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domingo, 2 de junho de 2013

Economia deixa companheiros nervosos, a ponto de "chicotear" ministroscompanheiros...

Pois é, os resultados decepcionantes com crescimento e inflação deixaram os companheiros tão preocupados, que eles agora ameaçam chicotear os seus próprios companheiros em busca de resultados menos piores.
Eles ainda não se convenceram que é justamente a sua mania de querer fazer tudo pelo Estado, com o Estado, para o Estado que está errada. Querem mais: estão reinventando a teoria do Barão de Munchausen: sair do pântano puxando pelos próprios cabelos. Não vai dar certo, mas a gente se diverte, descontando, é claro, a desgraça econômica.
Paulo Roberto de Almeida

Governo se apoia nas concessões para tentar reverter frustração com o PIB

Infraestrutura. Está previsto uma concentração de licitações em setembro e outubro, com a mobilização de investimentos de R$ 489 bilhões; Planalto avalia que sucesso da campanha pela reeleição da presidente Dilma agora depende da economia

Pressionado pelo decepcionante Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, o governo Dilma deixou de lado a estratégia de crescer pelo consumo, uma estratégia que se esgotou, e luta agora para devolver a tarefa aos investimentos. Com isso, a ordem é não mais admitir atrasos no programa de concessões, que deveria ter começado em dezembro e, numa estimativa otimista, terá início em setembro.
Responsáveis pelos principais planos de investimento do governo, o presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo, e a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, vão enfrentar pressão adicional por resultados. Nas palavras de um auxiliar da presidente Dilma Rousseff, os dois serão "chicoteados" para acelerar a execução dos programas. As concessões já anunciadas mobilizarão investimentos de R$ 489 bilhões.
O Palácio do Planalto avalia que o sucesso da campanha pela reeleição de Dilma, em 2014, depende agora da economia. Tudo será feito para que o "pibinho" seja vitaminado e impulsione o crescimento. Além disso, o Planalto busca uma tática para evitar que o problema da inflação contamine as expectativas dos eleitores.
Pesquisas em poder do governo e do PT indicam que a alta do custo de vida está na memória da população e pode influenciar o voto. Não sem motivo o senador Aécio Neves (MG), possível candidato do PSDB à Presidência, adotou o combate à inflação como mote de sua campanha. "País rico é país sem inflação", diz o slogan da propaganda tucana, ironizando o "País rico é país sem pobreza", marca do governo Dilma.
Quando soube que o PIB do primeiro trimestre atingira apenas 0,6%, Dilma ficou furiosa. Apesar de saber que a recuperação seria lenta, ela se surpreendeu com o pífio desempenho da economia e engrossou as cobranças ao ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Ajustes. Para sair da armadilha do baixo crescimento com inflação alta, Dilma quer acelerar os investimentos. Não é simples. As concessões poderão sofrer novos atrasos ou, como diz Bernardo Figueiredo, "ajustes necessários" por causa do Tribunal de Contas da União (TCU).
É preciso, ainda, convencer o setor privado a investir. O governo tem falhado nessa tarefa. Além disso, surge outra dificuldade: um verdadeiro "congestionamento" de leilões em setembro e outubro.
Depois de divulgar vários pacotes de estímulo, a ordem do Planalto, agora, é tirar do papel o que já foi lançado. Há, porém, duas novidades no forno. Na terça-feira, Dilma anunciará um ambicioso plano de financiamento da safra agrícola, de aproximadamente R$ 140 bilhões. Mais: também pretende divulgar, no dia 18, o novo Código de Mineração, com um projeto de lei a ser enviado ao Congresso.
Apesar da alta da Selic, o PT pretende ancorar a campanha de Dilma, no ano que vem, em um tripé de apelo popular, "traduzido" como "energia/comida/juros". Os petistas estão confiantes na queda dos juros no segundo semestre.
Diante desse diagnóstico, se tudo correr como prevê o script, cortes de impostos, dos juros e redução da conta de luz vão embalar a campanha de Dilma. A estratégia é mostrar que a desoneração da cesta básica e a redução do preço da energia, por exemplo, fazem parte de um pacote para distribuir a renda e transformar o Brasil em um país de classe média
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terça-feira, 30 de abril de 2013

Debt and growth - Editorial Wall Street Journal

Debt and Growth
Editorial The Wall Street Journal
April 29, 2013

Perhaps you've read that America's debt burden is no longer a problem. Former White House economist Larry Summers says the U.S. should borrow even more money today because interest rates are low, and his Keynesian brethren are busy trying to discredit economists Kenneth Rogoff and Carmen Reinhart for their famous claim that a country's economic growth begins to fall when debt hits 90% of GDP. Time for Stimulus 5.0!
The Reinhart-Rogoff duo have admitted a math error while defending their core argument, though we've never considered their 90% figure to be dogma. Their main contribution was to remind politicians amid the post-crisis Keynesian spending blowout that public debt isn't a free lunch. It has to be repaid, which means a country must either spend less, tax more, grow faster, repudiate the debt or inflate it away.
The Keynesians are attacking Reinhart-Rogoff with such vitriol now precisely so they can rev up the spending engines once again. In their economic model, more government spending equals more GDP. So governments must keep spending more no matter what they spend it on.

