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terça-feira, 24 de janeiro de 2023

An end to the war in Ukraine? - Stephen Collinson, Caitlin Hu and Shelby Rose (CNN Meanwhile in America)

 How are we going to find an exit?


Stephen Collinson, Caitlin Hu and Shelby Rose


CNN Meanwhile in America, January 24, 2023


An email from a reader in Australia got us thinking about the West’s expanding effort to defeat Russia in Ukraine, as the brutal invasion approaches its one-year anniversary.

 

The reader called for more anti-war skepticism in press reporting, and argued that “piling it on with weapons” is the wrong answer, since Putin would never surrender in Ukraine. Others question whether the West’s escalation of its strategy to arm Ukraine is destined to create an even bloodier stalemate. Already the trench warfare of frozen frontlines in eastern Ukraine and the merciless Russian bombing of Ukrainian cities recalls dark historic echoes from 20th century total warfare, and there’s no meaningful international diplomatic effort even to forge a ceasefire.

 

Strategists warn of a new Russian spring offensive while the West debates whether a swift influx of missiles, tanks, artillery and defensive weapons could help Ukraine push Russia out. Many more civilians are likely to die, along with young troops and young Russians being used as cannon fodder by President Vladimir Putin.

 

So why not try to stop the war before it lasts another year?

 

To begin with, Ukraine is committed to defending every last inch of its territory. And though Kyiv has said it’s open to talks, it doesn’t trust Putin and won’t accept any semblance of victory for the Russian strongman. Western leaders meanwhile fear the broader consequences if Ukraine loses; allowing a large authoritarian state to crush a small democracy would set a dangerous precedent and make Europe far less stable and secure. They also reason that stopping the flow of weapons to support Ukraine would allow Putin a quick victory and shatter NATO’s credibility. So it’s hard to imagine any peace that would be simultaneously palatable to Russia, Ukraine, and the West.

 

Yet, the longer the war drags on and the deadlier the weapons poured into Ukraine by allies, the greater the risk of a spillover clash between NATO and Russia. “Shouldn’t we now ask ourselves how we are going to find an exit from this war?” asked former senior French politician and diplomat Pierre Lellouche, in a commentary in “Le Monde” last week : He warned of “an immense frozen conflict on the Old Continent” and that the allies were sliding into anti-Russia belligerence and increasingly direct confrontation with Moscow.

 

Such voices are often drowned out in American media coverage driven by political hawks and retired generals who came up during the Cold War. A group of progressive Democrats was shouted down last year when they suggested President Joe Biden should negotiate an end to the war. Hardline House Republicans are also increasingly skeptical about the war: they want to keep US billions at home.

 

Still, the top US General Mark Milley caused a stir last year when he suggested that it would be hard for Ukraine to fully vanquish Russia and that eventually it might have to think about a political solution — though he later walked it back. 

 

These views are not yet approaching critical mass. But the question posed by our correspondent and many others is ineluctable: How many more thousands need to die before the war ends.


sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Gabinete de transição vai ter apoio diplomático para preparar engajamento de Lula no exterior - Pedro Nogueira (CNN)

Gabinete de transição vai ter apoio diplomático para preparar engajamento de Lula no exterior 

Equipe comandada por Audo Araújo Faleiro, assessor internacional da Presidência durante os governos do PT, também vai fornecer ao gabinete de transição informações sobre o calendário diplomático 

Pedro Nogueira, CNN, 11/11/2022

O diplomata Audo Araújo Faleiro lidera o trabalho de ligação entre o Itamaraty e o gabinete de transição. Os profissionais vão preparar as viagens de Lula, como a COP-27, no Egito, produzir documentos, incluindo respostas a chefes de estado estrangeiros, além de organizar a recepção de embaixadores e telefonemas com dignitários de outros países

A equipe também vai fornecer ao gabinete de transição informações sobre o calendário diplomático, com oportunidades estratégicas de engajamento do governo-eleito no exterior, e elencar assuntos administrativos que precisam de respostas rápidas no início da nova gestão.

Um dos primeiros compromissos do grupo de ligação foi o encontro com o Encarregado de Negócios da Embaixada do Egito, para preparar a logística da comitiva à conferência sobre mudanças climáticas. A reunião aconteceu no CCBB, na quarta (9).

Ministro de Segunda Classe da carreira diplomática, Audo Faleiro foi indicado por Celso Amorim, embaixador aposentado considerado o braço direito de Lula para assuntos internacionais. Amorim é também o diplomata que serviu por mais tempo no cargo de Ministro das Relações Exteriores, superando o Barão do Rio Branco, patrono da diplomacia brasileira. O embaixador é cotado para compor a equipe de transição, na área de Relações Exteriores.

Sem revanchismo

Fontes no Ministério afirmam que a escolha de Faleiro envia dois sinais. O primeiro é de que o governo de transição busca um Itamaraty sem revanchismo. O segundo, que sua a transição busca boas relações com a atual gestão do chanceler Carlos França, para garantir uma transição suave.

Diplomatas relatam um clima de “caça às bruxas” no serviço diplomático durante a gestão de Ernesto Araújo, primeiro chanceler de Bolsonaro. Audo teria sido um dos alvos desse regime.

