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quarta-feira, 6 de julho de 2022

Os motivos que calaram o chanceler Carlos França sobre a PEC dos embaixadores - Malu Gaspar e Rafael Moraes Moura

 Diplomacia

Os motivos que calaram o chanceler Carlos França sobre a PEC dos embaixadores 

O chanceler Carlos França e o presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto

Por Malu Gaspar e Rafael Moraes Moura

Depois de uma manhã de embates no Senado sobre a proposta de emenda constitucional (PEC)  que permite a parlamentares serem embaixadores do Brasil no exterior sem abrir mão do próprio mandato, a pergunta que não quer calar em Brasília é: por que o chanceler Carlos França até agora não se manifestou publicamente sobre o assunto? 

Desde que a emenda assinada pelo senador Davi Alcolumbre (União Brasil - AP) começou a tramitar, em outubro passado, não se ouviu nenhuma palavra de França a respeito. 

A postura do ministro das Relações Exteriores  provoca estranhamento porque a emenda representa um duro golpe na histórica blindagem da carreira diplomática criada pela Constituição de 1988. 

Diplomatas dos mais diversos setores e graus hierárquicos estão em polvorosa contra a medida, que foi discutida hoje na Comissão de Constituição e Justiça  (CCJ) do Senado e deve ser votada na semana que vem.

Para eles, a emenda não apenas fere o princípio constitucional da separação de poderes, mas também pode provocar uma queda na eficiência e na qualidade do serviço diplomático e, por extensão, da nossa política externa. Na prática, abriria as portas do Itamaraty , que hoje é uma instituição de Estado, ao loteamento político. 

Mas embora França não comente o assunto em público, no seu entorno ninguém tem dúvidas sobre os motivos que o calaram. O mais importante foi a pressão do grupo de Alcolumbre, que fez chegar ao ministro um recado bem claro: se fizer oposição aberta e pública ao projeto, terá problemas quando sair do Itamaraty e for tentar uma vaga em uma embaixada. 

O chanceler já sinalizou a vários aliados no governo que gostaria de ser embaixador em Londres depois que este mandato presidencial terminar.

O segundo motivo é a orientação do próprio governo. O Palácio do Planalto é contra a PEC e já se manifestou a respeito em uma nota técnica, mas decidiu não entrar na disputa com Alcolumbre e o Centrão por causa da proposta e determinou a França que não crie marola. 

Alcolumbre voltou cheio de poder da geladeira política em que estava, após a derrota na tentativa de impedir André Mendonça de ser aprovado para uma vaga no Supremo – e, agora, quer compensações. 

Ele pretende ser candidato à presidência do Senado em 2023 e quer usar a PEC dos Embaixadores como bandeira de campanha.

O silêncio do obediente ministro Carlos França impressionou até mesmo a relatora da PEC, Daniella Ribeiro (PSD-PB), que já deu seu parecer favorável.  

Daniella disse que, até agora, só teve uma conversa de cerca de 5 minutos com o chanceler, no mês passado, em que ele quis saber mais detalhes da proposta – mas sem emitir juízo de valor ou apresentar qualquer argumento contra a iniciativa. Fez apenas perguntas genéricas.

"Sempre me mantive muito aberta ao diálogo. Por isso mesmo, aproveito para ressaltar meu estranhamento por parte do Ministério das Relações Exteriores e do nosso representante maior (Carlos França) pela falta de interesse em busca da discussão com essa relatora", disse a senadora durante a audiência pública realizada ontem – à que o chanceler faltou por estar na reunião do G-20, na Indonésia.

Hoje, em conversa com a equipe da coluna, ela reforçou a pressão. “Onde houve manifestação pública do ministro, que seria a voz em defesa dos diplomatas? Causa estranheza o silêncio do chanceler brasileiro. Mesmo a nota técnica da Casa Civil só apareceu após minha cobrança na audiência pública”, afirmou a senadora à equipe da coluna.

Depois da pressão de diplomatas e de políticos, o Ministério das Relações Exteriores emitiu uma nota pública contra a proposta bastante tímida e cheia de ressalvas. 

Na manifestação da Casa Civil enviada ao Senado, o ministério destaca que o Itamaraty também se manifestou internamente contrário à proposta. “A  chefia de missão diplomática tem natureza distinta daquela de ministro de Estado. A natureza do cargo de Embaixador recomenda distanciamento da política partidária”, alegou o Itamaraty.

A equipe da coluna enviou dez perguntas sobre a PEC ao chanceler brasileiro, mas o Itamaraty se limitou a informar que a nota à imprensa divulgada "reflete a posição" do chanceler.

quinta-feira, 25 de março de 2021

Chanceler acidental foi atropelado por um tanque, mas faz de conta que nada aconteceu - matérias de imprensa

 Ernesto Araújo é cobrado em reunião no Alvorada: ‘Itamaraty precisa funcionar’, diz Lira

Valor Econômico | 24/3/2021, 12h04

Sob pressão política crescente, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi cobrado de forma contundente na reunião realizada nesta quinta-feira, no Palácio do Alvorada, para definir a montagem de um comitê de crise contra a pandemia. Segundo apurou o Valor, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse ao chanceler que o Itamaraty “precisa funcionar”.

Lira se referia à tímida atuação da diplomacia brasileira na busca por vacinas pelo mundo. De acordo com participantes da reunião, Araújo foi chamado pelo primeiro nome em duas ocasiões, demonstrou um certo desconforto com a reprimenda e deixou o encontro pouco tempo depois. Ainda nesta quarta-feira, ele é aguardado em audiências virtuais na Câmara e no Senado, ontem também deve ouvir questionamentos.

A cobrança pública durante a reunião só reforçou a percepção de que Araújo está na linha de tiro. Como o titular da Saúde, Marcelo Queiroga, acabou de assumir, o do Itamaraty acabou sendo o principal alvo no encontro entre o presidente da República, Jair Bolsonaro, Lira, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, o presidente do Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, o procurador-geral da República, Augusto Aras, o ministro do TCU, Bruno Dantas, e sete governadores: Ratinho Junior (PR), Romeu Zema (MG), Claudio Castro (RJ), Ronaldo Caiado (GO), Renan Calheiros Filho (AL), Wilson Lima (AM) e Marcos Rocha (RO), além dos ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Fernando Azevedo (Defesa), Augusto Heleno (GSI) e José Levi (AGU).

