Uma homenagem no dia das mães
No dia das mães — mas poderia ser em qualquer outro dia — ouso trazer uma simples recordação, que provavelmente fez toda a diferença em minha vida a partir do comportamento da Dona Laura: sua atitude controladora, tuteladora, quase censória, ao ler os boletins mensais que trazíamos (eu e meu irmão, um ano e meio mais velho) da boa escola primária pública que frequentávamos, dos sete aos onze anos do ciclo inicial de ensino.
Ela era de “poucas luzes” para me instruir nos arcanos da língua ou da aritmética — pois como meu pai, simples motorista, não tinha completado a escola primária, por necessidade de trabalhar desde a infância, e, já casada, lavava roupas “para fora”, para ajudar na pouca renda da casa —, mas ela sabia distinguir entre as notas altas (90 ou 100) das baixas (de 70 para baixo), e estava ali para cobrar melhores notas: eu sempre fui melhor em história e geografia do que em aritmética, daí ter ido para o “Clássico” e não para o “Científico”, quando chegou a hora do “colégio”, a segunda parte do secundário, depois da terrível “Admissão” e do ginasial (onde também tive a sorte de entrar na primeira turma do Vocacional Oswaldo Aranha, em homenagem ao grande estadista, então recentemente falecido).
Essa foi a função mais importante da Dona Laura em minha vida: controlar meus resultados escolares do primeiro ciclo, mesmo sem poder ser a “professora no lar” que muitas outras crianças tiveram. E não reclamava muito — só chamava a atenção para a conta da eletricidade — quando eu deixava a luz acesa noite adentro, para ler na cama os livros que trazia da Biblioteca Pública Infantil Anne Frank, ali do bairro.
Esta homenagem eu tinha de lhe prestar, algum dia. Está feita. Grato por me colocar no caminho dos estudos e das leituras, mesmo não tendo tido a chance e a oportunidade de sequer completar o primário. Valeu a atitude. Ela fez toda a diferença em minha vida.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 10/05/2020
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