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domingo, 2 de maio de 2021

O mundo, no limiar do holocausto nuclear em 1983: Stanislav Petrov, o homem que salvou o mundo - Martin Caparrós (El País)

Stanislav Petrov, o homem que salvou o mundo

Por 15 minutos, Stanislav Petrov teve o destino da humanidade em suas mãos. Foi o tempo que durou o alarme falso de um ataque nuclear

Fotografia do tenente coronel soviético Stanislav Petrov tirada en 1999.
Fotografia do tenente coronel soviético Stanislav Petrov tirada en 1999.NIKOLAI IGNATIEV / ALAMY IMAGES

Dizem que o mundo nunca esteve tão perto de desaparecer como naquele dia. Naquele dia, o presidente Reagan discursava contra os comunistas na ONU, a França continuava vetando a entrada da Espanha na Europa, os ditadores argentinos concediam anistia a si mesmos e a dupla Simon & Garfunkel se despedia do cenário musical para sempre. Naquele dia, ocorreria a inauguração de um centro comercial em La Vaguada [em Madri] e temiam-se ataques terroristas; a nova lei socialista de ensino, que reduzia a presença da religião nas escolas, era atacada por bispos e conservadores.

MAIS INFORMAÇÕES

Naquele dia, 26 de setembro de 1983, Stanislav Petrov estava com 44 anos de idade e era um tenente-coronel do exército soviético responsável pelo Centro de Detecção de Ataques Nucleares da URSS. A partir desse bunker, ele gerenciava a imensa rede de radares, satélites, técnicos e analistas que procuravam proteger seu território contra os mísseis atômicos norte-americanos. No meio da noite, o centro foi sacudido por um alarme: os computadores tinham detectado um míssil que estaria voando em direção à Rússia a 24.000 quilômetros por hora. Petrov pediu que se confirmasse a informação; os computadores a mantiveram, embora os satélites de observação não conseguissem ver o tal míssil. Petrov achou — eram outros tempos — que as máquinas e seus algoritmos podiam se enganar. Decidiu aguardar; nos cinco minutos seguintes, mais quatro alarmes foram disparados. Um único desses mísseis tinha — tem — o dobro do poder explosivo de todas as bombas da Segunda Guerra Mundialreunidas.

Deve ser muito esquisito pensar que se tem nas mãos o destino do mundo. Se Petrov tivesse seguido o protocolo e alertado seus superiores, em poucos minutos várias centenas de mísseis nucleares teriam sido disparados em direção ao território norte-americano. Em apenas uma hora, a guerra nuclearteria acabado com a vida de milhões e milhões de pessoas. Mas Petrov decidiu esperar. Os computadores reconfirmavam a informação, mas não havia nenhuma confirmação visual dela. Deve ser muito estranho saber que, se você tomar uma decisão equivocada, a humanidade inteira pagará por isso.

Stanislav Petrov nasceu em Vladivostok, em 1939; não gostava de ser militar, mas vinha lidando com a função com facilidade. Menos agora, pois ali não havia nenhuma margem para dúvidas. Decidiu, então, que o alarme devia resultar de algum erro. Não fazia sentido que os EUA estivessem mandando apenas cinco mísseis em vez de centenas, como se poderia prever. Alguns minutos depois, o radar confirmou que não havia ataque nenhum.

Petrov acabara de salvar o mundo, mas o mundo não ficou sabendo disso, e tudo continuou como se nada tivesse acontecido. Os militares russos silenciaram sobre o caso. Seu sistema de defesa tinha falhado demais para que divulgassem o acontecido, de modo que só ficamos sabendo do episódio 20 anos depois. E, por alguma razão, o fato de nos inteirarmos disso não nos leva a perguntar quantas outras coisas nós também ignoramos hoje, coisas que estariam acontecendo neste momento e que só saberemos, talvez, em algum dia do futuro.

Stanislav Petrov não permaneceu por muito mais tempo no exército. Sua esposa morreu e ele pediu para ser reformado. Hoje, é um senhor de idade raivoso, fumante, irritadiço, trancafiado em um apartamentinho da periferia de Moscou, meio cansado de ser procurado apenas para falar sobre aqueles 15 minutos, que não parece ter outras coisas a dizer além daquilo que se passou naqueles 15 minutos, quando o seu grande acerto foi não fazer nada: a decisão de que a inação era a melhor ação possível. O fato de ele estar no comando ali, naquela hora, foi um acaso; talvez um outro militar tivesse seguido ao pé da letra o protocolo, talvez o mundo não existisse mais. Sua vida são esses 15 minutos, mas esses 15 minutos salvaram o mundo: poucas vidas — tão plenas, tão vazias — pesaram tanto para o destino como a sua.

As bombas continuam por aí: Estados Unidos, Rússia, China, França, InglaterraÍndiaPaquistão e Coreia do Norte possuem milhares delas, capazes de fazer tudo voar pelos ares. Mas, por alguma razão, isso já não parece nos preocupar. Mesmo estando, como sempre, ao sabor de um acaso desconhecido. Ou de um bastante conhecido, um tal de Donald Trump, que ameaça com “fogo e fúria como o mundo nunca viu”, e que pode fazê-lo.

Por Martín Caparrós

Martín Caparrós é jornalista e escritor, nascido em Buenos Aires em 1957. Deixou o seu país de origem em meados dos anos 70 e se exilou na Europa. Cursou História na Sorbonne, em Paris, e depois mudou para Madri, onde viveu até 1984, quando, com a democratização da Argentina, voltou para o seu país natal. Desde então, sua vida tem sido marcada por constantes idas e vindas entre um lado e outro do Atlântico. Em seu livro Lacrónica, de 2015, ele trata de seus 30 anos no mundo do jornalismo.


Lutando contra o autoritarismo - Manfred F. R. Kets de Vries (Knowledge Insead)

Leadership & Organisations - BLOG

Dictatorial types gain and maintain power through a number of social processes and psychological dynamics.

From our Palaeolithic roots onwards, dictators – whether they led tribes, fiefdoms, countries, religions or organisations – have always been with us. We have always been attracted to individuals who appear strong. Some people are easily persuaded to give up their freedoms for an imaginary sense of stability and protection, not to mention an illusion of restored greatness.

Generally speaking, times of social unrest have always been the feeding ground for dictators. Periods of economic depression, political or social chaos give dictators the opportunity to appear as saviour and, when conditions allow it, seize power by coup d’état or other means. Their populist demagoguery can seduce broad swathes of the population. However, most of their inflated promises turn out to be no more than hot air. So how is it that they’re able to gain and maintain power? They succeed by taking full advantage of known social processes and dynamics.

Riding the confirmation bias: First, they are extremely talented at inflaming the “wish to believe”. Their cries of patriotism and righteousness are just what the populace wants to hear. The unquestioning acceptance of a dictator’s rhetoric is rooted in humankind’s most pervasive bias – the confirmation bias. This compels us to look for evidence to support our ideas and desires, while discounting contradictory information. Such a bias simplifies the complexity of our world, but can also be seen as a form of “neurological laziness”. As expert manipulators, dictators take advantage of this universal cognitive shortcut.

Identification with the aggressor: Dictators are also especially good at targeting socially and economically vulnerable people – those who are not always very well educated or informed and, as such, often feel confused and insecure. Dictators exploit the rage and frustration of this population through the psychological process of “identification with the aggressor”. Many of the disempowered see in the “strong” man or woman both a reflection of themselves and the promise of a victory over their downtrodden state. They are caught in the allure of illusions and magical thinking. They become brainwashed.

