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segunda-feira, 1 de abril de 2013

Assedio moral de diplomatas sobre funcionarios locais...

Depoimento gravado em video pelo ex-funcionário do Escritório Financeiro do Ministério das Relações Exteriores, em Nova York, Geraldino José Ferreira de Almeida, sobre fatos ocorridos há 16 anos, testemunhando ter sido maltratado pelo então ministro João Carlos Souza Gomes, o famoso "João do Pulo", e sua esposa, bem como sobre fatos presenciados por ele em relação a outros funcionários locais, em vido postado no YouTube pela AFLEX, Associação dos Funcionários Locais do MRE no Mundo:

http://www.youtube.com/watch?v=a8ggGEiVBf4

Alguns comentários: 

  • Patricia cs
    Trabalhei tb no EFNY ... Realmente sei tudo o que passamos e toleramos pela falta de leis que nos ampararem... Conheci o sr. José citado no Video .. Uma pessoa muito boa e que é maltratado nao só por diplomatas como tb or Oficiais de chancelaria... Eles sabem que esse sr nao podem sair do EFNY pois esta amarrado no visto de trabalho ... Se sair estará ilegal depois de mais de 20 anos servindo o Escritório e sairá sem direito a nada
    · 11
  • tiagomirandan
    Olha se eu não tivesse feito estágio no Itamaraty eu poderia falar que esse cara está inventando, mentindo. Mas eu trabalhei e pude constatar que o sistema é mais ou menos isso mesmo. Graças à Deus, meus chefes e o pessoal do departamento não me tratavam mal, mas a gente lidava com cada espécie de diplomata que não está escrito. Poucos, raros, se salvam naquele lugar. Há diplomatas que se acham pertencentes a outra raça ou algo divino e que não merecem ser tratados como uma pessoa normal.


    Eu, estudante de RI fiquei bem deprimida com esse vídeo, também pensava que pra ser diplomata precisava ter educação.

Vem ai mais protecionismo...

Querem apostar?
Eu não!
Não aposto pois não estou fazendo uma pergunta para mim mesmo: eu tenho absoluta certeza...
Se trata apenas de esperar mais um pouco.
Depois não digam que não avisei...
Paulo Roberto de Almeida 

VEJA.com, 1/04/2013

A balança comercial brasileira registrou superávit de 164 milhões de dólares em março, informou nesta segunda-feira o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O resultado veio abaixo do esperado pela mediana dos especialistas, que projetavam saldo positivo de 200 milhões de dólares. Trata-se do primeiro superávit mensal neste ano e o pior para o mês desde 2001, quando houve déficit de 274 milhões de dólares.
No mês passado, as exportações somaram 19,323 bilhões de dólares e as importações, 19,159 bilhões de dólares, ainda segundo o Ministério. O resultado ainda sofre as consequências do registro atrasado de aquisições de gasolina feitas pela Petrobras no exterior em 2012, mas que estão sendo contabilizadas somente neste ano, elevando as importações.
No mês passado, as importações de combustíveis e lubrificantes somaram 3,177 bilhões de dólares. Pela média diária, que somou 158,9 milhões de dólares, houve alta de 15,8% sobre um ano antes.
Apesar do resultado positivo de março, no acumulado dos três primeiros meses do ano, o saldo segue negativo em 5,150 bilhões de dólares, resultado das vendas externas de 50,839 bilhões de dólares e compras de 55,989 bilhões de dólares. No mesmo período do ano passado, o saldo estava positivo em 2,419 bilhões de dólares. Em fevereiro, o saldo negativo de 1,276 bilhão de dólares foi o maior da série histórica do MDIC para o mês.
Na última semana do mês passado (dias 25 a 28), o saldo comercial ficou positivo em 165 milhões de dólares, com exportações de 4,552 bilhões de dólares e importações de 4,387 bilhões de dólares.

O rato que ruge e o elefante indeciso: receita para o desastre na peninsula coreana (e alhures...)

A China detém a chave para a resolução do problema coreano. Mais do que isso, ela detém o torniquete, que pode simplesmente esganar e asfixiar o rato que ruge, ou seja, o regime stalino-gulaguiano-esclerórico-surrealista da RPDC, vulgo Coreia do Norte. Até agora, ela preferiu não fazer nada, na suposição de que com isso detinha, ou compensava, parte de presença americana na Coreia do Sul, um cálculo arrevesado, que só geopolíticos atrasados poderiam fazer. Ela vai pagar um alto preço por isso.
Foi ela que também sustentou o regime autocrático da Birmânia durante tanto tempo, e agora se permite oferecer abertura porque ela também precisa disso para seus planos de chegar aos "mares do Sul", sem precisar atravessar o Vietnã e o estreito dos piratas, ops, das Molucas, ou dos malucos, segundo um antigo romancista.
Se e quando a China quiser, a Coreia do Norte acaba, vagarosamente, ou num estrépido capaz de provocar arrepios. Vamos ver...
Paulo Roberto de Almeida

China reavalia política em relação à Coreia do Norte

China – DW – 31/03/13.
0,,16702520_303,00A estratégia chinesa para norte-coreanos é tema de debate: tradicionalistas defendem curso atual, estrategistas querem medidas mais severas e aproximação dos EUA. Pequim teme instabilidade crescente em suas fronteiras.
“O terceiro teste nuclear da Coreia do Norte é uma boa oportunidade para a China reconsiderar a aliança de muitos anos com a dinastia Kim”, exigiu o jornalista chinês Deng Yuwen em artigo no Financial Times. Deng é vice-editor-chefe da revista Study Times, publicada pela Escola do Partido Comunista em Pequim. O apelo do jornalista: “A China deve abrir mão da Coreia do Norte”.
Vozes como a de Deng são um fardo para a amizade de dezenas de anos entre os vizinhos comunistas. Desde o final do ano passado, as relações bilaterais atingiram um novo nadir. E em fevereiro a Coreia do Norte voltou a provocar com a realização de um teste nuclear. Dois meses antes, o foguete norte-coreano Unha-3 lançou um satélite em órbita terrestre. Única parceira do país, a China está obviamente irritada: o imprevisível vizinho abusa de sua paciência.
Na última assembleia geral do Congresso Nacional do Povo, o parlamento chinês, alguns delegados realizaram um debate de fundo sobre a política em relação à Coreia do Norte. A vice-diretora do Escritório Central de Assuntos Estrangeiros, Qiu Yuanping, relata que os debates giraram em torno da questão se a China continuará a “apoiar” ou “deixará de lado” o país vizinho. Essa abordagem aberta é algo incomum, pois as lideranças de Pequim são geralmente bastante reservadas com tais observações.
Entre tradicionalistas e estrategistas
Dentro do circuito político chinês não há consenso sobre como lidar com o país vizinho. Desde o segundo teste nuclear norte-coreano, em 2009, duas correntes de opinião se definiram. Os chamados “tradicionalistas” se atêm à imagem propagada pelo fundador do atual Estado chinês, Mao Tsé-tung: a China e a Coreia do Norte estão “tão intimamente ligadas como os lábios e os dentes”. Para eles, abandonar o Estado-irmão comunista está fora de cogitação, e vêm os EUA como maior desafio aos interesses chineses na Ásia Oriental.
Pequim vê como ameaça à segurança nacional a forte presença militar estadunidense na região pacífico-asiática – considerada pelo presidente Barack Obama como um novo foco estratégico. A Coreia do Norte é para a China uma importante zona-tampão face à Coreia do Sul e ao Japão, ambos parceiros dos Estados Unidos.
Até agora, a política da China para a Coreia do Norte foi basicamente definida pelo Exército Popular de Libertação. Dados os laços de longa data com a Coreia do Norte e a grande desconfiança em relação ao poder militar dos EUA, as lideranças militares chinesas mantêm seu curso conservador.
De acordo com Jia Qingguo, professor de Ciências Políticas na Universidade de Pequim, tal estratégia é obsoleta. A China deveria tomar a Coreia do Norte como ponto de partida para uma cooperação mais estreita com os Estados Unidos, declarou ao New York Times. Jia pertence ao grupo dos chamados “estrategistas”, que pedem medidas mais rigorosas em relação à Coreia do Norte, ao mesmo tempo que defendem uma maior cooperação com os EUA.
Mesmo Zhang Liangui, da Universidade Central do Partido em Pequim, pede medidas mais duras contra o país vizinho. É ingênua a crença de que Pyongyang pode ser persuadida a renunciar às armas nucleares por meio de uma política de apaziguamento, afirmou o perito em segurança ao jornal estatal Global Times.
Nenhuma mudança radical de direção
“O apoio a sanções mais duras contra a Coreia do Norte não deve ser interpretado como uma alteração fundamental da posição chinesa”, enfatizou Yang Jiechi, até recentemente ministro do Exterior chinês, e agora responsável pela política externa no Conselho de Estado. Suas palavras mostram que, por enquanto, não deverá haver uma mudança de curso.
Especialistas acreditam que a China pode temer que, com o colapso da Coreia do Norte e uma possível reunificação dos dois Estados coreanos, as tropas norte-americanas cheguem até as fronteiras do território chinês. Paul Haenle, da Fundação Carnegie para a Paz Internacional, e também diretor do Centro Carnegie-Tsinghua da Universidade Tsinghua, em Pequim, é da opinião de que as contínuas provocações de Pyongyang podem levar, a longo prazo, a uma corrida armamentista. “Porque assim como os EUA, também o Japão e a Coreia do Sul irão reconsiderar suas estratégias de segurança”, e isso contradiz diametralmente os interesses chineses, disse em entrevista à DW.
Enquanto os Estados ocidentais tentam dissuadir a Coreia do Norte de prosseguir com seu programa nuclear, para o governo chinês a preservação da estabilidade está em primeiro plano, observa Stephanie Kleine-Ahlbrandt, do International Crisis Group da Deutsche Welle. “Pequim teme um confronto militar direto entre Pyongyang e Washington.”
Recentemente, o secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, anunciou que Washington iria ampliar sua defesa antimíssil, devido às ameaças de ataques da Coreia do Norte. Uma guerra ou um colapso da ditadura Kim iria provocar uma onda de refugiados em direção ao norte da China. Sob a liderança do novo chefe de Estado chinês, Xi Jinping, não deverá haver, todavia, mudanças radicais, afirmou Kleine-Ahlbrandt. “Mas Pequim irá adotar uma linha mais dura em relação a Pyongyang.”
DW.DE

