terça-feira, 2 de abril de 2019

Ascensao e queda de um presidente: mas tao rapido? - Elis Radman

Elis Radman 
COMO ENTENDER A POPULARIDADE DE BOLSONARO
Acompanho resultados de pesquisas de opinião há mais de duas décadas e analiso dados de forma longitudinal. Tal prática me permite mensurar as mudanças comportamentais da sociedade.
E os dados indicam que a volatilidade da opinião pública está cada vez maior. O que motiva a variação dela em um pequeno espaço de tempo é a falta de crença. As pessoas mudam de ideia quando a sua decisão não foi baseada em informações ou em um ideal de mundo. Na prática, nosso maior mal é o desinteresse e a descrença com a política.
E a última avaliação do governo Bolsonaro é um exemplo prático, que ilustra essa perspectiva analítica.
Segundo pesquisa nacional, realizada pelo Ibope, em março de 2019, Bolsonaro é avaliado positivamente (como um governo ótimo e bom) por 34% dos brasileiros. Outros 34% avaliam como regular e 24% têm avaliação negativa (ruim ou péssimo). E 8% não soube avaliar.
Pesquisa realizada pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião no Rio Grande do Sul, em março de 2019, demonstra que a opinião dos gaúchos está literalmente dividida: 35,2% deles avaliam o governo positivamente (ótimo/bom), 31,6% avaliam como regular e 33,3% avaliam negativamente o governo Bolsonaro (ruim/péssimo).
As principais análises nacionais destacam que a avaliação de Bolsonaro é menor do que a avaliação dos últimos presidentes eleitos, realizadas no mesmo período. Mostram que Bolsonaro caiu 30% em relação à pesquisa de janeiro de 2019, e que a sociedade brasileira está dividida, sendo que apenas 1/3 tem uma avaliação positiva de Bolsonaro.
As análises evolutivas precisam ser feitas à luz das variações comportamentais. O eleitor de hoje não é mais o eleitor do governo Fernando Henrique ou de Lula.
Ao longo das últimas duas décadas, o eleitor sofreu muitas decepções. As mesmas pesquisas que avaliam o governo Bolsonaro, conferem que o eleitor está mais cético, confia menos nas instituições e acredita que os políticos atuam em causa própria: roubando, desviando, favorecendo alguém ou, simplesmente, sendo descomprometidos com as necessidades básicas da população.
Não podemos esquecer que Bolsonaro obteve 55,1% dos votos válidos, mas que sua votação representou 39,2% dos eleitores brasileiros e as pesquisas de opinião são realizadas com uma amostra de todo o eleitorado. Uma analogia entre o percentual de votação de Bolsonaro com sua avaliação positiva (ótimo e bom), demostra que Bolsonaro perdeu apenas 13,2% de apoio.
O elemento mais simbólico desta reflexão diz respeito à diminuição da paciência do eleitor. Outrora, levava um ano para que ele se decepcionasse com o candidato eleito. Antes, o eleitor garantia um salvo-conduto maior, esperava ações para julgar o governante. Após a eleição de 2016, este marco temporal foi para um semestre e, atualmente, está em um trimestre. Inclusive, o mesmo fenômeno ocorre com o governador Eduardo Leite.
Esse comportamento pragmático do eleitor é mais emocional do que racional e se baseia em percepções. Quando pensa em política, ele vive uma constante dicotomia de sentimentos: deposita esperança em um candidato e se frustra ao pressentir que o mesmo não tem condições de executar o que prometeu.
Mesmo quem não votou em Bolsonaro reconheceu seu discurso em prol da moralidade política e segurança pública. Para resgatar sua popularidade, o presidente terá que mostrar resultados nestas duas áreas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.