'Vivi com o golpe
toda a minha carreira'
Em entrevista ao
Estado, historiador americano explica em que 1964 foi diferente das outras
tentativas de golpe
Entrevista: Frank D. McCann
Wilson Tosta
O
Estado de S. Paulo, 28 de março de 2014
Entender 1964 tem sido um dos desafios profissionais do
historiador norte-americano Frank McCann. “Vivi com o golpe toda a minha
carreira”, conta o pesquisador, que era estudante da pós-graduação em História
do Brasil na Universidade de Indiana quando o governo João Goulart caiu. Ele
relata que ainda lembra de quando viu a foto do presidente Castelo Branco pela
primeira vez no New York Times e afirma que acompanhou “obsessivamente” o
noticiário da época, tentando compreender o que acontecia em seu objeto de
estudo. Em 1965, saciou um pouco da curiosidade no Brasil, para onde se mudara
com a família para pesquisar e preparar sua dissertação. McCann ainda se lembra
de ler as manchetes sobre o AI-2, que acabou com os partidos, nas bancas da
Avenida Rio Branco, no Centro do Rio de Janeiro. O ambiente, diz, era muito
tenso, devido a rumores de uma rebelião de linha dura na Vila Militar.
“Eu não tinha ideia, então, de que eu passaria muito da
minha vida tentando entender os militares brasileiros", afirma
A seguir, os principais trechos de sua entrevista ao Estado:
Antes de 64, o Brasil
viveu várias tentativas de golpe militar de direita: 54, 55 , 61, além das
Revoltas de Jacareacanga e Aragarças. Todas fracassaram . Por que a tentativa
de 64 foi vitoriosa?
As tentativas de golpe anteriores a 64 fracassaram porque
não foram suficientemente apoiadas por todas as Forças Armadas, porque faltou
apoio civil em grande escala ou porque foram localizadas dentro de uma das
Forças. Oficiais superiores e a elite civil culparam Goulart e seus aliados ,
como Brizola , da extensa agitação social em todo o Brasil. As imagens das
manifestações das Ligas Camponesas no Nordeste permaneceram na memória dos
opositores do governo. A discussão da necessidade de reforma agrária , da expansão
da educação, do controle dos recursos naturais, foi considerada muito radical,
de alguma forma contaminada pelo comunismo. A opinião pública foi manipulada
para alimentar o medo. As elites civis e a Igreja Católica viram a ameaça
vermelha à sua porta. Brizola falando em armar um tipo de milícia deixou as
pessoas assustadas. O Brasil parecia prestes a explodir. Discussão racional,
calma, dos problemas nacionais tornou-se rara.
De onde veio o golpe?
Para mim, a grande questão é: por que os militares pensavam
que tinham o direito ou dever de criticar publicamente , atacar ou depor um
governo? Historicamente, eles têm dito muitas vezes que seus antecessores
tinham deposto a monarquia e instalado a República, e tinham o dever de
defendê-la e protegê-la. Claro que era uma responsabilidade autoassumida.
Infelizmente, na República Velha políticos civis aparentemente encorajaram esse
tipo de pensamento, de envolver os militares em seus esquemas partidários. A
disciplina solta no Exército permitiu que oficiais acreditassem que eram os
guardiães da República. A muito antiga prática de dar anistia a todos os
envolvidos em revoltas diminuiu o autocontrole. Em 1904, 1922 e 1924, os
rebeldes foram expulsos, mas depois de um tempo tiveram permissão para retornar
e ter carreiras normais. Isso significava que os rebeldes não eram fortemente
penalizados por sua rebelião. A instituição era muito insular, uma coisa à
parte da sociedade, muito controlada pelo próprio corpo de oficiais. A
estrutura das Forças Armadas tornou o controle civil extremamente difícil, se
não impossível.
Mas o que diferencia
o golpe de 64 das tentativas anteriores?
Uma coisa que aconteceu em 54, 55 e 61 foi que a
intervenção dos militares levou à passagem da Presidência para outro civil. Em
64 não havia apoio suficiente para qualquer político civil. As figuras
proeminentes foram, cada um, um pouco divisionistas, Carlos Lacerda foi o mais divisionista. Antes do golpe,
Castelo Branco tinha passado semanas de reuniões reservadas com os líderes civis e ganhou sua confiança.
