O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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domingo, 20 de maio de 2012

Brasil ajuda Coreia do Norte: certo, um pais que precisa...

Pensei que se tratasse de uma ajuda emergencial, por alguma grande catástrofe, algum desastre humanitário, mas parece que não é: se trata de ajuda normal, constante, regular, para países que exibem carências alimentares.
Faz sentido! A Coreia do Norte exibe vários tipos de carências, inclusive a alimentar, que deve ser dramática "a nível de" população. Mas isso ocorre há anos, e não sei se os companheiros refletiram sobre isso: o socialismo, como um todo, é um caso emergencial, de UTI, uma enorme catástrofe humanitária, talvez até civilizacional. Finalmente, os companheiros precisam de aliados, pois nem os socialistas reformistas europeus são tão anti-imperialistas e anti-hegemônicos como deveriam; afinal de contas eles estão na OTAN e continuam a aplicar políticas neoliberais.
Nada como um bom socialismo, puro e duro, sobretudo isso, duro...
Paulo Roberto de Almeida 

Coreia do Sul critica ajuda brasileira a vizinho do norte


Jornal do Brasil, 19/05/2012
O diretor-geral do departamento para a América Latina do Ministério das Relações Exteriores da Coreia do Sul, Jang Keun-ho, criticou a ajuda humanitária que o Brasil vem dando ao seu vizinho do norte. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o diplomata reconheceu que a atitude do Brasil de enviar alimentos à Coreia do Norte é boa, mas pode ter um efeito negativo. 
O governo sul-coreano teme que o vizinho, com quem está tecnicamente em guerra, use as doações para ganhar fôlego e continuar seu programa nuclear.
A Coreia do Norte vive uma crise humanitária, e o Brasil já enviou 16 mil toneladas de alimento ao país, número que deve chegar a 21 mil toneladas nos próximos meses, segundo a Folha de S.Paulo. A Coreia do Norte já enfrentou crises de alimentos, e o governo americano interrompeu a ajuda humanitária ao país depois que o governo lançou um foguete em abril. O temor é que o lançamento tenha sido o teste de um míssil. 
De acordo com a Folha, o Itamaraty afirma que a doação de alimentos é regulamentada por uma lei de junho do ano passado, que prevê a ajuda a países com carências alimentares.
Tags: ajuda, brasil, coreias, crise, nuclear 

sábado, 19 de maio de 2012

As Lei Fundamentais da Estupidez Humana - Carlo M. Cipolla

Uma leitura agradável, mas conclusões e constatações bem menos, aliás definitivamente inquietantes e preocupantes...


As Leis Fundamentais da Estupidez Humana
Paulo Roberto de Almeida

Finalmente, consigo colocar as mãos, ou os olhos mais exatamente, numa tradução mais conforme da famosa obra do historiador econômico Carlo Maria Cipolla. O texto tinha sido publicado em inglês, em edição de autor, de forma limitada, portanto, em 1976, por uma improvável editora chamada Mad Millers (os “moleiros loucos”, o que só pode ter sido uma brincadeira do medievista italiano). Poucos exemplares circularam, e eu só tinha conseguido aceder a uma versão em francês, a partir da primeira edição italiana de 1988, da Il Mulino (o que parece sugerir um complô entre moleiros malucos).
A edição que eu possuía tinha alguns outros textos, e apareceu sob o título de “Allegro Ma Non Troppo” (aliás, transformado em peça de teatro, a que assisti em Paris no século passado (eh oui!). Aparentemente era uma tradução improvisada, tanto que a categoria dos “cretinos”, agora oficializada, aparecia nessa versão como sendo apenas “crédulo”, o que é, digamos, muito generoso, mas não traz a força do atual cretino (nem aliás, o conceito original em inglês de “helpless”). Em todo caso, o livro era este: Allegro ma non troppo: Les lois fondamentales de la stupidité humaine (Paris: Balland 1992); confesso que ainda não consegui reencontrar esse livro em minha biblioteca caótica, para confrontar as duas versões do texto principal, mas prometo fazê-lo, assim que retornar ao Brasil.
Agora, a versão francesa que já vou citar foi feita a partir do original em inglês, The Basic Laws of Human Stupidity, mas o copyright pertence à Società editrice Il Mulino, de Bolonha (aha!, os moleiros malucos sempre aparecem), e o ano indicado é o de 1988. Estranho, ma, cosi è, si vi pare. O copyright da tradução francesa, agora oficial, é de maio de 2012, da grande editora universitária, este que tenho em mãos:

Carlo M. Cipolla:
Les Lois Fondamentales de la Stupidité Humaine
(Traduit de l’Anglais par Laurent Bury; Paris: Presses Universitaires de France, 2012, 72 p.; ISBN: 978-2-13-060701-4; 7 euros).

Mas a edição do Kindle, que acabo de carregar da Amazon (me custou US$ 5,83 e foi recebido em menos de 10 segundos), traz como edição impressa em inglês, da Il Mulino, o ano de 2011 (vá lá entender moleiros malucos), o mesmo para a edição Kindle (cujo ISBN é este: 978-88-15-30700-2). Vou conferir as versões, para poder confrontar linguajar e conceitos, em francês e em inglês, embora os argumentos sejam bem mais importantes do que as palavras usadas.
Creio já ter resumido, em trabalhos anteriores, o essencial do pensamento de Cipolla sobre quão perigosa é nossa existência num planeta que tem uma quantidade fixa, talvez relevante, de pessoas perfeitamente estúpidas. Não vamos nos enganar, os estúpidos não são os incultos – como eu sempre alerto a propósito dos “meus” idiotas – já que pessoas que não tiveram oportunidade de estudar são simplesmente ignorantes, mas podem ser pessoas perfeitamente normais, afáveis e até sensatas (embora sempre propensas a cair no risco de resvalar na idiotice ou na estupidez). Carlo Maria Cipolla é absolutamente categórico: estúpidos podem ser encontrados nos meios universitários, e até mesmo entre os prêmios Nobel (do que não duvido, pois de vez em quando eu ouço besteiras das grossas de um ou outro literato que se mete a falar de economia ou de política).
Talvez eu deva agora simplesmente resumir o “pensamento” – eu até diria o “divertimento” – de Cipolla em torno dessa questão relevante para o futuro da humanidade, e selecionar alguns trechos que mais me impactaram nesta nova versão agora lida e apreciada (como desde o primeiro contato). Somos primos filosóficos, eu e Cipolla, ele bem mais famoso do que eu, obviamente, mas creio que dividimos concepções quase idênticas sobre os perigos que nos rondam, com tantos estúpidos soltos por aí. Em todo caso, já adianto que concordo inteiramente com sua quinta (e derradeira) lei fundamental, que sintetiza o conjunto da análise extremamente rigorosa que ele conduz em seu opúsculo, que alguns chamariam de textículo:
O indivíduo estúpido é o tipo de indivíduo mais perigoso que existe.”

