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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Capitalismo e socialismo: equivalentes funcionais? Apenas para idiotas - Olavo de Carvalho, via Orlando Tambosi

Ainda não pude ter acesso ao livro de Olavo de Carvalho, sequer como Kindle (que no Brasil é absurdamente caro, não se distinguindo em nada, no quesito preço, do equivalente impresso, o que é totalmente estapafúrdio, como várias outras jabuticabas de Pindorama), e tampouco encontro novidade no argumento abaixo, do Olavo, do Tambosi, e meu próprio, aliás desde muitos anos, desde que me curei -- graças a muitas leituras e a visitas aos capitalismos e socialismos realmente existentes -- das gravidades graves (com perdão da redundância) da ideologia marxista, que coloca o capitalismo com um "modo de produção", ou seja, algo que possa ser determinado pela ação consciente dos homens, como é pré-determinado o socialismo, saído inteiro de um pensador genial e totalmente equivocado, conceitualmente, praticamente, filosoficamente, Marx of course.
Apenas tomo de empréstimo o texto abaixo, porque sintetiza, para uso de estudantes e outros curiosos, a argumentação correta quando algum beócio companheiro vem argumentar que o socialismo pode não ser perfeito, mas que o capitalismo também tem muitos defeitos (que precisam ser corrigidos, claro, por geniais construtores de miséria e injustiças como os companheiros).
Voltarei ao assunto, várias vezes, e também me permitirei transcrever trechos de minha tese de doutorado (de 1984) que trata justamente dessas distinções, e que aprendi com Braudel, com Hirschman (entre outros) e em incontáveis visitas às misérias do socialismo real, algo que os companheiros jamais conheceram.
Paulo Roberto de Almeida

Orlando Tambosi, 10/09/2013

Lendo o novo livro de Olavo de Carvalho  - O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota (ver ao lado, edição Kindle) -, que reúne boa parte de seus escritos na última década, constato com satisfação que defendi sempre o mesmo ponto de vista em relação à pseudo-dicotomia capitalismo/socialismo (ver breve texto aqui). Pseudo porque capitalismo, ao contrário do socialismo, não é ideologia, apenas um conjunto de ideias - quase sempre fechadas -, mas um processo objetivo, que se desenvolve na realidade e não no campo das ideias. Só os idealistas e os marxistas, aliás, confundem ideia e realidade. Apenas acrescento, em relação ao texto, que o capitalismo é muito mais que um sistema econômico: é também, como sempre sustentou Joyce Appleby (jamais traduzida no Brasil), um sistema de valores e princípios que foram cristalizados na democracia, isto é, que tem uma forte dimensão cultural ignorada pelas esquerdas. Bene, dizer que capitalismo não é ideologia me valeu mais uma leva de inimigos na universidade. Pesquei o texto no próprio site do Olavo. Recomendo a leitura:

Se você quer avaliar a extensão do domínio hipnótico que os cacoetes marxistas ainda exercem sobre o sistema neuronal de pessoas que se supõem imunes a qualquer contaminação de marxismo, basta ver que estas, quando argumentam em favor do capitalismo, admitem colar na própria testa o rótulo de defensores de uma determinada "ideologia".

Uma ideologia é, por definição, um simulacro de teoria científica. É, segundo a correta expressão do próprio Marx, um "vestido de idéias" que encobre interesses ou desejos. Ao aceitar definir-se na linguagem de seu adversário, o liberal moderno assume o papel que ele lhe impõe: confessa-se porta-voz dos interesses dos ricos. Que a confissão seja falsa não a torna menos eficaz. Transferida do confronto objetivo das doutrinas para o terreno da concorrência de interesses, a luta parece opor agora o explorado ao explorador. Por elegante que seja a argumentação deste último, ele estará condenado a personificar sempre o malvado da história.

Descrever o confronto entre capitalismo e socialismo como "luta de ideologias" é aceitar um jogo viciado, no qual um dos lados dita as regras, dá as cartas e predetermina o desenlace.

O capitalismo não é uma ideologia. É um sistema econômico que existiu e provou suas virtudes desde dois séculos antes que alguém se lembrasse de formulá-lo em palavras. E o primeiro que esboça essa formulação, Adam Smith, não é de maneira alguma um ideólogo, um inventor de símbolos retóricos para construir futuros no ar em favor de tais ou quais ambições de classe. É um homem de ciência em toda a extensão do termo, esboçando hipóteses para descrever e explicar uma realidade existente. O socialismo, em contrapartida, milênios antes de existir sequer como estratégia política concreta já tinha seus ideólogos, seus embelezadores de enganos, seus estilistas de interesses de grupos ressentidos e ambiciosos. Por isso, o confronto de socialistas e liberais não opõe ideologia a ideologia: a defesa do socialismo é sempre a auto-atribuição ideológica dos méritos imaginários de um futuro possível, a do capitalismo é sempre a análise científica de processos econômicos existentes e dos meios objetivos de aumentar sua eficiência.

Malgrado tudo quanto se possa alegar contra ele sob outros aspectos (e eu mesmo não tenho deixado de alegá-lo), o capitalismo não somente gerou riquezas incalculáveis, mas pôs em ação os meios práticos de distribuí-las ao povo e criou instituições como a democracia parlamentar, a liberdade de imprensa, os direitos humanos, ao passo que o socialismo só o que fez até hoje foi prometer um futuro melhor ao mesmo tempo que reintroduzia o trabalho escravo banido pelo capitalismo, suprimia todos os direitos civis e políticos conhecidos, reduzia mais de 1 bilhão de pessoas a uma angustiante miséria e, para se sustentar no poder, recorria a meios de uma crueldade quase impensável, como por exemplo a empalação e o esfolamento de prisioneiros – um recurso muito usado durante o governo de Lênin.

O capitalismo não é uma ideologia – é uma realidade continuamente aperfeiçoada pela ciência. Ideologia é o socialismo – o vestido de idéias que encobre as ambições sociopáticas de semi-intelectuais ávidos de poder.


E uma prova a mais de que isso é assim poderá ser dada por eventuais reações socialistas a este artigo, as quais, como todas as contestações a meus artigos anteriores, não conseguirão e aliás nem tentarão impugnar a veracidade de nenhuma de suas afirmações, mas se limitarão a expressar descontentamento e revolta contra sua publicação.
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A curta e precisa definição de Orlando Tambosi linkada acima:

Anticapitalistas confundem ideologia e realidade

Quem é contra o capitalismo confunde esse processo objetivo, gerado pelo mercado - que não tem criador nem dono -, com ideologia, cada uma delas com seus gurus. Ideologias têm dono, a exemplo do socialismo, com suas retrógradas ideias ainda professadas por quem despreza a história, que não deixa dúvidas quanto às experiências socialistas: geraram apenas ditadura, fome e morte.
Os exemplos ainda estão aí, presos a um mundo que já terminou e que mentes pérfidas, nas escolas e academias da América Latina, ainda tentam manter vivo, para seu próprio e exclusivo benefício.
Isto não quer dizer que o capitalismo não mereça críticas e reparos. Mas negá-lo, simplesmente, significa negar a realidade. E rejeitá-la a troco de quê?
Ora, trocar um processo objetivo que funciona - bem ou mal - por algo indefinido e utópico, ou retornar a experiências fracassadas, é estupidez. Eis o cartão de visitas das "esquerdas".

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Ideologia versus conhecimento - Orlando Tambosi

Ideologia versus conhecimento
Já que tratei de ideologia no post anterior, aí vai, requentado, o que escrevi há alguns anos neste blog :
Parto de uma afirmação peremptória: ideologia não é conhecimento. Este último é necessariamente verdadeiro, ou não é conhecimento. Tanto assim que não existe conhecimento falso: existem falsas versões, falsas visões ou concepções, que muitas vezes tomamos equivocadamente por conhecimento.

Conhecimento e verdade estão inextricavelmente ligados. Como nem sempre podemos saber se aquilo que julgamos conhecer é de fato verdadeiro, muito dos nossos "conhecimentos" não são efetivamente conhecimento. Podemos viver num mundo de opiniões, versões fantasiosas, ideologias etc. Resumindo: conhecer é ter representação verdadeira da realidade - algo dispensável, dado o relativismo reinante, exatamente em favor das ilusões ideológicas.

Diferentemente do conhecimento, ideologia não implica verdade. Para simplificar: ideologia é um conjunto de ideias (políticas, sociais, religiosas etc.) mais ou menos coerentes, não necessariamente verdadeiras, sobre a sociedade e o mundo.

O século XX foi considerado o século das ideologias. O que deixou? O fascismo, o nazismo, o comunismo - que, felizmente, parecem ter morrido com o próprio século, apesar das recidivas latino-americanas.

O que resta? A defesa da democracia e das liberdades, aonde quer que seja. Só com democracia e liberdade o conhecimento avança.

sábado, 29 de junho de 2013

O relativismo, essa falacia epistemologica - Gustavo Ioschpe (via Orlando Tambosi)

Agradeço a meu amigo e colega de combates racionalistas, a transcrição em seu blog (aqui) deste artigo de Gustavo Ioschpe, na revista Veja de 26/06/2013, sobre o relativismo, que de outra forma me teria passado despercebido. Trata do relativismo, essa praga que invadiu universidades e vem se reproduzindo como... uma praga, justamente.
Reproduzo integralmente o conteúdo do post.
Paulo Roberto de Almeida

Orlando Tambosi, link

Na Veja da semana passada, Gustavo Ioschpe publicou um artigo - que vale a pena reproduzir integralmente - analisando uma questão epistemológica fundamental: a verdade. "Afinal, a verdade existe?", pergunta o título. Para o relativismo radical, negador de verdades universais, só há verdades relativas. Ioschpe se refere particularmente ao pensamento reinante nas escolas de segundo grau, mas o fato é que esse relativismo fincou raízes nas universidades, devastando as ciências humanas em geral. Fui testemunha dessa estupidez, contra a qual lutei quase que solitariamente na universidade a que pertenci, muitas vezes sendo chamado de positivista, reacionário etc. Muitos posts foram dedicados a esse tema no blog. Escrevi também um ensaio acadêmico sobre "jornalismo e teorias da verdade", que pode ser acessado aqui. A propósito, o relativismo deixou essa área mais próxima das ideologias que das ciências.

