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segunda-feira, 2 de junho de 2014

China em duas visoes: a repressao aceita e as reformas dificeis - Raquel Martins e Marcos Caramuru de Paiva

Memórias de Tiananmen
MARCELO NINIO - DE PEQUIM
Folha de S. Paulo, 2/06/2014

Brasileira que vive em Pequim e testemunhou o massacre da praça da Paz Celestial, em 1989, diz que governo chinês conseguiu fazer lavagem cerebral no país

RESUMO Raquel Martins, 49, nasceu em Jundiaí (SP) e com um ano de idade foi para Pequim, quando seu pai, o jornalista Jayme Martins, fugiu do Brasil após o golpe de 1964. Em 1989 ela estudava na Universidade de Pequim, berço dos protestos pró-democracia encerrados com o massacre da praça da Paz Celestial (Tiananmen, em mandarim), que completa 25 anos nesta quarta (4/6). Raquel vive na capital chinesa.
Em 1989, eu cursava o segundo ano de literatura chinesa na Universidade de Pequim, onde começou o movimento estudantil. Os estudantes aproveitaram o enterro de Hu Yaobang, dirigente comunista que defendia reformas políticas e havia sido posto para escanteio, para pedir democracia.
Mas a China mal havia começado sua abertura econômica, e os estudantes pediam democracia sem saber muito bem o que era. Até então não havia nenhum clima de protesto na universidade, foi tudo espontâneo.
O movimento cresceu, ganhou apoio popular e até da mídia estatal. No início era festa. A meta não era derrubar o regime. Os estudantes se consideravam comunistas, só queriam mais liberdade.
Nunca houve a sensação de que o regime iria cair. O governo chinês é forte demais, não cai assim. Ainda mais do jeito que eles são treinados, com lavagem cerebral.
Fui à praça quase todos os dias do protesto, porque estava traduzindo para o meu pai [o jornalista Jayme Martins]. Cada um dizia uma coisa, não havia um discurso unificado. Uns apoiavam os grevistas, outros queriam democracia ou falavam em ter uma vida melhor.
Houve baderna no fim, mas não quebraram uma só loja. Nada parecido com os protestos recentes no Brasil. Só depois que o Exército entrou é que enforcaram alguns soldados.
O último dia que nós fomos à praça foi 3 de junho [véspera do massacre]. Estava calmo, pouca gente. A praça estava imunda, lixo por todo lado, um fedor. Tão insalubre que jogavam desinfetante.
Acho que faltou paciência ao governo. O movimento estava definhando, se deixasse ele morreria sozinho.
Saímos da praça e fomos caminhando até o casamento de uma amiga brasileira. Fazia muito calor e tinha muita gente na rua, idosos, crianças. O Exército já estava dentro da cidade, então se esperava que algo acontecesse.
Perto da 0h, aumentou o movimento de tropas e houve pânico. Ouvimos um barulho maior. No início, pensamos que era jato d'água. Mas eram os tanques chegando. Um rapaz tentou atravessar a rua e o tanque passou por cima, na nossa frente.
Pediam para tirarmos fotos. "Estrangeiros, mostrem ao mundo o que o nosso governo está fazendo."
Quando deu 2h da manhã, começamos a ouvir tiros. Foi uma surpresa: ninguém sonhava que o Exército seria capaz de atirar no povo.
Passamos a noite em claro. Tanques e mais tanques passavam, alguns atirando. O apartamento da secretária do embaixador do Brasil foi atingido, a parede ficou marcada por tiros. Muitos morreram por bala perdida.
O clima era de indignação: como tudo podia acabar assim? Para mim a indignação veio depois, quando o governo negou tudo e acusou os estudantes de contrarrevolucionários. Mas eles só queriam democracia!
Quando amanheceu, Pequim era outra. Silêncio. Barreiras militares. Ônibus e tanques queimados. A embaixada providenciou uma perua, cobriu com a bandeira brasileira e passamos as barreiras de janela aberta.
Havia rumores de que haveria uma guerra civil. Ficamos acampados na Embaixada do Brasil até que o embaixador, Roberto Abdenur, decidiu retirar todos os brasileiros da China. Éramos poucos na época, cerca de 20. Pegamos o primeiro voo que deu, da Pakistan Airlines.
Era uma situação difícil. Não sabíamos se haveria guerra, se poderíamos voltar.
Quando voltei, em agosto, o clima na universidade era totalmente diferente. Voltou a tensão da Revolução Cultural, que eu conhecia bem da infância: ninguém confiava em ninguém. A minha geração saiu da universidade e decidiu ganhar dinheiro.
Continuo achando que poucos chineses sabem do massacre. O governo conseguiu fazer a lavagem cerebral.
O discurso era: vamos olhar para a frente. Naquela época, o país era muito pobre. Essa ideia do Deng Xiaoping de enriquecer fez a cabeça de muita gente.
Oitenta por cento da população era rural. E a vida realmente melhorou. Hoje todos os meus amigos chineses estão em situação melhor.
Se um movimento não funciona assim, não é porque o Partido Comunista não deixa: é porque a tradição não permite desafiar a autoridade. O chinês está condicionado a obedecer há milênios.

Reforma difícil na China
Marcos Caramuru de Paiva
Folha de S. Paulo, 2/06/2014

O país convive com práticas dos tempos de fechamento; alterá-las requer mudanças profundas na sua cultura
Há dias, uma estatal chinesa no setor de óleo e gás determinou uma mudança surpreendente na política de recrutamento: os filhos de seus funcionários não mais terão emprego automático na empresa, a menos que se graduem numa universidade de primeira linha. Aqueles formados em instituições de menor reputação passarão por um exame e competirão com outros candidatos.
A medida foi, evidentemente, aplaudida. Afinal, as estatais pertencem ao país, e não aos seus empregados, e o sistema do emprego hereditário tende a ser um entrave à eficiência.
Os funcionários, no entanto, revoltaram-se. Na essência do regime comunista está a proteção do trabalhador e de suas famílias. Por que proteger menos?
O episódio dá uma ideia de como é difícil transformar a China. O país moderno convive com práticas herdadas dos tempos de fechamento. Alterá-las ainda requer uma mudança profunda de cultura. Os que acreditam que a existência de um partido único soluciona qualquer problema estão longe da realidade. Novas ideias encontram um movimento natural de resistência.
Por isso, é preciso primeiro inseri-las numa grande moldura política e depois aprofundá-las em decisões práticas para que sejam absorvidas pela burocracia estatal. É um processo lento e gradual, que contrasta vivamente com o ritmo rápido das obras de construção e de infraestrutura.
Além disso, muitas medidas tomadas em âmbito partidário ou federal passam pela interpretação das autoridades locais, e ela nem sempre é uniforme.
Recentemente, o Partido Comunista decidiu que a melhor forma de mudar as estatais e suas práticas é abrir o seu capital. Empresas de capital aberto teoricamente são cobradas, têm que exibir contas, dar satisfação aos acionistas.
O problema é que a implementação dependerá dos governos provinciais e municipais. E, a julgar pelas diretrizes já anunciadas por três deles, o da província de Sichuan e o das cidades de Chongqing e Xangai, o critério será diferenciado.
Na verdade, as próprias empresas estatais também têm uma parcela de autonomia sobre as decisões. Algumas saem à frente, operando mudanças; outras adiam a ação o quanto podem.
As estatais federais são reguladas. Os reguladores determinam, por exemplo, o lucro mínimo esperado a cada ano. É uma forma de forçar ajustes, baixar custos e aumentar a produtividade. Mas as locais não estão cobertas.
O misto da China antiga com a nova mostra um saldo considerável para a nova. Mas isso acaba sendo um entrave a mudanças. Muitos no partido parecem acreditar que basta repetir a experiência dos últimos 30 anos, sem fazer grandes emendas, para levar o país ao sucesso.

