quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O Sinistro da Mazenda e a deseconomia pouco nacional...

A situação econômica não parece boa, mas não se observam reações à altura por parte das autoridades. Todas elas falam em estimular a atividade, ou seja, despejar mais crédito nos mercados consumidores e dar mais alguma proteção e facilidades setoriais, que acabam atingindo alguns (e outros também, pelas expectativas que despertam), sem que no entanto se ataquem os problemas estruturais da competitividade brasileira: custo do capital, infraestrutura, baixa produtividade do capital humano e baixíssima qualificação técnica da mão-de-obra especializada, alta tributação, excessso de monopólios e de proteção, dirigismo estatal aleatório, o que mantém a volatilidade do cenário econômico, enfim, problemas graves que não estão sendo equacionados pelo governo.
Paulo Roberto de Almeida

Celso Ming
Início do conteúdo

Exuberância

20 de fevereiro de 2013 | 2h 07
Celso Ming - O Estado de S.Paulo
 
O desempenho do comércio varejista de dezembro foi decepcionante, na medida em que frustrou a expectativa otimista de um avanço superior a 2% em relação ao mês anterior. Os resultados apontaram para queda de 0,5%.
Mas quem olha para o que aconteceu durante 2012 não pode negar que, comparado com o de 2011, o avanço do consumo brasileiro alcançou padrões chineses: 8,4% em termos reais, ou seja, descontada a inflação.
São rio em leito de riacho quando esses volumes do comércio são comparados com os da atividade produtiva. O avanço definitivo do PIB brasileiro em 2012 será conhecido dia 1.º de março, mas já se sabe, de antemão, que será magro, em torno de 1%. O setor produtivo não está acompanhando a exuberância do consumo, acionado, em última análise, pela elevação das despesas públicas.
Esse descompasso tem duas consequências. E a primeira delas é que parte do consumo tem de ser suprida com aumento das importações. É o que fica especialmente nítido no setor de combustíveis, cuja demanda avançou em 2012 nada menos que 6,8%, enquanto as refinarias da Petrobrás acusaram queda de produção de 2,35%.
O segundo desdobramento é mais inflação, porque parte do ajuste está sendo feita com alta de preços. É o que explica a inflação de 5,8% em 2012 e o novo patamar anual, acima dos 6% neste começo de 2013.
O governo federal tenta não mostrar preocupação com essas distorções. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, por exemplo, parece conformado com essa esticada da inflação. Sempre que pode, tenta convencer o público de que os números ruins acabarão se revertendo espontaneamente. Lá pelas tantas, como ocorreu na semana passada, avisa que, caso seja necessário combater a inflação, o instrumento mais adequado para isso é a política monetária (política de juros), e não uma valorização cambial (baixa do dólar) que provocasse a queda dos preços dos importados.
Mesmo com as aparentes divergências, a posição do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, não é tão diferente. Ontem ele voltou a passar o recado de que não pretende aumentar os juros básicos (Selic), hoje em 7,25% ao ano, para combater a inflação. Mas deixou a porta aberta para isso. "Se for necessário, a política monetária será adequadamente ajustada", disse, em Brasília. Apesar das declarações em contrário, o câmbio tem, sim, uma função auxiliar no combate à inflação. É o que sugere a manutenção da baixa das cotações por mais algum tempo.
Mas as causas das distorções acima apontadas não estão sendo atacadas. A ausência de oferta não tem sido corrigida nem com redução dos custos de produção (especialmente na indústria) nem com investimentos. A expansão da infraestrutura persiste tímida demais e vai demorar a produzir efeito.
O aumento das despesas públicas, por sua vez, não está sendo corrigido com mais austeridade. O governo Dilma entende que o raquitismo do PIB tem de ser combatido com injeções de vitamina. No entanto, se nada de novo vier a acontecer, a economia neste ano está fadada a gerar crescimento fraco, com mais inflação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.