The blame game: Whatever the societal wrong, dictators are adept at inciting blame and scapegoating. They play off the primitive defence mechanism of “splitting”, positioning issues in terms of in- and out-groups, magnifying external threats and fanning a collective paranoia. At the same time, dictators offer themselves as steadfast saviours. Buying into the simplistic, binary propositions, their followers align themselves with the “good fight” against evil and become intolerant of those they perceive as different.

Propaganda lords: Dictators quickly learn the value of indoctrination. To maintain their hold on power, they seek to control information, ideally by centralising all mainstream media. Positive news is attributed to them and negative news is ascribed to enemies of the state. With the help of the propaganda machine, dictators become an integral part of everyone’s life. During elections, they manipulate the final outcome by curtailing press freedom, limiting the opposition’s ability to campaign and spreading misinformation – “fake news”. Dictators also try to prevent or destroy social frameworks and institutions serving as countervailing forces.

Who’s responsible for dictators?

There will always be people whose personality makeup predisposes them to dictatorship. Many past and contemporary dictators suffer from extraordinarily high levels of narcissism, psychopathy and paranoia. They have an inflated sense of self-importance and feel entitled to the admiration of others. An inherent lack of empathy, guilt or remorse allows the most malignant to commit unspeakable atrocities.

But while it is easy to vilify dictators, we should also realise that, in many ways, we (the people) are the ones enabling them. After all, a dictator cannot function without followers. Although we may not admit it out loud, it’s attractive to have others tell us what’s right and what’s wrong. But abdicating personal responsibility cripples freedom of expression and derails democratic processes. The good news is, however, that although we enable dictators, we can also disable them.

Creating a responsible electorate

In many established democracies, the descent towards dictatorship is becoming a real threat. In this light, we need to consider two urgent questions: Can dictators in the making be “cured”? And can we prevent dictators from assuming power?  

I’m afraid that the response to the first question is: “not likely”. Historical experience has proven otherwise. From a clinical perspective, most psychotherapists believe that dictators (with their psychopathic traits) tend to be untreatable. Thus, many opposing powers are needed to address the second question on how to prevent their ascension.

Prevention is better than cure, so we need to recognise potential dictators before they stealthily compromise and destroy our lives. Once they are in power, it is often too late.

A healthy democracy finds footing in a populace able to listen to different points of view and manage ambiguities. It also implies a voting population that’s knowledgeable, mobilised and engaged – not the kind to believe that voting is somebody else’s business. To prevent dictators from coming to the fore requires a population that cares for liberty and takes responsibility for it.  Furthermore, the government, the head of State, the legislature, the courts, the press and the electorate should all be independent to provide countervailing oversight.

Striving for a better world

In the 1940 film The Great Dictator, Charlie Chaplin satirises Nazism and Adolf Hitler while playing the role of a Jewish barber who, in a case of mistaken identity, is forced to impersonate the absolute ruler of fictional Tomainia. At the end of the film, Chaplin delivers an impassionate speech asking the populace to unite and fight against dictatorship:

"You, the people, have the power to make this life free and beautiful, to make this life a wonderful adventure… In the name of democracy let us use that power; let us all unite… 

Dictators free themselves but they enslave the people… Let us fight to free the world, to do away with national barriers, to do away with greed, with hate and intolerance.” 

Unfortunately, we are still far from the kind of world that Chaplin described. Many of our present world leaders are making a great effort to endanger the democratic processes. Narrow-minded nationalism, xenophobia, greed and unimaginable violence is present everywhere. It makes it even timelier to strive for the kind of world envisioned by Chaplin.

Manfred Kets de Vries is the Distinguished Clinical Professor of Leadership Development & Organisational Change at INSEAD and the Raoul de Vitry d'Avaucourt Chaired Professor of Leadership Development, Emeritus. He is the Founder of INSEAD's Global Leadership Centre and the Programme Director of The Challenge of Leadership, one of INSEAD’s top Executive Development Programmes.

Professor Kets de Vries is also the Scientific Director of the Executive Master in Coaching and Consulting for Change (EMCCC). His most recent books are: You Will Meet a Tall, Dark Stranger: Executive Coaching ChallengesTelling Fairy Tales in the Boardroom: How to Make Sure Your Organisation Lives Happily Ever After; and Riding the Leadership Rollercoaster: An Observer’s Guide.

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Assim marcha o capitalismo: as 20 maiores companhias (nacionais ou mundiais) em 1989 e em 2021: uma mudança arrasadora - Berkshire Hathaway

 Copio da postagem de Brett Berson (@brettberson) no Twitter

From the Berkshire Hathaway annual meeting - top 20 companies in the world today vs. 30 years ago. Amazing what can happen in just 30 years.

As maiores em 1989:

As maiores em 2021:


Meu comentário (PRA):

Não se trata exatamente da maior "fortaleza" americana, assim, como não se trata, supostamente, da "fraqueza" atual do Japão ou da emergência da China. 

O conceito geográfico de dominação econômica ou hegemonia mundial – que os sociólogos adoram – não casa bem com esses movimentos tectônicos, que devem ser analisados em função da microeconomia da INOVAÇÃO. 

Sim, os EUA concentram atualmente as empresas mais inovadoras, mas empresas não são exatamente "patrióticas", pois elas visam antes de mais nada o lucro para seus acionistas principais. Capitalistas não têm pátria, eles têm CAPITAL.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 2/05/2021

As quatro grandes tragédias do Brasil na presente conjuntura - Paulo Roberto de Almeida

As quatro grandes tragédias do Brasil atual 

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

[Objetivorefletir sobre o declíniofinalidadealertar para os impasses atuais]

  

Mini reflexão depois das manifestações de sábado 1/05/2021, em apoio ao Bolsovirus e à disseminação ainda maior da pandemia da Covid-19, que é a isso a que estão convidando os manifestantes das ruidosas marchas em apoio ao degenerado. Uma indesejada subida aos extremos, a infeliz descida à polarização, a despedida do conhecimento, a renúncia à racionalidade.

De fato, o grau de apoio a Bolsonaro assusta demais, algo parecido ao fenômeno trumpista. Como é que dois mentecaptos perversos conseguem capturar tanta gente, nos EUA e no Brasil? Será uma doença mental, imbecilidade congênita, idiotice consumado. É assustador, sim!

Isso significa que, mesmo que o degenerado seja derrotado em 2022, no primeiro (o que seria o ideal) ou no segundo turno, a sociedade brasileira já está irremediavelmente dividida entre, aproximadamente, um terço de bolsonaristas (que é um fenômeno, não um movimento), um terço de lulopetistas (que formam um movimento) e um terço de indecisos, que podem decidir o nosso destino no primeiro ou no segundo turno (pois que não sabem o que fazer no primeiro turno).

Isso também significa que a classe média, que é quem determina o resultado das eleições no Brasil - 70% dos eleitores são das classes C e D, ou seja, classe média, excluindo a classe média alta, B, e os pobres, classe E, não determinantes – pode levar ao mesmo impasse que ocorreu em 2018, quando a polarização nos deixou com duas opções igualmente desastrosas (mas a que levou Bolsonaro ao trono foi infinitamente pior).

Isso significa, também, que um candidato centrista terá imensas dificuldades para se qualificar no primeiro turno, o que levará o Brasil mais uma vez à divisão do país e à fragmentação política.

Merecemos isto? 

Aparentemente sim, uma vez que fomos incapazes de gerar um ESTADISTA capaz de apresentar um programa credível para gregos e goianos, ou seja, para as classes A até E, contemplando as diversas reformas e propostas de políticas públicas para tentar salvar o Brasil de uma decadência estilo argentina. 