This isn't how these columns, or the classical economic models we follow, think about debt and growth. In our model, every dollar of government spending has to come from somewhere, which means it is either taxed or borrowed from the private economy. Thus the crucial issue isn't merely the level of debt, though at some point that can become a problem. The important matter is what that additional debt is buying.
The nearby chart shows U.S. federal debt held by the public as a share of GDP since the beginning of World War II. Debt soared to well above 100% of GDP during the war, but few thought defeating Hitler and Tojo was a bad investment. Once victory was attained, the debt ratio fell rapidly along with government spending. Private growth resumed despite Keynesian predictions of doom at the time as government spending fell, and debt as a share of GDP continued its gradual decline.
The next big debt burst came in the 1980s, as the Reagan Administration sought to break both the Soviets abroad and stagflation at home. The cure was a tax cut plus more defense spending, which in the short term led to higher deficits. Even then the peak Reagan deficit was only 6% of GDP in 1983, compared to President Obama's first term deficit average of 8.7%.
The key point is that those deficits were buying faster growth and defense goods such as aircraft carriers that would win the Cold War. As rapid economic growth returned, deficits and debt both declined. And when the Soviets surrendered, the Clinton Administration was able to cut (too rapidly) defense spending to 3% of GDP in 2000 from 4.8% in 1992. Modest deficits returned as President Bush cut taxes and boosted defense spending after 9/11. But debt as a share of GDP was still only 40.5% of GDP as recently as the first recession year of 2008.
Contrast that experience with where we are today. President Obama's stimulus spree and the mediocre recovery have doubled the debt to an estimated 76.6% of GDP this year. This is despite a record tax increase in January. The Administration now says the debt to GDP ratio will peak in 2014 at 78.2%, but that will be true only if spending growth slows and economic growth is more rapid.
One reason to be more worried about debt now is what we're borrowing to finance. Spending on wars eventually ends. But today most spending by far goes to social welfare payments and entitlements that are difficult to reduce. Those payments are only going to increase as the baby boomers retire, and as ObamaCare takes effect.
These income transfers spread the wealth but they do nothing to increase the growth of the economy. To the extent that they are financed by higher taxes, they retard growth by taking money that would be invested more productively in the private economy.
Mr. Summers says governments should borrow more now at near-zero interest rates to invest in future growth. But this is what we were told in 2009-2010, when Mr. Summers was in the White House, and the $830 billion stimulus was used to finance not primarily roads or bridges but more unionized teachers, higher transfer payments, and green-energy projects that have since failed. Why will it be different this time?
Another reason to reduce debt today is to create some breathing room if we have another recession or an emergency such as a war. At least going into the 2008 financial panic, the U.S. had room to borrow. The Obama era has blown out the U.S. balance sheet, and it will take many years to restore it to that pre-crisis level.
***
Where we agree with at least some Keynesians is that the main policy goal now should be faster economic growth rather than rapid debt reduction. Where we disagree is how to promote that growth. The Keynesians are now using a false choice between "austerity" and growth to justify more of the government spending they think drives economic prosperity. The brawl over Reinhart-Rogoff is thus less a serious economic debate than it is a political exercise to turn more of the private economy over to government hands.
After five years of trying, we should know this doesn't work. The real way to promote a stronger economy is more austerity and reform in government, and fewer restraints on private investment and risk taking.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A pobreza do combate 'a pobreza - editorial do Estadao

