quinta-feira, 9 de junho de 2011

Bolsa-Miseria, Programa de Estimulo a Pobreza, Manutencao da Deseducacao..

Não, leitor, você não leu errado. É isso mesmo que o governo está estimulando, até com certa crueldade, pois tem muito mais bobagens sendo cometidas no grandioso programa de manutenção da pobreza no Brasil.
Por exemplo, até agora o Bolsa-Família contemplava apenas 3 crianças por família, o que me parece até exagerado, pois a intenção seria reduzir as expectativas de ganho com o BF a partir do número de filhos, pois isso estimularia alguém que só tem um ou dois a ir até o limite.
Pois não é que o governo, orientado certamente por natalistas cruéis, aumentou o número para cinco filhos, estimulando assim a continuidade da pobreza entre os pobres, justamente (pois qual o rico que iria fazer filho só para ganhar 70 reais?).
Nem sei como classificar essa medida do governo: se estupidez rematada ou inconsciência exemplar.
Em todo caso, segue um artigo recente sobre a questão.

Só a escola tira da pobreza
Carlos Alberto Sardenberg
O Estado de S.Paulo, 06 de junho de 2011

Não se mede o sucesso de um programa tipo Bolsa-Família pela quantidade de pessoas beneficiadas. É certo que o programa tem o objetivo imediato de aliviar a pobreza corrente e oferecer um mínimo de conforto para as famílias mais necessitadas. Mas isso não retira as pessoas dessa condição. Elas continuam dependendo do dinheiro do governo. Nesse caso, trata-se de assistência social, não de um programa de redução e eliminação da pobreza. Como esse objetivo poderia ser atendido?

A medida essencial está no progresso escolar das crianças atendidas. A ideia básica para esses programas, desenvolvida no âmbito do Banco Mundial, partiu do seguinte ponto: as famílias mais pobres transmitem a pobreza a seus filhos porque não têm recursos para mandá-los para a escola ou porque precisam do rendimento do trabalho dessas crianças. Sem educação formal, estas não encontram bons empregos e, assim, não têm como escapar da pobreza.

Daí o nome técnico do programa - Transferência de Renda com Condicionalidades (Conditional Cash Transfer) - e sua regra básica: a mãe recebe uma renda mínima e mais dinheiro conforme o número de crianças na escola. Trata-se de cobrir aquilo que o menino ou a menina poderiam ganhar trabalhando.

A ideia de entregar o dinheiro partiu da constatação do fracasso de programas antigos, como a distribuição da cesta básica. Em todos os países os problemas se repetiam: corrupção na compra pelo governo, erros na composição da cesta, perdas na distribuição. Auditorias mostravam que, a cada R$ 1 alocado para o programa, menos da metade chegava na casa das famílias pobres.

Que tal dar o dinheiro à família? Muitos tecnocratas diziam que isso daria errado, pois as pessoas gastariam tudo com bobagens ou, pior, com bebida, cigarro e jogo. Um equívoco. A prática provou que as famílias sabem cuidar de si, especialmente quando o dinheiro é entregue para a mãe, como é o caso dos atuais programas.

A segunda ideia boa foi exigir uma condição. A bolsa está condicionada basicamente à presença da criança na escola e, mais que isso, ao seu progresso na educação (frequentar aulas, passar de ano, etc.).

No México Oportunidades, o primeiro programa de âmbito nacional na América Latina, iniciado em 1997 e hoje considerado o mais bem implementado, a bolsa paga por criança aumenta na medida em que esta progride na vida escolar. Vai de US$ 10 (mensais), para alunos do ensino primário, a US$ 58, para os rapazes no 3.º ano do ensino superior, com até 22 anos.

As meninas recebem bolsa maior (US$ 66 no ensino universitário) porque são retiradas da escola com mais frequência, para ajudar na casa e no cuidado com os irmãos. Além disso, o México Oportunidades ainda paga uma caderneta de poupança para alunos do ensino médio. Concluindo o curso, eles podem usar o dinheiro para iniciar um negócio ou financiar os estudos universitários.

No Brasil, o Bolsa-Família atende crianças de até 15 anos. Eis, pois, um caminho para aperfeiçoar o programa brasileiro, sobretudo porque há um problema grave de evasão escolar e atraso no ensino médio. Outro ponto que se poderia copiar do México: o programa é auditado por uma instituição independente.

Resumo da ópera: o programa pode atender 1/4 da população, como ocorre no Brasil e no México, mas fracassará se as crianças não estiverem avançando na escola. Vai daí que a melhora do ensino público é uma condição essencial.

