro.

Segundo Palocci, a Projeto foi criada como "uma empresa de consultoria financeira e econômica" e "encerrou as suas atividades de consultoria em dezembro de 2010 - fato registrado na Junta Comercial de São Paulo".

Desde que assumiu o cargo no governo Dilma Rousseff, diz a nota, "o ministro não realiza qualquer atividade relacionada à empresa".

A assessoria de Palocci deixou sem resposta várias outras questões apresentadas pela Folha ao ministro.

A assessoria preferiu não indicar as empresas para as quais a Projeto deu consultoria, não informou quem era responsável pela prospecção de clientes, como era sua rotina e quais as atribuições que Palocci exercia na firma.

O ministro também não deu informações sobre o faturamento e os lucros obtidos pela Projeto nem quis discutir como conciliava suas atividades de deputado federal com a de consultor. Também não esclareceu por que mantém uma empresa para administrar somente dois imóveis.(ANDREZA MATAIS E JOSÉ ERNESTO CREDENDIO)

Funcionária diz não saber o que empresa faz
DE BRASÍLIA - A empresa que o ministro Antonio Palocci usou para registrar as duas propriedades que adquiriu nos últimos dois anos é hoje, no papel e segundo o próprio ministro, uma administradora de imóveis. Mas nem a única pessoa que atende o telefone diz saber a atividade do escritório.

A Folha foi duas vezes à sede da Projeto, na região da avenida Paulista, em São Paulo. Mas encontrou a sala fechada, sem placa na porta nem identificação na recepção do edifício onde fica.

A reportagem também telefonou para a empresa em duas oportunidades. Na primeira, uma funcionária que se identificou apenas como Rita disse que não saberia explicar o que a empresa faz nem o que fez no passado.

Na segunda vez, a mesma mulher disse que a empresa ""não faz administração de imóveis" e acrescentou: "No momento, a gente não está trabalhando com essa prestação de serviço". Indagada sobre qual seria então a atividade da empresa, ela afirmou que não poderia ajudar.

Em dezembro de 2006, poucos meses depois de abrir a empresa, Palocci registrou como sócio minoritário da Projeto o economista Lucas Martins Novaes, que dois anos antes havia se formado na USP. Ele tem menos de 1% do capital da empresa.

Apontado por pessoas que o conhecem como bom estatístico, Novaes faz atualmente um curso de pós-graduação na Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, onde foi localizado pela Folha.

Contatado por e-mail e por telefone, ele disse que iria ligar de volta para a reportagem, o que não ocorreu até a conclusão desta edição.)

De acordo com os registros da empresa na Junta Comercial, a Projeto tem capital de R$ 102 mil, sendo que Palocci possui R$ 101.960 e Lucas, R$ 40. A mulher de Palocci, Margareth, participou da fundação da Projeto em 2006 e afastou-se poucos meses depois. (AM e JEC

PCdoB: Partido Criminoso do Brasil? asi es, si les parece...

Os partidos comunistas, historicamente, estiveram associados às piores ditaduras e regimes totalitários do mundo, desde Átila e seus bárbaros, desde Gengis Khan, superando inclusive Hitler e seu nefando holocausto em número de mortos.
De fato, os totalitarismos comunistas ao redor do mundo, com destaque para a finada União Soviética e a ainda existente República Popular da China foram (ainda são, historicamente) responsáveis por dezenas de milhões de mortos (atenção, eu disse DEZENAS DE MILHÕES), entre Gulag, mortes matadas, fomes endêmicas ou epidêmicas, criminosamente induzidas, guerras e devastações diversas.
O PCdoB separou-se, em 1961, do velho Partidão, porque queria seguir a linha chinesa, mais radical, anti-imperialista e revolucionária do que os velhos aparatchiks do Partido Comunista de afiliação soviética, mais acomodados no reformismo reacionário. O PCdoB tentou uma guerrilha maoista no Araguaia, foi massacrado pelos militares e se reciclou no oportunismo político.

