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domingo, 21 de agosto de 2011

A destruicao da escola publica pela universidade - Jose Maria e Silva

Um importante artigo sobre a tragédia educacional brasileira.

ESCOLA PÚBLICA
Vítima indefesa das universidades
José Maria e Silva
Jornal Opção (Goiânia), 21/08/2011

O Ideb na porta das escolas não vai medir o mais grave problema da educação brasileira: a pedagogia da destruição que as universidades impõem ao ensino público

O go­ver­no go­i­a­no, por in­ter­mé­dio da Se­cre­ta­ria Es­ta­du­al de Edu­ca­ção, ado­tou uma me­di­da pi­o­nei­ra no Pa­ís — a trans­for­ma­ção do Ín­di­ce de De­sen­vol­vi­men­to da Edu­ca­ção Bá­si­ca (Ideb) nu­ma es­pé­cie de DNA das es­co­las. A par­tir de ago­ra, to­das as es­co­las es­ta­du­ais se­rão obri­ga­das a os­ten­tar uma pla­ca com a no­ta ob­ti­da no Ideb, tor­nan­do pú­bli­co seu su­ces­so ou fra­cas­so no re­fe­ri­do ín­di­ce. Co­mo pai da ideia, o em­pre­sá­rio e eco­no­mis­ta Gus­ta­vo Ioschpe, pen­sa­dor ad hoc da edu­ca­ção, es­te­ve em Go­i­â­nia res­pal­dan­do a de­ci­são do se­cre­tá­rio de Edu­ca­ção, Thiago Pei­xo­to. Em seu Twit­ter, no fi­nal da tar­de de se­gun­da-fei­ra, 15, Ioschpe não es­con­deu o en­tu­si­as­mo: “Sa­in­do de Go­i­â­nia. Ideb na Es­co­la lan­ça­do na re­de es­ta­du­al de Go­i­ás. Pri­mei­ro Es­ta­do. Gran­de vi­tó­ria. Va­mos em fren­te”.

A pro­pos­ta de Gus­ta­vo Ioschpe ga­nhou for­ça en­tre as au­to­ri­da­des do Pa­ís e ten­de a vi­rar lei fe­de­ral, va­len­do pa­ra to­das as es­co­las bra­si­lei­ras. É o que pre­vê pro­je­to de lei do de­pu­ta­do fe­de­ral Ro­nal­do Cai­a­do (DEM), apre­sen­ta­do na Câ­ma­ra dos De­pu­ta­dos em 7 de ju­nho. No mes­mo dia, o de­pu­ta­do Ed­mar Ar­ru­da, do PSC do Pa­ra­ná, apre­sen­tou pro­je­to se­me­lhan­te, que foi apen­sa­do ao do par­la­men­tar go­i­a­no. Uma se­ma­na de­pois, em 15 de ju­nho, foi a vez do de­pu­ta­do Fer­nan­do Tor­res, do DEM da Ba­hia, apre­sen­tar pro­je­to pra­ti­ca­men­te idên­ti­co, tam­bém apen­sa­do ao de Cai­a­do. E na mes­ma da­ta, cou­be à se­na­do­ra Lú­cia Vâ­nia, do PSDB de Go­i­ás, inau­gu­rar es­sa dis­cus­são no Se­na­do, com um pro­je­to de lei do gê­ne­ro.

Além des­sas ini­ci­a­ti­vas no Con­gres­so Na­ci­o­nal, di­ver­sas As­sem­blei­as Le­gis­la­ti­vas e Câ­ma­ras Mu­ni­ci­pa­is pe­lo Pa­ís afo­ra es­tão dis­cu­tin­do pro­je­tos se­me­lhan­tes, to­dos eles ins­pi­ra­dos na pro­pos­ta de Gus­ta­vo Ioschpe. No ca­so dos pro­je­tos de lei que tra­mi­tam no Con­gres­so Na­ci­o­nal, o mais ou­sa­do é o de Ro­nal­do Cai­a­do, pois ele obri­ga to­das as es­co­las do en­si­no bá­si­co — não só as pú­bli­cas, mas tam­bém as par­ti­cu­la­res — a exi­bir a no­ta ob­ti­da no Ideb. Se apro­va­do, o pro­je­to de Cai­a­do exi­gi­ria adap­ta­ções no Ideb, pois a Pro­va Bra­sil, um dos in­di­ca­do­res que com­põ­em o ín­di­ce, é apli­ca­da por amos­tra­gem no en­si­no pri­va­do e não uni­ver­sal­men­te, co­mo ocor­re no en­si­no pú­bli­co ur­ba­no.

LEIAM A ÍNTEGRA neste link.

Minha concepção da Historia: comeco de um debate

Coloquei, num post dedicado ao "fim de Bretton Woods" (1971-1973), este comentário muito rápido, que agora transcrevo a seguir:

Se me perguntassem quais os mais importantes eventos, fatos ou processos do século XX, eu não hesitaria em alinhar:

1) Primeira Guerra Mundial (e suas consequências econômicas)
2) O desastroso Tratado de Versalhes (que abriu caminho à Segunda)
3) A depressão dos anos 1930 (vejam bem, não é a crise de 1929)
4) A Segunda Guerra Mundial (que na verdade é mera consequência de Versalhes)
5) Bretton Woods, em 1944 (como pilar da nossa ordem econômica, ainda hoje)
6) A tomada do poder pelos comunistas na China, em 1949 (e os desastres que se seguiram)
7) O "fim de Bretton Woods", em 1971-73 (e a bagunça financeira mundial)
8) O fim do comunismo em 1991 (vejam bem, não é a implosão da URSS, que é mera consequência)

Enfim, depois eu desenvolvo a minha "concepção" da história.


Recebi, a este propósito, um comentário anônimo assim redigido:
Anônimo disse...
o fim do comunismo é um evento importante, mas o início não é? Muito estranho seu critério.
Domingo, Agosto 21, 2011 2:17:00 PM


Respondi, brevemente, desta maneira (mas o debate está aberto):

Minha concepção da história tem variáveis que explicarei muito bem em trabalhos futuros.
O começo do comunismo é totalmente desimportante. Foi, em primeiro lugar, um evento fortuito, totalmente dependente da guerra na frente oriental e da estratégia alemã de neutralizar a Rússia (o que foi muito bem sucedido). Em segundo lugar, houve apenas um putsch, um golpe militar, e a substituição de um governo provisório por outro, muito confuso, enredado numa guerra civil durante tres anos, e sem a certeza de que iria sobreviver. Pelo menos até 1924 ou 1927, não se sabia se o comunismo seria um sistema viável na Rússia, e de fato não foi, nunca foi, a não ser pelo "despotismo oriental" criado por Stalin, uma escravidão moderna.
O comunismo poderia, por exemplo, ter desaparecido sob os tanques hitleristas, se as democracias ocidentais (EUA e UK) não tivessem ajudado a sobrevivência de Stalin e de seu regime.
Ou seja, até 1945, pelo menos, o comunismo soviético não conta, como força efetiva na história, a não ser pela criação de dezenas de partidos comunistas ao redor do mundo, que teriam sua importância, mas já na Guerra Fria, quando a URSS se torna, aí sim, uma grande potência.
Ou seja, o nascimento do comunismo não teve maior impacto na história mundial, e se deveria, então, agregar, como consequência da Segunda Guerra Mundial, a ascensão da URSS como grande ator internacional, mas isso foi um processo também mais fortuito do que inevitável.
O que teve importância, sim, foi a derrocada do comunismo, que em certo sentido representou, efetivamente, um "fim da História".
Desenvolverei esses pontos mais adiante...
Paulo Roberto de Almeida

Guia Politicamente Incorreto da America Latina - Leandro Narloch e Duda Teixeira

Recebi, de presente, e estou lendo, com bastante prazer, este livro:

Leandro Narloch e Duda Teixeira:
Guia Politicamente Incorreto da América Latina
(São Paulo: Leya, 2011, 336 p.)

Enfim, o prazer é meu, pois além de informações novas, desconhecidas para mim (até certa medida), os dois autores se empenham em desmantelar as grandes mentiras, as deformações e os equívocos (de natureza histórica e outras) que cercam a história de nosso continente (que aliás não existe, estrito senso), tarefa que eu mesmo faço em muitos outros textos meus de feição mais acadêmica, como por exemplo nesta série:

Falácias acadêmicas: ensaios sobre alguns mitos correntes

Imagino, porém, que outra categoria de leitores, se por acaso acederem ao livro -- o que talvez seja altamente improvável -- o lerá com imenso desprazer, rangendo os dentes e amaldiçoando os autores. Os descontentes serão os que aprenderam a versão deformada da história, aquela que pode ser encontrada em um livro famoso, do mais famoso idiota latino-americano: Eduardo Galeano, Las Venas Abiertas de América Latina (centenas de edições, não preciso dizer).

(Abre parênteses: Nem sempre a história é escrita apenas pelos que venceram; em alguns casos, ela é escrita também pelos que perderam, e sua versão predomina, como parece ser evidente no caso brasileiro em relação a toda a história política dos anos 1960 em diante, quando a versão marxista da história passa a predominar, a despeito do fato de que os militares deram um golpe contra a "ameaça comunista". Claramente, a versão comunista impôs-se como "oficial", pelo menos em TODOS os livros didáticos que são distribuídos nas escolas brasileiras. O mais curioso é que a versão deformada da história predomina mesmo nos livros de história geral, que tem a ver com o capitalismo e o mundo atual: parece que o socialismo, a despeito de todos os fracassos acumulados, ainda é um "bom" sistema, e que o capitalismo só comete perversidades. Muitas dessas deformações, relativas à América Latina, são criticadas no livro de Plinio Apuleyo Mendoza, Carlos Alberto Montaner e Álvaro Vargas Llosa, "Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano", onde Galeano é desmentido como deveria, mas onde também sobra para teorias inconsequente como a "dependência" de Fernando Henrique Cardoso. Fecha parênteses)

Os autores deste novo livro, dois jornalistas, não se dedicaram apenas a desmentir o que desde já pode ser chamado de gigantesca empresa de desinformação sobre a América Latina, mas pesquisaram seriamente para oferecer, não uma outra versão, oposta à primeira, mas uma história simplesmente mais correta, mais compatível com a realidade, mais conforme os documentos e testemunhos fidedignos, não o emaranhado de mentiras e meias verdades que costuma frequentar versões idílicas (ou catastróficas, segundo os casos) da história da região. Eles vão desmantelando mitos, desbancando personagens históricos de seus pedestais, contribuindo para uma correta apreciação de nossa história, e retirando os bodes expiatórios (entre eles, o imperialismo em primeiro lugar), que pretenderiam explicar por que somos tão pobres, tão atrasados, tão desiguais, tão corruptos, tão difíceis em corrigir todos esses males.
Leandro Narloch já tinha assinado um bem-vindo Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, em que também desmantela mitos e equívocos da nossa história. Duda Teixeira realizou inúmeras viagens pela região e fora dela, trabalhando para a revista Veja, nas quais pode conhecer muito bem o histrionismo, o populismo e as farsas vigentes em vários países.