O governo, a república dos companheiros, os keynesianos de botequim privilegiam, indisfarçavelmente, a distribuição, mesmo ao custo da eficiência.
O que temos tido, desde o início da era gloriosa do nunca antes, foi o aumento da redistribuição via Estado (e não via mercado), com sua contrapartida de aumento da carga tributária para todos, inclusive para os mais pobres, mas sobretudo para os empresários e a classe média, que se beneficiaram menos do que os mais pobres. Tudo isso é muito bonito, mas o sistema perde eficiência, dai o debate sobre a desindustrialização e a perda de competitividade da economia brasileira como um todo.
Pois é, se quiserem mais distributivismo estatal, o resultado vai ser a mediocridade de crescimento e a baixa prosperidade relativa no médio e longo prazo.
Seria isto que todos os brasileiros desejam?
Pode até ser, mas eu acho que estadistas responsáveis precisariam ter consciência de que estão levando o país para um impasse, no médo e no longo prazo.
Ou seja, vamos ficar mais pobres do que a média do mundo dinâmico...
Aliás, o segundo editorial do Estadão, transcrito in fine, confirma isso.
Tem gente que acha que isso não tem importância, que o mais importante é a diminuição da desigualdade. Eu não acho, e até acho que as pessoas estão equivocadas.
A desigualdade não está sendo diminuida pelas "bolsas" do governo. O que estão fazendo, simplesmente, é subsidiar o consumo dos pobres, o que pode até ser considerado justo, meritório, positivo, etc. Não conseguem perceber que ao se retirar esse subsídio, as pessoas voltam para o mesmo patamar de pobreza e de desigualdade estrutural.
Ou o Brasil pretende manter indefinidamente um terço da população na assistência pública?
Paulo Roberto de Almeida

A miséria que não acaba

21 de fevereiro de 2013 | 2h 03

Editorial O Estado de S.Paulo
Em 2010, o então presidente Lula tinha a levar aos palanques da sua candidata à sucessão, Dilma Rousseff, um alentado embornal de realizações na área social, combinadas com a elevação das taxas de crescimento - graças, sobretudo, ao ciclo de prosperidade global que antecedeu o colapso financeiro de 2008. No seu governo, o Brasil ficou mais rico e os brasileiros, em geral, também, apesar da persistência de índices humilhantes de desigualdade. Milhões puderam emergir dos estratos inferiores de renda a que pareciam confinados. Mais importante do que isso, quem sabe, os seus lugares foram ocupados por outros tantos que até então mal conseguiam manter a cabeça acima da linha que separa a pobreza da indigência.
Sob o governo Dilma, os níveis de emprego e renda ainda se sustêm, garantindo à sua titular índices lulistas de popularidade. Mas, na campanha reeleitoral do próximo ano, ela não terá a ostentar o "pibão" de seus sonhos. A expansão da economia nacional no atual período não só ficará aquém da registrada na quadra precedente, como ainda será inferior à da média dos países com os quais o Brasil é comparável.
Em consequência, a propaganda dilmista deverá se amparar nas proezas do seu criador, tratando de amalgamar o seu mandato aos oito anos de Lula. O estratagema é necessário, porém insuficiente para rebater as críticas dos opositores - não ao desempenho do criador, mas ao da criatura. Ciente disso, ela procurou um feito para chamar de seu - e acaba de apresentá-lo numa operação de marketing que, demagogicamente, exacerba o que é bom e esconde tudo o mais.
Trata-se do espetáculo com que a presidente celebrou em palácio, na terça-feira, a conclusão do resgate de 22 milhões de brasileiros da pobreza extrema, mediante a elevação do mínimo mensal per capita pago às famílias inscritas no Bolsa-Família. A partir de março, esse valor terá de superar R$ 70, instituído em 2009 como indicador oficial da miséria no País. O reajuste beneficiará 2,5 milhões de assistidos - segundo Dilma, "os últimos dos brasileiros extremamente pobres, inscritos no cadastro do Bolsa-Família, a transpor a linha da miséria". Outros já haviam sido alcançados pelo plano Brasil sem Miséria, lançado em junho de 2011, que aumentou em 45% o dispêndio com os 36 milhões cadastrados no programa federal de transferência de renda e estendeu de três para cinco o número de filhos passíveis de ser incluídos. Em maio do ano passado, o Brasil Carinhoso estipulou um complemento para as famílias com crianças de até 6 anos - teto depois ampliado para 15 anos.
A nova medida proclamada anteontem, sob o slogan "O fim da miséria é só um começo", criado pelo marqueteiro do Planalto, João Santana, custará ao erário cerca de R$ 773 milhões por ano, aumentando para perto de R$ 8,7 bilhões o orçamento do Bolsa-Família. "Fim da miséria", em termos, porém. Conquanto o programa seja um êxito reconhecido em todo o mundo, por sua abrangência, sistema de recebimento do benefício e baixos índices de desvio, o fato é que continuam fora de seu alcance 700 mil famílias miseráveis dispersas pelo País. Decerto esse contingente diminuirá com o tempo. Mas o que se mantém inatacado em ampla escala - e sem sinal de mudança no horizonte - é a miserável qualidade de vida das populações "bolsistas". Elas comem melhor, vestem-se melhor e têm mais bens domésticos do que antes. O dinheiro dos auxílios anima a economia dos respectivos municípios.
Mas nada disso supre as carências de que padecem, omitidas nos festejos reeleitorais da presidente. Um dado resume a esqualidez do ambiente típico onde vivem os assistidos: segundo números recentes do IBGE, 21,9 milhões de crianças de até 14 anos - 48,5% da população nessa faixa de idade - não têm acesso a serviços básicos de saneamento. Delas, 4,8 milhões correm sério risco de contrair doenças. Mesmo onde não falta água, o esgoto é inadequado ou nenhum, a coleta de lixo é precária ou inexistente, a escola é ruim. E, como sempre, a infraestrutura melhora menos onde mais precisaria melhorar. "A transferência de renda", comenta o economista Cláudio Dedecca, da Unicamp, "é a parte mais fácil do combate à pobreza."
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Cenário de estagnação