Mais enfático da reunião, o presidente da Câmara disse que é preciso "correr uma maratona com a velocidade de uma prova de 100 metros". Lira pediu ao governo maior transparência com as informações sobre as vacinas e um levantamento diário sobre os estoques de imunizante e de Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA).

Ele afirmou que a Câmara irá votar um projeto de lei para permitir que o setor privado compre cerca de 2 mil leitos de UTI e que, para isso, haja abatimento no Imposto de Renda. Também falou em alteração da lei para que as empresas possam vacinas funcionários e familiares de funcionários.

Confirmado oficialmente no cargo ontem, Queiroga falou na criação de uma secretaria específica para tratar da covid-19. Também defendeu uma aproximação maior da pasta com as comunidades científicas e a ampliação da telemedicina.

Dantas, do TCU, pediu uma definição mais clara das metas e prazos do governo, objetivos mais claros e maior transparência na forma pela qual as políticas serão implementadas.

Fux sugeriu um controle prévio dos atos do comitê de crise, e o procurador-geral Aras defendeu maior centralidade nas decisões relativas à pandemia.

Os presentes receberam uma tabela com o cronograma atualizado para a entrega de vacinas. O documento aponta mais 38 milhões de doses até o final de março; 47,3 milhões até o final de abril e outras 47 milhões até o final de maio.

https://valor.globo.com/politica/noticia/2021/03/24/ernesto-arajo-cobrado-em-reunio-no-alvorada-itamaraty-precisa-funcionar-diz-lira.ghtml

Ernesto Araújo nega que vá sair do Itamaraty e afirma que relações com China vão muito bem

Yahoo Notícias | 24/3/2021, 16h02

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, negou, nesta quarta-feira, que vá deixar o cargo, ao participar de audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados. Araújo assegurou que as relações do Brasil com a China jamais foram abaladas pelos atritos que teve com o embaixador chinês em Brasília, Yang Wanming. Para o ministro, o diplomata asiático teve uma reação desproporcional, ao rebater declarações feitas pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP)em relação a Pequim.

— Em relação a declarações de ex-ministros e comentários de jornalistas, só queria citar, acho que li em algum lugar, que "o opróbio dos ímpios enaltece o homem tanto quanto o louvor dos justos". Quando quero ser bem informado, não leio o que diz a imprensa — afirmou, em referência às notícias de que crescem as pressões para que o presidente Jair Bolsonaro troque o comando do Itamaraty.

— A grande tradição do Itamaraty é saber renovar-se. Na minha interpretação e do presidente da República, era o momento de inovar o Itamaraty, de inovar a diplomacia brasileira. Isso que tentamos fazer e estamos obtendo resultados — completou.

Araújo disse que o Brasil mantém boas relações com os Estados Unidos, a Índia, a China e outros países. Cobrado pelos deputados da oposição que participaram da audiência pública, por causa dos problemas entre o Itamaraty e Yang Wanming, o ministro disse que, hoje, o embaixador chinês tem sido "bastante colaborativo".

Em duas ocasiões, em março e novembro do ano passado, o embaixador da China exigiu retratação do governo brasileiro, devido a declarações do filho do presidente. Na primeira vez, Eduardo Bolsonaro colocou em xeque a transparência de Pequim na divulgação de dados sobre a Covid-19. Em novembro, o filho do presidente insinuou que haveria espionagem no Brasil pelo Partido Comunista da China se o governo brasileiro permitisse a participação da empresa chinesa Huawei nos serviços de 5G de telefonia móvel. Ernesto Araújo reagiu duramente às respostas do embaixador.

— O embaixador da China reagiu de forma desproporcional. Retuitou [compartilhou no Twitter] uma reportagem ofendendo o presidente da República e sua família em março do ano passado. Em novembro, o embaixador falava em tom ameaçador. Hoje, temos uma relação melhor com a China do que qualquer outro país do mundo — afirmou, acrescentando que o embaixador se achou no direito de questionar a liberdade de expressão de personalidades brasileiras.

O chanceler leu um trecho de uma carta enviada a ele pelo chanceler chinês, Wang Yi, em resposta ao pedido de ajuda do governo brasileiro para que fossem liberadas mais rapidamente as exportações de insumos para a fabricação de vacinas para o Brasil. No documento, Wang Yi disse que as autoridades de seu país fariam o possível para ajudar o país.

Durante meses, em 2020, Bolsonaro criticou a China e a vacina do laboratório chinês Sinovac, que vem sendo produzida pelo Instituto Butantan e representa hoje a ampla maioria das doses aplicadas no país.

https://br.financas.yahoo.com/noticias/ernesto-ara%C3%BAjo-nega-que-v%C3%A1-190226814.html

Após 300 mil mortes, Araújo elogia trabalho de Pazuello: “Magnífico”

Ministro das Relações Exteriores participa de sessão no Senado Federal para discutir aquisição de vacinas contra a Covid-19

Metrópoles | 24/3/2021, 17h07

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, elogiou nesta quarta-feira (24/3), em sessão remota do Senado Federal, o trabalho do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello no combate à pandemia do novo coronavírus. “Trabalho magnífico”, resumiu o chanceler.

Ernesto Araújo iniciou sua fala ressaltando o “maravilhoso clima” da reunião entre o governo federal e demais poderes realizada na manhã desta quarta. No encontro, ficou definida a criação de um comitê nacional de enfrentamento à pandemia. “Maravilhoso clima que vivemos hoje nessa reunião desta manhã”, disse.

De acordo com o chanceler, os esforços do governo federal “permitem a vacinação da totalidade da população brasileira até o fim do ano”. “Já existe o planejamento, que é resultado de uma estratégia que começou a ser montada no ano passado. Ministro Eduardo Pazuello realizou trabalho magnífico na montagem dessa estratégia”, defendeu.

O ministro defendeu que o país já obteve, com governos estrangeiros, mais de 30 milhões de doses para aplicação, das quais 14 milhões de imunizantes já foram aplicados. Do total, são 25 milhões de unidades Covaxx e cinco milhões da AstraZeneca, conforme informado por Araújo.

“Desses cinco milhões, quatro chegaram de duas levas da Índia e um milhão foi produzido pela Fiocruz a partir do ingrediente farmacêutico ativo importado da China”, explicou o ministro, afirmando que o IFA importado será usado na produção de outras duas milhões de doses.

Ele negou que o processo de produção de imunizantes no Brasil sofra de retaliações externas e falta de insumos. “Nenhuma questão política está impedindo nenhum tipo de importação, seja de vacinas, seja de insumos”, enfatizou.