Nomeado chefe da Divisão da Europa Ocidental no Itamaraty em 2019, o diplomata foi exonerado menos de uma semana depois. O motivo: ele serviu na assessoria internacional da Presidência da República durante os governos do PT, sob o comando de Marco Aurélio Garcia. Além disso, trabalhou na embaixada brasileira na Venezuela. Outros diplomatas com posições de destaque nos governos Lula e Dilma também caíram no ostracismo.

Colegas relatam que Audo é uma das pessoas que encarou essa situação com serenidade. A expectativa é de que não haja um novo campo de batalha de perseguição.


Petista do desastre econômico, Guido Mantega, sabota a candidatura de Ilan Goldfajn ao BID - Raquel Landim (CNN)

 Mantega envia carta a EUA, Chile e Colômbia e pede para adiar eleição no BID


Um dos técnicos mais respeitados do país, Goldfajn foi indicado para concorrer ao comando do BID pelo atual ministro da Economia, Paulo Guedes

Raquel Landim, da CNN
11/11/2022 às 11:40

O ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, enviou uma carta a representantes dos governos americano, chileno e colombiano pedindo para adiar a eleição para a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), marcada para o dia 20 de novembro, apurou a CNN.

No caso dos Estados Unidos, o documento foi entregue a secretária do Tesouro Janet Yellen.

Conforme pessoas que tiveram acesso à carta, Mantega diz falar em nome da equipe econômica do novo governo e afirma que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva gostaria de indicar outro candidato. Hoje, o candidato brasileiro à presidência do BID é o economista e ex-presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn.

Um dos técnicos mais respeitados do país, Goldfajn foi indicado para concorrer ao comando do BID pelo atual ministro da Economia, Paulo Guedes, que passou por cima de divergências pessoais ao optar pelo seu nome.

O BID é uma instituição multilateral responsável por US$ 12 bilhões em empréstimos para governos na América Latina.Embora Mantega tenha enviado a carta e conte com apoio de setores do PT, a oposição ao nome de Ilan não é consenso na aliança em torno de Lula.

Aliados da senadora Simone Tebet, da deputada eleita Marina Silva e do vice-presidente Geraldo Alckmin apoiam o economista. Além de suas posições liberais em economia, Goldfajn também é conhecido pela atuação em projetos de defesa da Amazônia.

A movimentação desses setores do PT, no entanto, provocou descontentamento em Washington. Não deve ser suficiente para adiar a eleição, mas ameaça a vitória do candidato brasileiro, que parecia garantida.

Fontes que acompanham o processo dizem que, se ficar claro que existe uma divisão no Brasil, os Estados Unidos preferem apoiar o candidato do México, Gerardo Esquivel.A CNN procurou a equipe do presidente eleito Lula e aguarda um posicionamento. Procurado, Ilan Goldfajn prefere não se pronunciar neste momento.

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Eleições no Brasil: a CNN sobre a tensão pré-eleitoral no Brasil - Rodrigo Pedroso, Marcia Reverdosa and Camilo Rocha


Brazil’s presidential vote is just days away. Voters are comparing it to ‘war’

By Rodrigo Pedroso, Marcia Reverdosa and Camilo Rocha, CNN

Updated 12:39 PM EDT, Thu September 29, 2022 - 03:41 - Source: CNN

'There's something strange going on': Some fear a coup in Brazil

CNN  — 


Brazil’s upcoming presidential election has been shrouded by an unprecedented climate of tension and violence. As the Oct. 2 vote approaches, episodes of harassment and attacks have intensified, with even neutral players like poll institutes turning into targets.

Far-right President Jair Bolsonaro, who aims to be reelected, is currently lagging in the main polls behind leftwing former President Luiz Inácio “Lula” da Silva. And the battle between these two very different household names has divided the nation – with experts saying the level of political anger is different this year

“The polarization we’re facing this year is different from just a political polarization,” says Felipe Nunes, CEO of Quaest Research Institute, which conducts polls in Brazil.

“This year we are seeing affective polarization — where different political groups see each other as enemies, not as adversaries.”

Several of his group’s researchers have been harassed while conducting polling this year, Nunes added.

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Bolsonaro stumps for reelection in United Nations speech

Another well-known research institute, Datafolha said that one of its researchers’ lives was threatened, after they refused to interview a self-identified Bolsonaro supporter in the city of Ariranha, outside of Sao Paulo.

The disgruntled man accused the researcher of bias, and accused him of only interviewing “Lula’s supporters” and “tramps”. He then beat and threatened him with a knife, says Datafolha, which filed a police report


“One of the polling guidelines is to not interview someone who offers himself. It has to be random for statistical purposes,” said Jean Estevao de Souza, electoral researcher project coordinator at Datafolha, to CNN.

“The most typical cases (of attacks) are of people who offer themselves and when the researcher explains that he cannot be interviewed under that circumstance, the person starts filming, offending and cursing.”

According to Datafolha, 42 other cases of harassment and violence against its employees have been reported since September 7 this year.


Critics accuse Bolsonaro of fueling fire

While violence has been seen on both sides of the political spectrum, critics accuse Bolsonaro of deliberately fostering distrust and frustration among supporters toward the Brazilian electoral system. And increasingly, as his performance flags in the polls, Bolsonaro’s ire has turned toward research organizations like Datafolha.

