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quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Agonia e morte do Mercosul? - Paulo Roberto de Almeida

Agonia e morte do Mercosul?

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre os impasses atuais do processo de integração.

 

O que era para ser um projeto de abertura econômica e de liberalização comercial, com vistas a lograr a integração regional, sob a égide de instrumentos como o Tratado bilateral de integração econômica Brasil-Argentina (1988), a Ata de Buenos Aires (1990) e o Tratado quadrilateral de Assunção (1991) para a criação de um mercado comum, Mercosul, entre os quatro do Cone Sul, acabou sendo desviado de seus objetivos originais, por considerações políticas regressivas, protecionistas e introspectivas, desde o início dos anos 2000, com a chegada ao poder de Lula no Brasil e de Kirchner na Argentina, em 2003.

A partir daí foi uma marcha ladeira abaixo, onde tudo o que importava eram gestos de mero efeito político, sem qualquer avanço real no terreno econômico-comercial. Já em 2006, o líder fascista-bolivariano Hugo Chávez batia às portas do Mercosul, mas a Venezuela nunca cumpriu qualquer requisito técnico para integrar de verdade esse bloco. Acabou sendo admitida ilegalmente e irregularmente pelas duas presidentes da Argentina, Cristina Kirchner, e do Brasil, Dilma Rousseff, por ocasião da suspensão, também ilegal, do Paraguai, na cúpula a três de Mendoza, em 2012. Continuou não cumprindo os requisitos necessários para integrar a união aduaneira imperfeita do Mercosul, e por isso foi suspensa do bloco em 2017, não porque tenha infringido a débil “cláusula democrática” do bloco, como jornalistas mal informados equivocadamente repetem.

O bolsonarismo representou um golpe muito duro para os projetos brasileiros da área externa, não só para o Mercosul. O ministro da Economia do capitão incompetente também era um perfeito ignorante em matéria de políticas comerciais, e deixou avançar a deterioração do bloco comercial. Uma nova politização do Mercosul sob Lula 3, que sempre visou ilusões diferentes do lado das autocracias antiocidentais, assim como um ultraliberalismo ingênuo do lado argentino terminaram por inviabilizar completamente o projeto de mercado comum, ou sequer o mais modesto de uma união aduaneira parcial.

Para todos os efeitos políticos, o Mercosul já não é mais um bloco coeso, se alguma vez o foi. 

Argentina desandou bem antes de Milei, e o Brasil de Lula 3 optou decisivamente pelo Brics dominado pelas duas autocracias antiocidentais e seu tresloucado projeto de uma “nova ordem global multipolar”, supostamente mais “democrática” do que o bloco ocidental da UE e da Otan.

Sobraram de sensatos, no Mercosul, os dois menores. Que tenham sorte na política e no comércio mundial. 

É o fim de uma boa ideia!

RIP Mercosul

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4714, 1 agosto 2024, 2 p.


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