21 de fevereiro de 2013 | 2h 03
Editorial O Estado de S.Paulo
 
A economia brasileira continuará travada em 2013, crescerá pouco mais que 3% no ano e menos que 7% no primeiro triênio da presidente Dilma Rousseff, segundo projeções captadas na semana passada pela pesquisa Focus, do Banco Central (BC). Se as estimativas estiverem certas, o Brasil se manterá como o menos dinâmico dos Brics e um dos menos ágeis entre os países em desenvolvimento. As previsões talvez melhorem nos próximos meses, mas os dados conhecidos até agora confirmam o desempenho muito fraco em 2012 e são pouco animadores em relação às perspectivas de curto prazo.
A informação mais recente é o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-BR), publicado mensalmente. Para os analistas, esse dado serve como antecipação, embora imperfeita, do PIB calculado a cada trimestre pelo IBGE. Aquele indicador cresceu 0,26% de novembro para dezembro, descontados os fatores sazonais, e acumulou no ano uma expansão de 1,35%.
Este número é maior que as estimativas de aumento do PIB, quase todas em torno de 1%, mas, apesar disso, também é muito ruim. Informações mais detalhadas e mais completas sobre a economia brasileira só serão publicadas dentro de algum tempo pelo IBGE, mas dificilmente surgirá um quadro muito diferente daquele conhecido até agora e confirmado, de modo geral, pelo índice mais recente do BC. O IBGE divulga todo mês levantamentos nacionais da produção industrial e das vendas do comércio varejista, além de informações sobre o emprego.
Os últimos dados, referentes a dezembro, confirmaram, de modo geral, o cenário observado ao longo do ano. O emprego se manteve elevado e a massa de rendimentos à disposição das famílias continuou maior que a de um ano antes. Essa condição, somada à expansão do crédito e aos estímulos fiscais ao consumo, permitiu a expansão do comércio. O volume das vendas do varejo restrito (sem veículos, peças e materiais de construção) diminuiu 0,5% de novembro para dezembro, mas acumulou no ano um crescimento de 8,4%. No caso do varejo ampliado, as vendas de 2012 foram 8% maiores que as do ano anterior. Os resultados do emprego e do consumo privado contrastaram fortemente, no entanto, com os da produção industrial.
Segundo o IBGE, a indústria ficou estável de novembro para dezembro e acumulou em 12 meses uma redução de 2,7% em relação ao período anterior. No resultado global de 2012 houve queda em todas as grandes categorias de bens industriais, até porque uma parte relevante do consumo foi suprida por mercadorias importadas. Mas o dado mais preocupante quando se tenta avaliar a perspectiva de expansão econômica é o recuo da fabricação de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos destinados à reposição e à ampliação da capacidade produtiva e, em geral, à modernização tecnológica. Em dezembro, a produção desses bens foi 0,8% menor que no mês anterior e 14,7% inferior à de igual mês de 2011. A redução acumulada no ano chegou a 11,8%. A importação de máquinas e equipamentos foi obviamente insuficiente para compensar a retração das compras de bens de capital nacionais.
A queda do investimento limita fortemente a capacidade de crescimento do País. A expansão do PIB poderá ser um pouco maior a curto prazo, mas o impulso logo se esgotará, por falta de capacidade produtiva. Se o consumo privado e o custeio do governo continuarem aumentando, haverá um aumento das pressões inflacionárias, combinado, provavelmente, com uma piora das contas externas.
Uma sondagem do clima econômico da América Latina, realizada em janeiro, mostrou melhora na avaliação das condições imediatas em 5 dos 11 países cobertos. Em relação às perspectivas, a avaliação melhorou em 7. Nas duas listas, o Brasil aparece do lado da piora. Apesar disso, o índice de expectativas dos especialistas brasileiros entrevistados ficou em 7,2, acima da média de 10 anos (6). Esse otimismo pode ajudar. Difícil mesmo é explicá-lo, diante dos dados - especialmente dos investimentos - conhecidos até agora.