Retomemos, porém, do início, com as cinco leis fundamentais em sua sequência lógica. Cipolla começa dizendo que a humanidade está em estado lamentável, o que, aliás, sempre foi o caso: desde Darwin sabemos que temos origens comuns com seres inferiores do reino animal. Mas os humanos têm de suportar uma dose ainda maior de problemas, cuja fonte é uma categoria especial de sua raça: “Esse grupo é muito mais poderoso do que a Máfia, o complexo militar-industrial ou a internacional comunista; se trata de um grupo desprovido de estatuto, sem estrutura nem constituição, sem chefe nem presidente, que consegue, no entanto, funcionar de maneira perfeitamente coordenada, de tal maneira que a atividade de cada membro contribui para ampliar e tornar mais forte e mais eficaz a de todos os outros.” (p. 13-14).
A primeira lei já é de uma brutalidade desconcertante:
Todos nós subestimamos sempre inevitavelmente o número de indivíduos estúpidos existentes no mundo.
Essa lei parece muito vaga e simplista, mas o fato é que pessoas que julgávamos racionais e inteligentes se revelam espantosamente estúpidas; e, todos os dias, sem esperar, somos assediados, nos lugares e circunstâncias mais imprevistos, por pessoas estúpidas. Vamos fazer alguns testes para saber se é verdade?
A segunda lei, parece incrível, recusa a igualdade fundamental do ser humano:
A probabilidade de que um indivíduo seja estúpido é independente de quaisquer outras características desse mesmo indivíduo.
Cipolla chegou à conclusão, depois de muita pesquisa e estudo, de que existe um número constante e regular de indivíduos estúpidos em toda e qualquer categoria de grupos humanos, ou seja, o mesmo percentual, independentemente de ser grande ou pequeno esse grupo; os estúpidos existem entre trabalhadores manuais e entre universitários, da mesma forma e inapelavelmente.
Como ele diz: “Mais impressionante ainda é o resultado entre os professores. Que a universidade seja grande ou pequena, de prestígio ou obscura, eu constatei que uma mesma fração, constante, era constituída de seres estúpidos. Isto me surpreendeu tanto que eu procurei estender a pesquisa a um grupo especialmente escolhido, uma autêntica elite: os laureados do Prêmio Nobel. O resultado confirmou esse poderio supremo da Natureza: uma mesma proporção de prêmios Nobel era formada de estúpidos.” (p. 23-24). A ideia foi difícil de digerir, reconhece ele, mas os resultados empíricos ofereciam a prova dessa verdade incontornável. “A Segunda Lei é uma lei de ferro, que não admite exceções”.
Cipolla faz então um intervalo técnico para apresentar em forma gráfica suas descobertas, distribuindo a raça humana em quatro grandes categorias em eixos vertical e horizontal, como se faz habitualmente com a pesquisa científica. Na direita superior dos eixos Y e X, com sinais positivos, estão os seres inteligentes; à esquerda deles figuram os cretinos, aqueles que podem fazer o bem aos demais, sem no entanto beneficiar-se disso (mas a situação pode variar, como veremos); abaixo dos inteligentes, situam-se os bandidos, os que buscam seu próprio benefício causando prejuízo aos demais, mas também existem bandidos estúpidos. Finalmente, no canto inferior esquerdo, com dois sinais amplamente negativos, estão os estúpidos, aqueles que causam danos aos demais, sem jamais retirar qualquer benefício para si próprios. Os ganhos e perdas podem, portanto, ser expressos graficamente, e o pesquisador poderá conduzir uma análise de custo-benefício dessas categorias (e como!).
Passemos, portanto, à Terceira Lei Fundamental (que é também, segundo Cipolla, uma regra de ouro):
É estupido aquele que causa danos a um outro indivíduo ou um grupo de indivíduos, ao mesmo tempo em que não retira de sua ação nenhum benefício para si mesmo, podendo inclusive incorrer em prejuízos.
Seres racionais, como eu e você, podemos ficar céticos ante essa lei, mas ela parece confirmada por todas as pesquisas de Cipolla.
O capítulo V do pequeno livro de Cipolla é dedicado a uma questão técnica: a distribuição de frequências, o que dá um triste resultado para os estúpidos. Passons...
O capítulo VI, extremamente curto, trata de uma questão relevante: “Estupidez e Poder”. Estamos falando aqui da condição de todos nós, que podemos ser afetados profundamente pelos estúpidos que ascendem a posições de mando na sociedade. No mundo moderno, os conceitos de casta e classe foram eliminados, a religião tem pouco poder, e assim, no sistema democrático, aquela fração constante e regular de estúpidos pode se encontrar entre aqueles que foram chamados a exercer o poder.
O Capítulo VII, também reduzido, trata da potência da estupidez, o que, mais uma vez, comprova que esse tipo de relação pode contribuir para reforçar os vínculos entre esses indivíduos e as perdas que eles ocasionam; eles geralmente nos surpreendem, ao surgir inopinadamente e cometer seus atos estúpidos; mesmo que tomemos consciência do ataque, não podemos fazer nada, argumenta Cipolla, pois ele é feito de maneira não racional.
Agora chegamos à Quarta Lei Fundamental, que estipula que:
Os não-estúpidos sempre subestimam a potência destruidora dos estúpidos. Em especial os não-estúpidos esquecem sempre que em todos os tempos, em todos os lugares, em quaisquer circunstâncias, tratar ou se associar com pessoas estúpidas se revela ser, inapelavelmente, um erro custoso.
Finalmente, o último capítulo, de macroanálise, chega à Quinta Lei Fundamental:
O indivíduo estúpido é o tipo de indivíduo o mais perigoso.
E o corolário dessa lei é esta aqui:
O  indivíduo estúpido é mais perigoso que o bandido.
Após algumas análises de distribuição, Cipolla reconhece que cretinos inteligentes e bandidos inteligentes podem, eventualmente, causar algum benefício para si mesmos ou até o bem-estar numa dada sociedade, mas jamais isso pode ocorrer com os verdadeiramente estúpidos. Como eles causam perdas para todos, a sociedade se empobrece e é conduzida à ruina.
Resumindo, os países dinâmicos conseguem controlar os seus estúpidos, mantê-los isolados, evitando, assim, males maiores. Mas, nos países menos dinâmicos, a fração de cretinos e bandidos se aproxima do canto inferior esquerdo, o que se revela fatal para a sociedade: “Essa mudança na composição da população não-estúpida reforça inevitavelmente a potência destruidora da fração estúpida e o declínio torna-se inelutável. É o desastre”. (p. 63)
O livro se termina por algumas páginas com gráficos em branco, para que cada leitor possa anotar e classificar os seres humanos com os quais ele tem de tratar.
Eu, sinceramente, me vi tentado a, imediatamente, preencher as seções em branco com alguns nomes daqueles que ascenderam, por assim dizer, a posições de mando e prestígio, mas me contive. Não tanto por falta de tempo, mas por falta de espaço. Eu tenho antes de fazer várias cópias dessas últimas páginas...


Paris, 2396: 20 Maio 2012.

Museus da cidade de Paris: passeios recentes

Carmen Lícia e eu, aproveitando o tempo livre e disponibilidade de agenda, cumprimos nosso dever habitual de turistas culturais: visitar os museus de Paris (e são muitos).
Sexta foi o Cernuschi, de arte oriental, e sábado o da Vie Romantique, na casa que outrora serviu de encontro para namorados famosos da vida intelectual e cultural parisiense do século XIX.
Os resultados estão aqui, no blog de Carmen Lícia: 




Aproveitem...
Paulo Roberto de Almeida 

Kant: de Koenisgsberg ao paraiso - quem nao tem cachorro...

Na companhia de Kant


Paulo Roberto de Almeida 

Eu pretendia visitar o túmulo de Kant em Koenigsberg, atual Kaliningrad, mas resulta que, além de uma simples placa ao lado da Igreja da cidade, não tem absolutamente mais nada do filósofo na cidade, ex-capital da Prússia oriental, atualmente um mero enclave russo, militarizado e sem graça, entre a Polônia e a Lituânia.
Não poderia, de toda forma, entrar no enclave de carro alugado, como era minha intenção: os russos são muito chatos e mantêm aquilo como base militar, com ruas cujos nomes são ainda da era socialista esclerosada.
Enfim, desisti, mas fiquei em boa companhia: do próprio Kant.