Ultimas noticias: Ministro da Fazenda renuncia...

Recebido de Brasília, há poucos minutos:


Ministro da Fazenda
Gabinete
1o. de Abril de 2013

Excelentíssima Senhora Presidenta da
República Federativa do Brasil
Dilma Rousseff
Palácio do Planalto
Brasília, DF
Brasil

Senhora Presidenta,
De conformidade com entendimentos já antecipados a Vossa Excelência, e por razões de ordem eminentemente pessoal, venho apresentar, por meio desta carta, minha renúncia, em caráter irrevogável, ao cargo de Ministro de Estado da Fazenda, em que tão honrosamente fui confirmado, quando de sua posse, em 1o. de janeiro de 2011. Eu lhe sou pessoalmente grato por esse gesto de apreço e de reconhecimento por nossos trabalhos conjuntos, em prol do governo e do partido, nas últimas décadas.
Existem diversas razões para que minha colaboração com o governo de Vossa Excelência se encerre nesta conjuntura, mas creio que as seguintes constituem fatores importantes:
1.     A economia brasileira atravessa um período de redefinição de prioridades, a partir de um novo aprofundamento da crise na Europa e também de novas iniciativas de política econômica em nossos parceiros dos BRICS, em especial a China.
2.     A situação internacional, que tem reflexos na economia brasileira, exigirá novas medidas, da parte do governo, em defesa da atividade doméstica, e creio que Vossa Excelência se sentirá mais livre com a designação de um ministro que possa conceber e aplicar novos mecanismos de estímulo a setores que enfrentam dificuldades temporárias.
3.     A despeito dos esforços da área econômica do governo, sob a forma de redução de impostos e de novas concessões de créditos através dos bancos oficiais, a economia brasileira não tem reagido com o vigor necessário para enfrentar a conjuntura de crise.
4.     A situação do balanço de pagamentos começa a exibir sinais de preocupação, com a diminuição dos saldos comerciais e o aumento dos déficits em serviços, o que pode, eventualmente, agravar a lacuna nas transações correntes, gerando novos motivos de stress na frente cambial, o que também exigirá novas medidas nessa área.
5.     As pressões inflacionárias tem sido persistentes, a despeito dos esforços do governo no sentido de controlar os preços, o que aliás redundou em problemas de caixa para a Petrobras (e possivelmente para as companhias de eletricidade, a partir da redução de tarifas determinada por Vossa Excelência), o que também será necessário equacionar.

À margem desses fatores objetivos que se prendem à conjuntura – mas que podem exigir respostas estruturais, que exigirão políticas de longo prazo, para as quais admito que um novo responsável pela área econômica possa ser necessário com vistas a dar novo impulso à economia – minha saída tem a ver, como adiantado, com contingências eminentemente pessoais, sobre as quais Vossa Excelência está perfeitamente bem informada.

Muito respeitosamente,

Guido Mantega
Ministro de Estado da Fazenda

Brasil-Argentina: uma relacao sado-masoquista?

A frase é do leitor deste blog Gilrikardo, que também tem um blog, devotado a sua paixão apaixonada, que também é a minha: educação, simplesmente, o que anda difícil no Brasil e na Argentina.
Vamos ver o que já de sádico, e o que há de masoquista nesta relação, com a ajuda da matéria abaixo.
 Paulo Roberto de Almeida

INVESTIGAÇÃO - 28/03/2013 23h05 - Revista Época

O feirão da Petrobras

Documentos da estatal revelam os bastidores da venda de patrimônio no exterior – como a sociedade secreta na Argentina com um amigo da presidente Cristina Kirchner

DIEGO ESCOSTEGUY, COM MURILO RAMOS, LEANDRO LOYOLA, MARCELO ROCHA E FLÁVIA TAVARES
 
 
Na quarta-feira, dia 27 de março, o executivo Carlos Fabián, do grupo argentino Indalo, esteve no 22o andar da sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, para fechar o negócio de sua vida. É lá que funciona a Gerência de Novos Negócios da Petrobras, a unidade que promove o maior feirão da história da estatal – e talvez do país. Sem dinheiro em caixa, a Petrobras resolveu vender grande parte de seu patrimônio no exterior, que inclui de tudo: refinarias, poços de petróleo, equipamentos, participações em empresas, postos de combustível. Com o feirão, chamado no jargão da empresa de “plano de desinvestimentos”, a Petrobras espera arrecadar cerca de US$ 10 bilhões. De tão estratégica, a Gerência de Novos Negócios reporta-se diretamente à presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster. Ela acompanha detidamente cada oferta do feirão. Nenhuma causou tanta polêmica dentro da Petrobras quanto a que o executivo Fabián viria a fechar em sua visita sigilosa ao Rio: a venda de metade do que a estatal tem na Petrobras Argentina, a Pesa. ÉPOCA teve acesso, com exclusividade, ao acordo confidencial fechado entre as duas partes, há um mês. Nele, prevê-se que a Indalo pagará US$ 900 milhões por 50% das ações que a Petrobras detém na Pesa. Apesar do nome, a Petrobras não é a única dona da Pesa: 33% das ações dela são públicas, negociadas nas Bolsas de Buenos Aires e de Nova York. A Indalo se tornará dona de 33% da Pesa, será sócia da Petrobras no negócio e, segundo o acordo, ainda comprará, por US$ 238 milhões, todas as refinarias, distribuidoras e unidades de petroquímica operadas pela estatal brasileira – em resumo, tudo o que a Petrobras tem de mais valioso na Argentina.
EMPRESÁRIO “K” Cristóbal López (sorrindo, à esq.), num cassino com os Kirchners (Cristina de vermelho, Néstor de gravata lilás). Amizade com o poder (Foto: Juan Cruz Sanz )
O negócio provocou rebuliço dentro da Petrobras por três motivos: o valor e o momento da venda, a identidade do novo sócio e, sobretudo, o tortuoso modo como ele entrou na jogada. Não se trata de uma preocupação irrelevante – a Petrobras investiu muito na Argentina nos últimos dez anos. Metade do petróleo produzido pela Petrobras no exterior vem de lá. Em 2002, a estatal brasileira gastou US$ 1,1 bilhão e assumiu uma dívida estimada em US$ 2 bilhões, para comprar 58% da Perez Companc, então a maior empresa privada de petróleo da Argentina, que já tinha ações negociadas na Bolsa. Após sucessivos investimentos, a Perez Companc passou a se chamar Pesa, e a Petrobras tornou-se dona de 67% da empresa. Nos anos seguintes, a Petrobras continuou investindo maciçamente na Pesa: ao menos US$ 2,1 bilhões até 2009. Valeu a pena. A Pesa atua na exploração, no refino, na distribuição de petróleo e gás e também na área petroquímica. Tem refinarias, gasodutos, centenas de postos de combustível. Em maio de 2011, a Argentina anunciou ter descoberto a terceira maior reserva mundial de xisto – fonte de energia em forma de óleo e gás –, estimada em 23 bilhões de barris, equivalentes à metade do petróleo do pré-sal brasileiro. A Pesa tem 17% das áreas na Argentina onde se identificou esse produto. No ano passado, por fim, a Pesa adquiriu uma petroleira argentina, a Entre Lomos, que proporcionou um aumento em sua produção.

