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quarta-feira, 5 de outubro de 2022

UE acerta novo pacote de sanções contra Rússia (DW)

 UE acerta novo pacote de sanções contra Rússia

Deutsche Welle, 5/10/2022

Oitavo conjunto de retaliações contra Moscou é resposta do bloco à anexação ilegal de territórios ucranianos e inclui limite a preço do petróleo russo.

Os países integrantes da União Europeia chegaram nesta quarta-feira (05/10) a um acordo sobre novas sanções contra a Rússia. O novo pacote, o oitavo desde o início da invasão russa à Ucrânia em fevereiro, passará por um processo de aprovação formal e, caso não haja objeções, entra em vigor nesta quinta-feira.

"Acabamos de chegar a um acordo político sobre novas sanções contra a Rússia: uma resposta contundente da UE à anexação ilegal de territórios ucranianos por Putin", informou no Twitter o governo da República Tcheca, que ocupa a presidência rotativa da UE.

Limite do preço do petróleo

O pacote inclui o compromisso para estabelecer um teto para o preço do petróleo russo se o valor for acordado com o G7 (grupo de países mais industrializados do mundo) e outros países. O teto do preço do petróleo consiste em só permitir o transporte do petróleo russo e seus derivados para países fora da UE se Moscou vendê-lo a um preço igual ou inferior ao fixado, para reduzir, dessa forma, a receita de que Moscou dispõe para financiar a guerra contra a Ucrânia e também limitar os impactos na crise energética.

O acordo foi alcançado após a aceitação da exigência de Grécia, Chipre e Malta de que a proposta só iria adiante se implementada por uma coalizão mais ampla de países, temendo que suas companhias marítimas percam participação de mercado para concorrentes.

Contra a propaganda do Kremlin

A nova rodada de sanções também atingirá indivíduos, acrescentando à lista de sanções individuais os responsáveis pró-russos nas regiões ucranianas de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporíjia, ocupadas pela Rússia. 

As retaliações proíbem ainda os cidadãos europeus de participarem dos conselhos de administração de empresas públicas russas.

A UE também incluirá na lista de russos sancionados Alan Lushnikov, o maior acionista da fabricante de armas russa JSC Kalashnikov Concern, além de artistas ou músicos que participaram de atos de propaganda do Kremlin.

Também é destaque a inclusão da empresa russa Alrosa, uma das maiores produtoras de diamantes do mundo. Além disso, também fazem parte da lista a empresa JSC Goznak, responsável, entre outras coisas, pela impressão dos passaportes que Moscou distribui nas regiões ocupadas de Donbass, e outras empresas relacionadas ao fornecimento de armas ao exército russo e uma envolvida em pesquisas nucleares para uso civil.

A UE também vetará a exportação de tecnologia nos setores de aviação, eletrônicos e produtos químicos e siderúrgicos, entre outros, para privar o Kremlin de tecnologias-chave para a máquina de guerra russa.

"Kremlin continuará pagando"

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, saudou o acordo sobre o pacote de sanções. "Nunca aceitaremos os falsos referendos de Putin nem qualquer tipo de anexação na Ucrânia. Estamos determinados a continuar fazendo o Kremlin pagar", escreveu ela no Twitter.

Uma resposta mais reservada veio do ministro das Relações Exteriores da Lituânia, Gabrielius Landsbergis, que criticou o número de isenções incluídas no último pacote. "O tempo para pacotes fortes acabou e, ao ler os documentos apresentados, às vezes tem-se a impressão de que há mais exceções do que sanções", disse ele a uma rádio lituana na quarta-feira. "No entanto, é melhor do que nada, do que nenhum pacote", disse ele, acrescentando: "Estamos progredindo, embora de forma bastante fraca".

md/rk (Reuters, DPA, EFE, AFP, Lusa)


sexta-feira, 24 de junho de 2022

Como a Rússia pode escapar das sanções- Beatriz Céu (CNN)

 Interessante que sequer o nome da China é citado! Medo, conivência, esforço para que a CNN não seja expulsa da China, como já foi da Rússia? Uma lacuna surpreendente, pois que se trata di principal ponto de fuga.

Incidentalmente, as sanções unilaterais sempre foram as mais numerosas, e as mais facilmente burláveis também.

Paulo Roberto de Almeida 


Rotas comerciais e fuga pelo mar: Como Putin pode fugir das sanções do Ocidente

Rússia precisa encontrar métodos para manter financiamento do conflito na Ucrânia
Beatriz Céu, da CNN
24/06/2022 às 02:00 

Após quatro meses desde o início da invasão da Ucrânia, a Rússia continua a enfrentar um braço de ferro com o Ocidente, acumulando sanções cada vez mais agressivas contra a economia de Moscou.

A União Europeia já anunciou o sexto pacote de sanções, que visa o embargo ao petróleo russo, e já se especula sobre a necessidade de um sétimo destinado ao gás.

À medida que as sanções vão se acumulando, crescem também as necessidades económicas da Rússia, muito dependente dos investimentos estrangeiros. Além disso, o Kremlin também precisa pagar o esforço da guerra na Ucrânia, uma tarefa que se torna cada vez mais impossível devido às restrições do Ocidente.

Isto significa que, mais cedo ou mais tarde, a Rússia irá violar as sanções económicas impostas, segundo os analistas. E há várias maneiras de conseguir, como explicam ao jornal Politico vários especialistas, políticos e um ex-funcionário do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos.

É certo que nunca se falou tanto de sanções como agora, mas a verdade é que esta não é a primeira vez que a Rússia se vê confrontada com este tipo de medida vinda do Ocidente.

De fato, esta é a realidade russa desde a anexação da Crimeia, em 2014, quando foi alvo das primeiras restrições económicas. Desde então, o país investiu em sua autossuficiência, mas percebeu que não é possível garantir a desejada autonomia em todas as áreas.

“A Rússia precisa desesperadamente de chips, semicondutores e de várias matérias-primas essenciais, como lítio, para continuar a produzir sistemas de armas necessários para uso militar. Sem estes materiais sofisticados, a indústria militar russa será prejudicada”, disse um ex-funcionário responsável pelo comércio ucraniano.

Na verdade, a dependência da Rússia “é muito elevada”, afirmou Maria Shagina, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, admitindo assim que, à medida que forem implementadas novas sanções, também as necessidades da Rússia vão aumentar, naturalmente.