Terminei de ler, há mais tempo, mas ainda peguei para revisar, antes de empacotar todos os livros que comprei na Europa, esta pequena obra:
[Pseudo-Kant]:
Histoire Authentique de Mon Voyage au Paradis, par Emmanuel Kant
Traduit de l'Allemand et présenté par Vincent Guillier
(Paris: Éditions de l'Éclat, 2012, 96 p.; ISBN: 978-2-84162-274-0; 7 euros)
Em sua introdução, Lectio Curiosa, o tradutor diz que se trata de uma filosoficção, e explica em que circunstâncias ele veio a encontrar esse livro bizarro, salvo da destruição por bombardeios durante a Segunda Guerra e praticamente escondido, depois, numa biblioteca de Salzburg, onde nem mesmo o bibliotecário conseguia localizá-lo.
A autoria é atribuída ao filósofo alemão pós-kantiano Gustav Teichmüller (1832-1888) e o livro teria sido publicado uma única vez sob o nome de Kant em 1877, na ocasião, ele teria sido considerado por discípulos como sendo autêntico. Não duvido.
E não tenho mesmo por que duvidar do próprio Kant, dadas suas manias transcendentais e metafísicas; acredito que ele seria bem capaz de, em lugar de morrer simplesmente, fazer um breve passeio ao paraíso, onde se encontrou com praticamente todos os filósofos da antiguidade grega -- entre eles o grande Sócrates, o inefável Platão e o insuperável Aristóteles -- e com diversos outros da era medieval, inclusive até mesmo alguns contemporâneos seus, da tradição idealista alemã.
Muitos céticos consideram a obra apócrifa, desde suas primeiras palavras, ou seja, de Kant, ele próprio: 
"Sei que se pensa, aqui e ali, que eu morri de velhice durante o ano de 1804."
Enfim, isso é o que se diz, mas na verdade sua tumba tem estes dizeres: 
Cineres mortales immortalis Kantii
(ou seja: as cinzas mortais do imortal Kant).
Kant argumenta que os rumores sobre sua morte foram grandemente exagerados. Como explica ele mesmo, no preâmbulo, ele sempre tinha cultivado a arte de prolongar a vida, chegando até mesmo a superar suas violentas dores de dentes por meio unicamente da força do espírito. Se por acaso ele não tivesse sido acolhido no céu, ele poderia ter se escondido na terra, ele que tinha sido saudado no mundo como o "Hércules do pensamento".
Na verdade, Kant teve certa dificuldade para entrar no céu, porque S. Pedro objetou a que ele levasse consigo seu criado Lampe, que teve de ficar na porta; desde a entrada, começaram a zombar dele por causa de sua peruca, de seu jeito de andar, e do seu uso frequente de uma tabaqueira.


Independentemente dessas controvérsias sem grande importância do ponto de vista do grande Kant, o fato é que o livro é um passeio filosófico em torno do mundus intelligibilis do grande filósofo alemão, que se vê obrigado a defender o seu sistema de entendimento, seus valores e até seu modo de vida -- regrado, como se sabe -- em face de ataques de gregos e troianos (enfim, não sei se havia troianos no bando de gregos mal-humorados do paraíso, mas tinha gente da Ásia menor, isso tinha).
Ataques por vezes bem dados, e que deixam nosso filósofo quase sem reação, o que resulta em certo empate filosófico. 
Nem tudo foram discordâncias, todavia, e Kant pareceu concordar com Aristipo da Cirenaica quando este afirmou que "a razão e a verdade nunca vão bem com o povo. Sempre se recolhem aplausos quando se afirma uma coisa completamente absurda com ar de aparente certeza e segurança". Também acho...
O grande Protágoras foi exageradamente cruel com o mestre de Konigsberg: 
"Entre nós, caro Kant, nós podemos reconhecer que você usa a sua filosofia crítica como base de um dogmatismo populista. Você continua a jogar areia nos olhos do povo." 
Uau! Kant passou por muitas e boas no paraíso.
Em todo caso, ele não esclarece como veio a sair do paraíso e voltar para a Terra, para publicar seu relato autêntico.
Suas últimas palavras foram:
"Para o público esclarecido, doravante sabedor de tudo, eu escrevi a história autêntica de minha experiência. Meus fiéis detratores preferem as mistificações e as ilusões barulhentas em lugar da beatitude celeste, onde um acordo se estabelece entre a liberdade, a natureza e as leis, sem qualquer desconforto, assim como eu continuo respeitoso das leis da moral. É por isso que, para alcançar a felicidade suprema, é preciso sempre ficar no mundo das aparências."
O pós-escrito do editor, datado de 1877, explica apenas que este era "o último texto das obras completas de Kant, ao que parece, e que possui princípios altamente esclarecedores em torno do mundo da sabedoria."
E ele conclui: 
"É com um verdadeiro sentimento de gratidão que posso editar esta obra nova e surpreendente do sábio de Konigsberg, tremendo em face dos perigos e debates intensos que ele teve de enfrentar, e aos quais seus fiéis discípulos, eu mesmo, pudemos escapar graças à abundância de informações que ele deixou ao seu público de leitores." (p. 93)
Bem, não pude visitar Kant em Koenigsberg, mas fiquei na companhia dele, aqui mesmo em Paris.


Paulo Roberto de Almeida 
Paris, sábado 19 de maio de 2012.

Fracasso da politica educacional dos companheiros...

Registrem que eu disse dos companheiros, não do Governo Lula ou do Governo Dilma, embora as coisas sejam praticamente coincidentes.
Mas acredito que esse fracasso viria mesmo se o governo fosse tucano ou ultra-conservador.
Não há nada que possa ser feito com um MEC que é um dinossauro de ideais fracassadas: com centenas de saúvas freireanas, e com as máfias sindicais de professores isonomistas, pouco preparados, não poderia dar outro resultado, mesmo que o governo fosse bem intencionado, o que obviamente não é o caso.
O governo ajudou, claro, com sua cota imensa de besteirol -- estudos afrobrasileiros e espanhol obrigatórios no fundamental, sociologia e filosofia obrigatórios no médio e um monte de outras bobagens, como os testes e os livros politicamente enviesados -- mas a epidemia é estrutural, sistêmica, duradoura e persistente. Estou sendo otimista claro, pois isso é apenas o que se vê, e a realidade deve ser muito pior, mas muito pior do que somos sequer capazes de imaginar...
O ensino brasileiro vai continuar indo de mau a pior até onde a vista alcança e não há chance de melhorar antes de que uma revolução nas mentalidades ocorra. Como isso tampouco vai ocorrer, só fechando o MEC e criando outras carreiras de professores, bem pagos mas remunerados por desempenho, sem estabilidade e sem isonomia, com uma filosofia de ensino completamente diferente é que as coisas poderiam começar a melhorar (em pelo menos 15 anos de prazo). Como isso não vai ocorrer, obviamente, não há portanto outro destino para a educação brasileira do que a crescente mediocrização.
Paulo Roberto de Almeida 