A alta cúpula, no entanto, sabe que isso não é possível. A China ainda crescerá com alguma força porque é pobre. Mas sem reformas, sobretudo nas suas estatais, pode perder o gás.

Copa: companheiros conseguiram esfriar o entusiasmo dos brasileiros

Minha impressão subjetiva: a corrupção, a gastança indevida, as más condições da infraestrutura, e o descontentamento, de forma geral, conseguiram gelar o entusiasmo dos brasileiros pela Copa.
Os companheiros conseguiram essa proeza...
Paulo Roberto de Almeida

Com frieza, mas na torcida
José Roberto de Toledo
O Estado de S. Paulo, 2/06/2014

Quase nenhuma bandeira nas janelas. Poucas ruas enfeitadas. Raras camisetas amarelas. O que os olhos não veem tampouco os pesquisadores sentem. Pois é uma verdade estatística: a maior parte dos brasileiros está fria em relação à Copa. Ao Ibope, 39% dos moradores do país do futebol responderam que se fosse possível medir em graus seu envolvimento com o Mundial, a temperatura estaria entre "fria", "muito fria' e "gelada".
Só 30% disseram que seu termômetro está "quente", "muito quente" ou "fervendo". O resto está "morno". Ou estava até outro dia. A pesquisa - inédita até agora - foi concluída em 19 de maio. O que explica essa frente fria futebolística?
Talvez esteja acontecendo o que os pesquisadores chamam de "espiral do silêncio". Virou politicamente incorreto torcer pela Copa, pelo Brasil. Aí poucos vestem a camisa, ninguém se manifesta, com medo do patrulhamento. Há eleitores que são assim, só revelam seu candidato ao anonimato da urna eletrônica. Será que a Copa virou uma espécie de Maluf?
Como diz a CEO do Ibope, Marcia Cavallari, talvez ao primeiro grito de gol do Brasil tudo mude. E a torcida reprimida exploda de uma vez só. Ou até antes, na forma de um golaço tecnológico, quando o mundo vislumbrar um paraplégico andar e dar o chute inicial da Copa no Itaquerão - graças a um exoesqueleto de 70 kg acoplado ao próprio cérebro, projetado e construído pelo cientista brasileiro Miguel Nicolelis.
Mas antes de esquentar, o Brasil esfriou. À medida que a Copa foi se aproximando, o envolvimento foi diminuindo em vez de aumentar. Em 2011, o Ibope perguntou a mesma coisa aos brasileiros. O termômetro estava bem mais aquecido do que agora: 37% se diziam entre o "quente" e o "fervendo", contra apenas 24% de frios e gelados. Estes eram a exceção.
Hoje são a regra. Em quase todos os segmentos sociais, a frieza prepondera. Está acima da média entre as mulheres (44%), entre quem tem mais de 35 anos (42%), entre quem fez faculdade (40%), no Sudeste (44%) e no Sul (43%).
Nenhuma característica demográfica é mais determinante, porém, para a temperatura do torcedor em relação à Copa do que sua intenção de voto. Quem está frio vota na oposição, quem está quente, no governo. Outra prova de que o Fla x Flu político-partidário divide o país do futebol em relação à Copa.
Dos que declaram voto em Dilma Rousseff (PT), 42% dizem que seu envolvimento com a Copa está quente, muito quente ou fervendo. Só 23% deles estão frios, muito frios ou gelados.
Já entre os eleitores de Aécio Neves (PSDB), a divisão é inversa: 27% a 42%. Entre os de Eduardo Campos (PSB), mais ainda: só 25% de quentes, contra 46% de frios. A frieza aumenta entre os eleitores dos nanicos (61%), entre quem declara voto branco/nulo (62%), e chega a incríveis 69% entre os poucos que pretendem votar no pastor Everaldo (PSC). É, a Copa virou uma coisa dos diabos. Mas não faz muito tempo.
Apenas três meses atrás, a proporção de sentimentos negativos e positivos em relação ao Mundial de futebol estava praticamente empatada na população. Em fevereiro, 53% se referiam à Copa como "desperdício", "preocupação", "decepção", "vergonha", "medo" e "ansiedade". E 47% usavam palavras como "alegria", "orgulho", "esperança", "otimismo" e "brasilidade".
Hoje, os sentimentos negativos são maioria: 60%. Mas é cedo para dizer como a torcida vai se sentir após a bola rolar.

Será que 20 black blocs serão capazes de estragar a festa de milhões? Afinal, 51% apoiam a Copa no Brasil. E, apesar da frieza, há mais brasileiros prevendo o sucesso (36%) do que o fracasso (31%) da competição. A grande maioria (71%) torce para que tudo corra bem. Se der zebra, a culpa é dos outros: 22% acham que as pessoas estão torcendo para que dê tudo errado, mas só metade deles admite que está mesmo. Vai que dá certo, né...

Produtividade: enxugando gelo - Glauco Arbix e Joao De Negri

Chega de saudades
Glauco Arbix e João de Negri
Folha de S. Paulo, 2/06/2014

JOÃO DE NEGRI é secretário-executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
GLAUCO ARBIX é presidente da Finep, empresa pública de inovação e pesquisa