Há muitos anos, dei uma palestra a professores de uma rede estadual de ensino. Muita gente, ginásio grande. Apresentei a saraivada de dados em que me baseio para estabelecer um diagnóstico da educação brasileira. Depois da fala, abriu-se espaço para perguntas. Lembro-me da primeira delas como se fosse hoje: “O palestrante que esteve aqui ontem nos advertiu de que números são como palavras: são criações humanas. E que por trás de toda criação humana existe a intencionalidade da pessoa que a criou. Qual é a sua?”.

É uma visão de mundo preocupante. Fruto do pensamento pós-modernista de viés marxista, postula que não existe uma verdade objetiva, depreendida do estudo de fatos através das ferramentas da ciência. O resultado dessa investigação científica seria apenas uma verdade, a versão inventada pelo homem branco ocidental para ajudá-lo a subjugar os povos subdesenvolvidos e as minorias dos países ricos. Existem, para os pós-modernistas, “verdades”, no plural, ditadas pelas características históricas, culturais e econômicas de cada pessoa ou grupo. A crença de um aborígine de que um trovão é uma manifestação do descontentamento de uma deidade qualquer tem, portanto, o mesmo grau de verdade da descoberta de que o trovão é causado pela ionização e pelo aquecimento do ar que envolve um raio, gerando sua rápida expansão e a consequente onda de som.

Para que seja possível pensar assim, é preciso ignorar que existem fatos e que números, estatísticas, são apenas descrições quantitativas desses fatos. Se eu digo que a população brasileira em julho de 2012 era de 193 milhões de pessoas, segundo o IBGE, não se pode dizer que eu (ou os coconspiradores do IBGE) estou “criando” esse dado como se criasse um soneto. Não, as pessoas existem e estão lá! O número é apenas a maneira mais simples de comunicar esse fato, sem precisar mostrar fotos de todos os cidadãos nem repetir a contagem a cada instante. Se entendemos que fatos existem, e se notamos que os fatos corriqueiros do mundo que nos cerca já apresentam uma variedade e uma complexidade inenarráveis - da estrutura atômica e subatômica das partículas ao movimento das marés ou de planetas -, então necessitamos de um método impessoal e objetivo para perceber e compreender esses fatos. Esse método precisa ser peculiar: deve ser feito por seres humanos imperfeitos - com paixões e vilezas, sem visão de raio X nem audição perfeita - para superar as próprias limitações e chegar o mais próximo possível de observar o fato real, sem distorções ou falhas de interpretação. A criatura precisa superar o criador. Como fazê-lo? Perseguindo os fatos de maneira objetiva e técnica, gerando hipóteses sobre o mundo que só podem ser confirmadas através da medição. Porque, confiando em um método objetivo e em dados oriundos de medições, os resultados podem ser reproduzidos por diferentes pessoas em diferentes épocas, e as conclusões espúrias ou os métodos defeituosos podem ser expostos, corrigidos ou descartados. Sim, esse método a que me refiro é a ciência.

Os pós-modernistas empenham-se em destruir o edifício da ciência. Não mostrando os erros metodológicos ou quantitativos dos estudos científicos, porque a maioria dos adeptos da causa não tem competência técnica para isso (“Errar é humanas”), mas simplesmente atacando a credibilidade dos “especialistas”. E isso se faz necessário não apenas porque, sem os guardiães do conhecimento embasado em fatos, qualquer Quixote pode descrever moinhos inexistentes que devem ser derrubados, mas também porque as investigações mais recentes de várias ciências, especialmente a biologia, desconstroem muitas ideias que são caras aos pós-modernistas e marxistas em geral. Entre elas, especialmente aquela de que o ser humano é um bicho fraterno e igualitário por natureza, e não o ser competitivo e movido pela busca de status e hierarquia em seu grupo social que a psicologia evolutiva não se cansa de demonstrar em estudos e experimentos (sugestões de leitura em twitter.com/gioschpe). Claro, se o fato não existe, o cientista ou especialista só pode ser um impostor, que inventa dados para justificar algum viés inconfessável. Para os ideólogos, toda neutralidade é uma farsa. Quem aponta um erro de um pós-modernista não pode estar certo: necessariamente, deve ser um tarado neoliberal. O marxismo e seus derivativos formam um sistema fechado. Para os crentes, quem aponta seus erros o faz por algum interesse de classe, etnia ou nação e, portanto, pode ser imediatamente descartado. Só poderá apontar os erros quem for confrade. Mas, obviamente, quem é confrade não percebe os erros.

As pessoas dessa inclinação acreditam que a ciência é uma religião, uma fé cega. Que os racionalistas apenas trocaram um deus crucificado por outro abstrato: o método científico. Mas esse é um engano fundamental e dantesco. Porque a marca da religião (e da ideologia) é justamente o dogma, a ideia inquestionável e infalsificável, porque revelada por uma entidade superior. A ciência se move por dúvidas, não por certezas: tudo é questionável e precisa ser demonstrado e reproduzido. Não há crença em entidades superiores. Pelo contrário: a ciência moderna se faz pela sobreposição de vários e pequenos esforços. Até que uma teoria ganhe respeitabilidade e passe a ser aceita como uma boa descrição dos fatos, precisa ser replicada por muitos pesquisadores, que podem estar espalhados por todo o planeta. É sempre assim que funciona? Claro que não. Quem conhece a história das ideias sabe que cientistas e pesquisadores sofrem dos mesmos vícios da humanidade em geral. São seduzidos pelo poder político e econômico, sucumbem a ideologias, aferram-se a teorias patentemente equivocadas por questões pessoais ou até mesmo estéticas. Mas, por mais que ideias tortas tenham vida longa, algum dia elas não resistem ao acúmulo de evidências contrárias e morrem, vão para o lixo da história, substituídas por formulações mais corretas.

Algumas pessoas acham que não se pode confiar na ciência porque “uma hora eles dizem uma coisa, outra hora dizem outra”. Mas isso é causado mais por um viés da publicação dos resultados do que pelos resultados em si. É mais culpa da imprensa (leiga e acadêmica) do que de pesquisadores: é a velha história de que quando um homem morde um cachorro é notícia, mas não vice-versa. Os resultados mais divulgados são frequentemente os mais destoantes do senso comum e da pesquisa anterior. É bom que sejam publicados, porque arejam o debate, mas na maioria dos casos acabam sendo a exceção que comprova a regra. Não é verdade que o processo científico é um eterno pingue-pongue de versões antagônicas. O conhecimento avança, chegamos a consensos. Dificilmente se verá algum estudo sério sugerindo que fumar faz bem à saúde. É verdade que os consensos não são perenes e que talvez vamos propor ações equivocadas por baseá-las em pesquisas que depois se descobrirão equivocadas. Mas no mundo real sabemos que a perfeição é inatingível. A questão, portanto, não é acabar com o erro, pois isso é impossível, mas minimizá-lo. E certamente uma ação baseada em evidências sólidas vai errar menos do que aquela inspirada em intuições e inclinações pessoais.

Que pessoas ignorantes repitam essa linha do “cada um com a sua verdade” é até compreensível, saturados que estamos, aqui nos tristes trópicos, de gente que compartilha essa cosmovisão. Na terra da cordialidade, pega mal defender a existência de uma verdade e o consequente erro daqueles que defendem seu oposto. Parece até arrogância. Que professores pensem assim já é mais triste e preocupante, pois uma tarefa fundamental do sistema escolar é transmitir ao alunado o conhecimento acumulado ao longo de séculos de trabalho árduo de pesquisadores e pensadores, que muitas vezes perderam a vida defendendo suas ideias “hereges”. Também são os professores que deveriam propagar o método científico, para que seus alunos possam empreender o mesmo caminho da busca da verdade trilhado pelos gigantes intelectuais que nos precederam.

Mas que líderes públicos pensem assim, e ajam ao arrepio daquilo que a pesquisa já estabeleceu, aí não é apenas triste ou lamentável: é criminoso. Na área da educação posso dizer com tranquilidade: a maioria dos nossos gestores públicos despreza totalmente os milhares de estudos objetivos sobre o que funciona em educação. Insistem em gastar fortunas com ideias que a experiência, documentada em estudos rigorosos, já se encarregou de demonstrar serem inócuas. O Ministério da Educação agora cria um “Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa” que quer alfabetizar na idade errada (8 anos, em vez de 6) e defende um aumento radical do financiamento em educação que não terá nenhum impacto na melhora da qualidade do ensino (em breve escreverei artigo a respeito). Prefeituras insistem em alfabetizar com o método construtivista, quando o fônico tem se mostrado mais eficaz. Em diminuir o número de alunos em sala de aula ou colocar dois mestres por turma, o que não dá resultado. Em carregar nas ferramentas tecnológicas que não têm comprovação alguma, sem nem ao menos fazer uma escolha criteriosa do livro didático ou prescrever o bom e velho dever de casa, ambos com custo perto de zero e eficácia comprovada.

Muitos o fazem por desconhecimento e preguiça, outros por conveniências políticas, outros ainda por motivos inconfessáveis (não há fornecedor de dever de casa para dar uma mãozinha no financiamento da próxima campanha...). Mas, no frigir dos ovos, eles só podem se safar de sua irresponsabilidade porque sabem que grande parte dos eleitores está convencida de que fatos são criados de acordo com a intencionalidade de cada um e que, portanto, vontades são mais importantes do que resultados e que as boas intenções dos inventores de factoides compensam o divórcio entre seus objetivos e suas realizações. Mas os dados existem. A verdade existe. E até os pós-modernistas mostram saber disso. Cada vez que tomam um remédio ou visitam um médico para tratar de uma doença, em vez de consumir uma beberagem prescrita por um pajé, estão dando às próprias ideias a credibilidade que merecem. Ignoramos esses dados, e os muitos recados que nos mandam, por nossa conta e risco. Países não morrem nem vão à falência por teimar em ignorar a realidade. Mas podem estagnar ou retroceder, como mostra a história recente de alguns de nossos vizinhos. Se não acordarmos para a realidade, em breve haveremos de fazer-lhes companhia.


