domingo, 11 de maio de 2014

Empresarios pragmaticos, nao querem enfrentar o governo; so ajustes, ou mudancas mais profundas

Não há nenhuma chance de uma "fronda empresarial" como venho pregando, e isso porque os empresários não pretendem enfrentar o governo.
Ou são acomodados, ou não conhecem a sua força.
Podem também ser oportunistas, e preferir uma acomodação, com facilidades setoriais, em lugar de se unirem para construir um país decente...
Paulo Roberto de Almeida

Empresários querem agenda com foco na produtividade
Valor Econômico, De São Paulo 02/05/2014
Especial Rumos da Economia. 

Uma velha ideia nova apareceu com força nas conversas do Valor com 20 empresários de diferentes áreas sobre a agenda prioritária de 2015 - a necessidade de um programa de governo que permita ao país alcançar ganhos de produtividade. Ausente do debate político - porque parece vaga para ganhar votos nas ruas -, a produtividade surge como ideia chave para o Brasil enfrentar desafios que cresceram no pós-crise. E na visão dos empresários, ela passa pelo aumento do investimento com ênfase na infraestrutura, por um Estado mais enxuto e eficiente e por foco na educação. 
Representando um consenso entre os executivos, Cledorvino Belini, presidente da Fiat Chrysler para a América Latina, pontua que a agenda dos próximos anos começa na herança dos últimos governos. "Quando colocamos em perspectiva o legado dos governos democraticamente eleitos que se sucederam no Brasil nas últimas décadas, têm lugar de destaque a estabilização da economia e o avanço da inclusão social", diz ele. "Além do compromisso de preservar conquistas, o próximo governo assume com o desafio de fechar o círculo virtuoso de modernização do país, adotando medidas que assegurem o urgente e necessário avanço da produtividade", acrescenta o presidente da Fiat. 

Como o país não pode mais crescer pela incorporação de mão de obra, precisa fazê-lo pelo aumento da eficiência das empresas e do governo, pondera Belini, lembrando que isso não será possível sem ações de modernização e ampliação da infraestrutura. 
"A infraestrutura no Brasil, seja ela pública ou privada, anda emperrada", concorda o diretor-presidente da Alpargatas, Márcio Utsch, listando o custo da energia e políticas mal desenhadas, como a desoneração da folha de salários, como situações que travaram o desenvolvimento do país. Por isso, para ele, "a principal agenda para 2015 é o investimento", que passa pelos projetos públicos e pelo fomento do governo ao investimento privado. Sua agenda se completa com foco na educação (em que "não basta ter um monte de faculdades") e valorização das pessoas. "Temos que nos indignar com os crimes na porta de nossas casas e não aceitar a impunidade", diz ele. 
Um plano efetivo de investimentos em projetos de infraestrutura deve ser uma das prioridades na gestão do novo governo do Brasil, diz Harry Schmelzer Jr., presidente da fabricante de equipamentos elétricos WEG. Para o executivo, se o governo não dispõe de recursos, precisa criar as condições para atrair investidores. Ao mesmo tempo, o governo deve contemplar nesse plano instrumentos que favoreçam a indústria brasileira, de forma a atender a demanda que será gerada por um programa amplo voltado ao setor de infraestrutura. 
A agenda de dois executivos da área farmacêutica - os presidentes da Eli Lilly no Brasil, Julio Gay-Ger, e da Novartis, Adib Jacob, combina inovação e infraestrutura, entre outros temas. "Quando um país apresenta uma infraestrutura pouco desenvolvida, os produtos podem encarecer no mercado interno, prejudicando os consumidores, e no mercado externo, dificultando as exportações", observa Gay-Ger. "É preciso fomentar a geração de maior valor agregado no PIB, estimulando a inovação tecnológica nas esferas acadêmica e corporativa", sugere Jacob. Ele propõe que isso ocorra por meio de maiores investimentos e estímulos tributários para a produção científica de inovação no Brasil. 
Atuando em um setor em que os investimentos nos últimos anos foram afetados por mudanças de regras, o presidente da AES Brasil, Britaldo Soares, diz que é preciso dar agilidade e segurança aos processos de licenciamento e maior clareza e estabilidade aos marcos regulatórios setoriais, além de "fomentar a competitividade, inovação e aumento das produtividade no longo prazo". 
Na opinião de Arlindo Moura, CEO da Vanguarda Agro, uma das principais produtoras de grãos e fibras do país, a infraestrutura de transporte deve estar na agenda prioritária de 2015. "Houve avanços no planejamento, mas agora as coisas precisam sair do papel", diz. O diretor presidente da Merial no Brasil, Jorge Espanha, também acredita que o investimento em infraestrutura deve estar no topo da lista. Segundo ele, o ciclo de crescimento focado no consumo foi importante, mas evidenciou o gargalo da infraestrutura, que afeta o agronegócio. "O Brasil já é um celeiro, mas precisa conseguir escoar sua produção de grãos e proteína animal", afirma o executivo. 
"Esse país tem seus fundamentos muito sólidos. Não temos nenhuma razão para ficar temerosos", disse, em evento recente do Valor, o presidente do conselho da BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, Abilio Diniz. De acordo com ele, os empresários precisam ir além das queixas. "Além de ficarmos nos queixando do governo - e temos razão para exigir mais -, temos que pensar o que podemos fazer, e nesse momento é preciso aumentar a produtividade". 
Uma mudança na condução da política econômica também é necessária na visão de Fabio Hering, diretor-presidente da Cia Hering. Embora defenda investimentos em infraestrutura, ele acredita que não há esgotamento do modelo da última década. "Acreditamos muito no potencial de consumo do mercado nacional. O necessário para um crescimento maior, agora, são alguns ajustes. O que tivemos foi um começo e não o fim de algo", pondera, concordando com a tese de mudanças que preservem conquistas dos últimos governos. E uma delas, deve ser o controle da inflação. "Sou afetado por aumento dos juros, mas não controlar a inflação é muito pior do que uma taxa elevada", afirma, deixando clara sua prioridade. 
Meyer Nigri, diretor-presidente da Tecnisa, também avalia que quem ganhar as eleições precisará fazer ajustes na economia. E para ele, o trade-off entre crescimento, emprego e inflação é dos mais complicados. "Acho que é preferível um pouco de inflação com crescimento, do que inflação mais baixa sem crescimento", diz ele, acrescentando, contudo, que nesse momento, contudo, o Brasil não tem pouca, mas muita inflação.
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Para executivos, Estado deve ser eficiente e enxuto
Valor De São Paulo 02.05.14
Especial.Rumos da Economia. 