A crítica aos subsídios sugere que o país pode avançar para áreas de densidade tecnológica sem a cooperação entre capital privado e público. Não pode
Desde o lançamento da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior, em 2004, os esforços do governo brasileiro se voltam a acelerar o crescimento e elevar a produtividade. Embora a trajetória não seja linear e isenta de escorregões, só uma dose de má vontade e forte visão ideológica poderia justificar a superficialidade do artigo "Hora de mudar o foco" (Arminio Fraga e Marcos Lisboa, 25/5). O foco das políticas já mudou. E faz mais de 11 anos.
Desde os anos 1970, a economia brasileira patina no objetivo de elevar sua produtividade. Não há receita. O investimento em educação tem potencial no longo prazo. Em 2000, o Brasil destinava 4,7% do seu PIB para educação. Em 2011, chegou a 6,1%. Nenhum país da OCDE teve esse crescimento. É preciso mais, mas não há como negar que a ênfase em educação é muito maior do que nos anos 1990.
O governo também cuidou do investimento, começando pela infraestrutura, com o PAC e o Programa de Sustentação do Investimento. Em 2011, foi anunciado o Plano Brasil Maior, que abriu caminho para o maior plano de tecnologia e inovação da história, o Inova Empresa.
Lançado em 2013, o Inova Empresa teve dotação de R$ 32,9 bilhões, resultando numa demanda agregada de R$ 93,4 bilhões para os programas lançados por complexo produtivo, como saúde, energia e agropecuária. Isso mostra que o governo acertou e que empresas brasileiras não são viciadas em proteção estatal e desprovidas de ambição para inovar.
As políticas públicas hoje têm foco, prioridades e subsídios. Sem isso não é possível apoiar atividades de maior risco tecnológico e a criação de empregos. Não teríamos o BNDES nem a Finep de hoje, fortalecida ao assumir plenamente seu papel como Agência Nacional da Inovação. A Finep viu crescer seus recursos em sete vezes desde 2011, tornando-se uma instituição eficiente e capaz de alocar R$ 10 bilhões por ano em tecnologia e inovação.
Inovação é peça-chave para a elevação da produtividade. A crítica aos subsídios sugere que o país pode avançar para áreas de maior densidade tecnológica sem a cooperação entre capital privado e público, com base em financiamento subsidiado de longo prazo. Não pode. Atividades desse porte não florescem sem apoio público, subsídios e subvenções --como se constata em todos os países avançados.
Para viabilizar um salto de qualidade na competitividade, é preciso unir empresas, universidades, centros de pesquisa e órgãos de governo para calibrar o foco das políticas industriais e priorizar as áreas intensivas em tecnologia. Falhas de mercado e distorções estruturais são corrigidas com políticas públicas. Esse é o caminho que já vem sendo percorrido. As políticas industriais de hoje são avançadas, abertas, modernas. Não asfixiam, mas incentivam a competição.
A proposta de focalizar a produtividade sem subsídios e sem cooperação entre capital privado e público não consegue fechar a equação da competitividade a ser sustentada pela inovação. Visões desse tipo são simplificadoras e retomam um debate que parecia superado. As mudanças no Brasil foram profundas e se deram contra políticas de triste memória que hoje são reapresentadas como se fossem novidade. Não são.
O desafio da produtividade não é só do governo. A Mobilização Empresarial pela Inovação, o Movimento Brasil Competitivo e os esforços da Confederação Nacional da Indústria e do governo para formular políticas de inovação mostram que é possível avançar. O setor produtivo aumentou significativamente o número de pós-graduados e o investimento em pesquisa e desenvolvimento nas empresas. O avanço é lento, mas real.

O país tem muito a consertar. Mas tem rumo e capacidade para integrar suas políticas, melhorar o ambiente de investimento, diminuir a burocracia, facilitar o empreendedorismo e melhorar ainda mais a dinâmica das empresas, a qualidade dos empregos e a vida da população.

Produtividade: como aumentar a do Brasil (BBC)

Quatro estratégias para aumentar produtividade no Brasil
 BBC Brasil, 2 de junho, 2014

Nos anos 80, o Brasil e a Coreia do Sul tinham índices de produtividade semelhantes. Hoje, o que um coreano produz em um dia, um brasileiro produz em três, segundo dados da entidade americana de pesquisas Conference Board.
"O Brasil e outros países da América Latina precisam olhar urgentemente para experiências de países de fora da região se quiserem impulsionar seus índices de produtividade”, disse à BBC Carmen Pagés, especialista em mercado de trabalho do Banco Inter-Americano de Desenvolvimento (BID).
"Há experiências muito valiosas em países como a Coreia e a Austrália que poderiam ajudar os brasileiros principalmente a alinhar os conhecimentos e habilidades desenvolvidos em seu sistema educacional ao que as empresas precisam para produzir mais e melhor."
Em um cenário de taxas de desemprego historicamente baixas, há certo consenso entre economistas brasileiros de que para acelerar o crescimento será preciso aumentar a produtividade dos trabalhadores no país.
"Pela primeira vez na nossa história falta mão de obra - o que nos obriga a aproveitar nossos trabalhadores de forma mais eficiente", diz Hélio Zylberstajn, professor de economia da Universidade de São Paulo (USP).
É por isso que a "produtividade" tornou-se um dos temas centrais do atual debate econômico.
"Qualificar melhor os trabalhadores brasileiros é hoje um dos nossos grandes desafios - e é sempre importante conhecer a experiência dos outros países nessa área", diz Silvani Pereira, secretário substituto de Políticas Públicas de Emprego do Ministério do Trabalho e Emprego.
Pereira explica que o ministério tem promovido visitas e parcerias com outros países buscando se informar sobre seus sistemas públicos de emprego, qualificação profissional e estratégias de treinamento dentro da empresa.
"Mas é claro que é crucial fazer a ressalva de que nem tudo o que tem sucesso e ajuda a ampliar a produtividade em um lugar pode ser automaticamente aplicado em outro em função de especificidades econômicas, históricas e sociais."
Abaixo, a BBC Brasil listou quatro estratégias sugeridas por especialistas em um evento promovido pelo BID em São Paulo. Segundo eles, poderiam inspirar o Brasil e outros países latino-americanos em sua busca por mais produtividade.
Eles ressaltam que não se tratam de experiências que poderiam ser implantadas automaticamente por aqui, mas soluções que podem ajudar o país e a região a encontrarem respostas originais ao problema do ajuste das habilidades dos trabalhadores às necessidades das empresas:

Valorização e flexibilização do ensino técnico:
Para Carmen Pagés, a falta de trabalhadores de formação técnica é hoje um dos fatores que afeta a produtividade na América Latina.
Segundo ela, países como a Coreia do Sul, a Austrália, o Canadá, a Nova Zelandia, a Alemanha e a Suíca, que integraram "perfeitamente" o ensino técnico em seu sistema educativo estão entre os que melhor conseguiram alinhar a formação dos trabalhadores às necessidades das empresas.
"Nesses países o sistema é muito flexível", diz Pagés. "Você pode passar do acadêmico ao técnico e do técnico ao acadêmico com facilidade e há mais integração entre esses dois ramos - o que ajuda a evitar o estigma em relação ao ensino técnico que existe no Brasil, além de reduzir o problema do 'isolamento' dos ambientes acadêmicos do mercado."
Pagés diz que na Suíça algo em torno de 60% dos estudantes do ensino médio optam pelo ramo técnico.
"Eles sabem que se quiserem trabalhar, isso lhes dará mais possibilidade de inserção no mercado, mas também sabem que se, depois disso, resolverem voltar para a sala de aula para seguir o ramo das ciências humanas, ou debater aspectos teóricos ligados a sua profissão, por exemplo, a transição será simples."
Na Austrália, os estudantes podem transferir créditos dos cursos técnicos da chamada Technical and Further Education Commission (Tafe) para os cursos de universidades regulares, o que permite uma combinação entre os dois tipos de ensino.
"As pessoas nos procuram em qualquer etapa de sua vida profissional: temos cursos para quem tem 18 anos e para quem tem 40 e quer ampliar suas possibilidades profissionais", explicou à BBC o australiano Peter Holden, diretor da Tafe.
O ensino técnico começou a se expandir na Austrália nos anos 70. Nos anos 90, foram feitos ajustes para garantir que os conteúdos dos cursos atendiam a demanda das indústrias locais (até então o foco do sistema era seu papel social).
"Nós passamos a conversar mais com as empresas e, como alguns de nossos professores foram trazidos da indústria, eles também se encarregaram de nos manter informados sobre quais conhecimentos e habilidades são requisitados."