P.S.: Thomas Jefferson, um dos founding fathers dos EUA, escreveu que “onde a imprensa é livre, e todo homem capaz de ler, tudo está seguro”. Roberto Civita lutou para que cumpríssemos essas duas missões por toda a sua vida adulta. O Brasil perdeu um grande homem, mas o legado fica. Em boas mãos: a existência desta coluna, que irrita a tantos há anos, só é possível em uma organização que preza a verdade antes de agradar a leitores ou poderosos

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Brasil: a caminho do fascismo corporativo? Orlando Tambosi

Uma postagem importante, retirada do blog do meu colega Orlando Tambosi, que serve como alerta, para caminhos sorrateiros que tentam nos impingir os que rimam com o adjetivo anterior, para acomodar o melhor sistema político que sirvam aos interesses daqueles que querem se perpetuar no poder.
Paulo Roberto de Almeida

Dilma aponta para o golpe bolivariano: plebiscito, constituinte.

É o que tenho dito, solitariamente, nos dois últimos posts. As ditaduras bolivarianas se valeram de referendos, plebiscitos e constituintes para solapar as instituições. Recomendo que leiam - quem ainda não o fez - o texto de Osvaldo Hurtado, fiel retrato do que aconteceu nos países vizinhos sob as botas bolivarianas (post anterior).

Repito: é a última tentativa do lulo-petismo de realizar o que não conseguiu em 10 anos de ataques às instituições. A ideia, lançada por Lula há meses, já foi abraçada abertamente por acadêmicos vagabundos e,  um tanto envergonhadamente, pela vermelha CNBB e pela OAB federal, que abandonou a defesa do Estado de Direito faz muito tempo.

Olho vivo, brasileiros! O lulo-petismo quer se eternizar no poder. Método não lhe falta.

Na Veja.com, a confirmação dos meus temores:
Orlando Tambosi

Governo

Dilma pede plebiscito pela reforma política

Presidente apresentou nesta segunda-feira um pacto com cinco pontos aos governadores e prefeitos durante reunião no Palácio do Planalto

Laryssa Borges e Gabriel Castro, de Brasília
A presidente Dilma Rousseff anunciou na abertura do encontro com os governadores e prefeitos, no Palácio do Planalto, que pedirá um plebiscito seguido de uma Constituinte, para a realização de uma reforma política no país. Dilma pediu aos governantes um pacto com cinco pontos, que serão debatidos durante a reunião da tarde desta segunda-feira. São eles:
1) responsabilidade fiscal para garantir a estabilidade da economia;
2) convocação de um plebiscito sobre reforma política e alteração na legislação para que o crime de corrupção se torne hediondo;
3) pacto pela saúde, com a criação de novas vagas para médicos e a contratação de profissionais estrangeiros;
4) investimento de 50 bilhões de reais em mobilidade urbana para transportes, com metrô e ônibus;
5) mais recursos para a educação, repetindo a destinação de 100% dos recursos dos royalties do petróleo para a educação.
“Quero, nesse momento, propor um debate sobre a convocação de um plebiscito popular que autorize o funcionamento de um processo constituinte específico para fazer a reforma política que o país tanto necessita. O Brasil está maduro para avançar. (…) Devemos também dar prioridade ao combate à corrupção de forma ainda mais contundente do que já vem sendo feito em todas as esferas. Nesse sentido, uma iniciativa fundamental é uma nova legislação que classifique a corrupção dolosa como equivalente a crime hediondo, com penas muito mais severas”, afirmou.
Em uma tentativa de responder aos crescentes protestos que tomaram as ruas nas últimas semanas, a presidente repetiu o tom do pronunciamento da última sexta-feira de que é preciso "ouvir a voz das ruas", mas defendeu a lei e a ordem contra a ação de "arruaceiros e vândalos", responsáveis por atos violentos e confrontos com a polícia. "Reafirmo o meu compromisso de ajudá-los para garantir paz e tranquilidade às nossas cidades", disse. "Mas repito que estamos ouvindo as vozes das ruas, que pedem mudanças. Só elas podem nos impulsionar a andar ainda mais rápido." 
A presidente também voltou a tocar no tema da corrupção: “Devemos também dar prioridade ao combate à corrupção de forma ainda mais contundente do que já vem sendo feito em todas as esferas. Nesse sentido, uma iniciativa fundamental é uma nova legislação que classifique a corrupção dolosa como equivalente a crime hediondo, com penas muito mais severas".
Saúde - Dilma defendeu mais uma vez a "importação" de médicos estrangeiros para ampliar a oferta de serviços de saúde nos rincões do país. Atualmente, 1,79% dos médicos que atuam no Brasil são estrangeiros. Como a proposta tem ampla rejeição na classe médica, Dilma afirmou que seria “uma ação emergencial, localizada, tendo em vista a grande dificuldade que estamos enfrentando para encontrar médicos”. “Quando não houver a disponibilidade de médicos brasileiros, contrataremos profissionais estrangeiros para trabalhar com exclusividade no SUS. Não se trata nem de longe de uma medida hostil ou desrespeitosa aos nossos profissionais.”

Ela também disse ser preciso acelerar os investimentos já contratados em hospitais, Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e unidades básicas de saúde para ampliar a adesão de hospitais filantrópicos a programas de trocam dívidas por mais atendimentos e incentivar a ida de médicos para cidades e regiões no interior do país.

Transporte – A presidente falou em uma mudança na matriz do sistema sistemas, com o aumento das redes de metrô, trens leves e corredores de ônibus, e anunciou a liberação de 50 bilhões de reais para empreendimentos de mobilidade urbana.

Mais cedo, o ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, havia dito que o governo dispõe de 88,9 bilhões de reais para a aplicação nesse setor. Desses, 30 bilhões já haviam sido contratados. Dilma também decidiu criar um Conselho Nacional de Transporte Público, com participação da sociedade civil. E disse que o governo está disposto a isentar da PIS e da Cofins o óleo diesel dos ônibus e a energia elétrica consumida por trens e metrô.

Educação - A presidente voltou a pedir urgência na aprovação do projeto que destina 100% dos royalties do pré-sal para a educação. "Confio que os senhores congressistas aprovarão esse projeto que tramita no legislativo com urgência constitucional", disse. Dilma prometeu que seu governo vai redobrar os esforços pela formação e valorização dos professores.

Democraduras, ditacracias? Como sao as ditaduras do seculo 20? Oswaldo Hurtado (via Orlando Tambosi)

Esta eu devo a meu amigo de combates democráticos, de resistência aos novos totalitários, de denúncias anti-besteirol acadêmico, e de muitas outras falácias subinteliquituais, colega de blog e quilombola da racionalidade, como tenta ser este blog, que me chamou a atenção para este livro importante, que vou downloadar no Kindle; ele também transcreve sua apresentação.
Paulo Roberto de Almeida

Blog do Orlando Tambosi, 24/06/2013

Hurtado, Osvaldo (2012-11-16). Dictaduras del Siglo XXI. El caso ecuatoriano (Curso Delfico) (Spanish Edition) (Kindle Locations 301-306). Paradiso Editores. Kindle Edition. 

Em seu livro Dictaduras del siglo XXI (El caso ecuatoriano), Osvaldo Hurtado traça um paralelo entre as ditaduras militares do século passado e as ditaduras do século XXI, inspiradas no bolivarianismo. Sem repetirem o golpe tradicional, os regimes bolivarianos, após eleitos, convocam constituintes para elaborar cartas políticas a seu gosto, submetendo ao Executivo os poderes Judiciário e Legislativo, além de restringir liberdades e direitos, limitar o pluralismo, manipular os processos eleitorais, controlar a imprensa etc. Tudo isso com a participação de "conselhos populares" e outras entidades extra-parlamentares. As mudanças constitucionais servem apenas para eternizá-los no poder. 

Como mostrei no post anterior, propor uma constituinte, no Brasil, sob a gigantesca, corrupta e liberticida coalizão de poder montada pelo lulo-petismo, é seguir os passos do bolivarianismo.  A democracia corre perigo com iniciativas propostas a cavalo de manifestações de protesto - que, aliás, não levantaram essa bandeira de cores golpistas.
Orlando Tambosi

Abaixo, reproduzo a apresentação do livro de Hurtado, cuja leitura recomendo vivamente:

Hasta que en los albores del nuevo milenio apareció el socialismo del siglo XXI, en América Latina los militares fueron los actores de los golpes de Estado con los que, periódicamente, era abolido el orden constitucional, derrocados presidentes elegidos por el pueblo e instauradas dictaduras. Por entonces, si no mediaba un pronunciamiento de las Fuerzas Armadas no era posible que pudiera conformarse un gobierno de facto. 

El libreto que siguieron los golpes de Estado militares fue siempre el mismo. Comenzaban con la destitución del presidente, continuaban con la clausura del Congreso Nacional y terminaban con la instalación de un caudillo militar, ocasionalmente civil, en el palacio nacional . El jefe supremo o la junta militar, si bien estaban en condiciones de gobernar a su antojo y obtener las leyes que desearan mediante decreto, a fin de guardar las formas disponían que la constitución que habían atropellado continuara vigente, en todo lo que no se opusiera a sus fines, esto es a sus intereses políticos y a los de la revolución que ofrecían realizar. Fue lo que hicieron las dictaduras que gobernaron en América Latina en la segunda mitad del siglo XX y en el Ecuador en los años sesenta y setenta. 

En el siglo XIX y en la primera mitad del XX hubo dictadores que luego de apoderarse del gobierno buscaron legitimarse jurídicamente. Con este fin convocaron asambleas constituyentes, en ocasiones seguidas de referendos, que confeccionaron cartas políticas a su gusto y medida, además de confirmarles en la jefatura suprema del Estado. Algunos déspotas permanecieron en el poder por muchos años, mediante reelecciones alcanzadas en procesos electorales manipulados o simplemente fraudulentos. El general Augusto Pinochet fue el último dictador latinoamericano que siguió este camino, con el apoyo de buena parte del pueblo chileno. 

