A Unesco nunca foi conhecida como paradigma de eficiência. A começar que -- como outros paquidermes intergovernamentais, aliás -- ela gasta mais dinheiro com as atividades-meio, do que com as atividades-fim, ou seja, bem mais com seus próprios burocratas do que com educação, ciência e cultura, como ela é suposta fazer (mas só de araque). Em segundo lugar, porque ela gasta a maior parte do seu dinheiro em Paris mesmo, não na outra ponta do mundo. Em terceiro lugar, porque ela se mete em cada confusão desnecessária. No passado, uma tentantiva de controlar a informação -- o que contrário do que seus estatutos dizem -- talvez a serviço das muitas ditaduras que frequentam seus corredores acarpetados, foi recebida muito mal por diversos países, o que motivou inclusive a retirada dos EUA desse organismo passavelmente inútil.
Agora ela se meteu em outra confusão: um "prêmio para a ciência" com uma dotação milionária vinda de um dos países mais miseráveis do planeta, e jamais exemplo de democracia ou de defesa dos direitos humanos.
Abaixo a matéria da Economist sobre esse lamentável assunto.
Apenas para informação dos pouco informados (mas eu apenas li sobre isso em outra matéria no International Herald Tribune, de 9/03/2012): vários países recusaram, com razão, a institucionalização desse prêmio, entre eles a Áustria, a Bélgica, Dinamarca, França, Espanha e diversos outros países europeus, mais os EUA.
Quem apoiou? Adivinhem:
Países árabes, China, Índia, Rússia e... Brasil!
Pois é, a gente sempre do lado das boas causas...
Paulo Roberto de Almeida
UNESCO's dodgy prize
Prize fools
Mar 20th 2012, 14:55 by The Economist online
HOW best does an oil-rich dictator, who rigs elections at home and locks away those who dare to grumble, try to burnish his international reputation? That question puzzles one of Africa's oldest and least pleasant incumbents, Obiang Nguema of Equatorial Guinea. Along with Zimbabwe's Robert Mugabe he has enjoyed well over three uninterrupted decades in power. Now the kleptocrat—once famously dubbed a "tropical gangster"—is eager to be looked upon more kindly by outsiders. Yet diverting millions of dollars to pay lobbyists and PR firms to come up with bright ideas has not exactly brought good results. For example a trip last year for British parliamentarians to Equatorial Guinea proved
a public-relations disaster. Perhaps that was to be expected—it was organised by an individual whose only other engagement with the country was his association with a bungled 2004 "wonga coup" by half-witted British mercenaries.
Another PR effort has fared little better. Two years ago a proposal was raised to divert official funds to endow a prize in the life sciences to be named after Mr Nguema and dished out by UNESCO, the Paris-based bit of the United Nations concerned with education and culture. That the $3m or so involved could have been used on hospitals or schools in Equatorial Guinea seemed not to trouble the UN, the PR firms or Mr Nguema. Nor did UNESCO's spectacularly dozy officials at first grasp that taking money from a grubby dictator might cast their own organisation in a dim light. UNESCO initially insisted it would push on with the prize. But after pressure from human-rights groups, activists from Equatorial Guinea and newspapers (including
The Economist) the UN rethought and sought ways to postpone or cancel the prize.
This month, however, the board of the UN body appeared to hand Mr Nguema a success, voting on March 8th to rename the prize and to push on with it. That looks a dismal decision. A plea from human-rights groups fell on deaf ears. Similarly ignored was a letter smuggled from a jailed opposition activist, Dr Wenceslao Mansogo, in Bata, Equatorial Guinea, imploring UNESCO not to endow the prize but instead to demand that Mr Nguema release political prisoners. The director of UNESCO, Irina Bokova, who belatedly realized the damage the prize is doing to the UN body, even spoke against it. She pointed to international criticism of the prize, lamented that it has already served to "divide" countries, cited attacks by Nobel Laureates on the process and the refusal of experts to sit on the jury for offering the prize. All to no avail. The member states on the board pressed on.
But Mr Nguema's success is more limited than he might imagine. An official response from Malabo, the capital, indicated that
celebrations followed the recent announcement. But with luck the prize will never be handed out. Ms Bokova should be able to ensure her bureaucracy does what it is very best at: masterful inactivity. Legal wranglings could bog down the prize for another year or two. Some suggest that by taking funds from Equatorial Guinea the UN body might be charged with money laundering, under French law. All the UN needs to do, suggests a person who has followed the sorry saga for years, is to drag on the whole affair and prevent the prize being issued before the end of 2013, when a "sunset clause" would kill it off in any case. Mr Nguema and his PR companies, however, will sadly almost certainly be around for many more years yet, with plenty more such schemes to try.