Sistema de certificados:
Para tirar uma carteira de motorista, em geral o candidato faz um teste de direção. Se mostrar que sabe dirigir, recebe o documento, se cometer muitos erros, não recebe. Não interessa se ele aprendeu a dirigir com o avô e estudou sozinho as leis de trânsito ou se fez 30 aulas em uma auto-escola.
Na Coreia do Sul, um sistema de certificados nacionais para o ensino técnico parece funcionar de uma maneira semelhante, como explicou Joon-Chul Eom, do Ministério do Emprego e Trabalho da Coreia do Sul, em evento promovido pelo BID em São Paulo.
Os candidatos fazem uma série de provas orais e escritas após comprovar que têm experiência prática ou estudaram determinada área. Se passarem, recebem certificados nacionais que atestam suas habilidades e conhecimentos específicos.
Um trabalhador pode ser certificado em gastronomia coreana, por exemplo. Outro, em serviços de engenharia elétrica ou mecatrônica. As provas são rígidas, e os índices de aprovação podem chegar a 10% em alguns casos.
No caso do ensino técnico, a certificação fica a encargo do Ministério do Trabalho, mas também há certificados para as profissões de nível superior, que são em geral administrados por outros ministérios.
O sistema é uma forma de garantir e padronizar a qualidade dos profissionais formados no país, facilitar a busca e a colocação no mercado de trabalhadores com habilidades específicas e ao mesmo tempo estimular os coreanos aprimorarem suas habilidades - uma vez que elas podem ser formalmente "reconhecidas".
É claro que há críticas. Um estudo da OCDE de 2012, por exemplo, defendia que as certificações de ensino superior seriam uma "duplicação desnecessária", uma vez que os alunos já seriam avaliados em sua instituição de ensino.
"Trata-se de um sistema interessante e que mereceria ser estudado mais a fundo, embora no Brasil acho que seria impensável implantar algo nessa escala", diz Hélio Zylberstajn, da USP. "Quem ficaria encarregado dos certificados?"

Educação nas empresas:
O australiano Peter Holden, da entidade governamental Tafe, diz que em seu país uma das experiências mais bem sucedidas na área de formação do trabalhador são as parcerias com empresas para o fornecimento de cursos dentro do ambiente de trabalho.
"Há cursos em áreas específicas ou de formação mais básica. Algumas empresas nos indicaram um grupo de funcionários que gostariam que recebessem noções de aritmética, por exemplo", diz Holden.
Segundo Holden, o esquema é financiado conjuntamente pelo governo e as empresas.
"Muitos trabalhadores viram seus trabalhos mudarem completamente em função da adoção de novas tecnologias - e esses esquemas não só aumentam a produtividade das empresas, mas também evitam que sejam demitidos e aumentam suas chances de uma promoção."
Para Zylberstajn, da USP, os esquemas de treinamento dentro das empresas estão entre as experiências que mais poderiam ser aproveitadas no Brasil.
"Um dos problemas do nosso ensino técnico é que as instituições de ensino e o setor privado conversam pouco, então o que os alunos aprendem na sala de aula nem sempre é válido para o mercado", diz o economista.
Silvani Pereira, secretário substituto de Políticas Públicas de Emprego do Ministério do Trabalho e Emprego, concorda que é preciso fazer avanços nessa área.
"O treinamento do trabalhador dentro da empresa contribui para promover ganhos de produtividade já que o alinhamento entre o que é ensinado e o que as empresas precisam é perfeito. Além disso, tal sistema contribui para uma redução da rotatividade dos trabalhadores", diz.

Esquemas de aprendizagem:
Nessa área, a Alemanha parece ser, de longe, o grande modelo. Lá os jovens têm a possibilidade de aprender um trabalho dentro de um programa de aprendizagem conforme cursam o ensino fundamental.
Os alunos dividem seu tempo entre as escolas e as empresas, onde são orientados por um profissional mais experiente para aprender um entre os 344 ofícios oferecidos pelo programa. Eles recebem um salário e, ao finalizar o curso, têm a opção de seguir a carreira na área.

Segundo Geoff Fieldsend, do British Council, esse é um dos muitos esquemas adotados para melhorar a questão da empregabilidade dos jovens, mas seus resultados ainda precisam ser avaliados.

A viagem do rei: supostos barbeiro e massagista, suposta manicure, suposto etc

Ainda da suposta série Wikileaks de supostos telegramas hackeados de um suposto serviço diplomático:

No documento “orientação sobre hospedagem”, o Itamaraty lista os equipamentos para uma viagem internacional do ex-presidente Lula. Além de copos de uísque e taças de vinho, previa a presença de um barbeiro, de uma manicure e um massagista. Os cinzeiros também não poderiam faltar no quarto do hotel. A equipe tinha cuidado em manter a forma do presidente e solicitava sorvete e gelatina dietéticos.

Itamaraty wikileaks: supostos telegramas resultando de uma suposta invasao por supostos hackers

O conteúdo dos telegramas também é suposto, como a própria existência de embaixadas e supostos diplomatas escrevendo supostos telegramas.
Esta postagem também é suposta, e não pode ser responsabilizada por alterações malévolas que façam supostos invasores neste suposto blog...
Paulo Roberto de Almeida

E-mails vazados expõem Itamaraty
Gabriela Valente e Eliane Oliveira
O Globo, 2/06/2014