Datafolha has been repeatedly named – and the accuracy of its polls questioned — by Bolsonaro. In a speech in Brasília during the celebrations of Brazil´s 200-year Independence Anniversary on September 7, Bolsonaro discredited Datafolha projections, a common theme in his speeches.

“I’ve never seen such a big sea here with these green and yellow colors. There is no lying Datafolha here,” he said. “Here is the truth, here is the will of an honest, free and hardworking people.”

During a campaign event on Sept. 23, Bolsonaro kept the tone in a speech to his supporters in Divinópolis, Minas Gerais state. “We are the majority. We will win in the first round. There is no election without people in the streets. We don’t see any of the other candidates holding a rally that comes close to 10% of the people here,” he said.

Recent polls have shown Lula leading Bolsonaro in recent weeks.

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As Brazil's military rolls out the tanks for Independence Day, Bolsonaro tells fans to 'make a stand'

Attempts by politicians to discredit polling institutes are not new in Brazil, says Datafolha’s Estevao de Souza. “But we never faced harassment and attacks on the researchers on the streets until this year.”

“The rhetoric of attack on the institutes by the president’s campaign, which tries to discredit the polls, ends up circulating among the most radicalized supporters and it is reflected in the streets,” he said.

Verbal sparring between the two leading candidates — though not uncommon in Brazil — has also added to the poisoned atmosphere, with Bolsonaro repeatedly calling Lula a “thief,” and Lula recently describing Bolsonaro as vermin.

Given the charged national dialogue, some Brazilian voters have chosen to refrain from discussing their electoral preferences in public, according to a Quaest poll.

“We recently asked voters if they feel it’s more dangerous to say their opinions or whoever they want to vote for. And around 80% of respondents claimed it’s more dangerous to talk about politics right now than it used to be in the past,” continued Nunes.

‘Repeat with me: I swear to give my life for freedom’

Attacks on polling researchers are just one example of the political hostility seen in Brazil as the nation prepares for the vote.

During a speech accepting his party’s nomination for reelection on July 23, the Brazilian president called on supporters to give their lives “for freedom.”

“Repeat with me: I swear to give my life for freedom. Once again,” said Bolsonaro to the crowd who repeated his words.

There have been repeated clashes between Bolsonaro and Lula supporters – the most emblematic episode being perhaps the shooting death of Workers Party member Marcelo Arruda on July 9 by the Bolsonaro supporter José da Rocha Guaranho, who was later charged with aggravated murder.

Guaranho, who was also shot and subsequently hospitalized, has said he doesn’t not remember what happened.

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Fatal shooting at a party in Brazil highlights soaring political tensions

Such high profile incidents have caused fear among some potential voters – and could risk deterring people from voting at all. On the streets of Sao Paulo’s iconic Paulista avenue, voters interviewed by CNN expressed frustration over the bitter atmosphere around the coming elections.

“There is too much tension, it’s almost turning into a war. It seems that Lula and Bolsonaro are like football teams. People are angry at each other,” said 33-year-old Erika de Paula, who said she was still undecided but would not vote for Bolsonaro.

Felipe Araujo, who considers himself a moderate supporter of Bolsonaro, wished the elections would end soon. “(The elections) are very polarized between the two main candidates. And there is a lot of fighting between people. I sincerely hope this ends soon. It has contaminated all of the environments, work, family, friends,” he said.

Voter turnout will be crucial at this historic juncture for the country – which could see Brazil’s leadership double down on Bolsonaro’s agenda or else take a left turn under Lula.

But four in ten Brazilians believe that there is a high chance of political violence on election day and – although voting is compulsory in Brazil – 9% said they were are considering not voting at all for fear of violence, according to a Datafolha poll earlier this month.

“These tensions and attacks are very bad for the research work, but also for the election, for the political environment in general, and for democracy itself,” said Estevao de Souza from Datafolha.

terça-feira, 20 de setembro de 2022

Antonio Guterres: 'Our world is in big trouble' - Stephen Collinson, Caitlin Hu and Shelby Rose (CNN)

 

quarta-feira, 31 de agosto de 2022

A nova-velha política externa do PT: reatar relações com Venezuela (CNN)

 Campanha petista pretende reatar relações com Venezuela


Ideia é reverter a tentativa de isolamento que o governo Jair Bolsonaro tentou impor a Nicolás Maduro

CNN, 30/08/2022 às 21:34 | Atualizado 30/08/2022 às 23:03

Os planos da campanha petista com a América do Sul envolvem a retomada de relações com a Venezuela. A ideia é reverter a tentativa de isolamento que o governo Jair Bolsonaro tentou impor ao ditador Nicolás Maduro ao determinar a retirada do embaixador brasileiro do país em 2020 e o reconhecimento do opositor Juan Guaidó como presidente da Venezuela.

Embora formalmente as relações não tenham sido rompidas, na prática elas não existem porque sequer há um serviço consular no país vizinho.

Nesse sentido, o debate na campanha é retomar na prática as relações com a Venezuela enviando nas primeiras semanas um corpo diplomático e deixando de reconhecer Guaidó como presidente do país.

A avaliação é de que a tentativa de isolamento da Venezuela se mostrou frustrada porque abriu espaço para que países asiáticos, em especial a China e a Rússia, se aproximassem da Venezuela.