Chanceler pressionado

Na abertura da reunião de debates temáticos, o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), questionou a atuação da pasta chefiada por Araújo na aquisição de vacinas.

“O fornecimento das vacinas no Brasil está aquém do esperado. [A escassez de imunizantes] Nos colocou em situação de extrema vulnerabilidade”, disse.

Pacheco afirmou que a Casa estará disposta a participar de “todos os esforços no sentido de buscar soluções para o enfrentamento do difícil momento que o país apresenta”. Segundo o presidente, o país enfrenta cenário caótico e “de sofrimento”.

Pacheco também mandou um recado ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). “Presidente da República não pode se furtar a esta obrigação nacional republicana e constitucional de conduzir os destinos da nação de grave crise social, política, econômica e sobretudo humanitária.”

Na Câmara

Na Câmara dos Deputados, o chanceler afirmou, mais cedo, que conversa com os Estados Unidos para a aquisição de excedentes da vacina contra a Covid-19 e de “kit intubação”, sem dar detalhes sobre negociações ou eventuais prazos de recebimento. 

O movimento de Araújo ocorre após alguns atores brasileiros articularem com norte-americanos para adquirir imunizantes.

O presidente Joe Biden anunciou que doaria os excedentes após imunizar a população do país. “Há boa perspectiva de que tenhamos isso [insumos de intubação e máquinas de oxigênios] proximamente. Também há perspectiva de que tenhamos vacinas dos EUA, mas isso pode demorar por causa dos excedentes”, afirmou Araújo, durante reunião na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados.

Na última semana, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez aceno a Biden, em entrevista à CNN, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), enviou carta à vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, por excedentes de vacinas.

https://www.metropoles.com/brasil/politica-brasil/apos-300-mil-mortes-araujo-elogia-trabalho-de-pazuello-magnifico


quarta-feira, 24 de março de 2021

O patético chanceler acidental MASSACRADO no Senado, com razão: Ernesto: CAIA FORA! - Congresso cobra demissão imediata de Araújo - Daniel Rittner, Murillo Camarotto e Renan Truffi (Valor)

