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terça-feira, 2 de setembro de 2014

Eleicoes 2014: esvaziando Aecio desde ja?

Também pode ser uma estratégia do alto comando da máfia, ops, dos companheiros para liquidar um candidato agora e depois se atacar ao "inimigo" principal, a beata da floresta, que poderia eventualmente ser destruida pela artilharia pesada de graudos chefes de gangue.

Paulo Roberto de Almeida 

Ideia de renúncia, para apoiar Marina, ronda Aécio Neves

SÃO PAULO  -  A ideia da renúncia seguida do apoio a Marina Silva ronda o candidato Aécio Neves, segundo reportagem exclusiva publicada no Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor. Seria a maneira de despachar o PT já no primeiro turno das eleições, sem correr o risco de uma eventual virada no segundo turno, algo que até hoje não ocorreu nas eleições, desde 1989, quando foi restabelecida a eleição direta para presidente da República.
Aécio tem prazos. Assim como o PT, o candidato do PSDB apostou na polarização e se deu mal. Contra a maioria das apostas no PSDB, Aécio ainda acredita numa resposta positiva do eleitorado, em meados de setembro, quando aposta que sua propaganda eleitoral começará a apresentar resultados. De qualquer forma, o programa de Aécio, cada vez mais, fala para Minas Gerais.
Mal na disputa presidencial, Aécio também enfrenta problemas em Minas, onde seu candidato ao governo do Estado, Pimenta da Veiga, está comendo poeira no rastro de Fernando Pimentel, o único petista a liderar a corrida para o governo do Estado, nos quatro maiores colégios eleitorais. O próprio Aécio não tem o desempenho esperado em Minas. Em algum momento da campanha, o candidato terá de se concentrar na campanha mineira, de modo a assegurar sua base de apoio mineira para as próximas eleições.
Também não é certo, a esta altura, que se Aécio desistir e apoiar Marina a fatura será liquidada no primeiro turno. Hoje a presidente está consolidada no segundo turno, graças sobretudo ao forte apelo que seu nome mantém nas regiões Norte e Nordeste. O problema de Dilma é que ela não amplia nem para o primeiro nem para o segundo turno, conforme demonstram as últimas pesquisas.
É improvável que Aécio aceite algum tipo de acordo com Marina já no primeiro turno, mas o simples f to de a proposta circular nas áreas afins ao candidato, eleitores fiéis que agora pensam no voto útil em Marina, dá uma ideia do tamanho do apoio que se delineia em torno da candidata do PSB. Na hora em que o PT perder a eleição, a disponibilidade dos o utros partidos para se aproximar será grande.
No segundo turno, a tendência do PSDB é apoiar Marina Silva e ajudá-la a governar, se ela for eleita, como apontam as pesquisas. Ao contrário do que aconteceu em 1992, quando era oposição e se recusou a compor com o governo Itamar Franco, o PT tem muitos interesses em jogo e deve  pensar com mais receptividade a ideia de dar apoio congressual a Marina. O problema é que Marina se tornou a primeira opção ao PT.  O mercado financeiro é parceiro de Marina porque não quer o PT no governo.
Nos cálculos dos políticos mais experientes, Marina não precisará compor com o PT. Ela pode fazer maioria tranquila com partidos médios e apoios nos maiores, mas, sobretudo, vai jogar luz sobre o Congresso. Marina terá uma agenda dura, para trazer as pessoas da rua, os manifestantes de junho. É evidente que haverá gente no Congresso tentando esconder com mão de gato, mas será muito mais difícil com uma relação transparente.
Dilma, no momento, tem maioria instável no Congresso. Pode-se afirmar que Marina deve ter uma minoria estável. Ela também vai contar com o apoio da mais tradicional sigla brasileira, o PG, o Partido do Governo, aquele que está com qualquer que seja o presidente no Palácio do Planalto. Mas a candidata do PSB também quer  inverter a lógica adotada pela presidente para a nomeação dos ministros.
Assim, não será o PSDB, por exemplo, que vai dizer “eu quero fulano”. Marina vai escolher, até porque poderá dizer que não tem interesse na reeleição. É uma negociação que não está sobre a mesa. E quando fala que não quer disputar um segundo mandato, Marina Silva desarma os partidos e seus eventuais candidatos em relação a ela. Pode montar um ministério de melhor qualidade. Eduardo Campos, o candidato cuja morte virou de ponta cabeça a  sucessão presidencial, era mais gestor e menos equipe. Marina, que o sucedeu, é menos gestora mas tem mais equipe
O PSDB deve declarar apoio a Marina Silva no segundo turno da eleição, se as pesquisas atuais forem confirmadas em 5 de outubro. A dúvida no entorno da candidata do PSB é sobre o apoio do PT. Afinal, Lula é candidato declarado em 2018. O fato de Marina não querer disputar um novo mandato ajuda um entendimento, se houver convencimento de que ela não cederá a pressões para permanecer, caso faça um bom governo.
A situação do PT hoje é muito diferente daquela vivida quando o partido teve de decidir se apoiava ou não Itamar Franco, após o impeachment de Fernando Collor. Não se trata simplesmente de uma questão de manter cargos, isso também existe, mas de projetos e políticas em andamento que são muito caras ao partido. Diz um integrante da coordenação da campanha de Dilma: “Na época do governo Itamar nós éramos oposição. Agora, com um monte de gente no governo, nós vamos ficar”.


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Eleicoes 2014: companheiros em pleno ataque de nervos (coitados, foram tao arrogantes...)

Os companheiros até alguns dias atrás estavam à beira de um ataque de nervos, com as primeiras revelações das pesquisas eleitorais.
Esperavam ainda que a situação amainasse ou até revertesse, mas ela só se agrava, para eles, claro...
Coitadinhos nada: foram bastante arrogantes, ao querer transformar estas eleições em um novo confronto com os tucanos, insistindo em comparar seus resultados com a situação deixada pelos tucanos, 12 anos atrás, como se eles não mentissem sobre aquela herança e mentissem ainda mais sobre os seus próprios resultados.
Agora eles vão precisar inventar muitas maldades, falsidades e revelações escandalosas sobre a beata da floresta, para ver se conseguem desmantelar sua irresistível ascensão.
Correm o risco de dar mais uma vez errado, e a vítima posar de vítima justamente, e eles de algozes mentirosos, como aliás são, justamente.
Justamente, os companheiros já estão em pleno ataque de nervos, e imagino que as reuniões de planejamento eleitoral sejam curiosas, cada um propondo uma maldade maior do que a outra para expelir, por meio do exército de mercenários que controlam e pagam para justamente fazer esse tipo de maldade.
Os companheiros são cheios de justamente, e de maldades.
Como é mesmo aquele dito cristão? O Bem com o Bem se paga? Pois é, a maldade também...
Paulo Roberto de Almeida

Marina será eleita presidente, dizem grandes consultorias
Fabio Alves
O Estado de S.Paulo, 1/09/2014

Arko Advice, uma das maiories consultorias do País, diz que candidata do PSB tem 60% de chance de vencer. Para a Tendências, probabilidade de vitória de Marina é de 50%, contra 40% de Dilma e 10% de Aécio.

A Arko Advice e a Tendências – duas importantes consultorias com uma carteira grande de clientes no setor privado, em particular no mercado financeiro – acabaram de mudar suas apostas em relação ao resultado da eleição presidencial e agora preveem a vitória da candidata do PSB, Marina Silva.

Em relatório enviado na noite de domingo aos seus clientes, a Arko Advice agora atribui 60% de probabilidade de vitória de Marina num eventual segundo turno com a presidente Dilma Rousseff. Até a trágica morte de Eduardo Campos, no dia 13 de agosto, a Arko Advice dizia aos seus clientes que Dilma tinha 60% de probabilidade de ser reeleita.

Já a Tendências Consultoria Integradas enviou um relatório aos seus clientes na sexta-feira prevendo a vitória de Marina num eventual segundo turno com a candidata do PT. A Tendências atribui 50% de probabilidade da eleição de Marina à Presidência da República, contra 40% de chances de Dilma e 10% de chances do tucano Aécio Neves.

Até a quinta-feira passada, antes da divulgação da pesquisa Datafolha que mostrou Marina e Dilma empatadas tecnicamente no primeiro turno e a vitória da ex-ministra do meio ambiente no segundo turno com dez pontos porcentuais de vantagem, a Tendências atribuía 55% de probabilidade de reeleição de Dilma num eventual segundo turno com Aécio.

Segundo o sócio e chefe do Departamento de Análise Política da Arko Advice, Cristiano Noronha, a mudança na sua aposta para o desfecho da eleição presidencial de outubro foi baseada em três fatores: elevado índice de rejeição de Dilma Rousseff junto aos eleitores; a nova queda na aprovação do governo Dilma na última pesquisa de opinião; e a alta elasticidade de Marina nas intenções de voto, indicando uma capacidade da candidata do PSB de atrair a migração de votos de outros candidatos na passagem do primeiro para o segundo turno.

“Apesar de uma recuperação da aprovação do governo nas pesquisas anteriores, uma nova piora no último levantamento do Datafolha mostrou que aquela melhora não representou uma tendência, mas sim algo pontual”, explicou Noronha.

Sobre a elasticidade de Marina nas intenções de voto, Noronha argumenta que isso ficou evidente no forte crescimento da candidata do PSB – 13 pontos porcentuais em apenas duas semanas entre as recentes pesquisas do Datafolha. “Essa elasticidade não é percebida em relação à intenção de voto de Dilma e isso é importante por apontar até onde uma candidata pode eventualmente conseguir chegar na passagem do primeiro para o segundo turno”.