O QG petista inclusive avalia que estados que fazem fronteira com o país, Amazonas e Roraima, querem reatar relações tanto por questões humanitárias –conter os refugiados — quanto por questões comerciais.

Os petistas também avaliam a criação de um novo colegiado na região para debater a relação. Seria um modelo parecido ao da Unasul, criada em 2008 no governo Lula, mas que em 2017, já no governo Michel Temer, acatou uma cláusula democrática que obrigava os países da região a terem regimes democráticos, o que acabou por levar à saída da Venezuela do grupo.

Sobre clima, há um plano por exemplo para que a América do Sul, principalmente os oito países da região amazônica (Brasil, Guiana, Peru, Bolívia, Colômbia, Equador, Suriname e Venezuela) possam liderar em conjunto na região temas climáticos perante fóruns mundiais, aproveitando-se para tanto do contexto atual de uma maioria de países com dirigentes à esquerda na região. Fala-se até mesmo em resgatar a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), um documento de 1978.

Os petistas também pretendem abordar assuntos comuns com o vizinho com o continente africano. A vice-presidente da Colômbia, Francia Márquez, já mandou sinais ao QG petista de que há interesse em aproximação com a África e que se Lula vencer pretende que seja uma agenda comum com o Brasil.

“A política Sul-Sul voltaria forte, mas isso não se faria em detrimento de relações com a Europa, Estados Unidos e China”, disse o diplomata Audo Faleiros, que assessorou Marco Aurelio Garcia, consultor de assuntos internacionais nos governos Lula e Dilma Rousseff, e tem acompanhado parte dos debates no PT.

https://www.cnnbrasil.com.br/politica/campanha-petista-pretende-reatar-relacoes-com-venezuela/

A nova-velha política externa do PT: priorizar União Europeia e desacelerar OCDE - Caio Junqueira (CNN)

 Campanha de Lula quer priorizar União Europeia e desacelerar OCDE


América do Sul e África também são prioridades

Caio Junqueira, da CNN
30/08/2022 às 21:33 | Atualizado 30/08/2022 às 23:03

Os formuladores da política externa de um eventual novo governo Lula preveem, se o petista vencer, rever os termos do acordo entre União Europeia e o Mercosul e também o ingresso do Brasil na OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

“A relação com a União Europeia é estratégica para o Brasil. Somos a favor do acordo, mas ele foi feito às pressas para beneficiar o [ex-presidente argentino) Maurício Macri. Então precisa de algumas revisões e ajustes. E a informação que tenho é de que os europeus também querem mudanças e ajustes. Vamos pensar então num acordo de cooperação que obviamente terá uma direção comercial para não acabar de desindustrializar o Brasil”, afirmou à CNN Celso Amorim, chanceler brasileiro na era Lula e que está à frente dos debates na campanha sobre o que seria uma eventual política externa em um novo governo petista.

O foco no acordo reflete uma percepção comum nas conversas internas no PT sobre esta área: a União Europeia como grande parceira do Brasil se o petista vencer. Isso porque há receio de que o trumpismo ou algo semelhante a ele possa retornar nos Estados Unidos e que a relação com a China, embora seja positiva comercialmente, há muitos problemas de valores como democracia, direitos humanos e inclusão social.

Nesse sentido, há uma aposta crescente nos bastidores da campanha em ampliar vínculos com a Europa e especialmente com quatro grandes forças do grupo: Alemanha, Espanha, França e Portugal. A avaliação é de que o continente poderá ajudar o Brasil a transitar em um mundo diferente do que de 2003, quando o PT assumiu o Itamaraty pela primeira vez.

Hoje, ele é mais multipolar e o Brasil precisa se posicionar em equilíbrio aos diferentes players, em especial aos Estados Unidos, China e Rússia. Além disso, a agenda que o petismo pretende encampar é mais bem identificada com a agenda da União Europeia do que das outras forças mundiais, principalmente sobre clima, direitos humanos e imigração.

Sobre a OCDE, umas das prioridades da política externa do governo Jair Bolsonaro, a ideia é desacelerar o processo de ingresso.

“Antigamente se dizia que a OCDE era um selo de qualidade, mas vejo países que entraram e não se beneficiaram. Brasil já recebeu muito mais investimentos do que países que ingressaram na OCDE. Não tenho preconceito com a OCDE, mas não vejo como grande prioridade”, disse Amorim.

A leitura dentro do PT é que muitos pontos que a OCDE exige para que um país seja seu integrante são desfavoráveis ao Brasil. Por exemplo, que países em geral possam realizar compras governamentais. O petismo acredita que isso prejudica a indústria nacional. Outro ponto é sobre a rigidez com regras de propriedade intelectual, algo que prejudica países pobres e em desenvolvimento. “OCDE é para países ricos. O Brasil não precisa disso”, completou Amorim.

