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segunda-feira, 30 de novembro de 2020

O Brasil e a agenda econômica internacional: 2015-2018 - Paulo Roberto de Almeida

 Revisando alguns trabalhos anteriores que possam ainda apresentar alguma validade nos tempos atuais. Não sei se progredimos em algo, ou se tudo permaneceu mais ou menos parado...

A versão mais recente, de meados de 2018, está aqui: 

3279. “O Brasil e a agenda econômica internacional: uma revisão 3 anos depois (abril de 2015)”, Brasília, 1 junho 2018, 30 p. Disponibilizado em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/36757538/O_Brasil_e_a_agenda_economica_internacional_uma_revisao_3_anos_depois_abril_de_2015) e divulgado no blog Diplomatizzando (https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/06/o-brasil-e-agenda-economica.html).

Vou tentar atualizar esses trabalhos para a fase atual.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 30 de novembro de 2020


2807. “O Brasil e a agenda econômica internacional, 1: como se apresenta o cenário econômico internacional da atualidade?”, Hartford, 6 abril 2015, 4 p. Análise da situação econômica atual do mundo, em preparação para a discussão da posição e dos desafios para o Brasil. Mundorama (15/04/2015). Academia.edu (link: https://www.academia.edu/12159703/2807_O_Brasil_e_a_agenda_economica_internacional_1_como_se_apresenta_o_cenario_economico_internacional_da_atualidade). Republicado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2015/04/o-brasil-e-agenda-economica.html). Relação de Publicados n. 1172.


2808. “O Brasil e a agenda econômica internacional, 2: como o Brasil se insere no cenário mundial, agora e no futuro próximo?”, Hartford, 10 abril 2015, 6 p.; revisto em 15/04/2015. Continuidade da série, tratando das questões internas ao Brasil. Mundorama (22/04/2015). Republicado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2015/04/o-brasil-e-agenda-economica_22.html). Academia.edu (link: https://www.academia.edu/12159816/2808_Como_o_Brasil_se_insere_no_cenario_mundial_agora_e_no_futuro_proximo). Relação de Publicados n. 1175.


2814. “O Brasil e a agenda econômica internacional, 3: como e qual seria uma (ou a) agenda ideal para o Brasil?”, Hartford, 18 abril 2015, 7 p. Continuidade da série, no seguimento dos trabalhos 2807 e 2808, tratando de uma possível agenda de reformas internas e de novas posturas externas para fazer o Brasil se inserir na globalização. Mundorama (29/04/2015). Republicado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2015/04/o-brasil-e-agenda-economica_29.html). Academia.edu (link: https://www.academia.edu/12159844/2814_Como_e_qual_seria_uma_ou_a_agenda_ideal_para_o_Brasil_2015_). Relação de Publicados n. 1176.


2815. “O Brasil e a agenda econômica internacional, 4: o que o Brasil deveria fazer para maximizar a “sua” agenda?”, Hartford, 19 abril 2015, 11 p. Continuidade, e fim, da série de artigos sobre a agenda de reformas internas. Mundorama (06/05/2015). Republicado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2015/05/o-brasil-e-agenda-economica.html). Relação de Publicados n. 1177.


3279. “O Brasil e a agenda econômica internacional: uma revisão 3 anos depois (abril de 2015)”, Brasília, 1 junho 2018, 30 p. Junção de quatro artigos escritos em abril de 2015 (sob os números 2807, 2808, 2814 e 2815), publicados em Mundorama tratando dos temas seguintes: 1. Como se apresenta o cenário econômico internacional da atualidade? (15/04/2015); 2: como o Brasil se insere no cenário mundial, agora e no futuro próximo? (22/04/2015); 3: como e qual seria uma (ou a) agenda ideal para o Brasil? (29/04/2015) e 4: o que o Brasil deveria fazer para maximizar a “sua” agenda? (06/05/2015), unificados em um bloco sequencial, disponibilizado em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/36757538/O_Brasil_e_a_agenda_economica_internacional_uma_revisao_3_anos_depois_abril_de_2015) e divulgado no blog Diplomatizzando (https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/06/o-brasil-e-agenda-economica.html). 


Pode ser complementado por este trabalho intermediário: 


3096. “O que esperar de 2017: economia e política internacional”, Brasília, 20 março 2017, 14 p. Notas para participação em seminário na Assembleia Legislativa do RS, em 23/03/2017. Postado no mesmo dia em Mundorama (21/03/2017) e no Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/03/o-que-esperar-de-2017-economia-e.html).


quarta-feira, 25 de novembro de 2020

India e Brasil: unidos no protecionismo e no mercantilismo: fora do RCEP economia da India vai diminuir no mundo

 A Índia e o Brasil sempre foram parceiras na rejeição de todas as propostas de abertura comercial feitas ao longo dos anos no Gatt e na OMC, e sempre lideraram os outros países em desenvolvimento para se oporem a quaisquer medidas de liberalização comercial ou de investimentos, sendo ainda ferozmente opostos à inclusão de serviços, de investimentos e de propriedade intelectual no sistema multilateral de comércio. Tanta obsessão no "anti-comercialismo" – como diria nosso patético chanceler – tem um preço: a despeito de serem ambas grandes economias – pelo tamanho do país e da população – são anões comerciais, com uma participação medíocre nos grandes fluxos. Isso apesar de que é o setor externo que garante boa parte do crescimento nas duas economias.

Paulo Roberto de Almeida


India’s rejection of RCEP and free trade will make it poorer and less relevant

The Regional Comprehensive Economic Partnership was an opportunity to recapture India’s success through economic liberalization. India now finds itself isolated and has compromised its influence in a region where economic integration has become a top priority for most countries

Mohamed Zeeshan

South China Morning Post, Hong Kong – 24.11.2020

 

A day after the  Regional Comprehensive Economic Partnershipm(RCEP) agreement was concluded in India’s absence, Indian Minister of External Affairs Subrahmanyam Jaishankar launched a scathing attack on trade and globalisation.

“In the name of openness, we have allowed subsidised products and unfair production advantages from abroad to prevail,” he said, asserting that the Indian government had decided to move away from trading arrangements in pursuit of an Atmanirbhar Bharat, or self-reliant India.

“The effect of past trade agreements has been to deindustrialise some sectors,” he said. “The consequences of future ones would lock us into global commitments, many of them not to our advantage.”

Some people might see Jaishankar’s comments as a jibe at China. Indians often complain that the Chinese unfairly subsidise domestic production and then dump their products in the Indian market. Indians also argue that, while China is able to dump its manufactured goods in India, Indian exports in the pharmaceutical and information technology sectors are subject to crippling restrictions by China.

India’s allergy to trade – and the foreign minister’s comments – goes far beyond China, though. For several years, India has struggled to agree on trade liberalisation with myriad partners, from Australia to the European Union and even Sri LankaBetween 2016 and 2020, India introduced the second-highest number of trade restrictions among all Group of 20 economies, according to the Global Trade Alert database.

Despite its obvious geopolitical value, India was kept out of the Obama administration’s Trans-Pacific Partnership (TPP) trade deal. This was in large part because none of the participating countries believed India would agree to its terms.