É preciso prestar atenção no foco, porque há sempre uma visão político-clientelista, dinheiro em troca de votos, como, aliás, denunciava Lula em suas campanhas eleitorais antes de ganhar. Ele atacava a distribuição de cesta básica e tíquete de leite, definida como prática eleitoral para ganhar o povo pela barriga. Dizia mais o candidato Lula: "Eles (dirigentes) tratam o povo mais pobre da mesma maneira que Cabral tratou os índios, distribuindo bijuterias e espelhos para ganhar os índios. Hoje, eles (da elite) distribuem alimentos... Tem como lógica manter a política de dominação".

Isso vale para o Bolsa-Família, se o programa for apenas, ou principalmente, de distribuição de dinheiro aos pobres. Há até um argumento econômico a favor dessa distribuição: os beneficiados gastam o dinheiro e movimentam o consumo, de modo que, quanto mais dinheiro dado, melhor. Os pobres continuam pobres, mas gastando o dinheirinho recebido das mãos dos políticos no governo e... votando neles. O que muda tudo é o foco na educação, o efetivo progresso escolar das crianças.

Paternidades. O programa Transferência de Renda com Condicionalidades, desenvolvido no Banco Mundial, foi testado no início dos anos 90 em Honduras.

No Brasil, a primeira experiência nasceu em Campinas, em 1994, numa iniciativa do prefeito José Roberto Magalhães. Era um Bolsa-Escola. Um ano depois, o então governador Cristovam Buarque introduziu o programa em Brasília.

Buarque batalha a ideia desde os anos 80. Colaborou com pesquisadores do Banco Mundial e a Unicef, que estiveram em Brasília, e ajudou o prefeito Magalhães.

O primeiro programa nacional em larga escala começou no México, em 1997. O Brasil foi o terceiro país, com o Bolsa-Escola de 2001, governo FHC, numa iniciativa do Comunidade Solidária, de Ruth Cardoso, que participara dos estudos no Banco Mundial. Em 2002, o Bolsa-Escola e outros programas semelhantes atendiam mais de 4 milhões de famílias.

No início de 2004, depois do fracasso do Fome Zero, o presidente Lula criou o Bolsa-Família, juntando todos aqueles programas. E ampliou o número de famílias beneficiadas para 12,5 milhões.

O risco, hoje, é afrouxar o controle da vida escolar das crianças, tolerar as faltas à escola e acabar levando o programa mais para a distribuição de dinheiro do que o apoio à educação. Ao anunciar a ampliação do Bolsa-Família na semana passada, a presidente Dilma pouco falou da escola.

JORNALISTA
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E-MAIL: SARDENBERG@CBN.COM.BR

6 comentários:

  1. Com todo respeito, ninguém faz filho para aumentar o valor do bolsa-família. A diferença nos valores de uma família que tinha 2 e ganha 3 filhos era (da última vez que conferi os dados) de 22 reais.

    Professor, gostaria de vê um estudo em que prove essa correlação.

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  2. Meu caro Anônimo,
    Acho que você não conhece a natureza humana: tem, sim, gente que faz filho para ganhar mais dinheiro, ou não se importa com o controle da natalidade, tranquilizando-se com o fato de que, se nascer, vai ter um dinheirozinho extra.
    Você sabe quanta comida dá para comprar com (mais de) 22 reais em certas regiões do país?

    E suponho que vc gostaria de ver, não de vê...
    Aliás, não se trataria de correlação, mas de simples estímulos monetários agitados em face de pessoas absolutamente desprovidas de tudo e até de discernimento...
    Paulo Roberto de Almeida

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  3. Se não há a correlação entre o Bolsa Família e taxa de natalidade, porque passas o tom de calamidade com a expansão do programa? Dado que, está ajudando pessoas com extremas necessidas.

    Seria um artigo mais agradável se estivesse mostrando aonde o plano pode expandir de forma eficiente.

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  4. Debatente nos bastidores11/06/2011, 16:03

    Vale lembrar que os dados de nascimentos são de domínio público, assim como a distribuição do benefício, de modo que não é realmente impossível "por a prova" essa correlação em termos estatísticos. O problema dessa hipótese é que ela está baseada no pressuposto de que as pessoas pobres são burras ou "não têm discernimento". O engraçado é que se ele tivesse lido com atenção o texto que ele mesmo postou no próprio blog teria que admitir justamente o contrário: porque as pessoas que se deram ao trabalho de entrevistar e pesquisar os beneficiários do programa chegaram à conclusão de que os beneficiários sabem gerir os recursos que recebem, i.e.: que elas têm, sim, esse tal de discernimento que o professor Paulo Roberto de Almeida insiste em lhes subtrair. Mas é claro, diferentemente daqueles pesquisadores, o tal professor conhece a "natureza humana" - oras, para que se dar ao trabalho de ouvir o que as pessoas de verdade têm a dizer, quando já se domina toda a verdade a respeito do comportamento humano, né? haha