Agora virou barrica de aluguel, ou partido oportunista, que empresta sua sigla a quem quiser, desde que traga votos (e de preferência cargos e dinheiro) para o partido.
Se acostumaram ao capitalismo e se contentam em roubar o Estado, ou seja, os cidadãos, todos nós.
Sua mensagem socialista é patética, e enganam alguns estudantes durante certo tempo.
Os honestos e conscientes pulam fora, quando descobrem a fraude e a mentira.
Os oportunistas ficam, em troca de uma boquinha.
Partido Criminoso do Brasil? Pode ser: abrigando bicheiros e criminosos da escória do Rio merece o título...
Paulo Roberto de Almeida

SAMBA POLÍTICO
O cantor Neguinho da Beija-Flor, puxador de samba da escola, deverá se filiar ao PC do B. No passo seguinte, é provável que seja candidato a prefeito de Nova Iguaçu.
Se isso acontecer e ele for eleito, a família Sessin/Abraão dominará cerca de 1 milhão de habitantes da Baixada Fluminense. Ela já tem a prefeitura de Nilópolis, com Simão Sessin, mais uma cadeira na Câmara e outra na Assembleia. Tudo isso e mais a presidência de honra da Beija-Flor, com o patriarca Anisio Abraão. A escola acumula 12 títulos de campeã do Carnaval, e ele, duas passagens pela cadeia.
Elio Gaspari
Coluna na Folha de S.Paulo, 15/05/2011

Governo obeso (bota obesidade nisso...)

O governo está precisando de um Programa Fome Zero, literalmente.
Ou seja, um regime radical de emagrecimento e reposicionamento (como diriam os consultores de organização e métodos, e até de marketing) que o levasse dos 40 e tantos ministérios, para menos da metade.
Sim, o governo poderia começar seu programa de eficiência demitindo metade da galera que pulula (também literalmente) na Esplanada dos Ministérios e adjacências. Sim, quando você pensa que todo mundo está instalado na Esplanada e seus dois ou três anexos atrás dos prédios titulares (eram 19, na origem, se não me engano), aí você descobre que tem dezenas de outros ministérios, autarquias e outros órgãos públicos espalhados por todas as áreas vivas (algumas mortas também) de Brasília, numa profusão inacreditável.
Certos órgãos estão em prédios de luxo, em setores comerciais, e não dá nem para imaginar o aluguel milionário que pagam, só para existir (melhor se não existissem, não é mesmo).
Eu já tive essa experiência: ao falar com um ou outro colega ou conhecido em determinado órgão, eu digo: "Bem como está essa experiência de ter de acordar mais cedo para poder estacionar nos parkings cada vez mais lotados da Esplanada?"
Qual o quê!? Fulaninho está num elegante prédio comercial, com garagem privativa e todo o conforto requerido (claro, tem o engarrafamento na saída e na entrada, mas no resto do tempo é ambiente climatizado).
Brasília é assim: pletora de órgãos da administração e uma eficiência digna de... (bem, vocês colocam aí o que quiserem...).
Sinceramente: se o governo quiser ser mais eficiente, precisaria primeiro passar por um enxugamento exemplar.
Paulo Roberto de Almeida

O desafio de mudar a máquina
Editorial - O Estado de S.Paulo
15 de maio de 2011

A presidente Dilma Rousseff deu o primeiro passo para cumprir uma de suas promessas mais importantes - elevar a qualidade do gasto público e, como condição para isso, modernizar e tornar mais eficiente a administração federal. Enquanto o setor privado luta por um espaço nos mercados do século 21, o governo funciona segundo padrões incompatíveis com as demandas de um país moderno e democrático. A Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, instalada na quinta-feira, poderá ajudar a presidente a eliminar esse descompasso entre um Brasil em busca de inovação e uma administração pública amarrada a práticas e vícios do passado. Nada garante o êxito dessa tentativa. A experiência brasileira tem sido pouco animadora nesse campo, especialmente nas últimas três décadas. Mas a presidente Dilma Rousseff decidiu apostar e descreveu a criação desse grupo como um dos momentos fundamentais para a definição dos rumos de seu governo.