As a result, despite being the world’s fifth-largest economy, India is not even among the world’s top 10 trading powersThis is all the more bizarre when one realises that trade was a large part of India’s post-liberalisation growth burst in the 1990s.

In 1988, India’s trade accounted for about 13.5 per cent of its GDP and, 10 years later, it was as much as 24 per cent. Service trade more than doubled as a percentage of GDP and, not surprisingly, India’s real GDP increased by nearly 70 per cent in those 10 years.

This was in stark contrast to the dawdling economic progress made under its protectionist import substitution policies through the 1960s and 1970s. In the 1960s, India’s real GDP only increased by about 40 per cent in 10 years. In the following decade, it rose by a little over a quarter.

India needs to pick up the mantle from its days of economic liberalisation once again. Notwithstanding concerns over Chinese imports, the RCEP was a great opportunity to do just that. Despite its size and complexity, the RCEP is, in many ways, a relatively unambitious trade deal.

By one estimate quoted in The Economist, the deal eliminates about 90 per cent of tariffs but only across a period of 20 years after coming into effect. It hardly touches agriculture – one of India’s key political concerns, which drives protectionism. As The Economist pointed out, Japan will maintain high import duties on some “politically sensitive” agricultural products such as rice, wheat, dairy and sugar.

The fact India was not sufficiently confident about its domestic economy to sign up to even such an unambitious deal is worrying and will send the wrong signals to foreign investors.

Worse, Jaishankar’s caustic tirade is likely to undermine India’s already floundering trade negotiations with the rest of the world. Indian diplomats are, for instance, working hard to convince the European Union of New Delhi’s commitment to more openness.

India’s antitrade posture will also have geopolitical costs. Membership in the RCEP would have given India the opportunity to be a balancing power against Chinese hegemony in Asia. Its participation would have been particularly crucial at a time when the United States has been withdrawing from the region, and countries, especially in Southeast Asia, were looking for diverse partnerships.

For these reasons, nations such as Japan were strong advocates for India’s inclusion in the RCEP, even after New Delhi walked out of discussions last year. Now, however, India finds itself isolated and has significantly compromised its influence in a region where economic integration has become a top priority for most.

The RCEP comes amid heightened tensions between China and its neighbours. Yet, the fact that Japan, South Korea and Southeast Asian nations have all been willing to put political troubles aside for the sake of economic ties shows Asia is strongly committed to globalisation.

Meanwhile, even relative to the US, India might now find its antitrade posture out of resonance. As part of his renewed outreach in the Asia-Pacific, US President-elect Joe Biden is likely to consider rejoining the TPP – a deal he championed as vice-president in the Obama administration.

Trade and globalisation are key interests among Asia-Pacific nations. If New Delhi aspires for regional leadership and influence, it has to recognise this and present itself as a willing partner in region-wide economic integration. If it isolates itself through protectionist rhetoric under the guise of self-reliance, it is likely to pay a heavy economic price and will render itself less relevant in Asian geopolitics.

 

Mohamed Zeeshan is editor-in-chief of Freedom Gazette. He has previously worked at the United Nations and his first book, “Flying Blind: India’s Quest for Global Leadership”, will be out soon.


segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Brasil utiliza há mais de 60 anos criptografia de empresa que era controlada pela CIA - André Duchiade (Globo)

 Brasil utiliza há mais de 60 anos criptografia de empresa que era controlada pela CIA, revelam documentos


Registros encontrados por pesquisadores em arquivos brasileiros e americanos mostram que vários órgãos do Estado adquiriram equipamentos da Crypto AG. A última compra conhecida foi para o programa de submarinos convencionais; Marinha afirma que nunca teve motivos para suspeitar da companhia

André Duchiade
O Globo, 22/11/2020

Durante mais de seis décadas, dos anos 1950 a 2018, a empresa de criptografia suíça Crypto AG forneceu a 120 países do mundo aparelhos de comunicação secreta, sem nunca revelar que tinha vínculos com a CIA. Enquanto chefes de Estado, líderes militares e diplomatas trocavam mensagens de alta importância estratégica acreditando estar em sigilo, na verdade eram espionados por agentes americanos e, na maior parte do tempo, por seus parceiros alemães.

A Marinha, o Exército e o Itamaraty estiveram entre os clientes da empresa, mostram documentos inéditos descobertos por pesquisadores brasileiros e repassados ao GLOBO. Começando na década de 1950 e indo pelo menos até dezembro de 2019 — um ano depois de a Crypto AG mudar de mãos — órgãos de Estado do Brasil pagaram por equipamentos e serviços de comunicação secreta de uma empresa que, durante décadas, era na realidade controlada por serviços de inteligência dos Estados Unidos.

Alguns dos produtos da empresa adquiridos pelo Brasil entre 2014 e 2019 têm como propósito equipar os submarinos brasileiros do programa Prosub, atualmente em desenvolvimento. Descrito pela Marinha como “um dos maiores contratos internacionais já feitos pelo Brasil e o maior programa de capacitação industrial e tecnológica na história da indústria da defesa brasileira”, os submarinos podem estar vulneráveis à interceptação americana devido a dispositivos de comunicação propositalmente corrompidos.

‘O golpe do século’
A maioria das denúncias contra a Crypto AG foi publicada em fevereiro deste ano no Washington Post por Greg Miller, correspondente de segurança nacional do jornal, em parceria com a TV alemã ZDF. No texto chamado “O golpe de inteligência do século: por décadas, a CIA leu as comunicações encriptadas de aliados e adversários”, Miller conta como a empresa suíça Crypto Aktiengesellschaft (Crypto AG), a princípio privada, passou para o controle da Agência Central de Inteligência (CIA) e de sua homóloga alemã, o Serviço Federal de Inteligência (BND) .

Baseando-se em um relatório interno da CIA, Miller relata como, começando nos anos 1950, mas sobretudo a partir da década de 1970, estas agências, em parceria com a também americana Agência de Segurança Nacional (NSA), inseriram falhas ocultas nos códigos dos dispositivos para conseguirem ler mensagens criptografadas, ao mesmo tempo em que vendiam os aparelhos mundo afora.

Além de lidas, as mensagens eram frequentemente encaminhadas aos aliados mais próximos dos dois países. “Governos estrangeiros pagavam um bom dinheiro aos EUA e [ao que era então] a Alemanha Ocidental pelo privilégio de ter suas comunicações mais secretas lidas por pelo menos dois (e possivelmente cinco ou seis) países estrangeiros”, diz o documento da CIA. A Alemanha manteve-se sócia da empresa até 1992, quando, com receio de ser descoberta, abandonou a parceria.

As denúncias do Post comprovaram antigas suspeitas contra a Crypto AG. Em 1982, durante a Guerra das Malvinas, a Argentina convenceu-se de que mensagens secretas suas haviam sido decifradas por forças britânicas. Após um executivo da empresa suíça viajar para Buenos Aires, acabou persuadindo os argentinos de que o problema estava em um único equipamento desatualizado — conseguindo esconder que, na verdade, as informações foram entregues a Londres pelo governo Reagan.