Ao determinar a deposição de Goulart, os políticos civis pensaram que o golpe
seria apenas empurrá-lo de lado, e um deles levaria o Planalto. Eles não sabiam
que um conjunto significativo de oficiais passou a acreditar que seu caminho
para servir à nação era dirigi-la. Claro que é necessário lembrar que foi um
período quente da Guerra Fria, e os militares brasileiros estavam imersos na
mentalidade do anticomunismo. Eles faziam um culto a 1935, a rebelião
financiada por Moscou no Exército. Os generais de 64 tinham sido jovens
oficiais em 1930 e abraçaram os mitos sobre 1935, como o de oficiais
brasileiros assassinados durante o sono, o que não aconteceu, mas eles
acreditavam. A falta de disciplina que mencionei anteriormente foi um fator que
contribuiu para a revolta de 1935 . Oficiais legalistas afrontados pelos
rebeldes derrotados riram quando eles foram levados para a prisão.
Sem o cabo Anselmo e
sem a reunião dos sargentos no Automóvel Club teria havido golpe?
Certamente o motim dos marinheiros e a revolta dos sargentos
contrariaram e preocuparam os oficiais, que viram essas ações como quebra de
disciplina. Foi bom para os oficiais insuflar a revolta , mas não para a tropa
mais baixa. O cabo Anselmo foi, naturalmente , muito problemático, porque era
um agente dos golpistas que agia como um provocador . Mas veja, realmente,
todos os participantes no golpe estavam quebrando a cadeia de comando ,
quebrando hierarquia.
Por que o suposto esquema militar de apoio ao presidente Jango falhou?
Era muito pequeno, muito desorganizado e sem saber o que
estava acontecendo até muito tarde. Eu suspeito que muitos oficiais acharam
mais fácil apenas serem arrastados na corrente e não estavam dispostos a se
opor a seus comandantes e colegas.
Os militares eram um
grupo coeso na ditadura ou havia divisões significativas entre eles?
Durante os anos militares, houve uma divisão, com aqueles
que eram oficiais profissionais e não pensavam que governar o país era o seu
papel (de um lado). Havia outros, menos comprometidos com a profissão de
soldado, que foram corrompidos pelas oportunidades de remuneração extra e
benefícios ilegais. Sem dúvida, houve alguns que gostaram dos papéis
repressivos, da espionagem, do sigilo, na verdade talvez até gostassem de ferir
os outros. Alguns, talvez por causa de sua educação limitada, não conseguiam
entender que o que as pessoas que queriam era uma sociedade justa , com
oportunidades reais de possuir terra , obter educação e expressar seus
pensamentos. Lembro-me de, em 1976, um coronel em uma reunião em Brasília, que
me disse que ele e seu irmão, também um coronel, mal podiam falar um com o
outro, porque discordaram totalmente ao longo da "Revolução" . O
irmão aparentemente justificava as prisões , desaparecimentos e torturas,
enquanto ele acreditava que esse tipo de comportamento repressivo estava abaixo
da dignidade de um oficial do Exército.
Por que a transição política foi tão lenta, com a demora em desmontar o
aparato repressivo, com o SNI, em contraste com países vizinhos, como a
Argentina?
Boa pergunta . Acho que Geisel não sabia como domar o tigre.
Talvez ele pensasse que, dando tempo suficiente, as emoções fortes iriam
passar, e o discurso racional seria possível. Por que demoraram tanto tempo
para desmantelar o SNI eu não sei, mas suspeito que era de alguma utilidade
para Sarney. Provavelmente vai demorar muitos anos para que todos os arquivos
sejam estudados. A Argentina foi um caso muito diferente. O Exército não tinha
histórico de assumir o governo. O caso argentino foi mais brutal e ainda mais
irracional do que o brasileiro. Foi uma sorte que os generais fossem loucos o
suficiente para atacar as Malvinas e fossem derrotados pelo Reino Unido.
Um dos grupo mais perseguidos, talvez o mais perseguido, durante a ditadura
foi o dos militares. Houve 7.500 militares cassados. Ocorreu uma guerra à parte
entre militares durante o período?
Sim, houve uma purga interna nas Forças Armadas. Estou certo
de que muitos inocentes sofreram. O pensamento cego que passou no Exército
sobre o comunismo é notável . Alguns oficiais que estavam simplesmente a favor
da regra constitucional foram rotulados como radicais e, portanto, comunistas .