Os países “na linha da frente” da fuga às sanções
De acordo com os especialistas, é muito provável que a Rússia tente importar bens sancionados através de novas rotas comerciais. Para tal, Vladimir Putin conta com uma lista variada de países dentro e fora da Europa que são potenciais “elos fracos” na aplicação e cumprimento de sanções.

“Historicamente, existem algumas jurisdições que provaram estar na linha da frente” da fuga às sanções, disse um ex-funcionário do Departamento do Tesouro dos EUA, apontando a Turquia e os Emirados Árabes Unidos como exemplos.

Além disso, a Rússia pode ainda recorrer aos seus países vizinhos na União Económica Eurasiática (UEE), da qual faz parte junto com Belarus, Cazaquistão, Arménia e Quirguistão. Antigos funcionários dos serviços de inteligência do Ocidente admitem que existe potencial para o aumento do comércio naquela zona. Com isso, pode aumentar também o fluxo de mercadorias ilegais, nomeadamente os bens sancionados.

Segundo Kevin Limonier, professor do Instituto Francês de Geopolítica, um “elevado número de russos que trabalham no setor das Tecnologias da Informação” chegou ao Quirguistão.

“Depois de frequentar os bares de Bishkek, percebemos que nem todos estão aqui por motivos políticos. Alguns fugiram com o aval dos seus empregadores para contornar as sanções”, escreveu Limonier nas redes sociais.

Além de recorrer aos países vizinhos, a Rússia também pode procurar os controles de fronteiras mais fáceis da UE, tendo em conta que algumas jurisdições são mais leves do que outras no que diz respeito à aplicação e cumprimento de sanções.

A Itália é exemplo disso, apontou Maria Shagina, lembrando que o país esteve muito perto de enviar bens sancionados para a Rússia logo após as primeiras restrições de 2014. Além disso, várias embarcações com ligações a Alemanha, Itália, Grécia e Bulgária também atracaram em portos da Crimeia.

A investigadora sublinha, também, que a atuação da UE quando confrontada com a violação de sanções deixa muito a desejar. A alemã Siemens, por exemplo, viu-se envolvida numa polémica depois de duas turbinas de gás terem sido removidas de território russo e transportadas para a Crimeia em 2016, altura em que a região foi alvo de sanções de Bruxelas que impediam as empresas dos Estados-membros de fornecerem elementos tecnológicos relacionados à produção de energia.

A eurodeputada Anna Fotyga recorda que funcionários da empresa foram investigados, mas nunca chegaram a ser conhecidas as conclusões da investigação. “Até agora ainda não ouvimos nada sobre consequências legais dessa violação. Pelo contrário, a Siemens manteve as suas ações inalteradas durante estes anos”, acrescentou.

Em resposta a estas declarações, um porta-voz da empresa esclareceu que a empresa nunca foi alvo de qualquer acusação, acrescentando que “os processos [em causa] dizem respeito a indivíduos (a maioria ex-funcionários)”. A Siemens garantiu ainda que apoia as sanções contra a Rússia.

Fuga pelo mar
Com o recente embargo europeu ao petróleo russo, os especialistas advertem que Putin pode encontrar formas engenhosas de vender esta matéria-prima para financiar a invasão e alimentar a sua economia.

Uma dessas formas pode ocorrer em pleno mar, com transferências de petróleo de navio para navio. Por exemplo, uma embarcação russa em águas internacionais descarrega petróleo para um segundo navio-tanque, que atraca depois no porto de um país da UE e rotula o petróleo como proveniente de outra nação.

Um outro truque – que, aliás, tem sido muito utilizado desde o início da invasão da Ucrânia, passa por desligar os rastreadores das embarcações para ocultar os seus percursos e atividades.

Recentemente, a UE avançou com planos para criminalizar a fuga às sanções implementadas contra a Rússia, de modo a tornar mais fácil a apreensão dos bens de empresas e indivíduos que contornam as restrições.

Além disso, o bloco tem em curso uma nova iniciativa denominada “Operação Oscar” para apoiar investigações financeiras que visam ativos de origem criminosa. Contudo, o sucesso desta operação vai depender, em última análise, dos esforços das autoridades responsáveis pela aplicação da lei de cada país. advertem os especialistas.

Apesar dos esforços renovados para punir a violação das sanções, o mais provável, de acordo com os especialistas, é que a Rússia continue a conseguir o apoio de governos e empresas que lhe permitam contornar essas medidas. Mas os países que facilitam os fluxos comerciais da Rússia “sabem fazer negócios”, sublinhou Francesco Giumelli, especialista em sanções da Universidade de Groningen, na Holanda. “[A Rússia] vai ter de pagar caro por isso.”

https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/rotas-comerciais-e-fuga-pelo-mar-como-putin-pode-fugir-das-sancoes-do-ocidente/

quinta-feira, 2 de junho de 2022

Sanções contra a Rússia vão criar uma recessão global? - Clifford Krauss (NYT)

  Europe’s Russian Oil Ban Could Mean a New World Order for Energy

The effort could hurt Russia but could also help drive up already high oil prices, hurting the global economy and enriching energy companies.

Clifford Krauss

The New York Times – 2.6.2022

 

Houston - The European Union’s embargo on most Russian oil imports could deliver a fresh jolt to the world economy, propelling a realignment of global energy trading that leaves Russia economically weaker, gives China and India bargaining power and enriches producers like Saudi Arabia.

Europe, the United States and much of the rest of the world could suffer because oil prices, which have been marching higher for months, could climb further as Europe buys energy from more distant suppliersEuropean companies will have to scour the world for the grades of oil that its refineries can process as easily as Russian oil. There could even be sporadic shortages of certain fuels like diesel, which is crucial for trucks and agricultural equipment.

In effect, Europe is trading one unpredictable oil supplier — Russia — for unstable exporters in the Middle East.

Europe’s hunt for new oil supplies — and Russia’s quest to find new buyers of its oil — will leave no part of the world untouched, energy experts said. But figuring out the impact on each country or business is difficult because leaders, energy executives and traders will respond in varying ways.

China and India could be protected from some of the burden of higher oil prices because Russia is offering them discounted oil. In the last couple of months, Russia has become the second biggest oil supplier to India, leapfrogging other big producers like Saudi Arabia and the United Arab Emirates. India has several large refineries that could earn rich profits by refining Russian oil into diesel and other fuels in high demand around the world.

