Uma nação à deriva
Paulo Roberto de Almeida
Pintura de Rembrandt, por especial deferência do Guillermo Piernes.Inacreditável o que acabo de ler no noticiário do dia: o Congresso quer aprovar imediatamente o Orçamento de 2022 para começar a gastar logo no início do ano as verbas aprovadas. O que eles estão programando CONTRA NÓS?
Aumento das emendas parlamentares de 7 para 16 bilhões, o maior aumento do Fundo Eleitoral de 2 para 5 bilhões (além da volta da propaganda “gratuita” em rádio e TV), e vários outros aumentos em seu favor.
E como fazer isso?
Ora, reduzindo as verbas dos ministérios e até gastos obrigatórios (constitucionais) como previdência e aposentadorias.
Ou seja, o ESTUPRO orçamentário continua de forma “legal”, e até mesmo “constitucionalizada”, por meio do CALOTE nas dívidas já judicializadas e, portanto, OBRIGATÓRIAS.
O Brasil penetra numa terra de ninguém sancionada pelo estamento político patrimonialista e altamente CORRUPTO, da qual não se sabe quando sairá, talvez apenas ao cabo de uma longa e penosa DECADÊNCIA!
Tudo isso às claras, aos olhos da cidadania ESTUPEFATA, e às vistas de elites econômicas absolutamente INERMES, e também de lideranças militares oportunistas (pois que obtidas por meio de ganhos exclusivos e vantagens pecuniárias ao longo dos últimos três anos), e que se mostraram CASTRADAS no seu senso de responsabilidade para com a nação.
O cenário que se desenha é praticamente o de uma ANOMIA governamental, dado o grau de inépcia total do dirigente máximo, que não dirige absolutamente NADA, pois está no modo SOBREVIVÊNCIA, sendo comandado como um autômato por líderes políticos totalmente comprometidos com o processo de EXTORSÃO que conduzem CONTRA A NAÇÃO!
Confesso minha revolta contra o espetáculo DEPRIMENTE a que assisto, totalmente consciente sobre o que isso significa de atraso IRREMEDIÁVEL para a vida da nação nesta, e talvez na próxima geração, sabendo que a ÚNICA arma de que disponho é este protesto solitário que só alcança os poucos leitores que por acaso me leem.
E volto a me dar conta dos registros recentes que falam de DEZENAS DE MILHARES de brasileiros detidos na fronteira dos EUA e talvez de milhares de outros detentores de capital e de capacidade que estão se expatriando legalmente de um país que já não mais oferece segurança de um futuro decente para eles e para seus filhos.
O Brasil é um país SEM FUTURO?
É o que pretendo tratar no meu próximo “clássico revisitado”, uma reescritura de um dos livros menos felizes de Stefan Zweig, 80 anos depois de seu suicídio, deprimido que estava por um outro “suicídio”, o da sua Europa, do Mundo de Ontem, as memórias que ele terminou de escrever no seu refúgio de Petrópolis.
Colocou o ponto final, escreveu uma Declaração e se despediu dos amigos e da vida. Morte no “paraíso”, como escreveu Alberto Dines na sua genial biografia.
Não corro esse risco, mas o que vejo é uma nação cometendo suicídio consigo mesma.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 12/12/2021
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