Já em 1992, o Irã tomou uma atitude contra a empresa. Após anos de suspeitas, deteve um vendedor da companhia durante 9 meses, até o pagamento de um resgate. O caso levou atenção midiática à Crypto AG, e várias reportagens nos anos seguintes investigaram o seu envolvimento com o governo americano. Uma dessas matérias foi feita em 1995 pelo Baltimore Sun, e expunha parte do envolvimento da Crypto AG com a NSA. Segundo o Washington Post, isso reduziu muito o número de países que faziam negócios com a empresa, que se tornou deficitária.

Esses antecedentes não foram suficiente para impedir o Estado brasileiro de contratar serviços da Crypto AG. Pelo contrário, a Marinha continuou a comprar produtos da empresa a até menos de um ano atrás. Procurada, a força afirmou por escrito anteontem que “a Marinha do Brasil (MB) desconhece, oficialmente, alegações de comprometimento da qualidade ou da segurança dos equipamentos” por ela adquiridos.

A ligação da Crypto AG com o Brasil começou a ser mapeada por Vitelio Brustolin, professor de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador de Harvard, que convidou para ajudá-lo os colegas Dennison de Oliveira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e Alcides Peron, da Universidade de São Paulo (USP). Ao vasculhar arquivos no Brasil e nos EUA, o trio encontrou várias situações em que órgãos brasileiros adquiriram equipamentos da Crypto AG, analisadas em um artigo científico publicado na última semana.

Compras recentes
Os dados mais recentes envolvem a Marinha. Documentos no Portal da Transparência da CGU listam 27 despesas, com valores que chegam a R$ 1.371.826, pagas à Crypto AG entre 2014 e 2019. Nem todos detalham a que se referem os pagamentos, mas alguns especificam terem sido para a compra do dispositivo de criptografia HC-2650, assim como para softwares para o mesmo. Na maior nota, de 2015, o Comando da Marinha adquiriu 10 unidades do aparelho, ao custo de R$ 137.182 cada.

Segundo um anúncio da Crypto AG, o HC-2650 é uma “plataforma de criptografia universal compatível com todas as faixas de frequência (HF, VHF, UHF, SatCom) (...) O flexível HC-2650 é adequado para conexão com todas as redes militares e para tornar todas as redes de rádio seguras (...) Unidades deste tipo continuarão a ser usadas em muitas redes no futuro, porque são criptograficamente, eletricamente e mecanicamente extremamente robustas e oferecem a maior confiabilidade”.

Não se sabe onde todos os aparelhos adquiridos pelo Brasil são empregados nem se outros órgãos de Defesa os utilizam. Sabe-se que um destino dos dispositivos são os submarinos de propulsão convencional em desenvolvimento, que aparecem nominalmente listados em várias notas, incluindo uma de 25 de novembro de 2019, no valor de R$ 113.415,82, para atualização do software que opera no sistema do dispositivo HC-2650.

O Brasil constrói quatro submarinos convencionais. O primeiro deles, o Riachuelo, está no mar desde 2018 e tem o fim dos testes no mar previsto para o mês que vem. O seu sistema de comunicação pode estar corrompido e vulnerável à interceptação estrangeira antes de que ele possa começar a cumprir seu propósito de, segundo a Marinha, “elevar substancialmente a capacidade de resposta eficiente do Poder Naval frente ao enorme desafio de controle e proteção da ‘Amazônia Azul’, que encerra grandes reservas naturais e representa um terço da extensa fronteira do país”.

— Um submarino é uma arma estratégica. Um só submarino oculto cria um perigo para um adversário. Em algum momento, ele precisa se comunicar com a terra, e justamente nessa hora pode ser descoberto— afirmou Brustolin. —Se a sua comunicação pode ser interceptada e decifrada, se saberá o que o submarino irá fazer. Isso compromete toda a funcionalidade estratégica do equipamento.

Operação Condor
Além das descobertas relativas à Marinha, os pesquisadores identificaram o uso pelo governo brasileiro de dispositivos da Crypto AG décadas atrás. Na ditadura militar, de acordo com documentos do arquivo da Agência de Segurança Nacional americana, a NSA, o Brasil chegou a fornecer equipamentos da Crypto AG aos outros países envolvidos na Operação Condor (Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai, com eventual participação de outros países).

“Todos os países pertencentes à organização Condor mantêm comunicações (...). O sistema de criptografia empregado pela Condor é um sistema de máquina manual de origem suíça entregue a todos os países da Condor pelos brasileiros e com a designação CX-52”, diz um documento. Como hoje se sabe que as máquinas sofreram interferência da NSA, os pesquisadores concluem que “isso prova que funcionários do governo americano estavam cientes dos sequestros, tortura e assassinatos realizados pelas ditaduras que participaram da Condor”.

No Arquivo Nacional, também foi descoberto um certificado de importação de 80 máquinas CX-52 e sete Hagelin B-621-b em 1971, adquiridas pelo Itamaraty diretamente da Embaixada da Suíça. Há ainda outros documentos do Itamaraty mencionando criptografia em 1965, 1960 e 1958.

A menção mais antiga foi encontrada no arquivo da NSA e data de 1955. Aponta que, naquele ano, o Exército brasileiro já era cliente da Crypto AG, e tinha interesse em comprar 500 máquinas criptográficas. A empresa não acreditava que uma encomenda tão grande pudesse ser atendida de uma vez. Àquela altura, a Marinha já dispunha de pelo menos 60 equipamentos. Segundo os pesquisadores, há fortes evidências de que a empresa suíça era então a única fornecedora de dispositivos de criptografia ao Brasil. O país planejou começar a importar equipamento americano, mas Washington barrou o plano.

No Arquivo Nacional, também foi descoberto um certificado de importação de 80 máquinas CX-52 e sete Hagelin B-621-b em 1971, adquiridas pelo Itamaraty diretamente da Embaixada da Suíça. Há ainda outros documentos do Itamaraty mencionando criptografia em 1965, 1960 e 1958.

A menção mais antiga foi encontrada no arquivo da NSA e data de 1955. Aponta que, naquele ano, o Exército brasileiro já era cliente da Crypto AG, e tinha interesse em comprar 500 máquinas criptográficas. A empresa não acreditava que uma encomenda tão grande pudesse ser atendida de uma vez. Àquela altura, a Marinha já dispunha de pelo menos 60 equipamentos. Segundo os pesquisadores, há fortes evidências de que a empresa suíça era então a única fornecedora de dispositivos de criptografia ao Brasil. O país planejou começar a importar equipamento americano, mas Washington barrou o plano.

Por fim, a Marinha disse que  “participa do desenvolvimento do RDS (Rádio Definido por Software) em conjunto com as demais Forças Armadas”, projeto que tem como objetivo o desenvolvimento de uma família de equipamentos de rádio. A Força acrescentou que “utiliza softwares e algoritmos próprios para a proteção de dados sigilosos”, sem especificar quais. O Ministério da Defesa não especificou se as outras Armas ainda são clientes da Crypto AG, mas disse que “as Forças Armadas zelam pela segurança das informações, tratando o assunto com todos os cuidados necessários”.