O PT tem considerado nos debates internos o contexto nacional para elaborar a sua política externa. A expectativa de que o bolsonarismo permanecerá e mais forte ainda mesmo em caso de derrota faz os formuladores da política externa preverem muita disputa em torno desta área e consequentemente o partido a já eleger como um dos temas para esta disputa. Por isso, a questão dos valores –democráticos, ambientais e de direitos humanos– deverão estar presentes, assim como temas ligados a pandemia — justamente um dos pontos fracos da gestão Bolsonaro.

https://www.cnnbrasil.com.br/politica/campanha-de-lula-quer-priorizar-uniao-europeia-e-desacelerar-ocde/

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Guerra na Ucrânia não saiu como o planejado, mas “putinismo” segue vivo - Nathan Hodge (CNN)

 Análise: Guerra na Ucrânia não saiu como o planejado, mas “putinismo” segue vivo


De acordo com cálculos do Pentágono, invasão deixou mais de 70 mil soldados russos mortos ou feridos

Nathan Hodge, da CNN, 24/08/2022

Seis meses se passaram desde que o presidente russo, Vladimir Putin, lançou sua invasão não provocada da Ucrânia, uma guerra que por qualquer medida convencional tem sido uma calamidade.

Milhões de ucranianos foram deslocados. A cidade de Mariupol foi quase apagada do mapa. E a ofensiva lançada em 24 de fevereiro mostrou a podridão moral dentro das forças armadas russas e seu completo desrespeito pelas vidas civis.

Pelos últimos cálculos do Pentágono, a invasão custou à Rússia entre 70 mil e 80 mil soldados mortos e feridos. Mesmo que essa estimativa seja alta, é justo extrapolar que a Rússia provavelmente viu mais tropas morrerem em meio ano de combates na Ucrânia do que os soviéticos perderam em uma década de guerra no Afeganistão.

Mas quaisquer comparações da Rússia de Putin com os dias de declínio da União Soviética são prematuras. A Rússia realmente mudou desde 24 de fevereiro, mas as rachaduras no edifício do Putinismo são difíceis de discernir. A maioria dos russos – se não abertamente – apoiou a guerra, ou concordou silenciosamente com sua campanha de restauração imperial.

As avaliações do líder do Kremlin não foram afetadas pela guerra. Tanto o instituto de pesquisas estadual WCIOM quanto a agência independente Levada-Center rotineiramente colocam os índices de aprovação de Putin acima de 80% desde o início da guerra em 24 de fevereiro.

Como Putin está mantendo seus índices de aprovação?
É tentador concluir que esses números simplesmente refletem o poder da propaganda estatal da Rússia e sua capacidade estonteante de construir uma realidade alternativa, na qual os navios de guerra russos não são afundados por mísseis ucranianos e as bases russas explodem por acidente.

Afinal, o governo russo agiu rapidamente após a invasão para encerrar o que restava da imprensa livre da Rússia, introduzindo uma nova lei draconiana que impunha severas penalidades criminais para informações “falsas” que desacreditassem suas forças armadas.

Mas isso não significa que nenhuma informação está sendo divulgada sobre as perdas desastrosas da Rússia na Ucrânia. O site de notícias independente russo Mediazona – que foi rotulado como “agente estrangeiro” no ano passado pelas autoridades russas – documentou 5.185 mortes de militares, com base em reportagens locais e postagens nas mídias sociais.

As classes médias relativamente abastadas do país provavelmente foram isoladas do preço da guerra. Muitos dos mortos em ação são de regiões mais pobres da Rússia; as regiões com o maior número de vítimas documentadas são as chamadas “repúblicas étnicas” do Daguestão e da Buriácia, segundo a Mediazona. Por outro lado, vítimas das duas cidades mais ricas e populosas da Rússia – Moscou e São Petersburgo – foram relativamente baixos, informou.

A popularidade de Putin às vezes é atribuída a um clima de medo e conformidade. De acordo com o OVD-Info, um grupo independente que rastreia detenções na Rússia, 16.380 pessoas foram presas ou detidas por ativismo antiguerra na Rússia e 75 casos criminais foram abertos sob a lei de “notícias falsas” da Rússia.

Sem surpresa, a invasão da Ucrânia pela Rússia reviveu a discussão entre os estudiosos sobre se o regime de Putin deve ou não ser rotulado como fascista. Isso pode parecer em grande parte uma questão de taxonomia, mas aponta para uma realidade clara: depois de 24 de fevereiro, termos como “autocrático” ou “autoritário” são inadequados para descrever um Estado que não tolera dissidência interna.

A opinião pública vai mudar?
Dito isso, alguns observadores se perguntam por quanto tempo Putin pode contar com o apoio de amplos segmentos do público russo em meio a duras sanções internacionais que isolaram a Rússia da economia global e reduziram drasticamente a oferta de importações. O investimento ocidental fugiu em grande parte do país.

Setores da economia como a aviação, que há muito dependem de aeronaves fabricadas nos EUA ou na Europa, foram duramente atingidos.

Como observou recentemente Clare Sebastian, da CNN, Putin e seus tecnocratas trabalharam durante anos para tornar a economia russa à prova de sanções, por meio da substituição de importações – desenvolvendo substitutos locais para produtos importados – e desenvolvendo um sistema de pagamentos para evitar o isolamento financeiro.

E a Rússia transformou a estranha mudança de marca do McDonalds e da Starbucks em contos de resiliência econômica.

Mas um estudo recente do Chief Executive Leadership Institute da Yale School of Management mostra um quadro mais terrível.