Para presidir a Câmara foi convidado o empresário Jorge Gerdau Johannpeter. Três outros empresários e quatro dos principais ministros também comporão o grupo. A função desse colegiado será propor iniciativas para racionalizar a gestão federal, cortar custos e elevar a qualidade dos serviços prestados.

Gerdau terá uma sala no Palácio do Planalto, perto do gabinete da Presidente, e anunciou a intenção de passar pelo menos um dia por semana em Brasília. Não há por que duvidar da boa disposição desse grupo. Mas seus poderes serão limitados e a aplicação de seus conselhos dependerá da ação política da presidente Dilma Rousseff. É preciso dar muito peso à palavra "política". Haverá resistência às tentativas mais audaciosas de mudar os padrões da administração. Parte da resistência virá da companheirada - sindicalistas e membros do PT e dos partidos aliados.

Na história da República houve poucas tentativas sérias de reforma e de modernização da máquina federal. Os primeiros passos foram dados nos anos 30 e no começo dos 40. Na década seguinte o Estado ganhou novos instrumentos de ação, como a Petrobrás e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Mas, para executar seu plano de desenvolvimento, o presidente Juscelino Kubitschek instalou uma administração paralela, formada pelos grupos executivos setoriais. Se tentasse uma reforma, gastaria todo o mandato.

A nova tentativa de reforma ocorreu no regime militar. Além da desburocratização orquestrada pelo ministro Hélio Beltrão, houve um esforço para adoção de padrões de trabalho mais modernos e um investimento importante na formação de quadros. Muitos funcionários foram estimulados a pós-graduar-se no Brasil e no exterior. O Banco do Brasil funcionou como fornecedor de pessoal técnico para vários setores do governo.

A maior parte dos anos 80 e 90 foi desastrosa para a administração. Desmontaram-se mecanismos, maus e bons, e quase nada se fez de construtivo. Ensaios de reforma foram inócuos. Nos governos do presidente Fernando Henrique Cardoso só houve modernização por meio de privatizações, da adoção de novos critérios fiscais e do fortalecimento da política monetária. Foram grandes mudanças macroeconômicas, mas de alcance limitado pela manutenção de péssimos padrões administrativos.

Esses padrões pioraram consideravelmente nos oito anos de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os quadros do funcionalismo foram inchados. A folha de salários aumentou, sem a contrapartida de serviços mais eficientes e melhores. O aparelhamento político tornou-se regra e a companheirada espalhou-se pelos órgãos de quase toda a administração direta e indireta. Eficiência e produtividade tornaram-se blasfêmias, condenadas como sintomas inequívocos de neoliberalismo. Isso é parte importante da herança deixada pelo presidente Lula.

A presidente Dilma Rousseff participou dos dois mandatos. Deve conhecer os obstáculos políticos a qualquer tentativa séria de reforma da máquina. Por lei, funcionários e salários são quase sagrados. Além disso, qualquer plano de reforma provoca imediata mobilização em defesa de interesses corporativos e partidários. Contra isso a Câmara será impotente. Só a presidente poderá atacar a obra do antecessor.

Think Again: Dictators - Graeme Robertson (Foreign Policy)

Eu gosto muito desse estilo de artigo, consolidado na série "Think Again" da Foreign Policy. Inspirado nesse exemplo, eu fiz uma série de propostas sobre o desenvolvimento brasileiro e sua política internacional, que posso referir aqui:

Paulo Roberto de Almeida:
"Contra a corrente em relações internacionais: treze idéias fora do lugar"
In: Thiago de Oliveira Domingues, Marcel Alexandre Negherbon e Mauri Luiz Heerdt (orgs.):
Relações Internacionais: temas contemporâneos
(Florianópolis: Feneri, 2003; ISBN: 85-89649-01-6, pp. 9-45).

Deve estar disponível, sob alguma outra forma, em meu site.

Nada como ser contrarianista, ou seja, ir contra a corrente das ideias consagradas...
Enfim, já tivemos um presidente que era muito amigo de ditadores: deve estar sentindo a falta de alguns dos seus "amigos"...
Paulo Roberto de Almeida

Think Again: Dictators
BY GRAEME ROBERTSON
Foreign Policy, MAY/JUNE 2011

Arab autocrats may be tottering, 
but the world's tyrants aren't all quaking in their steel-toed boots.