En años recientes, sin que se proclamaran dictaduras y se dieran golpes de Estado de factura militar, es lo que han hecho los mandatarios de los llamados países bolivarianos, a través de la utilización maliciosa de las instituciones democráticas. No depusieron al presidente constitucional y accedieron al poder mediante el voto libre de los ciudadanos, pero una vez instalados en el gobierno se las arreglaron para, a través de disimulados y sucesivos mini golpes de Estado, desconocer el orden jurídico bajo el cual fueron elegidos y conformar un sistema político contrario a los principios democráticos. 

Como antes hicieron las dictaduras militares, la constitución continuó vigente, pero solamente en lo que no se oponía a los objetivos políticos del caudillo en ciernes, hasta que dóciles asambleas constituyentes les entregaran la constitución que habían ordenado escribir a sus devotos. Las amplias facultades que les fueron asignadas les permitió burlar las leyes, ejercer un poder ilimitado, someter las funciones legislativa y judicial, subordinar los órganos de control, restringir libertades y derechos , limitar el pluralismo, eludir la rendición de cuentas, obstaculizar la alternancia política y manipular los procesos electorales. Como la constitución pronto terminó incomodándoles, a pesar de haber sido hecha según sus deseos, la sobrepasaron cuantas veces quisieron, interpretándola a su antojo, disponiendo que lo hicieran tribunales subordinados o reformándola mediante consultas populares.

Una vez que los autócratas del siglo XXI recibieron las amplias atribuciones que les otorgaba la nueva constitución, a través de dóciles órganos legislativos, del veto presidencial o de poderes habilitantes, armaron un enjambre de leyes en cuyas redes mantienen atrapadas a las instituciones democráticas. Mediante el sometimiento de las funciones Ejecutiva y Legislativa, y de los órganos de control, conformaron un sistema de dominación política, económica, social, electoral, cultural y comunicacional, del que se han valido para eternizarse en la presidencia y perseguir, apresar, exilar, silenciar y amilanar a críticos y opositores, a fin de que no pueda emerger ninguna alternativa política. Para controlar y manipular la opinión pública conformaron conglomerados de medios de comunicación —verdaderos imperios mediáticos—, llamados impropiamente públicos, que han usado como órganos de propaganda y de difamación. Para limitar o eliminar la libre expresión hostilizaron, amedrentaron y, en ocasiones, expropiaron periódicos, revistas, radios y televisoras. También se valieron de juicios penales, acciones administrativas, inspecciones laborales, fiscalizaciones tributarias y otras formas de intimidación, con las que aparentaron aplicar la ley cuando lo que en realidad hacían era perseguir de manera maliciosa, discriminatoria y discrecional a sus adversarios. Los fraudes electorales, más que en el día de las votaciones, los hicieron durante la campaña electoral, con la manipulación de los sistemas informáticos, el uso inmoral de recursos públicos , la abusiva propaganda oficial y la expedición de leyes, reglamentos y medidas dirigidas a favorecer a los candidatos del Gobierno y perjudicar a los de la oposición. 

Como las dictaduras del siglo XXI controlan todos los órganos del Estado y noexiste justicia ni tribunales independientes, los ciudadanos y la sociedad no pueden defenderse, hacer valer sus derechos y conseguir que sean invalidados los actos ilegales o persecutorios del gobernante. Con las particularidades propias de cada país, es lo que vienen haciendo Hugo Chávez en Venezuela desde 1999, Evo Morales en Bolivia desde 2006, Rafael Correa en Ecuador y Daniel Ortega en Nicaragua desde 2007. Sin embargo sus Gobiernos no han sido catalogados como dictatoriales, a pesar de que han socavado principios, normas e instituciones esenciales del Estado de derecho, así como las libertades y garantías de los ciudadanos. A la hora de juzgarlos, bajo el prisma de la democracia, solamente se ha tomado en cuenta la supervivencia nominal de la institucionalidad democrática y los triunfos que han obtenido en consultas, elecciones y referendos. Como si el voto de los ciudadanos fuera suficiente para subsanar arbitrariedades, legitimar autoritarismos, convertir en constitucionales actos que no lo han sido y calificar como democráticas instituciones que no lo son. Este modelo de acceder al poder, a través de las instituciones democráticas, para luego, bajo la conducción de un caudillo, desconocerlas, manipularlas e instalar gobiernos autocráticos y formas disimuladas de dictadura, no es un invento de Hugo Chávez y sus seguidores que se limitaron a darle un toque latinoamericano. Su origen es bastante más antiguo. Se remonta a la segunda y tercera décadas del siglo XX y fue concebido e implantando por el Duche Benito Mussolini en Italia y el Führer, Adolfo Hitler en Alemania, con la ayuda de los partidos fascista y nazi. La anomia democrática en la que viven los países del socialismo del siglo XXI, también llamados bolivarianos, es doblemente paradójica . Ocurre en una época en que las instituciones de la democracia liberal y representativa, por primera vez en casi dos siglos , han cubierto con su benéfico alero todos los países de América Latina, con excepción de Cuba. A diferencia de lo que sucedía en el pasado, hoy los enemigos de la democracia no son militares golpistas, sino líderes civiles, partidos políticos y dirigentes sociales que se dicen democráticos y hacen loas a la democracia [1] . 

Por una extraña e inexplicable razón, los autoritarismos latinoamericanos del siglo XXI han sido medidos con una vara distinta a la que se empleó para catalogar a las dictaduras militares de derecha, doble rasero, particularmente visible en los grupos de izquierda de origen marxista. Esta contradicción , en ciertos países latinoamericanos como Ecuador, ha sido más notoria, quizá porque líderes y militantes de las organizaciones políticas y sociales de izquierda, no vivieron la experiencia de sus camaradas chilenos, argentinos, uruguayos y brasileños: prisión, tortura, ejecuciones y exilio [2] . Esta dolorosa vivencia personal, familiar y grupal, hizo que la izquierda en Brasil, Chile y Uruguay apreciara el valor de la democracia y de la libertad e hiciera suyas las instituciones republicanas, cosa que no ha ocurrido en Ecuador, Bolivia, Venezuela y Nicaragua. 

Al respecto, dos importantes ex dirigentes de la juventud comunista de Chile y militantes de la Unidad Popular en el Gobierno de Salvador Allende, en 2008 escribieron: “Hemos aprendido que cualquier fórmula política que avasalle a los seres humanos no vale como camino de redención social. Ningún tipo de autoritarismo o totalitarismo merece presentarse como alternativa progresista”. Para luego añadir, que las cruentas secuelas que acompañaron al derrocamiento de Allende, les hizo “reflexionar seriamente sobre el pluralismo y la llamada democracia formal como valores permanentes, y no como fases tácticas a ser superadas por una democracia popular o proletaria”. Y finalmente concluir con la proclama de que “ningún sueño igualitario que pase por debilitarla o suprimirla puede considerarse aceptable” [3] . 

Conceptos de esta naturaleza no han sido expresados por Chávez, Morales y Ortega, ni han guiado el ejercicio de sus gobiernos. Tampoco por el presidente del Ecuador, sus ministros, legisladores y miembros de Alianza PAIS, y de los grupos aliados ni por los que se distanciaron, quejándose del autoritarismo de Correa y que hoy forman parte de la oposición. Ni siquiera la persecución que hoy sufren les ha hecho apreciar el valor de las instituciones de la democracia representativa, que continúan impugnando , atribuyéndole falencias y proponiendo su remplazo por otra distinta que no acaban de definir.Tampoco han hecho un acto de contrición por haber coadyuvado, aupado y aplaudido las arbitrariedades y abusos del presidente Correa cuando formaron parte de su Gobierno. 

El pensamiento democrático de la nueva izquierda latinoamericana no inspiró a Correa ni a los grupos políticos y sociales que se juntaron alrededor de su candidatura presidencial; tampoco a los que acompañan a Chávez, Morales y Ortega. Haciendo suya la doctrina leninista de la toma y ejercicio del poder, consideraron lícito desconocer , vulnerar, sobrepasar y atropellar las instituciones del Estado de derecho, para llevar a cabo la revolución socialista, que permitiría alcanzar el sueño de construir una sociedad igualitaria en la que desaparecieran las desigualdades.

Estas viejas ideas, abandonadas por la izquierda ilustrada en casi todos los países del mundo, después de la caída del muro de Berlín, fue resucitada por la izquierda conservadora ecuatoriana (también por la boliviana, nicaragüense y venezolana) para justificar la demolición del orden constitucional y la instauración de un régimen político ajeno a los principios democráticos, acciones en el Ecuador metódicamente ejecutadas desde el día en que Correa asumió la Presidencia, a principios de 2007. 

Para que nunca más volvieran las dictaduras y la democracia permaneciera para siempre, los países del continente americano, incluidos Estados Unidos, Canadá y los del Caribe, en 2001, suscribieron en Lima La Carta Democrática Interamericana. En ella se definieron los elementos que debía reunir un régimen político para ser considerado democrático, se consagró el carácter inmutable de los derechos humanos y se establecieron mecanismos para que, mediante acciones colectivas, los países del continente impidieran que se vulneraran los “elementos esenciales de la democracia representativa”. 

A pesar de existir este solemne compromiso de las naciones del continente para defender la democracia y la libertad, los gobiernos de América, el Caribe y el organismo regional que los representa, la Organización de Estados Americanos (OEA), así como su secretario general, han ignorado la progresiva degradación que la democracia ha venido sufriendo en Bolivia, Ecuador, Nicaragua y Venezuela, omisión culposa en la que también han incurrido políticos, académicos y ciudadanos latinoamericanos. Unos porque no atinaron como actuar ante un novedoso fenómeno autoritario, que no encajaba en el tradicional concepto de dictadura. Otros por considerar que los abusos y arbitrariedades de los presidentes bolivarianos habían sido “legitimadas” por el voto de los ciudadanos, en elecciones y consultas populares. Muchos por creer que debían tolerarse sus excesos, en vista de que tales gobiernos estaban corrigiendo atávicas injusticias sociales y realizando cambios revolucionarios, sueños que siempre estuvieron presentes en el imaginario político latinoamericano. Algunos, curiosamente, por el temor a que sobre ellos cayera la iracundia verbal de presidentes proclives a sustituir razones por injurias. 