Documentos do Itamaraty capturados por hackers e disponibilizados na internet mostram supostos conteúdos e temas dos mais variados e que envolvem relações com os mais distintos países. A Rússia pediu ao Brasil apoio para a intervenção militar na Crimeia e a Alemanha queria um acordo para desenvolvimento de equipamento militar com o Brasil e chegou a pensar em retirar o apoio à usina nuclear Angra III após o acidente em Fukushima no Japão, em 2011. Esses supostos e-mails mostram ainda que, também em 2011, foram encontradas minas de suposta fabricação brasileira em território líbio. Já um relatório sobre uma reunião de preparação para a Copa do Mundo diz que foi criado um plano de contingenciamento de protestos para proteger o aeroporto do Galeão do vandalismo.
Em um dos supostos documentos secretos, há uma lista das preferências e pedidos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em suas viagens internacionais. Entre eles, estão 12 copos de whisky, taças de vinho e até cinzeiros no banheiro. Essas mensagens são parte do rol de documentos hackeados do sistema de comunicação do Ministério das Relações Exteriores na semana passada. No entanto, o Itamaraty não confirma a veracidade e autenticidade dos documentos sob o argumento de que esses e-mails podem ter sido adulterados.
A Rússia pediu ao Brasil apoio para a intervenção na Crimeia. A informação está numa comunicação do embaixador do Brasil em Haia, Piragibe Tarragô, do dia 26 de março deste ano sobre uma reunião dos Brics realizada dois dias antes. Segundo o documento obtido pelo GLOBO, ele afirmou que o chanceler russo Sergei Lavrov contava com a ajuda do Brasil.
“O Chanceler russo ainda lamentou a ‘histeria coletiva’ que se formou na imprensa, e os discursos ‘russofóbicos’ dos países desenvolvidos, que ‘desmerecem profundos laços culturais’ com a região”.
Sobre o acordo Brasil-Alemanha, a embaixadora Maria Luiza Viotti comunicou ao Itamaraty, de acordo com o s supostos e-mails, que os alemães queriam fechar um acordo com o Brasil de desenvolvimento de um sistema antiaéreo. Ainda sobre a Alemanha, o Brasil foi comunicado que aquele país repensaria a cooperação na usina de Angra III depois do acidente da usina de Fukushima no Japão. A Alemanha resolveu desligar seus reatores nucleares por três meses para reavaliar sua matriz energética. A Simens fornece equipamento para Angra III.
“A cooperação nuclear com a Alemanha é estratégica para o Brasil. Uma reversão da cooperação representaria um lamentável retrocesso e traria consequências nefastas para o futuro da cooperação bilateral”, diz o telegrama de março de 2011.
Em novembro de 2011, o Itamaraty informou às embaixadas sobre uma reunião para tratar da questão “das minas antipessoal de suposta fabricação brasileira encontradas em território líbio, em particular na região de Misurata”. O secretário de Produtos de Defesa do Ministério da Defesa, Murilo Marques, sugeriu que o Brasil envie, o mais breve possível, uma missão técnica para a identificação precisa das minas encontradas.
No dia 14 de maio, segundo os supostos documentos, houve uma reunião com diversos consulados e setores do governo brasileiro — como Infraero e Receita Federal — para tratar sobre o desembarque de autoridades estrangeiras e atletas no aeroporto do Galeão para a Copa do Mundo. Um plano para conter os protestos foi arquitetado. Segundo o item número sete do relatório sobre o encontro, o planejamento para a defesa do Galeão contra a manifestações prioriza evitar o vandalismo.
No documento “orientação sobre hospedagem”, o Itamaraty lista os equipamentos para uma viagem internacional do ex-presidente Lula. Além de copos de uísque e taças de vinho, previa a presença de um barbeiro, de uma manicure e um massagista. Os cinzeiros também não poderiam faltar no quarto do hotel. A equipe tinha cuidado em manter a forma do presidente e solicitava sorvete e gelatina dietéticos.

Nos supostos e-mails, há outros relatos curiosos como o telegrama “urgentíssimo” feito pelo embaixador do Brasil no Suriname, José Luiz Machado e Costa. Em sete páginas, ele detalha a importância da aproximação dos dois países na área da defesa.

David contra Golias na era da internet: o caso Snowden - Entrevista a Sonia Bridi

Matéria no Fantástico, da TV Globo, 1/06/2014

O cidadão parece bastante tranquilo, aparenta preparo intelectual … amanhã a GloboNews vai exibir a entrevista na íntegra, com as partes mais “sérias” … realmente uma situação muito interessante, que vai ter uma repercussão importante por muito tempo ...