 Congresso cobra demissão imediata de Araújo

Em um depoimento de quase quatro horas, Araújo alternou momentos em que desafiou parlamentares com outros nos quais parecia acuado, gaguejando e com suor escorrendo pela testa
Por Daniel Rittner, Murillo Camarotto e Renan Truffi, Valor — Brasília, 24/03/2021
Mais de dez senadores -- de diferentes partidos -- cobraram duramente o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pela condução errática da política externa e elevaram a pressão por sua saída imediata do cargo. Em um depoimento de quase quatro horas, Araújo alternou momentos em que desafiou parlamentares com outros nos quais parecia acuado, gaguejando e com suor escorrendo pela testa.
"Com toda a humildade, faço um apelo: renuncie. O senhor não tem mais condições de continuar à frente do ministério", pediu o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). "Pode ser um excelente diplomata, mas não é o seu momento. Pelos brasileiros, renuncie a esse ministério".
Durante toda a audiência, Araújo foi questionado sobre sua postura em episódios como a demora em reconhecer a vitória eleitoral de Joe Biden nas eleições americanas, a invasão do Capitólio (na qual chamou manifestantes de "cidadãos de bem"), as rusgas públicas com o embaixador da China em Brasília, o uso do termo "comunavírus" e da expressão "pária internacional" para designar a forma como o Brasil deveria ser visto no mundo.
"O senhor realmente cursou o Instituto Rio Branco?", questionou o senador Fabiano Contarato (Rede-ES). Ele reclamou que faltavam sujeito, verbo e predicado na maioria das respostas de Araújo. "O senhor faria bem ao corpo diplomático brasileiro se deixasse o seu posto".
Em vários momentos, Araújo questionou as "fontes" que subsidiavam os questionamentos dos senadores e usou um tom desafiador. Em uma ocasião, ironizou: "Deixe eu tentar encontrar alguma pergunta objetiva aqui".
"Nós não somos 80 idiotas", retrucou Tasso. A senadora Daniella Ribeiro (PP-PB) queixou-se da "falta de respeito" e apontou confusão do chanceler em suas intervenções. "Não sei se o chanceler não entende ou se faz-se de desentendido. Provavelmente seja assim nas nossas relações exteriores", disse Daniella. Jorge Kajuru (Cidadania-GO) veio em seguida: "Saia do Ministério das Relações Exteriores!".
Pela manhã, durante a reunião convocada pelo presidente Jair Bolsonaro para a criação de um comitê de crise sobre a pandemia, Araújo ouviu uma reprimenda pública do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O parlamentar cobrou uma atuação mais incisiva da diplomacia brasileira para a busca de vacinas no exterior e chegou a dizer que “o Itamaraty precisa funcionar”.
Segundo autoridades que participaram dessa reunião, o chanceler demonstrou desconforto com as declarações de Lira, mas não respondeu. Saiu antes do término e seguiu para o Congresso, onde ouviu ataques e sugestões de demissão por horas a fio, especialmente no Senado Federal.
"Vossa Excelência é unanimidade em rejeição e incompetência nesta Casa", disse, em tom forte, a senadora Simone Tebet (MDB-MS). "Faço um desafio: peça exoneração por 30 dias. Veja se, com esse gesto, não conseguimos mais rapidamente as vacinas da Pfizer e [o excedente de vacinas] dos Estados Unidos. Com esse gesto, estaríamos nos redimindo perante a China e os americanos".
Simone atribuiu ao chanceler uma "guerra ideológica desnecessária" e a "a radicalização ao extremo de irmãos brasileiros que hoje não se sentam à mesma mesa". "Não é pessoal. O senhor não foi bom para o Brasil. Peça para sair e durma com a consciência tranquila", completou Mara Gabrilli (PSDB-SP).
O ambiente da sessão no Senado, que já era de cobrança, ficou ainda mais tenso com um episódio no meio do depoimento. O assessor internacional da Presidência da República, Filipe Martins, irritou senadores ao fazer um gesto considerado "obsceno" durante a audiência pública. O gesto com as mãos foi feito durante o discurso do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), num momento em que Filipe Martins aparecia ao fundo da transmissão, na TV Senado.
O líder da oposição na Casa, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), chamou atenção para o fato e pediu providências. "Eu estou acompanhando aqui a sessão quando, também pelas redes sociais, tenho conhecimento de que, durante a fala de Vossa Excelência, o senhor que estava localizado logo atrás, o Filipe Martins, que é analista político e assessor especial para Assuntos Internacionais do presidente Jair Bolsonaro, estava demonstrando gestos obscenos. No meu sentir, [foram] gestos obscenos", afirmou Randolfe.
O senador do Amapá sugeriu que Filipe Martins explicasse o movimento com as mãos. "Eu não sei qual o sentido do gesto do senhor Filipe. Era bom que ele explicasse, mas isso é inaceitável, presidente".
Araújo tentou se defender. "Nós não somos perfeitos, mas estamos convencidos de que estamos defendendo os interesses nacionais, estabelecidos pela Constituição. Eu tenho a certeza de que tenho feito tudo, absolutamente tudo, para ajudar o meu país. Tenho um amor profundo pelo povo brasileiro e não admito que ninguém questione", disse o ministro, emocionando-se e segurando lágrimas.
"Saia do Ministério das Relações Exteriores!", afirmou o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO).
Kátia Abreu (PP-TO), presidente da Comissão de Relações Exteriores, falou em uma condução "desastrosa" da política externa e lamentou o "tratamento descortês" dado ao diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, durante a pandemia.
Enquanto os senadores repudiavam a postura de Araújo, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição no Senado, pediu a palavra e repreendeu o assessor internacional da Presidência da República, Filipe Martins, que acompanha Araújo na audiência pública e estava sentado ao fundo da sala.
Em um vídeo que circulava entre os senadores, Martins foi flagrado fazendo gestos considerados obscenos enquanto o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), conduzia a sessão. Randolfe pediu retratação imediata do assessor presidencial ou sua condução imediata pela polícia legislativa para fora da Casa. "É um circo de horror que eu nunca vi", completou Rose de Freitas (MDB-ES).
Gaguejante e aparentemente nervoso, o chanceler repetiu sua tradicional cartilha, repudiando avaliações de que o Brasil foi subserviente aos Estados Unidos durante a gestão de Donald Trump e buscando ilustrar os esforços do governo em busca da viabilização da oferta de mais vacinas.
Em vários momentos, no entanto, ele questionou as "fontes" que subsidiavam os questionamentos e usou um tom desafiador. Em uma ocasião, ironizou: "Deixe eu tentar encontrar alguma pergunta objetiva aqui".
Araújo também se emocionou num trecho do depoimento. "Nós não somos perfeitos, mas estamos convencidos de que estamos defendendo os interesses nacionais, estabelecidos pela Constituição. Eu tenho a certeza de que tenho feito tudo, absolutamente tudo, para ajudar o meu país".
"Tenho um amor profundo pelo povo brasileiro e não admito que ninguém questione", ainda disse o ministro, segurando lágrimas.
Gestos obscenos
O gesto com as mãos foi feito pelo assessor Filipe Martins durante o discurso de Rodrigo Pacheco, num momento em que Filipe Martins aparecia ao fundo da transmissão, na TV Senado.
Logo após o ocorrido, Randolfe chamou atenção para o fato e pediu providências. "Eu estou acompanhando aqui a sessão quando, também pelas redes sociais, tenho conhecimento de que, durante a fala de vossa excelência, o senhor que estava localizado logo atrás, o Filipe Martins, que é analista político e assessor especial para Assuntos Internacionais do presidente Jair Bolsonaro, estava demonstrando gestos obscenos. No meu sentir, [foram] gestos obscenos", afirmou Randolfe.
O senador do Amapá sugeriu que Filipe Martins explicasse o movimento com as mãos. "Eu não sei qual o sentido do gesto do senhor Filipe. Era bom que ele explicasse, mas isso é inaceitável, presidente. Em uma sessão do Senado Federal, durante a fala do presidente do Senado, um senhor está procedendo com gestos obscenos, está ironizando o pronunciamento do presidente da nossa Casa. Isso é inaceitável, é intolerável", complementou.
Em resposta, Pacheco afirmou que iria pedir à Secretaria-Geral da Mesa e à Polícia Legislativa que identificassem o fato apontado, mas optou por dar seguimento aos trabalhos. "Não prejudicarei o andamento desta sessão do Senado Federal, porque é muito importante nós ouvirmos o ministro de Estado das Relações Exteriores, que aqui comparece para poder fazer os esclarecimentos necessários aos senadores", afirmou.
Filipe Martins é um dos principais integrantes da chamada ala "ideológica" do governo e foi promovido a assessor-chefe da Assessoria de Assuntos Internacionais da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos (Sae) da Presidência da República no ano passado. Ele é bem próximo dos filhos de Bolsonaro e um dos principais auxiliares do presidente, tendo acompanhado Bolsonaro em diversas de suas missões ao exterior.
O gesto feito pelo assessor durante a sessão lembra a representação de "OK". Segundo a BBC Brasil, esse sinal de mão ganhou nova conotação para grupos extremistas e, por isso, foi adicionado recentemente a uma lista de símbolos de ódio. O gesto com forma arredondada entre o indicador e o polegar, que também é um emoji popular, foi classificado como "uma verdadeira expressão da supremacia branca" pela Liga Antidifamação, organização dos Estados Unidos que monitora crimes de ódio. Os três dedos esticados simbolizam a letra "w" (em referência à white, do inglês para branco), enquanto o círculo formado significaria a letra "p" (power, do inglês para a palavra poder).

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Vingança do Senado contra chanceler acidental vitima embaixador aliado (FSP)

 Aliado de Ernesto é rejeitado para posto diplomático em Genebra após desavença com senadora

Folha.com | Mundo
15 de dezembro de 2020



Brasília  

Em derrota para o chanceler Ernesto Araújo, o Senado rejeitou a noite desta terça-feira (15) a indicação de um embaixador para um dos principais postos da diplomacia brasileira no mundo, a delegação junto à ONU (Organização das Nações Unidas), em Genebra.

Ministério das Relações Exteriores havia indicado para o posto diplomata Fabio Mendes Marzano, considerado próximo do chanceler.

A indicação foi rejeitada pelo plenário por 37 votos, contra 9 pela aprovação.


A rejeição se deu após uma desavença no dia anterior com a senadora Kátia Abreu (PSD-TO), durante sabatina na Comissão de Relações Exteriores.

Ministro de primeira classe da carreira diplomática, Marzano foi questionado pela senadora a respeito do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia e até que ponto a questão ambiental, por conta dos desmatamentos, iria afetar a negociação.