É muita frustração para todos aqueles que recusam tanto o bolsonarismo, quanto o petismo, mas sabendo que o primeiro é INFINITAMENTE PIOR para o país, para a cultura, para a inteligência. Eu até acredito que Lula vai conseguir o apoio do Grande Capital (uma minoria reduzidíssima na classe A) e ganhar as eleições de 2022, o que também significa uma grande derrota para a luta contra a corrupção.

Mas não acredito que o PT roubará tanto quanto o fez entre 2003 (já vinha de antes) e 2016; as instituições estão mais preparadas, a despeito da imensa ajuda que a (in)Justiça vem dando aos corruptos. 

O Brasil tinha duas grandes tragédias: a má educação e a corrupção política. Passou a ter três, agregando a insegurança jurídica com a ajuda dos aristocratas da magistratura. Agora tem quatro: a divisão do país que nos pode levar a uma decadência a perder de vista.

 

Difícil imaginar o que se passa na cabeça de certas pessoas — até de classe média bem informada — que são objetivamente a favor da infecção e contra a democracia, e que se manifestam voluntariamente na direção exatamente oposta ao que seria o desejável para si próprias. O que pode impulsionar tais efeitos macabros e tal postura pró-ditadura? Não tenho explicações racionais para tal. 

Do lado do petismo, também vejo pouca racionalidade, e sobretudo nenhuma disposição para lutar contra a corrupção e contra os reais fatores das desigualdades sociais, não contra seus efeitos superficiais apenas: populismo e demagogia acabam preservando não só as desigualdades como as iniquidades, sobretudo no plano da justiça (já dominada pelos novos aristocratas de um Ancien Régime demodé e anacrônico).

O sectarismo e a intolerância, o fundamentalismo de tipo político ou religioso, a incapacidade de pensar com sua própria cabeça, a “necessidade” de se ter alguém que aponte o caminho e lhe diga o que fazer, o que pensar, levam a isso.

Quando vejo universitários pós-graduados se rebaixarem a discutir seriamente um execrável programa de TV feito para voyaeuristas compulsivos, constato que poucos estão ao abrigo da irracionalidade. 

O abandono do conhecimento me dá calafrios quanto ao futuro da nação.

Somos tão poucos assim, dispersos e sozinhos, na nau dos insensatos?

A chegada a bons portos deve demorar bem mais do que deveria, e isso não depende apenas do capitão do navio: o do Titanic era, ao que parece, experiente. 

Os que pretendem nos conduzir estão há décadas na pantomima política...

Compreendo, agora, "a atroz angústia de ser [um] argentino" culto, talvez acadêmico, quando não se é nem peronista, nem conservador e se contempla a decadência constante, impulsionada por governos civis e militares, liberais ou estatizantes, de esquerda ou direita, e o país afunda continuamente, inexoravelmente. Nem a psicanálise ajuda a entender a complexa trama de fatores que arrastam o país para a mediocridade e a pobreza. 

No caso deles, ainda mais exasperante do que no nosso caso, pois que já foram mais ricos, pelo menos para certa franja da população, excluindo os gauchos guaudérios. A nossa pobreza sempre foi propriamente estrutural, vinda das oligarquias tradicionais, do escravismo das elites (todas elas), do nacionalismo canhestro, do patriotismo rastaquera, que sempre arrastaram as massas para a não educação, a economia do país para a introversão, a cultura dos letrados para a cópia superficial, a política para o patrimonialismo renitente, com a corrupção sempre pujante e renovada.

Rui Barbosa já tinha visto isso, mas também achava que a Argentina estava "condenada" a um futuro brilhante, que nada podia dar errado. Mas isso foi em 1916; depois que ele morreu, o país só andou para trás, antes mesmo do desastre peronista, um cadáver que sequestrou até hoje um país inteiro e não está perto de desaparecer. Eu nunca entendi como se pode ser universitário e peronista ao mesmo tempo: certas coisas superam nossa capacidade de entendimento.

O Brasil tem outras, talvez ainda mais terríveis...

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3904, 2 de maio de 2021


O Brasil e a frustrada invasão de Cuba em 1961 pelos exilados cubanos orquestrados pela CIA - André Duchiade, James Hershberg e Joseph Zelikow (National Security Archive)

Documentos indicam que João Goulart atuou como mediador secreto entre Kennedy e Fidel Castro

A pedido de Washington, governo brasileiro tomou medidas para evitar execuções de prisioneiros da fracassada invasão da Baía dos Porcos, revelam telegramas descobertos por historiador americano; independência da política externa da época qualificou o Brasil como intermediário

André Duchiade

O Globo, 29/04/2021 - 18:17 / Atualizado em 29/04/2021 - 22:16

https://oglobo.globo.com/mundo/documentos-indicam-que-joao-goulart-atuou-como-mediador-secreto-entre-kennedy-fidel-castro-1-24994882

Em abril de 1962, um ano depois da fracassada tentativa de invasão da Baía dos Porcos por exilados cubanos patrocinados pelos EUA, o então presidente brasileiro João Goulart atendeu a um pedido do seu homólogo americano John F. Kennedy e intercedeu junto ao líder cubano Fidel Castro para evitar as execuções dos 1.200 prisioneiros envolvidos na operação.

A descoberta foi revelada nesta quinta-feira pelo National Security Archive, instituição de pesquisa ligada à Universidade de George Washington, e tem como fontes documentos inéditos do Itamaraty, do Departamento de Estado americano e (minoritariamente) de Cuba. A pesquisa foi conduzida pelo historiador James Hershberg, da mesma universidade.

Os telegramas secretos, analisados em um artigo publicado no mês em que a tentativa de invasão completa 60 anos, permitem vislumbrar como o Brasil atuou sigilosamente como intermediário entre Washington e Havana em um momento de rompimento diplomático total entre as duas capitais. Também permitem entender como a posição de independência internacional do Brasil permitiu que o país exercesse influência frente aos dois governos, desempenhando importante papel para evitar um conflito.

O estudo se centra em um curto período, entre o final de março e o começo de abril de 1962, quando Havana se preparava para levar a um tribunal especial os 1.179 prisioneiros envolvidos na operação, que enfrentavam acusações de traição e poderiam ser condenados à morte. Kennedy, que herdara os planos da invasão de seu antecessor Dwight Eisenhower, tinha grande interesse na libertação dos detidos, e tentou interceder buscando canais com a então Tchecoslováquia, o Vaticano, o Chile e o México.

Segundo Hershberg, o “Brasil desempenhava um papel especial — não apenas por seu tamanho e importância na América do Sul, mas porque seu líder, o presidente João Goulart, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), de centro-esquerda, estava prestes a visitar os Estados Unidos para uma cúpula com presidente Kennedy no início de abril, e buscava obter ajuda econômica dos EUA — e, portanto, tinha um incentivo para fazer um favor a Washington”.

A pesquisa ressalta outro fator que punha o Brasil em posição privilegiada para mediar essa negociação: “Goulart e seu ministro das Relações Exteriores, San Tiago Dantas, tinham preservado laços amigáveis com Havana ao resistir fortemente à pressão dos EUA por severas sanções anti-Cuba”, sobretudo na conferência de chanceleres da OEA no Uruguai em janeiro daquele ano. Na conferência, Cuba foi suspensa da organização, e o Brasil se absteve na votação.