Os autores do estudo argumentam que a Rússia não tem infraestrutura para simplesmente girar as exportações de energia, como gás natural, para a Ásia; Os fabricantes russos carecem de peças de fornecedores internacionais; e que as estatísticas oficiais da Rússia estão encobrindo a profundidade do recuo econômico da Rússia.

“Apesar dos delírios de autossuficiência e substituição de importações de Putin, a produção doméstica russa parou completamente sem capacidade de substituir negócios, produtos e talentos perdidos”, diz o relatório. “O esvaziamento da base de inovação e produção doméstica da Rússia levou à alta dos preços e à angústia do consumidor.

Ainda assim, o sistema financeiro da Rússia não entrou em colapso e a ansiedade do consumidor não se traduziu em agitação política. Para a Ucrânia e seus apoiadores, a conversa agora mudou para encontrar maneiras de infligir dor aos russos por seu apoio passivo a Putin.

“Estamos trabalhando em novas sanções contra a Rússia e em estimular os cidadãos do Estado terrorista a sentirem sua parcela de responsabilidade pelo que está acontecendo”, disse o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em um discurso recente. “A discussão sobre restrições de visto na Europa para portadores de passaporte russo está se expandindo a cada dia, novos estados e novos políticos estão se juntando a ela”.

Não está claro se uma proibição de visto acabaria mudando o comportamento russo. Alguns líderes europeus – mais notavelmente o chanceler alemão, Olaf Scholz – têm relutado em endossar a proibição. Falando em uma recente entrevista coletiva em Oslo, Scholz disse a repórteres que os líderes precisam ser “muito claros” sobre a questão da proibição de vistos, já que as ações na Ucrânia são “a guerra de Putin” e “não a guerra do povo russo”.

E enquanto Putin pode ser o “decisor”, tomando emprestado um termo do ex-presidente George W. Bush, há também um Putin coletivo que o apoia e ajuda a realizar suas políticas. Quaisquer que sejam as consequências econômicas das sanções, os oligarcas leais de Putin não romperam as fileiras.

“A guerra de Putin com a Ucrânia já dura 6 meses”, escreveu o líder da oposição russa, Alexey Navalny, no que chamou de “fio de raiva” atrás das grades. “Desde o primeiro dia, os líderes ocidentais afirmaram com firmeza que os oligarcas e os subornados de Putin enfrentariam sanções iminentes e não escapariam desta vez. Mas escaparam”.

É uma imagem sombria e sugere que Putin – que já sobreviveu ao esnobar de líderes mundiais antes – está disposto a jogar um longo jogo aqui. Ele talvez esteja contando com o fato de que, nos próximos seis meses, os europeus pagarão preços mais altos pela energia, aumentando potencialmente a pressão sobre os governos para pressionar a Ucrânia a se submeter a um acordo de paz. O inverno pode estar chegando, mas os ucranianos também estão lutando pela sobrevivência nacional.

https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/analise-guerra-na-ucrania-nao-saiu-como-o-planejado-mas-putinismo-segue-vivo/

terça-feira, 9 de agosto de 2022

Notícias da guerra: a Rússia pode ter "perdido" quase a metade da força de invasão mobilizada em fevereiro de 2022, segundo os EUA

Putin vai ter de "engolir" essas mortes, em algum momento em que elas se tornarem públicas para a população russa. Entra ainda em seu passivo o enfraquecimento econômico e tecnológico, e portanto militar, da Rússia, um legado que sua insana guerra de agressão produziu gratuitamente.

Up to 80,000 Russian casualties in Ukraine, Pentagon official says

From CNN's Ellie Kaufman

Between 70,000 and 80,000 Russians have been killed or wounded during the war in Ukraine, Colin Kahl, Defense Department undersecretary for policy, said during an on-camera briefing at the Pentagon on Monday. 

“I think it’s safe to suggest that the Russians have probably taken 70 or 80,000 casualties in less than six monthts. Now that is a combination of killed in action and wounded in action, that number might be a little lower, little higher, but I think that’s kind of in the ballpark,” Kahl said.

Kahl said that number of casualties from Russian forces is “remarkable” considering Russia has “achieved none of Vladimir Putin’s objectives” since invading Ukraine at the end of February.

“The Ukrainian morale and will to fight is unquestioned, and much higher I think than the average will to fight on the Russian side, so I think that gives the Ukrainians a significant advantage,” Kahl added.

CNN, 8:37 p.m. ET, August 8, 2022

Pentagon announces extra $1 billion in security assistance for Ukraine 

From CNN's Barbara Starr and Ellie Kaufman

The US Defense Department Monday announced a $1 billion package of additional weapons and security assistance for Ukraine in the latest round of military aid. 

It is “the largest single drawdown of US arms and equipment” since August 2021, according to a Pentagon statement. This marks the eighteenth drawdown by the Pentagon.

What the package includes: The package for the first time will have munitions for the National Advanced Surface-to-Air Missile Systems (NASAMS), a US-Norwegian air defense system the Ukrainians need for shooting down Russian cruise missiles aimed at population centers. 

The transfer of NASAMS itself could still be some days away according to US defense officials. The first system to arrive is expected to be from Norway, which can get it to Ukraine quicker than the US. 