Marzano respondeu que o assunto não era da alçada dele, uma vez que estava sendo nomeado para um posto sem relação com o assunto.

"Na verdade, a delegação em Genebra não se ocupa de temas ambientais. Como eu comentei, o Conselho de Direitos Humanos é o principal organismo. As temáticas estão mais relacionadas com direitos humanos", disse.

"Se a senhora me permite, eu não estaria mandatado para opinar aqui sobre o acordo Mercosul-União Europeia. Tampouco é uma atribuição da minha secretaria atual no Itamaraty negociar esse acordo, disse o diplomata, com um leve sorriso, que indignou a senadora.

Kátia Abreu, no entanto, entendeu erroneamente que o embaixador havia dito que o assunto seria atribuição da sua atual secretaria e por isso continuou cobrando o diplomata.

"Ele hoje está ocupando um cargo no Itamaraty que diz respeito a esse assunto, então se nem dessa forma ele pode comentar alguma coisa, o Itamaratyestá virando uma casa de terrores onde os embaixadores não podem abrir a boca e dar suas opiniões. Eu sinto muito diante desse quadro, até o próximo vexame", disse a senadora, durante a sabatina.

Em seguida, Kátia Abreu pediu novamente um posicionamento do diplomata, que apenas respondeu com um aceno negativo com a cabeça.

Quando o assunto foi discutido nesta terça-feira, pelo plenário, o senador Major Olímpio (PSL-SP) fez um duro discurso contra Marzano, afirmando que ele havia desrespeitado o Senado.

"Ao ser sabatinado por uma das nossas senadoras, (...) esse senhor, de maneira grotesca, irresponsável, simplesmente disse que não era da sua alçada e não iria responder", afirmou. "Então, eu peço aos senadores, em nome da altivez do Senado, que não votem por essa indicação."

O senador sugeriu, então, que uma nova indicação ao posto em Genebra fosse feita no início do ano. "Vir aqui dizer o que foi dito, de forma grotesca, e isso sair barato! 'Ah, mas eu sou do time do chanceler'. Para o inferno o chanceler! Respeito ao Senado, respeito aos senadores! Vamos todos votar contra esse cidadão."

Marzano é secretário de Soberania do Ministério das Relações Exteriores, uma estrutura criada por Ernesto para tratar de temas como direitos humanos, ONU e Meio Ambiente e que concentra as pautas conservadoras encampadas pelo chanceler.

A rejeição de uma indicação de embaixadores é evento raro no processo legislativo. Uma das últimas ocasiões em que isso ocorreu se deu com Guilherme Patriota irmão do ex-chanceler Antonio Patriota.

Guilherme Patriota havia sido indicado na ocasião para a missão brasileira junto à OEA (Organização dos Estados Americanos).

Outro raro caso de indicação de embaixador que não prosperou ocorreu em 2013. O diplomata Marcel Fortuna Biato havia sido designado chefe da missão brasileira na Suécia, mas a então presidente Dilma Rousseff suspendeu a indicação.

A petista resolveu retirar o nome após a fuga para o Brasil do senador boliviano opositor Roger Pinto Molina, que havia ficado mais de um ano na embaixada brasileira em La Paz Fortuna chefiava o posto, mas estava de férias à época da fuga do senador.

Senado rejeita embaixador: chanceler acidental reprovado - Felipe Frazão (OESP)

Foi o repórter do Estadão quem me informou que o Senado havia rejeitado o excelente diplomata Fabio Marzano, ao que perguntei se era na Comissão ou no plenário. Minha expressão “Então está enterrado” se refere ao fato de que, sendo no plenário, não haveria mais volta atrás no assunto, não ao próprio diplomata, a quem reconheço como um dos melhores quadros do Itamaraty.

Lamento muito pelo meu amigo Fabio Marzano, a quem faltou tato em face da insistência da Senadora Katia Abreu, ao recusar-se a comentar um assunto que não era da sua competência, quando na verdade a senadora estava veiculando a insatisfação do agronegócio com as posições inaceitáveis dos ministros Araujo e Salles com respeito ao meio ambiente— na verdade submissos à postura DESTRUTIVA do presidente —, sendo que a senadora queria de fato extrair uma confissão indireta de que aquelas posições punham em risco o acordo Mercosul-UE (já é um fato). 

O embaixador Marzano quis proteger o seu chefe e pagou um alto preço por isso. Lamento por ele. Mas com esse gesto, o Senado demonstra que o agronegócio e os senadores em geral já rifaram o chanceler acidental.

Paulo Roberto de Almeida

politica.estadao.com.br

Ernesto Araújo experimenta 'inferno' no Senado

Política - Estadão

Felipe Frazão, 16/12/2020

BRASÍLIA - A derrubada do embaixador Fabio Mendes Marzano, indicado ao cargo de delegado permanente do Brasil nas Nações Unidas em Genebra, na Suíça, chega em má hora para o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. O revés joga ainda mais pressão sobre a permanência de Araújo no cargo. Ex-aliado do presidente Jair Bolsonaro, o líder do PSL, Major Olímpio (SP), conclamou os senadores a mandarem o chanceler "para o inferno". E foi atendido.

De 47 senadores na sessão desta terça-feira, 37 aderiram ao chamado contra o indicado do chanceler, vocalizado da tribuna, ao estilo estridente de Olímpio. Somente 9 votaram a favor de Marzano, homem de confiança de Araújo. Um se absteve. A votação é secreta, o que impede saber quem foi favorável ou contrário.

"Peço aos senadores, em nome da altivez do Senado, que não votem nessa indicação. Se o Senado votar com esse cara - é cara -, estamos negando nossa própria existência, o respeito a cada um de nós. Vamos votar contra, o Senado todo. Que se faça outra indicação no começo do ano. 'Ah, mas eu sou do time do chanceler'. Para o inferno o chanceler!" , bradou Olímpio.

Na véspera, Marzano se indispôs com a senadora Kátia Abreu (PP-TO). Ele se recusou a respondê-la, durante sabatina na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, passo prévio à votação no plenário. Kátia queria ouvir as impressões do embaixador sobre a tese corrente entre diplomatas e ruralistas brasileiros: a de que o desmatamento na Amazônia é usado como pretexto pelo agro estrangeiro para barrar o Acordo Mercosul-União Europeia.