O pouco ufanismo dos numeros de crescimento - Samuel Pessoa

Folha de S.Paulo, 21/10/2012 - 03h00

Baixo crescimento do Brasil

Samuel Pessoa
Recentemente o FMI divulgou a atualização do relatório do panorama da economia mundial com a revisão (para pior) da taxa de crescimento para as principais economias em 2012.
Fomos informados de que o FMI espera que o crescimento econômico mundial real, isto é, controlando pela inflação nos diversos países, será de 3,3%, e não 3,5%, como se imaginava anteriormente. Os países desenvolvidos crescerão menos, o que motivou a revisão para baixo.
Não foi notado que, apesar da revisão para baixo, a taxa de crescimento de 3,3% ao ano está longe de ser um péssimo resultado. Esse foi o crescimento médio dos 20 anos de 1980 até 1999.
Editoria de Arte/Folhapress
Ou seja, as economias emergentes, quase que sozinhas, visto o péssimo desempenho da Europa e o desempenho ruim dos EUA, estão conseguindo rodar a economia mundial à mesma taxa que vigorou em boa parte do último quarto do século 20.
A divulgação das projeções do FMI é uma boa oportunidade para avaliarmos como está caminhando a economia brasileira em comparação com as demais economias latino-americanas.
Também é uma boa oportunidade para olharmos para o crescimento da economia brasileira de uma perspectiva de longo prazo.
A tabela acima apresenta a taxa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) real para a América Latina (primeira linha), para o Brasil (quarta linha) e para os demais países da América Latina excluindo os países da América Central para diversos períodos.
Na coluna 1, considerei o período que coincide com o mandato do presidente FHC; na coluna 2, o período que coincide com o mandato do presidente Lula; e, na coluna 3, os dois últimos anos, incluindo a previsão para 2012 do FMI, que coincide com os primeiros dois anos do mandato da presidente Dilma.
Além do Brasil, a tabela considera dez outros países latino-americanos: Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.
Três fatos se depreendem da tabela. Primeiro, tanto no governo FHC quanto no governo Lula, o crescimento do Brasil foi muito próximo do crescimento da América Latina: 0,1 ponto percentual a mais para o governo FHC e 0,1 ponto percentual a menos para o governo Lula.
Ou seja, toda a aceleração de crescimento que houve do governo FHC para o governo Lula foi compartilhada pela América Latina.
Segundo, se compararmos o crescimento da economia brasileira com os demais dez países da tabela, houve piora significativa do governo FHC para o governo Lula.
No governo FHC, o crescimento da economia brasileira foi maior do que o crescimento de 6 dos 10 países da tabela. No governo Lula, somente ficamos à frente do México. Todos os demais nove países apresentaram um desempenho de crescimento superior ao nosso.
Terceiro, nosso desempenho no biênio 2011-2012 está bastante aquém do desempenho da América Latina: 2,1% para nós em comparação a 3,8% para a América Latina. Novamente, dos dez outros países da tabela, nosso desempenho só não é pior do que o do Paraguai.
Assim, parece que algo ocorreu nos últimos anos que aparentemente reduziu a capacidade de crescimento da economia brasileira a valores significativamente inferiores aos da América Latina. Esse é um tema que certamente motivará muita pesquisa nos próximos anos.
De qualquer forma, para todos os períodos, o desempenho foi relativamente ruim. Há sinais de que os governos têm sido ruins? Em particular, é sinal de desempenho ruim da atual administração? Não necessariamente.
O fato de o atual governo e de o anterior serem extremamente populares sugere que a prioridade da sociedade não tem sido o máximo crescimento econômico. Outros fatores devem determinar a forma como o eleitor tem escolhido os governantes.
Penso que o eleitor mediano tem priorizado governos que reduzam a desigualdade e elevem a renda e o consumo. Esse objetivo tem sido compatível com o desempenho medíocre de crescimento da economia brasileira. Não sabemos até quando. Mas me parece que só haverá alteração do padrão de escolha política da sociedade quando esse modelo de baixo crescimento e melhora da desigualdade, da renda e do consumo testar seus limites.
SAMUEL PESSÔA é doutor em economia e pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da FGV.
Escreve aos domingos nesta coluna.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O Imperio ajuda o Brasil (para desgosto de alguns)