Já o cientista político da Tendências, Rafael Cortez, argumenta que Marina capta com maior facilidade o eleitorado decepcionado com o desempenho do governo Dilma. “Assim, ela quebra a polarização PT-PSDB ao tomar o protagonismo oposicionista dos tucanos”, explicou Cortez, em relatório a clientes. “A corrida eleitoral pode reservar novas surpresas, mas na ausência de choque negativo, a figura de Marina deve confirmar a troca do partido presidencial.”

Segundo Cortez, o cenário anterior, de favoritismo de Dilma, com 55% de chances de vitória, tinha como pressuposto o crescimento da popularidade do governo ao longo da campanha e a manutenção do segundo turno entre PT e PSDB.

E qual a probabilidade de Aécio ainda conseguir reverter a sua forte queda nas intenções de voto e ir ao segundo turno?

Na opinião de Cristiano Noronha, da Arko Advice, com base nas últimas pesquisas de opinião, o candidato tucano provavelmente ficará de fora de um segundo turno.

Todavia, lembra Noronha, isso pode depender de qual será o desgaste, se houver, de assuntos polêmicos envolvendo a candidatura de Marina, tirando-lhe eventualmente apoio entre eleitores.

Ele cita, entre esses fatos, as acusações de caixa dois envolvendo o jato que transportava Eduardo Campos; as erratas no programa de governo de Marina, em particular nos trechos afetando os direitos do movimento LGBT; e as explicações sobre os ganhos da candidata do PSB com palestras nos últimos três anos.

“Mesmo que houver um estrago na imagem dela, é preciso ver a magnitude disso, isto é, se será na mesma magnitude do ganho avassalador que Marina teve nas pesquisas”, afirmou.

As teses da Arko Advice e da Tendências poderão ser comprovadas ou não na próxima pesquisa Ibope de intenção de voto para presidente da República, de abrangência nacional, que será divulgada às 18 horas da quarta-feira, dia 3.

* Fábio Alves é jornalista do Broadcast

sábado, 30 de agosto de 2014

Eleicoes 2014: a politica externa de Marina Silva - Oliver Stuenkel

What Would a Marina Presidency Mean for Brazilian Foreign Policy?


marina
Marina Silva and her advisers faced a formidable challenge. After Eduardo Campos' tragic death on August 13, Marina Silva, Campos' running mate, suddenly turned into the best placed candidate to defeat President Dilma Rousseff in the upcoming elections. While other candidates had months to hone their arguments, Marina's team had merely days to finalize the document that lists her policy proposals. Contrary to 2010, when she was seen as a protest candidate, she has now turned into a serious contender, and the first option for many of those who are dissatisfied with the way the country is goverrned.
International issues will not be decisive in this election, of course. Voters care most issues such as health care, education, public transport, public security, the fight against corruption and the economy. And yet, compared to previous elections, foreign policy issues are set to play a more important role in weeks leading up to the election on October 5, underlining a growing notion among voters that the way Brazil relates to the world directly impacts their well-being. While security issues such as the Crimean Crisis are unlikely to matter much, candidates will have to explain their proposals on topics around Mercosur, possible trade agreements with the EU and the US and the rise of China. The more likely a victory by Marina seems, the more will people seek to understand her ideas about Brazil's foreign policy.
The 12 pages of her program dedicated to foreign policy (pp.28-40) provide interesting insights, some of which are analyzed below.
Trade
As big regional negotiations such as one between the EU and United States advance, one cannot but notice the prospect of a world divided into trade blocs. Brazil will have to make up its mind about which strategy to pursue. In the case of the negotiations with the EU, this involves making a decision about whether to take a highly protectionist and rather unpredictable Argentina along or whether to pursue a two-speed solution, temporarily leaving Argentina behind. According to her program, Marina would opt for the latter option of the "two-speed Mercosur" to facilitate the conclusion of trade negotiations with the European Union, among others. She argues that focusing on the WTO is fully compatible with seeking other regional and bilaratal trade deals. That seems reasonable, and even Brazil's current government has been increasingly open about its willingness to negotiate without Argentina. Marina Silva is also supportive of the ongoing process to fully liberalize trade between the Pacific Alliance and Mercosur, and calls for Brazil to make regional integration its top priority.
Regional leadership
Similar to her arguments made during the campaign four years ago, when Marina Silva said that Brazil had a "key role in mediating between the different regional interests" through exercising "respectful and supportive leadership" in the region, the 2014 program reads as a commitment to play a more active role in the neighborhood. While she frequently mentions defending human rights and democracy in South America, her program does not suggest a reckless idealistic position that may endanger strategic interests. Over the coming days and weeks, she will certainly have to say how she would deal with the ongoing political crisis in Venezuela.
Global governance
Contrary to critics who argue that Marina Silva would radically change course, there are signs that she could seek to reemphasize the importance of foreign policy after a relatively lacklustre performance under Dilma Rousseff. Notably, she stresses that both Fernando Henrique Cardoso and Lula contributed to strengthening Brazil's international projection, and has repeatedly argued, since 2010, in favor of reforming the international system  - such as the UN Security Council, the IMF, and the World Bank -  to increase its legitimacy and provide Brazil with more responsibility. Furthermore, as globally recognized environmental leader, Marina Silva has repeatedly argued that Brazil had the potential to assume international leadership in the debate about environmental sustainability. It is in this context that her proposals are most innovative - ranging from engaging with the Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) and strengthening the Amazon Cooperation Treaty Organization (ACTO). A more sophisticated strategy in the Amazon will also please nationalists, many of whom worry about Brazil's limited capacity to control its Western borders.
Despite expressing her desire to improve ties to the United States, Marina's proposals do not imply weakening Brazil's ties to the Global South - to the contrary, the explicitly refers to the BRICS grouping and the importance of Brazil-Africa ties. That will make it difficult for supporters of Lula's foreign policy to attack her approach. Nothing suggests that Marina would seek to undo his notable achievements (or, for that matter, Dilma's main achievement, Brazil's laudable internet governance initiative).
Her proposal to promote Brazilian culture more systematically on a global scale - she mentions learning from European institutions such as the Alliance Française, the British Council and the Goethe Institute - deserve attention and hint to a welcome willingness to introduce new ideas to strengthen Brazil's international visibility. In the same way, she suggests modernizing the Rio Branco Institute, Brazil's diplomatic academy, and further strengthening the dialogue between Itamaraty and civil society.
Putting foreign policy back at the center? 
Finally, and most importantly, Marina Silva argues that Dilma Rousseff did not sufficiently value Brazil's Foreign Ministry. And indeed, under no other Brazilian leader in recent history has the Foreign Ministry - historically above the political fray - been so secondary. As a result, Brazil's foreign policy under Rousseff has been far more hesitant and passive than during the presidencies of Cardoso and Lula.
Naturally, in the coming weeks Marina Silva will have to explain how some of her ideas would play out in practice. And yet, her program suggests that Marina would pursue an activist foreign policy, built on the notion that established countries' dominance in the global conversation is highly counterproductive and unlikely to produce sustainable solutions to the world's most pressing issues such as climate change, financial volatility, human rights and nuclear proliferation.
More than ever before, Brazil's stronger voice - be it in the UN Security Council, during climate change negotiations, as a mediator in Venezuela, as a defender of democracy in Guinea Bissau, or as an agenda setter on internet governance - is needed to create a richer and more balanced global debate. That requires a President unafraid of taking courageous decisions and occasionally generating international controversy.
Read also:
Marina’s foreign policy
What would Aécio do?
Brazil’s top 10 foreign policy challenges in 2014

Eleicoes 2014: a bolha Marina, depois das bolhas Collor, Lula, etc - Jose Augusto Guilhon de Albuquerque