Em 2014, a Crypto AG “fortaleceu a sua presença na América Latina” com a abertura de um escritório na Barra da Tijuca, no Rio. Em 2015, ele era o único no Hemisfério Ocidental além de Zurique, e um dos únicos cinco do mundo. Não está claro até quando esta sede funcionou.

Em 2018, após ter sido deficitária por anos, a empresa foi desmembrada. As contas internacionais foram vendidas para Andrew Linde, um empresário sueco, que afirmou ao Washington Post que desconhecia os acionistas da Crypto AG — que nunca vieram a público — quando a adquiriu. O atual nome operacional da empresa é Crypto International AG, e é ela que oferece os produtos que eram do portfólio da Crypto AG.

No site da empresa, há uma advertência de que “a empresa foi fundada em 2018 e tem um proprietário diferente, uma administração diferente e uma abordagem diferente em comparação à Crypto AG (...) Nunca houve qualquer afirmação de que um equipamento vendido pela Crypto International AG foi manipulado”. Procurada pela reportagem, a empresa confirmou vender a plataforma HC-2650, adquirida pela Marinha, mas disse que não cita os seus clientes.

História e 5G
De acordo com os pesquisadores, as descobertas levantam questionamentos sobre episódios históricos e também sobre a segurança nacional no presente. Dennison de Oliveira se pergunta, por exemplo, se EUA e Alemanha espionavam a comunicação sigilosa brasileira em 1975, época do acordo nuclear com a Alemanha. O Brasil negociava com os dois países e, após enfrentar jogo duro americano, assinou um pacto com os alemães. Oliveira suspeita que “houve um conluio entre os dois países, a par de tudo o que acontecia do lado brasileiro, para empurrar um acordo péssimo”.

— Mas o programa nuclear é só um exemplo. A Operação Condor, comunicações relativas à Petrobras, à Embraer, ou a praticamente qualquer área da construção do Estado nacional, podem ter sido decisivamente impactadas pela espionagem eletrônica da Crypto.

Os pesquisadores se perguntam por que o Brasil foi um dos poucos países a continuar a comprar da companhia, após amplas denúncias públicas e ela ter sido deixada de lado por vários países. Brustolin afirma que a melhor alternativa do ponto de vista estratégico é uma tecnologia de criptografia produzida pelo Estado. Ele cita um centro de criptografia dentro da Abin, e diz que o seu desenvolvimento é viável.

O pesquisador aponta também uma consequência atual: os EUA pressionam o Brasil a não adotar a tecnologia 5G chinesa, acusando Pequim de adulterar os seus equipamentos para permitir espionagem. Brustolin se pergunta como essas acusações podem ser feitas por Washington, tendo em vista suas práticas de décadas.

— Quando veio ao Brasil, o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA disse que a China adultera tecnologia para espionagem — afirmou. —Eu gostaria de saber se ele continuaria a dizer que a tecnologia de 5G americana é a mais segura. Denunciam muito a China, mas, até hoje, as únicas provas de equipamentos adulterados que temos são dos EUA. O governo brasileiro também precisa responder quais ações estão previstas no leilão para garantir que não haverá espionagem, qual solução oferecerá para esse problema. É importante termos consciência de que essa é uma discussão de soberania.

https://oglobo.globo.com/mundo/brasil-utiliza-ha-mais-de-60-anos-criptografia-de-empresa-que-era-controlada-pela-cia-revelam-documentos-24758960

domingo, 22 de novembro de 2020

O futuro euro e o Brasil: efeitos esperados (1998) - Paulo Roberto de Almeida

Em 1998, às vésperas da fixação das taxas de câmbio dos países candidatos a ingressar na primeira leva do euro – que seria uma moeda fiduciária entre 1999 e 2001, quando seria finalmente introduzida a moeda comum, não única, entre os países habilitados –, eu elaborei um texto sobre o impacto do euro para a economia brasileira, com destaque para as áreas de comércio, investimentos, finanças, reservas e no sistema monetário internacional. Posso dizer que eu estava bastante otimista quanto às chances dessa moeda representar uma mini-revolução no sistema monetário internacional, algo que não se confirmou no seguimento.

Paulo Roberto de Almeida

 O futuro euro e o Brasil: efeitos esperados

 

Paulo Roberto de Almeida 

[nota de comentários pessoais; não reflete eventuais

opiniões ou posições da área financeira governamental]

Brasília, 5 março 1998

Publicado na Carta de Conjuntura do CORECON-DF (Brasília: ano 12, nº 56, março/abril de 1998, p. 18-19). Relação de Publicados nº 216.

 

 

A introdução do euro como meio circulante, a partir de 2001, representará, para a Europa continental, a conformação definitiva do mercado unificado prometido pelo Ato Único de 1986 e pelos acordos de Maastricht sobre a união monetária. A nova moeda terá efeitos diversos, de grande amplitude econômica, nas áreas de comércio de bens e serviços, de fluxos de investimentos (de risco e de portfólio), dos mercados financeiros (isto é, empréstimos e créditos), das reservas em divisas dos países extra-europeus e, também, no âmbito do sistema monetário internacional, o que está evidentemente vinculado ao poder econômico da União Européia.

Um rápido sumário sobre seus reflexos para o Brasil evidencia um conjunto de efeitos progressivos, todos eminentemente positivos para o País enquanto: (a) global trader, (b) captador de investimentos, (c) receptor de créditos, (d) detentor de reservas e (e) país interessado numa reforma realista do atual sistema financeiro internacional, mas dispondo de reduzido poder de influência sobre seus mecanismos de funcionamento ou de mudança.

Do ponto de vista do intercâmbio, nas duas direções, o euro vai significar uma redução substancial dos custos em transações correntes, pois que a unificação efetiva do mercado representará maior fluidez das correntes existentes e potenciais de comércio, facilitando o rápido transbordo de mercadorias brasileiras em todos os países aderentes ao euro e nos que o utilizarem como moeda de referência (toda a mittelEuropa, as zonas bálticas e mediterrâneas e mesmo escandinavas e britânicas). O comércio será apenas e simplesmente comércio, e não mais custosas operações de câmbio e perdas significativas em comissões para exchange-dealers (mon taux de chômage!).

No que se refere aos fluxos de investimento direto, os efeitos serão ainda mais impressionantes, pois que não apenas as empresas e os bancos europeus se fortalecerão nos mercados globais, como disporão de maior volume de recursos — aritmética da soma das poupanças nacionais e das pequenas sobras marginais, antes atomizadas em mercados segmentados — para aplicações de risco nas economias intra- e extra-européias. A Europa liberará enormes somas de dinheiro, numa única denominação, retomando a posição privilegiada que ela tinha no século XIX como principal exportador líquido de capitais para os países emergentes (vivent les rentiers!).