O motor americano04 de fevereiro de 2013
Editorial O Estado de S.Paulo

A economia americana cresceu 2,2% no ano passado, segundo o primeiro cálculo oficial divulgado em Washington. Isso é o dobro do crescimento, cerca de 1%, estimado até agora para o Brasil, o menos dinâmico dos Brics e um dos poucos países, em todo o mundo, atolados numa combinação sinistra de estagnação e inflação (5,8%). Além disso, nenhuma outra economia avançada, nem mesmo a alemã, terá tido um desempenho tão bom quanto o americano, se as novas estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) estiverem aproximadamente corretas. De acordo com essa revisão, a produção bruta dos países mais desenvolvidos deve ter-se expandido cerca de 1,3% em 2012. No cenário do Fundo, publicado na semana passada, o avanço americano deveria ter chegado a 2,3%. Mas a diferença de 1 ponto de porcentagem é pouco relevante nessa circunstância.

A boa notícia veio acompanhada de um dado negativo. No quarto trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos encolheu em ritmo equivalente a 0,1% ao ano, mas esse recuo foi qualificado como passageiro por analistas experientes. Decorreu em grande parte de uma redução de gastos militares e de uma queda nos investimentos em estoques. A avaliação otimista foi reforçada no dia seguinte, quinta-feira, pela divulgação, em Chicago, do índice de atividade dos gerentes de compras, bem superior ao projetado por economistas do mercado. Essa informação é considerada um bom indicador indireto do ritmo da produção industrial.

Na quarta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, saudou como altamente importante a recuperação lenta, mas aparentemente firme, da produção americana. Afinal, a recuperação da maior economia do mundo é benéfica para todos. Não se sabe se o ministro, antes desse comentário, consultou o líder Luiz Inácio da Silva. O ex-presidente havia-se mostrado muito feliz por chegar ao fim do mandato com o Brasil ainda em crescimento e os Estados Unidos em recessão. Seria um despropósito, exceto em caso de guerra, festejar as dificuldades de qualquer outro país. Mais que um despropósito, seria uma enorme tolice alegrar-se por uma crise no mais importante mercado do mundo. Mas essa tolice ocorreu.

A recuperação dos Estados Unidos é especialmente importante precisamente pela razão apontada pelo ministro da Fazenda. Se a atividade ganhar impulso na maior potência econômica do mundo, haverá efeitos positivos em todos os mercados. O Brasil será com certeza beneficiado, embora o governo petista atribua prioridade estratégica à relação com outros mercados. A reativação americana favorecerá o País pela importação direta de produtos brasileiros e pelo fortalecimento de grandes clientes do Brasil, como a China.

Além do mais, o mercado americano é um dos principais destinos das exportações brasileiras de manufaturados. Em 2012, a indústria manufatureira vendeu aos Estados Unidos produtos no valor de US$ 13,6 bilhões, 14,9% mais que em 2011. Essa receita correspondeu a 50,5% do total vendido àquele mercado. O comércio com os Estados Unidos foi um dos poucos pontos positivos no balanço do ano passado, quando o conjunto das exportações rendeu US$ 242,6 bilhões, 5,3% menos que em 2011.

O FMI projeta para a economia americana uma expansão de 2% em 2013, bem maior que a prevista para o conjunto dos países avançados, 1,4%. Para a zona do euro a estimativa é de mais um ano de contração. O produto regional deve ter encolhido 0,4% em 2012 e deverá diminuir mais 0,2% neste ano. A atividade global dependerá muito dos emergentes, mas com a ajuda, como em 2012, da recuperação americana. O motor da maior economia de novo contribuirá para impulsionar os mercados.

Essa previsão depende, naturalmente, das negociações entre governo e oposição, em Washington, sobre importantes problemas remanescentes. O abismo fiscal foi evitado no começo do ano, mas falta cuidar da elevação do teto da dívida pública e de questões complicadas, como detalhes dos cortes de gastos e o ajuste das contas públicas no médio prazo. O mundo inteiro será afetado por essas discussões.

sábado, 1 de setembro de 2012

Bye bye Brics? Hello MIST? - revista Exame


Com BRICs em baixa, MIST surge como novo oásis econômico
Naiara Infante Bertão e Ana Clara Costa, de São Paulo
Revista Exame, 29 de agosto de 2012

México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia despertam a atenção de um mercado frustrado por crise no mundo desenvolvido e desaquecimento nos emergentes