No meio do caminho tinha uma bolha chamada Marina
José Augusto Guilhon de Albuquerque
Chegamos a um momento sem retorno da eleição presidencial, impossível de ter sido previsto, mas com consequências previsíveis. O curtíssimo prazo da campanha, tal como a conhecemos – centrada no palanque eletrônico e nas alianças estaduais – não poderá reverter a bolha de encantamento que ora favorece a candidatura de Marina Silva.
Já não estamos no reino da política, mas da psicologia das massas. Independente de seus talentos, que são inúmeros, e de seus defeitos, que podem ser devastadores, o desgaste inevitável da vida real dificilmente se fará sentir senão a médio ou longo prazo. A curtíssimo prazo, somente outro fator estranho à política, seja nova fatalidade, seja o completo desmascaramento deste mais recente fenômeno messiânico em nosso país - provocado por imputações verdadeiras ou por falsos dossiês - poderia impedi-la de chegar ao segundo turno, provavelmente, à frente da disputa eleitoral.
E ai de quem ousar desnudar o Rei, pois, tal como um mensageiro de más notícias, será abatido junto com sua vítima. Em teoria, parece restar aos ex-protagonistas do pleito, o PT e o PSDB, demonizados pela profeta como a encarnação da “velha política”, mudar o foco de suas respectivas táticas eleitorais, poupar-se mutuamente e tentar polarizar com Marina. Na prática, um jogo de soma zero como esse apenas reforçaria seu papel de vítima e a levaria ainda mais perto de uma vitória no primeiro turno.
Em teoria Marina também poderia sucumbir a uma luta entre Titãs, caso outro ungido dos deuses se alevantasse mais alto para salvar o próprio legado – o PT e o lulismo. Mas, que se saiba, Lula não entra em bola dividida e, como se sabe também, nada tem a ver com as derrotas dos padilhas e dilmas, ou com o mau desempenho dos haddads e gleydes da vida. Portanto, a bola da vez está nas mãos dos dois candidatos ainda competitivos, para resgatar ou não seu próprio destino e a relevância de seus respectivos partidos e coligações, e isso implica ter como prioridade chegar ao segundo turno.
Para Marina, tendo chegado ao segundo turno na frente, e em curva ascendente, como é provável, será uma questão de administrar a própria bolha e não cometer erros irreparáveis. Por maior que seja o desgaste da polarização inerente ao segundo turno, será eleita e, por maior que seja o desgaste da transição e da partilha do botim, o encantamento deverá permitir uma coroação retumbante, à la Lula 2003. O trágico é o que irá ocorrer, num eventual governo Marina, quando, inexoravelmente, a bolha murchar de vez ou explodir.
Para o PT e o PSDB é vital chegar ao segundo turno porque, fora do páreo, seus respectivos eleitorados migrarão para Marina independentemente de qualquer arranjo de cúpula que, de todo modo, não é compatível com o perfil voluntarista e onipotente de Marina. E a única via para Aécio ou Dilma chegarem a um eventual segundo turno é, repito, continuar polarizando entre si sem, entretanto, deixar Marina correr solta.
Para o PT, polarizar com o PSDB seria menos arriscado do que polarizar com Marina, que implicaria poupar Aécio. Mas o desgaste do PT é amplo, geral e irrestrito. Conquistar votos tucanos não será fácil após mais de uma década de hostilidade implacável. Reintegrar ex-eleitores lulistas que estão migrando para Marina, seria ainda mais difícil. Paciência: corrigir doze anos de desmandos não é fácil mesmo. Além disso, é provável que o PT, devido a sua paixão pela hegemonia, e Dilma – por ressentimento pessoal – descarreguem suas baterias preferencialmente contra uma trânsfuga como Marina.
Ainda que tente conter os danos, o PT como partido, a julgar pela hostilidade generalizada que vem sofrendo, sairá enfraquecido. Quanto a Dilma, se não chegar ao segundo turno, pode encomendar o pijama.
Quanto ao PSDB, a falta de empolgação com a candidatura presidencial não parece afetar seu desempenho nos Estados. Mas uma derrota no primeiro turno comprometerá não apenas o futuro de Aécio, mas também a relevância nacional do partido. Entretanto, sendo um candidato menos rejeitado do que Dilma, e se lograr capitalizar o bom desempenho dos candidatos tucanos ao governo dos grandes colégios, Aécio poderá conter a atual sangria polarizando com Dilma. Se for bem sucedido em expor os graves defeitos de Marina sem agressões – ou seja, desqualificando-a “com classe” ou levando-a a desqualificar-se por ela mesma – ainda poderá recuperar parte do eleitorado migrante, além de eventualmente aumentar o desgaste da adversária estratégica, isto é, Dilma.
Quanto ao segundo turno – provável na hipótese de Marina continuar crescendo, mas sem uma queda acentuada dos demais – ela se beneficiará dos votos lulistas, e de esquerda em geral, para derrotar os tucanos, ou dos votos de centro e de direita contra Dilma. O eleitorado do PMDB é vinculado localmente às lideranças regionais mas, nas eleições presidenciais, segue as linhas do eleitorado em geral e não as orientações partidárias. O PMDB se guardará para o “terceiro turno”, isto é, para pesar decisivamente no momento de garantir uma transição sem demasiados traumas e um início de governo sem impasses decisórios.
Se esse quadro se revelar correto – desde que a bolha de encantamento não murche nem exploda sozinha – Marina deveria sair vitoriosa. Porém, mais cedo ou mais tarde a bolha irá se desfazer no ar, pois é isso que as bolhas fazem. Por motivos distintos, foi assim com Collor, foi assim com Lula, será assim com Marina.
No caso específico de Marina, o esvaziamento da bolha resultará de uma combinação de fatores pessoais e estruturais, estes ligados à dinâmica da democracia representativa que pode ser sumariamente descrita da seguinte maneira. Nos regimes presidencialistas o Executivo e o Legislativo são eleitos por colégios distintos, dando origem a duas maiorias não necessariamente coincidentes e, portanto, potencialmente divergentes. Para governar num sistema multipartidário como o nosso, a dinâmica democrático-representativa obriga o chefe do Executivo a negociar a criação de uma maioria parlamentar governista. Isso implica concessões de parte a parte ou o emprego dos chamados métodos “não-republicanos”. Entre estes se inclui o emblemático “mensalão” ou o apelo a forças extra institucionais, como a intimidação mediante a mobilização das ruas, o emprego da polícia, do judiciário ou da força militar para fins políticos.
A opção entre sacrificar seus ideais e seu programa com concessões, ou sacrificar seus princípios corrompendo ou intimidando os interlocutores, depende de inclinações pessoais do presidente – como sua habilidade para negociar e sua atitude conciliatória ou, ao contrário, seu grau de voluntarismo e prepotência. E de fatores institucionais – como a cultura partidária de sua coalizão ou de sua facção. Porém, enquanto a escolha entre métodos é uma opção, governar com o apoio efetivo ou, pelo menos, com o consentimento da maioria da representação nacional, legalmente eleita, é uma lei de ferro da democracia representativa. O resto pode ser um regime corrupto, um regime policial, um regime militar, um regime teocrático, ou todos os acima. Não é um regime de democracia representativa.
É essa lei de ferro que Marina chama de “velha política”, e já deixou claro e explícito que não pretende respeitá-la. Em entrevista ao telejornal da Globo News, confrontada com o fato de que, se for eleita, não disporá de maioria para governar, alternou entre várias respostas, ora que é a “sociedade” quem vai governar, ora que ela vai governar com “os melhores”, ora que a “sociedade” vai nomear “os melhores”. Mas não admitiu sequer que terá que governar com a maioria nacional legitimamente eleita para tal.
O que a leva Marina a vilipendiar a lei de ferro da democracia representativa tachando-a de “velha política”, em proveito de uma “nova política” tão velha como a Sereníssima República de Veneza – aquela do tempo dos Borgia -  não é apenas uma opção racional baseada em seu desconhecimento da História e da Política. Trata-se de uma crença enraizada em suas inclinações pessoais e na cultura política de sua facção – certamente não na cultura política da Esquerda Democrática que deu origem ao Partido Socialista. Frases como “o presidente não tem que ser prisioneiro do partido”, “um homem de bem não pode deixar de colaborar com o (meu) governo”, mostram que, para ela, e certamente para sua “rede”, negociar é uma coisa corrupta, fazer concessões é aprisionar-se. Em contrapartida, a virtude de seus ideais, e dos poucos homens justos que ela reconhece, bastaria para garantir o bom governo e até o fechamento das contas nacionais – se necessário, com a ajuda divina.
Pobres de nós, pecadores, que teremos pela frente um longo calvário de crises e desgoverno. Mas assim como sobrevivemos ao ippon de Collor, ao mensalão de Lula e aos apagões de gestão de Dilma, sobreviveremos a um eventual marinaço.
[Recebido em 29/08/2014, sem indicação de publicação]

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Eleicoes 2014: menu economico a la marinara, ou o sabor do desconhecido

Caro leitor: o Brasil sempre descobre depois que respostas simples a problemas complexos sempre estã equivocadas e invariavelmente costumam dar errado. Parece que esta vai ser mais uma oportunidade para provar o acertado desta tese universal. Pena que o Brasil ainda não aprendeu...
Paulo Roberto de Almeida 

Eleições 2014

O que esperar da equipe econômica de Marina Silva

Candidata prevê aumento de gastos com a saúde e a educação, ao mesmo tempo em que prega o ajuste fiscal e a manutenção do tripé. Como fazer a mágica? Ao que parece, nem ela sabe