Apesar dos investimentos da Petrobras, quando a economia da Argentina entrou em declínio, há cerca de dois anos, as ações da Pesa desvalorizaram. As desastrosas políticas intervencionistas da presidente Cristina Kirchner contribuíram para a perda de valor da Pesa. De 2011 para cá, as ações da empresa caíram mais de 60%. É por isso que técnicos da Petrobras envolvidos na operação questionam se agora é o melhor momento para fazer negócio – por mais que a Petrobras precise de dinheiro. Seria mais inteligente, dizem os técnicos, esperar que a Pesa recupere valor no mercado. Reservadamente, por medo de sofrer represálias, eles também afirmam que os bens da Petrobras na Argentina – as distribuidoras, refinarias e unidades de petroquímica que constituem a parte física do negócio – valem, ao menos, US$ 400 milhões. Um valor bem maior, portanto, que os US$ 238 milhões acordados com a Indalo. “Se o governo não intervier tanto, a Pesa pode valer muito mais”, diz um dos técnicos. A Petrobras, até dezembro do ano passado, tinha um discurso semelhante. Na última carta aos acionistas, a Pesa diz: “Estamos otimistas em relação ao futuro da Petrobras Argentina. E agora renovamos o compromisso de consolidar uma companhia lucrativa, competitiva e sustentável, comprometida com os interesses do país (Argentina)...”. Em outro trecho da carta, informa-se que os resultados do ano passado foram “encorajadores” e permitiram, como nos cinco anos anteriores, a distribuição de dividendos milionários aos acionistas.
a mensagem 775 petrobraS (Foto: reprodução Revista Época)
Mesmo que os valores do negócio pudessem ser considerados vantajosos para a Petrobras, nada provocou tanto desconforto dentro da estatal como o sócio escolhido. O executivo Fabián trabalha para o bilionário argentino Cristóbal López, dono do grupo Indalo. Ele é conhecido como “czar do jogo”, em virtude de seu vasto domínio no mundo dos cassinos (na Argentina, o jogo é legal). López é amigo e apoiador da presidente da Argentina, Cristina Kirchner.

Como o “czar do jogo” da Argentina virou sócio da Petrobras? No dia 5 de novembro do ano passado, López enviou uma carta, em espanhol, à presidente da Petrobras, Graça Foster. Na carta, a que ÉPOCA teve acesso, López revela ser um homem bem informado. Não se sabe como, mas ele descobrira que a Petrobras estava negociando a venda da Pesa com três de seus concorrentes. O assunto da carta, embora em economês, deixava claras as intenções do empresário López: “Ref. Pesa Proposta de aquisição e integração de ativos”. López, portanto, queria comprar um pedaço da Pesa. Na carta, ele manifestou a “firme intenção de chegar a um entendimento entre Pesa e Oíl Combustibles S.A.”, a empresa de petróleo de López, para que a operação viesse a ser fechada. No documento, López propôs comprar 25% das ações que a Petrobras detinha na Pesa. Queria também a opção de, se a parceria desse certo, comprar mais 23,52% das ações – uma proposta mais modesta do que o acordo que ele conseguiu depois.

A resposta da Petrobras também veio por escrito, semanas depois. No dia 21 de novembro, Ubiratan Clair, executivo de confiança de Graça Foster, que toca o feirão da Petrobras e negociava a venda da Pesa aos concorrentes do “czar do jogo”, escreveu a López: “Nos sentimos honrados pelo interesse manifestado na compra de 25% (da Pesa). No entanto, devemos indicar que as ações da Pesa não fazem parte de nossa carteira de desinvestimentos, razão pela qual não podemos iniciar qualquer negociação relativa às mesmas”. Diante do que aconteceu em seguida, a carta do assessor de Graça Foster causa espanto. Não só ele escondeu que a Pesa estava, sim, à venda – como, semanas depois, fechou acordo com o próprio López. No dia 18 de dezembro, menos de um mês após a inequívoca negativa, o mesmo assessor de Graça Foster firmou um “convênio de confidencialidade” com López para lhe vender a Pesa.

O que houve nesse espaço de um mês? Por que a Petrobras mudou de ideia e resolveu fechar negócio com López? A estatal não explica. Assessores envolvidos na operação dizem apenas que “veio a ordem” de fechar com o amigo de Cristina Kirchner. Procurada por ÉPOCA em três oportunidades, a assessoria da Petrobras limitou-se a responder que “não vai emitir comentários sobre assuntos relacionados com o seu Programa de Desinvestimento”. Graça Foster e o executivo Ubiratan não responderam às ligações. A assessoria de López confirmou apenas que o grupo Indalo fez uma proposta pela Pesa.

López é o que a imprensa argentina chama de “empresário K”, como são conhecidos os empresários que têm proximidade com o governo Kirchner. Ele tem empresas de transporte, construção civil, petróleo, alimentação, concessionárias e meios de comunicação. É famoso por suas redes de cassino e caça-níquel. É sócio em pelo menos 14 cassinos, incluindo o Hipódromo de Palermo, para o qual ganhou de Néstor Kirchner, nos últimos dias como presidente da Argentina, uma extensão da concessão para os caça-níqueis – o prazo foi estendido de 2017 a 2032.
ERRO Refinaria de Pasadena. Os técnicos da Petrobras aconselharam a fazer acordo. Foram ignorados (Foto: Dave Fehling/Stateimpact Texas)
A relação entre López e Néstor Kirchner, o marido de Cristina, que governou o país antes dela e morreu em 2010, começou em 1998. Néstor, quando governador de Santa Cruz, ajudou uma empresa de López a fechar negócios com petroleiras. Desde então, López nunca escondeu de ninguém: sentia que tinha uma “dívida eterna” com Néstor. Para pagar a “dívida eterna”, convidava Néstor, que sempre gostou de uma mesa de jogo, a se divertir num dos cassinos dele em Comodoro Rivadavia. A amizade era recíproca. Em 2006, López recebeu de Néstor concessão para explorar sete reservas de petróleo em Santa Cruz. Cristina, a sucessora, também o ajudou. Fez-lhe um favorzinho depois que ele gastou US$ 40 milhões na compra da concessão do canal de TV C5N, a fim de torná-lo governista. Para que fechasse o negócio, Cristina abriu exceções na lei de audiovisual, que proíbe negociar concessões.

Depois que a Petrobras fechou o acordo de confidencialidade com López, o negócio andou rápido. Ele apresentou uma proposta em 7 de janeiro, aumentou o valor numa segunda proposta, um mês depois – e fechou a compra das ações por US$ 900 milhões em 22 de fevereiro. Com o acordo, López e a Petrobras discutem agora os detalhes do contrato a ser assinado. Se tudo correr como previsto, resta apenas a aprovação do Conselho de Administração da Petrobras, que se reunirá no final de abril. A Pesa, porém, enfrentará resistências na Argentina se assinar o contrato. O atual governador de Santa Cruz, Daniel Peralta, um desafeto de López, ameaçou tirar dele as concessões das sete reservas de petróleo que López tem na região. Peralta diz que ele não fez os investimentos previstos. Diz, ainda, que a situação em Santa Cruz pode “inviabilizar” o negócio com a Petrobras – mas não diz como.

O maior problema do negócio da Petrobras com o “czar do jogo”, e com todas as operações do feirão, é a falta de transparência. Como demonstra o caso da Argentina, não há critérios claros para a escolha das empresas que farão negócio com a Petrobras. Esse modelo sigiloso e sem controle resultou em calamidades, como a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Em 2004, a Astra Trading pagou US$ 42 milhões pela refinaria. Meses depois, a Petrobras pagou US$ 360 milhões por metade do negócio. Tempos depois, um desentendimento entre as sócias levou a questão à Justiça. A Petrobras perdeu e foi condenada a comprar não só a parte da sócia, como a pagar multa, juros e indenização. Em junho, a Petrobras anunciou que pagaria mais US$ 820 milhões.