Não vou descrever agora o livro, pois ainda estou lendo, mas já li os capítulos sobre o Chile de Allende e sobre o Haiti. Ainda tem muito mais a descobrir, com ditadores e personagens famosos, tristemente famosos, eu diria.

Posto aqui o link para os comentários de Rodrigo Constantino sobre o livro:

Leandro Narloch e Duda Teixeira:
Guia Politicamente Incorreto da América Latina

O Brasil no Council on Foreign Relations: em 2001 e em 2011

Percepções do Brasil no mundo
Celso Lafer
O Estado de S.Paulo, 21 de agosto de 2011

"Política é nuvem, vai tomando novas formas." "Tão importante quanto o fato são as versões que assume." Essas frases apontam para o fato de que a palavra política designa ao mesmo tempo a realidade e a consciência que dela tomamos. Por isso, a percepção da realidade faz parte da própria realidade e o jogo da vida pública transita pela interação dos acontecimentos com múltiplos significados que lhes atribuímos ao conhecê-los.

Essa interação caracteriza as sociedades contemporâneas, que, por serem voltadas para o futuro, vivem impregnadas pela noção de risco, com as suas dimensões de probabilidade e incerteza. Por essa razão, hoje em dia as expectativas têm, num mundo interdependente, um papel decisivo, tanto na vida econômica quanto na política.

As agências de rating de crédito dos países impactam, positiva ou negativamente, as economias porque sinalizam expectativas dos riscos futuros da sua sustentabilidade. Também na vida política as percepções sobre a qualidade ou imperícia das lideranças no trato dos problemas, os méritos ou deméritos das instituições, a natureza dos conflitos vão tecendo os cenários de expectativas que cercam a dinâmica de funcionamento de um sistema político. Na elaboração das percepções políticas e econômicas atuam os meios de comunicação, as redes sociais e a instância dos analistas qualificados.

O mesmo ocorre na apreciação dos ativos e passivos de um país no plano internacional, a partir de duas vertentes de estimativa. A primeira diz respeito à configuração da ordem mundial. A segunda resulta das características do seu desenvolvimento interno. Um bom exemplo da dinâmica desse processo de ponderação das expectativas é o contraste entre a avaliação feita em fevereiro de 2001 por um grupo de trabalho do Council on Foreign Relations, coordenado por Kenneth Maxwell, e o recém-publicado relatório elaborado pelo grupo de trabalho conduzido por Julia Zweig. Ambos analisam o papel do Brasil no mundo e as relações entre o nosso país e os Estados Unidos, e provêm de uma reputada instituição norte-americana dedicada ao entendimento do mundo e das opções da política externa dos EUA. Os dois relatórios têm, para nós, o mérito de articular o significado da percepção do Outro, que é tão importante para a condução da política externa num mundo globalizado.

O relatório de 2001 é sucinto, em contraste com o de 2011, que é muito mais abrangente e analítico. O de 2001 foi elaborado numa época de primazia dos EUA no mundo. O de 2011 leva em conta que os EUA precisam adaptar-se às novas realidades de uma ordem multipolar. O relatório de 2001 tem como pano de fundo as crises financeiras da década de 1990, que afetaram o Brasil. Reconhece avanços positivos no plano interno e identifica o Brasil como um ator de inquestionável peso regional com interesses gerais no funcionamento do sistema internacional. O relatório de 2011 tem como horizonte a positiva maneira como o nosso país lidou com a crise financeira de 2008 e reconhece que o Brasil alcançou um novo patamar de presença no mundo multipolar da atualidade, tanto como ator global quanto como motor do crescimento da América do Sul. Daí, para os EUA e os países latino-americanos, a importância de ajustarem suas percepções ao significado da ascensão brasileira no mundo. Nesse contexto, o relatório recomenda ao governo norte-americano endossar o pleito brasileiro de um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. No trato das relações Brasil-EUA, explora o espaço das convergências e lida, com sensibilidade diplomática, com as diferenças de perspectivas e interesses.

O relatório destaca o cumulativo impacto positivo dos últimos 16 anos, proveniente das Presidências FHC e Lula, realçando o significado da consolidação democrática, dos méritos das políticas econômicas que levaram ao controle da inflação e das políticas sociais de inclusão que propiciaram o declínio das desigualdades de renda e a emergência de uma nova classe média.

O relatório de 2011 aponta para os avanços positivos dos ativos brasileiros relevantes para a presença do nosso país no mundo (agricultura, mineração, energia, meio ambiente, etc.) e também indica a agenda de desafios para o futuro da sua sustentabilidade. Entre eles, o da melhoria da educação, o do necessário aprofundamento do que está sendo feito no campo da pesquisa e da inovação, da superação do significativo déficit de infraestrutura, que compromete a logística e a competitividade do País.

A temática da sustentabilidade do novo patamar da presença do Brasil no mundo comporta, como é natural, outras facetas internas e externas que não foram circunstanciadamente examinadas no relatório. Do ponto de vista político, quero, como cidadão, realçar o significado de um grande item para a democracia brasileira tão presente no debate nacional: o da corrupção.

A democracia baseia-se na confiança recíproca entre os cidadãos e na destes nas instituições. A corrupção (que vem do latim corrumpere e significa destruir) é um agente de decomposição da substância das instituições públicas. Tem um alcance que vai além das condutas transgressivas individuais, pois enseja o que Raymond Aron chama de corrupção do espírito público por conta do intercâmbio clandestino entre o mercado político e o econômico. No caso do nosso país, estamos presenciando o comprometimento do espírito público que norteou a redemocratização e a elaboração da Constituição de 1988 e que, ao propiciar uma cultura política de ampliação da cidadania, foi o grande ponto de partida das positivas transformações do Brasil. O episódio do "mensalão" foi o momento inaugural da negativa inflexão do espírito público.

Cabe lidar com esse desafio, levando em conta o que dizia Machado de Assis: "A corrupção escondida vale tanto como pública, a diferença é que não fede".

PROFESSOR TITULAR DA FACULDADE DE DIREITO DA USP, MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS E DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, FOI MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES NO GOVERNO FHC

sábado, 20 de agosto de 2011

Agruras financeiras do Barao do Rio Branco em Berlim - Roberto Lopes

Apenas transcrevo:

As agruras do Barão
Oh, que azar de genro!...
Por Roberto Lopes
Revista Leituras da História, n. 42, 2011

Empobrecido pelos gastos com o casamento de sua filha, Amélia, e desassistido pelo Itamaraty, Rio Branco leva vida modesta na cara Berlim, e ainda tem que lidar com as dificuldades financeiras da moça, unida a um aristocrata germânico pouco afeito ao... trabalho!
Naquele 1901, orgulhoso e ingênuo, o Ministro brasileiro em Berlim deu um crédito de confiança à união de Gustav e Amélia. Em outubro ele mandou um telegrama a seu amigo e colega Joaquim Nabuco, convidando-o para ser o padrinho de casamento de sua filha. Desgraçadamente, o matrimônio produziria uma história infeliz, que muitos dissabores iria causar ao diplomata brasileiro.

Amélia não tardou a escrever ao pai, pedindo emprestado algum dinheiro. "Não disponho de nada", respondeu contristado Rio Branco. "O pouco que possuía deixei em garantia a um banco por ocasião do teu casamento, para contrair uma dívida de cinquenta mil francos, da qual pago os juros, e que, até este momento, me foi impossível amortizar, mesmo em parte".

Acudir os da família parece ser a sina do Barão. Em 1887, ele precisara deixar um serviço no exterior para ir ao Rio socorrer a irmã mais nova Maria Luísa, que se casara com um pobretão chamado José Bernardino da Silva, e com ele tivera uma penca de filhos - seis, exatamente. Na juventude Maria Luísa chegara a fugir de casa para ir viver com Bernardino. Mas em 87, no seu pedido desesperado de ajuda ao irmão diplomata, ela confessa que o marido "enlouquecera no espiritismo". Mais tarde o Barão precisará ajudar financeiramente a filha Marie Clotilde, que, em novembro de 1898, se casara com o francês Henri Herbert, um pequeno comerciante amigo de Raul do Rio Branco.

De volta ao Brasil em 1902, para assumir o Ministério das Relações Exteriores, o Barão do Rio Branco assistiu, ainda nesse ano, o nascimento de Maria Margarida, primeira filha do casal Gustav e Amélia. Dois anos mais tarde a menininha ganharia um irmão, José Maria - batizado, obviamente, em homenagem ao avô famoso.

Diplomata e Barão, Rio Branco esteve sempre no imaginário popular de sua época - como um representante do Brasil na cena internacional de reconhecida qualificação e grande reputação. Nem o título de nobreza, nem o fato de pertencer à faixa mais elitizada do serviço público, o distanciaram do carinho das ruas. Na segunda semana de 1912, seu féretro levou milhares de pessoas às ruas. Dois anos mais tarde, Amélia do Rio Branco pediu o divórcio de Gustav von Werther - acerca de quem circulou, bem mais tarde, a notícia de que havia se suicidado.
É 1901. Seus primeiros dias em Berlim, José Maria da Silva Paranhos, o Barão do Rio Branco, novo Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário do Brasil no Império Alemão, passou hospedado com a família no Palast-Hotel da Leipziger Platz, um prédio imponente, com frentes também para a Potsdamer Platz e para a Koniggrätzerstrasse.

O edifício abriga 110 quartos, e possui halls e salões luxuosos, além de cafeteria - um endereço que, sem ser o mais sofisticado da capital do Reich, era ainda caro para o bolso do novo Representante Diplomático do Rio. Mas logo o grupo mudou-se para um apartamento térreo da Romaniches Haus, no número 10 da movimentada Kufurstendamm, bem no coração da cidade. Acompanhavam o Barão, de 56 anos, seu filho Raul, de 29, e as filhas Amélia, 23, e Hortênsia, de apenas sete anos. A esposa do chefe de missão - a corista belga Marie Philomène Stevens - morrera em Paris.

Informado de que precisaria esperar quase dois meses para apresentar-se a Wilhelm II, o soberano local, Rio Branco viajou à França para rever os amigos e desfrutar de um de seus prazeres prediletos: a boa mesa. A 18 de maio ele participou de um banquete em homenagem ao jovem escultor Félix-Maurice Charpentier. Eventos desse gênero - organizados com pompa e requinte - eram comuns na Paris do início do Século 20. O de Charpentier reuniu personagens do mundo das artes - Girard, Roybet e Gabriel Ferriere - e personalidades da política francesa: o Presidente da Câmara dos Deputados, Paul Deschamel, o Governador da Indochina, Paul Doumer, e nomes que alcançariam o auge da fama no trágico período da opressão Nazi-fascista sobre a Europa, como os Deputados Gaston Doumerge e Paul Faure. Eram, ao todo, 28 convidados. Rio Branco, o único diplomata estrangeiro - e, ainda por cima, acreditado na Alemanha...

