Como é que o Brasil, com seus competentes economistas no Banco Central - mas muitos outros incompetentes na Fazenda -- consegue dar um passo atrás, de mais ou menos 80 anos (para ser gentil), e reverter um sistema tão simples quanto a contabilidade uniforme em dólares, segundo regras já testadas intensamente por dezenas de países e pelo FMI?
Como e por que diabos, o Brasil resolve abandonar o dólar, numa relação comercial altamente instável -- como ocorre com a errática e protecionista Argentina -- e introduzir um sistema de dupla contabilidade, que só obriga o BC a ter custos administrativos acrescidos, ao ter de fazer contabilidades paralelas, em pesos e em reais, para registrar fluxos de comércio que estavam sendo perfeitamente registrados em dólares, inclusive aqueles que são cursados ao abrigo do Convênio de Créditos Recíprocos da Aladi?
Por que diabos um BC tem de ser responsável por garantir riscos cambiais e comerciais de exportadores privados? Onde mais, em quais outros países malucos, os BCs se afastam de suas funções monetárias e cambiais para adentrar em regimes privados de garantias comerciais, assumindo prejuízos para exportadores privados?
Quem é o maluco que mantém a ficção do comércio em moedas locais, quando, no final de cada dia, os valores correspondentes precisam ser referidos ao dólar, para que os Bancos Centrais respectivos liquidem suas posições superávitárias ou deficitárias?
Quem foi o idiota que, por preconceito contra o dólar, ordenou todas essas bobagens?
Quem é o economista maluco que acha que as empresas exportadoras também vão gastar dinheiro à toa -- como faz o governo, mas com o nosso dinheiro -- mantendo duas contabilidades paralelas, uma, normal, a que é feita em dólares há décadas, para todas as finalidades, e uma outra, especialíssima e exclusiva, em reais, ou pior, em pesos, pagando o dobro de contabilistas, para fazer o mesmo trabalho dobrado, e inútil?
Qual é o banco estúpido, que vai montar um sistema paralelo para também lidar com reais voláteis, e pesos, altamente voláteis, quando ele o faz tranquilamente em dólares, sendo que todo o financiamento comercial internacional é mesmo contabilizado em dólar?
Quem foi o idiota que propôs tudo isso, para nada, ou quase nada?
Deve ter sido o mesmo idiota que queria fazer livre comércio com a China e que também queria comércio em moedas nacionais com a China. INACREDITÁVEL!!! Todo o saldo que conseguiríamos com a China, num sistema maluco como esse, teria de ser revertido em compras obrigatórias no próprio mercado chinês, já que receberíamos em yuan, uma moeda inconvertível (como o real, aliás, e o peso argentino também). Incrível.
Esses economistas geniais do governo deveriam merecer o Darwin Award, se ele existisse para economistas.
O Brasil avança rapidamente para trás em matéria econômica. Consegue voltar ao tempo das moedas inconversíveis e do intercâmbio equilibrado...
Mais um pouco ele volta ao tempo das diligências e vai passar a usar a Western Union...
Paulo Roberto de Almeida
Patina o comércio 'sem dólar' entre Brasil e Argentina
O Estado de S. Paulo, 26/12/2011
Sistema que permite trocas comerciais entre países sem utilização de dólar cresceu em 2011, mas ainda é pouco representativo.
O sistema que permite trocas comerciais entre o Brasil e a Argentina sem utilização do dólar cresceu em 2011, mas ainda representa um porcentual pequeno dos negócios entre os dois países. Para especialistas em mercado de câmbio e comércio exterior, esse sistema é pouco atrativo para grandes empresas, mas pode representar redução de custos e burocracia para companhias de pequeno e médio porte, que respondem hoje pela maior parte dos negócios em moedas locais.
Lançado há três anos, o Sistema de Pagamentos em Moeda Local (SML) entre Brasil e Argentina tem como objetivo reduzir a dependência do dólar e servir de base para a criação, no futuro, de uma moeda única para o Mercosul. Os resultados alcançados até agora, no entanto, são pouco relevantes em relação à corrente de comércio entre as duas nações.
As exportações para o país vizinho por esse sistema cresceram 40% entre janeiro e outubro deste ano, de acordo com dados do Banco Central e do Ministério do Desenvolvimento, mas ainda representam somente 1,3% das vendas totais. Do lado das importações, os negócios caíram 20% no mesmo período e continuam com uma participação próxima de zero.
No sistema de moeda local, o exportador brasileiro fecha o negócio em reais com o importador do país vizinho. A empresa argentina deposita o equivalente em pesos em um banco local que opera o sistema.
A instituição financeira registra a operação no banco central argentino, que faz a compensação com a autoridade monetária brasileira. Posteriormente, o exportador recebe em conta corrente o valor correspondente já transformado em reais.
Uma desvantagem neste sistema é que o exportador não tem a possibilidade de deixar o dinheiro depositado fora do País para fazer o pagamento de outras despesas ou trazê-lo em um momento de câmbio mais favorável.
A ausência de um contrato de câmbio, fator que reduz custos e burocracia no SML, é um problema para empresas que precisam desse instrumento para usá-los como lastro para empréstimos em moeda estrangeira.
Para exportadores que não têm acesso a essas linhas de financiamento, não têm depósitos fora do País e têm poder menor de negociação com os bancos, entretanto, o sistema que elimina o dólar pode representar uma alternativa, segundo José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
“Há uma série de restrições que acabam afastando as grandes companhias. Por isso, a participação majoritária no SML é de pequenas em médias empresas”, diz Castro.
Moeda americana. Outra barreira para o avanço desses negócios é a falta de confiança na moeda do país vizinho. O SML reduz, mas não elimina totalmente o risco cambial, pois há defasagem entre o fechamento do negócio e a realização da transação financeira.
Esse risco está relacionado sempre à variação da moeda do exportador, que serve de referência para a operação. Segundo especialistas consultados, isso explica porque praticamente todas as transações hoje no sistema são de vendas para a Argentina, em que as partes correm o risco de variação do real, e não o contrário.
João Medeiros, diretor da corretora de câmbio Pioneer, avalia que esse sistema só deve se disseminar quando e se o dólar deixar de ser a moeda de referência para os dois países.
Para ele, nem mesmo o fortalecimento do real foi suficiente para impulsionar esse sistema. “Ainda é um negócio muito incipiente. É relativamente pequeno nas exportações brasileiras, e o volume de importações é quase nada. Só teremos crescimento disso quando as moedas forem conversíveis”, ressalta.
Preferência. Mesmo que empresas brasileiras de menor porte queiram utilizar esse sistema para exportar, precisam encontrar importadores argentinos dispostos a correr o risco de variação do real e que prefiram receber pesos, em vez de dólares, o que é pouco provável no momento atual, já que o governo do país vizinho impõe restrições para compra da moeda americana.
Para Medeiros, a preferência das empresas por fechar negócios em dólar reflete o que acontece também com os turistas brasileiros que viajam para a Argentina.
“O brasileiro que leva reais para lá até consegue trocar a moeda. Também pode usar pesos, mas os argentinos querem mesmo é o dólar”, destaca o diretor da corretora.
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