O livro de Shawn Smallman, “Fear and Memory in the Brazilian Army and Society,
1889-1954” (Univ. of North Carolina Press, 2001) estudou os aspectos da purga .
O livro de Maud Cahirio, “A Política nos Quartéis” ( Zahar , 2012) traça as
lutas internas . As instituições militares sofreram com tudo isso e perderam um
pouco de sua capacidade
.
Na Argentina, no Uruguai e no Chile, as ditaduras não foram
nacionalistas nem estatizantes. Por que no Brasil os governos militares criaram
e fortaleceram empresas estatais e mantiveram a legislação de direitos
trabalhistas , além de tentar desenvolver alguns setores nacionais,
diferentemente do que aconteceu em ditaduras vizinhas?
Os militares brasileiros estiveram profundamente
comprometidos com o desenvolvimento econômico por décadas. Eles costumavam
dizer que um país pobre não poderia ter um bom establishment militar. Eles se
sentiram no dever de desenvolver e melhorar o País, para que pudessem ter os
meios para se defender adequadamente. Eles não queriam os recursos naturais do
País em mãos de estrangeiros . Curiosamente, alguns oficiais me disseram que na
década de 1990, quando conversaram com ex-comunistas , ficaram surpresos ao
descobrir que eles queriam as mesmas coisas para o Brasil. Um coronel
intelectual disse que pensou que a coisa toda, o golpe , o regime militar ,
tudo tinha sido um erro enorme.
A tortura foi excesso de fanáticos e sádicos ou foi política de Estado,
estimulada pelo topo da hierarquia?
O uso de tortura é algo que faz pouco sentido. Oficiais ,
mesmo seniores como o general Carlos Meira Mattos, a justificavam como a única
forma rápida para encontrar o a bomba-relógio ligada. Mas a realidade é que
havia poucas bombas em funcionamento, e pior que muitas pessoas foram
torturadas semanas e meses depois de serem presas quando não poderiam ter
nenhuma informação útil. Uma estudante minha de pós-graduação, Martha K.
Huggins , fez dois estudos, “Political Policing: the United States and Latin
America” (Durham: Duke University Press, 1998) e “Violence Workers: Police
Torturers and Murderers Reconstruct Brazilian Atrocities” (Berkeley: University
of California Press, 2002), que mostraram alguma influência americana no uso da
tortura . Lembro-me de estar no Rio em 1969 e de relatos de americanos estarem
presentes durante as sessões de tortura no quartel-general da Marinha. De meus
estudos de história do Exército , eu diria que nenhum estrangeiro tinha nada a
ensinar aos brasileiros sobre como torturar ou maltratar prisioneiros. É
verdade que os brasileiros estavam longe de serem tão perversos quanto os
argentinos ou chilenos no uso de tortura ou assassinato, mas isso não é algo de
que se orgulhar . Alguns dos abusos foram protagonizados por pessoal das
polícias militares estaduais, mas porque o Exército brasileiro colocou seus
oficiais no comando de cada PM estadual, o que traz a responsabilidade de volta
para o Exército. A tortura era generalizada.
Claro que os leitores vão dizer que os Estados Unidos
fizeram o mesmo contra supostos terroristas após o 11 de setembro. Infelizmente
isso é verdade, mas eu acho que não foram os Estados Unidos , mas o governo de
George W. Bush , que fez isso. Até onde sei, o Exército dos Estados Unidos não
estava envolvido, pelo menos até o episódio da prisão no Iraque. Como cidadão
americano estou profundamente envergonhado com o que o gangue de Bush fez.
Agora, assassinato é
algo ainda pior do que tortura. Sabemos a partir do caso da Casa da Morte de
Petrópolis que as pessoas presas lá foram torturadas até morrerem e foram
enterradas em segredo. Segundo a imprensa, os torturadores eram pessoal do
Exército . Talvez mais vergonhoso de um ponto de vista militar foi o
assassinato de prisioneiros no Araguaia. Em combate é matar ou ser morto , mas
a honra militar exige que os prisioneiros sejam protegidos. Foram esses
assassinatos encomendados? Por quem? Por quê? Parece que alguns oficiais
generais estavam cientes de que isso estava acontecendo . É muito possível que
Ernesto Geisel soubesse .
O que fica do golpe para o Brasil de hoje?