O cardápio previa iguarias como Creme "Joinville", truta defumada ao molho "Genevoise", filé de boi, salada da estação, massas ao estilo italiano, queijos, corbeilles de frutas, biscoitos finos e doces - acompanhados de café e de um digestivo. Para beber, quatro tipos de vinho - "Madère", "Médoc", "Graves" e "St. Julien" - e uma edição especial do champagne "Hotel Moderne".

Com o Imperador
Finalmente, na terça-feira, 28 de maio, Rio Branco avistou-se com Friedrich Wilhelm Viktor Albrecht Hohenzollern. Os arquivos do Ministério das Relações Exteriores guardaram uma descrição desse encontro, no Neues Palais, de Potsdam:

"Vestindo o seu pomposo uniforme dos hussares vermelhos, o Imperador, ao recebê-lo, não se limitou às expressões protocolares na troca de discursos: fez, com largueza, o elogio pessoal do Ministro brasileiro, declarando conhecer os serviços que ele prestara ao seu país e haver acompanhado de perto a sua atuação como advogado em Berna, através dos relatórios do Ministro alemão na Suíça. E, durante vinte minutos de palestra, escolheu Guilherme II certos assuntos que o mostravam muito bem informado a respeito do Brasil: a obra financeira do Governo Campos Sales; a guerra do Paraguai, da qual citou vários episódios que lera em Schneider; a abertura da navegação dos nossos rios interiores, particularmente a do Paraguai, devida aos esforços do Brasil. Referiu-se ainda ao projeto apresentado ao Congresso Latino-Americano de Montevidéu para a ligação, por meio de canais, das duas bacias do Amazonas e do Prata. E, por fim, à colonização alemã no Brasil".
Com 1.888.300 habitantes, a capital alemã oferecia conforto, misturando tradição com modernidade. Há quase 30 anos dispunha de água canalizada. Há quase 20 contava com serviço telefônico. A distribuição de energia elétrica permitira, na década de 90, a inauguração de um serviço de bondes elétricos. E havia ainda a Filarmônica, o Teatro Alemão e a grande novidade do momento: os cinematógrafos de "Atualidades", que desde 1895 informavam e distraíam. Em 1898, Oskar Messter, produtor do noticiário Messter-Woche, acompanhara Wilhelm II em viagens ao estrangeiro.

Outra atração eram as películas dos irmãos Max e Emil Skladanowsky (contemporâneos dos famosos irmãos Lumière), que exibiam cenas de férias populares e outras diversões, narradas por locutor empoleirado em um pódio dentro da sala de projeção.

O único problema dessa fase da vida (e da carreira) de Rio Branco, é que, na Legação, ele não encontrou trabalho suficiente sequer para preencher o horário do expediente. O assunto da imigração alemã para o Brasil era manejado por entidades privadas espalhadas por diferentes cidades. E o acesso aos gabinetes governamentais mostrava-se um tanto dificultoso para os representantes das chamadas "potências de segunda ordem" - como eram conhecidas as nações irrelevantes em termos militares, e de limitada presença econômica internacional (caso preciso do Brasil).

Assessorado pelo filho Raul - um rapaz alto, magro, galanteador e sem o valor intelectual do pai ou do avô - e pelo sobrinho Luís Cavalcanti, o Barão deixarse- ia enredar pela rotina morna e burocrática da Missão que liderava. Pessoa simples e afável, gostava de conversar e de boas anedotas.

A filha Amélia, nascida em Paris, cuida para que a Legação do Brasil na sede do Reich tenha uma aparência de ordem e bom acolhimento - tarefa a que já se entregara quando o grupo vivera em Berna. A pequena Hortênsia, mimada por todos, o Barão entregou aos cuidados da Baronesa de Berg.
Sem peso político
Para o diplomata enfronhado na política européia - alerta, atento aos planos expansionistas da Weltpolitik [política global] "Wilhelmínica" (para ficarmos com uma expressão bem ao gosto dos franceses) -, Berlim era um posto que poderia ser adjetivado de várias maneiras - menos como enfadonho.

A frustração de Rio Branco podia ser mais bem explicada por sua posição marginal no Corpo Diplomático da cidade, como Plenipotenciário do desconhecido Brasil. Mas havia, contudo, outras dificuldades. Em primeiro lugar, é preciso lembrar que o Barão - apesar de pessoa indubitavelmente inteligente e preparada - não era um Representante Diplomático na acepção da palavra. Fizera carreira como agente consular, e até mesmo desse caminho se desviara, enveredando pela pesquisa histórica, que serviria mais tarde para embasar argumentos de caráter jurídico do interesse da República brasileira. Estava mais para Consultor Jurídico especializado em Direito Internacional, do que, propriamente, para chefe de Missão - cargo no qual sua experiência, como já dissemos, era nenhuma.

Em segundo lugar, o Brasil não era um player (como o moderno Itamaraty gosta de caracterizar) da política internacional. O que a República fundada em 1889 pensava ou deixava de pensar acerca das questões europeias, pouco - quase nada - importava às Potências do Velho Continente. As decisões do Rio tinham peso, no máximo, regional, mercê das dimensões continentais do país, de seu potencial humano e das lembranças de uma Esquadra que chegara ao último decênio do século 19, numerosa.

Sem dinheiro
Um terceiro e decisivo ponto para a frustração do Barão na Alemanha era a vida regrada ao extremo, sem sobras de dinheiro, que ele levava. Isso o impedia de mover-se com mais liberdade, inclusive para a coleta de informações junto à aristocracia local e aos colegas do círculo diplomático. Em seu "História da Organização do Ministério das Relações Exteriores", Flávio Mendes de Oliveira Castro - um dos vários sucessores de Rio Branco no Consulado de Liverpool - ressalta que o novo "Regimento para as Legações da República dos Estados Unidos do Brasil", promulgado através do decreto presidencial nº 3.248, de 7 de abril de 1899 - e também conhecido como "Regimento Olyntho Magalhães" -, "não tratou de emolumentos nem de contas ou de despesas. A sua omissão nesse particular é total, com a única exceção do seu artigo 1 quando diz que o Chefe de Legação deveria manter estrita economia na compra de mobiliário, Selos de Armas e arquivos para a instalação da Legação, tendo em vista a decência que cumpria manter e a economia que deveria regular todos os gastos autorizados".

O mais provável é que Magalhães - ele próprio um ex-Plenipotenciário na Europa - tenha se omitido, por saber da necessidade que um chefe de Missão tinha, de, à época, manter-se - e manter sua Legação - em evidência no sofisticado e complicado ambiente europeu. Aparecer bem era meio caminho para inteirar-se das novidades, recolher a boa informação. Retrair era condenar a si próprio - e ao governo representado - ao isolamento e à ignorância.

Contudo, nesse particular, a diplomacia brasileira preferiu aferrar-se ao anacronismo dos tempos do Império, e dos mandamentos do antigo Regimento das Legações Imperiais, que prescrevia: "A regência em Nome do Imperador mui eficazmente Recomenda, e Espera dos Chefes das Legações Imperiais a mais restrita economia nas despesas extraordinárias, que poderão fazer por conta do Tesouro Público Nacional; Declarando-lhes porém que não é de sua Intenção inibi-las de fazer aquelas que forem indispensáveis para que não sofram detrimento nem Dignidade nem o Serviço do Estado, pois Ela unicamente Deseja, que se evitem despesas arbitrárias, que se não acharem previamente autorizadas pela Secretaria de Estado, ou devidamente justificadas pela sua extraordinária urgência".

E Oliveira e Castro ainda lembra: "também não ficaram previstas (no novo Regimento de 1889) as possibilidades dos Chefes de Legação, por iniciativa própria, despacharem expressos (correios diplomáticos) ou de realizarem conferências com outros Ministros brasileiros sobre algum negócio de máximo interesse, que ocorra, e necessite imediata solução".

Sem a ajuda do genro
Ainda em 1901, o Ministro do Brasil no Reich viveu breve momento de emoção, ao casar a bela Amélia com o Barão Gustav Karl Marian von Werther - nobre empobrecido da Prússia, e ainda por cima sem apego ao trabalho, que apesar de dominar perfeitamente os maneirismos sedutores dos jovens europeus da época, almejava apenas alguma posição no serviço público berlinense.

E mesmo ciente dessa realidade, Rio Branco teve a esperança de que o enlace pudesse dar certo. Afinal, o sobrenome Von Werther tinha história na diplomacia europeia. Entre 1824 e 1837, um Von Werther - Wilhelm - chefiara a Embaixada da Prússia em Paris. Cargo que só aceitou abandonar para chefiar, por quatro anos, o próprio serviço diplomático prussiano.

"Celebrando" o declinio do dolar: consequencias economicas de 1971

Um diretor de uma firma de investimentos, oportunista como todos eles, apresenta sua versão de um dos episódios mais momentosos do século XX: a denúncia unilateral pelos EUA do padrão ouro-dólar estabelecido em Bretton-Woods, e as consequências que se seguiram.
Como diria um filósofo mineiro (desculpe Minas Gerais), as consequências sempre vêm depois.
Pois bem, o dólar não cessa de cair, mas não necessariamente devido a 1971, e sim a todas as demais políticas adotadas desde então.
Se me perguntassem quais os mais importantes eventos, fatos ou processos do século XX, eu não hesitaria em alinhar:

1) Primeira Guerra Mundial (e suas consequências econômicas)
2) O desastroso Tratado de Versalhes (que abriu caminho à Segunda)
3) A depressão dos anos 1930 (vejam bem, não é a crise de 1929)
4) A Segunda Guerra Mundial (que na verdade é mera consequência de Versalhes)
5) Bretton Woods, em 1944 (como pilar da nossa ordem econômica, ainda hoje)
6) A tomada do poder pelos comunistas na China, em 1949 (e os desastres que se seguiram)
7) O "fim de Bretton Woods", em 1971-73 (e a bagunça financeira mundial)
8) O fim do comunismo em 1991 (vejam bem, não é a implosão da URSS, que é mera consequência)


Enfim, depois eu desenvolvo a minha "concepção" da história.
Por enquanto fiquem com um investidor metido a historiador.
Paulo Roberto de Almeida

Celebrating 40 Years of Dollar Destruction
Sean Hyman
The Sovereign Investor, August 16, 2011

This week, we’re celebrating the anniversary of the greatest heist in recorded history.
Exactly 40 years ago yesterday, President Nixon severed the dollar’s ties to gold forever.

It was a government game so the politicians could easily pay off their debts with “cheaper dollars” for the foreseeable future.

In reality, this one decision effectively stole all our dollars’ value for decades to come. And you and I are the ones still paying for this mistake.

Strangely this decision also created the $4 trillion Forex market…and eventually sent gold racing above $1,800 an ounce.

But these profitable side effects were not Nixon’s intention…

You see, up until 1971, each dollar was physically backed by gold.

Gold was $35 an ounce and every dollar in circulation could be redeemed for gold. So every dollar was backed by the power and security of gold.

But when Nixon removed us from the gold standard, that responsibility flew out the window – along with the dollar’s long-term value.

It’s the reason the dollar has lost massive purchasing power against other currencies in the last four decades (and gold has risen 51-fold against the buck).

And get this: the worst is still yet to come for the dollar.

