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O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
quinta-feira, 29 de abril de 2010
2105) Keynes vs Hayek (ou vice-versa): um rap economico
Uma excelente aula de economia, se você prestar atenção nos conceitos (que deveriam ser objeto de várias visualizações, para melhor compreensão).
A genialidade do rap estrelando Keynes versus Hayek
por Jeffrey A. Tucker
Instituto Mises do Brasil, quarta-feira, 28 de abril de 2010
Rap Hayek Vs Keynes
Nota do IMB: uma alma caridosa e extremamente competente traduziu e legendou o rap da batalha Keynes x Hayek. Não é exagero algum dizer que a letra da música não só é fenomenal, como também apresenta uma descrição extremamente acurada da visão antagônica que ambos tinham da mecânica dos ciclos econômicos. É um vídeo para se ver e rever inúmeras vezes. Por mais que você já o tenha visto, sempre acabará descobrindo detalhes novos.
O debate entre J.M. Keynes e F.A. Hayek, ambos vivendo e lecionando na Grã-Bretanha nos anos 1930, foi um dos grandes debates do século. Desafortunadamente, o charme keynesiano acabou prevalecendo, e Keynes, um homem que estava em frequentes viagens pelo mundo, acabou conquistando o pódio da audiência — a ponto de influenciar a política de todo o mundo até os dias de hoje.
Enquanto isso, o sereno e estudioso Hayek nunca de fato teve uma grande plateia. Assim como seu colega e mentor Mises, Hayek escrevia para jornais acadêmicos e era ouvido apenas por aqueles que tinham uma mente mais cética, pessoas que duvidavam das políticas e teorias convencionais e tinham a vontade intelectual de pesquisar os assuntos mais a fundo.
De um lado, portanto, o debate entre esses dois foi um dos mais decisivos para a modelagem das ideias econômicas que dominariam o mundo ao longo dos 75 anos seguintes. De outro lado, entretanto, esse debate nunca de fato ocorreu, uma vez que o ponto de vista hayekiano foi e tem sido sistematicamente marginalizado e escondido pelo establishment político e acadêmico desde que Keynes foi prematuramente declarado o vencedor no final da década de 30.
A maravilha das novas tecnologias midiáticas é sua capacidade de nos mostrar coisas que de outra forma poderiam passar despercebidas. Fear the Boom and Bust [Tema a Expansão e a Recessão], um vídeo do YouTube feito pelo produtor John Papola e pelo economista Russ Roberts, e apoiado pelo Mercatus Center, que pertence à George Mason University, explora genialmente essa vantagem, contrapondo Keynes e Hayek em um rap que captura uma realidade que poucos haviam compreendido por completo até agora.
Até o momento, o vídeo [o original] já foi visto mais de um milhão e cem mil vezes e virou notícia internacional. Além de ser uma bela e elaborada produção, o que realmente impressiona é sua transparência e acuidade teórica. Ele tirou a teoria austríaca dos ciclos econômicos de um plano secundário e a trouxe para o primeiro plano do debate.
É verdade que em 1974 Hayek recebeu o Prêmio Nobel, o que trouxe atenção para a sua obra que havia há muito sido esquecida. O comitê do Nobel citou especificamente o trabalho de Hayek sobre a teoria dos ciclos econômicos. Mas o renascimento desfrutado por Hayek nos anos seguintes não se centrou nesse aspecto da sua obra. Ao invés disso, toda a atenção foi voltada para elaborações sobre sua evolucionária teoria social, suas concepções sobre a ordem do processo de mercado e seus estudos sobre lei.
Com efeito, seus livros e a maioria de seus artigos sobre ciclos econômicos sequer foram reeditados desde o lançamento de sua primeira edição — até o ano passado, quando o Mises Institute lançou um maciço compêndio de sua obra: Prices and Production and Other Essays (bem como o livro Tiger by the Tail). O vídeo, portanto, vem a público de uma maneira acessível e trazendo a grande contribuição que Hayek deu à literatura econômica, a qual é essencial para se entender os atuais eventos da economia mundial.
Permita-me agora explicar por que esse vídeo é sensacional.
O vídeo começa com Keynes e Hayek chegando à recepção de um hotel. Ambos estão ali para a "Conferência Econômica Mundial". A recepcionista é toda remelexos com Keynes, tratando-o como a estrela que ele é. Keynes arrogantemente anuncia que ele não precisa de uma pauta porque ele é a pauta. Enquanto isso, Hayek humildemente tenta se fazer notar. A recepcionista nunca ouviu falar dele. Isso captura muito bem o espírito que perdurou desde a década de 1930 até hoje: o mundialmente famoso Keynes versus os desconhecidos austríacos.
Algo totalmente fiel à realidade: vários estudantes estão dizendo que mandaram esse vídeo para seus professores de economia, os quais responderam que, antes de verem vídeo, nunca tinham ouvido falar de Hayek. Enfatizo: professores de economia.