Ultimately, Western leaders are aiming to weaken President Vladimir V. Putin’s ability to wreak havoc in Ukraine and elsewhere by denying him billions of dollars in energy sales. They hope that their moves will force Russian oil producers to shut down wells because the country does not have many places to store oil while it lines up new buyers. But the effort is perilous and could fail. If oil prices rise substantially, Russia’s overall oil revenue may not fall much.

Other oil producers like Saudi Arabia and Western oil companies like Exxon Mobil, BP, Shell and Chevron stand to do well simply because oil prices are higher. The flip side of that is that global consumers and businesses will have to pay more for every gallon of fuel and goods shipped in trucks and trains.

“It’s a historic, big deal,” said Robert McNally, a former energy adviser to President George W. Bush. “This will reshape not only commercial relationships but political and geopolitical ones as well.”

E.U. officials have yet to release all the details of their effort to squelch Russian oil exports but have said that those policies will go into effect over months. That is meant to give Europeans time to prepare, but it will also give Russia and its partners time to devise workarounds. Who will adapt better to the new reality is hard to know.

According to what European officials have said so far, the union will ban Russian tanker imports of crude oil and refined fuels like diesel, representing two-thirds of the continent’s purchases from Russia. The ban will be phased in over six months for crude and eight months for diesel and other refined fuels.

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In addition, Germany and Poland have pledged to stop importing oil from Russia by pipeline, which means Europeans could reduce Russian imports by 3.3 million barrels a day by the end of the year.

And the union has said that European companies will no longer be allowed to insure tankers carrying Russian oil anywhere. That ban will also be phased in over several months. Because many of the world’s largest insurers are based in Europe, that move could significantly raise the cost of shipping Russian energy, though insurers in China, India and Russia itself might now pick up some of that business.

Before the invasion of Ukraine, roughly half of Russia’s oil exports went to Europe, representing $10 billion in transactions a month. Sales of Russian oil to E.U. members have declined somewhat in the last few months, and those to the United States and Britain have been eliminated.

Some energy analysts said the new European effort could help untangle Europe from Russian energy and limit Mr. Putin’s political leverage over Western countries.

“There are many geopolitical repercussions,” said Meghan L. O’Sullivan, director of the geopolitics of energy project at Harvard’s Kennedy School. “The ban will draw the United States more deeply into the global energy economy and it will strengthen energy ties between Russia and China.”

Another hope of Western leaders is that their moves will reduce Russia’s position in the global energy industry. The idea is that despite its efforts to find new buyers in China, India and elsewhere, Russia will export less oil overall. As a result, Russian producers will need to shut wells, which they will not be able to easily restart because of the difficulties of drilling and producing oil in inhospitable Arctic fields.

Still, the new European policy was the product of compromises between countries that can easily replace Russian energy and countries like Hungary that can’t easily break their dependence on Moscow or are unwilling to do so. That is why 800,000 barrels a day of Russian oil that comes to Europe by pipeline was excluded from the embargo for now.

The Europeans also decided to phase in the restrictions on insuring Russian oil shipments because of the importance of the shipping industry to Greece and Cyprus.

Such compromises could undermine the effectiveness of the new European effort, some energy experts warned.

“Why wait six months?” said David Goldwyn, a top State Department energy official in the Obama administration. “As the sanctions are configured now, all that will happen is you will see more Russian crude and product flow to other destinations,” he said. But he added, “It’s a necessary first step.”

 

The Russia-Ukraine War and the Global Economy

 

A far-reaching conflict. Russia’s invasion on Ukraine has had a ripple effect across the globe, adding to the stock market’s woes. The conflict has caused?? dizzying spikes in gas prices and product shortages, and is pushing Europe to reconsider its reliance on Russian energy sources.

 

Global growth slows. The fallout from the war has hobbled efforts by major economies to recover from the pandemic, injecting new uncertainty and undermining economic confidence around the world. In the United States, gross domestic product, adjusted for inflation, fell 0.4 percent in the first quarter of 2022.

Energy prices rise. Oil and gas prices, already up as a result of the pandemic, have continued to increase since the beginning of the conflict. The sharpening of the confrontation has also forced countries in Europe and elsewhere to rethink their reliance on Russian energy and seek alternative sources.

Russia’s economy faces slowdown. Though pro-Ukraine countries continue to adopt sanctions against the Kremlin in response to its aggression, the Russian economy has avoided a crippling collapse for now thanks to capital controls and interest rate increases. But Russia’s central bank chief warned that the country is likely to face a steep economic downturn as its inventory of imported goods and parts runs low.

Trade barriers go up. The invasion of Ukraine has also unleashed a wave of protectionism as governments, desperate to secure goods for their citizens amid shortages and rising prices, erect new barriers to stop exports. But the restrictions are making the products more expensive and even harder to come by.

Food supplies come under pressure. The war has driven up the cost of food in East Africa, a region that depends greatly on exports of wheat, soybeans and barley from Russia and Ukraine and is already dealing with a severe drought. Amid dwindling supplies, supermarkets around the world have begun asking customers to limit their purchases of sunflower oil, of which Ukraine is a top exporter.

Prices of essential metals soar. The price of palladium, used in automotive exhaust systems and mobile phones, has been soaring amid fears that Russia, the world’s largest exporter of the metal, could be cut off from global markets. The price of nickel, another key Russian export, has also been rising.

 

Despite the oil embargo, Europe will likely remain reliant on Russian natural gas for some time, possibly years. That could preserve some of Mr. Putin’s leverage, especially if gas demand spikes during a cold winter. European leaders have fewer alternatives to Russian gas because the world’s other major suppliers of that fuel — the United States, Australia and Qatar — can’t quickly expand exports substantially.

Russia also has other cards to play, which could undermine the effectiveness of the European embargo.

China is a growing market for Russia. Connected mainly by pipelines that are near capacity, China increased its tanker shipments of Russian crude in recent months.

Saudi Arabia and Iran might lose from those increased Russian sales to China, and Middle Eastern sellers have been forced to reduce their prices to compete with the heavily discounted Russian crude.

Dr. O’Sullivan said that the relationship between Russia, Saudi Arabia and other members of the OPEC Plus alliance could become more complicated “as Moscow and Riyadh compete to build and maintain their market share in China.”