I’ll explain how to protect your savings in just a moment. First, let’s take a closer look at how our dollar has lost that much in value.

The Greenback Is Backed By the “Hot Air” of Washington, D.C.

Given that the dollar has lost so much value, backing dollars with gold simply wouldn’t fly today.

As of July 2011 our “reported” gold reserves was 8,133.5 tonnes. Multiple that by the current price of gold ($1,746 as of this writing), and you can see we have a little over $454 billion bucks in gold.

In just the last year, we have had over $1 trillion dollars in circulation. So obviously we don’t have enough gold to cover all that.

But of course, that was the point of taking us off the gold standard. Otherwise, how else would we be able to write blank checks for everything we need?

Back in the Good Old Days, All These Dollars Would Have Had Value
In fact, it’s estimated that if you took all of the gold that has ever been mined in the world, it would only come up to about $5 trillion.Well we print trillions of dollars and run up over $14.6 trillion in debt all by ourselves in the U.S. (and that’s just one country of the world).

All these dollars are only worth something if the U.S. government says so. It’s backed by the U.S. government promise, “we’re good for it.” In other words, our dollars are basically backed by hot air straight from Washington.

But the harsh truth is they couldn’t back all of the dollars in circulation right now even if they wanted to.

Even worse, the more investors realize how shaky our currency is, the more they start looking elsewhere for more fundamentally sound currencies.

That’s one reason why the U.S. just raised our debt ceiling for the 75th time in 50 years. It’s also why the Standard & Poor’s just downgraded our debt.

Toss in the Fed’s nasty habit of creating money out of thin air anytime we need extra resources, bailouts and stimulus packages – and the dollar is in serious trouble.

The Government has Two Choices and Both are Bad… But Here’s What They Will Choose
Our economy is in shambles, and our currency is losing clout every single day. And we are no longer competitive with the rest of the world in terms of exports. We really only have two choices left to stay competitive with the rest of the world.

Either the government can allow “wage devaluation” or “currency devaluation.” In other words, they can let wages fall or let the currency drop in value.

Do you really think Americans will elect politicians that force them to take pay cuts? Heck no! So if the guys in Washington want to keep their jobs, they really only have one choice – devalue our dollars further.

As you can imagine, voters pay closer attention to how many dollars are in their paycheck than how much those dollars buy. (In fact, most Americans don’t even understand the concept of the dollar losing purchasing power anyway.)

That’s why it’s almost too easy for Washington to dilute our currency and accomplish their “cheap dollar” agenda.

A Glimpse Into the Future…
So here’s how all of this is going to play out. The U.S. will continue to stack on more debt and dilute the dollar by creating more money. Call it QEIII or just ridiculously low interest rates until 2013, but either way, this can only end one way.

The dollar is sinking in value, and central bankers around the world know it.

Therefore, they are “ever so quietly” shifting their central bank reserves slowly away from dollars and into currencies that aren’t being diluted, that have superior fundamentals.

Some, like China and India, are even buying up commodities for their reserves (like gold, silver, iron ore, etc.).

This practically guarantees there will be a constant shift away from dollars through the years – especially as our politicians believe the quick solution is “dollar dilution.” But no country in history ever brought themselves to prosperity by continually diluting their currency.

Therefore, you won’t really be able to “protect your dollars” because of the government’s overall agenda.

So what can you do? Well, you can protect your money – your wealth – by taking your money (dollars) and investing them in other currencies that aren’t playing the debt-stacking, currency dilution game.

You can also buy the traditional forms of “hard money” including gold.

Dollars…On Sale…50% Off!
Now remember when I said that our currency will have to be diluted even further?

One well-respected hedge fund manager ran the numbers and said that the dollar would have to be devalued by another 50% to make us competitive with the world again.

That means, if you’re paying $5 for your Starbucks coffee…you’ll be paying $10 in just a few short years. If you’re paying $400 for your car payment now, better get used to $800 payments.

Do you think “wage growth” is going to keep up with that? Hardly!

In fact, Ben Bernanke flat-out admitted last year that it will likely take five years or more to get our unemployment rate back down to 5-6%.

So if there is a glut of unemployed people, there’s no need for employers to raise wages when there’s an everlasting supply of employees willing to work for peanuts.

So the bottom line is: you’ve got to get positioned into currencies that aren’t “singing the same tune” as America.

That includes places like Switzerland, Norway and Singapore. All three have stronger currencies that can shield you from the dollar’s long-term destruction, and even provide some measure of safety as stocks drop.

So before the greenback devalues another 50% over the upcoming years…shift into something that will retain its value and grow through the years. And do it while the buck is still worth something!

Have a Nice Day,
Sean Hyman
Editor, Currency Cross Trader

P.S. As I mentioned, the one bright spot of Nixon taking us off the gold standard was the $4 trillion Forex market itself. The Forex market as we know it today didn’t exist before 1971. But once currencies all over the world started floating freely, traders could buy and sell them for profits. Today, the Forex market includes retail traders from all over the world who trade currencies online just like the pros. Now’s your chance to join them.

A maior crise do seculo (ate agora) - Luiz Felipe Lampreia

A crise de 2011 é a mais grave de todas
Luiz Felipe Lampreia
O Estado de S.Paulo, 20 de agosto de 2011

Após o desmoronamento da URSS, o capitalismo emergiu, vitorioso, de 50 anos de guerra fria e parecia destinado a reinar absoluto dali por diante. Era a mensagem do fim da História, do grande pensador Francis Fukuyama.

Passados 20 anos, a aposta revelou-se parcialmente falsa. O capitalismo prevaleceu e não existe, nem sequer como utopia, uma alternativa que tenha a mínima credibilidade.

Com a crise de 2008, que representou um golpe duro no setor financeiro, principalmente, começou uma fragilização do sistema político/econômico, o que, por sua vez, conduziu à crise atual. Hoje a relativa incapacidade dos líderes políticos ficou patente. Eles são obrigados a manter os olhos postos nas pesquisas e governar por elas. Sua habilidade é meramente tática, os gigantes de visão estratégica, como Franklin Delano Roosevelt, Konrad Adenauer, Charles de Gaulle ou Felipe González, pertencem ao passado.

O sistema de governança global foi confrontado com uma situação que pôs a nu a sua precariedade, seja pelo incrível espetáculo que foi o recente cabo de guerra do orçamento e da dívida no Congresso americano, seja na cabra-cega de Bruxelas para resolver os problemas das dívidas dos Estados-membros. Tudo o que parecia sólido - a ascensão triunfal dos Brics incluída - se tornou questionável.

A única aposta certa entre os países ricos, hoje, é a Alemanha, com seu alto nível de renda, sua produtividade incomparável, sua homogeneidade social e seus talentos inatos, que permitiram que após a derrota violenta e total de 1945 o país apresentasse nos dez anos seguintes o maior exemplo de recuperação e criação de valor da História das nações.

Mas não é indiscutível que a Alemanha continuará a ser a coluna mestra da Europa e o banqueiro de todos os países que não possuem suas virtudes ou sua disciplina. Hoje ela é primus inter pares na Europa e cada vez mais exerce o poder que daí decorre sem as cautelas e os temores do passado. É óbvio que a Alemanha tem enorme interesse no construção europeia, da qual é a maior beneficiária. Mas as opiniões dos eleitores alemães não obedecem a análises apenas racionais e isso poderá obrigar os políticos seguirem os veredictos das urnas ou das sondagens, indicando que a Alemanha não está mais disposta a cobrir todos os excessos e a resgatar os naufrágios de seus sócios irresponsáveis, que se embriagaram de dívidas e de más políticas públicas, como se a União Europeia fosse uma festa interminável para todos.

Os Estados Unidos vivem um de seus piores momentos. Barack Obama mostrou-se muito mais fraco como presidente do que a imensa expectativa que gerou como candidato. O Congresso transformou-se numa arena de enfrentamentos em que inexiste clima para atitudes construtivas e compromissos sobre medidas que interessam a toda a nação. É como se para destruir Obama e os democratas os republicanos radicais do Tea Party fossem até capazes de atear fogo à Casa Branca.

Na recente discussão, o sistema político americano revelou-se disfuncional. John Micklethwaite, editor da grande revista inglesa The Economist, descreveu os partidos americanos como "duas placas tectônicas ideológicas que se movem em direções opostas, aumentam a distância entre si e causam abalos sísmicos". As guerras malsucedidas do Iraque e do Afeganistão representam a terceira ocasião, com o Vietnã, em que todo o imenso poder militar americano não consegue emergir vitorioso, malgrado os enormes custos e todos os meios empregados.

Está hoje patente que os Estados Unidos estão deslizando na ladeira do poder, onde já foram absolutos, embora nada indique que deixarão de ser uma superpotência ou que vão desmoronar como o sistema comunista. Ainda assim, as credenciais americanas persistem. A maior economia mundial, três vezes superior à segunda colocada, Forças Armadas como nunca houve na História, os Estados Unidos são e serão, por longo tempo, uma superpotência. Mas não possuem mais a faculdade de ser, na famosa frase de Madeleine Albright, a "nação indispensável" que dava sempre o tom nas relações internacionais.

Na China, o país hoje mais bem posicionado para desafiar a supremacia de Washington, já existe um questionamento - ainda incipiente, mas claro - quanto à supremacia do Partido Comunista. Em que ponto as atuais contestações - em sua maioria, protestos locais de todo tipo - tomarão volume? Ninguém pode prever, só se sabe que tem havido aumentos de efetivos militares em diversas províncias chinesas, em claro sinal de nervosismo de Pequim. Por outro lado, com a desaceleração econômica, haverá dificuldades para seguir absorvendo rapidamente os grandes contingentes de excluídos que ainda estão no interior do território chinês. Crescer a 10% ao ano não pode ser um moto perpétuo. A médio prazo, é difícil que se mantenha a combinação virtuosa de fatores que permitiu a espetacular emergência da China nos últimos 30 anos.

Não sou daqueles que veem os quatro cavaleiros da Apocalipse nos cantos do céu assim que se instala uma crise. Todos os povos acima mencionados passaram por situações muito mais graves - anos de depressão econômica, guerras, sofrimentos e perdas indizíveis - e terminaram por se recuperar.

A crise de 2011 é a mais grave de todas as que ocorreram nas últimas décadas. Mas o mundo sairá dela. É da essência do capitalismo que essas convulsões ocorram - trata-se do processo de destruição criativa de que falava o grande economista austríaco Joseph Schumpeter. Os fatores produtivos combinados das principais economias do mundo, entre as quais, obviamente, está o Brasil, representam uma força imbatível e acabarão por prevalecer. Até que sobrevenha nova crise mais adiante...

PROFESSOR DA ESPM RIO, FOI MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES NO GOVERNO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Hobsbawm: um crente entre os crentes (infelizmente nao apenas eles...)