    O texto do Sardenberg, reproduzido no blog, até que não é de todo o ruim (nota bene: Sardenberg não passa nem perto da hipótese de que o bolsa família "estimula" o aumento de natalidade). Mas eu queria chamar a atenção para o fato de que as mudanças no bolsa-família - como em qualquer projeto social - são baseadas em estudos que dizem respeito aos seus possíveis impactos. Assim, tem gente trabalhando ali, e uma crítica que não leve esse trabalho em consideração muito provavelmente se relevará desprovida de qualquer conteúdo objetivo.

    Tome, p. ex., a informação de que Sardenberg veicula, de que o Bolsa Família atende crianças de até 15 anos. Ela, publicada recentemente, está em desacordo com os dados oficiais mais recentes. Segundo o site do governo, o benefício se estende a famílias com jovens de até 17 anos (http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/valores-dos-beneficios). Só por aí a gente vê como boa parte da crítica de Sardenberg é esvaziada de conteúdo: ele ignora que algumas das mudanças que ele está pedindo, como a extensão da bolsa para jovens acima de 15 anos, já estão em vigor.

    Não dá para fazer crítica sem conhecer os fatos. Mesmo a boa e em outros aspectos pertinente crítica do Sardenberg caiu, num momento, nesse erro. Agora, os comentários desse "conhecedor da natureza humana" (quando li isso me senti em pleno século XVIII, haha) que é o professor Paulo Roberto não são coisa para serem levadas a sério, muito menos para serem reproduzidos.

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  5. Outra pessoa não muito satisfeita com o que o senhor anda escrevendo.

    "Vale lembrar que os dados de nascimentos são de domínio público, assim como a distribuição do benefício, de modo que não é realmente impossível "por a prova" essa correlação em termos estatísticos. O problema dessa hipótese é que ela está baseada no pressuposto de que as pessoas pobres são burras ou "não têm discernimento", como disse por sinal o dono do blog que você linkou. O engraçado é que se ele tivesse lido com atenção o texto que ele mesmo postou no próprio blog teria que admitir justamente o contrário: porque as pessoas que se deram ao trabalho de entrevistar e pesquisar os beneficiários do programa chegaram à conclusão de que os beneficiários sabem gerir os recursos que recebem, i.e.: que elas têm, sim, esse tal de discernimento que o professor Paulo Roberto de Almeida insiste em lhes subtrair. Mas é claro, diferentemente daqueles pesquisadores, o tal professor conhece a "natureza humana" - oras, para que se dar ao trabalho de ouvir o que as pessoas de verdade têm a dizer, quando já se domina toda a verdade a respeito do comportamento humano, né? haha

    O texto do Sardenberg, reproduzido no blog, até que não é de todo o ruim (nota bene: Sardenberg não passa nem perto da hipótese de que o bolsa família "estimula" o aumento de natalidade). Mas eu queria chamar a atenção para o fato de que as mudanças no bolsa-família - como em qualquer projeto social - são baseadas em estudos que dizem respeito aos seus possíveis impactos. Assim, tem gente trabalhando ali, e uma crítica que não leve esse trabalho em consideração muito provavelmente se relevará desprovida de qualquer conteúdo objetivo.

    Tome, p. ex., a informação de que Sardenberg veicula, de que o Bolsa Família atende crianças de até 15 anos. Ela, publicada recentemente, está em desacordo com os dados oficiais mais recentes. Segundo o site do governo, o benefício se estende a famílias com jovens de até 17 anos (http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/valores-dos-beneficios). Só por aí a gente vê como boa parte da crítica de Sardenberg é esvaziada de conteúdo: ele ignora que algumas das mudanças que ele está pedindo, como a extensão da bolsa para jovens acima de 15 anos, já estão em vigor.

    Não dá para fazer crítica sem conhecer os fatos. Mesmo a boa e em outros aspectos pertinente crítica do Sardenberg caiu, num momento, nesse erro. Agora, os comentários desse "conhecedor da natureza humana" (quando li isso me senti em pleno século XVIII, haha) que é o professor Paulo Roberto não são coisa para serem levadas a sério, muito menos para serem reproduzidos

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  6. Concordo totalmente com o autor do texto. Enquanto o Brasil estimular a pobreza, continuaremos a ser uma país de pobres. Não acredito que dando tantas BOLSAS-X iremos melhorar.
    Deveria-se diminuir impostos, para aumentar o números de empresas e quantidade de empregos. Isso sim é CRESCIMENTO E SAIR DA POBREZA.

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