Even as energy commercial ties are scrambled, big oil producers like Saudi Arabia and the United Arab Emirates have benefited overall from the war in Europe. Many European companies are now eager to buy more oil from the Middle East. Saudi oil export revenues are climbing and could set a record this year, according to Middle East Petroleum and Economic Publications, which tracks the industry, pushing the kingdom’s trade surplus to more than $250 billion.

India is another beneficiary because it has big refineries that can process Russian crude, turning it into diesel, some of which could end up in Europe even if the raw material came from Russia.

“India is becoming the de facto refining hub for Europe,” analysts at RBC Capital Markets said in a recent report.

But buying diesel from India will raise costs in Europe because it’s more expensive to ship fuel from India than to have it piped in from Russian refineries. “The unintended consequence is that Europe is effectively importing inflation to its own citizens,” the RBC analysts said.

India is getting about 600,000 barrels a day from Russia, up from 90,000 barrels a day last year when it was a relatively minor supplier. Russia is now India’s second biggest supplier after Iraq.

But India could find it difficult to keep buying from Russia if the European Union’s restrictions on European companies insuring Russian oil shipments raise costs too much.

“India is a winner,” said Helima Croft, RBC’s head of commodity strategy, “as long as they are not hit with secondary sanctions.”

quarta-feira, 4 de maio de 2022

O terceiro pós-guerra - Jorge Fontoura (CB)

 Meu amigo Jorge Fontoura publicou nesta quarta-feira 4 de maio de 2022 um rico e denso artigo sobre a atual situação do sistema internacional, a partir da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, como se pode constatar por esta imagem: 


 Entre várias outras considerações bastante válidas, Jorge Fontoura formula uma pergunta básica: 

"Seria a guerra na Ucrânia um fato histórico de transição de era, o fim da Idade Contemporânea?"

Tentarei responder a essa questão mais adiante.

Mas ele também pergunta, na imediata sequência: "Seria a natureza humana irremediavelmente insana?", ao que eu responderia também imediatamente que sim, mas não todos os humanos, só os ditadores mais arrogantes.

Mas, a segunda questão é relativamente secundária, pois sempre teremos insanos, populistas e demagogos entre nós, sendo mais relevante retornar à primeira questão: a guerra de agressão da Rússia e as sanções unilaterais tomadas ao seu encontro por diversos países produziram uma mudança sistêmica no cenário mundial e nas relações internacionais?

Provavelmente sim, mas não na magnitude esperada ao final do seu artigo, quando Jorge Fontoura menciona os acordos de Yalta como o prenúncio de uma nova era. Estávamos então na maior catástrofe geopolítica do século XX e de todos os séculos precedentes, deslocando para um ínfimo terceiro ou quarto lugar a tal "catástrofe geopolítica" da autoimplosão da União Soviética, muito equivocadamente magnificada pelo neoczar Putin. Não se pode esperar que dessa guerra localizada – mas com efeitos mundiais, pelas reações provocadas – saiam grandes arranjos quanto os que resultaram de Dumbarton Oaks, de Bretton Oaks, de Yalta e San Francisco. 

O que ocorrerá será um notável processo de "diminuição" (ou enxugamento) econômico da Rússia, talvez convertida em colônia econômica da China no espaço de alguns anos, dada a sabotagem contra sua oferta conduzida pelas potências ocidentais. Não se pode pensar tampouco numa substituição do dólar no sistema monetário internacional, a não ser marginalmente, já que não existem condições para que outras moedas assumam o seu papel. 

Mas se pode pensar num debate consistente sobre o fim do "direito de veto", um privilégio abusivo, derivado de uma paz armada em 1945, e que poderá ser revisto no espaço da próxima geração de estadistas, em consonância com a experiência presente, de se ter um agressor em condição de impor sua vontade a todos os demais (o que também ocorre, diga-se de passagem, com os EUA, capazes de impor sanções econômicas unilaterais a quase todos os demais países).

É um debate necessário, tanto porque esse poder exorbitante não existia no Conselho da Liga das Nações, e tampouco existe no plano do direito interno dos países, onde juízes com algum interesse no caso são chamados, ou institucionalmente comandados, a não participar de julgamento e decisão.

Vou continuar escrevendo sobre isto.

Paulo Roberto de Almeida

Brasilia, 4 de maio de 2022


sexta-feira, 29 de abril de 2022

Descontentamento de parte da elite russa com invasão da Ucrânia sugere cisões internas no Kremlin - Catherine Belton e Greg Miller (Washington Post/Estadão)

Descontentamento de parte da elite russa com invasão da Ucrânia sugere cisões internas no Kremlin

Nos dois meses da guerra, o silêncio – e até a aceitação – da elite russa começa a se desgastar 

Por Catherine Belton e Greg Miller

O Estado de S. Paulo, 29/04/2022, com autorização do Washington Post

 

THE WASHINGTON POST - Mesmo que as pesquisas de opinião relatem um apoio público esmagador à campanha militar, em meio à propaganda estatal generalizada e novas leis que proíbem as críticas à guerra na Ucrânia, as cisões estão começando a aparecer. As linhas que dividem as facções da elite econômica russa estão se tornando mais acentuadas, e alguns dos magnatas – especialmente aqueles que fizeram fortuna antes de o presidente Vladimir Putinchegar ao poder – começaram, timidamente, a falar.

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Para muitos, o foco mais imediato tem sido seus próprios problemas. Sanções abrangentes impostas pelo Ocidente impuseram dificuldades à economia russa que remontam à época da Guerra Fria, congelando dezenas de bilhões de dólares de muitos dos ativos dos magnatas ao longo do caminho.

“Em um dia, destruíram o que foi construído ao longo de muitos anos. É uma catástrofe”, disse um empresário que foi convocado junto com muitos dos outros homens mais ricos do país para se encontrar com Putin no dia da invasão.

A Casa Branca pressionou ainda mais os oligarcas na quinta-feira, anunciando uma proposta para liquidar seus ativos e doar os lucros para a Ucrânia.

Pelo menos quatro oligarcas que se destacaram na era mais liberal do antecessor de Putin, o presidente Boris Yeltsin, deixaram a Rússia. Pelo menos quatro altos funcionários renunciaram a seus cargos e também saíram do país, sendo um deles Anatoli Chubais, o enviado especial do Kremlin para o desenvolvimento sustentável e o czar da privatização da era Yeltsin.