Do ponto de vista dos mercados financeiros, os mesmos efeitos acima descritos potencializarão o papel histórico que ela tinha no século XIX como world’s banker, pois que uma fonte uniforme de créditos produzirá muito maior volume de recursos do que a soma dos mercados financeiros nacionais. Os custos de captação serão sensivelmente reduzidos, bem como, no caso dos empréstimos syndicated, os encargos adicionais derivados da mobilização de diferentes denominações, que simplesmente desaparecerão. Será como se abastecer num grande shopping center, em lugar de percorrer sucessivas quitandas ou empórios “financeiros”. A concorrência da oferta atuará também para reduzir taxas de juros e eventualmente até os prêmios de risco. As autoridades brasileiras fizeram bem, aliás, em lançar desde já bonus governamentais denominados em euro: é a moeda do futuro.

O Brasil também encontrará vantagens financeiras e de simples contabilidade em converter, desde o início, uma parte de suas reservas — digamos de 25 a 30% — em euro, uma moeda mais estável que o dólar e supostamente menos suscetível de sofrer ataques especulativos, pois que sustentada por um banco central autônomo e independente, comprometido unicamente com sua estabilidade e seu poder de compra, sem a obrigação de responder a autoridades monetárias nacionais, mais sensíveis às questões sociais ou dotadas de maior permissividade orçamentária. A contrapartida é a menor rentabilidade ou a própria heterogeneidade contábil — algo como sair do padrão-ouro da belle époque para o bimetalismo pré-1871 —, mas esse tipo de desconforto é menos nocivo do que a instabilidade cambial. A chancelaria brasileira trabalhou em libras de 1822 a 1931, adotando então o dólar; talvez ela passe a trabalhar em euro a partir de 2010, o mais tardar.

Finalmente, e aqui entra um elemento de diplomacia financeira, o euro será talvez a grande chance de realizar, no século XXI, a grande reforma do sistema financeiro internacional que se requer desde o desmantelamento dos esquemas de Bretton Woods em 1971. Com efeito, não apenas se terá de rever a composição do SDR/DES — hoje baseado num coquetel das cinco principais moedas, das quais duas, e talvez três, desaparecerão —, como as novas paridades implicarão igualmente numa redefinição política do poder intrínseco a elas associado no board das “sisters in the woods”, em especial no FMI. A Itália tem uma certa razão ao pedir uma “representação européia” no CSNU, mas o que não se prevê é que essa unificação do poder político — e liberação de “vagas” adicionais para “emergentes” — talvez se dê antes no terreno econômico, com a assunção, pelo IME/BCE, de um mandato amplo de representação européia nas IFIs. É um admirável mundo novo!

 

[Brasília, PRA/606: 04/03/1998]

Mini-reflexão sobre o declínio moral do Brasil - Paulo Roberto de Almeida

Mini-reflexão sobre o declínio moral do Brasil

 

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

[Objetivoconstatações sobre o declínio brasileirofinalidadeaprofundar o diagnóstico]

 

 

Quando, em determinados países, supremos mandatários não cumprem requisitos mínimos de moralidade e impessoalidade no cargo, a cidadania tem o direito de escorraçá-los do poder.

Esta é a base da Declaração da independência americana: as treze colônias decretaram sua separação da coroa britânica basicamente por abuso de poder. Cansaram-se do dirigente e lhe disseram adeus, tendo de pegar em armas para assegurar esse direito.

E quando é a própria cidadania que não cumpre esses requisitos mínimos de respeito à moralidade pública? 

O que fazer?

Isso tem a ver, também, com o coração do regime democrático. A legitimidade da governança.

Não é possível “aposentar” um povo, ou pelo menos metade dele, simplesmente porque apoia a imoralidade no cargo.

 

Nos EUA, Donald Trump não chegou a isso, mas teve a seu favor quase a metade da população, ainda que nem todos concordassem com ele: ali foi um caso extremo de sectarismo partidário, que se aproximou da miopia política, ou da tolerância com a desfaçatez e a falcatrua. 

No Brasil, o capitão tem muito menos do que isso, e acredito mesmo que se trata apenas de uma minoria — maximizada artificialmente pelas redes sociais — que o segue na sua imoralidade, por fanatismo, por desinformação ou talvez mesmo por tolerância com o crime, não considerando a questão mais problemática da intolerância com a esquerda em geral, com a esquerda corrupta em especial, que foi, digamos, circunstancial. Existem governos de esquerda, ou social democráticos, que conseguem ser razoavelmente morais: talvez o Uruguai, a Nova Zelândia, a Suécia. Não foi o caso no Brasil.

 

Mas, no caso do Brasil, o problema é que a imoralidade e a conivência com o crime estão presentes nos círculos do poder, nos estratos dirigentes, nas classes dominantes, entre integrantes da corporação que deveria justamente zelar pela justiça, inclusive entre cidadãos perfeitamente de direita, ou conservadores, já que a esquerda se revelou basicamente corrupta. Existem exceções nesse leque, mas são trânsfugas, uma minoria, poucos altamente vocais.

Quando isso ocorre, não parece haver qualquer perspectiva de solução razoável aos grandes problemas do Brasil no horizonte de uma geração, isto se a imoralidade e a corrupção se revelarem passageiras, digamos uma fase transitória em nosso longo, demorado e penoso itinerário para a democracia cidadã (universal, não restrita como na Grécia antiga, ou segregada, como em grande parte da história dos EUA, supostamente a maior democracia do mundo).

É o que parece estar ocorrendo atualmente no Brasil: uma democracia restrita, de baixíssima qualidade, com corrupção e imoralidade dominantes, se não crescentes.

 

Confesso meu desalento. Não esperava que nossas supostas elites dirigentes fossem tão inconscientes, tão corruptas, tão dispostas a se venderem ao pior demagogo no poder.

A tragédia é ainda pior por se tratar da personalidade mais medíocre e perversa conhecida em toda a história do Brasil.

Como fomos descer tão baixo na escala civilizatória?

Considero que a dissidência, o direito de divergir, a recusa de determinadas decisões “legais” (mas ilegítimas em sua essência) estejam no cerne de um regime democrático. A rebeldia, mesmo isolada, é um direito do cidadão, desde que não atentatória às instituições que garantem o essencial da funcionalidade de um Estado normal. 

Mas não tenho certeza de que o Brasil constitua ainda, se é que algum dia o foi, um “Estado normal”. No Império, apesar do parlamentarismo de fachada — que considero um regime político superior ao presidencialista — nunca foi um Estado normal: era apenas uma aristocracia escravocrata, que ainda não acabou em espírito, se é que o fez na prática.

 

Vou usar desse meu direito para declarar-me em ruptura não apenas com o governo atual do Brasil, mas também com seus estratos dirigentes, ou quase todos eles: políticos, membros das altas esferas do Judiciário, corporações do Estado, civis e militares, “classes produtoras” (como se dizia antigamente, mas elas só incluíam os patrões, não os trabalhadores), enfim, todos aqueles que detêm uma parcela mínima de poder, e que se mostram indiferentes ao imenso teatro de imoralidades que flui dos mais altos círculos do poder.