O contato inicial com o governo brasileiro foi feito a partir de Roberto Campos, então embaixador em Washington, que foi contatado, no dia 23 de março, por José Miró, ex-primeiro-ministro cubano, líder da oposição no exílio a Fidel e colaborador da CIA. Naquela mesma noite, o Itamaraty ordenou ao embaixador em Cuba, Luiz Bastian Pinto, que comunicasse imediatamente ao governo de Havana que Brasília desejava o adiamento do julgamento por 30 dias — prazo necessário para Goulart empreender a sua viagem a Washington.

No dia 27 de março, o chanceler cubano Raúl Roa respondeu ao enviado brasileiro que adiar o julgamento não era uma opção, pois anularia uma decisão governamental “de grande gravidade”. Roa incluiu no entanto uma ressalva: “Cuba responderia afirmativamente se Goulart fizesse um apelo público de clemência”, no qual se referisse explicitamente à "magnanimidade ou generosidade" dos "vencedores". Havana, acrescentou, "não responderia a nenhum tipo de apelo feito por qualquer chefe de Estado que não o presidente Goulart".

O julgamento, conduzido em uma fortaleza colonial do século XVIII, começou dois dias depois, uma quinta-feira. Na sexta, o encarregado de negócios americano no Brasil, Niles Bond, que atuava como embaixador em exercício, tomou conhecimento, por meio de informantes no Itamaraty, das exigências cubanas. Em um telegrama a Washington, ele disse que Havana via a iniciativa brasileira com “simpatia”, mas impusera “uma pura chantagem” como condição para ceder. A resposta cubana, disse Bond, fora recebida “com profunda irritação” pelo governo brasileiro, “incluindo o próprio presidente”.

O avanço do julgamento, no entanto, reforçou a preocupação americana, que intensificou os contatos com Campos em Washington. Um comunicado do conselheiro de Kennedy Richard Goodwin transmitido à embaixada brasileira afirmava que “além dos motivos humanitários para evitar a execução de prisioneiros, o presidente Kennedy se preocupa [com] o efeito exacerbante que a execução pode ter na opinião pública americana, [que vinha] ficando mais tranquila e menos emocional em relação a Cuba". A mensagem foi recebida pelo governo brasileiro como um recado direto de Kennedy.

Segundo o estudo do National Security Archive, “apesar de aparentemente se ressentir das condições cubanas anteriores, Goulart, prestes a visitar Washington, dificilmente podia resistir ao apelo interpresidencial direto de Kennedy, transmitido por seu associado íntimo, do topo dos EUA”. A embaixada respondeu que o chanceler San Tiago Dantas estava redigindo um texto a ser assinado por Goulart com um pedido público por clemência.

A carta de Jango, destinada ao presidente cubano Osvaldo Dorticós e ao então premier Fidel, foi enviada no dia 2 de abril, mesmo dia em que ele embarcou rumo a Washington, sendo distribuída também a jornais brasileiros. Sem que os EUA soubessem, a missiva fora cuidadosamente redigida para atender às condições impostas por Havana, incluindo referências à "magnanimidade" e à “vitória” cubana:

“Movido por sentimentos de solidariedade humana que unem todos os povos americanos, tomo a liberdade de dirigir a vossas excelências um apelo de todo o povo brasileiro para que a magnanimidade seja fator decisivo na condenação de pessoas presas na praia de Girón por ocasião de invasão a Cuba”, dizia o texto. “Estou certo de que vossas excelências cuidarão desse assunto conduzido com a clemência que sempre caracteriza a atitude do vencedor para com o irmão derrotado”.

A resposta pública de Havana veio dois dias depois. Dizia que o país esperara por uma indenização americana em função da invasão, que não viera. Acrescentava que, embora o processo fosse avançar, o “apelo à magnanimidade da Cuba revolucionária, em nome do povo brasileiro, e no momento em que se prepara a nação soberana de Cuba para julgar os fatos, pesará muito na mente do povo e do tribunal que tem a decisão em suas mãos”.

A sentença veio no domingo seguinte, 8 de abril, enquanto Goulart viajava pelos Estados Unidos após se encontrar com Kennedy. Os invasores foram considerados culpados, mas escaparam da pena de morte: a sentença era de 30 anos de prisão, ou uma indenização de US$ 62 milhões. A ditadura cubana evitara matar os prisioneiros, deixando uma porta aberta para obter recursos importantes ao novo regime, que de fato viriam mais tarde: em dezembro, os prisioneiros seriam libertados em troca de US$ 53 milhões em comida, remédios e outros itens humanitários.

O estudo cita ainda uma outra informação não confirmada: no dia 12 de abril, os colunistas de Washington Robert Allen e Paul Scott publicaram no Miami News que Goulart havia enviado uma mensagem secreta a Fidel Castro, na qual teria citado “um apelo de emergência de Washington”. O texto acrescentava que Goulart teria dito a Fidel que, se as vidas dos prisioneiros fossem poupadas, “Kennedy continuaria a seguir uma política de 'não intervenção' estrita nos assuntos internos de Cuba". A previsão se provou falsa; ainda em março, Kennedy aprovou a operação Mongoose, com o objetivo de derrubar o regime cubano.

No final do artigo, o historiador Hershberg afirma que o episódio “ofereceu ao governo Kennedy um lembrete oportuno da utilidade potencial da Embaixada do Brasil em Havana — ao contrário dos desejos de alguns funcionários linha-dura dos EUA, que preferiam que o Brasil simplesmente cortasse relações diplomáticas com Cuba”.

Em outubro de 1962, Kennedy ainda buscaria intermediação diplomática do Brasil durante a crise dos mísseis nucleares. As relações entre as partes se deterioriam com o tempo, e, em 1963, Kennedy consideraria apoiar um golpe contra Jango, para evitar "o surgimento de uma nova Cuba no hemisfério". A utilidade do Brasil para negociar com Havana chegaria ao fim com o golpe de 1964, apoiado por Washington.

Segundo Hershberg, antes disso, contudo, o Brasil “pode ter desempenhado um papel importante na limitação do confronto entre EUA e Cuba em um momento perigoso, influenciando Fidel a salvaguardar e, eventualmente, libertar os prisioneiros da Baía dos Porcos (...) evitando assim um ato que poderia muito bem ter desencadeado uma crise e potencialmente uma intervenção militar dos EUA 

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Zelikow response to National Security Archive: Saving the Bay of Pigs Prisoners: Did JFK Send a Secret Warning to Fidel Castro – through Brazil?

by Philip Zelikow
H-Diplo, May 1, 2021

Jim Hershberg's useful documentary compilation adds important context to a critical, yet largely overlooked, episode in President John F. Kennedy's thinking about Fidel Castro and Cuba in March-April 1962. At this time Kennedy made it clear to the leader of the Cuban exiles that the U.S. would not invade Cuba to help them overthrow Castro's government. This news deflated hopes among the exiles, causing considerable anger. Hershberg's work adds a vital clue about why Kennedy took this stance at that time.

In the National Security Archive's new briefing book (#758, 29 April 2021), Hershberg posts documents explaining that, in late March 1962, Kennedy and his key Latin American aide, Dick Goodwin, were very concerned that Castro's government was about to execute a group of Cuban rebels that had been captured in the failed CIA-sponsored invasion of Cuba at the Bay of Pigs in April 1961. These executions would inflame American opinion against Castro. 

On March 16, Kennedy reviewed the guidelines for the CIA program against Castro, Operation Mongoose, He allowed contingency plans to proceed but "expressed skepticism that in so far as can now be foreseen circumstances will arise that would justify and make desirable the use of American forces for overt military action." [Ed. note, "Guidelines for Operation Mongoose," _FRUS_ 1961-1963, vol. 10, doc. 314]. 

