Os "liberais" do governo podem até se esforçar por abrir a economia, mas o velho nacionalismo protecionista volta a entrar pela janela, como comenta Ricardo Bergamini:
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
sexta-feira, 27 de dezembro de 2019
O velho nacionalismo protecionista, a anacrônica reserva de mercado volta ao cartaz...
Os "liberais" do governo podem até se esforçar por abrir a economia, mas o velho nacionalismo protecionista volta a entrar pela janela, como comenta Ricardo Bergamini:
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
O nacionalismo exacerbado e' a mae de todas as guerras...
Veja-se, por exemplo, este início de análise do Stratfor, um dos mais conceituados think tanks americanos, sobre os desafios da Alemanha contemporânea.
Germany: A Power Among Powers
The crisis in Europe continues to make headlines around the world, as nations from China to Russia to the U.S. have an interest in the outcome. But the country arguably with the most at stake is Germany.
Surrounded by powerful neighbors, Germany inhabits one of the most competitive environments in the world. In our upcoming video, we take a centuries-long step back to look what makes Germany Germany (hint: a healthy distrust of neighbors)... and how that shapes its economic policy today.
A Alemanha foi, justamente, o país que produziu três dos três grandes últimos conflitos inter-europeus, dois dos quais estiveram na origem de guerras mundiais, que destruiram metade da Europa e a retiraram, definitivamente, da liderança dos assuntos mundiais, permitindo a ascensão de poderes "periféricos" que assumiram a liderança da geopolítica mundial.
O nacionalismo é uma desgraça, pelo menos em sua forma canhestra, xenófoba, militarista, irredentista e agressiva. No plano econômico, igualmente, o nacionalismo é responsável pelo atraso de muitas sociedades, entre elas as latino-americanas, que sofrem por falta de capitais e tecnologia, mas que não gostam de depender de conhecimentos e know-how estrangeiros. O Brasil, particularmente, é um país que ama o capital estrangeiro -- pois que depende dele -- mas que detesta os capitalistas estrangeiros, por preconceito, inveja, despeito, ou qualquer outro sentimento assemelhado.
O nacionalismo já provoucou algumas das piores guerras da humanidade, e ele continua a provocar atrasos, subdesenvolvimento (sobretudo mental) e perda de oportunidades.
Abaixo a análise do articulista argentino Carlos Malamud, do Instituto Elcano e do InfoLatam, sobre um recente episódio vergonhoso para o exército chileno (mas que deve se reproduzir entre os vizinhos também...).
Paulo Roberto de Almeida
Algumas Mostras Execráveis do Nacionalismo Latino-Americano
Por Carlos Malamud
Se olharmos para as ideologias e os sentimentos populares latino-americanos perceberemos que os discursos do catolicismo do séc. XIX, da direita liberal, do zapatismo mexicano em qualquer de suas versões, do castrismo cubano e do bolivarianismo new age, para citar apenas alguns exemplos, estão todos permeados pelo mesmo nacionalismo que é a única opção possível, o que sempre tira o pior de nós, especialmente ao se contrapor com os demais. E nessa contraposição, sempre somos os bons ou os melhores e eles os perdedores ou a soma da maldade absoluta.
Podemos alegar que os marinhos chilenos que cantavam ameaçadoramente contra bolivianos, peruanos e argentinos eram uns simples descerebrados. Ao menos da mesma categoria que os gendarmes (agentes de polícia) argentinos que proferiam insultos semelhantes contra os “chilenitos” vizinhos, em um vídeo um pouco mais antigo, mas que serve para a ocasião. E se continuarmos pesquisando, provavelmente encontraríamos outras evidências próximas. Esta alusão à idade mental dos envolvidos só serve para esconder a maior parte da verdade. Descerebrados semelhantes podem ser encontrados em qualquer país da região e fora dela. Por isso, o problema está na forma como os cantores e suas canções são utilizadas por quem pode e que permanentemente se gaba de um nacionalismo semelhante.
Os insultos chilenos, que chegam a ferir a sensibilidade dos ouvintes, foram justamente condenados no Chile e no exterior. No Chile, as autoridades civis e militares pronunciaram-se duramente contra o escândalo internacional que se aproximava. Mas também se escutaram vozes rebaixando a importância do ocorrido ou o justificando com o pueril argumento de que em todos os lados ocorrem coisas semelhantes, como depois foi visto no caso argentino.