Luís Lima e Talita Fernandes
Veja.com, 28/08/2014
Para Marina, formação de equipe está condicionada ao programa de governo, que será apresentado nesta sexta-feira
Para Marina, formação de equipe está condicionada ao programa de governo, que será apresentado nesta sexta-feira(Felipe Cotrim/VEJA.com)
Reduzir gastos do governo, dar início à reforma tributária, zelar pela autonomia do Banco Central (BC) e manter o tripé macroeconômico (composto pelo sistema de metas de inflação, câmbio flutuante e rigor fiscal) são algumas das tarefas que devem ser executadas com urgência pela equipe econômica do próximo governante do Brasil, caso tenha a intenção de recuperar o crescimento e a credibilidade do país. O mercado acredita que o candidato tucano Aécio Neves não deve ter dificuldades em empreender medidas necessárias, dado seu DNA político e a presença do ex-presidente do BC Armínio Fraga em seu governo. No caso da presidente Dilma, o sentimento é de que uma política de ajustes aconteça de forma mais lenta e frouxa. Já Marina Silva, que despontou rapidamente na corrida presidencial, é a candidata que suscita mais dúvidas nesse aspecto. Seu compromisso com a ortodoxia agrada o mercado. Porém, a falta de um time econômico que valide seu discurso provoca desconfiança. A pouco mais de um mês do primeiro turno, o coordenador da campanha de Marina, Walter Feldman, afirmou ao site de VEJA que não há perspectivas de divulgação de nomes nos próximos dias. “Ainda não há, na cabeça da candidata, esse tipo de discussão”, afirmou. Segundo o peessebista, a prioridade ainda é debater o programa de governo. "É um momento para o eleitorado conhecer os candidatos, que serão os protagonistas maiores do novo papel que o Brasil pode ter. Apresentar a equipe é um modelo de ação. Mas nossa prioridade é debater o programa", afirma. O programa de governo do PSB será apresentado na tarde desta sexta-feira em São Paulo. 
Sabe-se que há dois economistas de peso assessorando oficialmente a candidata: o acadêmico Eduardo Giannetti da Fonseca e o ex-presidente do BNDES André Lara Resende, que também foi um dos principais assessores econômicos do presidente Fernando Henrique Cardoso. Alexandre Rands, sócio da consultoria Datamétrica e um dos membros da equipe que montou o programa da ex-senadora, considera que Giannetti passou a ter mais influência na campanha após a morte de Eduardo Campos. “Como Eduardo tinha experiência em gestão pública, acabava ouvindo mais pessoas e não relegava sua avaliação a apenas uma opinião. Suas ideias eram mais diluídas. Como Giannetti é mais próximo de Marina, que não é economista, sua figura sai fortalecida", afirma. Contudo, Giannetti já afirmou, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, que não vai integrar a equipe de um eventual governo de Marina. Lara, por sua vez, tem circulado nos bastidores da campanha, sem assumir qualquer responsabilidade como porta-voz econômico. 
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Outros nomes, como Marcos Lisboa, vice-presidente do Insper, Bernard Appy, ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda, Eduardo Loyo, ex-diretor do BC e Tiago Cavalcanti, professor de Cambridge, são apontados como consultores, mas negam ter vínculo direto com a campanha. Eles colaboraram com artigos e discussões em oficinas temáticas realizadas por Eduardo Campos e Marina em todas as regiões do Brasil, que ajudaram na composição do programa de governo. Neca Setúbal, uma das pessoas mais próximas de Marina atualmente, afirmou ao site de VEJA que a candidata já possui uma equipe gabaritada que dá respaldo ao seu projeto político, o que, segundo ela, é suficiente para o momento. "Não há necessidade em já apresentar ao mercado uma lista de futuros ministros", afirmou Neca, que é uma das herdeiras do Itaú.
O anúncio de um time concreto de economistas, tal como fez Aécio Neves, poderia dissipar grande parte das dúvidas que pairam sobre o discurso econômico da candidata. A necessidade se faz ainda mais presente porque Marina não é economista — e faz questão de criticar o comportamento de 'gerente' de certos governantes. É considerada uma liderança política, não técnica. Situação que colocaria em maior evidência, caso vença as eleições, a figura de seu ministro da Fazenda. “Nesse sentido, Marina se aproxima mais de Lula do que de Dilma e Aécio. Isso aumenta a responsabilidade de sua equipe, que terá um papel fundamental, pois gestores de perfil mais político tendem a delegar mais e interferir menos em temas econômicos”, explicou Bernard Appy, cujo mandato no Ministério da Fazenda ocorreu durante o governo Lula. 
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Segundo economistas ouvidos pelo site de VEJA, o que é possível inferir até o momento, tendo em conta o perfil de Giannetti e declarações recentes da candidata, é que um governo de Marina teria características liberais, com menos intervenção no câmbio e nos preços administrados, como no caso da gasolina e energia. Seu discurso sinaliza ainda uma preocupação com a política fiscal. “Uma defesa clara da Marina é o combate ao inchaço do Estado, que beneficia grupos privados específicos”, afirma Zeina Latif, sócia da Gibraltar Consulting. Para Otto Nogami, professor do Insper, as bandeiras econômicas de Marina guardam bastante semelhança com o programa do PSDB. "Agora, já é hora de a Marina sinalizar, de forma clara e detalhada, como irá fazer para atingir esses fins", destaca.
Contudo, alguns dados de seu discurso exalam ambiguidade. Marina afirmou que uma de suas prioridades é aumentar de 6,9% para 10% do Orçamento da União a verba para a saúde pública. Segundo cálculos do economista Raul Velloso, tal mudança teria grande impacto fiscal. Especialista em contas públicas, Velloso afirma que, se tal elevação tivesse sido feita em 2013, por exemplo, os gastos extras com a saúde representariam nada menos que 29 bilhões de reais, ou 32% do superávit primário daquele ano. Para um governo que prega o rigor fiscal, tal postura acentua as incertezas. A escola em período integral, bandeira levantada por Campos e endossada por Marina, também precisará ser financiada com verba federal. Para tanto, o PSB afirma que não aumentará o orçamento da educação. Mas tampouco apresentou uma saída fiscal para acomodar tal gasto. Já o passe livre para estudantes, outro ponto defendido por Marina, exigirá desembolsos de 12 bilhões de reais ao ano do governo, segundo previsões do próprio partido. 
Junto com tais medidas, Marina promete criar um conselho fiscal sem vínculo com o governo para acompanhar e avaliar a qualidade dos gastos públicos. Na teoria, o plano é perfeito. Mas como empreender cortes para resolver a situação fiscal e, além disso, aumentar gastos em determinadas áreas? O caminho das pedras, dizem assessores da campanha, será apresentado nesta sexta-feira. Mas é fato que sem cortes de gastos profundos e apoio do Congresso, tais projetos tendem a permanecer no papel. "Se Marina quiser os melhores, tem de estar preparada para contar com o apoio de pessoas que hoje estão com Aécio”, afirma Sérgio Lazzarini, professor do Insper. Neste aspecto, Armínio Fraga, escolhido por Aécio, disse em entrevista a VEJA que não aceitará mudar de lado se seu candidato não for eleito.
Para se aproximar de setores da economia mais reticentes à candidatura da ex-senadora, a equipe de Marina tem recorrido a lideranças empresariais. Os coordenadores da campanha têm se dividido de acordo com os meios onde têm mais afinidade. Um deles é João Paulo Capobianco, que orbita o círculo do agronegócio, segmento onde a candidata tem alta rejeição. A intenção é acelerar o ritmo de integração da equipe de Marina à agenda que havia sido estabelecida por Campos para o setor. Nesta sexta-feira, será oferecido, em São Paulo, um jantar para a ex-senadora na casa de Plínio Nastari, presidente da Datagro, consultoria de açúcar e etanol. A agenda tem sido acompanhada também por Beto Albuquerque, o novo vice da chapa do PSB, que transita com facilidade entre os donos de terra. Dialogar com o agronegócio não será tarefa fácil. Se Marina conseguir converter o diálogo em apoio político, será um bom indício de traquejo — faceta até então pouco conhecida da candidata. 

Eleicoes 2014: Brasil, um pais enrolado pelo fervor mistico - Reinaldo Azevedo

Ao que tudo indica, o Brasil está no limiar de se envolver numa aventura ecoteologica sem pé nem cabeça. Pior: sem qualquer racionalidade instrumental.
Os eleitores perderam a razão...
Paulo Roberto de Almeida 

Marina Silva acaba de conceder a sua entrevista ao Jornal Nacional. Quem presta atenção ao sentido das palavras percebeu o tamanho do desastre. Os entrevistadores quiseram saber o óbvio: como se justifica o discurso da “nova política” quando a rede de empresas fantasmas e laranjas que envolve o avião em que viajavam Eduardo Campos e ela própria é a evidência escancarada da velha política? A candidata, é claro, não conseguiu achar uma resposta porque resposta não há. 
Em nenhum momento, revejam a entrevista depois no site do Jornal Nacional, ela admitiu que crimes óbvios foram cometidos. Mais do que isso: tentou desqualificar, ainda que com aquele seu jeitinho simples, de apelo telúrico, o trabalho da imprensa. Segundo disse, a verdade não virá das reportagens, mas da investigação da Polícia Federal. Como assim? Imprensa, de fato, não é a última instância na apuração de crimes. Nesse caso, no entanto, ela já chegou mais longe do que a polícia. As empresas fantasmas e seus laranjas vieram à luz. Como explicar? Pior ainda: com um discurso oblíquo, Marina sugeriu que a apuração da verdade pode ser um desrespeito à memória de Eduardo Campos.
Até aí, Marina estava na fase da enrolação, mas ainda não havia atingido o patético. William Bonner lembrou que ela e seu  vice, Beto Albuquerque, divergiram sobre algumas questões essenciais, como as culturas transgênicas e a pesquisa com células tronco embrionárias. Como posições inconciliáveis se juntam numa chapa? Isso é “nova política”? Marina, então, se saiu com a cascata de que o jornalista se fixava apenas nas divergências, não nas convergências… É mesmo?
A contradição óbvia estava no ar. Então, quando os adversários da candidata fazem composições entre divergentes, estamos diante da evidência da “velha política”; quando é ela própria a fazê-lo, aí se tem a prova da “nova política”? O que Marina respondeu? Que os jornalistas estavam equivocados. Por que estavam? Ela não disse. Nem tinha o que dizer.
Patrícia Poeta lembrou que, em 2010, Marina ficou em terceiro lugar na eleição em seu Estado, o Acre, que a conhece bem. Mais uma vez, a candidata tentou acusar a ignorância dos jornalistas: “Talvez você não conheça direito a minha trajetória…” Ora, quem não sabe? A agora candidata do PSB saiu-se com uma frase feita: “Ninguém é profeta em sua própria terra…” Ah, entendi: ela é profeta no resto do Brasil, menos no Acre. Listou os interesses que teve de contrariar e coisa e tal. Chegou a sugerir que enfrentou a máquina do governo do Acre. Aí estamos no terreno da piada. Ela participa, por meio de aliados, do governo do Estado desde 1999. É parceira dos Irmãos Viana. Seu marido era secretário de estado até a semana passada.
Na mensagem final, Marina pediu votos e disse que não é do tipo de política que faz a luta do poder pelo poder… Certo! Isso é para os outros. A entrevista terminou, e ficou claro que a tal “nova política” só é explicável com o auxílio da velha enrolação.
TransgênicosQuem não conhece o assunto não se deu conta do tamanho de uma das besteiras que disse. Afirmou que nunca foi contra os transgênicos (o que é falso, mas vá lá), mas que defendia que houvesse áreas livres dessa modalidade de cultura, numa coexistência entre os dois modelos. Felizmente, perdeu a batalha.
Qual é o objetivo dos transgênicos? Aumentar a produção com sementes que já são imunes a determinadas pragas. Ora, imaginem o que aconteceria se, em certas áreas, os transgênicos fossem proibidos e, em outras, permitidos. O resultado óbvio: as terras sujeitas a veto teriam de receber doses cavalares de agrotóxico. Mais: ainda que a proibição atingisse apenas uma parte das terras férteis, é claro que o Brasil não exibiria o robusto desempenho que exibe na agricultura.
Mas eis Marina. Ela se tornou especialista em assuntos sobre os quais ninguém – nem ela própria – entende nada.
Em tempos normais, a entrevista poderia ser devastadora pra ela. Nestes dias… Estamos voando no escuro. A gente sabe em que isso costuma resultar.
Texto publicado originalmente às 21h47 desta quarta

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Eleicoes 2014: mercado ja comprou Marina e formou uma bolha...