Mas aqueles em posições de liderança vitais para a continuidade do governo do país permanecem – alguns presos, incapazes de sair mesmo que quisessem. Mais notavelmente, a chefe do banco central da Rússia, Elvira Nabiullina, educada e altamente respeitada, apresentou sua renúncia após a imposição de sanções ocidentais, mas Putin se recusou a deixá-la renunciar, segundo cinco pessoas familiarizadas com a situação.

Em entrevistas, vários bilionários russos, banqueiros de alto escalão, um alto funcionário e ex-funcionários, falando sob condição de anonimato por medo de represálias, descreveram como eles e outros foram pegos de surpresa por seu presidente cada vez mais isolado e se sentem impotentes para influenciá-lo porque seu grupo mais próximo é dominado por um punhado de oficiais de segurança linha-dura.

 

Vladimir Potanin, proprietário da usina de metais Norilsk Nickel e arquiteto das privatizações da Rússia na década de 90, alertou que propostas para confiscar os ativos de empresas estrangeiras que deixaram a Rússia após a guerra destruiriam a confiança dos investidores e jogariam o país de volta à revolução de 1917.

Oleg Deripaska, um magnata do alumínio que também fez sua fortuna inicial durante a era Yeltsin, foi mais longe, chamando a guerra na Ucrânia de “insanidade”, embora também tenha se concentrado no custo econômico da invasão. Ele previu que a crise econômica resultante das sanções seria três vezes pior do que a crise financeira de 1998 que abalou a economia russa, e jogou o desafio ao regime de Putin, dizendo que suas políticas de capitalismo de estado dos últimos 14 anos “não levou nem ao crescimento econômico nem ao crescimento da renda da população”.

Em um post subsequente em seu canal Telegram, Deripaska escreveu que o atual “conflito armado” era “uma loucura da qual nos envergonharemos por muito tempo”. Na frase seguinte, no entanto, ele indicou que o Ocidente era igualmente culpado por uma “mobilização ideológica infernal de todos os lados”.

 

‘Perdemos tudo’

Quando 37 dos executivos de negócios mais ricos da Rússia foram chamados ao Kremlin para a reunião com Putin horas depois de ele ter lançado a guerra em 24 de fevereiro, muitos deles ficaram deprimidos e chocados. “Todo mundo estava de péssimo humor”, disse um participante. “Todo mundo estava sentado lá arrasado.”

“Eu nunca os vi tão atordoados como naquele dia”, disse outro participante. “Alguns deles nem conseguiam falar.”

Eles ficaram esperando, como de costume, por mais de duas horas antes que o presidente aparecesse no ornamentado Ekaterininsky Hall do Kremlin – tempo suficiente para considerar seu destino. Para alguns dos executivos, enquanto discutiam discretamente as consequências da guerra de Putin, foi o momento em que perceberam que tudo estava acabado para os impérios de negócios que vinham construindo desde que a transição de mercado da Rússia começou há mais de 30 anos.

“Alguns deles disseram: ‘Perdemos tudo’”, disse um dos participantes.

Quando o presidente chegou, ninguém se atreveu a processar um gemido de protesto. Com cara de pedra, eles ouviram Putin garantir a todos que a Rússia continuaria fazendo parte dos mercados globais – uma promessa que logo se tornou vazia pela série de sanções ocidentais – e lhes disse que não tinha outra escolha senão lançar sua “operação militar especial”.

Desde então, Putin aumentou as ameaças contra qualquer um que criticasse a guerra, emitindo apressadamente novas leis que incluem uma possível sentença de 15 anos de prisão para quem disser qualquer coisa que o Kremlin considere falsa sobre os militares russos. Seu governo propôs a instituição de um novo sistema de deputados nos ministérios da Rússia para informar ao Kremlin sobre o “clima e humor”. Um magnata disse que esperava que a próxima repressão fosse “canibalista” em comparação com o “período vegetariano” dos anos anteriores.

A decisão de Putin de lançar uma invasão em grande escala parece ter chocado não apenas os bilionários, mas toda a elite russa, incluindo altos funcionários tecnocráticos e alguns membros dos serviços de segurança, de acordo com dois dos bilionários russos e um bem relacionado ex-funcionário do Estado.

“Além daqueles diretamente envolvidos nos preparativos, (o ministro da Defesa Serguei) Shoigu, (chefe do Estado-Maior do Exército Valeri) Gerasimov, e alguns do FSB, ninguém sabia”, disse um dos bilionários.

Apesar das crescentes advertências da inteligência dos EUA, muitos na elite de Moscou acreditavam que Putin estava limitando seus objetivos às áreas separatistas do leste da Ucrânia. Autoridades econômicas e financeiras “acharam que seria limitado à ação em Donetsk e Luhansk e é para isso que eles se prepararam”, disse o alto funcionário. Eles se prepararam para sanções ocidentais, incluindo uma suspensão do Swift, o sistema internacional de mensagens financeiras, disse ele, “mas eles não se prepararam para isso”.

 

Com as baixas aumentando e as tropas russas forçadas a voltar de Kiev, a guerra agora está sendo vista com crescente consternação não apenas por bilionários alvos de sanções pelo Ocidente, mas até por alguns membros do estabelecimento de segurança, segundo duas pessoas com conhecimento da situação.

Um se referia especificamente a Shoigu, que participou dos preparativos de guerra. “Todos eles querem ter uma vida normal. Eles têm casas, filhos, netos. Eles não precisam de guerra”, disse essa pessoa. “Eles não são todos suicidas. Todos eles querem ter uma vida boa. Eles querem que seus filhos tenham tudo e possam viajar para os lugares mais bonitos.”

A pressão crescente sobre suas contas bancárias estrangeiras é uma fonte de desgosto especial para a elite. Mesmo funcionários que tentaram se proteger transferindo seu dinheiro para contas pertencentes a parceiros de negócios agora descobrem que essas contas estão bloqueadas, disse um dos executivos de Moscou.

 

Preso em Moscou

Sanções ocidentais para congelar US$ 300 bilhões - ou quase metade - das reservas de moeda forte do Banco Central da Rússia deixaram Moscou cambaleando, incluindo a presidente do banco central Nabiullina, cuja tentativa de renúncia foi rejeitada por Putin, segundo as cinco pessoas familiarizadas com a situação (a agência Bloomberg News relatou pela primeira vez sua tentativa de renunciar).