ÉPOCA teve acesso a um documento interno da Petrobras, elaborado em 2009. Um trecho afirma que a então diretoria, comandada pelo petista José Sergio Gabrielli, decidiu manter o processo devido à “prepotência” com que a Astra se colocava no caso. Logo depois, o documento lista razões para fazer um acordo. Uma delas é que um representante da Astra procurara a Petrobras em busca de entendimento. A razão mais forte era clara: “Caso no litígio a Petrobras perca, o custo total irá para cima de US$ 1 bilhão (...). Vale lembrar que a Petrobras já perdeu na arbitragem, e a possibilidade de perder na corte é preocupante”. A opção do acordo era a menos pior. A Petrobras gastaria, no máximo, US$ 639 milhões. O documento afirma que a (então) “ministra (de Minas e Energia) Dilma Rousseff deverá ser procurada para ser informada de que a Astra está procurando entendimentos, inicialmente por canais informais”. O texto diz que Dilma Rousseff deveria comunicar isso na reunião do Conselho da Petrobras, marcada para 17 de julho de 2009. O Conselho daria então um prazo para um acordo com a Astra. O pior cenário sobreveio. A Petrobras não fez nenhum acordo com a Astra, perdeu na Justiça e gastou mais de US$ 1 bilhão (boa parte dele dinheiro público) – 24 vezes o que a Astra pagou pela refinaria. O Tribunal de Contas da União investiga como a Petrobras pôde fazer um negócio tão ruim – pelo menos para seu caixa e para os cofres públicos.
TESOURO AFRICANO Plataforma de petróleo na Nigéria. A Petrobras investiu US$ 4 bilhões na África, entre 2003 e 2010, e pretende se desfazer de várias operações no continente (Foto: Dave Fehling/Stateimpact Texas)
A ausência de critério, segundo executivos da Petrobras, aparece também na parte mais valiosa do feirão: as operações da estatal na África. Cálculos do mercado e da Petrobras estimam o patrimônio no continente num patamar entre US$ 5 bilhões e US$ 8 bilhões. A Petrobras produz e explora petróleo em Angola, Benin, Gabão, Líbia, Namíbia, Nigéria e Tanzânia. De 2003 a 2010, investiu cerca de US$ 4 bilhões na África. ÉPOCA teve acesso a documentos internos da Petrobras que apresentam um diagnóstico sobre os negócios na África que devem ser vendidos, incluindo mapas com a localização dos poços e informações sobre seu potencial produtivo. O material mostra muitas possibilidades de lucro. A maior fatia de investimento está na Nigéria, responsável por 23% da produção atual de toda a área internacional da companhia – uma média equivalente a 55 mil barris de óleo por dia. São três poços na Nigéria: Agbami, Akpo e Engina. Os documentos da Petrobras mostram que os três poços têm “reservas provadas” de 150 milhões de barris de petróleo.

Para quem a Petrobras planeja vender tamanho tesouro? A estatal, de novo, não explica os critérios. Até agora, a única negociação avançada é com o grupo BTG, do banqueiro André Esteves. Por meio do investidor Hamylton Padilha, uma das mais poderosas influências na Petrobras, Esteves, segundo executivos da estatal envolvidos com a transação, negocia a compra de parte das operações na Nigéria. Questionado por ÉPOCA, Padilha afirmou ter se reunido com representantes do banco para avaliar investimentos na Petrobras. “Conversei com o pessoal (BTG) sobre esse assunto (venda de ativos da Petrobras). A Petrobras convidou diversas empresas estrangeiras para poder fazer ofertas no Golfo do México, África e até na América Latina. Sei que na área de petróleo eles (BTG) estão olhando. Têm participação em duas empresas ligadas ao setor: Bravante e Sete Brasil”, disse. “Não trabalho para o BTG. Sou investidor. Investi algum dinheiro na Sete Brasil (ligada à construção de plataformas de petróleo).” Indagado sobre quem é a pessoa mais indicada para falar, pelo BTG, sobre investimentos na Petrobras, sobretudo na África, Padilha disse: “A pessoa que trata desse assunto diretamente é o André Esteves”. O BTG disse que não se manifestaria.

Um capitalista estrangeiro indignado com o Brasil...

Não com o Brasil, exatamente, mas contra as pessoas que formulam as políticas no Brasil.
Pode até ser considerado um imperialista especulador pelos companheiros, mas ele deve ter motivos para estar furioso...
Como já disse uma economista quase marxista, pior do que ser explorado pelo capitalismo, é não ser explorado pelos capitalistas...
Paulo Roberto de Almeida

A bronca de Jim Rogers

Na ultima quinta-feira, dia 28 de março, o investidor americano Jim Rogers deu uma entrevista à agência de notícias Broadcast na qual ele soltou o verbo sobre a dificuldade de investir no Brasil.
Segue abaixo o que foi publicado na entrevista do investidor à jornalista Luciana Antonello Xavier. Talvez seja exagero, mas mostra o mal humor do mercado financeiro internacional com o Brasil no momento.
Broadcast – Que saída o Brasil tem para conseguir um bom desempenho econômico? O que nossa presidente pode fazer? 
Rogers – Bem, ela poderia parar de impedir capital novo de entrar no País. Aquela senhora que governa o País está promovendo guerra cambial, tornando impossível investir no Brasil, tornando ilegal para os estrangeiros investirem no País. Ela coloca obstáculos para chineses e coreanos, aqueles que são grandes ‘clientes’ do Brasil. Ela tem que tornar o País mais acessível! Ela tem que parar com o controle da moeda. Ela não está ajudando o Brasil, está prejudicando. Deveria haver uma abertura maior do País, uma abertura maior para o capital. Desse modo, o Brasil poderia ser um dos grandes países do mundo. Mas esta senhora é uma das muitas pessoas que têm impedido que o Brasil seja uma das principais economias do mundo.
Broadcast – O senhor não tem dinheiro no Brasil? 
Rogers – Não, não tenho dinheiro no Brasil. Eu tive, mas não tenho agora. Já houve tempos de se investir no Brasil. Mas quando você tem alguém que é contra expertise, contra capital, que ataca seus parceiros, alguém com esse tipo de atitude, então não dá para investir no Brasil. Mas se isso mudar, voltarei a colocar meu dinheiro lá.

O assedio em ritmo diplomatico...


Até maio, Itamaraty define se investiga cônsul emSydney por assédio moral
 Juliana Colares
 Correio Braziliense, 30/03/2013

Em duas denúncias encaminhadas ao Ministério das Relações Exteriores (MRE), o cônsul é acusado de intimidar, humilhar e agredir subordinados verbalmente
Em fevereiro, servidores protestaram em frente ao Palácio do Itamaraty sobre casos de assédio moral
A Comissão de Ética Pública do Itamaraty decidirá até o fim de abril se abre processo de apuração ética (PAE) contra o cônsul-geral do Brasil em Sydney, Américo Dyott Fontenelle, para investigar suposta prática de assédio moral. A decisão será embasada no relatório do embaixador do Brasil no Kuwait, Roberto Abdalla, enviado à Austrália em fevereiro para diagnosticar a situação. Sigiloso, o documento entregue à comissão no último dia 19 foi elaborado após a coleta de depoimentos de servidores e contratados locais do consulado do Brasil na cidade australiana. Em duas denúncias encaminhadas ao Ministério das Relações Exteriores (MRE), o cônsul é acusado de intimidar, humilhar e agredir subordinados verbalmente. O “caso Fontenelle” foi o estopim para o primeiro protesto contra assédio moral do Itamaraty, em fevereiro, e ajudou a tornar públicas denúncias informais de assédio moral, vindas de diferentes embaixadas do Brasil no exterior, que nunca haviam extrapolado os muros da instituição.
As denúncias chegaram ao Congresso. Os senadores Paulo Paim (PT-RS) e Cristovam Buarque (PDT-DF) vão se reunir com sindicatos e associações que representam servidores do MRE para, em seguida, tratar da situação com o Itamaraty. Segundo Paim, uma audiência pública será convocada caso não sejam tomadas medidas por parte do MRE para minimizar o problema.