Digo bolha porque não existem razões racionais que expliquem, pelo menos para o chamado mercado, esse entusiasmo com uma representante da floresta que sequer explicou o que pretende fazer na economia. O encantamento do povo se entende por razões emotivas, mas o do mercado soa artificial.
Não que ele seja irracional. Não é isso.
Minha interpretação é a seguinte: o mercado não aprecia especialmente a Marina pelo que ela é, pois é completamente desconhecida enquanto dirigente econômico, mas se sabe que é anticapitalista, como todos os petistas de coração, o que ela nunca deixou de ser.
Só que o mercado tem ainda mais horror da Dilma, e o Aécio não estava sendo considerado em condições de derrotá-la.
A Marina parece ser a única em condições de derrotar a soberana, e além de ter o apoio do povão, que quer algo diferente (mas isso é puramente emotivo e não tem nenhuma fundamentação na realidade), passou a gozar da simpatia do mercado por outras razões, ou pelo menos, pelas razões negativas.
Isso significa que a mediocrização cresceu celeremente sob o lulo-petismo, e estamos nos aproximando da Argentina...
Triste constatar isso, mas é como vejo: estamos com políticos medíocres, despreparados, e uma população que não consegue mais distinguir entre o que seria o certo e o puramente emotivo, irracional.
Acho que temos longos anos de decadência educacional e cultural pela frente.
Infelizmente...
Paulo Roberto de Almeida

O mercado financeiro celebra a onda Marina Silva

A Bolsa de Valores subiu com a pesquisa, e os agentes econômicos já dão como certa a vitória da candidata do PSB

São Paulo
El País, Econômico,  28 AGO 2014


Marina durante ato de campanha em São Paulo. / PAULO WHITAKER (REUTERS)

O Brasil dormiu Dilma Rousseff e acordou Marina Silva nos últimos dias com a reviravolta nas pesquisas eleitorais. A pesquisa do instituto Ibope de quarta-feira, que revelou um salto no número de seus potenciais eleitores, virou o humor o país. Marina, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), tem 29% das preferências, a petista Dilma tem 34%, enquanto Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), 19%. Se nas redes sociais se estabeleceram os debates contra e a favor do avanço da ambientalista, na Bolsa de Valores de São Paulo ela já é tida como a próxima titular no Palácio do Planalto. A bolsa fechou nesta quarta-feira em 60.950 pontos, seu melhor resultado desde janeiro de 2013. Os analistas atribuem o desempenho à divulgação da pesquisa eleitoral, que colocou Marina num movimento ascendente, com capacidade de bater Rousseff no segundo turno. “A Marina é o nosso Obama”, diz Tony Volpon, chefe de Pesquisas para Mercados Emergentes da Nomura Securities.
A comparação com o presidente dos Estados Unidos diz respeito à eleição dele em novembro de 2008, quando os Estados Unidos começavam a ver o fim do sonho americano da opulência financeira, e buscavam uma nova referência. “A Marina está com esse impulso de capitalizar o sentimento de mudança no Brasil. Ela está se colocando como uma agente de mudanças segura e confiável”, completa Nomura. Isso porque em suas aparições como candidata oficial, desde a semana passada, ela tem deixado claro que vai respeitar os compromissos assumidos por Eduardo Campos.
E porque as pessoas que colaboram com o seu programa de Governo, como o economista Eduardo Gianetti da Fonseca, têm falado a linguagem das finanças. Nesta segunda-feira, Fonseca concedeu uma entrevista ao jornal Folha de S. Paulo anunciando que a equipe de Marina vai restabelecer o tripé macroeconômico [câmbio flutuante, meta de inflação e disciplina fiscal], estabelecido no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, que perdurou até o primeiro governo Lula e, ainda, que vai reduzir o teto da meta inflacionária.
A Marina é o nosso Obama
Tony Volpon, da Nomura Securities
Dar esse norte para o futuro é saciar a fome de previsibilidade do mercado financeiro. Assim, ao mesmo tempo que Marina capta a insatisfação dos mais desiludidos com a política –jovens e indecisos– a sua candidatura cativa os economistas. O mercado financeiro, entretanto, pode até reagir com oscilações nos índices de bolsa, ou alta do câmbio, como aconteceu durante o primeiro mandato do Governo Lula, quando o dólar, hoje em 2,26 reais, chegou a 4 reais pelo temor de mudanças radicais no cenário. Era o trauma da passagem de Fernando Collor de Mello, que confiscou a poupança em 1990. O PT foi obrigado a escrever uma cartilha de combinados, a Carta ao Povo Brasileiro, anunciando as diretrizes do governo que previa, por exemplo, o respeito às regras já estabelecidas.
Zeina Latif, economista chefe da XP Investimentos, diz que a verdade é que o mercado financeiro não tem ideologia. “Num cenário, em que Dilma ganhe e ela anuncie que fará um governo indicando um determinado ministro, e que faria uma gestão parecida com o do primeiro governo Lula, o mercado ia celebrar”, diz Latif.
Quanto mais clara a sinalização de que haverá ajuste de contas públicas, e as preocupações para o controle de inflação, maior o apoio. Por isso, havia um bom humor com Aécio Neves, esclarece a economista da XP Investimentos. “Ele já tem um time mais definido, já sabe quem será ministro, quem será o nome para a pasta da Fazenda, e assim por diante”, completa Latif.
Curiosamente, uma pesquisa informal, elaborada pelo jornal Valor Econômico, num evento com empresários na noite de segunda-feira, mostrou que se o eleitorado fosse composto somente pelos empresariado, Aécio Neves, candidato do PSDB, venceria de cara no primeiro turno, com quase 70% dos votos, enquanto Rousseff teria 14%, e Marina Silva, 12%. Neste caso, o setor empresarial se mostra mais conservador que o mercado financeiro em apoiar a candidata do PSB porque Silva ainda não detalhou seu programa de Governo e não se sabe exatamente como ela vai operar diante da necessidade, por exemplo, de aumentar investimentos ou de ampliar os acordos internacionais.
Tivemos muitos embates enquanto trabalhamos juntos, mas sempre acabamos em acordos. E ela [Marina] está muito mais aberta hoje do que naquele tempo
Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura
Já o mercado do agronegócio se mostra dividido diante da nova perspectiva eleitoral. Roberto Rodrigues, por exemplo, ex-ministro da Agricultura de Lula, que trabalhou ao lado de Marina, quando ela era titular da pasta de Meio Ambiente, confia que a presidenciável do PSB respeitará os compromissos firmados por Eduardo Campos. “Eu mesmo estive em várias reuniões dele com lideranças rurais e ele foi muito claro e positivo, defendendo a importância do agronegócio. Mas que fosse feito com sustentabilidade”, conta Rodrigues.
O ex-ministro da Agricultura diz que conhece muito bem o estilo de Marina Silva, e embora haja desconfianças sobre a sua postura, ele acredita que a presidenciável se rende fácil ao diálogo e à negociação. “Tivemos muitos embates enquanto trabalhamos juntos, mas sempre acabamos em acordos. E ela está muito mais aberta hoje do que naquele tempo”, elogia.
A senadora Kátia Abreu, do PMDB do Estado de Tocantins, tida como uma forte porta-voz do agronegócio, entretanto, não esconde suas reservas. Em entrevista recente à revista Época, Abreu disse que a candidata socialista faz da questão ambiental “um dogma, uma religião”. E que Silva “se recusa a dialogar e a abrir sua mente para outras situações que a sociedade demanda”.
Ainda é muito cedo para falar em derrota da presidenta Dilma Rousseff. Apesar de todas as questões econômicas, ela consegue dar respostas
Elizabeth Johnson, da Trusted Sources
Mais imediatista, os investidores de curto prazo captam o movimento do presente, seguindo a popularidade crescente de Marina Silva. Já é dado como certa que uma nova pesquisa que será divulgada neste final de semana terá a presidenciável na frente inclusive de Rousseff. Por isso, o mercado já incorpora “É só ela não tropeçar, não fazer besteira que ela ganha”, avalia Volpon, da Nomura Securities, que tem conversado com pessoas do mundo econômico e político nos últimos dias. “Está difícil encontrar alguém que não acredite na vitória da Marina”, completa.
Elizabeth Johnson, diretora de pesquisa para o Brasil da consultoria britânica Trusted Sources, prefere manter a cautela, mesmo com as mudanças no humor do eleitorado. “Ainda é muito cedo para falar em derrota da presidenta Dilma Rousseff. Apesar de todas as questões econômicas, ela consegue dar respostas”, afirmou.

Eleicoes 2014: o projeto Marina Silva - Celso Ming

Vejam bem: não se trata do programa do PSB para governar o Brasil, e sim do projeto Marina Silva para encantar os corações.
Paulo Roberto de Almeida

Projeto Marina
Celso Ming
O Estado de S.Paulo, 28/08/2014

O lançamento do programa do governo do PSB-Rede, coordenado por uma das controladoras do Grupo Itaú, Maria Alice Setúbal, a Neca, está agendado para sexta-feira; Mas não é preciso esperar para conhecer algumas de suas linhas mestras

Está na hora de começar a avaliar o que seria a política econômica de um agora mais provável governo Marina Silva.