A questão desde 1985 tem sido: como evitar que tudo aconteça
de novo? É bom que presidente Dilma tenha proibido os militares de comemorar
1964 e o regime posterior , mas isso não é suficiente. As escolas militares
deveriam estar ensinando sobre tudo isso como um exemplo do que os militares
brasileiros não devem fazer. A melhor proteção para as Forças Armadas é ver o
golpe como um erro grave. Não foi uma vitória sobre o comunismo, mas um ataque
à democracia e ao Brasil como um país livre. Devo lembrar que as Forças Armadas
de hoje não são as mesmas que as de 1964.
Os instituições militares de hoje no Brasil são
politicamente neutras e totalmente engajadas na sua missão de defesa nacional.
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Original das respostas, em inglês, do historiador, como recebido do próprio:
Questions sent by Wilson
Tosta as an ‘interview’ on Golpe of 1964.
Ah
Wilson, these are very good questions. I
have lived with the coup of 1964 for my whole career. I was a graduate student at Indiana
University specializing in Brazilian history when it occurred. I remember where I was the day I first saw
Castello Branco’s photo in the New York
Times. I followed the news reports obsessively
trying to understand what was happening.
Then in 1965 my wife and I and our two little girls went to Rio for a
year so I could research my dissertation.
I remember reading the headlines at the news stands on Av. Rio Branco
when the AI-2 was decreed abolishing the then political parties. The atmosphere was very tense due to rumors
of a rebellion of hard liners at Vila
Militar. I had no idea then that I
would spend much of my life trying to understand the Brazilian military.
1) Antes de 64, o Brasil
viveu várias tentativas de golpe militar de direita: 54, 55, 61, além das
revoltas de Jacareacanga e Aragarças, no governo Juscelino. Todas fracassaram.
Por que a tentativa de 64 deu certo? O que a diferenciou das outras?
The
earlier coup attempts failed because they were not sufficiently supported
throughout the armed forces, lacked large scale civilian backing, or were
localized within one service.
Higher
officers and the civilian elite blamed Goulart, and his allies such as Brizola,
for the extensive social unrest throughout Brazil. The images of the demonstrations of the
Peasant Leagues in the northeast lingered in the memories of government
opponents. Talk of the need for land
reform, expanded education, control of natural resources was perceived as very
radical, somehow tainted by communism.
Public opinion was manipulated to stoke fear. The civilian elites and the Catholic Church
saw the Red Menace at their doorsteps.
Brizola talking about arming a type of militia frightened people. Brazil seemed to be ready to explode. Rational, calm discussion of national
problems became rare.
For
me the big question is why would military officers (in Brazil this mostly means
army officers) think that they had the right (duty??) to publicly criticize,
attack, or depose a government?
Historically they have often said that their predecessors had deposed
the monarchy and installed the republic and they had the duty thereby to defend
and protect it. Of course that was a
self-assumed ‘responsibility’. Unhappily
in the Old Republic civilian politicians seemingly encouraged that kind of
thinking to involve the military in their partisan schemes.
The
loose discipline in the army allowed officers to believe that they were the
guardians of the republic. The very old practice of giving amnesty to those
involved in revolts diminished self-control.
In 1904, 1922, and 1924 rebels were expelled from the ranks, but after a
while allowed to return and have normal careers. That meant that rebels were not heavily
penalized for their rebellion. A basic
lack of discipline was bred into the officer corps. The institution was too insular, too much a
thing apart from society, too much controlled by the officer corps itself. The structure of the armed forces made
civilian control extremely difficult, if not impossible.
The
plotting in 1954 against Getúlio was cut short by his suicide and the huge
popular reaction in the streets. Some
scholars think it delayed the seizure of power until the next decade, I think
it was more complicated and that the events of the next years produced the
climate that made 64 possible.
One
thing that happened in 54, 55, and 61, was that whatever intervention the
military took, they supported the passing of the presidency to another
civilian. In 64 there was not sufficient
elite support for any particular civilian politician. The outstanding figures were each somewhat
divisive, Carlos Lacerda being the most divisive. Prior to the coup Castello Branco had spent
weeks meeting quietly with civilian leaders and had gained their
confidence. By determining to depose
Goulart the civilian politicians thought that a coup would merely push him
aside and one of their number would take the Planalto. They were unaware that a significant body of
officers had come to believe that the way for them to serve the nation was to
direct it.