Antes de chegar a Sydney, o cônsul Américo Fontenelle já havia sido investigado por assédio moral em 2007, quando atuava em Toronto, no Canadá, mas a sindicância acabou arquivada pela “extrema dificuldade de se obter provas materiais”, apesar dos “elementos testemunhais relevantes”. Segundo juristas ouvidos pelo Correio, a principal prova desse tipo de denúncia é justamente a testemunhal. “Pode haver documentos, como cartas, ameaças por escrito ou documentos que mostrem que a vítima é chamada por um apelido jocoso pelo assediador, por exemplo. Mas, normalmente, a prova é testemunhal”, afirmou o advogado trabalhista Wadih Damous, lembrando que a doutrina do direito ainda não se deteve sobre a questão do assédio moral e que essa questão vem sendo construída pelos tribunais.

Em toda a história do Itamaraty, nunca houve punição por assédio moral. Segundo levantamento feito pelo ministério, 41 procedimentos disciplinares foram analisados pela Corregedoria do MRE nos últimos 10 anos, nenhum sobre assédio moral. Não aparece na conta do MRE a sindicância contra o cônsul Américo Fontenelle à época da atuação em Toronto. Um terço dos investigados pelo Itamaraty acabou punido, segundo Adriano Silva Pucci, suplente da Comissão de Ética, indicado pelo MRE para responder oficialmente pela instituição. Apenas um dos investigados, um diplomata, recebeu a penalidade máxima: o desligamento. A descrença dos funcionários de Sydney na condução da investigação feita pelo MRE fez Abdalla ser chamado de “embaixador abafa” nos corredores do consulado do Brasil naquela cidade. Na última quinta, oito funcionários do posto australiano elaboraram um abaixo-assinado para pedir a abertura de processo administrativo disciplinar contra Fontenelle e o cônsul-geral adjunto, César Cidade.

domingo, 31 de março de 2013

Uma super Pascoa russa (com direito a tudo o que eles ja' fizeram...)

Pois é, eu já tinha feito aqui um post sobre aquela velha história do ladrão que rouba ladrão, não é mesmo?
Não sei se terá cem anos de perdão, mas podem contar com ódio eterno do governo, dos novos ricos, dos mafiosos, dos capitalistas russos, enfim, de tutti quanti tinham enriquecido honestamente na Rússia, nos últimos 20 anos, e que tinham se dedicado a fazer um pouco de caridade com uma pequena ilha semi-pobre do Mediterrâneo.
Essa falta de garantia sobre a riqueza adquirida ainda vai matar o capitalismo...
Paulo Roberto de Almeida

Confisco pode chegar a 60% para os clientes do Banco de Chipre

Situação só não é pior do que no banco Laiki, onde os correntistas com mais de € 100 mil perderão 100%

Andrei Netto, correspondente
PARIS - Uma semana após a aprovação de um plano de resgate de € 17 bilhões, o governo do Chipre e os correntistas dos maiores bancos do país começam a descobrir a amplitude do confisco exigido pela União Europeia, o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Cálculos preliminares e extraoficiais indicam que o corte no saldo de contas correntes, poupanças e investimentos com mais de € 100 mil poderá chegar a 60% para os clientes do Banco de Chipre, o maior da ilha. A situação só não é pior do que no banco Laiki, onde os correntistas com recursos acima deste valor perderão 100%.
O confisco de recursos de investidores privados foi a fórmula encontrada por Bruxelas e pelo FMI para fazer com que o governo cipriota arrecade € 7 bilhões em recursos, montante da contrapartida do país aos € 10 bilhões em recursos internacionais que lhes serão emprestados. Pelo acordo de socorro, o Banco Laiki (Popular) será extinto. Clientes com menos de € 100 mil serão transferidos ao Banco de Chipre, enquanto os demais perderão seus recursos.
O memorando de entendimento também previa o confisco de parte dos recursos dos clientes do Banco de Chipre. Há uma semana, Jeroen Dijsselbloem, coordenador do fórum de ministros de Finanças da zona do euro (Eurogrupo), havia estimado os cortes entre 25% e 40%. No sábado à noite, o Banco Central cipriota informou que o corte será de 37,5%, valor que será transformado em ações da instituição - o que transformará, compulsoriamente, os correntistas em sócios do banco. Além disso, outros 22,5% serão congelados e poderão ser confiscados caso o governo precise de recursos extras.
"A primeira estimativa feita é de que 37,5% dos depósitos acima de € 100 mil serão convertidos em ações", confirmou o ministro das Finanças, Michalis Sarris. "Por segurança, uma vez que os cálculos foram feitos sobre o montante que precisamos, 22,5% ficarão em separado." Segundo nota do BC cipriota, a decisão será informada "90 dias após o fim da avaliação".
Alternativas
Conforme o porta-voz do governo cipriota, Christos Stylianides, as autoridades também buscarão outras alternativas para geração de recursos, "investigando todos os aspectos da crise no setor bancário". Para Stylianides, as opções podem incluir "a supressão ou a redução de empréstimos e outros serviços fornecidos por bancos cipriotas no país e no exterior".
Chipre viveu um feriado bancário de 12 dias em razão da turbulência financeira no país. As agências bancárias foram reabertas na quinta-feira, mas um controle de fluxo de capitais, estabelecendo limites estritos para os correntistas, entre os quais saques de € 300 por semana e transferências internacionais de até € 5 mil por mês.
Segundo relatório do Instituto da Finança Internacional (IIF), o órgão que representa grandes investidores mundiais, o plano de socorro da UE para o Chipre causará uma depressão da ordem de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do país em apenas dois anos. Para efeitos de comparação, a Grécia, nação mais atingida pela recessão na Europa, levou cinco anos para chegar à depressão de 20%.

Uma zona para ninguem botar defeito: uma super zona...

Calma, calma, os mais afoitos, que ainda não está pronta.
Quando estiver, será realmente do cacete, como se diz vulgarmente...
Mas, não se preocupem as almas cândidas e os espíritos puros, essa zona será cristã e de muito bons modos.
Se trata da super zona de livre comércio entre os EUA e a UE, abrangente como nenhuma outra, sem pecados veniais; serão todos originais: certamente não desmantelarão o protecionismo agrícola pornográfico, nem o subvencionismo escandaloso, que faz corar os livre-cambistas mais ortodoxos.
Em todo caso, esse carnaval todo era apenas para anunciar a publicação de meu mais recente artigo:

1090. “EUA e UE negociam uma super zona de livre comércio”, O Debatedouro (Belo Horizonte: ano 12, n. 1, ed. 82, março 2013, p. 33-37; ISNN: 1678-6637; link: http://odebatedouro.files.wordpress.com/2013/03/debat82.pdf).

Miseria do keynesianismo americano - David Stockman (NYT)

Ao final, entrevista, link para o livro do autor e mais informações.
Paulo Roberto de Almeida 

State-Wrecked: The corruption of capitalism in America
David A. Stockman
The New York Times, Opinion, Sunday, March 31, 2013

Over the last 13 years, the stock market has twice crashed and touched off a recession: American households lost $5 trillion in the 2000 dot-com bust and more than $7 trillion in the 2007 housing crash. Sooner or later — within a few years, I predict — this latest Wall Street bubble, inflated by an egregious flood of phony money from the Federal Reserve rather than real economic gains, will explode, too.

Since the S.&P. 500 first reached its current level, in March 2000, the mad money printers at the Federal Reserve have expanded their balance sheet sixfold (to $3.2 trillion from $500 billion). Yet during that stretch, economic output has grown by an average of 1.7 percent a year (the slowest since the Civil War); real business investment has crawled forward at only 0.8 percent per year; and the payroll job count has crept up at a negligible 0.1 percent annually. Real median family income growth has dropped 8 percent, and the number of full-time middle class jobs, 6 percent. The real net worth of the “bottom” 90 percent has dropped by one-fourth. The number of food stamp and disability aid recipients has more than doubled, to 59 million, about one in five Americans.

So the Main Street economy is failing while Washington is piling a soaring debt burden on our descendants, unable to rein in either the warfare state or the welfare state or raise the taxes needed to pay the nation’s bills. By default, the Fed has resorted to a radical, uncharted spree of money printing. But the flood of liquidity, instead of spurring banks to lend and corporations to spend, has stayed trapped in the canyons of Wall Street, where it is inflating yet another unsustainable bubble.

When it bursts, there will be no new round of bailouts like the ones the banks got in 2008. Instead, America will descend into an era of zero-sum austerity and virulent political conflict, extinguishing even today’s feeble remnants of economic growth.

