Veja-se, por exemplo, este início de análise do Stratfor, um dos mais conceituados think tanks americanos, sobre os desafios da Alemanha contemporânea.
Germany: A Power Among Powers
The crisis in Europe continues to make headlines around the world, as nations from China to Russia to the U.S. have an interest in the outcome. But the country arguably with the most at stake is Germany.
Surrounded by powerful neighbors, Germany inhabits one of the most competitive environments in the world. In our upcoming video, we take a centuries-long step back to look what makes Germany Germany (hint: a healthy distrust of neighbors)... and how that shapes its economic policy today.
A Alemanha foi, justamente, o país que produziu três dos três grandes últimos conflitos inter-europeus, dois dos quais estiveram na origem de guerras mundiais, que destruiram metade da Europa e a retiraram, definitivamente, da liderança dos assuntos mundiais, permitindo a ascensão de poderes "periféricos" que assumiram a liderança da geopolítica mundial.
O nacionalismo é uma desgraça, pelo menos em sua forma canhestra, xenófoba, militarista, irredentista e agressiva. No plano econômico, igualmente, o nacionalismo é responsável pelo atraso de muitas sociedades, entre elas as latino-americanas, que sofrem por falta de capitais e tecnologia, mas que não gostam de depender de conhecimentos e know-how estrangeiros. O Brasil, particularmente, é um país que ama o capital estrangeiro -- pois que depende dele -- mas que detesta os capitalistas estrangeiros, por preconceito, inveja, despeito, ou qualquer outro sentimento assemelhado.
O nacionalismo já provoucou algumas das piores guerras da humanidade, e ele continua a provocar atrasos, subdesenvolvimento (sobretudo mental) e perda de oportunidades.
Abaixo a análise do articulista argentino Carlos Malamud, do Instituto Elcano e do InfoLatam, sobre um recente episódio vergonhoso para o exército chileno (mas que deve se reproduzir entre os vizinhos também...).
Paulo Roberto de Almeida
Algumas Mostras Execráveis do Nacionalismo Latino-Americano
Por Carlos Malamud
Se olharmos para as ideologias e os sentimentos populares latino-americanos perceberemos que os discursos do catolicismo do séc. XIX, da direita liberal, do zapatismo mexicano em qualquer de suas versões, do castrismo cubano e do bolivarianismo new age, para citar apenas alguns exemplos, estão todos permeados pelo mesmo nacionalismo que é a única opção possível, o que sempre tira o pior de nós, especialmente ao se contrapor com os demais. E nessa contraposição, sempre somos os bons ou os melhores e eles os perdedores ou a soma da maldade absoluta.
Podemos alegar que os marinhos chilenos que cantavam ameaçadoramente contra bolivianos, peruanos e argentinos eram uns simples descerebrados. Ao menos da mesma categoria que os gendarmes (agentes de polícia) argentinos que proferiam insultos semelhantes contra os “chilenitos” vizinhos, em um vídeo um pouco mais antigo, mas que serve para a ocasião. E se continuarmos pesquisando, provavelmente encontraríamos outras evidências próximas. Esta alusão à idade mental dos envolvidos só serve para esconder a maior parte da verdade. Descerebrados semelhantes podem ser encontrados em qualquer país da região e fora dela. Por isso, o problema está na forma como os cantores e suas canções são utilizadas por quem pode e que permanentemente se gaba de um nacionalismo semelhante.
Os insultos chilenos, que chegam a ferir a sensibilidade dos ouvintes, foram justamente condenados no Chile e no exterior. No Chile, as autoridades civis e militares pronunciaram-se duramente contra o escândalo internacional que se aproximava. Mas também se escutaram vozes rebaixando a importância do ocorrido ou o justificando com o pueril argumento de que em todos os lados ocorrem coisas semelhantes, como depois foi visto no caso argentino.
O ministro de Defesa chileno Alfonso Vargas, ao mesmo tempo que qualificou os cânticos de “ofensivos ”, assinalou que: “Em todas as instituições armadas em nosso país e em todos os países do mundo, é habitual o trote com cantos alusivos de diferentes tipos. O importante destes é que as letras dos cantos sejam adequadas e aqui o que ocorreu é que o grumete improvisava”. Inclusive um parlamentar da oficialista UDI (União Democrata Independente), depois de criticar as vozes críticas e justificar os fatos concluiu de forma tachante: “para evitar esses cantos violentos dos marinhos [teria que inscrevê-los] em aulas de bordado e ponto cruz”.
Fora do Chile alguns despiram as armaduras até limites indescritíveis. Quem rapidamente se colocou à frente da procissão foi o governo de Evo Morales, que clamou por uma forte condenação internacional contra aqueles que tinham manchado a honra pátria. O vice-ministro de Coordenação com os Movimentos Sociais, César Navarro, disse que “em pleno século XXI não podemos ter, entre vizinhos, inimigos desta envergadura”. E foi mais longe ao apontar, em relação à reclamação boliviana de uma saída ao mar, que “O Governo do Chile não pede união na América Latina e vê seus vizinhos como inimigos, sejam argentinos, peruanos ou bolivianos. A isso responde a atitude excessivamente conservadora e ortodoxa do presidente (Piñera) de dizer não a tudo”. Ademais, um deputado do MAS (Movimento ao Socialismo), não descartou que a Assembléia Legislativa emita um pedido oficial pelas expressões xenófobas, já que “isto confirma que o Chile é um mau vizinho”.
Por sua vez, uma publicação argentina, claramente amarela e sensacionalista, falava dos “covardes cânticos da armada chilena” e chamava-os de cultura pinochetista”. No entanto, em todo o continente praticamente não se ouviram vozes que apontassem a conveniência de limpar a própria casa ao invés de se intrometer nos assuntos vizinhos. É bem mais fácil clamar vingança contra o agressor externo do que se esforçar em evitar casos semelhantes em nosso país.
As reações provocadas pelos cânticos militares nacionalistas também contradizem o discurso de integração regional, tão agitado ultimamente por uns e outros na América Latina. Algo do tipo foi visto na última Cúpula da CELAC, em Santiago do Chile, quando Cuba assumiu a presidência pró tempore. Raúl Castro, novo presidente da Comunidade Latino-Americana, proclamou a necessidade de uma batalha “a sangue e fogo” contra o narcotráfico, já que: “Nossas leis permitem a pena de morte. Está suspensa, mas aí está de reserva, porque uma vez que a suspendemos, o único que fizemos com isso foi estimular as agressões e as sabotagens contra o meu país”. Seu discurso esteve cheio de quase todos os tópicos do nacionalismo anti-imperialista latino-americano, começando pelo vitimismo e as responsabilidades de fora. Em definitiva, trata-se de combater o narcotráfico com receitas similares às que alguns militares chilenos e argentinos recomendam para seus vizinhos.
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