Of
course it is necessary to remember that it was a hot period of the Cold War and
the Brazilian military mentally was deep into the mindset of
anti-communism. They had made a cult out
of the 1935 Moscow- funded rebellion in the army. The generals of 64 had been young officers
in the 1930s and they embraced the myths about 1935 , such as Brazilian officers
being shot in their sleep. that did not
happen but they believed that it did.
The lack of discipline that I mentioned earlier was a contributing
factor to the 1935 revolts. Loyalist
officers long remembered and were affronted that the defeated rebels laughed as
they were marched to prison.
2) Qual foi o papel da quebra de hierarquia para o sucesso do golpe?
Podemos dizer que, sem o cabo Anselmo, sem o motim dos marinheiros no Sindicato
dos Metalúrgicos do Rio e sem o almoço dos sargentos no Automóvel Clube, teria
havido golpe bem-sucedido?
Certainly
the sailors’ mutiny and the earlier sergeant’s revolt upset and worried the
officers, who saw these actions as breaking of discipline. It was fine for officers to plot and revolt
but not for the lower ranks. Cabo Anselmo
was, of course, really problematic because he was an agent of the golpistas acting as a provocateur. Legally everyone participating in the coup
was breaking the chain of command, quebrando
hierarquia. Just because Generals
were leading and giving orders did not make the rebellion legal or right.
3) Como era o jogo dos
generais na época? Quem ficou com João Goulart, quem mudou de lado e quem
estava contra ele desde o início, nas Forças Armadas? E quais eram os motivos
dessas posições (ou suas mudanças)?
A
few general officers attempted to side with the government, the Third Army in
Rio Grande do Sul comes to mind. But
supporters were quickly pushed aside, arrested, retired.
4)
Golpistas civis esperavam que os
militares apenas derrubassem o governo Goulart e lhes passassem o poder. Por
que isso não aconteceu e os militares ficaram 21 anos mandando no Brasil?
I
think I mentioned this above. But it is
important to remember that a lot of civilians supported the military’s
intervention.
5) Por que o suposto
esquema militar de apoio ao presidente Jango falhou?
Why
did it fail? It was too small, too
disorganized and unaware what was happening until too late. I suspect that many officers found it easier
just to be swept along in the current and were unwilling to oppose their
commanders and colleagues.
6) A
visão de que os militares eram um grupo coeso durante o regime é verdadeira ou
havia divisões políticas significativas entre eles? Quais eram essas divisões?
During
the military years there was a division between those who were professional
officers who did not think that running the country was their role. There were others less committed to the
profession of soldiering who were corrupted by the opportunities for extra pay
and illegal benefits. Undoubtedly there
were some who enjoyed the repressive roles, the spying, the secrecy, indeed
maybe even enjoyed hurting others. Some,
perhaps because of their limited education, could not understand that people
who wanted a just society with real opportunities to own land, get an
education, and to express their thoughts, could be anything other than
communists.
I remember in 1976 meeting a colonel in
Brasilia who told me that he and his brother, also a colonel, could barely
speak with each other because they disagreed completely over the course of the
“Revolution”. His brother apparently
justified the arrests, disappearances, and torture, while he believed such
repressive behavior was beneath the dignity of an army officer.
7) A abertura política começou
em 1975, e os militares só deixaram o poder dez anos depois. Mesmo assim, por
pelo menos mais dez anos os militares eram vistos com receio pelos brasileiros.
Houve ainda demora no desmonte de estruturas repressivas - o SNI só acabou em
1990, por exemplo. Qual foi o motivo de uma transição tão lenta? Como comparar
essa transição com as de países vizinhos, como Argentina e Uruguai?
Why
so slow a transition? Good
question. I think that Geisel did not
know how to get off the tiger. Perhaps
he thought that given enough time the high emotions would pass and rational
discourse would be possible. Why it took
so long to dismantle the SNI I do not know, but I suspect that it was of some
use to Sarney. Likely it will take many
years for all those files to be studied.
Argentina
was a very different case. The army
there had a history of coup making and taking over the government. The Argentine case was more brutal and even
more irrational than the Brazilian one.
It was fortunate that the generals were crazy enough to attack the
Falklands and get routed by the British.
Today, the Argentines should be thanking the British rather than
posturing ridiculously about the islands being theirs.
8) Fala-se que os
militares perseguiram adversários durante a ditadura. Um dos grupos mais
atingidos, talvez aquele que foi mais perseguido, era formado por militares:
7.500 integrantes das Forças Armadas foram cassados no período. Pode-se falar
que houve uma guerra à parte entre os militares naquela época?