De cara, a principal objeção seriam as enormes dificuldades de governabilidade a enfrentar, dada a baixa densidade política da coalizão PSB-Rede. Mas este é um problema de qualquer partido e bloco político do Brasil. Enquanto houver 32 siglas – e outras em processo de registro, como a Rede Sustentabilidade – nenhum presidente terá maioria no Congresso. Valerá a capacidade de composição que Marina ainda não demonstrou, até porque não conseguiu oficializar seu partido nem apaziguar os políticos do PSB, agora órfãos de Eduardo Campos.

Enquanto foi ministra do Meio Ambiente do governo Lula, Marina notabilizou-se por suas posições ambientalistas rígidas, a ponto de criar convulsões no setor do agronegócio. Dentro do PT também produziu críticas torrenciais. Lula se queixava de que, em vez de empenhar-se pelo desenvolvimento e facilitar a aprovação de projetos hidrelétricos, Marina preferia defender o bagre. Também foram notórias suas posições contrárias à aprovação das culturas transgênicas. Curiosamente, o candidato a vice de sua chapa, o gaúcho Beto Albuquerque, esteve todos estes anos em campo oposto. A candidata ainda não explicou como vai lidar com esses desafios.

O lançamento do programa do governo do PSB-Rede, coordenado por uma das controladoras do Grupo Itaú, Maria Alice Setúbal, a Neca, está agendado para sexta-feira. Mas não é preciso esperar para conhecer algumas de suas linhas mestras. As primeiras manifestações de Marina sobre as escolhas de políticas macroeconômicas mostram mão firme na direção de retomada da ortodoxia. Seu principal assessor na área, o professor Eduardo Giannetti da Fonseca, já avisou que, se eleito, o governo Marina retomará o tripé abandonado no segundo mandato Lula e no mandato Dilma. Isso significaria a formação de um mais alentado superávit primário (sobra de arrecadação destinada ao pagamento da dívida), observância mais rigorosa da meta de inflação e câmbio flutuante, sem essa enorme interferência do governo.

Marina tem anunciado que pretende plena autonomia do Banco Central na execução da política monetária (política de juros) e o retorno à função original eminentemente técnica das agências reguladoras, hoje loteadas politicamente pelo governo PT. Giannetti está avisando que um eventual governo Marina abandonará o casuísmo da administração Dilma, voltado para a distribuição de bondades para determinados setores, e não para outros, fator que cria distorções, insegurança e incertezas. A intenção é trabalhar na direção do aumento da produtividade sistêmica, e não nas desonerações parciais e temporárias.

Isso sugere que serão atacadas outras distorções criadas, como o represamento de preços e tarifas, que desidrataram a Petrobrás, a economia do etanol e o setor elétrico. Não está claro em que proporção e em que condições essa conta será repassada para o contribuinte.

Também não se sabe como seriam encaminhadas as reformas inadiáveis – nesta lista estão a política, a do sistema tributário, a da Previdência Social e a das leis trabalhistas. Ainda há tempo para esclarecimentos. De todo modo, do jeito dele, o mercado financeiro já mostrou que está confiando no que agora é mais do que uma mera hipótese Marina.

CONFIRA:
O gráfico mostra como tem desabado o Índice de Confiança da Indústria. (ICI). Em agosto, foi atingido o menor nível desde abril de 2009.

O advento do Khmer Verde - Milton Pires

A Unidade da Experiência da Salvação – A Chegada do Khmer Verde
Milton Pires

No dia 13 de agosto de 2014, a morte do candidato à presidência da república, senhor Eduardo Campos, trouxe mais uma vez ao cenário político a possibilidade de Marina Silva ocupar o cargo supremo do executivo nacional. O que apresento nas próximas linhas é um apanhado histórico e crítico daquilo que penso ser, do ponto de vista teórico, a base do seu pensamento político e tomarei como ponto de partida o conceito de “ecoteologia” segundo as definições de Afonso Murad (ver. Revista Pistis Prax., Teol. Pastor., Curitiba, v. 1, n. 2, p. 277-297, jul./dez. 2009). Uma comparação entre o fanatismo ecológico no Brasil e o genocídio perpetrado pelo Khmer Vermelho no Camboja é a conclusão que faço no final.
Ecoteologia é, antes de tudo, um conceito revolucionário naquilo que se refere à teologia tradicional. Trata-se de um nova interpretação da mensagem divina que, desde a Gênese até o Apocalipse, modifica a ideia básica do projeto de salvação contida na mensagem dos profetas, de Jesus Cristo e, finalmente, dos apóstolos afirmando que a própria natureza e todos os seres que dela fazem parte serão salvos no fim dos tempos e no Segundo Advento. Nas palavras de Afonso Murad: “ o eixo temático da ecoteologia consiste
"na forma de compreender a relação entre criação, graça e pecado e entre encarnação, redenção e consumação, ou seja: a unidade e a interdependência dos elementos que constituem a experiência de salvação cristã e, no interior dessa reflexão, proclamar como todos os seres participam do projeto salvífico de Deus.” Diz o autor mais adiante que “naturalmente, isso tem impacto na percepção sobre o valor da materialidade”.

Naquilo que se refere à Marina Silva, o conteúdo escatológico do seu pensamento pode ser percebido em declarações como essa: "Hoje, todos nós sabemos que somos finitos como raça. E, além de não saber como lidar com a imprevisibilidade dos fenômenos climáticos, temos pouco tempo para aprender como fazê-lo.” Observe-se portanto que, ao participar simultaneamente do debate ecológico e da comunidade religiosa formada no Brasil pela “Assembleia de Deus”, a política transformou-se para Marina Silva e a sua “Rede” numa espécie de interface..num campo onde o “discurso da salvação” adquire aquilo que se convencionou recentemente chamar de “transversalidade” ou seja: pode pautar o debate sobre o “futuro desse mundo material” e daquilo que eventualmente poderá substituí-lo por ocasião do Apocalipse e do Segundo Advento.
O termo “Khmer Rouge”, (Khmer Vermelho em francês) foi cunhado pelo chefe de estado cambojano Norodom Sihanouk e foi mais tarde adotado pela comunidade anglófona. A expressão se referia, de uma forma pejorativa, a uma sucessão de partidos comunistas no Camboja que evoluíram para se tornar o Partido Comunista da Kampuchea (CPK) e mais tarde ao Partido do Kampuchea Democrático. A organização foi conhecida também como Partido Comunista Khmer e Exército Nacional do Kampuchea Democrático.
Estima-se que o Khmer Vermelho tenha provocado através de execuções, torturas, trabalhos forçados e, sobretudo da fome, a morte de cerca de 5 milhões de cambojanos. Seus líderes principais chamavam-se de “irmãos” e tinham como meta transformar o país numa sociedade ABSOLUTAMENTE agrária (sem dúvida alguma uma proposta bastante “ecológica”) em que a economia deveria ser baseada no escambo e toda forma de “cultura tradicional” destruída para que o Camboja voltasse a um período (mais importante) dos séculos XIII ao XV em que era conhecido como Reino de Angkor. Não há dúvida, observem, que tratava-se então em 1975 quando o Khmer toma a cidade de Phnom Penh, de um projeto de “salvação nacional”.
Há, em toda história política brasileira, um gosto mórbido pelo messianismo..pelos projetos que, se não mergulharam o país em tantas revoluções armadas como em outras partes do mundo, ofereceram sempre “soluções esotéricas” e “mágicas” e que encantaram (e continuam encantando) o povo com seus “enviados divinos”. Marina Silva é mais um desses personagens que, de tempos em tempos, surge para dominar o inconsciente coletivo dos brasileiros.
Ela substituiu Campos para apresentar-se como uma “ungida” capaz de encontrar o “meio termo entre Dilma e Aécio” e nos conduzir no caminho da “salvação” juntamente com todos os animais, plantas, rios e florestas da Amazônia Brasileira. Seu apelo é tão forte que faz com que todas os seus eventuais eleitores esqueçam os seus quase 23 anos de petismo, sua participação no governo desse regime criminoso e o atrevimento e a audácia de uma proposta que visa reinterpretar toda mensagem cristã sobre o outro mundo para ressuscitar toda mensagem revolucionária nesse aqui: só poderemos viver nesse mundo nos preparando para salvação no outro.
Nessa salvação levaremos conosco os animais e toda floresta. Nossos “guias” são Marina Silva e os “irmãos da Rede”. Aproxima-se do Brasil a chegada do Khmer Verde.

Porto Alegre, 27 de agosto de 201

Eleicoes 2014: vitoria de Marina afastara' a volta do PT em 2018 - Paulo Marcos (via Ricardo Setti)

Não tenho certeza de que o cenário seja assim tão favorável a uma política econômica tendencialmente liberal pós-Marina e pós-caos lulo-petralha, que virá com ela também, pois ela terá de governar com essa "direita" mencionada pelo leitor Paulo Marcos; na verdade, o que teremos, como mais provável, será a consagração do "peemedebismo" na política brasileira.
Em todo caso, concordo com o que ele não diz explicitamente: será uma contenção parcial da associação mafiosa atualmente no poder. Mas eles vão continuar perturbando, e impedindo o Brasil de avançar, se já não fosse o ecologismo-criacionismo-evangelismo que aparece no horizonte.
Paulo Roberto de Almeida 

Blog de Ricardo Setti, 27/08/2014
 às 14:00 \ Política & Cia

Post do Leitor: “Por que acho que o melhor para o Brasil é a vitória de Marina”