“Nabiullina entende muito bem que ela não pode simplesmente ir embora. Caso contrário, vai acabar muito mal para ela”, disse uma dessas pessoas.

“Ninguém pode dizer ‘é isso’ e depois bater a porta”, disse Vadim Belyaev, ex-proprietário exilado do Otkritie, o maior banco privado da Rússia até sua aquisição pelo Estado em 2017. “Todo mundo vai continuar trabalhando bem ao lado do Tribunal de Haia”, disse ele, referindo-se a um possível julgamento por crimes de guerra. O banco central negou que Nabiullina tenha tentado renunciar.

Apenas os funcionários que são supérfluos para o governo do Estado – e são relativamente estranhos – foram autorizados a sair, disseram economistas. “Nenhum ministro pode deixar o cargo”, disse Maxim Mironov, professor associado da Universidade IE na Espanha. “É como uma máfia.”

Depois que autoridades do alto escalão americano visitaram a Ucrânia e garantiram que é possível ganhar o conflito com o "equipamento adequado".

Se Nabiullina simboliza os altos funcionários tecnocratas de Moscou, Alexei Kudrin é o mais próximo de Putin. Kudrin -- um ex-membro do grupo mais próximo de Putin de São Petersburgo que atuou como ministro das Finanças nos dois primeiros mandatos de sua presidência -- também parece estar entre os que não podem renunciar.

Uma pessoa próxima a Kudrin disse que se encontrou com Putin um mês antes da invasão. Embora estivesse claro que os preparativos para a guerra estavam em andamento, Kudrin acreditava que os planos não seriam executados, disse uma pessoa familiarizada com seu pensamento. “Ele contava com que as coisas não chegassem a esse ponto”, disse a fonte.

Kudrin -- que agora chefia a Câmara de Auditoria, o órgão de fiscalização financeira da Rússia -- disse a aliados que seria uma traição sua sair para sempre. Ele apareceu em Tel-Aviv no fim de semana de 9 de abril, mas usou as mídias sociais para telegrafar a todos que pretendia retornar a Moscou para falar na câmara alta da Rússia na semana seguinte. Ele fez seu discurso de acordo com o plano, alertando que as sanções ocidentais estavam confrontando a Rússia com a pior crise econômica em 30 anos.

Outro ex-alto funcionário do estado disse que sentiu a responsabilidade de permanecer em Moscou, embora tenha ficado surpreso e horrorizado com a guerra. “Se todo mundo for embora, quem vai estar aqui para juntar os cacos?”, disse ele. “É como trabalhar em uma usina nuclear. Quem vai executá-la se você sair? Se você sair, há uma chance de explodir.”

 

Os magnatas de Yeltsin e os magnatas de Putin

Entre os bilionários que deixaram a Rússia logo após a invasão estão vários que ficaram ricos durante a era Yeltsin, incluindo Alexander Mamut e Alexander Nesis, donos da empresa de ouro russa Polymetal, e Mikhail Fridman e Petr Aven do Alfa Group.

Mas muitos outros magnatas fugiram para Moscou assim que foram atingidos pelas sanções, que os impediram de viajar para o Ocidente. Outros executivos de negócios temem que, se deixarem a Rússia, suas empresas sejam confiscadas pelo governo, disse um dos executivos de negócios de Moscou.

Alguns dos bilionários agora presos em Moscou estão tentando apenas sair ilesos. “Você pode não apoiar a guerra, mas precisa ficar quieto e estar com seus compatriotas porque alguns de seus soldados estão morrendo”, disse uma pessoa próxima a um dos bilionários presentes na reunião do Kremlin em 24 de fevereiro. “Se você mora no país, pode não estar feliz – ninguém está feliz com o que está acontecendo – mas não expresse sua opinião.”

Os bilionários que se dispuseram a falar publicamente são aqueles que se lembram de uma era diferente; eles fizeram suas primeiras fortunas nos anos de Yeltsin, antes de Putin se tornar presidente.

Sergei Pugachev, um membro do Kremlin até deixar a Rússia em 2011, apontou que esses magnatas ainda eram cuidadosos em seus comentários públicos para não criticar diretamente Putin por ir à guerra. “O que eles dizem é sutil: o contexto é que o Ocidente, a Otan são os culpados. … Eles estão falando sobre isso como se fosse uma conspiração contra a Rússia”, disse ele.

Em contraste, aqueles mais próximos de Putin – que são de São Petersburgo e ficaram fabulosamente ricos após sua ascensão à presidência – como Gennady Timchenko, Yury Kovalchuk e Arkady Rotenburg, estão resolutamente silenciosos. Eles “nunca iriam contra Putin. Eles começaram com Putin, e ele os tornou gazilionários. Por que você morderia a mão que te alimenta?” disse um ex-banqueiro ocidental sênior que trabalhou com oligarcas russos.

Além desses magnatas, há um exército de funcionários e executivos de negócios em Moscou que não estão preocupados com o crescente isolamento econômico da Rússia como resultado da invasão, disse Pugachev, e muitos dos contatos que ele mantém em Moscou não culparam Putin por ir à guerra. Eles reclamaram, em vez disso, que o Exército deveria estar mais bem preparado.

Ele disse que muitos membros da elite atual são ministros de governo de nível médio que acumularam milhões de dólares em contas privadas e mantêm casas em outros lugares da Europa. Se as sanções os impedirem de viajar para esses países, eles ainda estarão bem. “Ele ainda é ministro na Rússia e, em vez de ir para a Áustria, irá para (o resort russo) Sochi. Eles não sofrem muito”, disse Pugachev.

Na superfície, além disso, a economia russa parece se estabilizar desde a leva inicial de sanções, impulsionada por uma receita estimada em mais de US$ 800 milhões por dia com a venda de petróleo e gás para a Europa. A política do banco central de forçar os exportadores a vender 80% de seus ganhos em moeda forte evitou uma implosão do rublo, enquanto Putin declarou que a “blitzkrieg econômica” contra a Rússia fracassou.

Mas no início deste mês, Nabiullina alertou que o impacto das sanções ainda não foi totalmente sentido e disse que o pior ainda estava por vir. As fábricas, onde “praticamente todos os produtos” dependiam de componentes importados, começavam a ficar sem suprimentos, enquanto as reservas de bens de consumo importados também diminuíam. “Estamos entrando em um período difícil de mudanças estruturais”, disse ela a deputados parlamentares. “O período durante o qual a economia pode viver de reservas é finito.”

