quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

China: o novo Império faz exigências ao Brasil - Ricardo Della Coletta (FSP)

 E elas serão cunpridas por Lula…

China envia recado ao Brasil e diz querer prioridade em viagem de chanceler à Ásia

Diplomata chinês afirma a embaixador brasileiro considerar oportuno que Mauro Vieira visite Pequim antes de ir à Índia

FSP, 24.jan.2023 às 23h15
Ricardo Della Coletta

BRASÍLIA - A China enviou um recado ao Itamaraty e disse esperar que o chanceler Mauro Vieira priorize Pequim em uma viagem à Ásia agendada para março.

Em meados de janeiro, o embaixador do Brasil em Pequim, Marcos Galvão, teve uma reunião no Ministério das Relações Exteriores local. Nela, o diplomata encarregado de temas relacionados ao Brasil disse a Galvão ter sido informado que Vieira planeja uma viagem à Índia em março, numa reunião de ministros do G20, e que a primeira passagem do chanceler pela China poderia ocorrer no mesmo contexto.

Em seguida, de acordo com relatos feitos à Folha, o diplomata disse considerar importante que Vieira passe primeiro por Pequim —e só depois vá à Índia.
 
Membros do governo que acompanham o tema disseram, sob condição de anonimato, entender que a mensagem foi uma sinalização de que a China espera um gesto simbólico do Itamaraty no sentido de mostrar que Pequim é o parceiro prioritário do Brasil no continente asiático.

O tema é especialmente sensível, uma vez que China e Índia, ainda que integrem o Brics (bloco com Brasil, Rússia e África do Sul), são rivais regionais e têm um histórico de escaramuças em pontos da fronteira. Déli ainda faz parte de uma aliança para se contrapor à influência de Pequim no Indo-Pacífico, o Quad, ao lado de EUA, Japão e Austrália.

A rivalidade se dá também no campo diplomático. Em 2020, em uma cúpula do Brics, os chineses agiram para que fosse suprimido de um documento oficial trecho sobre o apoio dado por Pequim e Moscou às aspirações dos demais membros para desempenhar "papéis mais relevantes na ONU" —referência ao pleito de Brasil e Índia pela ampliação do Conselho de Segurança da ONU, do qual China e Rússia são membros permanentes.

Na reunião, o gigante asiático se aproveitou da falta de interesse na reforma do colegiado por parte do então presidente Jair Bolsonaro (PL) para reforçar sua posição, num recado principalmente contra a possibilidade de a Índia ganhar um assento permanente.

Procurado, o Itamaraty disse que há uma visita prevista do chanceler Mauro Vieira à Índia nos dias 1º e 2 de março, por ocasião de reunião ministerial do G20. A eventual passagem pela China depende de questões de agenda de ambos os lados e ainda está em avaliação.

Segundo relataram à Folha pessoas com conhecimento do assunto, Galvão também tratou, na reunião na chancelaria chinesa, da ida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Pequim. Ele ouviu que o regime de Xi Jinping espera receber o petista o quanto antes e que a visita é considerada prioritária pelo país.

No último dia 18, Lula disse que pretende viajar à China em março. O presidente cumpre nesta semana sua primeira agenda internacional, com passagens pela Argentina —onde se encontrou com o homólogo Alberto Fernández e participou da cúpula da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos)— e pelo Uruguai. Em 10 de fevereiro o petista embarca para Washington (EUA), a convite do presidente Joe Biden.

A retomada das relações com a China, principal parceiro comercial do Brasil, é um dos pontos prioritários da política externa agora comandada por Vieira. O maior desafio é encontrar um ponto de equilíbrio em meio ao atual conflito geopolítico protagonizado por Pequim e Washington.

À Folha o chanceler brasileiro disse que o país pretende se guiar pelo interesse nacional. "O que for de interesse nacional será feito, de um lado ou de outro. Não são coisas conflitantes, não vamos deixar de ter uma relação estratégica importantíssima com a China por qualquer outro motivo", disse. "Os EUA foram durante um século o principal parceiro comercial do Brasil. Em 2010, passou a ser a China. Não podemos deixar de conversar e ter relações com nosso maior parceiro, com o qual nós temos um enorme superávit. Da mesma forma com os EUA, que estão no centro de poder mundial."

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