 ­ O termo BRICs – sigla que se refere ao grupo de países em desenvolvimento composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, que por uma década foi pronunciado à exaustão como promessa de crescimento e retorno aos investidores, está a um passo de ter um concorrente. O motivo é a ascensão de outro time de emergentes que atende pelo apelido de Mist: México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia (leia um pouco mais sobre cada um).
Esses países crescem mais, passaram nos últimos anos por turbulências econômicas menos profundas e possuem menos burocracia. Em suma, são hoje vistos como um novo oásis num mercado frustrado por perdas na Europa, nos Estados Unidos e, mais recentemente, no Brasil e na China. Jim O'Neill, presidente do Goldman Sachs Asset Management (GSAM) e criador da alcunha Brics, é considerado o autor, mesmo que involuntariamente, da nova sigla.
"Muitos pensam que criei esse acrônimo, mas ele nasceu do fato de eu ter definido, cerca de quinze meses atrás, onze novos países como economias promissoras. Como, do grupo de onze, os quatro são os que mais se destacaram, jornais disseram que havia criado o conceito de Mist. Achei engraçado", disse em entrevista ao site de VEJA.
O'Neill – que não utiliza mais o termo “economias emergentes” para se referir aos BRICS por achar que elas "já emergiram" – criou o grupo dos onze incluindo nações que, anos atrás, não seriam nem lembradas como promessas de ganho aos investidores. Além do Mist, o economista escolheu Bangladesh, Egito, Irã, Nigéria, Paquistão, Filipinas e Vietnã como mercados que, juntamente com os BRICS, se tornariam as maiores economias do século XXI. De acordo com as estimativas do executivo, Brics e Mist terão juntos um Produto Interno Bruto (PIB) de cerca de 12 trilhões de dólares ao fim desta década em termos reais – dois terços provenientes dos Brics e um terço do total vindo da China. “Os Brics são muito importantes e ainda não se pode compará­los com os MIST”, afirma O’Neill.
Comparações à parte, a expansão econômica de México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia é inegável, enquanto o mundo desenvolvido agoniza em recessão ou estagnação econômica, e muitos emergentes veem seu dinamismo se esvair claramente. “Os países do MIST estão ganhando visibilidade por causa da desaceleração dos Brics.
Brasil, Índia e China estão experimentando taxas de crescimento abaixo do previsto neste ano, não apenas devido ao ciclo econômico, mas também porque tomaram medidas que não foram tão bem recebidas pelos mercados”, afirma Christopher Garman, diretor de estratégia de mercados emergentes da Eurasia Group. No caso do Brasil, em particular, ele diz que o investidor está pessimista, sobretudo com o baixo crescimento – que deve encerrar o ano em 1,75% segundo previsões do mercado financeiro. Contudo, ele lembra que os mesmos investidores avaliam que os esforços da presidente Dilma Rousseff para estimular o PIB – tais como os pacotes que têm sido anunciados e as medidas para ajudar a indústria – mostram uma “luz no fim do túnel”.
Ciclos – O surgimento de levas de países que dão um salto rumo ao desenvolvimento não é fato isolado na história da economia global. Os Estados Unidos e o Japão, por exemplo, já foram nações emergentes que surpreenderam o mundo com seu vigor. Olhar para além dos Brics pode ser considerado, portanto, algo natural. “Muitos investidores começam a olhar para histórias de crescimento fora dos BRICS, e alguns fundos estão apostando em países do segundo escalão dos emergentes”, conta Garman. “O Mist reúne essencialmente os maiores países depois dos Brics”, completa. Apesar de economistas e investidores falarem dessa seleção de países há dois anos, tal predileção ganhou adeptos nos últimos meses por conta do agravamento da crise financeira europeia e seu impacto nos emergentes dos Brics – com destaque para o vexame brasileiro.
Ambiente de negócio – Além do fato de serem países em desenvolvimento com economias fortes – todos fazem parte do G20, o grupo das vinte maiores economias do planeta –, as principais características que unem os Mist são mercado consumidor atrativo e o fato de estarem melhorando constantemente seu ambiente de negócios. “Isso faz com que investidores os vejam como lugares para se investir no longo prazo, inserindo­os em um portfólio global diversificado”, diz a analista da Economist Intelligence Unit (EIU), Justine Thody. (veja quadro comparativo de Brics e Mist).
É inegável, porém, a atração que exercem dados que comprovam pujança econômica sobre estrategistas e investidores globais. México e Indonésia, por exemplo, cresceram, respectivamente, 4,1% e 6,4% no segundo trimestre deste ano na comparação com igual período de 2011 – contra míseros 0,8% do Brasil. O mais impressionante, na visão do mercado, é que tais números se apresentem num momento em que o mundo patina e grande parte dos países revisa para baixo suas previsões para o PIB.
Disciplina macroeconômica – Alfredo Coutiño, diretor da Moody’s Analytics para a América Latina, explica que essa expansão “fora da curva” é resultado basicamente da disciplina macroeconômica (fiscal e monetária) dos governos do MIST, além da constante promoção dos negócios com melhoria da regulação, oferta de segurança jurídica e abertura ao mercado internacional. “O ponto em comum entre os quatro é que eles são gerenciados por equipes econômicas com filosofia pró­mercado, o que dá segurança e deixa os investidores felizes”, afirma.
Ressalvas – Mesmo com a popularização recente, o novo elenco enfrenta certa resistência por parte de alguns economistas. Alguns acreditam que Brasil, China e Índia logo recuperarão o fôlego e retomarão o centro das atenções. Outros apontam que os fundamentos que sustentam esse crescimento vultoso do Mist são temporários. Coutiño destaca que, ainda que México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia suportem elevadas taxas de ampliação do PIB por vários anos, seu conjunto é ainda pequeno para substituir o papel dos BRICS como locomotivas da economia internacional.
Somente o Produto Interno Bruto somado de Brasil, Rússia, Índia e China é quase quatro vezes maior que o do MIST: 13,5 trilhões de dólares contra 3,9 trilhões de dólares.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Chineses na Africa: democracia e mercados - Stephan Richter