THIS dyspeptic prospect results from the fact that we are now state-wrecked. With only brief interruptions, we’ve had eight decades of increasingly frenetic fiscal and monetary policy activism intended to counter the cyclical bumps and grinds of the free market and its purported tendency to underproduce jobs and economic output. The toll has been heavy.

As the federal government and its central-bank sidekick, the Fed, have groped for one goal after another — smoothing out the business cycle, minimizing inflation and unemployment at the same time, rolling out a giant social insurance blanket, promoting homeownership, subsidizing medical care, propping up old industries (agriculture, automobiles) and fostering new ones (“clean” energy, biotechnology) and, above all, bailing out Wall Street — they have now succumbed to overload, overreach and outside capture by powerful interests. The modern Keynesian state is broke, paralyzed and mired in empty ritual incantations about stimulating “demand,” even as it fosters a mutant crony capitalism that periodically lavishes the top 1 percent with speculative windfalls.

The culprits are bipartisan, though you’d never guess that from the blather that passes for political discourse these days. The state-wreck originated in 1933, when Franklin D. Roosevelt opted for fiat money (currency not fundamentally backed by gold), economic nationalism and capitalist cartels in agriculture and industry.

Under the exigencies of World War II (which did far more to end the Depression than the New Deal did), the state got hugely bloated, but remarkably, the bloat was put into brief remission during a midcentury golden era of sound money and fiscal rectitude with Dwight D. Eisenhower in the White House and William McChesney Martin Jr. at the Fed.

Then came Lyndon B. Johnson’s “guns and butter” excesses, which were intensified over one perfidious weekend at Camp David, Md., in 1971, when Richard M. Nixon essentially defaulted on the nation’s debt obligations by finally ending the convertibility of gold to the dollar. That one act — arguably a sin graver than Watergate — meant the end of national financial discipline and the start of a four-decade spree during which we have lived high on the hog, running a cumulative $8 trillion current-account deficit. In effect, America underwent an internal leveraged buyout, raising our ratio of total debt (public and private) to economic output to about 3.6 from its historic level of about 1.6. Hence the $30 trillion in excess debt (more than half the total debt, $56 trillion) that hangs over the American economy today.

This explosion of borrowing was the stepchild of the floating-money contraption deposited in the Nixon White House by Milton Friedman, the supposed hero of free-market economics who in fact sowed the seed for a never-ending expansion of the money supply. The Fed, which celebrates its centenary this year, fueled a roaring inflation in goods and commodities during the 1970s that was brought under control only by the iron resolve of Paul A. Volcker, its chairman from 1979 to 1987.

Under his successor, the lapsed hero Alan Greenspan, the Fed dropped Friedman’s penurious rules for monetary expansion, keeping interest rates too low for too long and flooding Wall Street with freshly minted cash. What became known as the “Greenspan put” — the implicit assumption that the Fed would step in if asset prices dropped, as they did after the 1987 stock-market crash — was reinforced by the Fed’s unforgivable 1998 bailout of the hedge fund Long-Term Capital Management.

That Mr. Greenspan’s loose monetary policies didn’t set off inflation was only because domestic prices for goods and labor were crushed by the huge flow of imports from the factories of Asia. By offshoring America’s tradable-goods sector, the Fed kept the Consumer Price Index contained, but also permitted the excess liquidity to foster a roaring inflation in financial assets. Mr. Greenspan’s pandering incited the greatest equity boom in history, with the stock market rising fivefold between the 1987 crash and the 2000 dot-com bust.

Soon Americans stopped saving and consumed everything they earned and all they could borrow. The Asians, burned by their own 1997 financial crisis, were happy to oblige us. They — China and Japan above all — accumulated huge dollar reserves, transforming their central banks into a string of monetary roach motels where sovereign debt goes in but never comes out. We’ve been living on borrowed time — and spending Asians’ borrowed dimes.

This dynamic reinforced the Reaganite shibboleth that “deficits don’t matter” and the fact that nearly $5 trillion of the nation’s $12 trillion in “publicly held” debt is actually sequestered in the vaults of central banks. The destruction of fiscal rectitude under Ronald Reagan — one reason I resigned as his budget chief in 1985 — was the greatest of his many dramatic acts. It created a template for the Republicans’ utter abandonment of the balanced-budget policies of Calvin Coolidge and allowed George W. Bush to dive into the deep end, bankrupting the nation through two misbegotten and unfinanced wars, a giant expansion of Medicare and a tax-cutting spree for the wealthy that turned K Street lobbyists into the de facto office of national tax policy. In effect, the G.O.P. embraced Keynesianism — for the wealthy.

The explosion of the housing market, abetted by phony credit ratings, securitization shenanigans and willful malpractice by mortgage lenders, originators and brokers, has been well documented. Less known is the balance-sheet explosion among the top 10 Wall Street banks during the eight years ending in 2008. Though their tiny sliver of equity capital hardly grew, their dependence on unstable “hot money” soared as the regulatory harness the Glass-Steagall Act had wisely imposed during the Depression was totally dismantled.

Within weeks of the Lehman Brothers bankruptcy in September 2008, Washington, with Wall Street’s gun to its head, propped up the remnants of this financial mess in a panic-stricken melee of bailouts and money-printing that is the single most shameful chapter in American financial history.

There was never a remote threat of a Great Depression 2.0 or of a financial nuclear winter, contrary to the dire warnings of Ben S. Bernanke, the Fed chairman since 2006. The Great Fear — manifested by the stock market plunge when the House voted down the TARP bailout before caving and passing it — was purely another Wall Street concoction. Had President Bush and his Goldman Sachs adviser (a k a Treasury Secretary) Henry M. Paulson Jr. stood firm, the crisis would have burned out on its own and meted out to speculators the losses they so richly deserved. The Main Street banking system was never in serious jeopardy, ATMs were not going dark and the money market industry was not imploding.

Instead, the White House, Congress and the Fed, under Mr. Bush and then President Obama, made a series of desperate, reckless maneuvers that were not only unnecessary but ruinous. The auto bailouts, for example, simply shifted jobs around — particularly to the aging, electorally vital Rust Belt — rather than saving them. The “green energy” component of Mr. Obama’s stimulus was mainly a nearly $1 billion giveaway to crony capitalists, like the venture capitalist John Doerr and the self-proclaimed outer-space visionary Elon Musk, to make new toys for the affluent.

Less than 5 percent of the $800 billion Obama stimulus went to the truly needy for food stamps, earned-income tax credits and other forms of poverty relief. The preponderant share ended up in money dumps to state and local governments, pork-barrel infrastructure projects, business tax loopholes and indiscriminate middle-class tax cuts. The Democratic Keynesians, as intellectually bankrupt as their Republican counterparts (though less hypocritical), had no solution beyond handing out borrowed money to consumers, hoping they would buy a lawn mower, a flat-screen TV or, at least, dinner at Red Lobster.

But even Mr. Obama’s hopelessly glib policies could not match the audacity of the Fed, which dropped interest rates to zero and then digitally printed new money at the astounding rate of $600 million per hour. Fast-money speculators have been “purchasing” giant piles of Treasury debt and mortgage-backed securities, almost entirely by using short-term overnight money borrowed at essentially zero cost, thanks to the Fed. Uncle Ben has lined their pockets.

If and when the Fed — which now promises to get unemployment below 6.5 percent as long as inflation doesn’t exceed 2.5 percent — even hints at shrinking its balance sheet, it will elicit a tidal wave of sell orders, because even a modest drop in bond prices would destroy the arbitrageurs’ profits. Notwithstanding Mr. Bernanke’s assurances about eventually, gradually making a smooth exit, the Fed is domiciled in a monetary prison of its own making.

While the Fed fiddles, Congress burns. Self-titled fiscal hawks like Paul D. Ryan, the chairman of the House Budget Committee, are terrified of telling the truth: that the 10-year deficit is actually $15 trillion to $20 trillion, far larger than the Congressional Budget Office’s estimate of $7 trillion. Its latest forecast, which imagines 16.4 million new jobs in the next decade, compared with only 2.5 million in the last 10 years, is only one of the more extreme examples of Washington’s delusions.

