Caro leitor-consumidor,
Quando você vai a uma loja de departamentos, na verdade qualquer grande superfície de compras -- e provavelmente em qualquer boteco da esquina também -- e a gentil vendedora lhe diz que aquele bem, aquele produto (geralmente durável ou semi-durável) custa x reais, mas que é "seis vezes sem juros" (não raro DEZ vezes sem juros), a palavra mágica, caro contribuinte explorado, é o "sem juros".
Você então diz, possivelmente, que preferia pagar à vista, para ver se consegue um preço melhor.
Ela então lhe diz que é o mesmo preço, e que você "pode pagar em x vezes SEM JUROS".
Você então se conforma e aceita, e ainda acha, talvez, que está fazendo um grande negócio, pois pagará em suaves prestações mensais, um valor alto que talvez não coubesse no seu orçamento mensal. Compra, assina, e vai embora.
SEIS VEZES SEM JUROS...
Você acha que isso existe, caro leitor?
O vendedor está lhe chamando (sem querer, claro) de idiota consumado.
NÃO EXISTE essa coisa de "x vezes sem juros".
O preço que você está pagando já embute um juro altíssimo sobre o custo do capital, ou do financiamento.
O que menos importa, na verdade, em sua compra, é o produto. Pode ser qualquer coisa, pode ser até coisa alguma. O que você paga, na verdade, é o financiamento.
Você acaba de adquirir um financiamento altíssimo, em seis ou dez vezes, que vai fazer com que você forneça um lucro extraordinário ao sistema financeiro, que vive disso.
Aliás, as lojas de departamento vivem disso e poderiam alegremente vender qualquer coisa, desde que seja financiada.
O governo também pensa que somos todos idiotas, e talvez acerte. Assim como NENHUM PRODUTO -- salvo certas faturas de serviços -- contém o valor dos impostos discriminado, nada do que compramos nas lojas possuem os preços "saído das fábricas" acrescidos do custo dos juros.
Se fosse assim, muitos consumidores cairiam para trás, pois os juros do financiamento correspondem a um valor maior do que o custo do produto.
Caro leitor, você está pagando DOIS TELEVISORES, mas levando só um para casa..
Pense nisso, e veja o que recolhi hoje num desses boletins financeiros, abaixo:
OPERAÇÕES COM RECURSOS LIVRES - CRÉDITO REFERENCIAL PARA TAXA DE JUROS. Nas modalidades destinadas a pessoas físicas, destaca-se o arrefecimento dos financiamentos para aquisição de veículos, cujo saldo, R$158,1 bilhões, acumulou crescimento semestral de 12,6% até junho, comparativamente a expansões de 18,2% e de 26,2% no primeiro e no segundo semestres de 2010. Nessa modalidade, a média diária das concessões no primeiro semestre de 2011 foi 24,8% inferior à observada no semestre antecedente. Entre as modalidades destinadas às empresas, sobressaíram os empréstimos de capital de giro, com crescimento de 6,2% em seis meses, alcançando R$282,7 bilhões. Nas modalidades com recursos externos, as operações de adiantamentos sobre contratos de câmbio (ACC), após crescimento expressivo desde o início do ano, apresentaram redução de 2,2% no mês, ao atingirem R$36 bilhões. A taxa média de juros referente ao crédito referencial situou-se em 39,5% a.a. em junho, com decréscimo de 0,5 p.p. no mês e alta de 4,9 p.p. relativamente a junho de 2010.
Já viu isso caro leitor?
As financiadoras obtém um capital a 5 ou 6% no exterior e o colocam aqui a 40%, gerando um lucro extrardinário, qualquer que seja o nível de impostos do governo.
Você está pagando isso caro leitor-consumidor...
E não adianta chorar: você não conseguirá escapar do "seis vezes sem juros" da próxima vez que for às compras...
O Brasil, definitivamente, não é um país normal.
Somos o protótipo da teoria da jabuticaba.
Paulo Roberto de Almeida
PS.: Desculpe estragar o seu dia, caro leitor...
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
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Um comentário:
Mas Paulo, também acredito que isso de 'sem juros' não existe, mas pensemos, algo que custe 'X' reais a vista e parcelando também custe o mesmo 'X' reais. Logo, se eu parcelar ou não, estarei pagando os juros da mesma forma, já que não há desconto a vista. Não há saída.
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