On March 28 or 29, the head of the Cuban exiles and their Cuban Revolutionary Council, Jose Miro Cardona, met at the White House with Kennedy's national security adviser, McGeorge Bundy. Hershberg notes this meeting and their discussion about Castro's possible execution of the captives. Cardona and his colleagues pleaded for enough help to invade Cuba and overthrow Castro. Bundy pushed back. He told them that any such action had to be decisive and complete. That meant open involvement of U.S. armed forces. "This," he said, "would mean open war against Cuba which in the U.S. judgment was not advisable in the present international situation." Cardona did not like this answer. He regarded Bundy's stance as "polite but cold." [Memcon, 29 March 1962, _FRUS_ 1961-1963, vol. 10, doc. 317 (drafted on March 13, according to the _FRUS_ editors, but this seems unlikely; Cardona, the next year, dated the meeting as occurring on March 28); Cardona resignation letter, 9 April 1963, Wilson Center Digital Archive]. 

On March 29, there was a meeting of the overseers of the CIA Mongoose program. This was a disagreeable meeting in which it was agreed that the U.S. might arrange some deal to get release of the Cuban captives, offering U.S. supplies of food. This decision overrode the objections of the CIA director, John McCone, and the CIA's Mongoose manager, William Harvey. McCone was frustrated at this time, pushing for American military intervention in Cuba. [Memo for the Record, _FRUS_, vol. 10, doc. 318, also doc 319].

Enter Hershberg's findings. Hershberg explains that Dick Goodwin (whom the Cuban exiles disliked) was managing the issue of how to save the captives. The same day, March 29, Bundy and Goodwin agreed that Goodwin would approach Brazil's leader, who was about to visit the White House, and seek his help. Goodwin worked this through the Brazilian ambassador on March 30. In that meeting, Goodwin explained how the executions of the captives would inflame American opinion at a time when Kennedy felt American opinion was "getting more tranquil and less emotional in relation to Cuba." [Hershberg text accompanying note 27, referring to doc. 9 in his EBB].

On April 2, Brazil's president, Joao Goulart, publicly appealed to Castro to spare the captives. Hershberg notes that a pair of journalists for the _Miami News_ later disclosed that this public appeal was accompanied by a secret message from Brazil to Cuba, coming out of the Goodwin channel. In this secret message, the Brazilians reportedly relayed Goodwin's message that execution might cause a harsh U.S. reaction, while clemency might tilt Kennedy against intervention. [Hershberg text accompanying notes 34-37].

On April 8, Cuba announced the sentence -- the captives would be spared. What later ensued was a set of negotiations involving the U.S. lawyer James Donovan, working with Goodwin, that did eventually produce a deal that exchanged American goods for the release of the Cuban captives.

Hershberg speculates about the significance of this secret U.S. offer relayed through Brazil. But he does not comment on the immediate sequel, which certainly adds credence to his speculation.

Two other journalists at the _Miami News_ had arranged for the frustrated head of the Cuban exiles, Cardona, to meet with Robert Kennedy. He promised help on the captives. He arranged for Cardona and his colleagues to meet directly with President Kennedy, on April 10.

On April 10, Cardona met with JFK for an hour. Robert Kennedy and Goodwin were there. A year later, Cardona claimed that JFK had urged the Cubans to keep training their forces, that "your destiny is to suffer" but "do not waver." [Cardona resignation letter, April 1963]. Goodwin's record at the time is different. At this meeting, Kennedy specifically rebuffed Cardona's plea that the U.S. commit itself to intervene in support of another rebel invasion. [Goodwin to JFK, 14 April 1962, and Passavoy to Record, "Topics Discussed during Meeting of Dr. Miro Cardona with the President," 25 April 1962, both in NSF, box 45, Cuba: Subjects, Miro Cardona, Material sent to Palm Beach, JFK Library]. The _FRUS_ editors unfortunately did not include these documents, which record the only meeting in 1962 between JFK and the leader of the Cuban exiles. I published this information in 1999 [_Essence of Decision_, Pearson, revised edition, with Graham Allison, 84 and 132, n. 26) and 2000 ("American Policy in Cuba, 1961-1963," _Diplomatic History_, 24:2, 321)].

There is no question that Kennedy's deflating message to Cardona reinforced what the State Department's Cuban desk officer called the "deep sense of frustration and impatience" in the Cuban exile community "over what it considers 'inactivity' regarding the overthrow of the Castro regime." Cardona came under internal attack because he had "failed to convince the United States to embark on a military operations program." Cardona considered resigning. [Hurwitch to Martin, 19 April 1962, _FRUS_, doc. 329].

In sum, if Hershberg's findings are added to the wider context -- Kennedy's March-April 1962 rejection of both Cuban exile and CIA pleas for a more aggressive U.S. policy against Castro -- his hypothesis seems right. Kennedy, through Goodwin and with the help of the Brazilians, does appear to have communicated, accurately, that Castro's decision on whether to spare the captives was coming at a pivotal moment in U.S. policy, and could reinforce a growing trend against direct U.S. intervention.

It is also important to notice that Castro's intelligence service had penetrated the Cuban exile community and therefore was presumably well aware of their unease and frustration about U.S. plans. According to senior former Cuban intelligence officials, at this time, in April-May 1962, Cuban intelligence concluded that it did not fear a U.S. invasion of Cuba. And the Soviet leadership had already approved, on April 12, a strong defensive arms package for Cuba, despite Castro's actions against the pro-Soviet leader of Cuba's Communist Party. 

Thus, when Khrushchev decided more than a month later, at the end of May, to deploy a force of ballistic missiles to Cuba, Castro assumed that the Soviet leader was doing this for other, global, reasons. I have argued elsewhere that these had much to do with the final phase of the Berlin crisis. This background helps explain why the KGB resident in Havana thought Castro would say no to the Soviet missile request. But, in fact, Castro was willing to take the missiles out of a sense of socialist solidarity. [On the Cuban intelligence views, see Domingo Amuchastegui, "Cuban Intelligence and the October Crisis," in James Blight and David Welch, eds., _Intelligence and the Cuban Missile Crisis_ (Routledge, 1988); see generally the revised _Essence of Decision_, 84-88, including the cited recollections of Fidel Castro himself and other Cuban leaders compiled between 1989 and 1992]. 

Hershberg's findings about the U.S.-Brazilian diplomacy and Castro's well-judged decision to spare the Bay of Pigs captives thus add an important new layer of understanding to this fascinating story.

Philip Zelikow
University of Virginia


sábado, 1 de maio de 2021

Na origem da aproximação do Brasil à OCDE: um texto de Paulo Roberto de Almeida (Paris, 1995)

 O Brasil e a OCDE:

considerações sobre uma relação problemática

 

reflexões pessoais elaboradas por

Paulo Roberto de Almeida


 

Toda análise direcionada à formulação de uma determinada decisão política deve começar pelo estabelecimento de todas as perguntas pertinentes ao objeto em causa. No caso das relações entre o Brasil e a OCDE, as questões mais adequadas e relevantes parecem ser as seguintes:

1. Qual deveria ser a política do Brasil em relação a uma organização como a OCDE: rejeição, indiferença, aproximação, ou pedido de adesão?;

2. O que é, realmente, a OCDE?; ela teria, efetivamente, vontade, interesse ou condições de admitir e “assimilar” um país como o Brasil?;

3. Quais seriam os pressupostos e as implicações (inclusive os custos econômicos e políticos, internos e externos) de uma aproximação, mesmo gradual, do Brasil à OCDE?;

4. Uma política de aproximação corresponde, no médio ou no longo prazo, ao interesse nacional?; ela é compatível com os demais princípios sobre os quais se assenta a política externa brasileira?;

5. Quais poderiam ser, finalmente, os impactos (potencialmente benéficos, entenda-se), no cenário político e econômico interno, de uma tal política de aproximação com a OCDE, tendencialmente conducente – segundo sua própria lógica – a uma demanda de adesão?