Eric Hobsbawm é obviamente incensado pela esquerda e admirado por legiões de historiadores que não precisam necessariamente ser de esquerda, mas que guardam certas simpatias por causas "igualitárias" e uma correspondente antipatia pela exploração capitalista.
Mesmo para os que não concordam com seu marxismo fossilizado, existem muitos outros que reconhecem que seus manuais de história são livros "úteis" no pobre cenário bibliográfico disponível no Brasil. Ele passa, assim, por um grande historiador, e suas teses são aceitas quase inquestionavelmente em todas as áreas das humanidades e em muitos concursos públicos (mesmo nos que seriam supostamente mais exigentes, como os do Itamaraty).
A resenha abaixo de um de seus livros "memorialísticos" não é propriamente arrasador para a sua reputação porque ele mesmo se encarregou de arrasá-la, defendendo o socialismo contra todas as evidências de crimes e desastres, e acusando o capitalismo de todos os desastres e perversões, mesmo sem provas concretas em seu apoio.
Mas vale ler uma resenha-artigo que desmente cabalmente esse "grande" historiador, e o remete ao lugar que ele ocupa legitimamente: o dos ideólogos e o dos deformadores da História.
Paulo Roberto de Almeida

BOOKSHELF
How a True Believer Keeps the Faith
By MICHAEL MOYNIHAN
The Wall Street Journal, August 20, 2011

How to Change the World
By Eric Hobsbawm
Yale, 470 pages, $35
The British historian Eric Hobsbawm in 1976.

In 2003, the New York Times declared Eric Hobsbawm "one of the great British historians of his age, an unapologetic Communist and a polymath whose erudite, elegantly written histories are still widely read in schools here and abroad." The Spectator, a right-leaning British magazine, gushed that Hobsbawm is "arguably our greatest living historian—not only Britain's, but the world's." The Nation anointed him "one of Aristotle's 'men of virtue.' "

That the 94-year-old Mr. Hobsbawm has long championed dictatorial regimes hasn't diminished his standing among the intelligentsia or within the establishment he so obviously loathes. In 1998, Queen Elizabeth II bestowed upon him a Companion of Honour—"In action faithful and in honour clear." But even many of Mr. Hobsbawm's admirers find his slippery defenses of communism discomfiting.

To his critics, his ideological dogmatism has made him an untrustworthy chronicler of the 20th century. The British historian David Pryce-Jones argues that Mr. Hobsbawm has "corrupted knowledge into propaganda" and is a professional historian who is "neither a historian nor professional." Reading his extravagantly received 1994 book, "The Age of Extremes: The Short Twentieth Century, 1914-1991," the celebrated Kremlinologist Robert Conquest concluded that Mr. Hobsbawm suffers from a "massive reality denial" regarding the Soviet Union.

In "How to Change the World: Reflections on Marx and Marxism," Mr. Hobsbawm's latest attempt to grapple with Karl Marx's legacy of ashes, the author remains an accomplished denier of reality. Drawn from essays and speeches spanning the past 50 years, Mr. Hobsbawm's book ruminates on pre-Marxian socialism, the works of the Italian communist philosopher Antonio Gramsci, and a slew of internecine ideological battles that will be of interest mainly to academics and unreconstructed militants.

The more recent material in "How to Change the World," written after the fall of the Soviet Union, claims that regimes self-identified as Marxist shouldn't be allowed to sully the reputation of Marxism—despite all the statues of Marx that once dotted the communist world, the constant invocations of "Das Kapital" and "The Communist Manifesto," and the savage collectivization schemes.

For anyone who has visited an American college campus in the past half-century, Mr. Hobsbawm's core argument will be familiar: The Marxism practiced by Lenin, Stalin and Mao was a clumsy misinterpretation of Marx's theories and, as such, doesn't invalidate the communist project. True, the East Bloc societies practicing what was called "actually existing socialism" (which Mr. Hobsbawm determines, ex post facto, didn't actually exist) ended in economic disaster, but experiments in "market fundamentalism also failed," he says. It is unclear to which "fundamentalist" governments he is referring, but it's important for Mr. Hobsbawm to establish a loose moral equivalence between Thatcherism and the ossified economies controlled or guided by Moscow.

One wouldn't know it from "How to Change the World," but Mr. Hobsbawm wasn't always convinced that the Soviet Union, along with its puppets and imitators, was misunderstanding the essence of Marxism. He never relinquished his membership in the Communist Party, even after Moscow's invasions of Hungary and Czechoslovakia. Indeed, he began his writing career with a co-authored pamphlet defending the indefensible Soviet invasion of Finland in 1939. "To this day," he writes in his memoirs, "I notice myself treating the memory and tradition of the USSR with an indulgence and tenderness." There was some ugliness in the socialist states occupied by Moscow, he admitted in 2002, but "leaving aside the victims of the Berlin Wall," East Germany was a pleasant place to live. Other than that, how was the play, Mrs. Lincoln?

In a now infamous 1994 interview with journalist Michael Ignatieff, the historian was asked if the murder of "15, 20 million people might have been justified" in establishing a Marxist paradise. "Yes," Mr. Hobsbawm replied. Asked the same question the following year, he reiterated his support for the "sacrifice of millions of lives" in pursuit of a vague egalitarianism. That such comments caused surprise is itself surprising; Mr. Hobsbawm's lifelong commitment to the Party testified to his approval of the Soviet experience, whatever its crimes. It's not that he didn't know what was going on in the dank basements of the Lubyanka and on the frozen steppes of Siberia. It's that he didn't much care.

Readers of "How to Change the World" will be treated to explications of synarchism, a dozen mentions of the Russian Narodniks, and countless digressions on justly forgotten Marxist thinkers and politicians. But there is remarkably little discussion of the way communist regimes actually governed. There is virtually nothing on the vast Soviet concentration-camp system, unless one counts a complaint that "Marx was typecast as the inspirer of terror and gulag, and communists as essentially defenders of, if not participators in, terror and the KGB." Also missing is any mention of the more than 40 million Chinese murdered in Mao's Great Leap Forward or the almost two million Cambodians murdered by Pol Pot's Khmer Rouge.

When the bloody history of 20th-century communism intrudes upon Mr. Hobsbawm's disquisitions, it's quickly dismissed. Of the countries occupied by the Soviet Union after World War II—"the Second World War," he says with characteristic slipperiness, "led communist parties to power" in Eastern and Central Europe—he explains that a "possible critique of the new [postwar] socialist regimes does not concern us here." Why did communist regimes share the characteristics of state terror, oppression and murder? "To answer this question is not part of the present chapter."

Regarding the execrable pact between Nazi Germany and Stalinist Russia, which shocked many former communist sympathizers into lives of anticommunism, Mr. Hobsbawm dismisses the "zig-zags and turns of Comintern and Soviet policy," specifically the "about-turn of 1939-41," which "need not detain us here."

In one sense, Mr. Hobsbawm's admirers are right about his erudition: He possesses an encyclopedic knowledge of Marxist thought, specifically Italian communism and pre-Soviet socialist movements. But that knowledge is wasted when used to write untrustworthy history. Readers interested in a kaleidoscopic history of Marxist thought, its global influence and the reasons why regimes flying the red banner inevitably resorted to slavery and violence would be better served by Leszek Kołakowski's "Main Currents in Marxism." The three-volume classic (published in English in 1978 and in 2005 as a single volume) ably demonstrates that Stalinism is a feature of Marxism, not an aberration.

Mr. Hobsbawm closes "How to Change the World" by making a predictable admonition: With the world economy in turmoil, "once again the time has come to take Marx seriously." How the application of Marxist economics to the deeply indebted U.S. (or Greek) economy would reverse the current crisis is left unsaid. In Europe, where socialist parties and left-wing coalitions win elections, the electoral tide has turned dramatically in the other direction now that social-democratic policy has swamped the Continent in debt, with parties of the right controlling all of the major (and many minor) economies.

"How to Change the World" shows us little more than how an intellectual has committed his life not to exploring and stress-testing an ideology but to stubbornly defending it. The brand of Marxism that Eric Hobsbawm champions is indeed a way to "change the world." It already did. And it was a catastrophe.

Mr. Moynihan is an editor at Vice magazine.

Irracionalidades economicas brasileiras: apenas uma entre muitas...

Não adianta o governo querer proteger a indústria nacional contra a "concorrência predatória" estrangeira (supostamente chinesa ou especialmente da China e seus "aliados" e "comissionados"), se o próprio governo central e os estados mantêm uma rede de impostos extorsivos e irracionais que gravam terrivelmente a competitividade dos produtos brasileiros:


Peso do ICMS faz país perder competitividade
Brasil Econômico - Ponto Final, 19, 20 e 21 de agosto de 2011, pag. 39

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), historicamente, entre 25% e 30%das exportações brasileiras utilizam o regime de drawback. Em síntese, o drawback visa desonerar a aquisição de matérias-primas, partes e componentes que serão ou que foram utilizados na industrialização de produtos destinados à exportação.

Para 2011, com a nova meta de exportações de US$ 245 bilhões, o Mdic espera que o mecanismo seja utilizado em pelo menos 40% do total vendido ao exterior. Para isso, o Mdic aposta no crescimento do drawback integrado.

O drawback integrado permite, além da importação, a aquisição de produtos no mercado interno com suspensão dos tributos federais. Uma novidade pouco difundida é que os exportadores que desconheciam as regras podem, desde fevereiro, adquirir no mercado interno, com isenção de IPI e das contribuições PIS/Cofins, mercadorias equivalentes às empregadas ou consumidas na industrialização de produto exportado, a fim de repor seus estoques.

Tais medidas, embora sejam louváveis, não resolvem o principal peso dos exportadores brasileiros, que é o acúmulo de créditos de ICMS. Dependendo das regras de devolução do Estado em que o exportador está localizado, bem como da estrutura de negócios da empresa, os créditos acumulados de ICMS tornam-se irrecuperáveis, o que acaba por aumentar o custo, e, por consequência, o preço do produto que se pretende exportar.

Isso ocorre porque o regime de drawback só inclui o ICMS nas importações de insumos que serão posteriormente destinados à fabricação de produtos exportados. A aquisição de insumos nacionais e a importação de matérias-primas de reposição, não estão abrangidos pela desoneração do ICMS.

É imprescindível que os avanços na legislação federal sejam acompanhados pelos Estados. Não há como se admitir que os estados continuem trabalhando contra os interesses do país

Essa diferença de tratamento tributário, como se pode prever, causa algumas distorções e limitações ao regime.A principal distorção é que exportadores brasileiros preferem importar insumos a adquiri-los localmente, o que coloca os fornecedores brasileiros em situação de desvantagem com os fornecedores estrangeiros. Muitas empresas brasileiras que,mesmo praticando margens de lucro reduzidas, poderiam competir no mercado internacional, deixam de ter qualquer competitividade ao computar os créditos acumulados de ICMS como custo.

Diante desse cenário, mostra-se imprescindível que os avanços na legislação federal sejam acompanhados pelos Estados. Não há como se admitir que os estados continuem trabalhando contra os interesses do país.

Do ponto de vista jurídico, a inclusão do ICMS no regime de drawback não depende de iniciativas isoladas de cada umdos Estados,mas deumaação coordenada no âmbito do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz). Por essa razão, muitos Estados se escondem atrás da inércia desse órgão, sem se dar conta que tal postura está sufocando as empresas situadas em seu território, sobretudo as exportadoras e aquelas que fornecem insumos para as indústrias exportadoras.