Marzano alegou que o tema não era de sua alçada. Kátia protestou. Ela é ex-ministra da Agricultura e ex-presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), a quem o tema preocupa. A senadora disse que o Itamaraty virou uma "casa de terrores" e que os diplomatas não podem mais opinar. Os demais senadores tomaram a negativa como sinal de desprezo aos congressistas. "Colocamos nossa posição, não de arrogância, de poder pelo poder, mas de quem respeita o parlamento", disse a senadora Kátia Abreu (PP-TO), após a reprovação de Marzano, que considerou uma forma de "proteger" o País nas relações internacionais. "Nós sabemos o que estamos fazendo."

O discurso corporativista do Congresso pode servir como biombo. A rejeição de um indicado diplomático é fato raro e costuma indicar problemas na articulação política do governo - isso às vésperas das eleições internas na Câmara e no Senado. Na sessão de ontem, o senador Cid Gomes (PDT-CE) dizia que queria votar logo a indicação daquele embaixador de Genebra "para ir aquecendo". Há meses, senadores de trajetórias tão díspares quanto Renan Calheiros (MDB-AL) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) falavam na necessidade de "enquadrar" a política externa e "reposicionar" o Itamaraty. 

Ernesto Araújo sofre cobranças internas no governo e externas. Dois grupos fazem lobby por sua demissão: o agronegócio e os militares. Ambos, por sinal, pilares eleitorais de Bolsonaro. A seu favor, o chanceler conta o apoio da ala ideológica do governo, da militância virtual e do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o filho do presidente que mais interfere na política externa.

O revés no Senado ocorreu horas depois de o Itamaraty e o Planalto serem compelidos a reconhecer publicamente a derrota do aliado Donald Trump, nos Estados Unidos. O republicano tornou-se um dos poucos incumbentes não-reeleitos na Casa Branca. Bolsonaro relutava em parabenizar o democrata Joe Biden como presidente eleito. Mas o fez após o colégio eleitoral confirmar Biden por ampla margem - 306 a 232 votos. O democrata tem uma agenda contrária à de Bolsonaro e já anunciou que irá pressionar o Planalto na política ambiental.

Esse é outro fator a pesar contra Ernesto Araújo. O chanceler tem contatos nos Estados Unidos, onde serviu antes de chegar ao comando do ministério. Ele foi diretor do antigo Departamento de EUA, Canadá e Assuntos Interamericanos do Itamaraty. Saberia como abrir caminhos para construir uma relação com os democratas, mas a principal referência dele em Washington é de ser um "trumpista".

Foi ele quem, em 2017, escreveu na revista de artigos do Itamaraty um texto enaltecendo Trump como espécie de "líder" e "salvador" do Ocidente. Foi ele quem, neste ano, durante a pandemia do novo coronavírus, emulou críticas da militância trumpista e bolsonarista à China, num texto com o título "Chegou o Comunavírus". Foi ele quem, em 22 de abril, numa reunião ministerial cujo vídeo viria a público, falou mal do país comunista que controlava boa parte da produção de medicamentos e equipamentos de saúde, além de ter sido o primeiro a registrar a covid-19 - o trecho foi suprimido por causa da sensibilidade a assuntos de Estado.

Incomodado com críticas, Araújo recomendou ao Brasil que assumisse de vez o título de "pária internacional". Sob seu comando, o governo abandonou a promessa de campanha de uma "diplomacia sem ideologia". Numa guinada conservadora, Araújo deu palanque a blogueiros bolsonaristas, afastou o Brasil de do histórico de intermediador moderado nos fóruns internacionais e perdeu prestígio na arena ambiental, agenda que ele despreza com o termo "climatismo". Nas discussões sobre direitos humanos, elevou "Deus" e o cristianismo ao topo das prioridades.

O chanceler nunca teve amplo apoio no Congresso, mas costumava ter certa consideração de parte dos congressistas governistas porque sempre comparecia para se explicar a cada crise diplomática. Agora, sofreu seu pior revés.

A queda de Trump e as rusgas com a China deterioraram as condições políticas para sua permanência. O agronegócio brasileiro depende das importações por parte da China, maior parceiro comercial do País e principal destino da soja, o que preocupa diplomatas e empresários. Ernesto, por duas vezes, repreendeu o embaixador da China, Yang Wanming, e na prática defendeu Eduardo Bolsonaro, em bate-bocas virtuais que constrangeram o meio diplomático em Brasília. A China já ameaçou retaliações.

Além disso, o governo dá sinais de que cargos ministeriais estão em jogo. O Planalto negocia apoios para eleger um presidente da Câmara amigável como sucessor de Rodrigo Maia (DEM-RJ), costumeiro crítico de Araújo. 

Só Dilma e Geisel tiveram indicações diplomáticas rejeitadas

O governo Bolsonaro passa à história como um dos poucos a ter uma indicação diplomática rejeitada no Senado. Houve outros dois casos. Em 2015, num sinal de fragilidade  política da presidente Dilma Rousseff, o Senado derrubou o embaixador Guilherme Patriota, então indicado para a Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington. O placar, porém, foi apertado: 38 contra e 37 a favor. Em 1984, o general Ernesto Geisel também sofreu revés: o ex-ministro de Minas e Energia e ex-presidente da Pretrobrás Shigeaki Ueki foi rejeitado para Bruxelas, onde representaria o País perante a então Comunidade Económica Europeia, precursora da União Europeia. Diplomatas lembram ainda que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) retirou outros nomes ainda durante a tramitação, ao perceber que seria derrotado.

O Senado tem por costume chancelar quase automaticamente as indicações diplomáticas feitas pelo governo. Poucos parlamentares dedicam-se a temas de política externa e conhecem de perto os diplomatas. A interpretação deles é que, se as normas forem seguidas, a escolha de embaixador deve ser pessoal do presidente da vez, a quem costuma ser garantida essa liberdade. As sabatinas, geralmente, são protocolares.

Uma exceção foi o anúncio de que pretendia nomear o próprio filho Eduardo embaixador em Washington. O Planalto passou semanas verificando o termômetro para a aprovação e decidiu recuar.

Agora, não percebeu a insatisfação com os rumos da política externa. O caso foi considerado uma reviravolta. Isso porque passou pela comissão com 13 votos favoráveis e nenhum contrário. Só Kátia Abreu discursou contra, mas como já havia votado a favor, não conseguiu voltar atrás.

A derrota surpreendeu o governo e o Itamaraty em geral. Diplomatas em cargos de chefia lamentaram que Marzano tenha sido sacrificado. 