Os números do ensino médio

Editorial O Estado de S.Paulo, 18 de maio de 2012
Os últimos números do Ministério da Educação (MEC) revelam que, em 2011, o índice de reprovação na rede pública e privada de ensino médio foi de 13,1% - o maior dos últimos 13 anos. Em 2010, foi de 12,5%. Os alunos reprovados não conseguem ler, escrever e calcular com o mínimo de aptidão, tendo ingressado no ensino médio com nível de conhecimento equivalente ao da 5.ª série do ensino fundamental.
O Estado com o maior índice de reprovados foi o Rio Grande do Sul - 20,7% dos alunos. Em segundo lugar aparecem, empatados, Rio de Janeiro e Distrito Federal, com índice de 18,%, seguidos pelo Espírito Santo (18,4%) e Mato Grosso (18,2%). A rede municipal de ensino médio na região urbana de Belém, no Estado do Pará, foi a que apresentou o maior índice de reprovação do País (62,5%), seguida pela rede federal na zona rural de Mato Grosso do Sul (40,3%). No Estado de São Paulo, o índice pulou de 11% para 15,4%, entre 2010 e 2011.
Os Estados com os menores índices de reprovação foram Amazonas (6%), Ceará (6,7%), Santa Catarina (7,5%), Paraíba (7,7%) e Rio Grande do Norte (8%). Os indicadores também mostram que 9,6% dos estudantes da rede pública e privada de ensino médio abandonaram a escola - em 2010, a taxa foi de 10,3%; em 2009, ela foi de 11,5%; e em 2008, de 12,8%.
Já na rede pública e privada de ensino fundamental, o movimento foi inverso ao do ensino médio. Entre 2010 e 2011, a taxa média de reprovação caiu de 10,3% para 9,6% e o índice de abandono diminuiu de 3,1% para 2,8%, no período. Os Estados com os maiores índices de repetência foram Sergipe (19,5%), Bahia (18,5%), Alagoas (15,2%), Rio Grande do Norte (14,9%) e Rondônia (14,2%). Se forem consideradas apenas as escolas públicas, as redes de ensino fundamental da Bahia e Sergipe foram as que registraram os mais altos índices de reprovação do País - 26,6% e 22,5%, respectivamente. Os Estados com as menores taxas foram Mato Grosso (3,6%), Santa Catarina (4,4%), São Paulo (4,9%), Minas Gerais (7,3%) e Goiás (7,6%).
Esses números, que atestam o fracasso da política educacional dos governos Lula e Dilma, foram divulgados na última segunda-feira, pelo site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado ao MEC. Como não havia nada para comemorar ou para ser explorado politicamente pelo governo na campanha eleitoral deste ano, a divulgação foi feita de maneira muito discreta - evidentemente, para não prejudicar a imagem do ex-ministro Fernando Haddad, candidato à Prefeitura de São Paulo.
Ao depor na Câmara dos Deputados, em 2007, Haddad afirmou que o ensino médio vivia uma "crise aguda" e reconheceu que as políticas até então adotadas pelo governo federal para estimular os governos estaduais a modernizarem o ensino médio não vinham surtindo efeito. Em 2008, quando integrou um grupo interministerial com o então secretário de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, ele pediu ao CNE novas diretrizes curriculares para tentar melhorar a qualidade do ensino médio - o mais problemático de todos os ciclos de ensino.
Homologadas no final de março por seu sucessor, essas diretrizes sugerem a adoção de "procedimentos que guardem maior relação com o projeto de vida dos estudantes". A ideia é tornar o ensino médio mais atraente, valorizando a correlação entre trabalho, ciência, tecnologia e cultura. Quando as diretrizes foram anunciadas, em meio a mais uma polêmica sobre o desvirtuamento do Exame Nacional do Ensino Médio, por causa das mudanças introduzidas por Haddad nesse mecanismo de avaliação, vários pedagogos afirmaram que elas não eliminarão os gargalos do ensino médio. Para esses pedagogos, as novas diretrizes são mais retóricas do que práticas e estimulam a oferta de um grande número de disciplinas.
As taxas de reprovação e abandono no ensino médio divulgadas pelo Inep são mais um sinal de alerta sobre a má qualidade da educação brasileira. E pelas políticas adotadas até agora, dificilmente esse quadro mudará tão cedo.

Rio Branco et la diplomatie bresilienne - PRAlmeida

Uma conferência, a convite do diretor da Maison de l'Amérique Latine, Alain Rouquié, ex-embaixador da França no Brasil.






Nous avons le plaisir de vous rappeler que le Mardi 22 mai 2012 à 19h00 se tiendra la conférence sur
Rio Branco et la diplomatie brésilienne, hier et aujourd'hui
de Paulo Roberto de Almeida,
diplomate, Professeur de relations internationales
au Centre Universitaire de Brasilia
A l'occasion du centenaire de la mort de
José Maria de Silva Paranhos,
baron de Rio Branco (1845-1912).
La Maison de l'Amérique latine 
217, boulevard Saint Germain
75007 PARIS 

Espionagem da China e paranoia dos EUA:

Os militares têm por obrigação de ser paranoicos, e um tanto quanto exagerados nas ameaças. Do contrário, como assegurar aqueles gordos orçamentos que fazem a alegria de todo mundo, de gregos e goianos? Isso em todos os lugares, em todas as épocas.
Os americanos são especialmente paranoicos; durante anos e décadas, eles se prepararam para um enfrentamento, ainda que virtual, com a URSS, apenas para ver esta implodir em algum momento do climax da competição estratégica. Com a China, se passa mais ou menos a mesma coisa, sendo que a paranoia do balanço estratégico não é justificada (pois a China vai continuar atrás durante décadas), mas a da espionagem é. Os chineses espionam descaradamente o tempo todo, o que é normal sempre quando se está atrás. Aliás, o novo presidente francês, disse, em março último, que "os chineses trapaceiam o tempo todo"... (sorrisos amarelos).
Mas esse tipo de competição, que os obriga a sempre avançar, é bom para os EUA e para o Pentágono, do contrário eles ficariam parados no mesmo lugar, sem grandes progressos tecnológicos. A espionagem chinesa os obriga a avançar cada vez mais no upgrade inventivo.
Bom negócio para todos (assim é, se lhe parece...).
Paulo Roberto de Almeida 

China linked to ‘economic espionage’
By Geoff Dyer in Washington
Financial Times, May 18, 2012

China is the world’s biggest supporter of “economic espionage”, the Pentagon says in its annual report on the Chinese military which also claimed that Beijing’s defence budget is much higher than official numbers. 
Friday’s report said China would continue to be an “aggressive and capable” collector of sensitive US technological information, including that owned by defence-related companies, and represented a “growing and persistent threat to US national security”. 
“Chinese actors are the world’s most active and persistent perpetrators of economic espionage,” the report said. 
The Pentagon report is the latest in a series of blunt warnings from the Obama administration about the growing risks to US interests from Chinese espionage, including from cyberattacks
A November report prepared by US intelligence agencies said that concerted cyber espionage by China and Russia posed “significant and growing threats” to American economic power and national security. 
Given the lack of transparency that has surrounded China’s military build-up, the Pentagon’s annual analysis of Chinese defence spending is a closely watched document, even if some Pentagon critics fear that scaremongering about China is being used to justify parts of the US budget. 
Even by China’s official figures, military spending has increased at double-digit rates during almost every year for the last couple of decades, although as a proportion of overall spending the defence budget has remained relatively constant. 

