quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A Faculdade do Largo de S.Francisco ja' nao e' mais o que era...

Eu já tinha lido essa história sobre a S.Francisco, obrigado a devolver dinheiro porque professores e alunos retrógrados, de mentalidade antimercado, se opuseram a que uma sala fosse batizada com o nome do doador. Bem fez a família. A última vez que estive na S.Francisco já me surpreendi com o clima "soixante-huitard" dessa Faculdade, ou seja, aquele ambiente sujinho, típico de uma assembleia da UNE.
Não creio que esse tipo de mentalidade venha a mudar nos cursos de humanidades das universidades públicas. Provavelmente vai se acentuar até que elas se estiolem na sua decadência acadêmica...
Paulo Roberto de Almeida 


Inspiradas nos EUA, universidades brasileiras pedem doações a ex-alunos
O Estado de São Paulo, 11/11/2012

Prática corriqueira no exterior ainda é rara no Brasil. Entre os motivos apontados por especialistas estão a inabilidade ao pedir contribuições, o não acompanhamento da carreira dos egressos e a falta de uma lei de incentivos fiscais para a educação.
Todos os meses, a cobrança de R$ 150 já está programada para ser debitada da conta corrente do economista Pedro Albuquerque, de 27 anos. O crédito vai direto para o Insper, a instituição de ensino onde ele se formou, em 2009. Mas não se trata de pagamento de mensalidade atrasada nem de ressarcimento de bolsa de estudo. É uma doação voluntária. Simples assim.

"Comecei contribuindo com R$ 50. E, na medida em que o meu salário cresce, aumento a minha participação", conta ele, que atualmente trabalha em Curitiba numa empresa da área de infraestrutura. Assim como Pedro, outros 115 ex-alunos doam para o Fundo de Bolsas da instituição - desde que foi criado, em 2009, já foram arrecadados R$ 850 mil.

Todo o dinheiro é utilizado para subsidiar os estudantes oriundos de escola pública e que não têm condições de arcar com as mensalidades de cerca de R$ 3 mil - atualmente, dos 1,5 mil alunos do Insper, 100 são bolsistas.

A motivação dos doadores não é simplesmente caridade. "Quando contribuo, colaboro para a perenidade da instituição e ajudo a escola a se manter no topo, com os melhores alunos que poderia ter, o que inclui, obviamente, aqueles que não teriam condições de arcar com a mensalidade", diz Franco Veludo. Ele se formou em 2007 e, em todo início de ano, doa R$ 3 mil.

A prática, bem incomum no Brasil, é corriqueira mundo afora. Em especial nos EUA, onde só Harvard arrecada US$ 30 bilhões por ano. Mas a prática se difundiu. "Na Europa, Oxford e Cambridge estão muito fortes e, na América Latina, o México tem sido muito bem-sucedido nisso", elenca Custódio Pereira, autor do livro Sustentabilidade e Captação de Recursos na Educação Superior no Brasil.

O especialista diz que, tecnicamente, há três explicações para o Brasil ter uma atuação incipiente. "Aqui, não há essa visão da filantropia para a educação, as instituições de ensino não têm pessoas especializadas no trabalho de captação e o governo não oferece incentivo fiscal." Apesar disso, ressalva, o principal motivo do insucesso brasileiro é a falta de habilidade de quem pede. "Nós não sabemos pedir".

Nesse cenário, sobressai-se quem tem bons relacionamentos e sabe valorizar o doador, afirma o pró-reitor de ensino e pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Antonio Freitas. "Muitas de nossas salas e laboratórios foram doados por ex-alunos. Para a FGV, já doaram José Ermírio de Moraes, Moreira Salles e Abílio Diniz. Mas, no Brasil, as doações são frutos de amizade. Nos EUA, não. Lá, se qualquer um doa US$ 1 mil, ganha o nome no ladrilho."

Aos que doam muito, o agradecimento é mais explícito. A Universidade Yale, por exemplo, tinha outro nome até, no século 18, ser rebatizada com o sobrenome de um judeu que doou parte de suas riquezas para a instituição. Harvard também leva o nome de um doador generoso.

Reconhecimento - Veio exatamente desse modelo a inspiração para o formato de captação de recursos do Insper, conta o presidente da instituição, Claudio Haddad. "Nos espelhamos nas americanas privadas de primeira linha, que consideram desde o recém-formado até os empresários generosos."

Para a construção de um novo prédio - com inauguração prevista para 2013 e custo estimado em R$ 80 milhões - metade do valor foi arrecadado entre amigos e empresários. Na inauguração de uma outra unidade, em 2007, já haviam sido captados R$ 14 milhões. Os doadores nomearam alguma das 20 salas ou indicaram alguém a ser homenageado.