En realidad, los Estados Unidos ha sido el único país que ha puesto a Bolivia, Ecuador, Nicaragua y Venezuela bajo la lupa de la Carta Democrática Interamericana. Es lo que dejan ver declaraciones del Departamento de Estado, del Congreso, de sectores académicos, medios de comunicación, organizaciones de la sociedad civil e incluso del presidente Obama, que llegó a mencionar a un periodista perseguido por el Gobierno ecuatoriano [4] . En cambio la solidaridad democrática, por parte de los “hermanos” latinoamericanos, ha permanecido ausente, con excepción de la expresada por los medios de comunicación. 

La invitación que recibí de la Universidad de las Américas (UDLA) y de la Red del Foro de Biarritz a participar, junto con los ex presidentes Carlos Mesa de Bolivia y Ernesto Samper de Colombia, en la conferencia América Latina: dos modelos, una sola región, dos sistemas (Quito , 2011), me ofreció la oportunidad de sistematizar y desarrollar mis reflexiones sobre las nuevas formas de autoritarismo que habían surgido en América Latina. La ponencia que presenté, con el título De la democracia a la dictadura, centrada en el análisis del caso ecuatoriano, fue recogida por la UDLA en el libro América Latina: dos modelos, una sola región ( 2012) y luego publicada en tres entregas por el diario El Universo de Guayaquil los días 20, 21 y 22 de febrero de 2012. 

Dos razones me incitaron a profundizar la investigación y ampliar el análisis contenido en dicho ensayo. La obligación moral de contribuir a que el pueblo ecuatoriano advierta que, bajo ninguna excusa, puede hipotecarse la democracia y la libertad. Y la necesidad de explorar, teórica y empíricamente, el novedoso fenómeno político por el que gobiernos democráticos elegidos por el pueblo se transforman en dictaduras, mediante la manipulación de las instituciones constitucionales. Este nuevo hito del autoritarismo latinoamericano debería merecer una reflexión de los académicos del continente que trabajan en el campo de la ciencia política, al que espero aportar. 

Dictaduras del siglo XXI. El caso ecuatoriano, contiene un relato analítico y sistematizado de la forma en que el Gobierno del presidente Rafael Correa, paulatina y metódicamente, fue construyendo un sistema político contrario a los principios democráticos y a las normas del Estado de derecho. Se divide en dos partes: la Primera, estudia el proceso de acumulación de poder en la Presidencia de la República; la Segunda, la operación de las instituciones democráticas en un sistema político autocrático. 

En razón de que la investigación se circunscribe al ámbito político, el libro no aborda asuntos referidos a otras materias, como las instituciones económicas y sociales de la Constitución de 2008, la ideología socialista-populista del Gobierno, las políticas económica e internacional que ha seguido y las obras sociales, educativas y de infraestructura realizadas en estos años.

Por la naturaleza reciente de los hechos estudiados, las principales fuentes han sido las informaciones publicadas por los medios de comunicación escritos, documentos del Gobierno y del movimiento oficialista Alianza PAIS. Me han sido singularmente útiles las notas que comencé a tomar cuando apareció en la escena política un joven contestatario que, a pesar de haber tenido la singular oportunidad de observar de cerca las ejemplares democracias europeas y estadounidense, carecía de principios democráticos, rareza que me llamó la atención, además de preocuparme. 

En ocasiones ha resultado ardua la tarea de desentrañar el significado de normas jurídicas expedidas por la Asamblea Constituyente, la Asamblea Nacional, y el presidente Correa, como también de los textos publicados por Alianza PAIS [5] . 

En vista de que en estos años, además de observar la vida pública desde una perspectiva académica, ocasionalmente he criticado los excesos autoritarios del presidente Correa, en entrevistas de prensa, televisión y radio, y a través del foro cívico Cauce Democrático [6] , podría creerse que Dictaduras del siglo XXI. El caso ecuatoriano, ha sido escrito por el político opositor y no por el investigador de la realidad nacional con casi cincuenta años de ejercicio. Como lo señalé al introducir otros libros preparados en parecidas circunstancias (La victoria del No, 1986; La dictadura civil, 1988; Política democrática, 1990; Gobernabilidad y reforma constitucional, 1993; Una constitución para el futuro, 1998), espero que cuando los lectores volteen la última página consideren que tuvieron en sus manos un texto que, con objetividad, relató y analizó los hechos políticos ocurridos en el Ecuador entre 2007 y 2012. 

A los lectores podría llamarles la atención que se mencione más de una vez un mismo hecho político; la aparente redundancia se debe a que en cada capítulo el suceso es analizado desde una perspectiva diferente. 

Si bien el libro tiene una secuencia, que conviene seguir para tener una comprensión cabal de su contenido, la forma sistemática en que están presentados los temas permite que el lector comience su lectura por el capítulo que sea de su interés.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Nao existem intelectuais no Brasil: Milton Simon Pires

Capturado no blog do meu amigo Orlando Tambosi:


Blog Orlando Tambosi, 13/05/2013

Milton Simon Pires, de Porto Alegre, envia nova colaboração em que discorre sobre a ideia de intelectual - para ele, uma categoria inexistente no Brasil:

Recentemente, numa das aulas do curso de espanhol que venho fazendo (talvez como preparo para a chegada dos colegas médicos cubanos..rss), surgiu um acalorado debate entre a turma. Queria o nosso professor, natural da Andaluzia, saber se no Brasil os intelectuais são suficientemente valorizados na sua atividade profissional. Respondi, causando “verdadeiro horror” nos colegas brasileiros, que não sabia como abordar a questão pois acreditava (e continuo acreditando) que não existem intelectuais no país faz muito tempo. A reação da turma aumentou ainda mais: perguntaram como podia eu dizer algo assim. Fizeram questão de lembrar que temos Chico Buarque, Luís Fernando Veríssimo e tantos outros dignos de receber esta designação: intelectuais. Fiquei perplexo! A primeira pergunta que fiz  foi:  o que vocês entendem pelo termo intelectuais? Não houve um só colega capaz de fazer a distinção correta entre ser um verdadeiro intelectual e alguém com “cultura geral”. Pois bem, nessas rápidas linhas, vamos tentar falar um pouco sobre a diferença e, como dizem os açougueiros, vamos por partes.

Na Europa dos séculos XII e XIII o conceito de universidade não era nem de perto algo próximo da vida do cidadão comum. Lugares como Bolonha, Paris e Oxford (apenas para citar as três mais antigas instituições de ensino superior) estavam tão distantes da realidade de um europeu como a NASA está de um brasileiro hoje.  O que havia de comum nessas escolas não era o que ensinavam, mas sim o perfil cultural de quem entrava nela – gente e mais gente que vivia, como diria Carl Sagan, num mundo assombrado pelos demônios. Em outras palavras, não havia forma de cultura que pudesse escapar da visão religiosa da sociedade. Seria exagero dizer que os alunos todos entravam na universidade com uma visão semelhante a respeito da vida? Todos eles acreditavam em Deus e viviam aterrorizados pela perspectiva do pecado e de uma eternidade no inferno. Nesse sentido, cabia à Universidade receber um “monte de gente que pensava igual” e mandar para o mundo um “monte de gente pensando diferente”. Foi para isso que a chamada cultura superior se organizou nas universidades. 

Dessas instituições saíram pessoas como Paracelso, Nicolau Copérnico, São Tomás de Aquino e tantos outros que mudaram a História. Isso foi possível porque lhes foi oferecido um ambiente de trabalho e estudo onde puderam exercitar a razão livremente. Suas idéias eram revolucionárias pelo fato de não partirem de nenhum tipo de cosmovisão. A história jamais foi para esses homens um gigantesco mecanismo, complexo como um grande relógio, a ser desmontado e compreendido através de regras e leis imutáveis – duvido muito que Hegel tivesse lugar de professor nos primórdios da universidade. É nessa, e absolutamente somente nessa hipótese, que pode alguém se tornar verdadeiramente um intelectual.

Quando afirmei aos meus colegas de curso que não existem intelectuais brasileiros há muito tempo, era isso que eu queria dizer. Era à morte de um pensamento brasileiro verdadeiramente original que eu estava me referindo. Isso aconteceu no país  em função da apropriação total da razão livre por um partido político. Afirmo (peremptoriamente, como gosta de dizer um certo governador gaúcho) não haver espaço para produção acadêmica dentro da universidade brasileira nas áreas de história, filosofia e ciência política, para aqueles que não têm uma interpretação marxista da realidade. Filiados ou não a essa organização criminosa chamada Partido dos Trabalhadores, os estudantes até podem buscar lugares como a UFRGS, USP ou UNICAMP com idéias diferentes, mas todos, ou a grande maioria, vão sair de lá lá pensando quase sempre a mesma coisa – Deus não existe, liberar as drogas pode ser algo bom, a Terra está aquecendo, viva o casamento gay e as ONGS, e por aí vai.

Em texto anterior em que citei The Closing of American Mind e Tenured Radicals eu expliquei como esse trabalho se deu de forma metódica e constante a partir da década de 1960. Seu resultado pode ser visto hoje numa sociedade em que ser intelectual é ter escrito alguma letra de samba durante a ditadura militar ou ter uma coluna na Revista Playboy. É essa  nação que jamais ouviu falar em Gilberto Freire, não tem a mínima ideia de quem sejam Otto Maria Carpeaux, Mário Ferreira dos Santos ou Olavo de Carvalho que acredita que Paulo Coelho é tão importante quanto Machado de Assis ou que Caetano Veloso tem a dimensão de Heitor Villa Lobos.