Feitas tentativamente as perguntas, vejamos quais são as bases atuais de discussão, antes de começar a respondê-las.

 

A base do problema: definição de uma política oficial

O candidato Fernando Henrique Cardoso afirmou em sua proposta de Governo, apresentada no livro Mãos à obra Brasil, que buscaria “incentivar a cooperação com a OCDE”, definição de política externa recolhida no discurso de posse do Chanceler Luiz Felipe Lampreia e reafirmada ainda recentemente no pronunciamento do Presidente por ocasião do dia do diplomata: “aproximar o Brasil de organizações multilaterais, como a OCDE, que exprimam, em sua essência, a defesa da economia de mercado e de outros valores do ocidente democrático” (28.04.95). 

Ocorreram, é verdade, declarações ocasionais sobre um possível futuro “ingresso” na OCDE, sem que no entanto elas chegassem a configurar uma definição oficial de política externa governamental. Declarações desse tipo poderiam ser interpretadas, no Chateau de la Muette, como uma manifestação de vontade unilateral, pouco apropriada, finalmente, ao contexto político de aproximação gradual vis-à-vis uma organização intergovernamental soberana. 

Em qualquer hipótese, caberia perguntar, em primeiro lugar, se não estaria faltando uma definição mais precisa (não necessariamente destinada a ser tornada pública) quanto à política do Brasil em relação à OCDE. Nem a vontade de “cooperar com”, nem a linha de ação de “aproximar o Brasil de organizações multilaterais como a OCDE”, em vista de sua alegada “defesa da economia de mercado e de outros valores do ocidente democrático”, são suscetíveis de definir exatamente o interesse nacional e de aplicar-lhe uma racionalidade instrumental no capítulo da política externa, mesmo sendo ela a consensual política de aproximação gradual seguida no presente momento. A definição de uma política oficial em relação à OCDE deve partir de um conhecimento relativamente preciso de sua natureza, objetivos, provável evolução, bem como dos limites impostos à sua possível extensão a países não-membros, dotados no caso de características especiais como o Brasil. Este texto, por compreensíveis razões de espaço, abordará estas questões de maneira apenas perfunctória.

 

O charme discreto da velha senhora: limites da OCDE em transição

O que é a OCDE? Ao risco de parecer simplistas, poderíamos dizer que ela é claramente uma organização da guerra fria que, depois da queda do muro de Berlim e da derrota definitiva do socialismo, vem procurando reciclar-se na gestão ordenada das diversas transições ao capitalismo e das conversões ao liberalismo de mercado. A OCDE tinha mantido basicamente o mesmo membership e perfil institucional desde sua emergência (em 1960, a partir da “velha” OECE) até recentemente, podendo considerar-se a associação da ex-Iugoslávia a algumas de suas atividades (assim como o próprio ingresso da Turquia e, num certo sentido, de Portugal) como by-products ou side-effects da guerra fria.

Sua abertura e expansão notáveis desde 1989, quando tem início tanto o programa de cooperação com as economias em transição (ex-socialistas) como o “diálogo informal” com as economias dinâmicas (em primeiro lugar asiáticas, depois latino-americanas), ampliaram consideravelmente seu reconhecimento e notoriedade internacionais, servindo de catalizadores para a exibição pública de seu charme até então discreto. Por razões geopolíticas próprias aos “padrinhos” envolvidos, ela conseguiu absorver, até aqui sem maiores problemas, um típico país do Sul – reconvertido aos supostos méritos da economia de mercado – como o México, assim como ela prepara-se para fazê-lo no caso de alguns ex-socialistas patrocinados pelos europeus e, mais adiante, com a Coréia do Sul.

Assim, ao lado das tradicionais atividades de coordenação de políticas econômicas dos países membros – ela sempre foi uma espécie de GATT-plus –, a OCDE se esforça por enquadrar atualmente uma série de novos candidatos à interdependência global. O exercício comporta no entanto alguns limites. Se parece claro que a OCDE tem condições de “assimilar” sem maiores problemas pequenos países da semi-periferia do capitalismo central (podendo até mesmo incluir o Chile ou, mais hipoteticamente, a Argentina), ela dificimente poderia absorver algumas “baleias” da moderna economia global.

Estariam nesse caso, entre outros, a China, a Rússia, a Índia, a Indonésia e o próprio Brasil, países que, por razões extrínsecas à filosofia política globalista – mas não universalista – da OCDE ou intrínsecas ao modo de interação dessas “baleias” com a economia mundial, não seriam “digeríveis” a curto ou médio prazo pela organização intergovernamental do capitalismo bem-comportado. Ademais do fato de que países desse tipo nunca disporão de “padrinhos benévolos” no Chateau de la Muette, trata-se, para ela, de uma simples questão de sobrevivência orgânica ou de uma relação custo-benefício: a partir de um certo ponto, a OCDE só pode expandir-se marginalmente, caso contrário ela poderia colocar em perigo sua relativa homogeneidade política ou sua eficácia econômica nos temas que lhe são afetos. 

Assim, à questão de saber se a OCDE teria, efetivamente, condições ou interesse em “assimilar” um país como o Brasil, a resposta poderia ser, portanto, esta: ela certamente tem interesse em “enquadrar” ou “disciplinar” um velho free-rider como o Brasil, mas não necessariamente em trazê-lo para o inner-core do processo decisório do liberalismo pragmático. Num exercício de franca auto-consciência ela poderia proclamar, de maneira algo orwelliana: todos são interdependentes, mas alguns são mais interdependentes que outros...

 

Esse obscuro objeto do desejo: razões da atração brasileira

Deixando de lado, pelo momento, a questão de saber qual deveria ser, concretamente, a política do Brasil em relação à OCDE – rejeição, indiferença, aproximação, adesão –, conviria saber se quais seriam os condicionantes vinculados a uma aproximação do Brasil à OCDE, bem como suas motivações de política econômica e de relações internacionais do país. 

A política de aproximação do Brasil com a OCDE, implícita nas orientações ideológicas do candidato presidencial vencedor em 1989, teve início efetivo em 1991 através de uma fact-finding mission, cujo relatório orienta ainda hoje o caminho da cooperação direcionada a resultados parciais então decidido (integração a certas atividades técnicas, de interesse do Brasil). Sua rationale mais evidente parecia ser a percepção de que as mudanças em curso na economia mundial e na própria política econômica brasileira impunham uma reorientação dos foros abertos ao diálogo em torno da cooperação externa e um tratamento mais pragmático do relacionamento econômico e político do país no novo contexto internacional: o Sul continuava a se diferenciar e fracionar irremediavelmente, o discurso sobre uma nova ordem econômica internacional ou sobre uma agenda para o desenvolvimento se revelavam inoperantes e a própria cooperação internacional enfrentava uma mudança de qualidade e uma certa deterioração política, em face do liberalismo triunfante.