Ele desafiou a maior potência do mundo. Ele revelou milhares de documentos ultrassecretos. Ele mostrou como funciona a espionagem da NSA, a Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos. Edward Snowden, o homem mais procurado do planeta, falou ao Fantástico. A repórter Sônia Bridi foi a Moscou para uma entrevista exclusiva para o Brasil. 
Depois de quase um ano de negociações, frente a frente com o homem mais procurado do mundo. Moscou, capital da Rússia, onde Edward Snowden está asilado há dez meses. O lugar exato onde ele vive? Nem os amigos mais próximos sabem.
Para entrevistar o homem mais procurado do mundo, a repórter Sônia Bridi chegou a Moscou apenas com o nome do hotel onde deveria se hospedar. Ela não foi até Edward Snowden. Foi ele que chegou até ela no hotel.
A entrevista, a pedido dele, foi feita no próprio quarto onde ela estava hospedada.
Fantástico: Como é a sua vida na Rússia?
Snowden: Olha, não é tão ruim quanto parece. A Rússia não é um país perfeito, e discordo fortemente de muitas coisas, principalmente como eles monitoram a internet e censuram a imprensa. Mas, no dia a dia, sabe, é melhor do que a prisão.
Prisão é o que ele tenta evitar há um ano, vivendo uma história de filme de espionagem. Em junho de 2013, Snowden se encontrou com o jornalista Glenn Greenwald e a documentarista Laura Poitras, em Hong Kong, e entregou a eles milhares de documentos, com os maiores segredos da espionagem americana.
Revelou que a Agência de Segurança Nacional, a NSA, até então pouco conhecida do grande público, monitora as comunicações por internet e telefone no mundo inteiro, inclusive dos próprios cidadãos americanos. É a chamada metadata, que registra quem fala com quem, por quanto tempo, onde estava quando falou e quanto tempo durou a conversa.
“É como se os Estados Unidos tivessem contratado detetives particulares para seguir todos nós”, ele destaca.
Países inteiros, como o México e as Bahamas, têm também o conteúdo das comunicações armazenado pela NSA. Como em uma máquina do tempo de espionagem, a agência pode voltar ao passado e recuperar tudo o que foi dito ou escrito. Em um ano, nenhuma semana se passou sem uma nova revelação baseada nos documentos.
Fantástico: Como é que um rapaz de 29 anos, que nunca terminou o ensino médio, trabalhando para uma empresa terceirizada da NSA, teve acesso a tantos documentos?
“É um erro de informação propagado nos Estados Unidos e depois pelo mundo todo de que eu era um empregado de baixo escalão, que copiou documentos que não entendia. Na verdade, eu tinha um cargo alto”, ele afirma.
Na adolescência, vivia conectado e descobrindo como funcionam computadores, escrevendo programas. Típico da geração internet. “Eu sou cria da internet”, diz.
Depois dos ataques de 11 de setembro, ele se alistou no Exército. “Fui voluntário porque acreditei no que o governo estava dizendo na época, que o Iraque estava desenvolvendo armas de destruição em massa. Eu achei que servir era generoso, uma atitude nobre”, conta.
Mas Snowden quebrou as duas pernas no treinamento. Dispensado do Exército, foi recrutado e treinado pelos serviços de espionagem. Trabalhou como espião na Suíça e no Japão. Era o especialista em informação digital da CIA. Seu último posto, no Havaí, especialista em tecnologia e cibersegurança da NSA.
Fantástico: Em que ponto você decidiu juntar e vazar os documentos para o público?
Snowden: O ponto sem volta para mim foi quando vi, no Congresso, James Clapper, o chefe da espionagem americana. Ele levantou a mão, jurou dizer a verdade. Perguntaram para ele: ‘Os Estados Unidos monitoram informações de milhões de americanos?’ E ele disse: ‘Não’. E eu sabia que era mentira. Os deputados da comissão também sabiam que era mentira. E ninguém disse nada.
No fim de 2012, Snowden mandou um e-mail para o jornalista Glenn Greenwald, radicado no Brasil e que então trabalhava no jornal inglês “The Guardian”. Queria que Glenn instalasse um programa de criptografia, que protege o sigilo na internet, para eles se comunicarem.
Em seu livro, “Sem lugar para se esconder”, Glenn conta esta e outras histórias dos bastidores do caso Snowden. Em Moscou, eles se reencontraram pela primeira vez desde que, há um ano, Snowden entregou os documentos em Hong Kong.
Snowden: É tão bom revê-los. Eles foram ao inferno e voltaram para fazer essas reportagens.
Fantástico: Você leu todos os documentos? Sabe exatamente o que há em cada um?
Snowden: Sim, o Glenn já disse que estavam todos organizados, em pastas, etiquetados.
Fantástico: Ainda tem mais revelações sobre o Brasil?
Glenn Greenwald: Com certeza, tem mais documentos que vão mostrar a brasileiros e ao mundo o que os Estados Unidos estão fazendo dentro do Brasil e também da Inglaterra e outros países também.
Snowden diz que durante todo esse ano evitou dar entrevistas porque não queria tirar a atenção dos documentos. Mas, agora, com todas as revelações que foram feitas, se sente seguro para discutir seus sentimentos.
As lembranças mais duras são dos 40 dias que ele passou na área de trânsito do aeroporto de Moscou. A escala virou uma armadilha quando o passaporte dele foi cancelado.
Snowden: Eu nunca escolhi vir para a Rússia. Eu estava a caminho da América do Sul.
Fantástico: Onde na América do Sul?
Snowden: Equador. Mas os Estados Unidos cancelaram meu passaporte, e eu não pude mais viajar. Fizeram de propósito para poder dizer: ‘Ele é espião russo’.
Fantástico: E como foi ficar preso no aeroporto por tanto tempo?
Snowden: Foi muito tenso. Você não sabe o que vai acontecer naquele dia. O que vai acontecer enquanto você dorme. Se alguém vai bater na porta. Se alguém vai derrubar a porta.
Fantástico: Você se arrepende?
Snowden: Sabe... Acho que não... Eu sentia que devia tornar isso público, com responsabilidade. E a maneira de impedir que a minha opinião prevalecesse, foi fazendo parceria com jornalistas competentes, e instituições sérias, que confio, que iriam checar as informações, equilibrar a cobertura. Como "The Guardian", "Washington Post", "New York Times", a “Globo” e "Der Spiegel". Deixei a imprensa livre fazer o que faz melhor: ajudar os cidadãos a se tornarem eleitores informados, que pensam em que tipo de sociedade querem viver.
Para Snowden, esse debate é a essência da liberdade: “Não é sobre privacidade. É liberdade. O equilíbrio entre os direitos individuais e o direito que o governo tem de coletar informações. Se vigiarmos cada homem, mulher e criança, da hora em que nascem até a hora que morrerem, podemos dizer que eles são livres? Isso é muito perigoso. Porque mudamos nosso comportamento se sabemos que estamos sendo vigiados. É uma ameaça à democracia”.
Ele também nega que os chineses tenham copiado tudo antes de ele deixar Hong Kong: “Isso é uma maluquice. Eu sou especialista em cibersegurança. Ensinava aos agentes da CIA e da NSA como se proteger exatamente desse tipo de coisa”.
Há dez meses ele vive na Rússia. Nunca foi sequer fotografado.
Fantástico: Você pode sair para rua?
Snowden: Claro. Por que não?
Fantástico: Você não é recluso?
Snowden: Não. Quer dizer, sou naturalmente recluso, cria da internet, né?
Fantástico: Os russos te vigiam?
Snowden: Bom, tenho certeza de que fazem algum tipo de vigilância, mas eu não vejo nada. Eu não posso, por segurança, dizer onde moro, como vivo. Mas eu diria que levo uma vida surpreendentemente aberta.
Fantástico: Você não é reconhecido nas ruas?
Snowden: Eles me reconhecem quando vou a lojas de computadores. Mas comprando comida, na banca de revistas, ninguém me reconhece.
Fantástico: Você se disfarça, ou sai com essa cara de Edward Snowden?
Snowden: Melhor eu não responder essa.
Fantástico: Do que você mais sente falta?
Snowden: Da minha família, claro.
O governo americano diz que a luta contra o terrorismo ficou mais difícil por causa desses vazamentos.
Fantástico: Alguns congressistas dizem que você é um traidor, um desertor.
Snowden: Você não pode ser traidor a menos que a sua lealdade tenha sido transferida para um inimigo do Estado. E a minha lealdade nunca mudou. Mesmo hoje, eu continuo trabalhando para o governo americano. Não quero derrubar o governo e nem destruir a NSA. Quero que sejam melhores.
Fantástico: Você enfrentaria um julgamento nos Estados Unidos?
Snowden: Eu adoraria. Mas não há um julgamento justo esperando por mim.
Snowden é acusado de traição pelo ato de espionagem, uma lei feita em tempos de guerra, que prevê julgamento sem defesa pública. Outra acusação é de que ele atrapalhou a relação americana com países amigos, vazando documentos com revelações, como as feitas com exclusividade pelo Fantástico, comprovando que os americanos e seus aliados, Inglaterra, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, grampearam os telefones da presidente Dilma e de seus assessores mais próximos. Espionaram também a Petrobras e o Ministério das Minas e Energia.
Fantástico: Você acompanhou essas reportagens daqui?
Snowden: Sim. E não há justificativa para espionar a Petrobras. Por que o presidente americano quer ler os e-mails da Dilma Rousseff? Obama disse que não sabia. Pode ser verdade. Ele concordou comigo que não há benefício nenhum, nenhuma vida foi salva. E por isso determinou que parassem.
Snowden disse que ouviu o discurso da presidente Dilma na ONU, criticando a espionagem americana, e achou inspirador: “Foi incrível porque ela foi a primeira presidente que tomou a liderança para dizer ‘Temos o direito de falar, de nos comunicarmos sem sermos espionados’. E esses não são direitos de um país. São direitos humanos.
A repórter Sônia Bridi lembra a ele que o Congresso americano já o acusou de oferecer documentos para o Brasil em troca de asilo.
Fantástico: Essa oferta está na mesa?
Snowden: Absolutamente não. Primeiro, eu não tenho documentos a oferecer. Eu nunca cooperaria com um governo em troca de asilo. Asilo deve ser dado por razões humanitárias.
Fantástico: O que vai acontecer quando seu asilo temporário aqui vencer?
Snowden: Essa pergunta é difícil. Eu não tenho resposta. Meu asilo vence aqui no começo de agosto. E se o Brasil me oferecer asilo, eu ficarei feliz em aceitar.
Fantástico: Você gostaria de viver no Brasil?
Snowden: Eu adoraria morar no Brasil. De fato, eu já pedi asilo ao governo brasileiro.
Fantástico: Então você mandou um pedido?
Snowden: Sim. Quando eu estava no aeroporto, mandei um pedido a vários países. O Brasil foi um deles. Foi um pedido formal.
O governo brasileiro, na época, disse que não recebeu pedido algum. “Isso para mim é novidade. Talvez seja algum procedimento que eles achem que não foi seguido”, afirma.
Snowden diz que vive um dia de cada vez.