The Pentagon said China’s actual military spending in 2011 was between $120bn and 180bn. That compares to an official Chinese budget for 2012 of Rmb670.247bn ($110bn), which was 11.2 per cent higher than the year before. 
In 2011, China conducted the first test flight of the J-20 stealth fighter jet, while a refitted aircraft carrier acquired from the Soviets was also launched last year. 
Among new developments in Chinese spending, the Pentagon said there were indications that parts of a locally-made aircraft carrier were already under construction and could be operational by 2015. 
The report said that the J-20 test flight demonstrated China’s ambitions to develop an aircraft that combined “stealth attributes, advanced avionics and super-cruise engines”, making it a potential rival to the Pentagon’s own new generation fighter jet, the F-22 Raptor. A separate US government document published last month quoted US intelligence agencies as predicting the Chinese jets could be operational by 2018. 

The F-22 Raptor suffered a significant blow this week when strict restrictions were placed on their use because of concerns about the safety of pilots from a lack of oxygen. The F-22 has been controversial for years, with powerful critics in Congress claiming that the expensive project was not needed because there is no obvious rival. However, its supporters point to Chinese and Russian efforts to build a new generation of stealth fighter jets. 

Copyright The Financial Times Limited 2012.

Keynesianismo: uma total falta de logica - Gary North

Vale a pena ler este longo artigo, enviado pelo Eduardo Rodrigues, para confirmar o que já sabíamos: um pouco como o socialismo, o keynesianismo dura enquanto durar o dinheiro dos outros. Neste caso, ele dura indefinidamente, enquanto os keynesianos encontrarem uma maneira de "financiamento": mais emissões, mais impostos, mais inflação, mais endividamento, até perder de vista. Mas um dia, isso vem abaixo...
Paulo Roberto de Almeida
Austeridade, otimismo e a dissolução do estado assistencialista keynesiano
por 
Instituto Von Mises Brasil, quarta-feira, 16 de maio de 2012
Os keynesianos e os declaradamente anti-keynesianos se deram as mãos e, atuando em conjunto, passaram a propagandear um erro intensamente keynesiano: falar sobre a "austeridade" fiscal na Europa como sendo um fato negativo.  Um colunista da revista Forbes se referiu à austeridade como sendo uma espiral mortífera.
A palavra "austeridade", que surgiu com a crise da dívida do governo da Grécia dois anos atrás, tem sido utilizada pela mídia como tendo exclusivamente um único sentido: reduções nos gastos dos governos nacionais.  A palavra não é utilizada em relação à economia como um todo.
Mais do que isto: a palavra tem sido utilizada para explicar as contrações nas economias da Europa.  Fala-se que as reduções nos gastos dos governos estão causando a recessão das economias europeias.  Esta explicação é baseada inteiramente nos modelos keynesianos que dominam os livros-textos.
Mas há um problema: não houve reduções nos gastos.  Ao que tudo indica, para a mídia, "austeridade" não significa o mesmo que significa para uma pessoa normal: cortes severos nos gastos governamentais.  Ao que tudo indica, "austeridade" significa não haver absolutamente nenhum corte de gastos.
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Keynesianos sempre defendem aumentos nos gastos do governo.  Este é o âmago do keynesianismo.  O keynesianismo depende inteiramente de um mantra: "Gastos do governo curam recessões".  Todo o resto é periférico: inflação monetária, tributação crescente e livre comércio.  Estas questões periféricas sempre serão sacrificadas em prol da suprema premissa econômica: "Gastos do governo curam recessões."
É deste ponto que qualquer análise do keynesianismo deve partir.  Qualquer doutrina econômica, qualquer política econômica, qualquer solução proposta para a atual crise deve ser avaliada em termos deste mantra.  Qualquer coisa que não comece e não termine com este mantra não é keynesianismo.  Qualquer coisa que o faça, é keynesianismo.
Qualquer ideologia pode se declarar triunfante quando até mesmo seus professos críticos adotam tanto as suas conclusões quanto a sua retórica, e o fazem sem perceber.  Isto significa que os promotores desta ideologia obtiveram êxito total em estipular os termos do debate público.  É muito difícil substituir uma ideologia ou uma visão de mundo quando seus promotores já conseguiram estabelecer os termos do debate.
É algo que pode ser feito, é claro; mas, para fazer isso, os promotores de uma ideologia rival têm de expor não apenas os erros do atual sistema, como também a concordância implícita concedida pelos supostos críticos da ideologia dominante.  Tal postura, é bom deixar claro, não irá lhe garantir novas amizades entre estes infelizes que creem estar obtendo vitórias significativas ao argumentarem apenas contra aspectos periféricos da ideologia inimiga ao mesmo tempo em que aceitam todos os seus pressupostos centrais e todas as suas receitas políticas.  Eles já foram fisgados.
Um exemplo recente de um bem-intencionado, porém conceitualmente confuso anti-keynesiano pode ser conferido em um recente artigo da Forbes.  O título era poderoso: "O keynesianismo é a nova Peste Negra".  Mas o artigo concluía que a grande tragédia da Europa atual é a "austeridade".
Em teoria, a mídia universalmente define austeridade como cortes nos gastos do governo.  Eu nunca vi o termo sendo empregado em qualquer outro sentido.  Qualquer autor que utilizar esta palavra em algum outro sentido tem de explicar aos seus leitores o motivo deste novo significado.  Como o artigo da Forbes não ofereceu nenhuma outra distinção ou alternativa, interpretei o termo ao pé da letra.
Se a austeridade é a grande perversidade do momento, então a implicação é inevitável: aumentar os gastos governamentais e abandonar qualquer austeridade (que nunca houve) é algo positivo.
O mantra austríaco
Os economistas seguidores da Escola Austríaca também têm um mantra: "Menos impostos aumentam a liberdade."  Liberdade é necessária para o crescimento econômico.
Se um governo não puder reduzir impostos sem que isso o leve à falência, então ele tem de cortar gastos caso não queira quebrar.
Os governos europeus estão todos no caminho da falência.  O do Japão também.  O mesmo vale para o dos EUA.  A solução é cortar impostos e cortar gastos ainda mais.
"Nada de mais gastos governamentais.  Menos gastos governamentais!"
"Nada de mais déficits orçamentários.  Menos déficits orçamentários!"
"Nada de mais impostos.  Menos impostos!"
"Nada de mais inflação monetária.  Menos inflação monetária!"
Em suma: "Deixem o povo livre!"
A solução para a recessão europeia não é aumentar os gastos governamentais, e sim o oposto: reduzir os gastos dos governos.  E os impostos.  A solução, portanto, é mais austeridade.
Com isto em mente, examinemos um artigo que argumenta que a austeridade é a maior ameaça para a prosperidade da Europa.
Uma espiral mortífera?
O artigo começa com uma análise da política europeia.  Ele afirma que os eleitores estão desalojando todos os políticos que estão no poder, em todos os países.  Sarkozy foi a oitava baixa ao longo dos últimos doze meses.  Por que isso está acontecendo?  Eis a resposta sugerida:
Os eleitores da Espanha, da Grécia, da França etc. entendem que as elites governamentais empurraram suas economias para espirais mortíferas, e estão expressando este seu descontentamento nas urnas.
A questão mais fundamental, no entanto, é esta: por que estas elites empurraram suas respectivas economias para esta suposta espiral mortífera?  Por que fervorosas elites keynesianas fariam tal coisa?
Não sejamos ingênuos.  O Ocidente tem sido gerido por elites keynesianas, ou por políticos seguidores de ideias keynesianas, desde 1930 — seis anos antes de Keynes oferecer sua ininteligível justificativa para as políticas então adotadas pelos políticos, por meio de seu livro "A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda".
O Banco Central Europeu, seguindo ideias keynesianas, empurrou as economias europeias para um crescimento econômico artificial entre os anos 2001 e 2007.  As economias da periferia da Europa — o chamado "Club Med" — entraram em uma acentuada expansão econômica.  O mesmo ocorreu com o membro honorário do Club Med: a Irlanda.  Os valores dos imóveis na Irlanda quadruplicaram.  Parecia que tudo iria durar para sempre.  As elites — principalmente os economistas — não emitiram nenhum alerta, exceto os economistas seguidores da Escola Austríaca, que, como sempre, foram sumariamente ignorados como se fossem dinossauros.
E então veio a fase da contração econômica.  Tudo o que o Banco Central Europeu havia feito antes de 2007 — inflacionar —, ele passou a fazer ainda mais agressivamente desde 2008.  Os governos europeus incorreram em déficits ainda maiores.  Todos eles implementaram estímulos keynesianos.  Nada funcionou.  A Europa entrou novamente em recessão.