Se a condição oficial de dissidente comprovado não me é reconhecida, resta-me ser um apátrida virtual em meu próprio país.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3797, 22 de novembro de 2020

 

 

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

RCEP: como o mega-acordo comercial do Pacífico pode afetar o Brasil - Revista Exame

 Como o “maior acordo comercial do mundo” fechado pela China afeta o Brasil

A China e 14 países do Pacífico fecharam nesta semana um mega-acordo comercial que engloba um terço do PIB global. Como ficam o Brasil e a América Latina?
Por Carolina Riveira
Exame, 17/11/2020 às 14h10
https://exame.com/mundo/como-o-maior-acordo-comercial-do-mundo-fechado-pela-china-afeta-o-brasil/

A China e outros 14 países da região do Pacífico asiático fecharam neste domingo, 15, o que é até agora o maior acordo comercial do mundo. O acordo de livre comércio foi batizado de Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP na sigla em inglês). O bloco comercial abrange um mercado de 2,2 bilhões de pessoas e 26 trilhões de dólares, ou um terço do PIB global.

Ainda deve demorar anos para que a aliança altere amplamente o comércio global, e parte dos signatários também já tinha acordos entre si. Mas o simbolismo do tratado é grande, sobretudo na guerra comercial entre Estados Unidos e China.

O Peterson Institute for International Economics (PIIE), nos EUA, estimou em relatório de junho (e com números de antes da covid-19), que o acordo aumentaria o comércio entre os membros em até 428 bilhões de dólares em 2030. Do outro lado, reduziria o comércio em até 48 bilhões de dólares para os não-membros. Em cenário de guerra comercial, o RCEP se torna “especialmente valioso” e “fortalece a independência do Leste Asiático”, escrevem os economistas do PIIE.

Para o Brasil, do qual a China é a maior parceira comercial, qualquer movimentação na Ásia é sinal de atenção, diz o professor Luís Antonio Paulino, do Departamento de Ciências Políticas e Econômicas da Unesp. Mas, a princípio, a maior integração entre a China e os vizinhos não afete as exportações tradicionais e pode até beneficiar indiretamente o Brasil diante do aumento do comércio global. 

Até outubro, a Ásia comprou quase metade das exportações brasileiras, ou 84 bilhões de dólares, em demanda liderada pela China.

“Os principais produtos que exportamos são commodities minerais e agrícolas, cujas exportações não serão afetadas por esse acordo”, diz Paulino. “Mas esse amplo acordo regional de comércio tende a reforçar as cadeias regionais de suprimento da Ásia, o que pode dificultar, em perspectiva futura, o desejo do Brasil de diversificar sua pauta de exportação”.

O acordo agora inclui não só os tradicionais aliados chineses (10 países já faziam parte do ASEAN, acordo asiático liderado pela China), mas países até então fora da órbita direta de influência da China e grandes parceiros americanos, como Austrália, Coreia do Sul, Nova Zelândia e Japão. A Índia, outro país importante na região e o segundo mais populoso do mundo, saiu das negociações antes do fim. 

“Estados Unidos, China e América Latina formam um triângulo no qual mudanças nas relações entre dois dos vértices necessariamente afetarão o terceiro”

Luís Antonio Paulino, professor da Unesp e especialista em economia global

A forma como o acordo pode impactar as relações entre China e EUA, em plena guerra comercial, também afeta o Brasil, que fica no meio da disputa geopolítica.

Para o ano que vem, Paulino aponta que temas como o leilão do 5G (e a exclusão ou não da Huawei pelo Brasil) e a relação brasileira com o presidente americano eleito, Joe Biden, serão cruciais para o papel do Brasil na disputa entre as duas potências. Veja abaixo os principais trechos da entrevista.

EXAME — A China é a maior compradora dos produtos do Brasil e de vários países da América Latina. Esse acordo, agora abrangendo países como Austrália, Japão e Coreia do Sul, impacta de alguma forma as exportações brasileiras, ou são alvos diferentes? 

Professor Luís Paulino — Não creio que haverá impactos, pelo menos a curto prazo e médio prazo. De janeiro a setembro de 2020 os principais produtos exportados para a Ásia foram: soja, minério de ferro, petróleo, carne congelada bovina, pastas químicas de madeira, açúcar e carnes e miudezas de aves. Nenhum desses produtos enfrenta concorrência local que poderia ser afetada por esse acordo.

É preciso levar em conta, contudo, que assistimos hoje, em grande parte devido aos efeitos econômicos da pandemia da covid-19, uma tendência ao encurtamento e regionalização das cadeias globais e suprimentos. Nesse sentido esse amplo acordo regional de comércio tende a reforçar as cadeias regionais de suprimento da Ásia, o que pode dificultar, em perspectiva futura, o desejo do Brasil de diversificar sua pauta de exportação para a região, incluindo produtos industrializados de maior valor agregado.

O acordo firmado ainda vai demorar um tempo até que efetivamente traga mudanças, e muitos dos países envolvidos já tinham acordos bilaterais ou multilaterais entre si. Nesse sentido, podemos afirmar que o impacto por ora é mais simbólico do que econômico?

Não creio que será apenas simbólico. Haverá efeitos reais, que poderão afetar os interesses sobretudo dos Estados Unidos e União Europeia na região. As cadeias globais de suprimento tendem a se estabelecer em áreas de livre comércio. Quanto maior a integração comercial entre os países da Ásia mais as cadeias globais de suprimentos centradas na China, Japão e Coreia do Sul tenderão a se regionalizar, em prejuízo de fornecedores de fora da área, cujas exportações podem estar sujeitas a tarifas de importação mais elevadas.

No caso específico do RCEP, serão eliminadas tarifas sobre 91% das mercadorias comercializadas entre os membros. No caso do Japão, por exemplo, o número de produtos não tarifados enviados para a Coreia do Sul aumentará de 19% para 92% e para a China de 8% para 86%. A indústria automobilista japonesa deverá ter grandes ganhos uma vez que acordo eliminará as tarifas sobre quase US$ 50 bilhões em peças automotivas enviadas para a China.

Também é preciso considerar que o aprofundamento dos laços comerciais entre a China e os outros países da Ásia e Sudeste Asiático que assinaram o acordo não deixa de ser ruim para os Estados Unidos que ficaram de fora. Certamente vai dificultar os esforços dos Estados Unidos de isolar a China na região. A Índia foi o único grande país a ficar fora do acordo, com receio de receber uma enxurrada de importações, mas pode vir a aderir no futuro.

Para os EUA, o simbolismo de ter esse acordo liderado pela China é forte. Há algum ponto em que a continuidade dessa guerra comercial sino-americana possa impactar o Brasil e a América Latina? Como o senhor vê esse cenário no governo eleito de Joe Biden?

Estados Unidos, China e América Latina formam um triângulo no qual mudanças nas relações entre dois dos vértices necessariamente afetarão o terceiro. Há aspectos nas relações Estados Unidos-China, Estados Unidos-Brasil e Brasil-China que tendem a não mudar substancialmente no governo Biden. Estados Unidos continuarão a ver e tratar a China como um competidor estratégico, o Brasil continuará a ter um papel importante para os Estados Unidos em sua relação com a América Latina e a China continuará a ser fundamental para o Brasil como seu principal parceiro comercial.