Fantástico: Você está feliz?
Snowden: Eu sou. É difícil ficar separado da família, não poder ir para casa, participar do governo e da sociedade. Mas toda noite vou dormir confiante de que fiz as escolhas certas. Por isso, a cada manhã, eu acordo satisfeito.

Alo, Alo, Mr Keynes please, I'm calling from Bretton Woods...

Carmen Lícia me pegou num outro flagrante, no Hotel Mount Washington, o da conferência econômica e monetária de Bretton Woods.
Eu estava tentando falar com Mister Keynes ao telefone...

Este é o hotel: pintaram de novo, para os 70 anos da conferência: 

E esta é a placa do Golden Room, onde foram assinados os acordos de Bretton Woods:

Nostalgia monetaria: quando o dinheiro valia alguma coisa

Antigamente, muito antigamente, o dinheiro valia alguma coisa, depois passou a não valer nada...
Explico, mas primeiro vejam esta foto que fiz no Museu de Portland, Maine:

Atenção, a nota é falsa, mas verdadeira, ou seja, ela foi pintada por um artista para imitar uma verdadeira nota falsa, ou seja, uma contrafação de uma nota verdadeira de cinco dólares.
Para fazer a sua gozação, o artista aumentou o valor para dez dólares, o que faz dela uma nota falsa verdadeira, não sei se me fiz entender.
Em todo caso, não era disso que eu queria falar.
Leiam bem o que está escrito de cima abaixo; eu traduzo para facilitar:

Certificado de depósito [ou seja, não é uma nota de dinheiro, mas apenas um certificado de depósito]
Isto certifica que
foi depositado junto ao [parece que é sério, ou seja, garantem que está depositado]
Tesoureiro dos Estados Unidos
sediado em Washington, D.C.
pagável em seu escritório ao portador sob demanda [ou seja, quem se apresentar leva o que vale]
DEZ
dólares de prata [isso foi antes que os EUA aderissem ao padrão ouro, em 1895, se não estou enganado]
Série de 1880

Retomo: antes que fosse criado o Federal Reserve, em 1913, cada nota emitida por um banco autorizado deveria ter como correspondência junto ao Tesouro o equivalente em prata (muito comum nos EUA, antes da corrida ao ouro) ou em ouro. Mesmo depois da criação do Federal Reserve (que correspondeu mais ou menos à união monetária que a Europa fez entre 1999 e 2001, com a unificações dos diversos dólares em circulação naquele imenso país, alguns valendo mais do que outros...), o dinheiro emitido era, em princípio, lastreado em ouro. Digo em princípio, pois em matéria de governo, vocês sabem como são as coisas: eles dizem que fazem, mas não fazem, e acabam enganando todo mundo.
O fato é que Franklin Delano Roosevelt, em 1933, acabou com a festa, não apenas deixando de garantir a moeda lastreada em ouro, mas obrigando todos os americanos a ceder o ouro que detivessem ao governo, que passou a deter o monopólio das reservas metálicas.
Ainda assim, teoricamente, os EUA deveriam ter tanto ouro quantos dólares em circulação, o que que prometeram fazer em 1944, em Bretton Woods, onde estive neste domingo 1 de Junho de 2014 (setenta anos depois, quase, depois da famosa conferência que criou o padrão ouro-dólar, depois da derrocada completa do padrão ouro).
Bem, a festa acabou novamente em 1971.
Desde então, é cada um por si, e a anarquia monetária para todos.
Os governos emitem o que querem. Eles fingem que garantem o dinheiro emitido (não é verdade sequer que o façam) e nós fingimos que acreditamos.
Na verdade, não existe mais garantia nenhuma, e os governos produzem inflação o tempo todo e mantém esse controle monopolista sobre a emissão de dinheiro, um abuso inacreditável.
Bem, pelo menos vocês ficaram com a imagem de um dólar de antigamente, mesmo sendo um falso verdadeiro.
Paulo Roberto de Almeida

domingo, 1 de junho de 2014

Eleições 2014: Dilma se aproxima da inelegibilidade no centro-sul do Brasil - Blog Estadao

Parece aquela propaganda: Nem a pau Juvenau (sic)!
Depois do slogan "Já deu PT", daqui a pouco o pessoal vai estar dizendo: "Não se reelege nem a pau Juvenal..."
Paulo Roberto de Almeida 


Dilma se aproxima da inelegibilidade no centro-sul do Brasil
O Estado de S.Paulo, Sexta-Feira 09/05/14
Blog José Roberto de Toledo

A pesquisa Datafolha desta sexta-feira mostra a presidente Dilma Rousseff com saldo potencialmente negativo nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Nas três, as opiniões de que seu governo é ruim ou péssimo superam as avaliações de ótimo e bom em um ponto porcentual. Está dentro da margem de erro, mas é um limiar perigoso: o histórico mostra que governantes com mais eleitores críticos do que apoiadores são praticamente inelegíveis.
O que salva a popularidade de Dilma é seu saldo amplamente positivo no Nordeste (26 pontos) e no Norte (31 pontos). Na média nacional, a presidente ainda tem nove pontos a mais de ótimo em bom (35%) do que de ruim e péssimo (26%). E é por isso que ainda é vista como a favorita a vencer a eleição em outubro pela maior parte do eleitorado nacional: 37%.
Por seu peso no total do eleitorado, o Nordeste é muito mais importante para Dilma. E é lá que o Datafolha mostra outro indicador preocupante para os petistas: a taxa de ótimo e bom do governo federal caiu 7 pontos, e a de ruim e péssimo subiu 6 no último mês. Como resultado, o saldo positivo, embora ainda alto, caiu 13 pontos. Ainda não é uma tendência, porque foi a primeira perda de popularidade da presidente na região desde novembro.
Essa divisão geográfica da avaliação do governo se reflete diretamente na corrida eleitoral. No Sudeste, Dilma está tecnicamente empatada com Aécio Neves (PSDB), segundo o Datafolha: tem 30% das intenções de voto, contra 27% do tucano. Já no Nordeste, tem quatro vezes mais que o tucano: 52% a 12%.
Entre os nordestinos, o pernambucano Eduardo Campos (PSB) aparece ligeiramente à frente do tucano, com 16% dos votos. É no Sul (19% a 8%) e, principalmente, no Sudeste (27% a 7%) que Aécio livra sua vantagem sobre o candidato do PSB. Foi esse crescimento que aumentou em 50% a distância de Aécio sobre Campos no total do eleitorado nacional.
A geografia do voto mostra ainda que caiu a vantagem de Dilma no interior do País, onde sua avaliação e intenção de voto são historicamente maiores. Nessas cidades, o saldo de avaliação que chegou a ser de 30 pontos em novembro, caiu para 12 pontos em maio – apesar de todas as suas entrevistas para rádios do interior e dos programas de entrega de máquinas às prefeituras.
A presidente continua vulnerável nas metrópoles e capitais, onde a taxa de ótimo e bom (33%) está tecnicamente empatada coma de ruim e péssimo (29%). Mas nas maiores cidades Dilma pelo menos parou de cair.