Pobre país que perdeu a única referência importante que deve ter quando busca a verdade – a honestidade dos seus intelectuais. Sem ela ainda vamos fazer grandes Copas do Mundo, vamos continuar com mulheres maravilhosas e grandes carnavais encantando o resto do planeta como eternos imbecis. 

terça-feira, 12 de março de 2013

Miseria do debate no Brasil atual: O. Tambosi, O. Carvalho

Abaixo, dois artigos, de um dos intelectuais mais atacados no Brasil, Olavo de Carvalho, um atual, outro de quase 15 anos atrás, tratando do mesmo problema fundamental no Brasil que se pretende inteligente (mas que alimenta dúvidas sobre a solidez desse estatuto): neles uma mesma reclamação de Olavo de Carvalho em função da falta de um debate verdadeiro entre correntes filosóficas e políticas opostas, dada a "hegemonia" -- uma palavra que os gramscianos usam no sentido pejorativo, quando se referem ao capital, mas que adoram, quando se trata de sua dominação cultural -- sobre os chamados "aparelhos ideológicos do Estado", como diriam os pobres althusserianos. Eles reclamam que tudo está dominado pelo capital monopolista, pela grande mídia (sempre perversa, sempre golpista, sempre capitalista, claro), quando na verdade são eles que dominam as universidades e os principais veículos de comunicação, impedindo qualquer debate realista e racional: funcionam à base de slogans, invectivas, condenações, mas raramente com base em argumentos ponderados.
Agradeço a meu colega e amigo de lutas pela inteligência Orlando Tambosi  por me chamar a atenção para esses textos e por introduzir o artigo atual, com palavras tão certeiras.
Faça minhas as palavras de ambos, quando à miséria dos "intelequituais" gramscianos, incapazes de sair de sua camisa de força mental para debater abertamente.
Paulo Roberto de Almeida 


Orlando Tambosi, 12/03/2013

Agradeço ao filósofo e jornalista Olavo de Carvalho ter lembrado de meu livro sobre a decadência do marxismo, lançado em 1999, e corroboro o que ele diz: ideias que contrariam o marxismo, no Brasil, são sistematicamente ignoradas, dentro ou fora da academia. Nas universidades, em geral, pensar contra a corrente (como dizia Berlin) vale a condenação ao ostracismo, não isento de manifestações de hostilidade. Danke, caro Olavo, ainda que eu não mereça a ilustre companhia de Gilberto Freyre, Paulo Mercadante, José Guilherme Merquior e todo o elenco que você cita. 

Surrupio na íntegra o artigo "O plano e o fato", publicado ontem [11/03/2013] no Diário do Comércio, de São Paulo. E, atenção, detratores, podem me chamar de direitista, reacionário, positivista, liberal etc. A defesa das liberdades, no Brasil lulista, constitui um verdadeiro atrator de adjetivos por parte dos esquerdistas, que supõem ter chegado ao fim da história com o falastrão de Garanhuns. Chegaram, na verdade, ao pensamento único, que  imputavam ao tal de "neoliberalismo". Resumindo: mataram o pensamento e a crítica. [OT]

O plano e o fato
Olavo de Carvalho 
Diário do Comércio, 11/03/2013

O caso do Dicionário Crítico, que lembrei no artigo "Devotos de um vigarista", é somente  a figura mais extrema, caricatural e grotesca que o fenômeno assume no Terceiro Mundo, mas ignorar o pensamento do adversário e tampar os ouvidos às objeções são hábitos gerais e infalíveis da intelectualidade esquerdista em toda parte.

Em Thinkers of the New Left (1985), onde examina os principais expoentes de uma escola de pensamento que ainda é a mais influente na esquerda hoje em dia, Roger Scruton observa que nenhum deles jamais deu o menor sinal de querer responder às críticas feitas à teoria marxista por Max Weber, Werner Sombart, F. W. Maitland, Raymond Aron, W. H. Mattlock, Böhm-Bawerk, Popper, Hayek ou von Mises.

Poderia acrescentar Eric Voegelin, Cornelio Fabro, Rosenstock-Huessy, Norman Cohn, Dietrich von Hildebrand, Alain Besançon e uma infinidade de outros autores merecidamente tidos também como clássicos.

No Brasil você não verá nenhum marxista discutindo as objeções de Gilberto Freyre, Mário Ferreira dos Santos, J. O. de Meira Penna, Paulo Mercadante, Antonio Paim, Orlando Tambosi, Ricardo Velez Rodriguez, Gustavo Corção, João Camilo de Oliveira Torres, José Guilherme Merquior. 

O marxismo universitário vive e prospera de ignorar a cultura universal das ideéias e sonegá-la aos estudantes. Ao mesmo tempo, infunde neles a impressão sedutora e enganosa de que, por terem lido os autores aprovados pelo Partido, são muito cultos.
Trata-se da forma mais extrema e radical da incultura organizada, da ignorância obrigatória, da burrice prepotente e intolerante.

Enquanto os anticomunistas de todos os matizes não cessam de analisar e refutar o marxismo, escrevendo milhares de livros a respeito, os marxistas fogem sistematicamente ao debate. 

Quando não se contentam em baixar sobre os  adversários a mais pesada cortina de silêncio, dedicam-se a difamá-los pelas costas, inventando a respeito as histórias mais escabrosas, tratando-os como criminosos, colocando-os em “listas de inimigos” e cumprindo à risca a regra de Lênin: não discutir com o contestador, mas destrui-lo politicamente, socialmente e, se possível, fisicamente.

Que maior prova se poderia exigir de que essas pessoas, que se atribuem o monopólio de todas as virtudes, são as mais perversas, malignas e desprezíveis que já infestaram a profissão intelectual?

A ascensão da escória marxista ao primeiro plano da vida nacional foi e é a causa principal ou única da destruição da cultura superior e do sistema educacional no Brasil.

Com ares de escândalo e indignação, a Folha noticia a descoberta de um plano do governo militar, concebido pelo ministro Alfredo Buzaid nos anos 70, para refrear a infiltração comunista nas universidades e órgãos de mídia. O plano não foi levado a efeito, tanto que a era dos militares foi o período de maior prosperidade da indústria do livro esquerdista no Brasil e a época da conquista da mídia pelos comunistas. Mas o jornal do sr. Frias não perdoa nem a simples ideia. Que horror, que coisa mais tirânica, mais nazista, pensar em impedir o acesso dos comunistas a todas as cátedras, a todas as páginas de jornais, a todos os megafones!

O que o sr. Frias e seus empregados fingem ignorar é que aquilo que a ditadura quis fazer e não fez é exatamente o que os comunistas já fizeram e que já está em plena vigência neste País, com uma amplitude e uma rigidez que ultrapassa tudo o que os militares pudessem ter sonhado em matéria de controle hegemônico dos canais de comunicação e ensino. As gerações mais novas,  que não conheceram o Brasil dos anos 50-60, já nasceram dentro dessa atmosfera, que lhes parece normal, e não notam a diferença. 

Mas um simples detalhe basta para mostrar o que aconteceu: o ponto de vista cristão-conservador, que era oficialmente o do Estadão, do Globo e parcialmente da própria Folha naquela época, está totalmente excluído, proibido e criminalizado em toda a mídia.

Os editoriais escritos pelos srs. Roberto Marinho e Júlio de Mesquita Filho jamais poderiam ser publicados, hoje, nos próprios jornais que esses homens fundaram, onde o máximo que se permite, num espacinho minoritário, é um pouco de liberalismo chocho e inofensivo, quando não a pura crítica de esquerda a algum desmando ou patifaria mais vistosa do governo petista. Se até essa oposição mole e parcial é hoje abertamente condenada como “extremismo de direita”, é notório que a medida geral de aferição mudou, e quem a mudou foi a própria mídia. E se jornais e canais de TV dão alguma cobertura à Sra. Yoani Sanchez, é precisamente porque esta é anticastrista sem ser anticomunista e suas críticas ao governo cubano são brandas e autocensuradas em comparação com as de outros dissidentes, que contam a história inteira. Estes jamais aparecerão no Globo ou na Folha. E alguém é capaz de imaginar, hoje em dia, uma novela da Globo defendendo os valores cristãos que eram tão caros ao sr. Roberto Marinho?

Por que uma simples intenção não realizada do governo militar deveria ser considerada mais repugnante e assustadora do que o fato consumado, a mesmíssima intenção realizada em muito maior escala pela esquerda triunfante e dominadora, senhora absoluta das páginas da própria Folha? A simples redação dessa mesma notícia já não revela a inversão de critérios, imposta como norma universal e inquestionável que só loucos e extremistas ousariam contestar? O sr. Frias não sabe ler o seu próprio jornal? Não enxerga que ele mesmo foi, em pessoa, um dos artífices do plano do ministro Buzaid realizado com signo oposto?

P. S.: Olavo já fizera referência ao meu livro (hoje esgotado na editora) ainda em 1999, em artigo publicado no Jornal da Tarde.


Abaixo, o artigo citado:


