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quarta-feira, 9 de julho de 2014

Copa do Mundo: Brasil: 5 (sobre 10); Governo: 0 (ZERO)

Dilma pretende faturar em cima do futebol, sinalizando - diz Merval Pereira em "Alhos e bugalhos", no jornal O Globo - uma perigosa falta de autocrítica e, pior, um abuso de poder ao tentar a Copa como "indicativo de sucesso de seu governo":


O sucesso da Copa do Mundo está subindo à cabeça da presidente Dilma, que agora mistura alhos com bugalhos para dizer que, da mesma maneira que “os pessimistas” erraram ao prever problemas que não aconteceram no campeonato de futebol, também errarão ao serem pessimistas em relação ao crescimento da economia brasileira neste ano eleitoral.

A fala sinaliza, sobretudo, uma perigosa ausência de autocrítica, e um abuso de poder ao utilizar a Copa do Mundo como indicativo de sucesso de seu governo, o que absolutamente não acontece. A única realização genuinamente original e vitoriosa de uma instituição pública nacional foi a atuação da Polícia Civil do Rio, juntamente com a Polícia Federal, no desmantelamento da quadrilha que atuava já há quatro Copas na venda ilegal de bilhetes para os jogos do campeonato do mundo.

Mesmo o clima de segurança que vivemos, tão elogiado pelos jornalistas estrangeiros, é absolutamente atípico, conseqüência do uso do Exército e das polícias num esquema de prontidão absolutamente impossível de ser mantido no dia a dia do país.

Até o trânsito, criticado pelos estrangeiros, está mil vezes melhor do que o usual em todas as capitais do país pela decretação de feriados nos dias de jogos. Estamos vivendo uma espécie de conto de fadas que se desvanecerá assim que a Copa do Mundo acabar, e tivermos de voltar ao nosso dia a dia de insegurança e imobilidade urbana nos grandes centros.

A Ilha da Fantasia em que se transformou o país da Copa mostra apenas o país que poderia ser e não é, com as pessoas andando alegres pelas ruas, sem receio de assaltos. Os estereótipos foram reforçados por esses dias, e até os indígenas tiveram seu lugar no folclore nacional realçado. Mas a presidente Dilma não aceita que o atraso nas obras previstas pelo PAC da mobilidade urbana tenha prejudicado a realização da Copa, e tem razão nessa visão estreita que só pensa nos benefícios eleitorais que pode tirar.

Viadutos que caem ou que simplesmente não serão construídos, transportes urbanos deficitários, aeroportos com puxadinhos para dar conta do movimento, nada disso prejudica a realização dos jogos. Mesmo os estádios superfaturados e inaugurados em cima do laço, muitos sem nem mesmo uma vistoria, não impediram que os jogos da Copa do Mundo fossem fascinantes, mesmo que a grama de alguns deles tenha sido criticada, ao contrário do que disse o ex-presidente Lula, que atribuiu a desclassificação da seleção da Inglaterra à excelência de nossos gramados.

Mas não houve nenhuma demonstração da capacidade de realização deste governo que tenha sido diferente do da África do Sul, por exemplo, o que demonstra que de uma maneira ou de outra as Copas do Mundo sempre se realizam.

As obras atrasadas, na verdade, são as mais importantes para as cidades envolvidas na organização de uma Copa do Mundo, e interessam aos seus habitantes, não à Fifa, que sairá do país com os bolsos cheios e sem compromisso nenhum com nosso desenvolvimento. E nem era para ter.

Nós que aqui vivemos e que temos que conviver com a gestão indigente de nossos governos é que teríamos que exigir mais responsabilidade pelas promessas não cumpridas e menos regozijo por fatos que nada têm a ver com os governantes. Como as belas praias e o povo caloroso destacados nos depoimentos dos jornalistas estrangeiros.

O comentário da presidente Dilma, além do mais, faz pensar que a direção equivocada de nossa economia não será revertida caso ela consiga se reeleger. Apesar de a economia ter crescido apenas 0,2% no primeiro trimestre do ano, a presidente disse confiar na "força da economia brasileira".

Pela sexta semana seguida a projeção para a alta do PIB em 2014 foi rebaixada pela média dos economistas que participam da pesquisa Focus, sendo fixada agora a 1,07 por cento. O governo fechará assim seu quatriênio com uma média de crescimento do PIB abaixo de 2%, o que caracteriza o terceiro pior comportamento da economia na nossa história republicana, o que, convenhamos, não é um marco fácil de ser batido.

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