O ministro de Defesa chileno Alfonso Vargas, ao mesmo tempo que qualificou os cânticos de “ofensivos ”, assinalou que: “Em todas as instituições armadas em nosso país e em todos os países do mundo, é habitual o trote com cantos alusivos de diferentes tipos. O importante destes é que as letras dos cantos sejam adequadas e aqui o que ocorreu é que o grumete improvisava”. Inclusive um parlamentar da oficialista UDI (União Democrata Independente), depois de criticar as vozes críticas e justificar os fatos concluiu de forma tachante: “para evitar esses cantos violentos dos marinhos [teria que inscrevê-los] em aulas de bordado e ponto cruz”.
Fora do Chile alguns despiram as armaduras até limites indescritíveis. Quem rapidamente se colocou à frente da procissão foi o governo de Evo Morales, que clamou por uma forte condenação internacional contra aqueles que tinham manchado a honra pátria. O vice-ministro de Coordenação com os Movimentos Sociais, César Navarro, disse que “em pleno século XXI não podemos ter, entre vizinhos, inimigos desta envergadura”. E foi mais longe ao apontar, em relação à reclamação boliviana de uma saída ao mar, que “O Governo do Chile não pede união na América Latina e vê seus vizinhos como inimigos, sejam argentinos, peruanos ou bolivianos. A isso responde a atitude excessivamente conservadora e ortodoxa do presidente (Piñera) de dizer não a tudo”. Ademais, um deputado do MAS (Movimento ao Socialismo), não descartou que a Assembléia Legislativa emita um pedido oficial pelas expressões xenófobas, já que “isto confirma que o Chile é um mau vizinho”.
Por sua vez, uma publicação argentina, claramente amarela e sensacionalista, falava dos “covardes cânticos da armada chilena” e chamava-os de cultura pinochetista”. No entanto, em todo o continente praticamente não se ouviram vozes que apontassem a conveniência de limpar a própria casa ao invés de se intrometer nos assuntos vizinhos. É bem mais fácil clamar vingança contra o agressor externo do que se esforçar em evitar casos semelhantes em nosso país.
As reações provocadas pelos cânticos militares nacionalistas também contradizem o discurso de integração regional, tão agitado ultimamente por uns e outros na América Latina. Algo do tipo foi visto na última Cúpula da CELAC, em Santiago do Chile, quando Cuba assumiu a presidência pró tempore. Raúl Castro, novo presidente da Comunidade Latino-Americana, proclamou a necessidade de uma batalha “a sangue e fogo” contra o narcotráfico, já que: “Nossas leis permitem a pena de morte. Está suspensa, mas aí está de reserva, porque uma vez que a suspendemos, o único que fizemos com isso foi estimular as agressões e as sabotagens contra o meu país”. Seu discurso esteve cheio de quase todos os tópicos do nacionalismo anti-imperialista latino-americano, começando pelo vitimismo e as responsabilidades de fora. Em definitiva, trata-se de combater o narcotráfico com receitas similares às que alguns militares chilenos e argentinos recomendam para seus vizinhos.
terça-feira, 27 de novembro de 2012
Banco Internacional Futebol Clube?, ou Confederacao Mundial da Politica Monetaria?
Britain Picks Canadian To Head BOE
(ou seja, a Grã-Bretanha escolheu um canadense para dirigir o seu banco central, o Bank of England)
Ao mesmo tempo fiquei sabendo que a impoluta, transparente, corretíssima, espartana, limpíssima Confederação Brasileira do Futebol descartou qualquer convite ao antigo técnico do Barça (o time de futebol de Barcelona), hoje vivendo em New York, para ser o novo técnico da seleção brasileira de futebol, na saída do antigo, sumariamente demitido por razões ainda obscuras (mas que são certamente mal cheirosas, sabendo que o vice-presidente da CBF anda metido com grandes irregularidades no setor financeiro).
Enfim, quando se cogitou desse convite, eu nunca o considerei factível, realista ou possível, por "n" razões, entre elas de que não basta ser o bem sucedido técnico de um time muitas vezes campeão no plano mundial para ter sucesso no futebol tupiniquim, também muitas vezes campeão, mas certamente por outros méritos e características que fizeram do Barça um dos maiores times da história secular do futebol.