"Dictatorships are all about the dictator."
Rarely, if ever. In the first months after the Arab revolutions began, the world's televisions were filled with instantly iconic images of a crumbling old order: the Ben Ali clan's seaside villa on fire in Tunisia, Hosni Mubarak's stilted pre-resignation speeches in Egypt, Muammar al-Qaddafi's rambling, defiant diatribes from a bombed-out house in Libya. They were a reminder that one of the most enduring political archetypes of the 20th century, the ruthless dictator, had persisted into the 21st.

How persistent are they? The U.S. NGO Freedom House this year listed 47 countries as "not free" -- and ruled over by a range of authoritarian dictators. Their numbers have certainly fallen from the last century, which brought us quite a list: Stalin, Hitler, Pol Pot, Pinochet, Khomeini, and a host of others now synonymous with murderous, repressive government. But invoking such tyrants, while a useful shorthand in international politics, unfortunately reinforces a troublesome myth: that dictatorships are really only about dictators.

The image of a single omnipotent leader ensconced in a mystery-shrouded Kremlin or a garishly ornate presidential palace took hold during the Cold War. But dictatorships don't just run themselves. Performing the basic tasks expected of even a despotic government -- establishing order, levying taxes, controlling borders, and overseeing the economy -- requires the cooperation of a whole range of players: businessmen, bureaucrats, leaders of labor unions and political parties, and, of course, specialists in coercion like the military and security forces. And keeping them all happy and working together isn't any easier for a dictator than it is for a democrat.

Different dictatorships have different tools for keeping things running. The communist regimes of the 20th century relied on mass-membership political parties to maintain discipline, as did some non-communist autocracies. The authoritarian system that ruled Mexico for 70 years -- what Peruvian novelist and Nobel Prize winner Mario Vargas Llosa once called "the perfect dictatorship" -- was orchestrated by the nationalist Institutional Revolutionary Party, a massive organization whose influence extended from the president's compound in Los Pinos to the local seats of government in every tiny village. Egypt's recently departed Hosni Mubarak was similarly buttressed for three decades by his National Democratic Party.

Then there's the junta option: a military-run dictatorship. These have advantages -- discipline and order, and the capacity to repress opponents, among them -- but also drawbacks, most notably a small natural constituency that doesn't extend far beyond the epaulet-wearing classes. The generals who ruled Brazil from 1964 to 1985 solved this problem by offering controlled access to a parliament in which economic elites and other powerful interests could voice their demands and participate in governance. However, this proved to be a difficult balancing act for a military that found it hard to manage elections and the pressures of a public increasingly dissatisfied with its record on the economy and human rights, and the generals ultimately headed back to their barracks.

At the extreme, some authoritarian governments do approximate the dictator-centric regimes of the popular imagination. Mobutu Sese Seko, who ruled Zaire (now the Democratic Republic of the Congo) for more than 30 years, and the Duvalier dynasty in Haiti are classic examples. Here, order is maintained largely by distributing patronage through personal or other networks: clans, ethnic groups, and the like. But paradoxically, these are the most unstable dictatorships. Keeping a government operating smoothly is difficult in the absence of a broad organizational or institutional base, and the whole system rises and falls with the fate of one man.

"The power of the masses can topple autocrats."
Not by itself. In 1989, people power swept across Eastern Europe. Mass strikes in Poland brought the country's communist rulers to the table to negotiate their way out of power. After hundreds of thousands of people gathered in Prague's Wenceslas Square, one of Eastern Europe's most brutal communist regimes crumbled and handed over power in Czechoslovakia to a motley crew of playwrights, priests, academics, and friends of Frank Zappa. In East Germany, teeming crowds simply walked out of communism's westernmost showpiece to seek asylum in, and then reunification with, the West. And people power, as Ferdinand Marcos found to his dismay in the Philippines in 1986, was not limited to communism or Eastern Europe.