Todo o poder aos companheiros? Nao vai dar certo - Janer Cristaldo

Faz tempo que eu não transcrevo uma das postagens sempre espirituosas de Janer Cristaldo.
Pois não sera sem tempo, e o motivo é o mais importante possível...
Paulo Roberto de Almeida 

sábado, maio 31, 2014

PNPS: TODO PODER AOS SOVIETES 

Blog do Janer Cristaldo


Soviete – dizem os dicionários – é a palavra russa que significa conselho, mas depois passou a ser mais especificamente usada em linguagem revolucionária para significar os comitês de trabalhadores na Revolução Russa de 1905 e depois na de Fevereiro de 1917. Foi quando conseguiram o controle do Soviete de Petersburgo que usaram para derrubar o Governo Provisório chefiado por Kerensky, que os bolchevistas conseguiram tomar o poder em Outubro de 1917 e quando o Soviete tornou-se a justificativa para a ditadura do proletariado. 


O resultado é que o termo foi usado para todos os órgãos primários do governo em níveis nacionais, estaduais e municipais, com um Soviete Supremo composto de delegados de todas as Repúblicas Soviéticas da União. Os sovietes voltaram a reaparecer nas malogradas Revolução Espanhola (1936-1939), na Revolução dos Cravos (Portugal, 1974) e na Revolução Polonesa de 1980. A estrutura dos sovietes consistia num sistema piramidal de conselhos. A base era formada pelos soviets de fábricas, nas cidades, ou de aldeias, no campo. Níveis sucessivos estabeleciam-se a partir de então. Nas cidades soviets de distrito e de província. O conjunto era coroado pelo Congresso de soviets de operários, soldados e camponeses, órgão supremo e soberano, que elegia um Comitê Executivo que, por sua vez, designava um Conselho dos Comissários do Povo (CCP), o governo efetivo do País.



Segundo Anton Pannekoek, teórico marxista holandês, os conselhos operários da Revolução de 1905, essencialmente, eram simples comitês de greve, tais quais aqueles que aparecem em greves selvagens. Como as greves na Rússia começaram em grandes fábricas, e rapidamente se espalharam pelas cidades menores e distritos, os trabalhadores precisaram manter contato permanente. Nas oficinas, os trabalhadores se juntavam e discutiam regularmente no final da jornada de trabalho, ou continuamente, o dia inteiro, em momentos de tensão. Eles enviavam seus delegados a outras fábricas e aos comitês centrais, onde a informação era trocada, dificuldades discutidas, decisões tomadas, e novas tarefas consideradas.



Eles tiveram que regular a vida pública, tiveram que cuidar da ordem e da segurança públicas e providenciar os serviços públicos essenciais. Eles tiveram que desempenhar funções de governo; o que eles decidiram era executado pelos trabalhadores, enquanto o governo e a polícia ficavam de lado, conscientes de sua impotência contra as massas rebeldes. Então os delegados de outros grupos, de intelectuais, camponeses, soldados, que vieram para se juntar aos sovietes centrais, tomaram parte nas discussões e decisões. Mas todo esse poder foi semelhante a um clarão de raio, como um meteoro passando. Quando finalmente o governo czarista reuniu sua força militar e golpeou o movimento, os sovietes desapareceram.



Ou seja, assumiram o governo do país sem serem eleitos. As pretensões ditatoriais do PT nunca foram segredo para ninguém. Filho de uma partouse ideológica entre comunistas, trostskistas, Igreja Católica, classe média deslumbrada e sindicatos, não tem paternidade precisa. Mas está em seu DNA o desejo de perpetuar-se eternamente no poder, algo assim como um Reich de mil anos, se possível for.



Dona Dilma, ao que parece, já desconfia que não vai levar estas eleições. Sob pretexto de querer modificar o sistema brasileiro de governo, está apelando à fórmula bolchevique encontrada há mais de século. Baixou decreto criando a Política Nacional de Participação Social (PNPS), com o objetivo de "consolidar a participação social como método de governo" e aprimorar "a relação do governo federal com a sociedade". 



O decreto determina que sejam criados conselhos, a realização de conferências nacionais, audiências, entre outras sete formas de diálogo com a sociedade, para fazer consultas públicas antes de tomar decisões sobre temas de interesse da "sociedade civil".



Os dez formatos de atuação da Política Nacional de Participação Social serão, além dos conselhos, conferências e audiências, por iniciativas próprias da sociedade civil, comissões de políticas, ouvidorias, mesas de diálogos, fóruns, ambientes virtuais de participação social e consultas públicas. 



Ou seja, a presidente deu um solene chute na bunda do Congresso, a quem cabia a função de legislar sem consultar conselho algum. Que deputados e senadores não legislam com muita propriedade, disto sabemos. Mas bem ou mal eram eleitos pelo povo. Os novos legisladores – pois obviamente não resistirão à tentação de legislar – serão obviamente eleitos pelo PT.



O decreto, obviamente, não é idéia da presidente. Não teria audácia nem bestunto para tanto. Terá sido achado de seu entourage petista. A ideia é desde há muito advogada por Tarso Genro. Que, em setembro de 2012, escreva na Folha de São Paulo:



“Na Europa, não somente foi feita uma moratória com a utopia socialista, cujo impulso foi responsável pelas grandes conquistas de proteção social e de coesão nacional no século passado, mas também foi congelada a utopia democrática. Os governos eleitos, sejam socialdemocratas ou conservadores, na primeira fala que fazem, quando chegam ao poder, é que “não há alternativa”.



Ao falar de impulso responsável pelas grandes conquistas de proteção social e de coesão nacional, Genro se referia à obra dos sovietes, seu antigo sonho. Dona Dilma parece ter aderido com gosto às esperanças do velho stalinista gaúcho. De uma penada, quer mudar por decreto o sistema democrático do país. O princípio um homem-um voto seria substituído por um apparatchik do PT-milhares de votos.



Teremos agora ongueiros, sem-terra, sem-teto, bugres e quem sabe até membros do PCC dando seu pitaco na hora de dar uma estrutura jurídica ao país. Só a CUT já dispõe de 400 comitês, espalhados pelas 27 unidades do país. O Congresso, pelo que leio, até agora nem notou ter sido diminuída sua função de legislar. 



O sonho não acabou. Todo poder aos sovietes!