Olavo de Carvalho
Jornal da Tarde, 9 de dezembro de 1999

O motivo pelo qual não há nem pode haver debate filosófico neste país já se tornou claro: um grupo de ativistas sem escrúpulos apropriou-se dos meios de difusão cultural para fazer deles o trampolim de suas ambições políticas, fechando os canais por onde pudessem fazer-se ouvir as vozes adversárias e impondo a todo o País a farsa gramsciana da “hegemonia”.
A palavra mesma, que tanto veneram fingindo ser termo claro e unívoco, já traz a letal ambigüidade das grandes mentiras. Designa, no sentido intelectual, a amplidão do horizonte de uma visão do mundo que abarca as concorrentes sem ser por elas abarcada. Hegel, por exemplo, é hegemônico sobre todos os marxismos, que quanto mais buscam superá-lo mais se enredam, como viu Lucio Coletti, nos compromissos metafísicos do hegelianismo, e jurando pô-lo de cabeça para baixo só conseguem é plantar bananeira eles próprios (v. o excelente estudo de Orlando Tambosi, O Declínio do Marxismo e a Herança Hegeliana , Florianópolis, UFSC, 1999).
A máfia gramsciana, quando chama Gramsci de hegemônico, deseja induzir-nos a crer que ele o é nesse sentido. Mas ela sabe que não é, pois um breve exame das filosofias do século 20 mostra que nelas há mundos e mundos inabarcáveis e invisíveis aos olhos desse pobre sapo filosófico, espírito escravo que, fingindo-se de livre e universal, tudo comprime e reduz às dimensões mesquinhas do seu poço escuro e proclama que o céu é apenas um buraquinho no teto. Gramsci nunca foi um filósofo, foi apenas um sistematizador de truques sórdidos para falsificar o saber e torná-lo instrumento de poder nas mãos do Partido.
Se o gramscismo fosse hegemônico no sentido intelectual, ele se imporia pela força das suas demonstrações, como se impuseram por exemplo as filosofias de Aristóteles e de Leibniz. Mas estes nunca precisaram ter a seu serviço um exército de “ocupadores de espaço”, semeadores do silêncio forçado onde germine a falsa glória do monólogo restante. Quando, na Idade Média, um aristotélico desejava vencer um adversário, não pensava em tomar-lhe o emprego, em encobrir seu discurso sob a gritaria uníssona de uma ralé de militantes pagos. Chamava-o para o debate em campo aberto, mesmo quando isso importasse, como importou para Santo Alberto, em atrair a ira dos poderosos. Para derrotar os empiristas, Leibniz não tratou de boicotá-los na distribuição das verbas de pesquisa, de omitir seu nome das publicações culturais, de monopolizar contra eles o apoio milionário dos senhores da mídia. Simplesmente escreveu um livro fulminante em forma de debate com o príncipe deles, John Locke, ainda que ao preço de ver-se exposto à chalaça grosseira de filósofos de salão.
Os escolásticos e Leibniz desconheciam a hegemonia no sentido gramsciano, e se a conhecessem não veriam nela senão a criação doentia de uma mentalidade torpe.
Para ilustrar do que se trata, nada mais elucidativo do que a conduta recente de uma tal dona Marilena, que, denunciada por mim como praticante do característico estilo elíptico-mistificatório de raciocínio gramsciano, ficou caladinha ante o público da cidade onde mora, mas foi dizer lá longe, lá em Goiás, que não me conhece nem leu, mas que, segundo informação confiabilíssima obtida de fonte anônima, sou indiscutivelmente “um pulha”. O jornalista José Maria e Silva, do jornal Opção de Goiânia, já deu a essa criatura a resposta devida, e cito o caso apenas como amostra dos métodos gramscianos de conquista da hegemonia: jogo de poder, manobra soturna para frustrar o debate, boicotar o adversário e vencer por uma impressão postiça de unanimidade espontânea.
Quando essa gente trombeteia que uma edição completa de Gramsci vai “renovar o pensamento nacional”, o que anuncia é nada menos que a “renovação por estrangulamento”. Pois que estrangulem o quanto queiram. Eu, da minha parte, lhes digo o que vou fazer: vou furar o bloqueio, por meio do JT e de quantos outros respiradouros ainda restem na imprensa nacional. A cada novo volume de escritos do anãozinho maluco que vocês publicarem, vou responder com argumentos que demonstrarão a sua total vacuidade filosófica e a índole brutal de sua doutrina fingidamente humanóide. Vocês, como sempre, vão ficar rosnando pelos cantos e tramando maldades. E vão falar mal de mim bem longe de Goiás, pois já viram que goiano não é idiota.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Cacete nao e' santo, mas costuma fazer milagres...

Autoridade é algo que se deve exercer, já que existe para isso mesmo. 
No Brasil, desde 2003, a autoridade deixou de ser exercida contra aqueles que desrespeitam a lei, destroem o patrimônio público, invadem propriedades privadas, danificam produção, enfim, agem criminosamente.
Volto a repetir: cacete não é santo, mas faz milagres.
Um bom cacete nos baderneiros e cadeia em seus líderes deveria diminuir o problema.
Paulo Roberto de Almeida 


Orlando Tambosi

Editorial do Estadão foi ao ponto, analisando as violentas ações dos bandoleiros do MST e assemelhados. Seus líderes já deveriam ter sido processados judicialmente há muito tempo (por onde andará o "comandante" João Pedro Stédile, o Pol Pot brasileiro?). Misturando Che, Fidel e Mao, esses movimentos tentam o impossível: fazer com que o Brasil regrida ao tempo da enxada. O Brasil de 2013 não é o Brasil de 1940.

Enfraquecido politicamente, pois não conta mais com a conivência e a tolerância ilimitadas do governo do PT, com um discurso ideológico cada vez mais vazio, mas mantendo algum grau de organização e, sobretudo, conservando seu aparentemente inesgotável vigor para praticar crimes, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) conseguiu realizar seu maior protesto contra o governo Dilma. Nos últimos dias, seus militantes, apoiados por organizações com características e objetivos assemelhados aos seus, invadiram fazendas, destruíram viveiros, sabotaram plantações, impediram o fluxo do tráfego em rodovias, depredaram patrimônio privado, invadiram prédios públicos, fizeram discursos, divulgaram documentos. Suas ações atingiram 22 Estados.

Tudo isso seria apenas mais uma repetição daquilo que o brasileiro responsável, cumpridor das obrigações e preocupado com seu futuro e do País cansou de ver no ambiente rural nos últimos anos se, desta vez, as manifestações desses grupos que agem cada vez mais à margem da lei não fossem particularmente patéticas. Além de agirem de maneira ilegal, sem que, na maior parte dos casos, sua ação fosse, como deveria ter sido, contida com energia pelas autoridades policiais - umas empurraram a competência para outras -, os organizadores fizeram discursos e distribuíram documentos que mostram seu afastamento cada vez maior da realidade.
Seu protesto, como ocorre há 15 anos, foi para lembrar o Dia Internacional da Mulher, e desta vez o alvo foi o agronegócio. Um dos principais atos do protesto foi a ocupação da Fazenda Aliança, no Tocantins, de propriedade da família da senadora Kátia Abreu (PSD-TO) - mulher e representante do agronegócio.
Cerca de 500 militantes ocuparam a propriedade, destruíram viveiros de mudas de eucalipto e mantiveram confinados trabalhadores e seguranças do local, que conseguiram evitar o conflito. "Eu, que sempre dormi sozinha na fazenda com meus filhos pequenos, sem nunca andar armada, agora não vou deixar meus filhos e meus funcionários correndo risco de vida", reagiu a senadora. "Imagine se resolvessem colocar fogo nas dezenas de máquinas que tenho lá."
Por cegueira ideológica, o MST e as demais organizações que o apoiam e os militantes desses movimentos não conseguiram até hoje entender a extraordinária transformação por que passou a atividade agrícola no País nos últimos anos. Ela alcançou níveis de eficiência e de competitividade que a colocam entre as mais desenvolvidas do mundo, o que permitiu ao País sobreviver sem grandes consequências aos efeitos das crises que conturbaram a economia mundial. Isso não afasta do meio rural os pequenos e médios produtores nem implica - como supõem o MST e seus militantes - o predomínio da monocultura. Há oportunidades para todos e espaço para as diversas culturas.
As desastrosas ações do MST no laboratório da Aracruz Celulose, em Barra do Ribeiro, no Rio Grande do Sul, em 2006, quando 2 mil mulheres destruíram anos de trabalho de pesquisa, revelaram uma das faces mais danosas para o País da violência dessas manifestações. Mas, por estreiteza política, o MST continua a recorrer à violência para, por meio dela, tentar defender suas bandeiras político-ideológicas, o que não consegue mais fazer com seu discurso. A cada ação desse tipo certamente corresponderá maior isolamento desses movimentos.
Parece que, felizmente, vai se transformando em mero registro histórico o gesto do ex-presidente Lula de colocar na cabeça o chapéu do MST, simbolizando seu apoio irrestrito à organização. A redução do número de assentamentos promovidos pelo Incra é consequência da mudança da política agrária no governo Dilma. Por entender que as distribuições de nada adiantam para o assentado e para o País se as terras não se transformarem em fonte de renda, o governo quer que os assentamentos sejam produtivos. Para isso vem dando apoio técnico e material aos assentados - e distribuindo cada vez menos terras.
A mudança pode ser fatal para o MST, cuja sobrevida depende justamente de aglutinar militantes com a promessa de distribuição de terra.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Um papa politicamente correto? - Orlando Tambosi

Tenho o prazer, e o orgulho, de repostar aqui um pequeno-grande texto de meu amigo, excelente intelectual, e colega blogueiro, lutador das boas causas da inteligência e contra a mediocridade acadêmica, Orlando Tambosi, sobre um tema no qual nenhum de nós dois pode ser considerado especialista, ou especialmente motivado para comentar: a renúncia do papa Bento 16, e a torcida de alguns por e para um papa "diferente" da próxima vez (seja lá o que isso queira dizer).
Tanto eu, como ele, somos de outro time, digamos racionalistas não religiosos, no meu caso um "irreligioso" consciente (mas não hostil às religiões, embora com restrições a algumas religiões). Ou seja, não temos necessariamente competência para a matéria, mas sabemos reconhecer o que é relevante no debate público.
Não acrescento nada de substantivo a essa questão, mas quero simplesmente dizer que concordo, integral e totalmente, com as palavras do Orlando Tambosi sobre o assunto.
Apenas e simplesmente isto. Grato, Orlando, pelo privilégio de ler algo inteligente, algo tão raro em nossos dias e em certos meios...
Paulo Roberto de Almeida

Querem um papa politicamente correto?
Orlando Tambosi
Blog do Tambosi, 13/02/2013

Como agnóstico, hesitei em falar sobre a renúncia do Papa Bento XVI. Renunciar é direito de qualquer pessoa que ocupe determinado cargo político e, sim, o papado é político também. Respeito a decisão do pontífice, quaisquer que sejam as razões. É ato elogiável de alguém que, considerado infalível, sabe e reconhece que somos todos falíveis e mortais. É ato católico também - fui criado, e bem criado, por pais e avós católicos, à maneira deles, em tempos mais difíceis do que hoje - e com eles aprendi muito. Meu ceticismo filosófico e científico não me impede de ver o mérito de todos eles.

O ex-frei Leonardo Boff deve estar alegre com a notícia. Quando ainda era cardeal de uma das congregações da Igreja Católica, o alemão Ratzinger determinou que o barbudo "teólogo da libertação" - marxista de orelha que hoje adula a juventude como escritor de auto-ajuda - fizesse "silêncio obsequioso", isto é, calasse a boca. Bocarra, aliás, que jamais hesitou em louvar as ditaduras latino-americanas, de Fidel ao chavismo.