No primeiro semestre de 2010, investidores europeu finalmente se atentaram para o fato de que a população do Club Med não era capaz de concorrer economicamente com o resto da Europa.  Tais países apresentavam seguidos déficits comerciais com o resto da Europa.  Este pessoal calmo e relaxado estava vivendo de dinheiro tomado emprestado junto ao resto da Europa.  Seus respectivos governos faziam o mesmo.  Eles não tinham a intenção de quitar estes empréstimos.
E por que não?  Porque é isto que o keynesianismo ensina.  Empréstimos governamentais não serão pagos.  Nunca.  A dívida governamental irá aumentar continuamente.  E com ela, a prosperidade.
Dois anos atrás, o Partido Socialista da Grécia descobriu a real profundidade do buraco da dívida em que o governo havia se metido.  As taxas de juros então começaram a subir nos países PIIGS.  Estes governos estavam encurralados.  Eles não mais poderiam continuar incorrendo em déficits crescentes, pois o custo dos empréstimos estava aumentando.
E foi aí que a realidade do keynesianismo se manifestou: déficits, ao contrário do que imaginam keynesianos, realmente importam.  Dinheiro não é de graça.  Dívidas devem ser roladas de acordo com os juros de mercado.  O horror!
E foi aí que os governos do sul da Europa começaram a "controlar" um pouco mais os gastos.  Não muito, como se vê no gráfico acima.  Os déficits continuam em níveis inauditos: acima de 6% do PIB.
Os keynesianos rotularam isso de "austeridade".
Mas não é austeridade, é claro.  São déficits orçamentários em escala maciça.  Austeridade é quando os governos incorrem em superávits orçamentários e utilizam as receitas em excesso para pagar a dívida nacional.
Não há austeridade na Europa desde aproximadamente 1914.
O padrão-ouro vigente de 1815 a 1914 impingia austeridade.  Esta era sua principal função e seu maior serviço à humanidade.  Ele obrigava os governos ocidentais a se manterem austeros.  E isto permitiu o setor privado crescer a taxas aceleradas.
Keynesianos odeiam o padrão-ouro porque eles acreditam que gastos governamentais crescentes são o que permitem o aumento dos gastos em consumo; e os gastos em consumo — e não a poupança — são, para os keynesianos, a base da prosperidade.
O público, que prefere o consumismo à austeridade de uma poupança, gosta das políticas do keynesianismo.  Déficits intermináveis, endividamento sem dor, crescimento ininterrupto: os keynesianos prometem, e os eleitores acreditam.
Porém, o dia do acerto de contas chegou em 2010.  O dinheiro gratuito ficou caro.  A festa não acabou, mas alguns dos convidados foram mandados de volta pra casa, onde se juntaram aos jovens adultos que estão sentados no sofá assistindo à televisão, pois não há empregos.
O público se sente traído.  Os eleitores, milhões deles, acreditaram no sonho keynesiano.  Políticos prometeram realizar a façanha de transformar pedras em pães.  Os eleitores aplaudiram.
Mas os tempos mudaram, nos diz o artigo.
Infelizmente para a Europa e para o mundo atual, não há, em todo o continente, candidatos ou partidos em prol do crescimento econômico para oferecer um alívio dos programas de austeridade que estão reduzindo suas economias a pó.  Sem ter ninguém em quem votar, tudo o que o eleitorado europeu tem podido fazer é votar contra.  Eles passaram a explicitar seus protestos derrotando os políticos atualmente no poder.
Os políticos que estavam no poder fizeram promessas excessivas.  Eles há muito vinham dizendo para o eleitorado que déficits não importavam.  Déficits não importavam enquanto os bancos do resto da Europa continuassem emprestando para os PIIGS a taxas de juros de alemãs, cuja população é bem mais frugal.  E então veio a realidade.
A Europa como um todo está em recessão; Grécia, Espanha e Portugal estão em depressão.  O que as pessoas devem fazer se os chefs econômicos tanto à esquerda quanto à direita estão oferecendo o mesmo e venenoso menu de "austeridade"?
Orçamentos equilibrados continuam sendo apenas uma miragem.  Cortes de gastos excessivamente tímidos, que confessadamente têm o objetivo extremamente modesto de reduzir os déficits para altos 3% do PIB em incríveis dez anos, são hoje tidos como "venenoso menu de austeridade".  Colocando em uma terminologia mais familiar, há um excesso de pedras e pouquíssimos pães.  Os eleitores não irão tolerar isso.
A razão por que não há chefs econômicos promovendo o crescimento é simples: alguém tem de financiar o crescimento dos gastos do governo.  Quem fará isso?  Quem confia nos PIIGS?
Quanto mais alto os eleitores protestam contra a austeridade, menor será o número de emprestadores — no caso, investidores dispostos a emprestas a taxas abaixo de 10%.
Peste!
O artigo, no final, chega ao seu objetivo.
Então, o que aconteceu na Europa?  A resposta curta é "peste".  A Peste Negra do século XIV foi causada pela Yersinia pestis bacterium, que foi disseminada por ratos.  A peste atual é resultado do keynesianismo, que está sendo difundido pelos economistas dos departamentos das principais universidades do mundo e também do The New York Times.  Infelizmente, ao contrário da Yersinia pestis, o keynesianismo é imune a antibióticos.
Como o artigo define keynesianismo?  Erroneamente.  Ele diz que keynesianos defendem aumento de impostos e cortes de gastos.
Austeridade, como está sendo atualmente praticada na Europa, baseia-se na crença keynesiana de que aumentos de impostos e cortes de gastos do governo possuem o mesmo efeito sobre os déficits do governo e sobre a economia.  Com efeito, as mais virulentas cepas do keynesianismo fazem as pessoas acreditar que aumentar a alíquota máxima do imposto de renda e aumentar os gastos governamentais pode realmente estimular o PIB, pois "os ricos" possuem uma "propensão marginal para poupar" mais alta do que os beneficiados por repasses governamentais.
François Hollande, o vencedor das eleições presidenciais da França, é um keynesiano.  Ele acredita que elevar a alíquota máxima do imposto de renda da França para 75% ao mesmo tempo em que contrata mais 60.000 professores sindicalizados irá melhorar as coisas.
Como assim?  O que o um político declaradamente socialista tem a ver com o keynesianismo?  Keynesianismo é aquilo que Paul Krugman defende: mais gastos e mais déficits, tudo em conjunto com uma grande expansão monetária feita pelo Banco Central para poder financiar esta expansão.
Qual político ou economista keynesiano já se pronunciou abertamente a favor de cortes de gastos, ou seja, austeridade?  Economistas austríacos já.  Ron Paul já.  É por isso que os austríacos e Ron Paul são marginalizados pela mídia keynesiana, que os considera excêntricos.
Para um político cuja mente está infectada de keynesianismo, faz todo o sentido tentar reduzir um déficit orçamentário por meio de uma combinação de aumento de impostos e cortes de gastos, com o equilíbrio entre os dois sendo determinado por alguma combinação entre considerações políticas e "equidade".
Há muitos políticos na Europa que impuseram mais tributos sobre os ricos.  Os eleitores sempre os encorajaram a fazer isso, e adoravam quando isso era feito.  Os eleitores hoje estão injuriados com os "cortes" de gastos.  Cortes de gastos reduzem o fluxo de fundos para burocratas do governo e para os clientes do estado.  É por isso que os sindicatos gregos fazem baderna.
O keynesianismo tradicional clama por mais gastos, mais endividamento e — caso os investidores privados exijam juros mais altos — mais expansão monetária feita pelo Banco Central para comprar mais títulos da dívida do governo.  O artigo espertamente rejeita esta monetização.  Mas não clama por um padrão-ouro.  Em vez disso, defende o euro.  Por isso, o artigo sofre de uma ilusão: imaginar que o euro não é somente mais um veículo inflacionário; imaginar que ele seja superior a dracmas geridos por keynesianos.
A hierarquia política keynesiana impôs o euro sobre os eleitores em 1999.  Os porta-vozes das elites vêm condenando a saída da Grécia da zona do euro.  Os tecnocratas gregos, que não foram eleitos pelo povo, assim como os tecnocratas de todo o resto da Europa, ou são ex-empregados do Goldman Sachs ou serão futuros empregados dele.  Eles estão agora sendo desalojados pelo eleitorado.  Os eleitores são populistas e socialistas.  Eles são simpatizantes da elite keynesiana apenas durante a fase expansionista do estado assistencialista.  Quando a conta chega, eles passam a defender emissão monetária feita individualmente pelos governos nacionais, tributação dos ricos, sindicalismo e aumentos nos gastos governamentais.
Conclusão
O keynesianismo está em uma espiral de morte.  Na mesma situação está o socialismo populista.  E o mesmo ocorre com o sistema monetário fiduciário, de características fascistas (corporativistas).  Todos estão em espirais mortíferas porque todos rejeitam esta premissa: "Impostos menores aumentam a liberdade".
A liberdade irá vencer.  Esta é uma afirmação escatológica, eu sei.  Uma das maneiras como ela irá prevalecer é por meio da falência da ordem social keynesiana, que defende mais impostos, mais regulamentações, mais déficits, mais inflação.
Para haver austeridade genuína, o governo tem de entrar em dieta: seus gastos devem ser genuinamente cortados.
É isso o que o eleitorado europeu não quer.  Mas é isso o que ele vai receber.
"Nada de menos austeridade.  Mais austeridade!"