But there was far more to the collapse of communism in Eastern Europe and autocratic regimes elsewhere than the impressive moral authority of crowds. As the Chinese showed in Tiananmen Square in 1989, capitulating to pro-democracy activists in the streets is hardly the only option. There have been plenty of other places where people power has failed disastrously in the face of a well-organized military response. In Hungary, the popular uprising of 1956 was brutally crushed by Red Army tanks. Burma's 2007 Saffron Revolution produced little more than life sentences for the country's dissident Buddhist monks; Iran's 2009 Green Revolution fell to the batons of the Basij two years later.

What distinguishes people power's successes from its failures? Size, of course, matters, but autocrats tend to fall to crowds only when they have first lost the support of key allies at home or abroad. The Egyptian military's decision to abandon Mubarak and protect the protesters gathered in Cairo's Tahrir Square, for instance, was crucial to the president's downfall this February.

How can demonstrators persuade regime stalwarts to jump ship? In Eastern Europe, the geopolitical sea change engineered by Soviet leader Mikhail Gorbachev and his allies obviously helped -- but you can't exactly bring down the Iron Curtain again. Regimes with professionalized militaries separate from civilian authorities might be more vulnerable to defections; regimes based on highly ideological political parties are less likely to see their members break ranks. The credible threat of ending up at the war crimes tribunal in The Hague or having your Swiss bank accounts frozen can work wonders as well. But unfortunately for protesters, predicting authoritarian reactions to uprisings is far from an exact science -- which is little consolation when your head is being cracked by a riot cop.

"The more brutal the dictator, the harder to oust."
Unfortunately, true. Reflecting on the French Revolution, Alexis de Tocqueville observed that the "most dangerous moment for a bad government is when it begins to reform." What was correct in the 18th century is, sadly, still true in the 21st. It is probably not a coincidence that the list of authoritarians removed by street protest in recent years is largely populated by rulers whose regimes allowed at least a modicum of political opposition. Tyrants like Serbia's Slobodan Milosevic, Georgia's Eduard Shevardnadze, Kyrgyzstan's Kurmanbek Bakiyev, and Egypt's Hosni Mubarak may have been horrible in many ways, but their regimes were undoubtedly more permissive than those of many who have held onto power to this day.

If this is true, why do any dictators allow opposition in the first place? And why don't they simply go the full Tiananmen at the first sign of protest? Because running a truly ghastly dictatorship is tougher today than it used to be.

The interconnections of 21st-century civilization make it harder to control information and far more difficult and costly to isolate a country from the outside world than it was in the 20th. The death of communism, meanwhile, has robbed leftists and right-wing strongmen alike of a cover story for their anti-democratic practices. In the past decade, rulers of countries such as Uzbekistan and Yemen have used the West's newfound fear of militant Islam -- and the logistical necessities of the United States' post-9/11 wars -- to similar ends, but they number far fewer than the ideological tyrants who divvied up whole continents under Cold War pretexts a generation ago.

The result is that in more and more places, rulers are compelled to justify their practices by adding a touch of "democracy." Vladimir Putin chose to stand down -- though not far down -- in 2008 rather than break Russia's constitutional ban against a third consecutive presidential term, and even the Chinese Communist Party allows some competitive elections at the town and village levels. There are exceptions to this trend, of course: Turkmenistan, North Korea, and Burma spring to mind. But such regimes feel increasingly like remnants of the late, unlamented 20th century, rather than harbingers of things to come.

"Personality cults are crazy."
Crazy like a fox. Do North Koreans really believe that Kim Jong Il can change the weather based on his mood? Do Libyans think Qaddafi's Green Book is a brilliant work of political philosophy? Do Turkmen really think that the Ruhnama, the religious text authored by their late post-Soviet dictator -- and self-styled spiritual leader -- Saparmurat Niyazov, is a sacred scripture on par with the Quran and the Bible?

