Retórica, incremento e desorientação
Afonso Farias
Correio Braziliense, 29 Setembro 2014
A nação transformou-se em monopólio de negociadores governamentais de plantão. Ocupam cargos para construir suas riquezas materiais e organizar estruturas e sistemas (aparentemente do bem) para se perpetuarem estrategicamente nas posições ocupadas.
Sobre a educação, depois de analisada por organismos internacionais e constatado que o Brasil está mal, foi a vez de o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) apontar os desmandos da gestão nacional do setor. As notas do Ideb caíram no ensino médio de 16 redes públicas estaduais entre 2011 e 2013.
O país não atingiu as metas previstas para 2013 nos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano) e no ensino médio. A meta de 2013 só foi atingida nos primeiros anos do ensino fundamental (1º ao 5º ano).
Um fato chama a atenção: as escolas particulares não alcançaram as metas em nenhuma das três fases de ensino. Nos anos iniciais do ensino fundamental, as instituições privadas foram as únicas a não alcançar a meta do Ideb. A situação se repete nos anos finais. Tecnicamente, a educação é pouco eficiente.
Relativamente à economia, nos três primeiros trimestres de 2014, o Produto Interno Bruto (PIB) apresentou recuo de 0,6%. O Banco Central, como tem feito costumeiramente, revisou para baixo a expectativa de crescimento deste ano, passando a previsão do PIB de 0,70% para 0,52%.
Com esse percentual, 2015 tem previsão de crescimento em torno de 1%. Crescendo menos que os demais Brics, o Brasil perdeu a confiança do investidor estrangeiro. Hoje, verificando 44 economias que tiveram o desempenho dos três primeiros trimestres analisado pela revista Economist, apenas Japão e Ucrânia estão numa situação pior que a do Brasil.
Com o menor percentual de investimento entre os componentes do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e Árica do Sul), 18% do PIB, o Brasil está comprometendo seu futuro econômico e afastando os investidores. Tecnicamente, o país está em recessão.
Sobre a violência, no que toca aos homicídios, morrem mais de 56 mil pessoas por ano no Brasil. Isso é quase que a totalidade de americanos mortos na sangrenta Guerra do Vietnã (58 mil), durante mais de 10 anos de conflito.
Sobre suicídios, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apresentou um relatório recente, sobre a América Latina, no qual apenas cinco países tiveram aumento percentual no número de suicídios entre 2000 e 2012: Guatemala (20,6%), México (16,6%), Chile (14,3%), Brasil (10,4%) e Equador (3,4%).
Torna-se relevante perceber que, no Brasil, o número de mulheres que tiraram a própria vida cresceu mais (17,80%) do que o número de homens (8,20%) no período de 12 anos. A OMS afirmou que há aproximadamente 800 mil suicídios/ano no planeta — a cada 40 segundos, suicida-se uma pessoa. Tecnicamente, matam-se e suicidam-se mais pessoas neste país.
Assim, apenas pela abordagem desses três pontos (educação, economia e violência), é notório que a correção urge e que as estruturas governamentais e institucionais passem realmente a funcionar. Ações retóricas, promessas vazias, mudar para nada acontecer e o politicamente correto afundaram as instâncias públicas nacionais e estão corroendo o tecido social.
O petróleo sempre foi objeto de lucro, de esperança e de sucesso nesta terra. Nunca na história deste país, ele foi notado e carimbado como problema. Agora, depois de sucessivas denúncias e, mais recentemente, da delação, a Petrobras emaranhou-se e afunda-se nos pântanos de uma administração completamente enviesada pela politicagem e fraudulentos procedimentos.
Por fim, os dois grandes problemas nacionais residem na ética tropeçante e na ineficiência da gestão. Ultimamente, as notícias, floridas pelas campanhas eleitorais, explodem desvios, má-gestão e pífios resultados dos governos. A ineficiência só aumenta e as mentiras de autoridades seguem o incremento. Qual é a proa? Onde está a bússola? Socorro! Furtaram o compasso.
» AFONSO FARIAS Especializado em política e estratégia, mestre em
administração e doutor em desenvolvimento sustentável, é professor do
Programa de Pós-Graduação da Universidade da Força Aérea
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