Mas há coisas que podem mudar e afetar essas relações. Caso haja uma normalização das relações comerciais entre China e Estados Unidos, isso pode afetar o Brasil, uma vez que os Estados Unidos são nosso maior competidor no fornecimento de commodities agrícolas para a China. Por outro lado, a derrota de Trump abre espaço para uma mudança da política externa brasileira uma vez que a adulação de Trump deixará de ter sentido na política externa brasileira.

Uma maior pressão dos Estados Unidos sobre o Brasil por causa da questão do meio-ambiente e direitos humanos pode obrigar o Brasil a se aproximar mais pragmaticamente da China para evitar o completo isolamento internacional. Não podemos nos esquecer que, em 2019, quando o Brasil virou alvo internacional de críticas por causa das queimadas na Amazônia, a China foi o único país a sair em defesa do Brasil. A decisão que o Brasil venha a tomar sobre a exclusão ou não da Huawei como fornecedor de equipamentos para a rede 5G brasileira será um divisor de águas nas relações Brasil-China em 2021. Nesse aspecto temos uma gama enorme de questões em aberto cujas respostas vão começar a se delinear nos próximos meses.

O Mercosul, como sabemos, está enfraquecido. Por outro lado, vemos as grandes potências globais fazendo acordos. Qual seria o papel do Mercosul nessa nova era? Seria um momento para uma unificação e fortalecimento interno da região, ou o futuro serão acordos separados entre os sul-americanos e o resto do mundo?

O principal dano da política de alinhamento automático do Brasil com os Estados Unidos implementada pelo governo do presidente Jair Bolsonaro e seu ministro das relações exteriores, Ernesto Araújo, foi ter destruído o papel de liderança regional do Brasil, sobretudo na América do Sul, e levado à fragmentação política da região, permitindo assim que a América do Sul se tornasse palco de disputa entre as grandes potências extrarregionais.

Não vejo como esse quadro possa ser revertido, pelo menos no atual governo. Nem mesmo o já assinado acordo Mercosul-União Europeia dá mostras de sair do papel.

Há alguns anos tínhamos o TPP [Tratado Transpacífico] liderado pelos EUA, que parou no governo Trump e do qual o Brasil já não fazia parte; agora, temos o RCEP liderado pela China. No geral, esses mega-acordos, inclusive envolvendo países latino-americanos (como México e Peru que estavam envolvidos no TPP), são ruins para o Mercosul e para o Brasil ou podem ser benéficos? 

Não creio que uma eventual participação de países sul-americanos banhados pelo Pacífico em uma acordo comercial envolvendo os países do chamado Pacific Rim [os “círculos do Pacífico”, área de países banhados pelo oceano, que não inclui o Brasil] pudesse ser prejudicial ao Brasil. Ao contrário, poderiam estimular uma maior integração regional com vistas a explorar novas oportunidades de comércio e investimento. Na área de infraestrutura, por exemplo, poderiam estimular a integração regional, sobretudo ferroviária, que poderiam criar rotas alternativas para a abastecimento da Ásia, principal destino de nossas exportações.


sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Mini-reflexão sobre os impasses do Brasil - Paulo Roberto de Almeida

 Quanto falta para trocarmos o caminho do declínio pela vereda da reconstrução?

Paulo Roberto de Almeida 

Populistas surgem em momentos de stress político ou de crise econômica, em quaisquer países. 

Foi o caso do Brasil entre 2013 e 2018: a resposta não poderia ter sido pior, pois se elegeu um despreparado, fanfarrão, mentiroso e perverso. 

Existem remédios na democracia para se corrigir o equívoco, embora a chave esteja no Congresso. 

É uma verdade elementar que o principal problema brasileiro é a corrupção política, mas ademais da ignorância geral do eleitorado brasileiro (suscetível, portanto, de votar por demagogos e populistas), um dos lados do problema está no comportamento predatório das elites, desde sempre, sobretudo dos que financiam políticos corruptos. 

Não será fácil resolver esse problema e poucas sociedades o fizeram de modo consensual por reformas progressivas. Muitas apenas depois de grandes crises ou declínios prolongados, como parece ser o caso da China. 

A Argentina, ao nosso lado, ainda não o conseguiu. O Brasil ainda não tomou consciência de seus problemas principais e não existe diagnóstico consensual, a despeito de bons estudos a respeito deles: talvez estejamos, por enquanto, mais do lado da Argentina do que da China. 

O atraso se mede em gerações perdidas: no nosso caso podem ser duas ou mais. 

Reflitam...

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 13/11/2020

Addendum:

No ciclo normal da política, presidentes fracassados como Trump e Bolsonaro seriam simplesmente destinados ao limbo, ao “oblivion” da sociedade.

Ocorre que personalidades perversas e egocêntricas, próximas do comportamento psicopata, não se convencem do seu fracasso.

Daí que se fala em trumpismo ou bolsonarismo, que para mim são equívocos conceituais de jornalistas e de cientistas políticos, pois tais fenômenos não correspondem a nenhuma formulação coerente ou racional de alguma doutrina ou movimento organizado, apenas a frustrações e “grievances” reais com problemas sociais não resolvidos pelo sistema político governamental.

Em síntese, é a falta de estadistas na sociedade, que é a sua incapacidade de encontrar uma liderança capaz de realizar a síntese desses problemas, oferecer um diagnóstico lúcido da situação e expor claramente à sociedade o que fazer.

Não é facil, pois a maioria do povo quer respostas simples a problemas complexos, ou mais exatamente que outros, geralmente o Estado e suas instituições, resolvam esses problemas.

Este é o nó dos problemas das sociedades, que só se resolvem, a termo, com boa educação. Esta demora, e pode não chegar, pois como sabemos todos nascemos como tábula rasa.

Desculpem o realismo.

Paulo Roberto de Almeida

terça-feira, 10 de novembro de 2020

Brasil longe da festa da eleição de Biden - Marcos Magalhães (Capital Político)

 Parece que quando o presidente Bolsonaro finalmente reconhecer a vitória (ugh!) de Biden e decidir apresentar seus cumprimentos, isso vai ser considerado totalmente inadequado e irrelevante.

Paulo Roberto de Almeida

 

Longe da festa

Marcos Magalhães

Capital Político, 10/11/2020


A primeira segunda-feira após o anúncio da vitória de Joe Biden amanheceu em festa. O fim da longa espera pelos resultados das eleições nos Estados Unidos e a notícia de que uma das vacinas em fase final de desenvolvimento demonstrou 90% de eficácia contra o coronavírus levaram o otimismo de volta aos mercados.

As bolsas subiram na Europa e na Ásia. No Brasil, o Ibovespa começou a semana em alta de 4%. O dólar, que andava arisco, caiu à menor cotação desde setembro. Tudo isso apesar do estado de negação do ainda presidente Donald Trump. E, no caso dos mercados brasileiros, do silêncio do presidente Jair Bolsonaro.

Durante o final de semana, líderes de várias partes do mundo enviaram mensagens de felicitação ao presidente eleito Joe Biden. A primeira-ministra Angela Merkel disse que os Estados Unidos e a Alemanha, como parte da União Europeia, devem enfrentar juntos “os grandes desafios do nosso tempo”.