Probably not, but for the dictators' purposes, they don't have to. As political scientist Xavier Márquez has argued, personality cults are as strategic as they are narcissistic. Part of the problem that dictators' would-be opponents face is figuring out who else opposes the leader; compelling the populace to publicly embrace preposterous myths makes that harder still. Official mythmaking is also a means of enforcing discipline within the regime. Stalin -- the progenitor of the modern dictator personality cult -- understood well that his self-mythologizing would be too much for some of his old comrades to swallow; Lenin, after all, had specifically warned against it. But those who might have objected were swiftly dispatched. For the apparatchiks who remained, submitting to the cult was humiliating -- and humiliation is a powerful tool for controlling potential rivals.

But personality cults, like most authoritarian technologies, have their drawbacks. The bigger the cult, the bigger the challenge of succession. Heirs to the throne really have just two options: dismantle the cult or go one better. The former is perilous; in the Soviet Union, Nikita Khrushchev's famous 1956 secret speech -- the posthumous critique of Stalin that gave us the term "personality cult" -- was, after all, secret, deemed too explosive for the Soviet public. Today, North Korea's ruling Kim family illustrates the hazards of the alternative: Now that the official newspapers have already reported that the current Dear Leader, Kim Jong Il, has mastered teleportation, what's his son and newly designated heir, Kim Jong Un, supposed to do for an encore?

"Sometimes it takes a dictator to get the job done."
Actually it doesn't. The past two years have not done much to advertise the abilities of the Western democratic model of government to take large and painful but necessary actions. Frustrated over everything from a failure to balance budgets to an apparent inability to face up to the challenges of climate change, more than a few Westerners have turned their gaze wistfully toward the heavy-handed rule of the Communist Party in China. "One-party autocracy certainly has its drawbacks," the New York Times' Thomas Friedman wrote in a 2009 column. "But when it is led by a reasonably enlightened group of people, as China is today, it can also have great advantages." This March, Martin Wolf wrote in the Financial Times about how "China has achieved greatness."

This romanticizing of authoritarianism is not new; Augusto Pinochet's murderous regime in 1970s Chile was once cheered by many in Washington as an ugly but necessary instrument of economic reform. Yearning for a strong hand, however, is rooted in several fallacies. First, it conflates the failings of one form of democracy -- in Friedman's case, the gridlocked American version -- with an entire category of governance. Second, it assumes that dictators are more able than democrats to undertake unpopular but essential reforms. But unpopular decisions don't simply become popular because an autocrat is making them -- just remember the late North Korean finance chief Pak Nam Gi, who ended up in front of a firing squad following the public backlash against the confiscatory currency reform the Kim regime pushed through in 2009. In fact, authoritarians, lacking the legitimacy of popular election, may be even more fearful of upsetting the apple cart than democrats are. In Putin's Russia, for instance, leaders are unable to dial back the massive military expenditures that keep key constituencies quiet but that even their own ministers recognize to be unsustainable.

Besides, suggesting that dictators can force better policies upon their people assumes that a dictator is likely to know what those better policies are. The idea that there are technocratic solutions to most economic, social, and environmental problems might be comforting, but it is usually wrong. Such questions rarely have purely technical, apolitical answers -- and only in a democracy can they be aired and answered in a way that, if not entirely fair, is at least broadly acceptable.

"Digital revolutions are bad news for autocrats."
Not necessarily. New technologies -- from the fax machine to the Internet to Facebook -- have invariably been heralded as forces for upending dictatorial regimes. And of course, if cell phones and Twitter made no difference at all, then pro-democracy activists wouldn't use them. But the real test of technology is its ability to shift the balance of power between dictators and those trying to unseat them -- to make revolutions more frequent, faster, or more successful. And though it's too early to know for sure, the arc of revolutions in 2011 doesn't look that different so far from the lower-tech upheavals of 1989, or, for that matter, 1848.

What makes a difference is how quickly authoritarians can work out how to counter a new innovation, or use it themselves. Sometimes this happens quickly: The barricades invented in Paris that made the revolutions of 1848 possible were briefly useful, but militaries soon figured out how to use cannons against them. Similarly, today's authoritarians are already learning how to use cell phones and Facebook to identify and track their opponents. In Iran, for instance, Facebook posts, tweets, and emails were used as evidence against protesters in the wake of the failed Green Revolution.