(Foto: Dida Sampaio/AE)
“Marina tem DNA petralha, ela e muitos ‘cumpanheiros’ da cúpula do PT são cobras do mesmo ninho e de longa data — se a bomba explodir entre eles, melhor”, opina o leitor Paulo Marcos (Foto: Dida Sampaio/AE)
Texto do leitor Paulo Marcos
Post do LeitorAo acessar a coluna do Setti, algo que faço frequentemente com muito gosto, e ler sobre a enquete em curso sobre quem os leitores acham que irá para o segundo turno da eleição presidencial, fiquei refletindo sobre o assunto e cheguei à conclusão que o melhor para o Brasil em médio prazo será a vitória da candidata Marina Silva.
Digo isso por sabermos que, inevitavelmente, o próximo governo, de quem quer que seja, terá de tomar medidas impopulares, provavelmente conviver com um período de economia recessiva, cortar gastos, extinguir ministérios (acabando com muitas boquinhas de forma direta e indireta), acabar com muitos cargos comissionados, cortar verbas para ONGs, etc.
Os preços de energia elétrica e combustíveis estão represados faz um bom tempo e terão de ser reajustados, o que possivelmente acarretará em mais inflação, aumento da taxa de juros, falta de oferta de crédito no mercado e por aí vai.
Se imaginarmos um cenário sem o PT como oposição e toda sua rede de influência , que vai desde o ambiente político, passando pelo jornalístico (a grande maioria deste meio é composto de esquerdistas) e até o  universitário (as universidades públicas são verdadeiros criadouros de zumbis da ideologia comuno-socialista), o Aécio seria a melhor escolha.
Porém, no quadro atual, com uma bomba relógio prestes a explodir nas mãos do próximo governo, creio que farão da gestão do Aécio Neves um verdadeiro inferno — as forças sindicais promoverão todo tipo de greve e entrave, os movimentos sociais promoverão todo tipo de baderna, invasões e confrontos… Em suma, o PT e seus asseclas tocarão fogo neste país! E, cá para nós, o PSDB e o Aécio não têm tido e não terão pulso firme para bater de frente com a rede petralha (…).
E sabe o que vai acontecer, com uma população em sua maioria composta de gente ignorante financeiramente falando e muito ingênua no sentido político? Vão engolir a falácia que será disseminada pela rede petralha de que o PSDB destruiu o país, que são neoliberais, privateiros, defendem interesses internacionais e bla bla bla!
Com isso corremos o grande risco de o PT voltar novamente em 2018 e enterrar de vez qualquer possibilidade de se surgir uma corrente política nova e realmente viável para o Brasil. Esse é o meu maior temor!
Sendo Marina Silva a próxima presidente, não correremos este risco, além de termos a vantagem de tirar o PT de dentro das engrenagens da máquina do Estado, desaparelhando diversos setores e ainda por cima dando um freio no cronograma bolivariano do Foro de São Paulo em curso no país.
Marina tem DNA petralha, ela e muitos ‘cumpanheiros’ da cúpula do PT são cobras do mesmo ninho e de longa data — se a bomba explodir entre eles, melhor!
Acho que será um trauma tão grande que sepultará de vez a aventura socialista/populista no Brasil e abrirá o caminho para novas correntes políticas mais à direita (coisa que praticamente não existe hoje, salvo raras exceções), que defendam, sem constrangimento, a diminuição do Estado a sua menor presença na vida do cidadão, o liberalismo econômico, os valores da família, uma reforma tributária justa, as liberdades individuais, etc.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Eleicoes 2014: pesquisa aponta Marina como vencedora absoluta

Ibope: Marina abre 10 pontos sobre Aécio e esmagaria Dilma no 2º turno
Pesquisa com intenções de voto no 1º turno mostra Dilma (PT) com 34%, Marina (PSB) com 29% e Aécio (PSDB) com 19%
O Globo, 26/08/2014

SÃO PAULO - Pesquisa Ibope divulgada nesta terça-feira mostra a candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva, em segundo lugar com dez pontos de vantagem sobre o tucano Aécio Neves, que está em terceiro. A presidente Dilma Rousseff (PT) lidera com 34% das intenções de voto. Treze dias depois da morte de Eduardo Campos, a sua sucessora tem 29%. Aécio soma 19% .


Pastor Everaldo (PSC) e Luciana Genro (PSOL) têm 1% cada. Os demais candidatos somados contabilizam 1%. Brancos e nulos são 7%. Outros 8% declararam estar indecisos.
Na simulação de segundo turno, Marina venceria Dilma por 45% a 36%. Na disputa com o tucano, a petista sairia vitoriosa por 41% a 35%.

A pesquisa, contratada pelo jornal “O Estado de S. Paulo” e pela TV Globo, foi realizada entre os dias 23 e 26 deste mês e ouviu 2.506 eleitores. A margem de erro é de dois pontos percentuais. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com o número BR-00428/2014.

Apesar de não ser possível fazer uma comparação direta, o cruzamento das intenções de voto com a última pesquisa realizada pelo Ibope, entre os dias 3 e 6 de agosto, ainda com Campos na disputa, permite concluir que Marina, além de absorver todos os simpatizantes do seu antecessor, ainda tirou votos de todos os demais principais adversários.

Dilma e Aécio perderam quatro pontos em relação. Os candidatos nanicos têm três pontos a manos. Com a ambientalista na disputa, o total de eleitores que votaria em branco ou nulo cai seis pontos. Já o total de indecisos é três pontos menor.

O levantamento divulgado nesta terça-feira ainda mostra que Marina tem a menor rejeição entre os principais candidatos: apenas 10%. Dilma tem 36%, enquanto 18% dos eleitores declaram não votar em Aécio de jeito nenhum.

Na pesquisa espontânea, em que o eleitor não tem acesso à relação de candidatos, Dilma lidera, com 27%. A candidata do PSB tem 18% e o tucano, 12%.

No dia 18, o Datafolha divulgou a primeira pesquisa com Marina no lugar de Campos. O levantamento mostrava Dilma com 36% das intenções de voto, Marina, com 21% e Aécio, com 20%. Na simulação de segundo turno, Marina aparecia numericamente à frente da petista, com vantagem de 47% a 43%.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Eleicoes 2014: a anti-politica de Reinaldo Azevedo (2): meus comentarios

Esta postagem tem o objetivo precípuo de comentar, ou de responder, se assim é o caso, à postura do jornalista Reinaldo Azevedo, tal como transcrita aqui nesta postagem precedente:

http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/08/eleicoes-2014-anti-politica-de-reinaldo.html

Creio que não disse tudo o que penso, pois me ative tão somente a suas palavras, devidamente reproduzidas seletivamente aqui abaixo. Pretendo voltar ao assunto assim que possível.
Paulo Roberto de Almeida


Eleições 2014: contra a anti-política
Comentários a postagem de Reinaldo Azevedo

Paulo Roberto de Almeida

Tenho por hábito debater ideias, não pessoas, mas as ideias só aparecem quando emitidas por alguma pessoa, não é verdade? Sobretudo quando as pessoas são influentes, suas ideias acabam tendo um impacto maior do que a simples emissão de ideias contrárias por algum opositor menos conhecido daquelas ideias, como este que escreve estas linhas. Não importa, consoante meu hábito, vou expressar o que penso a respeito de uma opinião emitida pelo conhecido jornalista Reinaldo Azevedo, nesta postagem: Por que jamais votaria em Marina Silva — nem que ela viesse a disputar o segundo turno com Dilma. Ou: Voo cego de um avião sem dono -  Reinaldo Azevedo | VEJA.com
Como é meu hábito, destaco as frases que me parecem carecer de rigor analítico, ou que contradizem as próprias posturas do analista, e acrescento meus comentários logo em seguida. Desculpo-me, em todo caso, com os poucos leitores deste blog, em especial com aqueles que o frequentam para temas de relações internacionais e de política externa do Brasil, por afastar-me, uma vez mais, do interesse central do blog. É que antes de ser um diplomata, ou um estudioso desses temas, sou um cidadão consciente do que está em jogo na política brasileira, que interessa a todos, direta e indiretamente, e que nos afeta a todos. Minhas preocupações não têm absolutamente nada a ver com meu trabalho profissional ou acadêmico, mas elas têm tudo a ver com os destinos do Brasil.

RA: “Também é impossível [votar nos petistas]. Os petistas me incluíram numa lista negra de jornalistas.”
PRA: Não se deve tomar questões políticas em bases pessoais, mas o fato descrito apenas corrobora, na prática, uma das impossibilidades de se votar nos petistas. Eles são inerentemente, geneticamente, totalitários. Portanto, estão descartados absolutamente, e fim de papo.

RA: “Mas, reitero, nem tudo o que não é PT me serve — e Marina não me serve.”
PRA: Pode ser, mas em política existem poucos absolutos e nem sempre se pode seguir a lógica. Em todo caso, já que a recusa aparece num par, nem um, nem outro, então é preciso examinar as razões para recusar um e outro, e ver se, entre os dois – já que fatalmente um dos dois candidatos assumirá o cargo – haveria um mal menor. Minha posição é aqui de pura “economia” de meios: a economia é a arte de tentar fazer o máximo com o mínimo, ou seja, de atender desejos infinitos com meios finitos. Só posso compreender a postura de Reinaldo Azevedo se nenhuma das duas possibilidades consegue atender qualquer critério de governança.

RA: “Marina Silva não é candidata a presidente da República, mas a papisa de uma seita herética — e suas heresias são praticadas contra a democracia representativa.”
PRA: Isso é absolutamente ridículo, e se trata apenas de uma figura de estilo do jornalista. O que quer que pense Marina, ela está obrigada a seguir as regras da legislação eleitoral: se for eleita, tomará posse e governará com as instituições que existem. Se tentar dar golpe branco, ou contornar a Constituição, pode ser objeto de um processo político e ser impedida, como aliás já foi feito com um presidente.