Gary North , ex-membro adjunto do Mises Institute, é o autor de vários livros sobre economia, ética e história. Visite seu website.

China: a fachada e a realidade -- "filhos de Principe" estudam nos EUA

Esta matéria está especialmente dedicada aos antiamericanos primários, que acham que a China constitui um modelo novo, mais eficiente, de crescimento e de desenvolvimento, ou que os EUA são um país condenado à decadência, ou pelo menos ao declínio
Como resume seu autor logo no início, os líderes chineses estão sempre condenando, em público, os valores e o modo de vida americano, mas enviam seus filhos para estudar nas melhores universidades americanas. Devem ser alguns, dentre muitos, que sabem distinguir entre o que vale, e o que parece...
Pois é, inverteram o moto: "façam o que eu faço, não o que eu digo"...
Paulo Roberto de Almeida 

Chinese communist leaders denounce U.S. values but send children to U.S. colleges

By  and Maureen Fan

The Washington Post, Saturday, May 19

CAMBRIDGE, Mass. — When scholars gathered at Harvard last month to discuss the political tumult convulsing China’s ruling Communist Party, a demure female undergraduate with a direct stake in the outcome was listening intently from the top row of the lecture hall. She was the daughter of Xi Jinping, China’s vice president and heir apparent for the party’s top job.
Xi’s daughter, Xi Mingze, enrolled at Harvard University in 2010, under what people who know her there say was a fake name, joining a long line of Chinese “princelings,” as the offspring of senior party officials are known, who have come to the United States to study.
In some ways, the rush to U.S. campuses by the party’s “red nobility” simply reflects China’s national infatuation with American education. China has more students at U.S. colleges than in any other foreign country. They numbered 157,558 in the 2010-11 academic year, according to data compiled by the Institute of International Education — up nearly fourfold in 15 years.
But the kin of senior party officials are a special case: They rarely attend state schools but congregate instead at top-tier — and very expensive — private colleges, a stark rejection of the egalitarian ideals that brought the Communist Party to power in 1949. Of the nine members of the Politburo Standing Committee, the supreme decision-making body of a Communist Party steeped in anti-American rhetoric, at least five have children or grandchildren who have studied or are studying in the United States.
Helping to foster growing perceptions that the party is corrupt is a big, unanswered question raised by the foreign studies of its leaders’ children: Who pays their bills? Harvard, which costs hundreds of thousands of dollars in tuition and living expenses over four years, refuses to discuss the funding or admission of individual students.
Grandchildren of two of the party’s last three top leaders — Zhao Ziyang, who was purged and placed under house arrest for opposing the military assault on Tiananmen Square protesters in June 1989, and his successor, Jiang Zemin — studied at Harvard.
The only prominent princeling to address the question of funding publicly is Bo Guagua, a graduate student at Harvard’s Kennedy School of Government. His father is the now-disgraced former Chongqing party boss Bo Xilai, who, like Xi Jinping, is the son of an early revolutionary leader who fought alongside Mao Zedong.
Bo Guagua did not attend the seminar at Harvard’s Fairbank Center for Chinese Studies, which focused on his family’s travails. But in a statement sent a few days later to Harvard’s student-run newspaper, the Crimson, he responded to allegations of ill-
gotten wealth. He said he had never used his family name to make money and, contrary to media reports, had never driven a Ferrari. Funding for his overseas studies, he said, came entirely from unspecified “scholarships earned independently, and my mother’s generosity from the savings she earned from her years as a successful lawyer and writer.”