Não foi uma rejeição qualquer. Marzano é um quadro respeitado no Itamaraty, tido como bom colega, cordial e com bagagem intelectual. Engenheiro graduado no Instituto Militar de Engenharia (IME), uma das escolas de maior prestígio do País, ingressou no Instituto Rio Branco em 1989, em segundo lugar no concurso. Teve quatro promoções "por merecimento" na carreira, a última delas na gestão de Ernesto Araújo, quando chegou ao cargo de embaixador. 

Ocupa desde o início do governo o cargo de secretário de Assuntos de Soberania Nacional e Cidadania. No organograma, é uma espécie de terceiro escalão do Itamaraty. Acima dele, só o secretário-geral das Relações Exteriores, Otávio Brandelli, e o próprio ministro Ernesto Araújo.

No papel, o escopo de sua secretaria é amplo. Abaixo dele, estão os departamentos de Segurança e Justiça, Defesa, Meio Ambiente, Consular, Nações Unidas, entre outros. 

Foi também colocado pelo chanceler como chefe da Comissão de Ética do Ministério das Relações Exteriores. É, portanto, um nome da confiança do chanceler e tido entre os colegas como bastante católico. Em Genebra, atuaria principalmente nos debates sobre Direitos Humanos e já havia demonstrado facilidade em encampar o discurso pró-liberdade religiosa, como fez, num aperitivo, no ano passado ao visitar Budapeste, capital da Hungria. É um dos poucos países cujo líder Viktor Orbán, também de direita, remanesce como aliado de Bolsonaro.

Agora, o Itamaraty deverá fazer nova indicação. Questionado na noite de ontem, o ministério não comentou a derrota, nem quem será o substituto. 

Consultado pela reportagem minutos depois da derrubada de Marzano, o embaixador Paulo Roberto de Almeida, desafeto de Araújo, quis saber se ele perdera na comissão ou em definitivo no plenário. Informado de que a derrota fora imposta pelo plenário, reagiu assim: "Então está enterrado". Referia-se, claro, ao embaixador Marzano e não ao ministro, embora não seja segredo que anseie pelo fim da trajetória de Araújo como "chanceler acidental", como chama pejorativamente.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

A humilhacao do Senado - Merval Pereira


Merval Pereira
O Globo, 17/05/2013

É possível entender tudo de mau que a aprovação da MP dos Portos trouxe para o equilíbrio institucional do país analisando-se os verdadeiros malabarismos, verbais e regimentais, que foram necessários para que a decisão saísse em tempo hábil, antes que a medida provisória perdesse seu efeito.
A começar pelos diversos acordos quebrados, o principal deles a promessa feita pelo então presidente do Senado, José Sarney, e referendada pelas lideranças partidárias, entre elas, o senador Renan Calheiros, que hoje preside aquela Casa.
Sarney prometeu aos senadores que nunca mais eles teriam que se submeter a votações de afogadilho e firmou um compromisso de que no mínimo duas sessões (ou dois dias, sem atropelos) seriam necessárias para que uma medida provisória fosse analisada no Senado. Já seria um exagero, pois, pela lei, o Senado tem pelo menos 42 dias para analisar uma medida provisória. Isso nunca acontece, mas, votar a toque de caixa como aconteceu ontem, nunca havia sido visto.
O acordo ocorreu porque os senadores estavam se sentindo humilhados pela tramitação das medidas provisórias, pois em muitos casos, como no de ontem, eles têm que abrir mão de sua função de Casa revisora para aceitar sem modificações o texto aprovado pela Câmara.
Caso alguma modificação fosse feita na MP dos Portos, por exemplo, a tramitação começaria novamente na Câmara, e o prazo do governo expiraria.
No último dia 8, governo e oposição concordaram em abrir uma exceção ao acordo. Havia uma medida provisória que concedia novos benefícios para os agraciados com o programa Bolsa Família.
Todos os líderes concordaram que o assunto merecia um tratamento especial, mesmo porque não há partido político no mundo que aceitaria ser responsabilizado por ter impedido a distribuição de benesses apenas por questões regimentais.
Oito dias depois dessa exceção, lá vem o presidente do Senado, Renan Calheiros, pedir mais uma exceção, desta vez para a MP dos Portos, que tramita há tempos na Câmara e que o governo deixou para a última hora a decisão de negociação.
Pela lei, texto aprovado pela Câmara teria de ser encaminhado ao Senado com todo o processo, inclusive os pontos rejeitados pela Câmara.
Quando aprovaram simbolicamente o texto que chegara pela manhã, os senadores não sabiam do que se tratava, a não ser pelas notícias dos jornais e pelos comentários de colegas.
O líder do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira, recusou-se a votar alegando que não conhecia o texto aprovado: “Eu não estou aqui para aprovar o que não conheço. E creio que a maioria dos senadores também não”.
O líder do PSOL constrangeu seus companheiros perguntando coisas tão simples como: “Alguém sabe me dizer, agora, o que esta medida provisória ainda guarda do seu texto original, na Câmara dos Deputados? Alguém aqui, em sã consciência, sabe me dizer desta medida provisória, aprovada, na Câmara dos Deputados, às oito horas desta manhã, o que contém e se o que contém é pelo menos fiel ao texto original encaminhado pela presidente da República?”
O senador Rodrigues disse que o que estava em jogo era a credibilidade do Senado, que não pode ser obrigado pelo Executivo a aprovar qualquer coisa em qualquer tempo, apenas porque o interesse do governo assim o determina.
O líder do DEM, senador José Agripino Maia, concordou e foi fundo na dúvida sobre a MP dos Portos: “(...) Nós estamos sendo levados, ou compelidos, ou obrigados por uma força sobrenatural a votar a coisa que é a salvação da pátria: a MP dos Portos.”
Nem é a salvação da pátria, ressaltou Maia, destacando que o governo não sabia o que queria, pois aceitou emendas que no dia anterior acusara de “imorais”.
O governo mostrou para que serve uma maioria esmagadora no Congresso: para desmoralizá-lo ainda mais, colocando-o como poder subjugado pelo Executivo.
Depois dessa batalha inglória do Congresso, vou descansar um pouco. Volto a escrever a coluna no dia 4 de junho.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Senado brasileiro: necessitando fechar para reformas...