A razão principal, obviamente, é que ninguem, com raríssimas exceções -- salvo um ou outro louco, como este que aqui escreve --, concordaria em ter um "estrangeiro" -- oh!, que horror, não é mesmo? -- à frente do esquadrão canarinho de tão gloriosas tradições tupiniquins (e várias outras jabuticabais).
Por que isso? Bem, parece que além de sermos nacionalistas em várias coisas, somos terrivelmente chauvinistas em matéria de futebol (e desculpem a expressão de origem francesa, mas vocês não esqueceram que football é importado, não é mesmo Aldo Rebelo?).
(9,99% dos brasileiros considerariam um atentado à soberania nacional ter um técnico estrangeiro à frente da nossa glorioso seleção (hoje bem menos gloriosa, e um pouco mercenária...).
Eu não: eu veria com naturalidade, e acho que até seria bom, embora eu também tenha 99,99% de certeza de que, se tal loucura fosse concretizada, por um desses milagres que ocorrem a cada 2 mil anos, ela simplesmente não daria certo: o técnico seria um fracasso, e seria também demitido no espaço de poucos meses.
Mas vejam vocês: a velha Grã-Bretanha (na verdade o Reino Unido) entrega o comando de uma das instituições mais relevantes do reino, aquela que cuida da sua saúde monetária, o guardião do poder de compra da velha libra esterlina a um estrangeiro, recrutado unicamente com base no mérito, numa seleção aberta, na qual qualquer cidadão do mundo, inclusive um aborígene da Nova Guiné, ou o nosso mais competente Armínio Fraga, poderia ter se apresentado e ter sido eleito, ou escolhido.
Não é interessante?
Eu também acho, e acho também que os presidentes, os reitores de faculdades, vários (talvez todos) os ministros, os juízes do Supremo também poderiam (quem sabe deveriam?) ser recrutados em bases mais amplas do que esse modesto quinhão de apenas 194 milhões de brasileiros (na verdade menos, pois temos de tirar daí pelo menos dois terços de analfabetos funcionais).
Não seria bom se pudéssemos contar com os talentos de zilhões de chineses, americanos, europeus, australianos, hotentotes e pigmeus, para dirigir o nosso país, suas universidades, a Suprema Corte, pessoas recrutados unicamente com base na sua competência, dedicação, plano de trabalho, metas a serem cumpridas e, sobretudo, conhecimento e experiência?
Eu colocaria anúncios na Economist e no Wall Street Journal para recrutar o nosso presidente do Banco Central tranquilamente, assim como ofereceria salários milionários para o bom administrador que resolvesse enfrentar a dura tarefa de corrigir nossas universidades públicas (claro, teria que passar primeiro o trator em cima do MEC, mas isso seria permitido), e também acharia bom que juízes experimentados de outros países resolvessem aplicar a nossa lei, apenas com base na lei escrita -- o que não deve ser difícil de fazer, sendo um cidadão normalmente alfabetizado -- e não com o espírito justiceiro de quem pretende corrigir injustiças "históricas" cometendo outras injustiças e rompendo com o princípio da igualdade de todos os cidadãos (e cidadãs).
OK, acho que as pessoas não estão preparadas para isso, ainda, mas seria bom se começassemos por algo inócuo, como o futebol. Inócuo? Claro, a despeito de dar alegria a todos nós, uma derrota no futebol não é uma tragédia, não diminui a renda nacional, não produz déficit orçamentário, nem crise de balanço de pagamentos, tampouco problemas institucionais, só um pouco de tristeza.
Eu sei que não daria certo, mas não custa tentar...
Paulo Roberto de Almeida
sexta-feira, 13 de julho de 2012
Nacionalismo miope atrasa o Brasil e nos torna mais pobres
Enfim, tem gente que não aprendeu economia, nem mesmo frequentando cursos (supostamente) de economia na faculdade, ou exibe uma visão estreita, míope, deformada, dos fenômenos econômicos, e por isso acaba praticando o que eu chamo de stalinismo industrial, ou seja, uma estrutura industrial verticalizada, feita unicamente no próprio país, ignorando completamente o fato de que qualquer indústria, hoje em dia, tem dimensão necessariamente internacional.
Apenas rústicos podem praticar nacionalismo de botequim e protecionismo de contabilidade invertida.
Assim marcha o Brasil (ou não?).
Paulo Roberto de Almeida