As it happens, some of the most enduring innovations have been the least technological. Mass protests, petitions, and general strikes, though now ubiquitous tactics, were at first ideas as novel as Twitter, and they have continued to play a crucial role in spreading democracy and civil rights around the world. It's a useful reminder that not all the new tools that matter come in a box or over a Wi-Fi connection.

"Dictatorship is on the way out."
Not in our lifetime. The recent upheavals in the Middle East, though inspiring, have happened against a gloomy backdrop. Freedom House reported that in 2010, for the fifth year in a row, countries with improving political and civil rights were outnumbered by ones where they were getting worse -- the longest such run since the organization started collecting data in 1972. Two decades after the Soviet Union's collapse, democracy may be robust in formerly communist Central Europe, Latin America, and even the Balkans, but most former Soviet states remain quite authoritarian. And though a few Arab countries are newly freed of their tyrants, they are still very much in transition. Being poor or corrupt, as Egypt and Tunisia are, does not rule out being democratic -- think of India -- but it does make it harder to build a stable democratic system.

Nevertheless, the Arab revolutions have offered a spark of hope, one that has clearly worried dictators in places as far off as Moscow and Beijing. The question is what the world's liberal democracies should do, or not do, to push things along. Survey the United States' long history of democracy-promotion successes and failures, and the inescapable lesson, even setting aside recent adventures in Iraq and Afghanistan, is that less is usually more. Providing aid -- as the United States did to the opposition in places like Serbia, Ukraine, and Georgia -- or simply setting an example are better means of toppling a dictator than actually doing the toppling.

But in either case, it's important to remember that powerful Western friends aren't everything. After all, the lesson of Tunisia and Egypt is that dictators sometimes fall despite, not because of, American help.

Graeme Robertson is assistant professor of political science at the University of North Carolina at Chapel Hill and author of The Politics of Protest in Hybrid Regimes.

Pausa para... hora da Justica: Bin-Laden preso no Brasil...

Não é difícil imaginar isso: de acordo com os filmes de Hollywood, nove entre dez criminosos fugitivos escolhem o Brasil como sua terra de acolhimento (o décimo deve ir para o México e nunca se ouve mais falar dele). Desses que vieram ao Brasil, metade fica famosa, casa, tem filhos e passa a desfrutar de uma vida tranquila. São até convidados para falar na televisão.
(Quem quiser fazer uma pesquisa sobre os filmes de Hollywood que "mandam" seus bandidos para o Brasil, estimulo a apresentar projeto: pode até ganhar uma bolsa do CNPq.)

Bem, e se Osama Bin-Laden bin Laden escolhesse o Brasil como sua terra de acolhimento e se por um desses azares da sorte (mas seria muito azar, porque aqui é quase impossível acontecer uma coisa dessas) ele tivesse sido preso no Brasil?
Veja abaixo os prováveis desdobramentos.


1. Os advogados dele teriam que estar presentes na hora da prisão para garantir seus direitos;

2. Todas as escutas seriam consideradas ilegais por não terem autorização de um juiz;

3. Os policiais e militares envolvidos seriam acusados de abuso de poder;

4. Em três dias, teria um habeas corpus decretado por irregularidade nas investigações;

5. Por ser réu primário, não possuir outra condenação, ter nível superior e endereço fixo, seria logo posto em liberdade;

6. Por possuir livre direito de ir e vir, seria liberado para visitas a Meca;

7. Pelo direito de ampla defesa, alocaria milhares de testemunhas a seu favor;

8. O processo levaria uma década, com ele em liberdade provisória;

9. Condenado à pena máxima de 35 anos por terrorismo, cumpriria 1/6 da pena;

10. No cumprimento da pena, poderia receber visitas das suas cinco esposas e seria liberado para sair nos feriados, inclusive no Natal (!);

11. Após alguns meses preso, um juiz decretaria que a prisão dele é ilegal porque o terrorismo não consta do Código Penal;

12. E para não manchar a imagem do Brasil no mundo como país politicamente repressor, ele seria obrigado a doar 10 cestas básicas para as obras assistenciais da Irmã Dulce.

Como mandam nossas leis, a Justiça teria sido feita!