Os lobos de Wall Street querem o Planalto |
Armínio Fraga tem em seu currículo ter dado o maior cavalo de pau que a economia brasileira já viu, quando era presidente do Banco Central. |
Concordemos ou não com a atual política do Banco Central do Brasil, ela tem pelo menos um elemento positivo: sua condução está a cargo de um servidor de carreira do próprio BC, Alexandre Tombini. Equivocado ou não, ele não é uma raposa tomando conta do galinheiro.
Seus predecessores, Henrique Meirelles e Armínio Fraga, eram cortadores de cebola na cozinha do sistema financeiro internacional. Serviam de bandeja, com os cumprimentos da casa, os pratos quentes da política monetária, feitos para agradar o paladar e encher o gigantesco estômago do rentismo com toneladas de dinheiro sangrado dos cofres públicos, por meio da política de taxas de juros despudoradas.
Armínio Fraga tem um agravante em relação a Meirelles. Além de ter feito o que o mercado financeiro dele esperava, sempre esteve à disposição para servir de leão de chácara dos interesses eleitorais do PSDB no meio das altas finanças.
Mais uma vez, ele se coloca em público para cumprir esse papel. Em troca, tem uma nota promissória assinada pelo candidato tucano, Aécio Neves, que promete levá-lo ao Ministério da Fazenda, caso chova canivete e o PSDB conquiste as chaves do Planalto.
Fraga foi o principal responsável pelo cavalo de pau na economia em 2002, quando levou investidores e empresários ao pânico com o terrorismo criado contra a perspectiva de uma vitória de Lula.
Nesta campanha, os movimentos da bolsa e do dólar, que oscilam claramente ao sabor dos interesses dos especuladores na campanha eleitoral, mandam um recado claro: se a oposição vencer, eles faturam.
Fraga tem em seu currículo números acachapantes para mostrar. Sua gestão à frente do BC deixou a inflação fora da meta, com a projeção anual acima de dois dígitos, e dólar a quase R$4,00. O risco país, avaliado pelas agências indicava um Brasil de cócoras.
A herança maldita recebida em 2003 tem as digitais de Armínio Fraga. E ele está pronto, mais uma vez, a dar sua contribuição. Suas declarações à imprensa do mundo inteiro e seus alertas aos grandes investidores internacionais são feitos sob medida para dar um empurrãozinho e levar o nome do Brasil à lona.
Os que dizem defender a “independência” do Banco Central, que pregam amor à responsabilidade com as contas públicas e proclamam seu zelo ao controle da inflação não se fazem de rogados. Preferem, para o comando da instituição, um cabo eleitoral do PSDB. Alguém que, em um ambiente movido por expectativas, faz questão de soltar os lobos para caçar.
O mundo das finanças não esconde sua satisfação em ter um dos seus como interlocutor na campanha oposicionista. Aliás, não haveria sequer o menor escrúpulo em colocar o próprio “Lobo de Wall Street” para cuidar da política monetária.
Quem, melhor que os lobos, para fazer bem o serviço de glamourizar a ganância, chamando a isso de responsabilidade fiscal? Quem, melhor que os lobos, para depenar o país sem ruborizar de vergonha e com a sensação de dever cumprido?
Neste filme, o PSDB não passa de um reles coadjuvante. É, no muito, um Cavalo de Troia em cuja barriga estufada se acomodou a tropa do rentismo.
Cada vez mais esganiçados, os financistas esperam o momento oportuno para serem expelidos dessas entranhas obtusas, abrir os portões e declarar aberta a temporada de espólios.
Aécio finge ser candidato à presidência. Quando prometeu encontrar uma solução para acabar com o fator previdenciário, foi surpreendido, no dia seguinte, por uma entrevista de Fraga que alfinetava a todos os candidatos, sem exceção. O garoto propaganda da alta finança reclamou nunca ter visto uma campanha tão "populista" - sem poupar ninguém.
No dia seguinte, Aécio desmentiu a si próprio. Disse que não havia prometido acabar com o fator previdenciário, e sim, estudar alternativas para ver se seria possível, quem sabe um dia… e por aí vai.
Ficou claro quem é que manda?
(*) Antonio Lassance é cientista político.
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