Cotas
sem sentido
EDITORIAL
FOLHA DE S.PAULO, 07/11/2013
O governo Dilma Rousseff ganhou aplausos, em especial nos círculos militantes,
com a adoção do sistema de cotas raciais em universidades federais --e gostou.
Iniciativas semelhantes ameaçam multiplicar-se por outras esferas.
A administração propõe agora projeto de lei que reserva a negros 20% das vagas
em concursos federais. Dois deputados petistas apresentaram uma proposta de
emenda constitucional que estabelece cotas até no Legislativo.
Esta Folha se opõe à utilização da cor da pele como critério para o que quer
que seja. Apoia, entretanto, que se usem categorias sociais para definir a
alocação de determinados recursos públicos, como lugares em universidades.
A maior proporção de negros e pardos entre os mais pobres garante que a cota
social beneficiará esses grupos, sem a necessidade de o Estado incidir numa
classificação racial dos cidadãos, que mais reforça do que dissolve barreiras.
As iniciativas para estender as cotas ao mercado de trabalho e ao Parlamento
pecam não apenas por disseminar e naturalizar ainda mais a ideia de raça na
sociedade como também por misturar lógicas que são muito distintas.
Faz sentido reservar vagas em universidades porque a educação tem o propósito
explícito de tentar nivelar as pessoas. Um de seus objetivos é assegurar que
todos os cidadãos, independentemente de origem social e acidentes de percurso,
possam disputar em condições de igualdade as oportunidades que lhes serão
oferecidas.
Não é absurdo, assim, manipular as regras de admissão universitária para tentar
conciliar o ideal de equidade com outras metas da educação superior, como a
formação dos melhores quadros possíveis.
Não é tão simples transpor esse princípio para o Poder Legislativo e para os
concursos públicos. Nessas atividades, a lógica de promover a igualdade não se
impõe como prioritária.
Quando o Estado contrata um servidor, espera-se que seja o mais qualificado.
Quando um eleitor escolhe seu representante, deve fazê-lo tão livremente quanto
possível. Os princípios da seleção nesses casos devem ser a eficácia
administrativa e a liberdade de escolha.
O racismo é uma chaga social que o Estado brasileiro tem obrigação de combater.
Deve fazê-lo, entretanto, com as ferramentas adequadas, sem comprometer ou
enfraquecer demais outros objetivos relevantes do poder público.
O governo Dilma Rousseff ganhou aplausos, em especial nos círculos militantes, com a adoção do sistema de cotas raciais em universidades federais --e gostou. Iniciativas semelhantes ameaçam multiplicar-se por outras esferas.
A administração propõe agora projeto de lei que reserva a negros 20% das vagas em concursos federais. Dois deputados petistas apresentaram uma proposta de emenda constitucional que estabelece cotas até no Legislativo.
Esta Folha se opõe à utilização da cor da pele como critério para o que quer que seja. Apoia, entretanto, que se usem categorias sociais para definir a alocação de determinados recursos públicos, como lugares em universidades.
A maior proporção de negros e pardos entre os mais pobres garante que a cota social beneficiará esses grupos, sem a necessidade de o Estado incidir numa classificação racial dos cidadãos, que mais reforça do que dissolve barreiras.
As iniciativas para estender as cotas ao mercado de trabalho e ao Parlamento pecam não apenas por disseminar e naturalizar ainda mais a ideia de raça na sociedade como também por misturar lógicas que são muito distintas.
Faz sentido reservar vagas em universidades porque a educação tem o propósito explícito de tentar nivelar as pessoas. Um de seus objetivos é assegurar que todos os cidadãos, independentemente de origem social e acidentes de percurso, possam disputar em condições de igualdade as oportunidades que lhes serão oferecidas.
Não é absurdo, assim, manipular as regras de admissão universitária para tentar conciliar o ideal de equidade com outras metas da educação superior, como a formação dos melhores quadros possíveis.
Não é tão simples transpor esse princípio para o Poder Legislativo e para os concursos públicos. Nessas atividades, a lógica de promover a igualdade não se impõe como prioritária.
Quando o Estado contrata um servidor, espera-se que seja o mais qualificado. Quando um eleitor escolhe seu representante, deve fazê-lo tão livremente quanto possível. Os princípios da seleção nesses casos devem ser a eficácia administrativa e a liberdade de escolha.
O racismo é uma chaga social que o Estado brasileiro tem obrigação de combater. Deve fazê-lo, entretanto, com as ferramentas adequadas, sem comprometer ou enfraquecer demais outros objetivos relevantes do poder público.
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