A OCDE sempre foi considerada, acertadamente, como um centro imparcial de expertise em políticas públicas e como um templo de racionalidade econômica. A profundidade técnica de suas análises sempre serviu como uma espécie de barragem não-ideológica à irresponsabilidade macro-econômica de certas propostas políticas, nos terrenos fiscal, orçamentário ou comercial, entre outros. Nesse sentido, ela pode ter contribuido, em favor dos países em desenvolvimento, por exemplo, para diminuir o quantum de protecionismo embutido em determinadas medidas unilaterais, ou para refrear o desejo de alguns dos países membros de impor arranjos minilaterais beyond GATT.

Mas, ela é, caracterizadamente, algo mais do que isso: ela impõe, aos países membros, um certo número de regras e disciplinas multilaterais, ainda que restritas aos aderentes, que todas vão no sentido da liberalização econômica irrestrita e na disseminação incondicional e uniforme do tratamento nacional. Aparecem aí as oportunidades e condicionantes de uma busca de aproximação por parte do Brasil: eles correspondem, em última instância, ao atingimento de uma racionalidade superior no processo de implementação de políticas macro-econômicas, mas representam, igualmente, um certo número de constraints com os quais seria preciso aprender a conviver em caráter definitivo.

Não se trata de discutir, neste momento, se o Brasil encontra-se preparado para tal salto: ele manifestamente não está, nem estará no futuro previsível. Em outros termos, a questão de um eventual pedido de adesão não deveria ser colocada enquanto decisão imediata de política externa, não só porque um convite nesse sentido jamais seria formulado nas atuais condições, mas também porque o país tem um longo caminho pela frente antes que os requerimentos objetivos e os condicionantes implícitos (que são de natureza algo subjetiva) possam ser satisfeitos. O que deve ser colocado, de maneira clara, é se essa busca de integração ao que até agora foi considerado como um “clube de países ricos” atende ao que normalmente se conceitua como sendo o interesse nacional e se ela é compatível, ou pelo menos não contraditória com os demais princípios sobre os quais se assenta a política externa da Nação. Resumindo: a orientação, a médio prazo, das relações econômicas internacionais do Brasil deveria, prospectivamente, comportar um bias pró-OCDE?

A natureza e funções da Organização, enquanto tal, sobretudo as de seu Secretariado, indicariam que sim, apesar de que os objetivos e métodos de trabalho da OCDE permanecem largamente desconhecidos da maior parte da máquina estatal brasileira. Com a possível exceção do Itamaraty e de um ou outro acadêmico utilizando regularmente seus excelentes estudos e publicações especializadas, a OCDE continua superbamente ignorada no Brasil. Situação a todos os títulos lamentável, pois que certamente o Brasil teria muito a aprender do conjunto de atividades cooperativas e de coordenação nas diversas esferas em que ela atua. Trata-se, basicamente, no contexto da revitalização do Estado e da redinamização da burocracia pública por que passa atualmente o Brasil, de uma excelente escola de reflexão, de formação e de treinamento especializado para os formuladores e implementadores de políticas públicas no Brasil, com destaque para as áreas de planejamento e de políticas econômicas setoriais, inclusive nas áreas ambiental, educacional e tecnológica.

De um modo geral, sabemos que não existem respostas simples a um conjunto de desafios externos que são basicamente comuns a países emergentes como o Brasil: acesso a novos mercados e tecnologias, crescente inserção econômica internacional, captação de recursos externos para fins de crescimento e emprego, enfim, participação plena nas grandes decisões políticas e econômicas que afetam a comunidade internacional. As respostas a esses desafios não podem ser equacionadas com base apenas na manifestação da vontade nacional, por mais forte que ela seja: o discurso modernizante esgota-se em seus próprios limites, a menos de ser secundado por uma burocracia armada dos instrumentos adequados para torná-lo realidade. Essas respostas requerem bastante consistência operacional, mas, também e sobretudo, capacidade externa de implementá-las, o que depende basicamente dos recursos globais de um país (econômicos, políticos, culturais e militares). 

A superação de algumas dessas “lacunas de poder” depende, antes de mais nada, da implementação de um projeto nacional de desenvolvimento, o que confirmaria a política externa brasileira num papel supletivo dos grandes objetivos nacionais. Essa diplomacia do desenvolvimento parece corresponder, finalmente, aos princípios e linhas de ação que sempre guiaram a atividade do Itamaraty. Mas, a consecução dos instrumentos necessários para tal finalidade seria grandemente facilitada pela existência de uma burocracia pública dotada da capacitação requerida e treinada nas políticas setoriais adequadas à transformação modernizadora do Brasil contemporâneo. A OCDE poderia desempenhar, mesmo acessoriamente, um papel instrumental nesse processo de adaptação do Brasil às exigências da modernidade com vistas à nossa inserção internacional.

 

Crônica de uma adesão anunciada?: realismo na política externa

Assim, o relacionamento com a OCDE deve ser antes visto como um meio do que como uma finalidade de uma política global de desenvolvimento econômico e social do Brasil. Como linha de princípio, o Brasil não deveria postular, externamente ou mesmo para si próprio, a adesão à organização do Chateau de la Muette como um objetivo de política nacional ou como diretriz de Governo. O eventual (e imprevisível) futuro ingresso numa organização restrita e de certa forma elitista como a OCDE – que de toda forma já não seria a mesma que se conhece hoje – poderia ser o resultado natural, e involuntário, de um processo em que não seríamos mais simples demandeurs e sim convidados, mas jamais resultar de uma suposta “diplomacia de resultados”.

Qual a rationale da argumentação aqui exposta e o que motiva este tipo de proposta de política externa setorial? Ela é guiada, fundamentalmente, pela premissa de que um objetivo auto-proclamado (unilateral, portanto) de “ingresso” na OCDE relevaria tão simplesmente de uma Idealpolitik, não no sentido de uma política externa motivada por valores morais elevados, mas tão simplesmente permeada de interesses legítimos embora destacada dos meios necessários para atingi-los. A Idealpolitik pode comportar princípios balizadores da atuação externa do País, mas não se confunde com um guia para a ação.

Uma Realpolitik bem temperada deveria reconhecer que uma tal orientação é, nas circunstâncias atuais, bem pouco compatível, ainda que não totalmente contraditória, com os demais princípios sobre os quais se assenta a política externa da Nação. A reivindicação, por exemplo, de um estatuto de país em desenvolvimento, plenamente reafirmada nos foros onusianos ou no das instituições de Bretton-Woods (inclusive, ou principalmente, nesse late come offshoot que é a OMC), para a consecução dos objetivos de não-reciprocidade e de tratamento especial e mais favorável, se coaduna mal com as regras, escritas e não escritas, que enquadram e regulam a atividade econômica, interna e externa, nos países membros da OCDE. Encontra-se o Brasil preparado para esse tipo de revolução qualitativa em sua política externa, essa ruptura epistemológica com décadas de ideologia desenvolvimentista, esse verdadeiro salto paradigmático nos princípios organizadores de seu relacionamento internacional? Uma reação plausível e credível tenderia a fornecer, modestamente, uma resposta negativa a essa questão.