Em troca de migalhas recolhidas — e não devolvidas — a título de ICMS, os Estados acabam prestando um desserviço aos planos de expansão das exportações do país, e impedindo melhores resultados da balança comercial.

O governo federal deve, por meio do Ministério da Fazenda, iniciar discussões e pressionar os Estados para que seja aprovada a uniformização tributária no regime de drawback, com a inclusão do ICMS em todas as modalidades.

A loucura, no mais alto grau: deve ser alguma disfuncao cerebral

O que poderia induzir um cidadão alfabetizado, que até escreve em boletins eletrônicos, a dizer uma loucura destas?:

Jamais o prejuízo causado ao cidadão comum pela corrupção e o desperdício em todas as esferas governamentais será remotamente equiparável ao que lhe impõe o parasitismo capitalista em si.

Uma bobagem deste tamanho só se pode explicar por ignorância pura e simples, muita idiotice acumulada, ou má-fé, deliberada e consciente. Em qualquer dos casos, é grave. O cidadão poderia ser objeto de alguma camisa-de-força virtual, para não ofender a lógica e agredir a realidade.
Paulo Roberto de Almeida

Corruptos, os espantalhos úteis do capitalismo
Celso Lungaretti*
CONGRESSO EM FOCO, 20/08/2011 07:00

“Corrupção mata. Entender isso é fundamental para atacar um dos males que mais empacam o desenvolvimento socioeconômico e político do Brasil” – escreve Marina Silva, que saiu do Partido Verde, mas continua patinhando nas águas rasas do reformismo.

Morena Marina, você se pintou… Está repetindo como papagaio a cantilena que convém ao sistema e, por isso mesmo, é martelada dia e noite pela indústria cultural.

O capitalismo, ele sim, mata.

Mesmo que um milagre divino dele extirpasse totalmente a corrupção que lhe é inerente, ainda assim continuaria malbaratando o potencial hoje existente para se proporcionar uma existência digna a cada habitante do planeta. E poderá vir até a causar a extinção da espécie humana, ao submeter nosso meio ambiente ao primado da ganância desmedida.

Jamais, JAMAIS, o prejuízo causado ao cidadão comum pela corrupção e o desperdício em todas as esferas governamentais será remotamente equiparável ao que lhe impõe o parasitismo capitalista em si, começando pelas casas de agiotagem legalizada conhecidas como bancos.

Mas, lembrando o filme Os Suspeitos (d. Bryan Singer, 1995), o grande truque do diabo é fingir que não existe.

Então, a mídia habilmente direciona a ira das massas contra os corruptos que, gerados e mantidos pelo capitalismo, não só lhe servem de biombo, como se revezam no papel de espantalhos úteis.

A contrapartida por seus privilégios é serem obrigados a suportar estigmatizações momentâneas e perda dos cargos, às vezes até uma pequena temporada na prisão, com a garantia de adiante voltarem à tona, belos e lampeiros.

São os títeres utilizados pelo diabo para que o povo não perceba qual é a causa última dos seus males.

E, como tais, preservados por aquele a quem venderam a alma: depois das shakespearianas tempestades de som e fúria significando nada, reassumem discretamente suas posições e não se fala mais nisso.

De Paulo Maluf a Fernando Collor, passando por anões, sanguessugas e mensaleiros, os envolvidos nos episódios mais emblemáticos de corrupção nunca amargaram o ostracismo definitivo.

Como benefício adicional, a redução da política a um permanente mar de lama é tudo de que precisam os interessados em disseminar o desencanto e o egoísmo, para afastar os trabalhadores dos caminhos que levam à sua libertação.

Enquanto tal espetáculo de sombras chinesas fornece circo e catarse inócua aos explorados, o capitalismo os continua desgraçando impunemente.

Só mataremos o monstro cortando sua cabeça. Os tentáculos crescem de novo, indefinidamente.

*jornalista e escritor. http://naufrago-da-utopia.blogspot.com

Um historiador da Guerra Fria e o fim do comunismo: Richard Pipes

O mais famoso historiador anticomunista conversa sobre os 20 anos da dissolução da União Soviética

THE WEEKEND INTERVIEW: Richard Pipes
A Cold Warrior at Peace
By NANCY DEWOLF SMITH
The Wall Street Journal, AUGUST 20, 2011
America's leading Russia scholar reflects on the 20th anniversary of communism's collapse, and the new threats to the world order today.

Twenty years ago, on Aug. 19, an attempted coup in Moscow accidentally started the countdown on what would be the final days of the Soviet Union. The August putsch began as an effort by Communist Party hard-liners to overthrow President Mikhail Gorbachev and stop his reforms, including efforts to give the Soviet republics more freedom from the center. Civilian resistance in Moscow and other cities, aided by military units who refused to move against the protesters, effectively foiled the plot and made a popular democratic hero of Russian Federation President Boris Yeltsin. By the time Mr, Gorbachev resigned on Christmas Day and Mr. Yeltsin took power over Russia, most of the republics had declared independence and Soviet Communism was dead.

On the anniversary of the coup, you might expect to find a celebration under way at the house of the man who taught generations of Harvard students the history of the world's most powerful totalitarian regime. Especially someone who helped inform America's response to the Soviet military threat and served on the National Security Council under Ronald Reagan. Surely, this particular professor—still demonized in certain circles as the archetypal Cold Warrior or, sin of sins, a fantasist about Soviet military might—surely he is cackling with delight at the thought of how we beat the Sovs?

The dissolution of the Soviet Union was one of "the most important events of the 20th century," says Richard Pipes. But he says this while serenely sitting on the porch overlooking the sunlit lake by his summer home. This is a Cold Warrior at peace.

No wonder. Surveying the post-Soviet universe, he sees no threats of the old magnitude on the horizon. When it comes to new foreign powers, he says, "China is the only successor, but the Chinese don't have such world-wide aggressive intentions. For the Russians, for them to triumph, the whole world had to be communist. I don't think that is true of Chinese Communism. They are perfectly content to be a rich and powerful country, to have influence in their region, but I don't think they have any intentions to take over Africa, or Latin America or anything like that."

Despite all he knows about Russia's sad history, he was upbeat even about that country for a time after 1991, after the last Communist czar, Mr. Gorbachev, stepped down. "I was rather optimistic" for the Russian people, Mr. Pipes says. "I thought all the chains which had held them had broken and they are free. But it didn't happen."

By 2000, ex-KGB strongman Vladimir Putin was in charge, and along with launching a war in Chechnya (and other grim misadventures in the near abroad of the former Soviet Socialist Republics) he began rolling back new freedoms in Russia, eliminating the election of governors, taking over television networks, and reinstating a culture in which free-speaking journalists get murdered. It may seem odd to us that, in the face of re-oppression, Mr. Putin's approval ratings soared. But Mr. Pipes is not surprised.

"Russians like strong leaders, autocratic leaders: Ivan the Terrible, Peter the Great, Stalin. They have contempt for weak leaders, leaders who don't impose their will but who listen to the people. Kerensky, who was prime minister of the provisional government in 1917, is held in contempt because he was a democratic leader."

How and why Russians missed the social and intellectual developments that infused the rest of Europe with ideas on the rights of man and civil society is the complex subject of Mr. Pipes's scholarship. In simplified form, he explains: "First of all, not only were the Russians peasants, which there were in Europe too, but they were serfs, which were not exactly slaves but close to it. They had no rights. They had no civil rights, no legal rights, no property rights. They were chattel. So that meant they did not develop any sense of belonging to a community."

This theory—received by many Russians as a Russophobic accusation that they have a slave mentality—has made enemies for Mr. Pipes, among them the late novelist and gulag survivor Aleksandr Solzhenitsyn. While both men saw the moral horrors and mass human sacrifice that constituted Soviet Communism, they explained its origins very differently. "He said it was because Marxism was a Western idea imported into Russia," Mr. Pipes says. "Whereas my argument is that it has deep roots in Russian history."

That drove the nationalist Solzhenitsyn up a wall, judging by his reaction after Mr. Pipes mailed a copy of his book, "Russia and the Old Regime," to Solzhenitsyn in Switzerland in the mid-1970s.

"I never heard from him until two years later," Mr. Pipes smiles, "when he attacked me . . . saying I was a 'pseudo scholar.'"

Some things do not change. Earlier this month Prime Minister Putin described the United States as "a parasitic" country. But name-calling may be about the worst that Russia can do anymore, at least to the West.

"They do pose a threat to their ex-republics," Mr. Pipes says. "They have no problem with Central Asia, because those [states] are rather docile. But they can't reconcile themselves to the loss of the three Baltic Republics [Estonia, Latvia and Lithuania] and Ukraine and Georgia. I feel fairly confident that if Georgia or the Ukraine were to join NATO, as they would like to, the Russians would invade and destroy their independence. But to us they don't pose a threat."

Even so, Mr. Pipes says, the rise of China has presented the U.S. with an opportunity to nudge Russia toward the fold of normal European countries. "I don't admire President Obama in general and I don't like his foreign policy. He doesn't have a clear course," Mr. Pipes says. "If you liked, as I did, Reagan's foreign policy, then you can't like Obama's."

But he gives the president good marks for his choice of an adviser on Russia, Michael McFaul, and he judges the administration's so-called "reset" policy with Russia as an apparent success. "There are no conflicts right now," he points out, although "how much this is a result of Obama's policy and how much is a result of [Moscow's] fear of China and the desire to move closer to Europe and the U.S., I don't know."

Mr. Pipes says Russia is "obsessed" with how its neighbor's growth and progress threaten to make Moscow seem irrelevant on the global stage. "China is becoming a great world power. And that bothers them terribly. They're willing to have America the second great power but they are worried about China being a great power."

Mr. Pipes notes that when foreigners visited Russia in the 17th century, Russians would boast—fairly accurately as it turns out—that their country was the same size as the visible surface of the moon. It still is, although an eclipse by China seems unstoppable. "What can they do about it? They cannot reduce Chinese exports to the United States, the Chinese accumulation of hard currency, the military buildup and so on."

That is why Mr. Pipes believes Moscow may be ready to move closer to the West, an outcome that would remove a major irritant. This assumes NATO issues don't get in the way.

"I am very critical of what the Russians do but you also have to allow for their sensitivities," he says. "The Russians are very sensitive about NATO. If you ask Russians who is the No. 1 enemy of Russia—I think NATO would probably come in first place, even now."

That's one reason that NATO may have outlived its usefulness. "We have NATO acting in Afghanistan and et cetera," Mr. Pipes allows. "But NATO was created specifically against the Russian threat. The Russian threat does not exist. . . . So I think the time has come to consider dissolving it."

Mr. Pipes thinks the main challenge for America today is militant Islam. "This is difficult to fight with because it is not a direct threat. A direct threat you can stand up to. It is also different because you are dealing with fanatics," he points out.

"The communists were not fanatics. They were vicious people, but you could reason with them . . . and when the going got tough, they retreated." For instance, he says, "You had the Cuban missile crisis: Castro wanted the Russians to actually launch a nuclear attack on the United States, and he said 'OK, Cuba will be destroyed but socialism will triumph in the world.' And Khrushchev said no, nothing doing."