This package focuses heavily on additional ammunition and weapons that Ukrainian forces have used successfully against Russian forces in eastern Ukraine. There is additional ammunition for High Mobility Artillery Rocket Systems (HIMARS), 75,000 rounds of 155mm artillery ammunition and 1,000 Javelin anti-tank weapons among key items. This is the first transfer of Javelin’s announced since June. There are also hundreds of AT4 anti-armor weapons included. 

segunda-feira, 4 de julho de 2022

A guerra na Ucrânia é a “maior ameaça à ordem mundial”: Nicholas Burns, em Beijing - Simone McCarthy (CNN)

 Diplomatas russos e americanos se enfrentam no fórum de Pequim


Embaixador dos EUA afirmou que guerra na Ucrânia é a "maior ameaça à ordem mundial"

Simone McCarthy, da CNN
04/07/2022 às 08:34 | Atualizado 04/07/2022 às 08:35

A guerra na Ucrânia é a “maior ameaça à ordem mundial”, disse o embaixador dos EUA, Nicholas Burns, em um fórum em Pequim nesta segunda-feira (4) – um evento raro que viu Burns sentado em um painel ao lado de seu colega russo para um debate diplomático.

“O fato de que a Rússia cruzou a fronteira com uma força armada, sem provocação, e começou esta guerra com tanto sofrimento humano, tantos civis inocentes mortos na Ucrânia – isso é uma violação direta da carta das Nações Unidas, é uma violação direta do que a Federação Russa assinou quando se tornou um estado membro”, disse Burns na discussão, que foi organizada pela prestigiosa Universidade Tsinghua de Pequim e pelo Fórum Mundial da Paz.

O embaixador russo na China, Andrey Denisov, revidou: “Discordo totalmente e posso me opor a cada frase dessa intervenção”, disse ele.

Denisov então fez uma “cortesia diplomática” para desejar a Burns e outros americanos um feliz 4 de julho, antes de acusar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) de provocar a ação da Rússia com “cinco ondas de expansão”.

Denisov pintou a atual ordem mundial como estando à beira de um abismo devido à “sabotagem” das Nações Unidas.

Rara demonstração de debate diplomático: o evento, que também incluiu a embaixadora do Reino Unido na China Caroline Wilson e o embaixador francês Laurent Bili, foi um raro debate diplomático após a invasão russa, que as democracias ocidentais condenaram firmemente.

“A principal responsável pela guerra é a Rússia”, disse Wilson. “A Otan é uma aliança puramente defensiva que agiu com extraordinária contenção em relação à Rússia.”

Também foi notável que tais condenações da guerra na Ucrânia estavam sendo expressas na China. O Partido Comunista Chinês não condenou a guerra nem mesmo a classificou como uma invasão. Enquanto isso, a mídia estatal da China apresentou uma versão cuidadosamente censurada da guerra para seus cidadãos e repetiu os pontos de discussão do Kremlin sobre a Otan.

https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/diplomatas-russos-e-americanos-se-enfrentam-no-forum-de-pequim/

sexta-feira, 24 de junho de 2022

Como a Rússia pode escapar das sanções- Beatriz Céu (CNN)

 Interessante que sequer o nome da China é citado! Medo, conivência, esforço para que a CNN não seja expulsa da China, como já foi da Rússia? Uma lacuna surpreendente, pois que se trata di principal ponto de fuga.

Incidentalmente, as sanções unilaterais sempre foram as mais numerosas, e as mais facilmente burláveis também.

Paulo Roberto de Almeida 


Rotas comerciais e fuga pelo mar: Como Putin pode fugir das sanções do Ocidente

Rússia precisa encontrar métodos para manter financiamento do conflito na Ucrânia
Beatriz Céu, da CNN
24/06/2022 às 02:00 

Após quatro meses desde o início da invasão da Ucrânia, a Rússia continua a enfrentar um braço de ferro com o Ocidente, acumulando sanções cada vez mais agressivas contra a economia de Moscou.

A União Europeia já anunciou o sexto pacote de sanções, que visa o embargo ao petróleo russo, e já se especula sobre a necessidade de um sétimo destinado ao gás.

À medida que as sanções vão se acumulando, crescem também as necessidades económicas da Rússia, muito dependente dos investimentos estrangeiros. Além disso, o Kremlin também precisa pagar o esforço da guerra na Ucrânia, uma tarefa que se torna cada vez mais impossível devido às restrições do Ocidente.

Isto significa que, mais cedo ou mais tarde, a Rússia irá violar as sanções económicas impostas, segundo os analistas. E há várias maneiras de conseguir, como explicam ao jornal Politico vários especialistas, políticos e um ex-funcionário do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos.

É certo que nunca se falou tanto de sanções como agora, mas a verdade é que esta não é a primeira vez que a Rússia se vê confrontada com este tipo de medida vinda do Ocidente.

De fato, esta é a realidade russa desde a anexação da Crimeia, em 2014, quando foi alvo das primeiras restrições económicas. Desde então, o país investiu em sua autossuficiência, mas percebeu que não é possível garantir a desejada autonomia em todas as áreas.

“A Rússia precisa desesperadamente de chips, semicondutores e de várias matérias-primas essenciais, como lítio, para continuar a produzir sistemas de armas necessários para uso militar. Sem estes materiais sofisticados, a indústria militar russa será prejudicada”, disse um ex-funcionário responsável pelo comércio ucraniano.