A realidade econômica e política interna, por outro lado, mesmo se em processo de adaptação aos requisitos da “nova” ordem econômica internacional, notadamente através dos processos de revisão constitucional, ainda não pode ser considerada como ganha à abertura econômica ou em evolução irresistível para a aceitação tranquila da interdependência. Em termos de política nacional de desenvolvimento, deve-se reconhecer, aliás, que o processo de reformas internas tem seu mérito próprio e não pode prender-se exclusivamente à agenda externa do País. Tendo em vista, assim, o quadro político interno e a atual conjuntura econômica brasileira, o mais indicado seria prosseguir o processo de reformas, desvinculando-o de qualquer objetivo final de mudança de status internacional, uma vez que antecipar eventual demanda de ingresso na OCDE poderia gerar linhas de resistência política e econômica que dificultariam o prosseguimento da obra modernizadora. Não se poderia esquecer, também, que um processo prematuramente engajado de adesão plena de um país como o Brasil, tido como “instável” em termos de políticas governamentais, poderia gerar, por parte de alguns países membros, restrições de natureza diversa que poderiam tornar algo traumático o eventual quadro negociador. De qualquer forma, nenhum processo desse tipo é suscetível de abrir-se antes que os países membros tenham definido seu encaminhamento positivo ou antes que o candidato disponha de um sólido case for.

De uma forma geral, portanto, qualquer que seja a orientação a ser imprimida à política externa nessa área, o sucesso de um tal empreendimento recomendaria a maior discreção possível quanto ao objetivo final, paralelamente à intensificação real dos esforços tendentes a confirmar a presença do Brasil nas atividades hoje selecionadas para nossa participação. Do ponto de vista de nossa política de aproximação, aumentar o nível do diálogo com a OCDE ou entrar em discussão quanto ao incremento de nossa participação em atividades diversas (comitês técnicos especializados, por exemplo) implicaria não só maiores definições internas e externas relativamente ao grau de abertura da economia brasileira, mas também a disposição do País de começar a adotar, de uma maneira bastante discreta e em todo caso voluntariamente, princípios e mecanismos regulatórios inspirados diretamente nos instrumentos negociados e acatados pelos países membros. O pressuposto de uma tal recomendação política é evidentemente que essa adesão unilateral a códigos de boa conduta no campo da política econômica interna e externa apresentaria – a médio e longo prazos e independentemente dos custos imediatos ligados ao trade-off autonomia vs. interdependência – efeitos positivos em termos de linkages econômicos internos, uma revalorização política do País no cenário mundial e um impacto potencialmente benéfico para a inserção brasileira no sistema econômico internacional.

Parecem reunidas, portanto, as condições para se responder à questão inicial de saber qual deveria ser, concretamente, a política do Brasil em relação à OCDE. Considerando-se que a rejeição ou a indiferença já foram descartadas há algum tempo, inclusive porque não representam exatamente uma política, restam matizes das duas últimas atitudes: continuidade do processo de aproximação, tal como definido de forma empírica atualmente, e preparação de um futuro pedido de adesão. Pelas razões já expostas acima, esta última opção deve ser objetivamente descartada enquanto variável de planejamento político na área externa, mesmo se preservada a hipótese enquanto princípio organizador de nossa futura inserção internacional.

A opção preferencial seria, portanto, em favor de uma ativa política de aproximação, de participação intensa nas atividades abertas ao Brasil, de manutenção de um diálogo regular de alto nível e de uma intensa cooperação informal em setores de interesse recíproco. Essa orientação seria conduzida de maneira indefinida no tempo, sem a preocupação de aboutir a um cronograma preciso de mudança de status: esta seria a melhor garantia de poderíamos, em última instância, conduzir o processo, sem ser por ele atropelados. Em outras palavras, nada além do que seguir a velha política do bom senso e uma linha de meio termo, ambos definidos de maneira ativa, como convém aliás a um País que, historicamente, sempre soube definir e implementar soberanamente sua política externa. 

[Paris, n° 482: 16.07.95]

 

482. “O Brasil e a OCDE: considerações sobre uma relação problemática”, Paris, 16 julho 1995, 9 pp. Reflexões pessoais sobre a política a ser adotada pelo Brasil em relação à OCDE, não destinadas a divulgação pública. Encaminhada ao Chefe de Gabinete do SG e ao SGIE/MRE. Reservado.

 

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Outros materiais pertinentes ao tema: 


506. “OCDE, UNCTAD e OMC: uma perspectiva comparada sobre a macroestrutura política das relações econômicas internacionais”, Porto Alegre, 16 dezembro 1995, 42 pp; 2a. versão revista: Brasília, 22 de dezembro de 1995, 45 p. 3a. versão revista: Brasília, 6 agosto 1996, 49 p. Texto analítico sobre o conteúdo formal e substantivo das agendas respectivas das três organizações, em perspectiva histórica, com vistas a definir possível convergência nos trabalhos de cada uma delas. Publicado no livro editado pelos Profs. Paulo Borba Casella e Araminta de Azevedo Mercadante (coords.), Guerra Comercial ou Integração Mundial pelo Comércio? A OMC e o Brasil (São Paulo: Ltr Editores, 1998, p. 149-198). Disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/5782891/007_OCDE_UNCTAD_e_OMC_uma_perspectiva_comparada_sobre_a_macroestrutura_pol%C3%ADtica_das_rela%C3%A7%C3%B5es_econ%C3%B4micas_internacionais_1998_). Relação de Publicados nº 225.

509. “Brasil e OCDE: uma interação necessária”, Brasília, 21 janeiro 1996, 4 p. Requerimento de matrícula para a elaboração de tese do Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco (XXXII CAE), constando de exposição do temário, pontos a serem desenvolvidos, metodologia e fontes. Anexo: esquema e estrutura proposta da segunda versão do trabalho de CAE com divisão preliminar em capítulos. Texto revisto em Brasília em 31 de janeiro de 1996. Encaminhado ao IRBr em 8 de fevereiro de 1996. Aceito como projeto de tese de CAE; elaborado, sem nenhuma modificação do projeto original, nos meses de junho e julho de 1996. 

530. “Brasil e OCDE: uma interação necessária”, Brasília, 15 julho 1996, 290 p. (texto + anexos: notas, bibliografia, complementos informativos e apêndices estatísticos). Tese apresentada ao XXXII Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco. Depositada no IRBr em 15 de julho de 1996, aceita para arguição oral em 19 de setembro (Carta IRBr/457), com fixação da defesa para o período de 24 de outubro a 6 de novembro; defendida em 29 de outubro 1996 de 1996. Reprovada pela Banca; feito Memorial sobre o processo de avaliação (Trabalho n° 540). Disponibilizado em Academia.edu (2/06/2015; link: https://www.academia.edu/5659888/530_Brasil_e_OCDE_uma_interacao_necessaria_-_tese_CAE_1996_); Informado no blog Diplomatizzando (2/06/2015; link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2015/06/brasil-e-ocde-uma-interacao-necessaria.html) e via Facebook (https://www.facebook.com/paulobooks/posts/948031168593667).

539. “Roteiro de apresentação oral no XXXII CAE: Brasil e OCDE: uma interação necessária”, Brasília, 28 outubro 1996, 9 p. Esquema de argumentação para ser utilizado como guia na sessão de defesa da tese, no dia 29/10/1996. Não utilizado, por não ter havido debate sobre os pontos centrais da tese. 

540. “Memorial do candidato sobre o processo de avaliação da Tese”, Brasília, 9 novembro 1996, 14 p. Texto preparado para subsidiar argumento em favor da revisão da decisão da Banca que decidiu recusar a tese de CAE. Entregue em 11.11.96 ao Diretor do IRBr. 

541. “Recurso em legítima defesa”, Brasília, 11 novembro 1996, 2 p. Carta ao Diretor do IRBR, com pedido de reconsideração da decisão da Banca que decidiu recusar a tese de CAE. Entregue em 11/11/1996 ao Diretor do IRBr. Resposta comunicada em 10/12/1996, por ofício 758 do Diretor do Instituto Rio Branco, confirmando a decisão negativa da Banca.