Estes padrecos e ex-padrecos ideológicos estão felizes. Pensam que, enfim, pode vir por aí um papa politicamente correto, da América Latina ou da África. Se isto acontecer, a Igreja Católica jogará uma pá de cal sobre sua história, nem sempre honrosa, mas exemplo de diálogo, ainda que difícil, com a filosofia e as tradições milenares do mundo judaico-greco-romano. Apesar dos crimes cometidos por essas tradições, sua herança é o que temos de melhor.Ou alguém aí prefere o islamismo?

Quanto ao fato de o papa renunciante poder influenciar, como diz Reinaldo, a escolha de seu sucessor, tanto melhor. Mas não acredito que, diante do precário estado de saúde em que ele se encontra, essa influência seja significativa.

Melhor a matemática: ouvi ontem que cardeais italianos e norte-americanos  são as forças mais fortes do Conclave. Que não cedam à doutrina politicamente correta.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Esquerda e direita: uma discussao anacronica

Apenas uma pessoa obtusamente de "esquerda" -- entre aspas, pois o termo não se aplica, ele não significa nada -- consegue catalogar uma outra, que não tenha as suas posições, de "direita", o que é obviamente uma farsa.
No Brasil, ninguém que eu conheça -- talvez um ou outro apenas -- se classifica como sendo de direita. Reparem que seria normal, até esperado, que, existindo pessoas de "esquerda", outras, que pensam de maneira totalmente oposta, pudessem se classificar como sendo de "direita".
Não no Brasil, onde ser de direita passa por um pecado mortal, algo próximo de ser um doente de peste, contagioso, nocivo, pedófilo, assassino contumaz, enfim, as piores coisas que se possam imaginar.
Ninguém quer ser de direita no Brasil. E, no entanto, qualquer pesquisa de opinião, revelaria que a média da população está mais próxima de posições de "direita" -- com respeito à propriedade, à organização econômica, às liberdades individuais, à religião, etc. -- do que de posições supostamente de "esquerda", que seriam as próximas do socialismo, da propriedade coletiva ou estatal dos meios de produção, do ateismo militante, dos controles sobre bens, fluxos de capitais, movimento de pessoas, dos meios de comunicação, enfim, as conhecidas restrições à liberdade para garantir uma tal de "justiça social", "igualdade", direitos sociais e outras coisas do gênero. Já nem menciono a questão do partido único e do monopólio do poder por um grupo, pois a coisa é tão aberrante que nenhum militante de "esquerda" hoje em dia defende a ideia. Eles apenas acham que Cuba é obrigada a manter essas restrições por causa dos ataques do imperialismo, do embargo e outras bobagens.
O que eles fazem, em primeiro lugar é ofender a nossa inteligência.
Pois bem, já escrevi também algo a respeito, mas deixo vocês aqui com uma entrevista de Ferreira Gullar, que soube evoluir, com os fatos, com as evidências, o que outros indivíduos esclerosados não souberam fazer.
As perguntas devem ter sido pautadas por essa dicotomia entre esquerda e direita, daí a insistência do poeta na questão.
Posto aqui, graças ao meu amigo blogueiro Orlando Tambosi.
Paulo Roberto de Almeida

Ferreira Gullar: "Lula comprou os pobres do Brasil"
Blog do Tambosi, 26.10.2010

Longa entrevista com o poeta Ferreira Gullar no jornal Público, de Portugal. Ainda bem que nem todos os artistas estão cegos diante da realidade. A entrevistadora certamente é do Grotão lulista e, como quase todos os jornalistas reféns de ideologias retardatárias, apoia a bolivariana Dilma, confundindo democracia com socialismo (ainda presa, a coitada, à lenga-lenga "esquerda/direita") . Cito alguns trechos:

O escritor Ferreira Gullar vota José Serra. Vê Dilma como “uma marionete” e Lula como um “ignorante”, “mentiroso”, com “fome de poder”, que é “a vergonha do Brasil”.
(...)
Todo o mundo conhece o José Serra no Brasil. Ele tem quase 50 anos de vida pública, e nunca foi acusado de ser corrupto, safado, de se apropriar de dinheiro público, de entrar em falcatruas. Será que isso não é um crédito?
(...)
A Dilma de esquerda? Mas o PT não é de esquerda. É um partido corrupto. O PT de esquerda já acabou há muito.
O comunismo chegou ao fim. Nós todos, que participámos dessa aventura, somos obrigados a reconhecer isso. Cumpriu a sua tarefa, mudou o mundo, a relação de trabalho, as conquistas dos trabalhadores, tudo foi consequência de uma luta que começou com o Manifesto Comunista, de 1848. E esgotou a sua tarefa. Então se acabou a URSS, alguém sonha que vai fazer socialismo no Brasil? Só piada. Só o Hugo Chávez.
(...)
O PSDB se caracteriza por ser um partido pacífico. Não é que sejam santos. É que não é o estilo deles. No caso do PT, não. O PT é isto. Vem dos sindicatos, que são dominados por gangues. O Lula pertencia a um deles. São gangues, que ocupam as instituições, a máquina do Estado. A Petrobras hoje está infiltrada de gente do PT e dos sindicatos.
(...)
Eu tenho uma empresa. Porque o meu tio me disse que Maria é competente, sem ela nunca ter gerenciado nada, vou entregar a ela? Não entrego. Compreende? Essa é a situação. Não estou dizendo que o Serra é perfeito. O Serra tem mais que mostrar do que ela. Eu tenho mais confiança nele porque ele tem trabalho feito, e ela nenhum! A Maria da Conceição e o Chico Buarque só votam nessa coisa porque têm nostalgia da esquerda! Têm de abrir a cabeça para um mundo novo! O comunismo já era, acabou! Sem contar que foi uma besteira. O que é que é Cuba? Eu defendi Cuba, fiz poemas sobre Cuba. É um fracasso completo! Como podem defender uma sociedade em que as pessoas não têm o direito de sair de lá? Em troca de quê? Terá por acaso riqueza lá? Não. É miséria, subdesenvolvimento económico e falta de liberdade. Eu não vou defender isso, meu Deus. Quero ter o direito, se acho que o país é uma merda, de sair daqui na hora que eu quiser. Compro uma passagem e vou para Lisboa! Agora! Não tenho de pedir licença a ninguém! E o Chico e a Maria da Conceição defendem isso! Que moral têm essas pessoas para defender alguma coisa justa? Aí fica o Serra de direita? É de direita porque não concorda com isso. Ser de esquerda é o quê? Achar que as pessoas não têm o direito de sair do seu país quando quiserem? É isso que é ser de esquerda? Isso é uma besteirada. Tem de acabar com essa conversa. Eles têm medo de serem chamados de direita. Eu não tenho. Porque eu não sou. Tenho a certeza absoluta da minha entrega a uma luta a favor das pessoas, de uma sociedade melhor. Não tenho de dar explicação a ninguém. Mas o Chico tem medo de parecer que é de direita. Problema deles.
Quando é que o Serra foi de direita? Um cara que teve de ser exilado, que lutou contra a ditadura, que sempre defendeu posições a favor de uma sociedade mais justa, medidas a favor das pessoas mais pobres, e tomou medidas efectivamente. Quando o Serra conseguiu introduzir os genéricos, a minha mãe, estava em São Luís do Maranhão, doente. E sabe o que é que o PT espalhou? Que o genérico era falso, que era só farinha e terra, não era remédio. Eu mandava dinheiro para comprar remédio para minha mãe, e falei: “Comprem genérico.” E o meu irmão falou: “Ah, não, genérico é terra. O PT já nos explicou.” Isso é o PT . (Continua).

P.S. [Orlando Tambosi]: a propósito da dicotomia "esquerda/direita" - que aqui sempre grafei entre aspas -, chamo para um velho artigo meu: a democracia é o divisor de águas. À "direita" ou à "esquerda", só restam o autoritarismo ou, pior, e o totalitarismo. A realidade nos ensinou que não há alternativa ao mercado senão as ditaduras (e não falo no fim do Estado, não). Democracia é respeito às liberdades - todas!
(Gracias, CFE, sempre atento).

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Maniqueistas e maniqueismo: qualquer semelhanca...

Do blog de meu colega e amigo blogueiro Orlando Tambosi, a quem agradeço por mais esta trouvaille absolutamente pertinente para os tempos que correm:

Maniqueísmo renascido
Do sociólogo italiano Luciano Pellicani, em seu alentado estudo sobre La società dei giusti. Parabola storica dello gnosticismo rivoluzionario (Milão, Etas Libri, 1995):

No maniqueísmo - que é a forma mais elaborada e perfeita que o gnosticismo alcançou antes do advento do marxismo-leninismo - a superioridade intelectual e moral daqueles que possuem a verdade libertadora se traduz na organização de uma Igreja concebida, de maneira típica, como instrumento de salvação. Nesta, a centralização é levada ao extremo, tudo é ordenado de cima para baixo e se apóia na autoridade de um chefe espiritual que é superior à própria igreja e a domina completamente. Ele é o "mestre dos mestres", além de mestre dos simples ouvintes, e sua autoridade é francamente carismática, enquanto desenvolve a função de guardião sacerdotal da mensagem salvífica. Por consequência, a jurisdição de seu poder não tem limites. A Gnosis põe o "mestre dos mestres" fora e acima da moral comum e disso extrai a fonte única de todo valor e de todo juízo de valor.
(Gnosis: "tentação permanente do espírito humano, nascida do ardente desejo de possuir um saber capaz de resolver todos os enigmas do mundo e de indicar o método para por fim ao escândalo do mal").

Qualquer semelhança do seguidores de Maniqueu com as hordas lulistas/petistas, o comportamento de seu chefe e de sua "eleita" não é mera coincidência. Também não é coincidência a semelhança dos maniqueístas com aqueles que ainda dividem o mundo entre "esquerda" e "direita", "nós" e "eles", "amigos" e "inimigos".

Fonte: BLOG DO ORLANDO TAMBOSI 8/25/10 9:00 AM Orlando Tambosi o.tambosi@uol.com.br http://www.blogger.com/profile/14946018475927273129