3 comentários:
Devem ser da mesma turma:
Valor Econômico - Cepal apoia protecionismo "temporário" na região
Por Daniel Rittner
A adoção de medidas "temporárias" pode ajudar o Brasil e países vizinhos contra a invasão de produtos importados que não encontram mais espaço em seus mercados tradicionais. Com isso, essas medidas são "muito válidas" e podem transformar-se em arma contra a ameaça de desindustrialização, desde que respeitados os limites da Organização Mundial do Comércio (OMC).
"O limite está dado pelas regras da OMC, e a nossa região ainda tem algum espaço [para medidas]", diz a secretária-executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), Alicia Bárcena. "O outro ponto importante é se são temporárias ou permanentes. Na crise, algumas medidas temporárias foram tomadas e tiveram seu efeito, para depois serem retiradas aos poucos. A verdade é que a maioria dos países do G-20, com algumas exceções, está tomando providências para proteger seus mercados. Inclusive os países desenvolvidos", frisa a representante do órgão das Nações Unidas.
Alicia estabelece uma diferença entre a política comercial brasileira e a argentina. "O que eu vejo no Brasil é um governo e uma presidenta muito atentos e muito cuidadosos com a economia, pensando em uma estratégia a longo prazo, e não apenas conjuntural. Gosto de ver um país que se preocupa, por exemplo, com a manutenção de sua indústria automotiva", afirma a secretária da Cepal, em referência à recente revisão do tratado que dava isenção das tarifas de importação à troca de veículos entre Brasil e México, seu país de origem.
Já as providências tomadas pela Casa Rosada para sustentar o superávit comercial argentino não despertam nenhum entusiasmo. "Sabe o que acontece com a Argentina? Aqui [no Brasil], anunciam-se medidas temporárias e com regras claras. Isso é muito importante. Na Argentina, quando há mudança de licenças automáticas para licenças não automáticas, ou quando as empresas precisam apresentar um plano de importação para ver o que pode ser aprovado ou não, há um grau de discricionariedade. Essa é a grande fragilidade."
A Cepal prevê crescimento de 3,7% para a economia latino-americana em 2012, mas avalia que o desempenho no primeiro trimestre pode ter transformado essa projeção em "piso". Trata-se de um recuo na comparação com as taxas registradas no ano passado (4,3%) e em 2010 (5,9%), mas uma "boa notícia" diante das complicações nos Estados Unidos e na Europa, diz Alicia.
De acordo com ela, a desaceleração da economia chinesa ainda não teve impacto para a América Latina e as commodities metálicas tiveram alta de 15% desde o início do ano, com destaque para o cobre. Com isso, o movimento de apreciação cambial não deu trégua aos países da região e desafia a competitividade das exportações. "A maior concorrência dos importados ajuda certos setores, mas também desperta temores sobre a desindustrialização", diz a secretária da Cepal.
Brasil, Chile, Colômbia, Venezuela, Guatemala e Honduras têm sofrido especialmente com a hipervalorização de suas moedas, segundo o órgão da ONU. O economista Antônio Prado, número 2 da Cepal, resume a preocupação: "Não existe país no mundo, em toda a história econômica, que tenha se desenvolvido com moeda supervalorizada".
Trata-se do mesmo "Chefe de Estado" que faz campanha para que o seu país ganhe o Estauto de Membro Pleno da CPLP(atualmente tem o "status" de Observador Associado); tendo inclusive baixado decreto (20/07/2010); tornando o português uma das três línguas oficiais do país; juntamente com o espanhol e o francês! Alguém dúvida que na próxima "Cimeira" da CPLP o Sr. Teodoro Obiang Nguema Mbasogo não esteja ao lado dos demais colegas para a "photo opportunity"!
Vale!
O assunto é sério, mas o trecho final é tragi-cômico:
''Quem apoiou? Adivinhem:
Países árabes, China, Índia, Rússia e... Brasil!
Pois é, a gente sempre do lado das boas causas...''
Tirou-me gargalhadas! rsrs
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