Na verdade, a dependência da Rússia “é muito elevada”, afirmou Maria Shagina, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, admitindo assim que, à medida que forem implementadas novas sanções, também as necessidades da Rússia vão aumentar, naturalmente.

Os países “na linha da frente” da fuga às sanções
De acordo com os especialistas, é muito provável que a Rússia tente importar bens sancionados através de novas rotas comerciais. Para tal, Vladimir Putin conta com uma lista variada de países dentro e fora da Europa que são potenciais “elos fracos” na aplicação e cumprimento de sanções.

“Historicamente, existem algumas jurisdições que provaram estar na linha da frente” da fuga às sanções, disse um ex-funcionário do Departamento do Tesouro dos EUA, apontando a Turquia e os Emirados Árabes Unidos como exemplos.

Além disso, a Rússia pode ainda recorrer aos seus países vizinhos na União Económica Eurasiática (UEE), da qual faz parte junto com Belarus, Cazaquistão, Arménia e Quirguistão. Antigos funcionários dos serviços de inteligência do Ocidente admitem que existe potencial para o aumento do comércio naquela zona. Com isso, pode aumentar também o fluxo de mercadorias ilegais, nomeadamente os bens sancionados.

Segundo Kevin Limonier, professor do Instituto Francês de Geopolítica, um “elevado número de russos que trabalham no setor das Tecnologias da Informação” chegou ao Quirguistão.

“Depois de frequentar os bares de Bishkek, percebemos que nem todos estão aqui por motivos políticos. Alguns fugiram com o aval dos seus empregadores para contornar as sanções”, escreveu Limonier nas redes sociais.

Além de recorrer aos países vizinhos, a Rússia também pode procurar os controles de fronteiras mais fáceis da UE, tendo em conta que algumas jurisdições são mais leves do que outras no que diz respeito à aplicação e cumprimento de sanções.

A Itália é exemplo disso, apontou Maria Shagina, lembrando que o país esteve muito perto de enviar bens sancionados para a Rússia logo após as primeiras restrições de 2014. Além disso, várias embarcações com ligações a Alemanha, Itália, Grécia e Bulgária também atracaram em portos da Crimeia.

A investigadora sublinha, também, que a atuação da UE quando confrontada com a violação de sanções deixa muito a desejar. A alemã Siemens, por exemplo, viu-se envolvida numa polémica depois de duas turbinas de gás terem sido removidas de território russo e transportadas para a Crimeia em 2016, altura em que a região foi alvo de sanções de Bruxelas que impediam as empresas dos Estados-membros de fornecerem elementos tecnológicos relacionados à produção de energia.

A eurodeputada Anna Fotyga recorda que funcionários da empresa foram investigados, mas nunca chegaram a ser conhecidas as conclusões da investigação. “Até agora ainda não ouvimos nada sobre consequências legais dessa violação. Pelo contrário, a Siemens manteve as suas ações inalteradas durante estes anos”, acrescentou.

Em resposta a estas declarações, um porta-voz da empresa esclareceu que a empresa nunca foi alvo de qualquer acusação, acrescentando que “os processos [em causa] dizem respeito a indivíduos (a maioria ex-funcionários)”. A Siemens garantiu ainda que apoia as sanções contra a Rússia.

Fuga pelo mar
Com o recente embargo europeu ao petróleo russo, os especialistas advertem que Putin pode encontrar formas engenhosas de vender esta matéria-prima para financiar a invasão e alimentar a sua economia.

Uma dessas formas pode ocorrer em pleno mar, com transferências de petróleo de navio para navio. Por exemplo, uma embarcação russa em águas internacionais descarrega petróleo para um segundo navio-tanque, que atraca depois no porto de um país da UE e rotula o petróleo como proveniente de outra nação.

Um outro truque – que, aliás, tem sido muito utilizado desde o início da invasão da Ucrânia, passa por desligar os rastreadores das embarcações para ocultar os seus percursos e atividades.

Recentemente, a UE avançou com planos para criminalizar a fuga às sanções implementadas contra a Rússia, de modo a tornar mais fácil a apreensão dos bens de empresas e indivíduos que contornam as restrições.

Além disso, o bloco tem em curso uma nova iniciativa denominada “Operação Oscar” para apoiar investigações financeiras que visam ativos de origem criminosa. Contudo, o sucesso desta operação vai depender, em última análise, dos esforços das autoridades responsáveis pela aplicação da lei de cada país. advertem os especialistas.

Apesar dos esforços renovados para punir a violação das sanções, o mais provável, de acordo com os especialistas, é que a Rússia continue a conseguir o apoio de governos e empresas que lhe permitam contornar essas medidas. Mas os países que facilitam os fluxos comerciais da Rússia “sabem fazer negócios”, sublinhou Francesco Giumelli, especialista em sanções da Universidade de Groningen, na Holanda. “[A Rússia] vai ter de pagar caro por isso.”

https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/rotas-comerciais-e-fuga-pelo-mar-como-putin-pode-fugir-das-sancoes-do-ocidente/

quinta-feira, 31 de março de 2022

Guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia: relatório sobre cinco semanas da carnificina - Stephen Collinson and Shelby Rose (CNN)