Even a supposedly “bold” measure — linking the cost-of-living adjustment for Social Security payments to a different kind of inflation index — would save just $200 billion over a decade, amounting to hardly 1 percent of the problem. Mr. Ryan’s latest budget shamelessly gives Social Security and Medicare a 10-year pass, notwithstanding that a fair portion of their nearly $19 trillion cost over that decade would go to the affluent elderly. At the same time, his proposal for draconian 30 percent cuts over a decade on the $7 trillion safety net — Medicaid, food stamps and the earned-income tax credit — is another front in the G.O.P.’s war against the 99 percent.

Without any changes, over the next decade or so, the gross federal debt, now nearly $17 trillion, will hurtle toward $30 trillion and soar to 150 percent of gross domestic product from around 105 percent today. Since our constitutional stasis rules out any prospect of a “grand bargain,” the nation’s fiscal collapse will play out incrementally, like a Greek/Cypriot tragedy, in carefully choreographed crises over debt ceilings, continuing resolutions and temporary budgetary patches.

The future is bleak. The greatest construction boom in recorded history — China’s money dump on infrastructure over the last 15 years — is slowing. Brazil, India, Russia, Turkey, South Africa and all the other growing middle-income nations cannot make up for the shortfall in demand. The American machinery of monetary and fiscal stimulus has reached its limits. Japan is sinking into old-age bankruptcy and Europe into welfare-state senescence. The new rulers enthroned in Beijing last year know that after two decades of wild lending, speculation and building, even they will face a day of reckoning, too.

THE state-wreck ahead is a far cry from the “Great Moderation” proclaimed in 2004 by Mr. Bernanke, who predicted that prosperity would be everlasting because the Fed had tamed the business cycle and, as late as March 2007, testified that the impact of the subprime meltdown “seems likely to be contained.” Instead of moderation, what’s at hand is a Great Deformation, arising from a rogue central bank that has abetted the Wall Street casino, crucified savers on a cross of zero interest rates and fueled a global commodity bubble that erodes Main Street living standards through rising food and energy prices — a form of inflation that the Fed fecklessly disregards in calculating inflation.

These policies have brought America to an end-stage metastasis. The way out would be so radical it can’t happen. It would necessitate a sweeping divorce of the state and the market economy. It would require a renunciation of crony capitalism and its first cousin: Keynesian economics in all its forms. The state would need to get out of the business of imperial hubris, economic uplift and social insurance and shift its focus to managing and financing an effective, affordable, means-tested safety net.

All this would require drastic deflation of the realm of politics and the abolition of incumbency itself, because the machinery of the state and the machinery of re-election have become conterminous. Prying them apart would entail sweeping constitutional surgery: amendments to give the president and members of Congress a single six-year term, with no re-election; providing 100 percent public financing for candidates; strictly limiting the duration of campaigns (say, to eight weeks); and prohibiting, for life, lobbying by anyone who has been on a legislative or executive payroll. It would also require overturning Citizens United and mandating that Congress pass a balanced budget, or face an automatic sequester of spending.

It would also require purging the corrosive financialization that has turned the economy into a giant casino since the 1970s. This would mean putting the great Wall Street banks out in the cold to compete as at-risk free enterprises, without access to cheap Fed loans or deposit insurance. Banks would be able to take deposits and make commercial loans, but be banned from trading, underwriting and money management in all its forms.

It would require, finally, benching the Fed’s central planners, and restoring the central bank’s original mission: to provide liquidity in times of crisis but never to buy government debt or try to micromanage the economy. Getting the Fed out of the financial markets is the only way to put free markets and genuine wealth creation back into capitalism.

That, of course, will never happen because there are trillions of dollars of assets, from Shanghai skyscrapers to Fortune 1000 stocks to the latest housing market “recovery,” artificially propped up by the Fed’s interest-rate repression. The United States is broke — fiscally, morally, intellectually — and the Fed has incited a global currency war (Japan just signed up, the Brazilians and Chinese are angry, and the German-dominated euro zone is crumbling) that will soon overwhelm it. When the latest bubble pops, there will be nothing to stop the collapse. If this sounds like advice to get out of the markets and hide out in cash, it is.

David A. Stockman is a former Republican congressman from Michigan, President Ronald Reagan’s budget director from 1981 to 1985 and the author, most recently, of “The Great Deformation: The Corruption of Capitalism in America.”
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“The Great Deformation” by David Stockman
http://www.amazon.com/Great-Deformation-Capitalism-Corrupted-Democracy/dp/1586489127

Entrevista em 2/04/2013:
http://www.youtube.com/watch?v=x6hmrk8kvE4

Debate sobre o livro:
http://www.youtube.com/watch?v=TNDXC88po_I

Grato ao Fernando Ulrich pelo envio destas informações.

sábado, 30 de março de 2013

França, de 1983 a 2013: austeridade, ainda que tardia

Mars 1983 – mars 2013, une « trop longue crise »
Françoise Fressoz
Le Monde, 29 Mars 2013

Il y a trente ans, presque jour pour jour, François Mitterrand prenait le tournant de la rigueur après avoir défendu pendant deux ans une politique de relance censée changer la vie.

Jeudi, sur France 2, François Hollande n'a pas pris le tournant de la rigueur pour la simple raison que la rigueur s'est imposée à lui dès le début de son quinquennat. Il n'a pas hésité à l'engager, contrairement à son lointain prédécesseur, parce que le niveau de la dette ne permettait plus à la France de tergiverser.

Mais il a pu mesurer, comme François Mitterrand, le coût politique et social de cette politique de remise en ordre des comptes publics. Comment incarner le progrès et insuffler l'espoir quand les usines ferment, que le chômage explose, que le pouvoir d'achat baisse, que la croissance est en berne et que le déficit de la balance commerciale sanctionne un inquiétant retard de compétitivité ?

Entre mars 1983 et mars 2013, les termes du débat n'ont pas fondamentalement changé : c'est le rapport à l'Allemagne qui est posé, avec en filigrane le décrochage français, qui nourrit une sorte de désespérance et crée dans tout le pays les germes de la division.

Une partie de la gauche crie à la trahison, la droite se radicalise, le Front national réussit une percée locale. Et cette répétition, à trois décennies de distance, est une désespérance supplémentaire.

François Hollande, qui connaît bien son histoire, sent le drame se nouer. Il reconnaît que "la crise a été trop longue". Il injecte autant qu'il le peut des antidotes, se veut rassembleur pour deux et réconfortant pour trois. Il "croit en la grandeur française" et nie que "l'Allemagne soit plus forte que nous".

Il "se bat" pour la croissance et rejette farouchement le mot d'austérité, exactement comme François Mitterrand en mars 1983, mais avec un handicap supplémentaire.

A l'époque, le président socialiste avait reporté tous ses espoirs sur l'Europe qu'il s'était mis à bâtir à coups d'Acte unique et de monnaie unique. François Hollande n'a plus la chance de cette utopie.

L'Europe est l'objet d'un ressentiment croissant. Elle semble paralysée, inerte face à la montée du populisme et incapable d'assurer la prospérité. La relation franco-allemande s'est délitée au point que le président se veut le chef de file des pays du Sud qui se rebellent contre la potion allemande.

François Mitterrand rêvait de faire l'Europe de la croissance en complicité avec l'Allemagne. François Hollande se fixe pour objectif de combattre l'Europe de l'austérité en confrontation avec Angela Merkel. C'est toute la différence.

par Françoise Fressoz


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Agronegocio: o eixo dinâmico da economia brasileira

O artigo é bom, self-praise, mas deixa de identificar e de mensurar, claramente, os fatores positivos e negativos de produtividade e de competitividade do agronegócio nacional.
Paulo Roberto de Almeida

O eixo dinâmico da economia nacional
O Estado de S.Paulo, 30 de março de 2013
Luiz Carlos Corrêa Carvalho *

Alguns dias atrás, neste jornal, o ex-governador de São Paulo José Serra mostrou a sua preocupação com o processo de desindustrialização do País e questionou: "Nada contra a brilhante expansão da produção e da exportação de bens agrominerais. Mas alguém acredita, e demonstra, que, além do papel estratégico na geração de divisas, esse setor poderia tornar-se o eixo dinâmico de um país continental, de 200 milhões de habitantes?". É preciso avaliar isso com cuidado. Em época antecipada de disputa eleitoral, seus comentários foram, provavelmente, uma crítica à falta de políticas públicas nos níveis macroeconômico e industrial. Tais observações, no entanto, fixam em nossa mente a imagem do Brasil como mero exportador de commodities, como algo negativo.

