Venezuela estuda, pela 1ª vez, importar petróleo
Guilherme Russo, Enviado Especial / Caracas
O Estado de S. Paulo, 28/08/2014
Documento obtido pela 'Reuters' diz que produto argelino, mais leve do que o venezuelano, seria usado para reduzir custo do refino
O governo da Venezuela está considerando importar petróleo cru pela primeira vez na história do país e poderá usar o produto vindo da Argélia, mais leve, como uma mistura para estimular as vendas do petróleo venezuelano, pesado. A informação consta de um documento obtido na quarta-feira, 27,pela agência de notícias Reuters.
Apesar de o país latino-americano ter as maiores reservas de petróleo do mundo, a Petróleos de Venezuela (PDVSA), estatal responsável pela exploração petrolífera no território venezuelano, tem comprado um volume crescente de subprodutos refinados do insumo, como nafta, para misturar com o petróleo pesado extraído da bacia do Orinoco, sua maior região produtora.
Isso é feito para tornar o produto venezuelano exportável, enquanto a extração de petróleos de teor mediano e leve - que também têm sido usados como diluentes - tem diminuído no país.
O nafta tem sido importado por altos valores atualmente, o que tem prejudicado o fluxo financeiro da PDVSA, a maior fonte de dólares do governo da Venezuela. A compra de petróleo leve da argelina Sonatrach seria uma forma de o governo tentar diminuir o custo de exportação de seu petróleo.
A possibilidade de a Venezuela importar petróleo cru de outro país havia sido classificada neste ano pelo ministro do petróleo, Rafael Ramírez, como o "último recurso" para diluir a produção local.
Além do documento obtido pela Reuters, uma fonte com informações da PDVSA e da Sonatrach, confirmou a intenção de Caracas adquirir petróleo leve.
Inflação. A Federação de Câmaras e Associações de Comércio e Produção da Venezuela (Fedecámaras) declarou nesta quarta que a inflação acumulada entre junho de 2013 e junho de 2014 no país se elevou em 62,1%. "É a inflação mais alta do planeta", afirmou o presidente da entidade, Jorge Roig, citando dados comparativos do Fundo Monetário Internacional (FMI).
De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatísticas da Venezuela, organismo do governo, em maio, a inflação anualizada se situava em 60,9% no país. No ano passado, a elevação no Índice Nacional de Preços ao Consumidor venezuelano chegou a 56,2%.
Em uma entrevista coletiva em que pediu transparência do governo em relação aos dados da economia, o presidente da Fedecámaras ressaltou que, entre 2003 e 2014, a inflação registrada na Venezuela chegou a 1.239% - no mesmo período, o aumento inflacionário relativo ao preço dos alimentos foi de 2.277%. "Essas cifras não têm precedentes", disse Roig.
O presidente da Fedecámaras lembrou que, segundo o último levantamento do Banco Central da Venezuela (BCV) a respeito da escassez de produtos no mercado venezuelano, entre fevereiro e março, foi registrada falta em 29,4% dos itens comercializados no país. "Desde então, o BCV não voltou a publicar a estatística. Um país não pode se planejar sem a transparência e a oportuna publicação das cifras oficiais (da economia)."
De acordo com o estudo da entidade, o Produto Interno Bruto (PIB) da Venezuela caiu 4% no primeiro semestre deste ano.
A Federação Farmacêutica Venezuelana (FFV) pediu uma "política de emergência" ao governo para combater a escassez de medicamentos no país e culpou a não concessão de divisas por parte do governo para a importação de medicamentos pela atual crise.
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