The communists "were never suicidal," either, Mr. Pipes adds, "and the ordinary Russians . . . they wanted to live. So this is a different danger. It's not as bad as the communist danger was because they don't [control] the arsenals of power, of military power. But they are fanatical, and they are irrational. We have to stand up to them and not be frightened of them. But we may be in for decades of the Muslim threat."

Do we have the fortitude for that? At the end of the Cold War, some of the victors questioned whether the U.S. and the West could ever muster the will and stamina for another prolonged ideological struggle.

This question seems to amuse Mr. Pipes, who still speaks with an accent of his childhood in Poland, from which he and his family escaped when he was 16. "I came to the U.S. in 1940 and I went to a college in Ohio, and the war was already on. And I remember discussions of whether America was strong enough, or too soft to meet the Nazis." Mr. Pipes laughs. "The same discussions, and that was 70 years ago. So I don't worry, I think that America is great."

As for defeating the last known enemy of world peace, Mr. Pipes gives credit to America's policy of containment, which held communists back in most places until the Soviet Union began an inevitable decline. But it might have lingered for decades longer if not for a big push. "Ronald Reagan contributed mightily to the collapse of the Soviet Union," he says. "It would have happened eventually, but not as soon as it did. Because he understood what communism was and how unnatural it was."

Another lesson is "that you should not give in for practical reasons to evil, which we had done for many years under détente and so on. We gave in and we treated these people not as crooks and criminals but as worthy partners. And this was a mistake, they were not. And history has proved it. Not to everyone, of course."

Partly he's referring to scholars, in his own and related fields, with whom he sparred for decades about the nature of the enemy. "In general, the profession in this country, they were not pro-communist but they thought—and that is why I had quarrels with them always—that the [Soviet] system was popular and that it would be there forever. Ergo we have to get along with them, which means we have to make concessions and live with them, and not attack them the way I wanted to attack them, or Reagan wanted to attack them. I mean Reagan, whom they thought a dummy, said this: The Soviet Union is going to collapse. And they said ridiculous, he doesn't know what he is talking about—and he was right."

So Mr. Pipes has been vindicated too? "Yes, of course. But they don't admit it," he laughs. "They have done no self-analysis asking: Where did we go wrong? And they just merrily go on."

More than once, Mr. Pipes refers to a woman he met in Russia in the 1960s, when he was visiting Leningrad and she was assigned as his driver. She had lost her husband in the war, felt utterly alone and "looked worn out." He tried to comfort her, he says, with words like, "'Don't give up. You are young, you will find a husband, you will find a family.' And I'll never forget her answer," he recalls with what looks like a shudder: "What do you know? You live in paradise."

Mr. Pipes seems a happy man today. Even the faltering U.S economy—whose former vigor played such a role in the Cold War victory—hasn't got him down. "I have been through these recessions before. If you're my age and you've been through Hitler and Stalin, nothing frightens you. . . . Who's going to frighten me, [Hugo] Chávez?"

Ms. Smith is a member of the Journal's editorial board.

Wikileaks Brasil-EUA: o Itamaraty no meio do caminho

Amorim: a pedra no meio do caminho
Por Marina Amaral e Natalia Viana
ePublica, 18/08/2011 06:00:26

Os documentos vazados pelo Wikileaks revelam como o serviço diplomático americano elaborou uma estratégia para (não) lidar com o ex-chanceler e hoje ministro da Defesa Celso Amorim, que chamavam de “esquerdista” . Ao mesmo tempo, a diplomacia dos EUA tinha Nelson Jobim como fonte e recebia apoio de integrantes do governo e das forças militares.

Aos olhos do serviço diplomático americano, em especial durante a era George W. Bush (2001-2009), a posição mais independente do Ministério das Relações Exteriores (MRE) capitaneado por Celso Amorim parecia uma constante provocação.
Nos telegramas vazados pelo parceiro da Pública, o WikiLeaks, o MRE é visto “com inclinações antiamericanas” que impedem a melhoria das relações com o governo brasileiro e que tem, além de um “acadêmico esquerdista” (Marco Aurélio Garcia) que aconselha o presidente Lula, um ministro “nacionalista” (Celso Amorim) e um secretário-geral “antiamericano virulento” (Samuel Pinheiro Guimarães).
“Manter a relação político-militar com o Brasil requer atenção permanente e, talvez, mais esforço do que qualquer outra relação bilateral no hemisfério”, desabafava em novembro de 2004, o embaixador do partido republicano John Danilovich, um dos dois diplomatas que receberam a embaixada em Brasília como “recompensa” por levantar centenas de milhares de dólares para a campanha presidencial de Bush.
Foi ele que, numa reunião em março de 2005, tentou catequizar Celso Amorim sobre a ameaça “cada vez maior” que a Venezuela representava a toda a América do Sul. A resposta foi “clara” e “seca” na descrição do americano. “Nós não vemos Chávez como uma ameaça”, respondeu Amorim. “Não queremos fazer nada que prejudique nossa relação com ele”, afirmou. O embaixador finaliza o documento em tom desapontado: o Itamaraty não “comprou” a ideia americana.
Sobel, o sucessor
Sai Danilovich entra Clifford Sobel, também republicano e ligado aos Bush. Sobel soube escolher melhor de quem se aproximar: do então ministro da Defesa, Nelson Jobim, que virou interlocutor contumaz do embaixador, a ponto de confidenciar sua irritação com o MRE – compartilhada pelos EUA – em especial com o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães.
Jobim tornou-se peça vital em uma estratégia diplomática americana que explorava a divisão dentro do governo em benefício próprio. Em fevereiro de 2009, com Barack Obama presidente dos Estados Unidos, Sobel enviou uma série de três telegramas com o significativo título de “Compreendendo o Ministério de Relações Exteriores do Brasil”.
Neles, pensava uma estratégia para contornar o triunvirato “esquerdista” que já incomodava os planos do seu antecessor. “Juntos com o presidente Lula, eles (Amorim, Guimarães e Garcia) têm puxado o MRE para direções inabituais e, às vezes, diferentes entre si”, pontua Sobel.
“Enquanto tentamos aprofundar nossas relações, a dinâmica ideológica faz com que o Itamaraty seja, às vezes, um parceiro frustrante”, assinala o embaixador, esperançoso com a aposentadoria próxima de Pinheiro Guimarães e com a possibilidade de influenciar os diplomatas mais jovens que ocupariam os futuros postos de comando.
O primeiro telegrama ainda trata da proximidade entre Amorim, “um esquerdista mais afeito às delicadezas diplomáticas”, e Guimarães “adepto de posições radicais como a de que o Brasil precisa de armas nucleares para se impor no cenário internacional”.
A indicação de Amorim para o cargo teria sido obra de Pinheiro Guimarães, ao contrário do que sugeriam suas posições hierárquicas. “Um diplomata aposentado contou a nossos conselheiros políticos que a influência e independência de Guimarães deve-se ao fato de ter sido o primeiro escolhido pelo PT para o MRE. Como ele achava que seu nome não seria aprovado pelo Congresso, indicou Amorim para o cargo e escolheu para si o posto de secretário-geral. Além de ligações familiares, a filha de Guimarães é casada com o filho de Amorim. Essa história explica sua autoridade desmedida e substancial autonomia”, fofocou o embaixador.
Escanteando o Itamaraty
O certo é que Sobel via o MRE como “um desafio” para os EUA. O jeito, sugeriu, seria fazer aliança com os setores privados, que têm “habilidade para conseguir aprovar iniciativas junto ao governo”, além de tentar uma aproximação direta com o presidente Lula e outros ministros que poderiam defender a causa americana.
Essa é uma “estratégia testada”, afirma Sobel, citando entre outros exemplos o caso da transferência dos agentes da Drug Enforcement Administration (DEA), a agência americana de combate às drogas, que foram expulsos da Bolívia no final de 2008.
As conversas com setores do governo brasileiro começaram em seguida do presidente boliviano Evo Morales expulsar cerca de 30 oficiais da agência, que centralizava a guerra contra as drogas, acusando-os de espionagem.
A DEA, de fato, faz parte do aparato de inteligência americano. Para realocá-los, Sobel evitou o caminho protocolar, que seria dialogar com Virginia Toniatti, diretora de crimes transnacionais do Itamaraty (COCIT), figura “geralmente resistente à cooperação com os EUA”.
Um relatório escrito pela conselheira da embaixada dos EUA, Lisa Kubiske, no final de dezembro de 2008, conta que Sobel discutiu o aumento do pessoal da DEA com Tarso Genro, então Ministro da Justiça e com o Ministro-chefe de Segurança Institucional, general Jorge Félix, além de debater de maneira “extensiva” com a Polícia Federal, que apoiou “completamente” a transferência.
“A embaixada evitou propositalmente pedir permissão formal para aumentar (o número) de escritórios (da DEA), já que (um pedido) não é estritamente necessário para aumentar a equipe em escritórios já existentes, e somente o MRE poderia garantir isso”, escreve Kubiske.
Isso porque esse tipo de requerimento teria que passar por uma nota diplomática por meio da diretora de crimes transacionais e, de novo, pelo secretário-geral do MRE e “ambos provavelmente atrasariam o pedido”.
Sobel explica que o Itamaraty, ao saber da estratégia, tentou evitar a vinda dos presumidos espiões da DEA. “Apesar da recusa do MRE de conceder vistos aos agentes americanos, conseguimos realizar a transferência com a ajuda da Polícia Federal, da Presidência da República e de nossas excelentes relações com o Ministro da Justiça”, explica, orgulhoso do feito. Segundo ele, a transferência também teve o apoio do governo boliviano.
De olho nos novatos
O segundo dos três telegramas da série sobre o MRE é dedicado à falta de recursos humanos e financeiros do Itamaraty que, diante do crescimento do papel internacional do Brasil, se expandiu entre 2003 e 2009, com a abertura, por exemplo, de 44 novas unidades administrativas em Brasília e 17 novas embaixadas brasileiras na África.
Para a diplomacia dos EUA o emprego de “trainees e terceiros-secretários” sem condições de acompanhar os movimentos de Lula no cenário internacional era vista com bons olhos.
“É crucial influenciar essa nova geração de diplomatas que, embora nacionalistas, estão mais abertos a considerar que a cooperação entre EUA e Brasil pode coincidir com os interesses de seu país”, assinala o embaixador.
“Os franceses instituíram um programa de intercâmbio diplomático com o Itamaraty em 2008, semelhante ao nosso Transatlantic Diplomatic Fellowship. Acreditamos que uma proposta similar seria válida tanto para conseguir um posto que nos permita observar de dentro o funcionamento desse ministério-chave, como para fazer os diplomatas brasileiros entenderem como os EUA executam sua política externa”.
Seguindo a estratégia de contornar Amorim, o terceiro telegrama trata da “concorrência entre agências do governo”. De acordo com a análise de Sobel, embora o MRE continuasse a ser o líder da política externa brasileira, o crescimento internacional do país tendia a erodir seu controle à medida que os temas se expandissem.
A oportunidade americana seria facilitada diante da falta de hábito das instituições brasileiras em lidar diretamente com governos estrangeiros. “Muitos ministros se autocensuram, impedindo-se de estabelecer relações com outros governos sem a luz verde do Itamaraty”, lamenta, citando como exemplo o Ministério do Trabalho e a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.
No entanto, alguns ministérios como o do Meio-Ambiente (à época chefiado por Carlos Minc) e, principalmente, o da Defesa “estabeleceram relações diretas” com a embaixada brasileira, comenta Sobel.
Um telegrama enviado em 31 de março de 2009, depois da visita do presidente Obama ao Brasil, dá um exemplo prático. Pedindo sigilo absoluto de fonte, o embaixador conta que Jobim estava ciente da oferta de Lula a Obama de buscar caminhos para contribuir com o combate ao narcotráfico na região, possivelmente por meio do Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS) criado em dezembro de 2008 pela União Sul-Americana de Nações (UNASUL).
“Ele disse que o CDS poderia ser o canal perfeito para conseguir o engajamento dos militares dos outros países diretamente com a presidência do Brasil (sem passar pelo MRE) e que planejava falar com o presidente nas próximas semanas”, escreve Sobel.
Jobim também informou a disposição em envolver os militares na luta contra o tráfico de drogas nas fronteiras brasileiras. E contou que o presidente Lula teria lhe pedido que fosse ao México, a pedido do presidente Calderón, para discutir a colaboração entre os governos nesse tema.
“O Brasil hesita em empregar os militares no combate ao narcotráfico tanto por sua história como pela possibilidade de corrupção. O plano de Jobim sinaliza um grande passo, uma vez que o assunto é altamente sensível internamente, no governo, e para o público brasileiro. A intenção de Jobim de trabalhar sem o Ministério das Relações Exteriores traz uma susceptibilidade burocrática adicional a complicada tarefa de conquistar o apoio das outras nações da América do Sul”, comenta Sobel
A compra dos caças