Yes
there was an internal purge within the armed forces. I am sure that many innocents suffered. The blind thinking that went on in the army
about communism is notable. Some
officers who were simply in favor of constitutional rule were labeled as
radicals and thus communists. Shawn
Smallman’s book Fear and Memory in the
Brazilian Army and Society, 1889-1954 (Univ. of North Carolina Press, 2001)
studied aspects of the purge. Maud
Cahirio’s A Política nos Quartéis
(Zahar, 2012) traces the internal struggles.
The military institutions suffered from all this and lost some of their
capability.
9) Na Argentina, no
Uruguai e no Chile, as ditaduras não foram nacionalistas nem estatizantes. Por
que no Brasil os governos militares criaram e fortaleceram empresas estatais e mantiveram
a legislação de direitos trabalhistas, diferentemente do que acontecia em
países vizinhos?
The Brazilian military was deeply committed to
economic development going back decades.
They used to say that a poor country could not have a good military
establishment. They felt a duty to
develop and improve the country so that they could have the means to defend it
adequately. They did not want the
nation’s natural resources in the hands of foreigners. Interestingly, some officers told me that in
the 1990s they had conversations with ex-communists, they were surprised to
find that they wanted the same things for Brazil. One intellectual colonel said he thought the
whole thing, the golpe, the military
regime, had all been a huge mistake.
10) A tortura e o
extermínio de oposicionistas foi fruto de excessos de subordinados ou havia
aquiescência do topo da hierarquia para que se torturasse, em defesa do regime?
The
use of torture is something that makes little sense. Officers, even senior ones like General Carlos
Meira Mattos justified it as the only quick way to find the ticking “time
bomb”. But the reality is that there
were few such ticking bombs and worse that many people were tortured weeks and
months after being arrested when they could have no useful information. A graduate student of mine, Martha K.
Huggins, who did two studies: Political
Policing: the United States and Latin America (Durham: Duke University
Press, 1998) and Violence Workers: Police
Torturers and Murderers Reconstruct Brazilian Atrocities (Berkeley:
University of California Press, 2002) that showed some American training in the
use of torture. I recall being in Rio in 1969 and hearing
reports of Americans being present during torture sessions in the Naval
headquarters.
From
my studies of army history I would say that no foreigner had to teach
Brazilians how to torture or mistreat prisoners. It is true that the Brazilians were nowhere
near as bad as the Argentines or Chileans in the use of torture or murder, but
that is not something of which to be proud.
Some of the abuses were carried out by state Policia Militar personnel, but because the Brazilian army
placed one of its officers in command of every state PM, that brings the
responsibility back to the army. Torture
was widespread.
Of course your readers will say that the
United States did the same against supposed terrorists after 9/11. Sadly that is true, but I think it was not
the United States, but the George W. Bush administration, that did it. As far as I know the United States Army was
not involved, at least until the prison episode in Iraq. As an American citizen I am deeply, deeply
ashamed of what the Bush gang did.
Now
murder is something even worse than torture.
We know from the case of the ‘Death House’ in Petropolis that people
taken there were tortured to death and buried in secret. According to press accounts the torturers were
army personnel.
Perhaps
more shameful from a military point of view was the murder of prisoners in the
Araguaia. In combat it is kill or be
killed, but military honor demands that prisoners be protected. Were these murders ordered? By whom?
Why? It seems that some general
officers were aware that this was happening.
It is very possible that Ernesto Geisel knew. Elio Gaspari laid it out clearly. Interested readers will find more than they
want to know in Claudio Guerra’s Memórias
de uma Guerra Suja (Topbooks, 2012).
He tells of his experiences as a DOPS agent working with a parallel army
chain of command to murder leftists.
The
question since 1985 has been how to prevent all this happening again? It is good that Presidenta Dilma has
forbidden the military to commemorate 1964 and the subsequent regime, but that
is not enough. The military schools
should be teaching about all this as an example of what the Brazilian military should
not do. The best protection is for
the armed forces to see it as a serious mistake. It was not a victory over communism, rather it
was an attack on democracy and on Brazil as a free country.
Devo lembrar aos leitores que as Forças Armadas de hoje não são as mesmas que as de 1964.
Os instituições militares de hoje
no Brasil são politicamente neutra e
totalmente engajados na sua missão de
defesa nacional.
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