De Tóquio, o primeiro-ministro Yoshihide Suga postou no Twitter que espera trabalhar com Biden para fortalecer as relações bilaterais e garantir “paz, liberdade e prosperidade” na região do Indo-Pacífico.

Os vizinhos argentinos também foram rápidos. “Saúdo Joe Biden, o próximo presidente dos Estados Unidos, e Kamala Harris, que será a primeira vice-presidente feminina daquele país”, escreveu o presidente Alberto Fernández em suas redes sociais. 

É bem verdade que o governo chinês optou inicialmente pelo silêncio. “Tomamos conhecimento de que Biden se declarou vencedor nas eleições”, disse o porta-voz Wang Wenbin. “Nosso entendimento é que o resultado da eleição será determinado de acordo com as leis e procedimentos dos Estados Unidos”.

Depois de experimentar um período de grande tensão no relacionamento com Trump, Pequim avalia o que esperar do novo momento político americano. “No curto prazo as relações serão menos tensas”, escreveu no Global Times o vice-diretor do Instituto de Estudos Americanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Yuan Zheng.

“Mas no longo prazo”, ressalvou o especialista, “os laços bilaterais deverão enfrentar maiores desafios, à medida que Biden ressalta a liderança americana, e ele não poupará esforços para se alinhar aos países aliados para conter a China, o que parece ser mais ameaçador para a China em comparação à administração Trump”.

Silêncio

Se o governo chinês ao menos apresentou uma declaração diplomática a respeito da eleição de Biden, Brasília permaneceu em silêncio. Apenas o vice-presidente Hamilton Mourão previu que, “na hora certa”, Bolsonaro transmitiria os “cumprimentos do Brasil a quem for eleito”.

Segundo Mourão, o presidente estaria apenas aguardando notícias sobre a possibilidade de serem detectados votos falsos nas eleições americanas. Uma precaução que não parece haver sido compartilhada pelos líderes das maiores democracias do mundo, que não só reconheceram os resultados das eleições como já enviaram saudações ao presidente eleito.

Sob o argumento do cuidado com possíveis fraudes eleitorais, Bolsonaro mantém a fidelidade a Trump e se cala. Seu silêncio serve como poderosa mensagem à sua base política, decepcionada com os resultados das urnas. Mas deixa todo um país refém dos sentimentos dos integrantes de seu núcleo duro de seguidores.

Ninguém duvida que o Brasil e os Estados Unidos manterão as suas tradicionais relações. Mas a postura inicial de Brasília em relação ao futuro governo americano pesará na hora de redefinir as bases desse relacionamento, agora sob uma administração democrata.

Prioridades

Na verdade, o governo brasileiro anda muito seletivo ao definir as suas prioridades externas. Até hoje Alberto Fernández espera uma mensagem de congratulações de Bolsonaro por sua eleição para a presidência da Argentina, há um ano. E a Argentina é a principal parceira do Brasil no Mercosul.

Fernández, por sinal, estava na cerimônia de posse no final de semana do novo presidente da Bolívia, Luis Arce. O governo brasileiro não enviou sequer um ministro a La Paz. Foi representado pelo embaixador na Bolívia, Octavio Cortes. Até mesmo o presidente da Colômbia, Iván Duque, politicamente próximo de Bolsonaro, esteve na capital boliviana.

O presidente brasileiro parece mais preocupado com as cores do redesenhado mapa político regional. Ele tem dito que anda atento à expansão do vermelho pela vizinhança.

Entre os motivos de sua apreensão estão as eleições de Fernández e Arce, além da recente decisão dos eleitores chilenos, em plebiscito, de convocar uma assembleia para dar ao país uma nova Constituição, que substitua o texto herdado do ditador Augusto Pinochet – que já foi elogiado publicamente por Bolsonaro.

O ambiente político na Bolívia ainda está longe da estabilidade. Houve manifestações na região opositora de Santa Cruz de la Sierra em defesa de uma auditoria das eleições presidenciais. Três dias antes da posse ocorreu um atentado contra o presidente eleito. Uma bomba de dinamite foi lançada contra o seu escritório de campanha.

Mesmo assim, Arce optou por um discurso de conciliação. “Iniciamos uma nova etapa em nossa História e queremos fazê-lo com um governo que seja para todos e para todas, sem discriminação”, disse o novo presidente da Bolívia.

A 6230 quilômetros dali o presidente Joe Biden também apostou na conciliação em seu primeiro pronunciamento após a divulgação dos resultados que lhe garantiram a vitória. “Precisamos parar de tratar os oponentes como inimigos”, recomendou. “É hora de deixar de lado a retórica inflamada, acalmar os ânimos, ouvirmos uns aos outros”.

Párias

Suas palavras espalharam uma sensação de alívio, que podia ser percebida em artigos, editoriais de grandes jornais e declarações de líderes de várias partes do mundo. Não porque se trate de um presidente mais liberal ou mais conservador, mas porque o presidente eleito indica preferência pelo diálogo e, sempre que possível, pela cooperação internacional.

O meio ambiente é um bom exemplo. Biden promete recolocar os Estados Unidos no Tratado de Paris sobre mudanças climáticas, em sintonia com aquilo que a atual liderança do Itamaraty vê como “globalismo”. E indica que terá atenção especial ao desmatamento da Amazônia, o que colocou o governo brasileiro em estado de prontidão.

Em discurso a jovens diplomatas, duas semanas antes das eleições americanas, o ministro Ernesto Araújo mostrou que não liga muito para os que acusam a sua gestão de ter promovido o isolamento do Brasil – com exceção, é claro, da aproximação com Donald Trump.

“Nos discursos de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas deste ano, os presidentes Bolsonaro e Trump foram praticamente os únicos a falar em liberdade”, disse Araújo. “Sim, o Brasil hoje fala em liberdade através do mundo. Se isso faz de nós um pária internacional, então que sejamos esse pária”.

Para Araújo, “é bom ser pária”. Ele é visto como um dos integrantes do chamado grupo ideológico do governo, esse mesmo que Bolsonaro procura agradar ao retardar o envio de saudações a Joe Biden por sua internacionalmente reconhecida eleição.

Os “ideológicos” vibravam quando Bolsonaro falava publicamente de seu apoio à reeleição de Trump, integrante da mesma direita radicalizada que aposta no confronto como método político. E aplaudiram o presidente quando ele criticou os eleitores argentinos por suas escolhas.

O Brasil não pode ficar refém dos “ideológicos”. O país levou décadas para moldar a reputação de um parceiro confiável na construção de consensos. Poderá ter de dedicar anos para reconstruir a sua imagem junto à comunidade internacional.

Marcos MagalhãesMarcos Magalhães

Jornalista especializado em temas globais, com mestrado em Relações Internacionais pela Universidade de Southampton (Inglaterra), apresentou na TV Senado o programa Cidadania Mundo. Iniciou a carreira em 1982, como repórter da revista Veja para a região amazônica. Em Brasília, a partir de 1985, trabalhou nas sucursais de Jornal do Brasil, IstoÉ, Gazeta Mercantil, Manchete e Estado de S. Paulo, antes de ingressar na Comunicação Social do Senado, onde permaneceu até o fim de 2018. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ magmarcos@outlook.com