Tudo indica que no episódio das tratativas frustradas de compra dos caças F-X, Jobim e os líderes militares agiram também bem longe dos olhos do Itamaraty.
Os informes diplomáticos sobre a negociação se iniciam em 2004 e estão entre os mais reveladores e numerosos – cerca de 50 telegramas. A comparação entre o que dizem os representantes brasileiros em público e o que cochicham em particular é gritante.
A exceção, nesse caso, foi Amorim, que se posicionou abertamente pela compra dos caças Rafale, da França, tanto pela garantia de transferência de tecnologia feita pelo presidente Nicolas Sarkozy como pelo interesse estratégico na aliança com àquele país o que, para Sobel, se configura como disposição para “desafiar os americanos”.
Jobim, por sua vez, se comportava de maneira dúbia e confundia a diplomacia estrangeira. Em um telegrama intitulado “Brasil e França: amor verdadeiro ou casamento de conveniência”, o embaixador relata a visita da comitiva presidencial à França e à Rússia cujos objetivos “cada vez com mais detalhes” haviam sido confidenciados por Jobim antes da viagem.
“O encontro entre os presidentes Lula e Sarkozy e a visita do ministro Jobim à França desencadearam uma onda de francofilia na política externa brasileira, particularmente em relação a uma parceria estratégica”, escreve Sobel em maio de 2008. “Talvez seja mais um ‘marriage blanc’ do que ‘amour veritable’”. Numa tradução livre, um “casamento de fachada e não amor verdadeiro”.
Sobel continua: “Nos encontros privados, Jobim minimizou a relação com a França e manifestou um claro desejo de ter acesso à tecnologia americana. O obstáculo é a resistência do MRE. Ele diz que o governo brasileiro acha a aliança com a França mais conveniente politicamente e considera que o país tem mais a ganhar com a tecnologia americana”.
Em um telegrama de janeiro de 2009, pouco depois da eleição de Obama, Sobel conta ter sido convidado a ir à casa do então ministro da Defesa para um encontro privado. Jobim teria dito que as relações de defesa entre Brasil e França prosperaram por causa da relação pessoal entre os presidentes Sarkozy e Lula, mas que o presidente brasileiro estaria interessado em conversar sobre assuntos estratégicos com o novo governo americano.
Disse ainda que “Jobim acrescentou que Lula ‘usa’ o ministro Amorim, mas não tem uma relação forte com ele, e que o presidente não gosta de Samuel Pinheiro Guimarães”.
Sobel também se reuniu diversas vezes com os comandantes das Forças Armadas para pedir “conselhos” e ouvir sua opinião sobre as chances dos caças da Boeing vencerem a concorrência de quase 10 bilhões de reais. “Os apoiadores mais fortes do Super Hornet (o F-18 americano) são as lideranças militares, em particular o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, que considera a oferta da Boeing o melhor negócio e vê as Forças Armadas americanas como a melhor escolha para uma parceria com o seu país”, escreve em telegrama de janeiro de 2009.
Durante um jantar oferecido ao comandante americano Doug Fraser, em julho do mesmo ano, o brigadeiro Saito teria puxado Sobel e seu conselheiro político de lado para discutir a aquisição dos caças. “Ele disse que não havia dúvida do ponto de vista técnico sobre a superioridade do F-18: ‘Há décadas voamos em equipamentos americanos e sabemos o quanto eles são bons e fáceis de manter’”.
Saito então pediu que o governo americano enviasse uma carta ao governo brasileiro se comprometendo a transferir tecnologia além de reiterar a importância da aproximação de Lula e Obama para o negócio.
Em outro telegrama, o embaixador conta ter obtido “uma cópia não oficial” de uma Requisição de Informações da Aeronáutica (passada eletronicamente para Washington) que “permite planejar os próximos passos para os EUA vencerem a negociação”.
Além de classificar o F-18 como uma aeronave testada em combate “com incomparável segurança e durabilidade”, e de garantir que o preço não seria o principal critério da escolha da Aeronáutica, a informação mais importante obtida pelo documento é de que a Embraer, “principal beneficiária de qualquer transferência de tecnologia”, consideraria “desejável a oportunidade de estabelecer uma parceria com a Boeing”, principalmente se a companhia americana “tivesse a intenção de oferecer uma cooperação adicional na área da aviação comercial”.
Se os telegramas tivessem vazado anteriormente, seria embaraçoso para a Aeronáutica sustentar o relatório apresentado em janeiro de 2010 pela Força Área Brasileira (FAB) ao ministro Jobim que colocava o caça sueco em primeiro lugar na preferência, exatamente por causa do preço e custo de manutenção.
Naquele momento, o documento foi interpretado pela imprensa brasileira como uma “derrota” do governo, nitidamente favorável ao caça francês, classificado em terceiro lugar, atrás dos americanos.
O relatório teria sido modificado dias depois por “pressão do Planalto”, de acordo com a imprensa, para melhorar a posição do caça francês, afirmando que, apesar dos suecos serem mais baratos, o Rafale e o F-18 têm tecnologia superior.
Haiti, exceção a regra
Pouco depois do lançamento dos documentos do WikiLeaks, Amorim minimizou as revelações, dizendo que “ou são irrelevantes, ou eu já sabia, ou tem um valor às vezes de fofoca”.
Quanto às críticas ao Itamaraty, disse que a instituição sempre foi vista com reservas pelos diplomatas estrangeiros, por ser “a primeira linha de defesa da soberania”. “Eles não gostam de tratar diretamente com o Itamaraty. Não são só os am ericanos, não. É qualquer diplomata estrangeiro”.
Durante sua gestão, no entanto, a exceção a regra que aproximou o Itamaraty dos EUA foi o Haiti. Amorim foi favorável ao envio das tropas brasileiras – e da subsecretária para assuntos políticos do Itamaraty, Vera Pedrosa, que ajudou a assegurar à embaixada americana que o Brasil iria agir, mesmo que tivesse que “dar um jeitinho”.
Segundo um telegrama de março de 2004, Vera explicou que tradicionalmente a interpretação é de que a Constituição brasileira só permite enviar tropas em casos previstos no capítulo VI do Estatuto da ONU, ou seja, em operações de manutenção de paz – enquanto o caso do Haiti se encaixava no capítulo VII, que significa uma missão de imposição de paz. Por conta do grande interesse político do governo brasileiro em participar, Vera teria dito que a situação é “manejável”.
Um ano depois, outro comunicado diplomático indica que Amorim insistiu, pessoalmente, junto a Danilovich, para que os EUA enviassem verbas para projetos humanitários que deveriam se seguir aos ataques “robustos” da Minustah (a força de paz da ONU) contra as gangues na capital do país.
Amorim teria dito ser necessário “contrabalancear reações negativas com uma mensagem forte que focasse na assistência e estabilidade que a Minustah e a comunidade internacional estão tentando trazer ao Haiti”.
Sob forte pressão americana, que chegou a pedir a cabeça do comandante das tropas brasileiras, Augusto Heleno Pereira, o Brasil engajava-se cada vez mais em ações contra rebeldes e gangues haitianas.
Em março de 2007, em reunião com o sub-secretário de Estado norteamericano William Burns, Amotim teria dito que o Barsil estava no Haiti em um “compromisso de longo prazo” e que “a experiência no Haiti tem sido um exemplo positivo de cooperação Brasil-EUA, apesar dos dois governos terem divergido em alguns aspectos específicos da missão”.
Depois do terremoto que devastou o Haiti, em janeiro de 2010, o ex-chanceler reclamou da presença de milhares de marines americanos, enviados para conter a situação de emergência. “A Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), liderada pelo Brasil, deve ser a única força estrangeira no país caribenho, assim que for superada a crise”, disse em entrevista ao diário espanhol El País.
Agora, como o novo ministro da Defesa, Amorim parece ter mudado de opinião. No dia 1 de agosto deste ano, defendeu a retirada das tropas brasileiras do Haiti. “Claro que não pode ser uma saída irresponsável”, disse, “mas não faz sentido (permanecer)”. E repetiu o discurso, já como ministro, na sua primeira reunião com os comandantes das Forças Armadas.
Atualmente, 2.160 soldados brasileiros homens trabalham em segurança interna no Haiti, atingindo um custo total de 1 bilhão de reais desde 2004.
Se o ministro Amorim cumprir seu desígnio é provável que uma das suas primeiras ações no Ministério da Defesa entre em choque com os intentos do governo americano, que sempre insistiram na permanência da ONU. Uma estreia e tanto.

(texto editado por Thiago Domenici)

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Maravilhas da UnB: estimulando atividades fisicas...

Meu Brasil brasileiro
Carlos Brickmann, 19/082011

Um assíduo leitor desta coluna, feliz porque a filha se formou na Universidade de Brasília, conta essa história magnífica: para receber o diploma, ela precisa pedir uma declaração da biblioteca da Universidade de que devolveu todos os livros, e entregar a declaração na Secretaria da Universidade.
Já que a Secretaria e a Biblioteca pertencem à mesma UnB, por que não se comunicam diretamente sem obrigar o aluno a peregrinar? Por que facilitar se é possível dificultar?