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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 13 de maio de 2012

O "futuro" do Mercosul em debate (2) - comentarios Paulo Roberto de Almeida

Agora começam meus comentários ao artigo indicado logo abaixo.
Paciência, pois ele é longo...
Paulo Roberto de Almeida 


O futuro do Mercosul em debate: um contraponto necessário

Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, professor
  
Introdução explicativa a um texto de contra-argumentação (PRA)
Tenho por hábito não comentar ou contradizer artigos de terceiros, preferindo escrever meus próprios artigos. Menos ainda sou levado, na minha produção que conta (ou seja, ensaios e artigos acadêmicos), a rebater argumentos que encontro equivocados, mas que, no entanto, se encontram amplamente disseminados em meios acadêmicos ou até político-decisórios. Se o faço, é apenas rapidamente, no quadro da postagem de materiais diversos em meu blog (diplomatizzando.blogspot.com), quando formulo algumas observações rápidas, iniciais ao conteúdo do post, falando das razões de minha discordância (ou concordância) com os argumentos e análises que se seguem. Trata-se, no caso, de simplesmente expressar minha opinião, positiva ou negativa, sobre o que vai depois postado, ressaltando, portanto, a relevância da matéria, mesmo quando discordo da interpretação ou da análise contidas no texto em questão. Mas isso é, como sempre digo, apenas um divertissement, podendo, no entanto, representar matéria à reflexão para alguns dos jovens estudantes que por acaso frequentam meu blog.
Diferente é a situação dos ensaios e outras matérias que se pretendem mais sérios, pois os argumentos expostos requerem algo mais do que comentários ligeiros ou superficiais, passando a exigir análises completas da problemática em causa. Como disse, prefiro escrever meus próprios ensaios interpretativos a ter de rebater argumentos de outros acadêmicos ou de tomadores de decisão. Mas também é raro que eu me depare com algum artigo – analítico ou interpretativo – em relação ao qual eu não consigo, por questões de lógica intrínseca ou pertinência substantiva, concordar com alguma coisa, mesmo se discordando no essencial ou em alguns aspectos da argumentação do autor sobre um ou outro problema ali focado. Sempre existem alguns argumentos válidos.
Não é certamente o caso do artigo do diplomata e “funcionário” do Mercosul Samuel Pinheiro Guimarães, que vem logo abaixo transcrito, do qual eu me distancio a cada parágrafo, a cada linha e, até diria, de cada conceito, ou seja, integralmente. Trata-se de algo “extraordinário”, como ele próprio diria: uma discordância total e absoluta, formal e fundamental, na essência e na maneira de expor suas ideias e opiniões, sobre algo relevante para o Brasil e sua política exterior. Isso é raro, e merece, portanto, algumas explicações antes de adentrarmos no coração da matéria.
Se o faço agora é porque o tema é suficientemente relevante para justificar o fato de eu me decidir comentar um artigo que encontro particularmente equivocado, como é o caso desse, que se tornou objeto central desta peça. Decidi assim porque, o que vai exposto nesse artigo, aparece como a verdade oficial e a exata expressão da verdade, o que não é o caso; e também porque as políticas que ali são preconizadas podem se materializar em decisões políticas e econômicas, o que me parece negativo do ponto de vista dos interesses maiores brasileiros, domésticos ou exteriores. Apenas por isto – e também por que fui instado a fazê-lo por um leitor habitual do blog – decidi empreender o penoso exercício de ter de expor, e rebater, argumentos dos quais discordo in totum.
Ao fazê-lo, tentarei separar estritamente o que é um fato, objetivo, portanto, do que é uma simples  interpretação, e o que representa uma mera opinião, sejam meus ou do proponente original, desde já me desculpando, se por vezes, os dois últimos elementos estão misturados ou mantém uma relação ambígua entre si. Os dois objetivos deste exercício são: (a) esclarecer os mais jovens sobre alguns fatos; (b) oferecer-lhe algumas interpretações ou opiniões alternativas. O objetivo maior, obviamente, é o de tentar apresentar uma versão da realidade que difere, em alguns casos radicalmente, da que vem sendo oferecida aos estudantes e acadêmicos, em geral, como uma espécie de novo “pensamento único” da atualidade (sem esquecer seus efeitos sobre decisões).
O objeto desta minha exposição-debate é o artigo do Alto Representante do Mercosul Samuel Pinheiro Guimarães, “O Futuro do Mercosul”. Ele foi publicado no número inaugural da revista Austral, Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais (Porto Alegre, UFRGS, Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais da UFRGS, vol. 1, n. 1, jan.-jun. 2012, p. 13-22; disponível neste link: http://seer.ufrgs.br/austral/article/view/27989/16627).
Como já feito em ocasiões semelhantes, começarei pela transcrição (SPG) de cada um dos trechos que me parecem sujeitos a caução, ou contra-argumentação (e eles são todos), acrescentando, logo a seguir (PRA), minhas próprias observações sobre eventuais fatos, comentando a interpretação, quando ela me parece equivocada, finalizando com a exposição de minha própria opinião sobre a questão. Trata-se, essencialmente, de um debate de ideias, uma vez que não disponho de qualquer poder ou influência sobre as políticas que derivam dos argumentos e posições expostos no artigo do alto funcionário diplomático brasileiro e personagem influente no Mercosul. Em outras palavras, este texto consiste apenas num exercício intelectual, situado no plano puramente acadêmico, não possuindo, portanto, nenhuma chance de se materializar em posturas e propostas que apresentem incidência sobre a realidade dos fatos de que trata o artigo em questão e das políticas que ele recomenda. Ele é praticamente inútil, nesse sentido prático, mas talvez seja de alguma utilidade intelectual para os jovens que buscam se instruir sobre temas relevantes de nossa atualidade política, econômica e diplomática. 
[CONTINUA...]

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