Voltando ao vídeo, a caracterização dos personagens é fantástica. Keynes é popular e amado por todos, sempre promovendo um estilo de vida boêmio, com festas e farras intensas — o futuro que se dane. Já a personalidade de Hayek é mais intelectual, sóbria e até mesmo um pouco puritana, com um foco na realidade e no longo prazo.
Hayek chega ao quarto do hotel e, ao abrir a gaveta da mesa de cabeceira encontra, ao invés da Bíblia, a Teoria Geral. O telefone toca e é Keynes anunciando que as festividades no Banco Central já estão quase começando. Hayek fica espantado, pois achava que eles estavam ali para seminários e congressos.
Eles se encontram no lobby do hotel e saem — Hayek com um ticket de metrô na mão. Keynes, sem perder tempo, pede uma limusine, enquanto Hayek balança negativamente a cabeça, indignado.
O tema do 'festeiro vs. economista sóbrio' perpassa toda a história. Os termos da argumentação são expostos bem claramente. Hayek diz que os ciclos econômicos são causados por "juros baixos" resultantes de intervenções do governo, ao passo que Keynes culpa o "espírito animal" que opera livremente em um mercado que necessita urgentemente ser controlado.
Keynes então começa a explicar sua teoria para a depressão. Ela é causada pela rigidez de salários e só pode ser curada se houver um estímulo à demanda agregada por meio do aumento dos gastos governamentais e impressão de dinheiro. Ele defende obras públicas, guerras e janelas quebradas — pois tudo isso estimularia a demanda —, alerta contra a armadilha da liquidez, defende déficits, vangloria-se de ter mudado o modo de se estudar economia, e conclui "Diga bem alto, com orgulho, somos todos keynesianos agora!". Enquanto isso, o espectador vai assistindo a cenas de pessoas embriagadas farreando freneticamente.
Sobra então para Hayek a missão de trazer realismo à discussão. Ele rejeita o argumento de Keynes pelo fato de este esconder muita agregação em suas equações, as quais ignoram toda a motivação e ação humana. Hayek compara estímulos governamentais ao ato de beber mais para tentar curar uma ressaca. Ele chama atenção para o fato de que não é possível haver prosperidade sem poupança e investimento — e em seguida começa a educar Keynes em sua perspectiva austríaca.
Ele começa sua exposição alterando o foco da análise: não é a recessão, mas sim a expansão que deve ser analisada. Pois é durante a expansão que são plantadas as sementes do desastre. A expansão econômica começa com uma expansão do crédito. Esse dinheiro recém-criado passa a ser erroneamente visto como sendo poupança real, que pode ser emprestada e investida em novos projetos, como imóveis e construção.
Porém, há uma escassez de recursos necessários para se finalizar esses projetos. Imprimir dinheiro não faz com que os recursos surjam do nada. Esses projetos, portanto, se transformam em investimentos errôneos. O "anseio por mais recursos revela que não há o bastante". É aí que a expansão se transforma em recessão. Quanto à armadilha da liquidez, ela é apenas uma evidência de um sistema bancário insolvente. A lição: "Você precisa poupar para investir, não use a maquina de imprimir."
Toda essa explicação ocorre enquanto Keynes tenta dormir para curar sua ressaca. Sem sucesso, ele corre para o banheiro para vomitar — os efeitos colaterais da farra da noite anterior.
O que Hayek discute no vídeo é sua própria teoria da estrutura de produção de uma economia. Mas vale notar que há uma estrutura de produção atuando no mundo das ideias também. Os primeiros pedaços da teoria austríaca dos ciclos econômicos foram juntados 100 anos atrás, quando Mises estava trabalhando em seu primeiro livro, que foi publicado em 1912.
Esse foi o primeiro tratado a juntar a teoria dos juros e da produção à teoria da moeda. O principal ponto de Mises era mostrar que os bancos centrais — que estavam sendo criados em sua maioria naquela época — iriam acabar causando mais ciclos econômicos, e não menos. Hayek deu sequência a esse trabalho nos anos 20 e 30, publicando uma série de estudos sobre o assunto. Mais tarde vieram aprimoramentos feitos pelo próprio Mises, que os publicou em sua obra magna de 1949, Ação Humana. Os estudos feitos por Roger Garrison na década de 1990 fornecem alguns dos termos que aparecem no vídeo. Ainda depois, surgiu o livro de Jesus Huerta de Soto sobre ciclos econômicos, o qual explica o papel do sistema bancário de reservas fracionárias na criação das expansões econômicas e das subsequentes recessões — um livro que se baseia em várias constatações feitas por Rothbard na década de 1960.