Uma petição necessária
Normalmente não sou de seguir correntes, colocar meu nome em abaixo-assinados, endossar petições, participar de movimentos em prol-disso ou daquilo, ou seja, não sou normalmente levado a aderir a qualquer empreendimento coletivo, mesmo aqueles com os quais estou filosoficamente, politicamente ou até conceitualmente de acordo, tendo em vista meu comprometimento fundamental com os princípios do livre-arbítrio e minha postura radicalmente favorável a um individualismo anarco-libertário.
Raramente o fiz, em minha vida, e raramente vou fazer no que me resta dela. Nunca vou aderir a um partido político, por exemplo, pois isso me retiraria, ipso facto, ou pelo menos me limitaria tremendamente, o direito de criticá-lo, rebatê-lo e até de me opor a suas inicitiavas e tomadas de posição que eu julgasse contrárias não ao meu posicionamento individual, mas ao interesse nacional, tal como eu o concebo (como fruto de estudos, reflexões e detida análise dos problemas brasileiros).
Um dos grandes problemas brasileiros, eu até diria ENORMES problemas, talvez o MAIOR de todos, é a corrupção de sua classe política, sem mencionar sua incompetência, mediocridade, total descompasso com as necessidades do país e de seu sistema econômico (razoavelmente moderno, ou pelo menos tentativamente aggiornato, em relação à modernidade do mundo).
O Brasil, costumo repetir, não é um país tão atrasado materialmente, quanto ele é atrasado mentalmente, e esse atraso mental se reflete sobretudo em suas universidades, mas principalmente no corpo político, legislativo e executivo (e muitas vezes também no judiciário, que ademais de vários problemas de marajanato, costuma ser autista, arrogante e pretendidamente autossuficiente).
Mas volto ao problema principal. Sendo radicalmente democrata, penso que um corpo político representativo, eficiente, inteligente, é absolutamente necessário para o encaminhamento de TODAS as demais reformas de que o Brasil necessita, embora eu não acredite que ele, mesmo renovado, vá fazê-las todas, pelo menos na dimensão e profundidade de que o Brasil precisa (na área educacional, por exemplo, que precisaria passar por uma verdadeira revolução, enterrando tudo o que está ai e começando com algo que seja minimamente aceitável).
Entendo, portanto, que precisariamos começar pelo corpo político, que deveria ser minimamente respeitável para poder empreender pelo menos parte das reformas importantes.
Resumo e termino: apenas por isto, decidi juntar-me a centenas de milhares de outros brasileiros e assinar este manifesto-petição, que pode até não resultar em nada, mas que pelo menos serve para medir nossa recusa, expressar nossa indignação, deixar claro nosso protesto e nossa absoluta rejeição do espetáculo lamentável a que assistimos atualmente em nosso Congresso, a começar pelo Senado.
Apenas por isto, mas fundamentalmente por isso, junto-me aos mais de 1 milhão e trezentos mil brasileiros (ver no contador do site) que já assinaram esse manifesto.
Quero deixar claro meu agradecimento ao amigo intelectual e colega blogueiro, batalhador como eu das boas causas educacionais, opositor, como eu, da mediocridade imperante hoje na academia, Orlando Tambosi, e que colocou em seu blog o post abaixo transcrito, e que aproveito integralmente para consumar minha adesão aos assinantes e para incitar outros a fazê-lo.
Estou absolutamente seguro de que ultrapassaremos facilmente a marca de 1,5 milhão de assinaturas, mas não vejo isso como ato consumado e tarefa feita. Estou também quase 100% seguro de que, dessa iniciativa, nada vai resultar: que o Congresso, em primeiro lugar, o STF ou qualquer outro corpo, em segundo ou terceiro lugares, vão ignorar solenemente a petição, e que os bandidos encastelados nas duas casas do poder legislativo (em minúsculas e se possível com ponto 1,5, de medíocre) vão ali continuar até o final de seus respectivos mandatos, e provavelmente mais além, em cargos executivos em seus estados.
Não importa, fica aqui consignado minha rejeição a esse estado de coisas e meu apoio a esta causa coletiva que reputo importante, a despeito de relativamente ingênua (a começar pelo conceito de impeachment).
Concito meus leitores a fazê-lo, e a disseminar o apelo, mesmo conscientes da possível inutilidade do gesto. Vale a tomada de princípio para cada um de nos. Estamos conscientes de que fizemos o possível para melhorar um pouquinho, só um pouquinho esse país corrupto que é atualmente o Brasil, não pela sua população, mas pela sua classe política.
Paulo Roberto de Almeida
Aqui: https://secure.avaaz.org/po/petition/Impeachment_do_Presidente_do_Senado_Renan_Calheiros/?aAZGUab

Addendum em 11/02/2913:
Uau! Nós ultrapassamos nossa meta! Vamos agora chegar a 1,6 milhão antes do fim do Carnaval -- o dobro do número de pessoas que votaram em Renan para Senador. Compartilhe agora!

Mais de um milhão já assinaram pedido de impeachment de Renan
Blog do Orlando Tambosi
No jornal O Globo:

Um abaixo-assinado alcançou, nesta sexta-feira, 1 milhão de assinaturas a favor do impeachment de Renan Calheiros (PMDB-AL) da presidência do Senado.
A petição, que está disponível na web, foi publicada há apenas oito dias pelo internauta Emiliano Magalhães. Outra já havia sido criada pela ONG Rio de Paz e pelo Movimento 31 de julho, organizações que combatem a corrupção. Os manifestantes pediam, antes das eleições para a presidência do Senado, que os parlamentares não elegessem o senador, que pode ser réu por peculato e outros crimes no Supremo Tribunal Federal (STF).
O novo abaixo-assinado tem o objetivo de alcançar o apoio de 1,3 milhão de pessoas a favor da deposição do senador.
“Vamos conseguir 1.360.000 assinaturas (1% do eleitorado nacional), levar esta petição para o Congresso e exigir que os Senadores escutem a voz do povo que os elegeu. Segundo nossa Contituição. ‘A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles’”, diz o texto.
Em sua página no Facebook, o autor do abaixo-assinado, morador de Ribeirão Preto (SP), ressalta que não é filiado a nenhum partido, e escreve:
“Meu nome é Emiliano, sou Representante Comercial, e atualmente o Senado não me representa.”

Assine aqui.

No momento em que assino, o site computa 1,328,798 assinaturas, mas dezenas estão entrando ao mesmo tempo. Vai ser um sucesso de assinaturas, resta ver o que vai ocorrer depois...
Paulo Roberto de Almeida