Pois é, parece que era para vigorar o livre-comércio entre a Venezuela e os países do Mercosul. Mesmo antes de entrar em vigor o protocolo de acesso da Venezuela, supõe-se que os "entrantes" já venham cumprindo de boa fé os compromissos contraídos. Aliás, uma regra costumeira do direito internacional reza que, imediatamente após a assinatura de um tratado, e mesmo antes de sua ratificação e entrada em vigor, as partes contratantes já se eximem de tomar qualquer medida contrário ao espírito e à letra dessa tratado.
Seria o caso dos sócios brasileiros, especialmente aqueles que advogaram enfaticamente pela aceitação da Venezuela no Mercosul, lembraram ao coronel Chávez dos compromissos assumidos.
Paulo Roberto de Almeida
Chávez suspende importação de máquinas agrícolas
Márcia De Chiara
O Estado de S.Paulo, 07 de outubro de 2010
Fabricantes brasileiros foram prejudicados com a expropriação da maior revenda especializada em insumos agrícolas da Venezuela
Os fabricantes brasileiros de máquinas agrícolas começaram a semana com as exportações de seus produtos suspensas para a Venezuela, um dos principais compradores de implementos agrícolas entre os países da latino-americanos. No último domingo, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, expropriou a maior revenda de insumos e equipamentos agrícolas, a Agroisleña, empresa espanhola que está cerca de 50 anos no país.
"Ninguém sabe o que vai ser daqui para a frente. Essa situação é preocupante, pois a Venezuela é um grande importador de máquinas agrícolas brasileiras", afirma Celso Casale, presidente da Câmara Setorial de Máquinas Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Ele conta que o governo da Venezuela justificou a intervenção nas cerca de 60 lojas da empresa, alegando os elevados preços cobrados pelos insumos.
Segundo a Abimaq, as exportações de equipamentos agrícolas para Venezuela somaram US$ 65 milhões entre janeiro e agosto deste ano. Em 2009 inteiro, as vendas para o país atingiram US$ 97,7 milhões. Casale explica que, com o real valorizado e a perda de competitividade dos produtos brasileiros no exterior, a Venezuela passou a ser um comprador importante para os implementos agrícolas brasileiros.
"Fomos surpreendidos com essa decisão do presidente Chávez no domingo à tarde", afirma Rubens Dias de Morais, diretor da Jumil, fabricante de implementos agrícolas. Entre colhedora de milho, roçadeira e distribuidor de fertilizantes, a companhia exportou de US$ 10 milhões a US$ 13 milhões para a Venezuela por ano nos últimos cinco anos. "A Venezuela representa cerca de 30% das nossas vendas externas."
Morais diz que tem US$ 7 milhões de pedidos até dezembro. Desse total, US$ 1 milhão em produtos já estão sendo fabricados. A intenção do executivo é redirecionar as vendas ao mercado interno e outros países. "Nosso risco é pequeno porque temos produto embarcado com fatura liquidada." De toda forma, o empresário não descarta a possibilidade de reduzir o ritmo de produção e antecipar férias coletivas para ajustar a produção.
Casale, da Abimaq, diz que há cerca dez fabricantes de implementos que exportam para a Venezuela. A Casale, por exemplo, acaba de embarcar US$ 900 mil de equipamentos para a Venezuela porque a venda foi feita por meio de carta de crédito, isto é, o recebimento está garantido. Porém, segundo o empresário,os venezuelanos estão pedindo para os empresários brasileiros não embarcarem mais os equipamentos com medo de perdê-los para o governo.
Procurado pelo Estado, o Ministério do Desenvolvimento disse que não comenta a questão e remeteu ao Ministério das Relações Exteriores, que não retornou o contato da reportagem.
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