O que vemos nesse vídeo, portanto, é a culminação de várias sequências de ideias que começaram há um século. Trata-se de uma longa e complexa estrutura de produção de ideias. Mas foi exatamente essa estruturação que possibilitou que uma teoria dessa complexidade pudesse ser construída de modo tão coerente, que é perfeitamente possível apresentá-la em um vídeo de rap num formato que qualquer leigo pode ver e entender.
Sinceras e cordiais congratulações a Russ Roberts e John Papola por terem compilado tudo e apresentado um fantástico exemplo de como a ciência econômica pode ser explicada para qualquer indivíduo. Era justamente essa a visão de Mises: a ciência econômica não deve ser relegada às salas de aula; ela deve fazer parte dos estudos de cada cidadão. Roberts e Papola levaram essa prescrição muito a sério e, com isso, fizeram algo extraordinário para Hayek, para as ideias austríacas, para a ciência econômica em geral e para o progresso intelectual do mundo.
É por isso que o vídeo é fantástico.
Jeffrey A. Tucker
é o editor do Mises.org.
Tradução de Leandro Augusto Gomes Roque
2 comentários:
PARADOXO BANCÁRIO
Era uma vez, num país não muito distante, um banqueiro chamado Roque Filho. Um belo dia, o doutor Adriano Smirnoff depositou mil unidades monetárias no banco de propriedade do senhor Roque Filho, o “Banco Liberal”. O senhor Roque Filho ficou muito feliz e, como todo banqueiro que se preze, decidiu que o dinheiro depositado não poderia ficar mofando no cofre. A roda da fortuna precisava girar e, sendo assim, emprestou 900 unidades monetárias para o senhor Ricardo, professor de uma escola pública, que queria comprar uma casa. Não emprestou mais porque não podia: o Estado exigia que o banco mantivesse uma reserva compulsória de 10 por cento de cada centavo depositado. O professor Ricardo viu uma casa muito bonita à venda e comprou-a do cientista Frederico Hay Eca pelo valor das 900 moedas. O cientista Frederico Hay Eca, para a grande felicidade do senhor Roque Filho, depositou as 900 pratas que recebera da venda de sua casa no Banco Liberal. Num dia chuvoso e cinzento, os senhores Frederico Hay Eca e Adriano Smirnoff decidiram resgatar, ao mesmo tempo, o dinheiro que haviam depositado no “Banco Liberal”. O senhor Roque Filho ficou desesperado. Pagou imediatamente ao cientista Frederico Hay Eca a quantia de 900 pratas que este depositara, mas como iria pagar o doutor Adriano Smirnoff? Decidiu cobrar imediatamente o empréstimo que fizera ao professor Ricardo – com juros, evidentemente. Acossado pela insistência do banqueiro, o professor Ricardo decidiu vender a casa que comprara. Sofreu, entretanto, a má sorte: alguém espalhara o boato de que a casa era assombrada por um “espírito animal”, o que provocou a sua súbita desvalorização e a subseqüente venda por apenas 200 pratas. Foi tudo o que ele devolveu ao senhor Roque Filho... Em vista do ocorrido, assinale a melhor alternativa que representa a moral desta história:
a) A culpa é do Estado que regulamenta o sistema financeiro. Sem a intervenção estatal, o senhor Roque Filho poderia emitir moeda privativamente, o que solucionaria o seu problema.
b) A culpa é do Estado que socorre os bancos quando carentes de reservas. Sem o redesconto e outros empréstimos, o mercado seria autorregulável e mau gestores financeiros como o senhor Roque Filho há muito tempo estariam no olho da rua.
c) A culpa é do Estado que não paga de forma decente a seus professores. Se pagasse melhor, o professor Ricardo não precisaria recorrer a um banco para comprar sua casa.
d) A culpa é do Estado que não descobriu e prendeu a tempo o sujeito que espalhou o boato mentiroso sobre a casa que o professor Ricardo comprou.
José Marcos,
Economistas consistentes não começam seus argumentos por "era uma vez...", já que isto seria uma construção arbitrária e sem conexão com a realidade.
Economistas consistentes começam com dados fiáveis da realidade, que indiquem tendências de mercado, fluxos de renda e transações diversas, com seus diversos prêmios de risco associados, devido à assimetria informacional entre agentes do mercado.
Assim, economistas consistentes JAMAIS fariam o que você fez: pretender extrair uma "moral" de uma fábula arbitrariamente construída, colocando apenas as opções que você mesmo arbitrariamente escolheu.
Não se trata de preferências entre escolas econômicas -- digamos entre uma escola mais liberal ou outra mais dirigista, ou mercantilista -- se trata apenas da diferença entre BOA e MÁ economia.
As simple as that.
Eu recomendaria que você estudasse economia seriamente, em lugar de fazer fábulas de duvidoso conteúdo moral, e de opções totalmente arbitrárias, definidas de modo inteiramente subjetivo.
Um economista sério seria reprovado no primeiro semestre da matéria se fizesse o que você fez.
Paulo Roberto de Almeida
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