His mother, Gu Kailai, is in detention somewhere in China on suspicion of involvement in the death of Neil Heywood, a Briton who served as a business adviser to the Bo family. After what Chinese authorities say was a falling-out over money, Heywood was found dead, apparently poisoned, in a Chongqing hotel room in November.
Bo Guagua “is very worried about what might happen to his mother,” said Ezra F. Vogel, a Harvard professor who said he had received a visit from a “very anxious” Bo last week. Bo’s image as a wild playboy, Vogel added, is “greatly exaggerated.”
In China’s “dog-eat-dog” political culture, Harvard scholar Roderick MacFarquhar told the Fairbank Center seminar, the family is both “a wealth-generating unit” and a “form of general protection.” As a result, he added, “you have a party that is seen as deeply corrupt.”
Before his ouster, Bo Xilai had an official annual salary of less than $20,000. But his son attended Harrow School, an exclusive private academy in London with annual fees of about $48,000; then Oxford, which, for overseas students, costs more than $25,000 a year just in tuition; and the Kennedy School, which, according to its own estimates, requires about $70,000 a year to cover tuition and living expenses.
‘Top of the food chain’
“This is about haves and have-nots,” said Hong Huang, the stepdaughter of Mao’s foreign minister Qiao Guanhua and a member of an earlier generation of American-educated princelings. “China’s old-boy network . . . is no different from America’s old-boy network,” said Hong, who went to Vassar College in Poughkeepsie, N.Y., and whose mother served as Mao’s English teacher.
“There is something about elitism that says if you are born in the right family, you have to go to the right school to perpetuate the glory of the family. Going to an elite college is a natural extension of that,” said Hong, now a Beijing-based style guru and publisher. Among her ventures is iLook, an edgy fashion and lifestyle magazine that offers tips on how to enjoy what a 2010 cover story proclaimed as China’s “Gilded Age.”
Noting that the Communist Party has drifted far from its early ideological moorings, Hong said she sees no contradiction between the desire for an Ivy League education and the current principles of the ruling party and its leaders: “What part of China is communist, and what part of Harvard is against elitist authoritarianism?”
Hong’s stepfather, Qiao, was purged as foreign minister in 1976 and his ministerial post passed to Mao’s former interpreter, Huang Hua, whose son, Huang Bin, also went to Harvard. At the time, China’s education system lay in ruins, wrecked by the ­1966-76 Cultural Revolution and Mao’s vicious campaigns against intellectuals, who were reviled as the “stinking ninth category.”
Today, Chinese universities have not only recovered but become so fiercely competitive that getting into them is difficult even for well-connected princelings. Even so, top American universities still carry more cachet among many in China’s political and business elite, in part because they are so expensive. A degree from Harvard or the equivalent ranks as “the ultimate status symbol” for China’s elite, said Orville Schell, a Harvard graduate and director of the Center on U.S.-China Relations at the Asia Society in New York.
“There is such a fascination with brand names” in China that “just as they want to wear Hermes or Ermenegildo Zegna, they also want to go to Harvard. They think this puts them at the top of the food chain,” Schell said.
The attraction of a top-brand university is so strong that some princelings flaunt even tenuous affiliations with a big-name American college. Li Xiaolin, the daughter of former prime minister and ex-Politburo member Li Peng, for example, has long boasted that she attended the Massachusetts Institute of Technology as a “visiting scholar at the Sloan Business School.” MIT says the only record it has of attendance by a student with Li’s name was enrollment in a “non-degree short course” open to executives who have “intellectual curiosity” and are ready to spend $7,500 for just 15 days of classes.
Discipline case
The welfare of princelings studying abroad can become a matter for the Chinese government.
During his final year at Oxford University in England, Bo Guagua ran into trouble because of inattention to his studies. When the university initiated a disciplinary process against him, the Chinese Embassy in London sent a three-person diplomatic delegation to Oxford to discuss the matter with Bo’s tutor at Balliol College, according to an academic who was involved in the episode and who spoke on the condition of anonymity to be able to speak candidly. The embassy did not respond to a request for comment.
The embassy trio pleaded on Bo’s behalf, stressing that education is very important to the Chinese, the academic said. The tutor replied that Bo should, in that case, learn to study more and party less. The intervention by Chinese diplomats didn’t help Bo and, in December 2008, he was “rusticated” for failing to produce academic work of an adequate standard, an effective suspension that, under Oxford regulations, meant he lost his “right of access” to all university facilities. Barred from college housing, Bo moved into a pricey local hotel. He was, however, allowed to take a final examination in 2010. Despite his banishment from classes, he performed well and received a degree.
“He was a bright student,” said the Oxford academic, who knew Bo Guagua at the time. But “in Oxford, he was suddenly freer than anything he had experienced before and, like a good many young people in similar circumstances, it was like taking the cork out of a bottle of champagne.”
Most other princelings have kept a far lower profile.
On the manicured, sun-drenched grounds of Stanford University in Silicon Valley, Jasmine Li — whose grandfather, Jia Qinglin, ranks fourth in the Politburo and has made speeches denouncing “erroneous” Western ways — blends in seamlessly with fellow American undergraduates.
Photographs have appeared online showing her wearing a black-and-white Carolina Herrera gown at a Paris debutante ball in 2010, and she shares with Bo Guagua a taste for horse riding. As a freshman last year, she rode with the Stanford Equestrian team.
But her presence on campus is low-key, like that of Xi’s daughter at Harvard, whom fellow students describe as studious and discreet. Li rides a shiny red bicycle to and from classes, has an American roommate and joined a sorority, Kappa Alpha Theta. She often studies after class in the sorority house’s high-ceilinged living room alongside fellow members.
Reached at her sorority, Li declined to comment on her time in the United States or her ambitions, saying, in unaccented English, that she needed to consult first with her family in China.
‘Achilles’ heel for the party’
The stampede to American campuses has delivered a propaganda gift to critics of the Communist Party, which drapes itself in the Chinese flag and regularly denounces those who question its monopoly on power as traitorous American lackeys. A widespread perception that members of the party elite exploit their access and clout to stash their own children and also money overseas “is a big Achilles’ heel for the party,” said Harvard’s MacFarquhar.
Bitter foes of the ruling party such as the banned spiritual movement Falun Gong have reveled in spreading sometimes unfounded rumors about privileged party children. New Tang Dynasty TV, part of a media empire operated by Falun Gong, reported, for example, that 74.5 percent of the children of current and retired minister-level Chinese officials have acquired either green cards or U.S. citizenship. The rate for their grandchildren is 91 percent, said the TV station, citing an anonymous Chinese blog posting that in turn cited supposed official U.S. statistics. No government agency has issued any such statistics.
Though of dubious accuracy, the report stirred a storm of outrage on the Internet, with Twitter-like micro-blogs denouncing the hypocrisy of the party elite. Most of the comments were quickly deleted by China’s army of Internet censors. But a few survived, with one complaining that officials “curse American imperialism and capitalism all the time but their wives and children have already emigrated to the U.S. to be [American] slaves.”
Symbol of excess
Similar fury greeted photographs that showed Bo Guagua cavorting at parties with Western women at a time when his father was promoting a neo-Maoist revival in Chongqing and urging the city’s 33 million residents to reconnect with the austere values of the party’s early years.
Bo, a poster boy for princeling excess, stopped attending classes this spring and last month moved out of a serviced apartment building with a uniformed doorman near Harvard Yard. (Rents there range from $2,300 to $3,000 a month.) People who know him at Harvard say he had earlier split up with his girlfriend, fellow Harvard student Sabrina Chen, the granddaughter of Chen Yun, a powerful party baron. Before his death in 1995, Chen took a hard line against the “infiltration” of Western values and, along with Bo Guagua’s grandfather, Bo Yibo, pressed for a military crackdown against student protesters who gathered in Tiananmen Square around a plaster statute inspired by the Statute of Liberty.
The cook at a fast-food eatery near his Cambridge apartment building said Bo Guagua used to come in regularly but didn’t make much of an impression. “He just ordered the usual stuff, BLTs. Nothing special,” said the cook, who gave his name as Mustafa.
Staff at Changsho, a Chinese restaurant, however, remember a more extravagant customer. Late one evening, for example, Bo came in alone, ordered four dishes and left after barely touching the food. “He didn’t even ask for a doggie bag,” recalled a restaurant worker, appalled at the waste.

Fan and special correspondent Yawen Chen reported from Palo Alto, Calif.