Logo, os alunos não têm aulas na sala 1 ou na 2, mas no Auditório Olavo Setúbal ou no Jorge Paulo Lemann, com direito a uma placa biográfica na entrada. Por ali, a medida foi aplaudida. Mas uma iniciativa similar gerou muita confusão, em 2009, na Faculdade de Direito da USP, então dirigida por João Grandino Rodas, atual reitor da instituição. O problema foi batizar de Pedro Conde (1922-2003) o auditório reformado com o R$ 1,07 milhão que a família do ex-aluno havia doado para as obras.

A placa foi retirada após recurso movido por alunos que não aceitaram uma sala com nome de alguém que nunca dera aulas na faculdade. A família de Conde entrou com uma ação e neste ano obteve na Justiça a devolução da quantia que havia doado.

Acordadas - Longe das discussões ideológicas do Largo São Francisco, outra unidade da própria USP já tem passado o chapéu. A Escola Politécnica, que congrega os cursos de Engenharia, criou, neste ano, o Amigos da Poli, com a meta de arrecadar R$ 10 milhões nos primeiros 12 meses de atividade.

Dentre as privadas, a FGV tem uma assessoria com funcionários dedicados exclusivamente para captação de recursos. E a Universidade Mackenzie, a pioneira da prática no Brasil, vai ressuscitar, em 2013, seu programa de patrocínio. "Será uma campanha motivadora e providenciaremos aos doadores um fluxo de informação sobre o beneficiado, imprimindo o caráter mais pessoal possível ao programa", explica Solano Portela, diretor de finanças da instituição.

Imigrante fez 1º donativo a escola - A carta que Marcelo Ernesto Silberstein, de 73 anos, ostenta com orgulho data de junho de 1953. Foi recebida por ele, mas escrita em homenagem a seu pai, Herbert Silberstein, um judeu que chegou ao Brasil no fim dos anos 1930, fugindo da perseguição nazista, e se tornou um empresário do ramo da tecelagem.

O conteúdo, datilografado há quase 60 anos, é o primeiro registro de uma campanha de arrecadação de fundos para educação feita no Brasil. E que terminou vitoriosa. Com o slogan "Para Um Mackenzie Melhor e Maior", foram arrecadados o equivalente a R$ 16 milhões - utilizados na construção de três auditórios e de vários outros prédios, além da renovação do mobiliário e de itens de laboratórios.

"Guardo com o maior carinho e tenho muito orgulho de saber que foi o dinheiro do meu pai que ajudou a construir o prédio do Direito", conta Marcelo. Na época da doação, ele era um menino de 14 anos que cursava o ginásio no Instituto Mackenzie. Cresceu, fez o curso técnico em eletroeletrônica por lá e emendou com a graduação em química. Mackenzista de carteirinha, fez valer a tradição com sua descendência. A filha se formou em Processamento de Dados e a neta, Carolina, é aluna do curso de Administração.

"Começou com meu pai e não vai acabar nunca nosso amor pela instituição. Em casa, nunca houve nem haverá plano B. Todos já sabem que faculdade farão. E não é imposição, é por gosto, admiração ", diz Marcelo. São ecos, avalia o especialista Custódio Pereira, da iniciativa ousada de 1952. "Os mantenedores eram americanos, estavam acostumados a pedir. Quando chegaram ao Brasil, não perguntaram para ninguém se havia essa tradição por aqui. Sem esse histórico, fizeram com que uma instituição protestante em um país católico conseguisse tamanha proeza."

'Nós brasileiros não sabemos pedir direito'
Entrevista com Custódio Pereira, especialista em captação de recursos

Diz-se que o brasileiro não tem tradição de doar. Você concorda?
Discordo. Não é apenas uma questão cultural ou de falta de incentivo fiscal. Nos EUA não havia incentivo nos anos 1600 e os fazendeiros doavam legumes, ovos e terrenos. As pessoas doam por acreditar que é um ato nobre, que com isso está ajudando a comunidade, colaborando com o País.

E por qual razão o brasileiro doa pouco?
Porque não pedimos e, quando o fazemos, pedimos errado. Damos a impressão de que a pessoa está fazendo um favor, quando na verdade o tom deveria ser de que o ato é uma oportunidade de contribuir com a sociedade. Nos EUA, no primeiro dia de aula, o calouro já escuta: "Fulano, você está em uma das melhores universidades do mundo e sua responsabilidade é levá-la para frente". Depois de formado, a instituição não o esquece. Ela mantém contato, cria um vínculo perene. Isso, claro, faz com que esse aluno queira que seu filho estude na mesma instituição.

No Brasil, são raras as instituições que sabem o paradeiro de seus ex-alunos...
Vivemos em uma caverna de Platão. A instituição não sabe sua história. Isso tem de mudar. É preciso construir um banco de dados com contatos e trajetória profissional dos egressos e convidá-los para os eventos institucionais. Afinal, mesmo que inconscientemente, todos querem o melhor para sua universidade. Se ela está bem, isso agrega valor ao currículo.

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