Os empresários querem um Estado mais enxuto e mais eficiente. Eles estão menos preocupados em defender um número mágico para o superávit primário e mais interessados em medidas que permitam, via eficiência do setor público, reduzir a carga tributária. O presidente do conselho de administração do grupo Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter, defendeu recentemente um corte drástico no número de ministérios para melhorar os níveis de eficiência do futuro governo. Na opinião dele, seis seriam suficientes, incluindo as pastas que cuidam das áreas econômica e social, da segurança, de relações internacionais e articulação política. "Gosto de trabalhar com utopias porque construí minha vida sonhando com utopias e de repente elas acontecem", afirmou, em Porto Alegre, durante o 27º Fórum da Liberdade. 
Ele não é o único que sonha com uma Esplanada menor. Fábio Barbosa, do grupo Abril, defende que a melhora fiscal passa por uma reforma administrativa, com redução no número de ministérios. "O governo precisa parar de gastar tanto com a estrutura administrativa, pois arrecada bastante e não sobra dinheiro para fazer investimentos. É é preciso mais investimentos em infraestrutura, educação e saúde", faz coro Meyer Nigri, diretor-presidente da Tecnisa. 

Para o presidente-executivo do Conselho da MRV, Rubens Menin, o maior problema do Brasil hoje é a eficiência do Estado. "Temos de medir e gerenciar a eficiência do Estado, independentemente de quem seja o vencedor das eleições. Fala-se da redução da carga tributária, mas isso só será possível se o governo gastar menos e melhor", argumenta ele, acrescentando que isso passa pela desburocratização. "No setor de construção civil, a burocracia corresponde a 12% do custo total e a obtenção de licenças para uma obra leva de 24 a 30 meses. O Brasil ficou prisioneiro da burocracia", resume. 
Para melhorar a gestão fiscal, o presidente da Positivo Informática, Hélio Rotenberg, defende um controle total dos gastos públicos, com redução dos gastos de custeio e aumento dos investimentos. Além desse controle, ele diz que é preciso planejar o futuro do país, definindo as áreas em que o Brasil quer ser forte e os investimentos necessários para isso. "E a área prioritária é a educação", afirma. 
Para Marcio Utsch, da Alpargatas, o país precisa "perseguir o superávit fiscal para poder pensar no resto". Ele avalia que a Lei de Responsabilidade Fiscal deve ser obedecida, sem subterfúgios. "Temos que limitar o gasto com pessoal para os governantes nas três esferas governamentais (municipal, estatual e federal)", defende. 
O presidente da Anfavea, Luiz Moan, reconhece que "não há espaço para muitas mudanças no campo fiscal". Mesmo assim, defende que é preciso reduzir a carga tributária, o que não significa perda de arrecadação, segundo ele. "Experiências recentes mostram que o governo pode reduzir impostos e, ainda assim, arrecadar mais porque a desoneração leva ao aumento do consumo", pondera. 
Na avaliação de Cristiano Melles, presidente da Associação Brasileira de Restaurantes, entre as prioridades do novo governo devem estar um superávit fiscal primário de 3%, o restabelecimento da confiança nas informações econômicas oficiais com o fim de qualquer "criatividade contábil" e uma reforma previdenciária. 
Um problema fiscal a ser enfrentado é a desoneração da folha de pagamentos. Criticada pelo presidente da Alpargatas, ela é defendida, entre outros, por Harry Schmerzer Jr, da WEG, e Paolo Dal Pino, da Pirelli Pneus. 

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