Nessas condições, a posição de Putin é precária, disse Pugachev. A população até agora foi embalada pela máquina de propaganda estatal, que encobriu o nível de mortes nas forças armadas russas, bem como pela falta de impacto imediato das sanções. “Mas em três meses, as lojas e fábricas ficarão sem estoque, e a escala de mortes nas forças armadas russas ficará clara”, disse ele.

Apesar do golpe quase fatal em seus interesses, por enquanto, a elite empresarial russa parece ainda estar congelada de medo. “Não sei quem tem coragem de revidar”, disse um dos executivos de negócios.

“Mas se a guerra for longa e eles começarem a perder, as chances serão maiores”, disse ele. “Haverá uma batalha séria por Donbass e, se não for bem-sucedida, haverá uma grande batalha dentro da Rússia” entre as elites.

 

terça-feira, 22 de março de 2022

Brasil mostra sua total indiferença ao drama da Ucrânia - Chanceler diz que não cabe ao Brasil "encontrar um culpado" - VERGONHA!

 Brasil continua DO OUTRO LADO DO MUNDO. Coloca seu conforto pessoal acima dos grandes princípios da política externa e dos valores que sempre impulsionaram a sua diplomacia. Se isso não é COVARDIA, no mínimo é INDIFERENÇA!

Paulo Roberto de Almeida

Sanções à Rússia trazem conflito para nível global, diz chanceler brasileiro
Carlos França critica bloqueios e diz não ser papel do Brasil "encontrar um culpado"
Da Redação, com Rádio Bandeirantes
22/03/2022 • 11:28 - Atualizado em 22/03/2022 • 11:55

O ministro das Relações Exteriores, Carlos França, afirmou nesta terça-feira (21) que está preocupado com as consequências comerciais da guerra entre Rússia e Ucrânia.
França disse que a produção de alimentos pode ser prejudicada. Em entrevista à rádio Bandeirantes, o chanceler também indicou ser contra novas sanções contra a Rússia, da forma como elas vem sendo adotadas.
Os novos bloqueios comerciais à Rússia serão discutidos em encontro entre representantes dos Estados Unidos e da União Europeia, marcado para esta quinta-feira (24), na Bélgica:
“Entendo as sanções neste momento. No entanto, trouxeram para nível global um conflito que era regional. Temo que sendo unilaterais, as sanções prejudiquem ou possam ferir de morte o sistema unilateral. Acho que essas sanções ficariam mais bem colocadas se fossem discutidas no seio da Organização Mundial do Comércio, da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), ouvindo outras vozes, reforçando o sistema multilateral, para encontrar uma solução para o conflito e não apenas uma sanção que pode causar consequências danosas para todo o mundo”, diz.
"Não é papel do Brasil encontrar um culpado"
Carlos França afirmou que não é papel do Brasil "encontrar um culpado" no conflito entre Rússia e Ucrânia. Em entrevista ao Jornal Gente, da rádio Bandeirantes, o ministro disse que a posição do País é de "equilíbrio", que deve “ouvir os dois lados”. Também defendeu "respeito à integridade territorial" e "imediato cessar fogo" para uma "solução pacífica".
“Uma posição de equilíbrio, que busca apontar uma saída. Nós não queremos encontrar um culpado. Nós entendemos que o mandato no Conselho de Segurança é garantir a paz e segurança mundiais. Nesse sentido, nossa posição é de buscar o imediato cessar-fogo, a defesa dos princípios do Direito Internacional, a solução pacífica de controvérsias, o respeito da integridade territorial de todos os Estados e isso envolve, claro, a Ucrânia”, disse.
Para a guerra acabar, Carlos França sugere confiança na diplomacia.
“Estive recentemente na Polônia, falei com chanceler polonês, com o assessor especial do presidente da República para Assuntos Internacionais, estive em Portugal para reunião com o presidente Marcelo de Souza. Na véspera, tive reunião com o primeiro-ministro (da Hungria) Viktor Orbán. Tenho ouvido embaixadores de países importantes como Índia e China. E, sim, acredito na diplomacia. Uma diplomacia competente e bem feita é seguramente a saída para esse conflito”, pontua.



quinta-feira, 17 de março de 2022

Os artigos da Carta das Nações Unidas que autorizam sanções e até bloqueios contra agressores

Os interessados podem consultar a Carta das Nações para ler o inteiro teor deste documento fundamental das relações internacionais contemporâneas, neste link: https://brasil.un.org/sites/default/files/2021-08/A-Carta-das-Nacoes-Unidas.pdf

Agora imaginem que não fosse nenhum dos membros permanentes do CSNU, ou seja, que possuem poder de veto, o que poderia ser feito contra o país agressor: 

Paulo Roberto de Almeida

Artigo 41 

O Conselho de Segurança decidirá sobre as medidas que, sem envolver o emprego de forças armadas, deverão ser tomadas para tornar efetivas suas decisões e poderá convidar os membros das Nações Unidas a aplicarem tais medidas. Estas poderão incluir a interrupção completa ou parcial das relações econômicas, dos meios de comunicação ferroviários, marítimos, aéreos, postais, telegráficos, radiofônicos, ou de outra qualquer espécie e o rompimento das relações diplomáticas

Artigo 42 

No caso de o Conselho de Segurança considerar que as medidas previstas no artigo 41 seriam ou demonstraram que são inadequadas, poderá levar a efeito, por meio de forças aéreas, navais ou terrestres, a ação que julgar necessária para manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais. Tal ação poderá compreender demonstrações, bloqueios e outras operações, por parte das forças aéreas, navais ou terrestres dos membros das Nações Unidas. 


Ou seja, se o direito de veto fosse suspenso para a Rússia, ela poderia ser estrangulada economicamente. Isso não vai ocorrer, mas deveria.

Paulo Roberto de Almeida 


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Sanções contra a Rússia, contra Putin? Not so easy, como indica Anthony Faiola (WP)

 Eu recomendaria que os interessados lessem "Putin's Kleptocracy" de Karen Dawisha. Um livro impressionante...