Essa visão clássica, em texto de Evaristo Eduardo de Miranda, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em seu livro recém-lançado Agricultura no Brasil do Século XXI, é desconstruída, pois é atrasada, preconceituosa e revela desconhecimento sobre a importância do agronegócio para a economia nacional. "Para compreender a agricultura brasileira, não basta apresentar números recordes de produção, sempre crescentes. Propalar ideias como 'maior exportador do mundo', disso e aquilo, acaba por esconder a evolução das condições da produção, os impactos e a sustentabilidade. Mais do que quanto, é essencial entender como se produz no Brasil". Para a imensa população brasileira, que luta e vive os riscos no campo, fica a ideia de um setor menos importante.

Há, porém, um discurso comum: o Brasil é competitivo no agronegócio! É importante, no entanto, salientar a enorme evolução havida na tecnologia agroindustrial, graças à inovação, e o empreendedorismo de pequenos, médios e grandes agricultores e indústrias correlatas, nacionais e internacionais. A liderança do agronegócio tropical é brasileira e continuará sendo se depender da lógica das limitações físicas dos países e da competência das organizações de pesquisa atuantes no Brasil. A tecnologia e o nível de manejo contidos em um grão ou em um grama de produto acabado superam, e muito, produtos outros que fazem brilhar os olhos do consumidor desavisado.

A discussão global no século 21 gira em torno das inseguranças alimentar e energética. Ambas definem a paz ou a guerra. Até 2050, mais 2 bilhões de pessoas irão ao consumo, cobrando alimentos e energias produzidas de forma sustentável. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), juntamente com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), organização dos países desenvolvidos, convocou o Brasil a responder por 40% da oferta adicional de alimentos. Além do potencial do Brasil em produzir, salta aos olhos do mundo o fato que o País expande constantemente a sua oferta, mesmo retraindo, anualmente, nos últimos dois anos, 2 milhões de hectares. Isso é competitividade!

Há 20 anos, Ney Bittencourt de Araújo criou, com companheiros progressistas, a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), entidade do agronegócio que segue o conceito das cadeias produtivas, lançado em Harvard. Os elos da cadeia vão de bens de capital e insumos, passando pela produção agrícola e industrial, indo à distribuição, ao atacado e ao varejo, incluindo as exportações. Isso explica o peso e a importância da agroindústria, do agronegócio, hoje um quarto do produto interno bruto (PIB) brasileiro e responsável por cerca de 1,5 milhão de empregos formais no País.

Ignacy Sachs, cientista internacional e que conhece profundamente o Brasil, comentou na revista Estudos Avançados, da Universidade de São Paulo (USP), que "o País possui a maior biodiversidade do mundo, uma reserva confortável de solos agrícolas (mesmo que não se toque em uma só árvore da floresta amazônica), climas amenos, vantagens naturais do trópico na produção de biomassa, etc. Ao juntar todas essas coisas pode-se partir para a construção de uma nova civilização do trópico, baseada no trinômio biodiversidade, biomassas e biotecnologias".

O sucesso do agronegócio norte-americano ou europeu nos séculos passados já é o do Brasil neste e assim será nos séculos vindouros. E este é o grande diferencial que este século reserva ao Brasil: ser a flor da geopolítica de alimentos e de energia, pelo potencial de oferta; pelos extraordinários e positivos impactos na cadeia produtiva, estímulo às indústrias e agriculturas; pelos resultados da balança comercial; pela descentralização das ofertas e dos investimentos no interior do País; pelo processo contínuo de inovações tecnológicas, que gera competitividade de forma crescente e sustentável.

Nossos governantes separam os negócios em caixas. Privilegiam algumas caixas e há dezenas de anos não investem em logística e infraestrutura. Nosso PIB também vive o pesadelo do limite da tampa da sua caixa, fazendo sofrer a população brasileira, seus investidores e trabalhadores. Tudo isso são barreiras ao agronegócio.

As oportunidades para o Brasil no campo da agroindústria de alimentos são motivo de convocação das entidades globais. No da energia renovável somos liderança apreciada. Afinal, na lei norte-americana de energia, o etanol brasileiro da cana-de-açúcar é considerado avançado e apto para importação. Trata-se de um dos mais importantes convites que o Brasil já recebeu.

A nova fase do mundo, no século 21, mostrará as conquistas da ciência, em particular da biologia e da biotecnologia. Dessa forma, é cada vez mais difícil, mesmo para aqueles com a visão das cercanias das cidades, esconder o sucesso e o futuro do agronegócio brasileiro como um eixo dinâmico, competitivo e gerador de empregos e renda para um país de dimensões continentais.

* Luiz Carlos Corrêa Carvalho é presidente da Associação Brasileira do Agronegócio.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Brics: una sombra pronto seras?

Sem tango, claro...

Retratos dos Brics

28 de março de 2013 | 2h 08
Editorial O Estado de S.Paulo
 
Se quiserem ter mais influência no cenário mundial, os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) precisam, para começo de conversa, organizar com mais eficiência as reuniões de seus dirigentes. O "chá de cadeira" que o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, aplicou à presidente Dilma Rousseff é mais um efeito da desorganização desses países, que almejam ser um grupo de defesa de seus interesses comuns, mas até agora não conseguiram ser mais do que uma mera sigla.
Sem ter nada de concreto a apresentar passados cinco anos de sua primeira reunião de cúpula e vendo frustradas as expectativas dominantes no encontro anterior, de que se tornariam mais relevantes no cenário mundial depois da crise, os Brics ainda procuram algo tangível para se justificar. Na reunião na cidade de Durban, encerrada na quarta-feira, limitaram-se a anunciar a criação de um fundo de reserva que socorrerá seus integrantes em caso de crise de liquidez.
O volume de recursos teoricamente mobilizados para esse fundo - um acordo de reserva de contingência, ou CRA, na sigla em inglês - impressiona. Seu patrimônio inicial é de US$ 100 bilhões. Nenhum dos participantes, porém, terá de transferir dinheiro de suas reservas. Trata-se, na verdade, de um compromisso de que, se um dos membros tiver problemas nas contas externas, os demais colocarão recursos à sua disposição.
Um anúncio desse tipo certamente evitou que a reunião de Durban ficasse marcada como uma espécie de fim de festa dos Brics. Até o início do ano passado, esses países eram apontados como os de maior resistência à crise, mas hoje sentem seus efeitos. A velocidade de crescimento se reduziu em todos, e em particular no Brasil, que cresceu apenas 0,9% em 2012.
Mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que os Brics liderarão o crescimento mundial. "Vamos continuar crescendo, temos um dinamismo maior, temos de aproveitar melhor nossos mercados e nosso comércio", disse. Se o Brasil repetir neste ano o desempenho dos dois anos anteriores, pouco contribuirá para isso.
Para justificar as reuniões do grupo, seus dirigentes tentaram implementar a ideia de criação de um banco de desenvolvimento próprio, o "Banco dos Brics", para apoiar os investimentos nos países em desenvolvimento. Proposta pela Índia no início do ano passado, a criação desse banco vem sendo discutida desde então por representantes dos cinco países.
"Fizemos proposta para que o Banco dos Brics seja constituído em 2014", disse o ministro Guido Mantega. Não parece provável, porém, que os cinco países consigam superar suas divergências em tão pouco tempo.
Além da data de início das operações, as divergências incluem, entre outras questões, o local onde o banco se instalará, o sistema de escolha de sua diretoria e como serão selecionados os países aptos a receber seus financiamentos. O que está certo é que o capital do banco deverá ser fornecido pelos países do Brics, mas muitos deles enfrentam problemas internos que limitam sua capacidade de capitalizar a nova instituição. A Rússia, por exemplo, resiste à proposta de aporte inicial de US$ 10 bilhões de cada país, por considerá-la insuficiente.
A constituição do banco seria um avanço importante dos Brics e contribuiria para consolidar o grupo. Mas as questões que dividem os cinco países a respeito dessa instituição são apenas parte de suas muitas divergências. Em foros internacionais, como a ONU e a OMC, esses países têm assumido posições até conflitantes. Uma simples sigla está longe de ser suficientemente forte para levá-los a superar esses conflitos.
Apesar da descortesia do anfitrião, à qual respondeu retirando-se do local onde se reuniria com ele, a presidente Dilma Rousseff parece ter ficado satisfeita com os resultados do encontro de Durban. Segundo ela, o anúncio do fundo de contingência e a decisão de criar o Banco dos Brics foram "realizações" do Brasil, isto é, de seu governo. É bem possível que sejam, pois, como outras "realizações" de seu governo, também estas continuam no papel.