A ideia do PT para as manifestações de hoje, no "Dia Nacional de Lutas" convocado pelas centrais sindicais, seria aproveitar a oportunidade para fazer a defesa do governo. Seria dar uma resposta aos protestos populares de rua que tomaram o País desde o início de junho. Mas, afinal, quais seriam as bandeiras que poderiam ser defendidas hoje, como quer o PT?
A primeira reação da presidente Dilma às manifestações, que ficou sem defesa, foi o lançamento de um conjunto de cinco pactos nacionais, que ninguém mais lembra quais são, até porque o governo não os vem retomando. Ah, sim, o primeiro da lista é o Pacto Fiscal. Mas, como brandir palavra de ordem pelo pacto fiscal, se esta é uma das políticas mais questionadas do governo, especialmente a partir de dezembro, quando inventou e aplicou sobre as contas públicas a tal contabilidade criativa?
A segunda resposta da presidente Dilma à crise nasceu morta. Foi a ideia da criação de uma Constituinte com plenos poderes para definir uma reforma política. Não haverá nenhum cartaz com essa proposta.
A que veio quase junto com essa foi a convocação de um plebiscito, com o objetivo de colocar em vigor uma reforma política ainda antes das eleições do ano que vem. Embora viesse sendo sustentada como "ponto de honra do PT", a ideia foi enterrada pelo Congresso.
Vai ser difícil também incluir na agenda das lutas sindicais a contratação de milhares de médicos estrangeiros e a imposição de trabalhos forçados por dois anos aos formandos em Medicina, como acaba de anunciar o governo.
Bandeira popular poderosa é o "diga não à inflação". A escalada dos preços foi um dos principais fatores que mobilizaram tanta gente. A reivindicação pelo fim do reajuste dos transportes coletivos está intimamente relacionada aos estragos no poder aquisitivo provocado pela forte alta de preços. No entanto, como dizer não à inflação sem exigir enormes mudanças na política econômica? Ninguém mais é capaz de sustentar que a inflação brasileira seja causada por fontes externas. A crise global colocou a inflação no chão. A inflação brasileira é coisa nossa e tem a ver com mazelas nossas, especialmente com a política fiscal expansionista do governo, como vem repetindo o Banco Central do Brasil.
E aí chegamos à última hipótese: a de que o Dia Nacional de Lutas saia em defesa da atual política econômica, ou seja, da "Nova Matriz de Política Econômica" colocada em prática pelo governo Dilma. Ocorre que, pela qualidade dos seus frutos, já sabemos que esta é uma árvore má, difícil de defender. Produziu a conhecida sucessão de pibinhos, atirou a inflação no teto da meta, provocou rombos enormes nas contas externas e deixou a indústria de cócoras. Estragos demais para contrapor aos propalados gols a favor: consumo robusto, pleno emprego e desempenho estupendo do agronegócio, que os companheiros do PT não apreciam.
Quer dizer, ou o Dia Nacional de Lutas retomará temas sindicais, como a redução da jornada de trabalho e o fim do fator previdenciário, ou repetirá as bandeiras das manifestações populares e, então, a política econômica será criticada. Ficará complicado apoiar a agenda da presidente Dilma.
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