Paulo Roberto de Almeida


Why it’s not so easy to slap sanctions on Vladimir Putin

Businessman Yevgeniy Prigozhin serves food to Vladimir Putin during dinner at Prigozhin's restaurant outside Moscow in November 2011. (Misha Japaridze/AP)

Businessman Yevgeniy Prigozhin serves food to Vladimir Putin during dinner at Prigozhin's restaurant outside Moscow in November 2011. (Misha Japaridze/AP)

In the amped-up war of words between Washington and Moscow, President Biden has leveled what appears to be a next-level threat: If Russian troops defy the West and surge into Ukraine, the United States could slap personal sanctions on Russian President Vladimir Putin.

An increasingly common U.S. tactic, individual sanctions can ban travel and freeze assets in U.S. jurisdictions and bar Americans and U.S. companies from transactions with designees, targeting everything from New York bank accounts to family trips to Disney World. They can also have global reach through foreign banks and companies that fear running afoul of U.S. law.

Pushing back against Biden’s threat, Putin’s spokesman Dmitry Peskov said direct action against Putin would be “politically destructive” to U.S.-Russian ties — but not “painful” for his boss.

 

He might be right.

Broader U.S. sanctions against Russia could indeed sting. The New York Times reported that U.S. officials are prepared to take a “sledgehammer” to Russia’s financial system by targeting state banks and cutting off foreign lending, sales of sovereign bonds and technologies for critical industries, among other steps. Sanctions on that scale aimed at a country the size of Russia are novel and risk disruptions to the global financial system as well as Russian retaliation. European allies, dependent on Russian energy to light Berlin, Paris and Rome, may also be reluctant to join in. But if fully imposed, such sanctions could serve as serious punishment for Russian transgression.

Sanctions targeting Putin himself might be more difficult to make count. For one, to even consider freezing his assets, you’d have to know where they are. And Putin has buried his wealth better than any James Bond villain.

“Putin doesn’t have an account at JPMorgan Chase,” Eugene Rumer, a Russian expert with the Carnegie Endowment for International Peace, told me. “There’s a lot of talk about him being the richest man in the world with a fortune in the hundreds of billions of dollars. But I’ve never seen any credible proof of that fortune, or where he keeps it. And I don’t think Putin was planning on buying a condo for retirement in Sunny Isles, Florida.”

Forbes recently described Putin’s alleged fortune as “probably the most elusive riddle in wealth hunting — harder than the heirs, other heads of state and even drug lords that we’ve financially smoked out over the years.” Theories run the gambit: That he’s built an empire by demanding cuts from Russian oligarchs, or illicit financial deals or contract kickbacks.

 

But they’re all just theories. Meanwhile, his stated assets are relatively meager. Bloomberg News reported that a Kremlin declaration of Putin’s earnings claims his income to be roughly $131,000 a year. His declared assets? “A 77-square-meter apartment, an 18-square-meter garage, two vintage Volga GAZ M21 cars, a Lada Niva SUV and a trailer” — all of them in Russia and out of U.S. reach.

“The reality is that there are probably few people other than Putin who know how much loot he has and where he keeps it,” wrote Bloomberg News’s Timothy L. O’Brien. “That will make it difficult to figure out which financial switch to flip to deter Russia from invading Ukraine, or to penalize Putin personally if it does.”

One of the more outlandish possibilities: That Putin actually isn’t as rich as one might think because his awesome powers at home don’t require a fortune to rule.

“In the end, Putin may not need money, so long as he has the appearance of having it and the power that it would otherwise confer,” Forbes Wealth Team mused.

Few believe governments — even U.S. allies — that do business with Russia would agree to steps that turn Putin into a global pariah barred from summits or business events.

“The Europeans are not going to stop him from coming, and the Chinese will welcome him with open arms, so I’m not sure how a travel ban could work,” Rumer said. “Putin is not the kind of leader who goes to Disneyland. If he wanted to, he’d just have one built in Moscow.”

It’s relatively rare for the United States to impose sanctions on a sitting head of state, but it’s happened before — including 1,300 miles off the coast of Florida where Venezuelan President Nicolás Maduro goes to bed at night as the sitting global leader perhaps most targeted by Washington’s wrath.

In 2017, the U.S. government added Maduro to a list of high-ranking Venezuelan officials who faced asset freezes and bans on U.S. citizens doing business with them. Since then, federal authorities in Florida have seized from Venezuelan officials and government-linked business executives more than $450 million in assets — including Miami condos, superyachts and show horses. “But they didn’t seem to find any of Maduro personal assets,” Geoff Ramsey, a Venezuela expert at the Washington Office on Latin America, told me.

A further step not seen as an imminent possibility with Putin hurt Maduro more: His indictment in 2020 by the U.S. Justice Department on narcoterrorism charges, including a $15 million bounty for information leading to his capture. Since then, Maduro’s rare official foreign trips have been confined to friendly nations including Cuba and Mexico.

The White House on Monday signaled what could be a more likely — and damaging — play than going directly after Putin: Targeting figures “in or near the inner circle of the Kremlin.”That could include barring children of certain Russian elites from attending prestigious universities in the United States and Europe, the New York Times reported. The targeted Russians could be closer to Putin than those slapped with U.S. sanctions in the past, and reportedly could include Alina Kabaeva, a former Olympic gymnast alleged to have been romantically involved with the Russian leader.

The United States and Europe have already placed sanctions on more than 800 Russian individuals over Russian aggression, including the annexation of Crimea, attempted assassinations of dissidents and disruptions of U.S. elections. A Post report in October illustrated how those sanctions triggered losses that spread across their interconnected financial networks.

The theory: To get to Putin, you make the rich people close to him uncomfortable — striking personal blows to their business affairs and lavish lifestyles.

There is little question such sanctions hurt. But when it comes to compelling those leaders to change course, or, in the most extreme cases, provoking regime change, individual sanctions sometimes have limited purpose.

For instance, the targeting of Maduro’s inner circle has not worked.

Sure, they’re unhappy: I have sat in Caracas with U.S.-sanctioned individuals close to and within the Maduro government. They bitterly complained about their shrinking worlds, and the personal price they’ve paid because of U.S. sanctions.

But in recent years, only one senior Venezuelan official close to Maduro and sanctioned by the United States has actually defected, and Maduro’s grip on power is tighter now than ever. And Putin commands far more formidable powers of persuasion than the Venezuelan leader.

In fact, some argue that cutting key figures in authoritarian regimes off from the West can make them even more reliant on the authoritarians they serve.

“I think for those on the individual sanctions list, it’s an annoyance,” Ramsey said. “But it can also create incentives that can be counterproductive.