RA: “Marina... pretende governar com o apoio de Lula e de FHC. Ninguém... perguntou — e não sei se vão perguntar — por que não se fez antes se é tão fácil.”
PRA: Se trata de uma pretensão; se vai conseguir ou não é outra questão. Mas é uma pretensão tão legítima quanto governar apenas com a extrema esquerda e a extrema direita. Qual é o problema? O Congresso dirá o que é ou não possível na governança da presidente Marina. De todo modo, ela aparece na política justamente para se colocar numa posição independente, mas não oposta absolutamente, ao PT e ao PSDB, razão pela qual acena com esse duplo apoio (que pode até vir, dependendo do oportunismo de cada um desses caciques). Ninguém está dizendo que é fácil ou que será possível, mas essa é a pretensão. Se formos verificar, PT e PSDB são dois irmãos siameses na política brasileira, ambos objetivamente socialdemocratas, embora não sejam nem um pouco siameses organicamente. O PT é um partido neobolchevique e, tendencialmente ao menos, totalitário, em espírito e métodos, além de ser intrinsecamente corrupto, não no sentido em que são corruptos os demais representantes da classe política, inclusive o PSDB, mas no sentido de ser uma associação mafiosa e orgulhosa de sê-lo.
A história política brasileira teria sido muito diferente se os dois siameses políticos tivessem se unido num programa reformista de esquerda, como foram outros socialdemocratas ao redor do mundo. Por que não fizeram? Por razões basicamente da personalidade dos líderes do PT, dois especificamente, por obsessões psicológicas e patológicas de um e outro, não por oposição das lideranças do PSDB. Ambos, em consequência, tiveram de governar com o que há de pior na política brasileira, à direita e à esquerda, embora eu considere o PT, igualmente, uma coisa muito ruim. Mas, não se faz história e políticas com hipóteses, e sim com fatos. O fato é que os dois siameses ficaram inimigos – mas por culpa apenas de dois mentecaptos do PT – e a história é essa que temos pelos últimos vinte anos.
A Marina vai realizar o milagre de uni-los? Provavelmente não, mas ela poderá, se eleita tenta dialogar com as duas forças, e terá de ser obrigada a isso, quer ela queira ou não. Este é um fato, embora eu esteja antecipando. O jornalista Reinaldo Azevedo antecipa o contrário, mas não explicitou suas razões de descrença.

RA: “Imaginar que PT e PSDB possam estar juntos num governo implica ignorar, logo de cara, o fato de que esses partidos têm vocações e fundamentos que são inconciliáveis. Se o ideário, hoje, dos tucanos é um tanto nebuloso aqui e ali — especialmente na área de valores —, os do PT são muito claros.”
PRA: Concordo na teoria, discordo completamente na prática. Nem o PSDB consegue socialdemocrata como gostaria, pois é obrigado a trabalhar com a direita, por um lado, e tem a oposição da esquerda, por outro, nem o PT consegue implementar a sua agenda bolchevique celerada no Brasil, a não ser marginalmente, pois a sociedade brasileira não aceita seus métodos e seus pendores totalitários. Na prática, portanto, os dois acabam fazendo uma socialdemocracia incompleta, no caso do PSDB, ou deformada, no caso do PT, pois não conseguem chegar ao final de seus propósitos ou vocações. Impressiona-me o fato de que Reinaldo Azevedo, tão fino analista da política brasileira, não consiga ver isto.

RA: “Estou fora.
Não caio nessa, sob pretexto nenhum — nem mesmo ‘para tirar o PT de lá’. Na democracia, voto útil é voto inútil. Se Deus me submetesse à provação — espero que não aconteça — de ter de escolher entre Dilma e Marina, escolheria gloriosamente ‘nenhuma’!”
PRA: Estamos aqui no cerne da questão, e RA decepciona mais uma vez, pela sua falta de lógica e de raciocínio. Vamos um desses exercícios de lógica elementar:
Premissa 1: A candidata A, ou D, é um desastre completo, assegurado.
Premissa 2: A candidata B, ou M, pode ser um desastre, não sei se completo ou incompleto, mas é uma possibilidade, não uma certeza.
Conclusão: Vamos tentar barrar a candidata A.

Esta é a maneira que eu penso. Diferente, portanto, de RA, que parece pensar:
Premissa 1: A candidata A, ou D, é um desastre completo, assegurado.
Premissa 2: A candidata B, ou M, também é, e isto transparece de suas falas.
Conclusão: Estou fora, portanto, e seja o que Deus quiser.

Como se vê, trata-se não de um exercício de política, mas de anti-política, com base não num julgamento ponderado dos processos e dos condicionantes da política brasileira, mas com base numa avaliação pessoal, subjetiva, da mentalidade de um dos atores, fiando-se nas suas palavras para tirar conclusões definitivas. Isso é política?

RA: “...eu, que sou um partidário da democracia representativa e das instituições democráticas, deixarei claro, nessa hipótese, que estarei sem candidato no segundo turno. Mas torço e até rezo para que o Brasil seja poupado.”
PRA: RA consegue retroceder ao período anterior a Maquiavel, não o anjo torto da política, mas o fino analista da política florentina, ou melhor, o homem que queria salvar a Itália dos bárbaros invasores e que, mesmo sendo um republicana humanista, aceitava até um tirano eventual, desde que fosse para assegurar ordem e concórdia, como ele dizia. Ou seja, entre dois males, ele escolhia aquele que garantisse o funcionamento normal da pátria, não a anarquia e a desordem.
Ora, o que temos hoje, assegurado? Anarquia e desordem, tudo o que RA despreza e abomina, e eu também. Marina seria essa tirana salvadora? Longe disso. Ela apenas permitiria tirar os bárbaros que já estão entre nós, e que ocupam o poder desde doze anos, e que pretendem continuar mais alguns anos, para implementar todas aquelas vocações e propósitos que RA abomina. Marina faria o mesmo que estão fazendo os bárbaros? Dificilmente, até porque não dispõe de uma associação para delinquir, o que é o caso dos bárbaros atuais, e que precisará governar com uma composição de pequenos e grandes conselheiros do príncipe, talvez até alguns bárbaros, mas não será a mesma associação que pretendem manter o monopólio do poder.
Seria muito difícil a RA deixar os seus fantasmas de lado e fazer uma análise de custo-benefício político, como Maquiavel o faria? Seria ele o anti-Maquiavel ingênuo?

RA: “Marina Silva? Não! Muito obrigado! Não quero! “Ah, mas ela pode ser eleita e fazer um grande governo…” É, tudo pode acontecer. Não tenho bola de cristal. Quando voto, levo em conta o passado dos candidatos, suas utopias, suas prefigurações, sua visão de mundo, o apreço que têm pela democracia, a factibilidade de suas propostas.”
PRA: RA parece aqui repetir uma famosa tirada que inventaram a propósito de Jânio Quadros, provavelmente mentirosa, mas interessante. Jânio, essa Marina Silva avant la lettre – mas que falava melhor e se fazia entender, nos seus propósitos simples de varrer a corrupção da política, ainda que fosse um louco completo – teria dito uma vez: “Fi-lo porque qui-lo!” É o que está dizendo RA: não gosto, não quero, não vou, estou fora! Isso é política? Sinto muito, mas é uma renúncia inaceitável da política, inclusive porque não é tomada em bases morais – dessas que tem certos objetores de consciência que não querem, não participar de uma guerra, mas de entrar no exército – mas em bases puramente individuais e subjetivas. Ele já chegou à conclusão, por todas as evidências que a candidata não se cansa de confirmar, de que ela é um desastre – o que pode ter o assentimento de muitos – e aí ele, não recomenda mas, adota a postura de se eximir desse cenário sujo e desagradável que é a política real.

RA: “Os idiotas que acham que sou antipetista a ponto de votar até num sapo se o PT estiver do outro lado nunca entenderam direito o que penso. Em dilemas que são de natureza moral, não havendo o ótimo, a obrigação é escolher o caminho menos danoso. Na democracia, felizmente, temos a possibilidade de recusar o ruim e o pior.”
PRA: RA não deixa entender exatamente o que pensa, apenas suspeitamos que ele seja contra uma e outra. Não creio que o dilema seja moral, pois o que está em jogo é apenas a governança do Brasil, que poderá continuar nas mãos dos neobolcheviques – que se esforçarão, mas não conseguirão perpetrar todas as suas maldades – ou poderá passar para as mãos de uma iluminada, que entende pouco da máquina do governo, não dispõe de uma associação para delinquir atrás de si, e poderá demonstrar toda a sua incompetência escolhendo os conselheiros e determinando as políticas que sua pouca preparação lhe permitir. Repito RA: “não havendo o ótimo, a obrigação é escolher o caminho menos danoso.” De acordo, mas RA não está escolhendo isso, e sim lavando as mãos, como Pôncio Pilatos; ele até poderá passar para a história, como o homem que anteviu todos os desastres e foi “sábio” o bastante para não escolher nenhum dos dois caminhos. Pena que a história não é escrita por antecipação, e sim como resultado das ações dos homens, e mulheres, dentro de circunstâncias determinadas, um pouco como escreveu o Marx da introdução ao 18 Brumário, que nisso conseguiu ser um pouco maquiavélico. Ou seja, existem a fortuna e a virtù. Na ausência da segunda, confiamos na primeira, esperando que a conjunção dos homens de bem consiga superar a ausência das virtudes, e contornar os defeitos, dos condottieri que inevitavelmente estarão à frente da República.
Maquiavel não se eximiu. Mesmo no exílio da política prática, ele continuou a pensar, e a oferecer suas receitas de política prática que encontrava necessárias para salvar a Itália do desastre. RA não nos convida a isso; ele está dizendo a Maquiavel que ele pode ficar na solidão da sua casa, lendo seus livros, sem se envolver. Ou então, quando Maquiavel vai à taverna, ele o aconselharia a dizer a seus companheiros de vinho que não escolham nada, que não façam nada, que deixem o rio caudaloso invadir as propriedades e arrastar as pessoas. Ele vai esperar que o rio passe...
Para mim, isso não é política, mas apenas anti-política.

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 25 de agosto de 2014