Lula se jacta de não ter levantado para George Bush
Blog do Josias de Souza
21 de abril de 2010
Lula discursou nesta terça (20) para uma turma de formandos do Instituto Rio Branco.
Disse que, sob sua gestão, o Brasil deixou de ser coadjuvante no mundo, “virou importante”.
Algo que, segundo Lula deve orgulhar os novos diplomatas brasileirose inspirar um comportamento altivo.
Nada do velho “complexo de vira lata”, Lula repisou. Sem citar o nome de Celso Lafer, ex-chanceler de FHC, ironizou-o.
Lula evocou o fato de Lafer ter tirado os sapatos numa revista a que foi submetido na alfândega dos EUA.
Disse que um ministro seu que se submetesse a tal constrangimento seria demitido.
Contou que, seis meses depois de assumir a Presidência, em 2003, participou de uma reunião do G8.
“Chegamos na reunião e já estavam lá quase todos os presidentes. Faltava chegar o presidente dos EUA...”
“[...] Quando o [George] Bush entra, todo mundo levanta. Eu falei pro Celso [Amorim]: Vamos ficar sentados...”
“...Ninguém levantou quando eu cheguei! Qual é a subserviência de a gente levantar porque chegou o presidente dos EUA?”
Lula faz bem em inocular altivez na alma dos novos diplomatas. Pena que sua lição tenha sido incompleta.
Poderia ter pronunciado meia dúzia de palavras sobre direitos humanos. Quem sabe mencionasse uma hipotética visita presidencial a Cuba.
Diria que, se indagado a respeito de presos de consciência, o presidente do Brasil levantaria a fronte expressaria contrariedade.
Confrontado com a morte de um preso político após greve de fome de 85 dias, jamais diria que o infeliz “se deixou morrer”.
Encerraria: “Assim como não se deve levantar para o presidente dos EUA, é inaceitável ajoelhar-se para o ditador de Cuba”.
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Comentário PRA:
Levantar ou não levantar se um chefe de Estado, entre outros, entra na sala é uma escolha pessoal de cada um, de cada presidente ou chefe de Estado. Pode revelar submissão, ou cortesia, cada um interpreta como quer.
Quanto à questão de tirar ou não os sapatos, entendo que o presidente está instruindo seus ministros a descumprir normas de segurança estabelecidos soberanamente por outros governos, em seu território, sobre o qual eles podem estabelecer as regras de segurança que seus processos legislativos ou administrativos assim o determinarem.
Outros Estados podem, ou não, com base numa cortesia voluntária, e absolutamente unilateral, decidir se vão suspender ou não aplicar a norma para determinadas personalidades estrangeiras, mas não é seguro, nem obrigatório que o façam.
Um guarda aduaneiro qualquer, em qualquer aeroporto dos EUA, poderia determinar, por exemplo, que o ministro Celso Amorim retire os sapatos para passar por um ponto de controle.
Claro, ele pode se antecipar à medida e determinar à Embaixada que mobilize o Departamento de Estado para que este avise a segurança desse aeroporto particular, para evitar o constrangimento, que não deveria ser considerado tal, pois o que os americanos estão fazendo é cuidar da segurança de TODOS os que viajam em aviões comerciais, inclusive, eventualmente, o Sr. Amorim, como ministro ou como pessoa comum.
Gabar-se de não se submeter a controles representa apenas uma coisa: pretender ser superior a todos os demais passageiros, e incomodar diplomatas, guardas aduaneiros, pessoal de segurança em geral, apenas para não se submeter a uma simples norma de segurança que tomaria 1 minuto ou 1 de incômodo, nada mais do que isso.
Considero tudo isso absolutamente ridículo, exatamente representativo do complexo de vira-lata de que falava Nelson Rodrigues, apenas que ao contrário, pretender ser um vira-latas superior.
Irritado por ouvir, pela enésima vez, esse tipo de conversa absolutamente ridicula, acabei escrevendo um artigo sobre isso, como abaixo:
2055. “De como os sapatos são importantes para a Soberania Nacional (ou não?)”
Brasília, 23 outubro 2009, 5 p.
Considerações exatamente sobre o que o título indica.
Postado no blog Diplomatizzando (24.10.2009; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2009/10/1440-sapatos-e-soberania.html).
Publicado, sob o título “De sapatos e da soberania”, em Via Política (26.10.2009; link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=111).
Relação de Publicados n. 929.
Não esperava ter de retornar a esse assunto ridiculo no dia do diplomata.
Paulo Roberto de Almeida
(Xian, 21.04.2010)
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
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2 comentários:
Particularmente acho que esta suposta síndrome de vira-lata, que o presidente LULA adora repetir, é nada mais do que uma grande massagem (consciente ou não)no seu próprio ego.
O presidente tenta fabricar uma realidade de que a nação brasileira sempre foi vista, pelo restante do mundo(e internamente), como sendo
uma nação inferior e sem auto-estima.
Pior que isso ainda é deixar sub-entendido que o seu governo (ou melhor dizendo: ELE) foi o grande salvador, e único responsável pela grande virada.
Talvez esta síndrome de inferioridade demostre uma condição pessoal do presidente, mas certamente não a minha e de outros milhôes de brasileiros.
Professor,
Tomei a Liberdade de publicar esse texto em meu blog (com citação e link, afinal roubar idéias é patético ..rs..).
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