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China na África: mercado x democracia


As formas e meios pelos quais os chineses estão penetrando no continente africano são tema de debates acalorados em todo o mundo - e em nenhum lugar mais do que nos EUA. A visita de 10 dias de Hillary Clinton, secretária de Estado dos EUA, a toda a África colocou o debate em foco detalhado.
De um lado, os que afirmam que os chineses estão comportando-se como neocolonialists (ocidentais), ansiosos por explorar as vastas riquezas de matérias-primas e minerais do continente. Eles veem a China como interessada em ocupar cada espaço não coberto por empresas multinacionais ocidentais.
Do outro lado, principalmente fora dos EUA e predominantemente na África e nos mercados emergentes, estão os que aplaudem a ascensão da China e apontam para os seus sucessos como uma forma tardia de justiça econômica. Estes acreditam que finalmente é hora de uma potência não ocidental rica e mirando horizontes de tempo de longo prazo emergir como parceira viável para o continente.
Melhor ainda, argumentam essas vozes, os chineses - com a sua proposta de construção de infraestrutura em t roca da exploração de matérias-primas - estão apenas cumprindo o que acabaram revelando-se promessas vazias, feitas há um século pelas potências ocidentais.
Construção de ferrovias ligando áreas do interior à costa? A eventual perspectiva de formar uma rede cobrindo a África Subsaariana? Formação de redes de rodovias e autoestradas de quatro pistas a preços acessíveis em todo o continente? Disponibilizar moderníssimos complexos de escritórios, construídos dentro de orçamentos que as nações africanas têm condições de custear?
Concentrem-se primeiro em acabar com a fome; depois, disseminem-se os benefícios não tão materiais da democracia. Esse foco assegura a formação de um eleitorado com melhor formação educacional e autoconfiante, não suscetível à compra barata de votos.
Essas são, certamente, metas que os líderes africanos vêm perseguindo há muito tempo. Mas, no passado, uma combinação tóxica de sua própria corruptibilidade, laços obscuros entre ex-países colonizadores (e suas elites empresariais) e os novos governantes, bem como estruturas de planejamento excessivamente complexas, muito frequentemente resultaram em projetos proibitivamente caros.
Considerando que o crescimento econômico da África tem sido retardado pela inexistência de infraestrutura de transportes confiável - nos países e entre eles - essa é uma oferta mais que tentadora. Ela representa uma oportunidade de proporções históricas.
Sim, o continente tem uma abundância de aeroportos e de telefones celulares, mas devido à infraestrutura totalmente insuficiente, o comércio continua sendo dificultado de uma maneira reminiscente da Europa pré-1820.
Nesse sentido, as iniciativas empreendidas pelos chineses na África são, agora, o equivalente histórico do que as guerras napoleônicas trouxeram para um país como a Alemanha. Representam um há muito tempo necessário brado de alerta para o abandono de tradições ultrapassadas, para um avanço à era de intercâmbio e comércio modernos.
Sem ignorar os problemas inerentes à maneira como os chineses operam, inclusive o fato de que empregam predominantemente mão de obra de suas próprias empresas de construção civil, mesmo para projetos no interior da África subsaariana, a visão chinesa é muito distinta da abordagem ocidental nos últimos 50 anos.
A fórmula do Ocidente aplicada à África pós-independência, pós-1960, é priorizar a construção da democracia em detrimento da construção de mercados. Os chineses, como se sabe, optam exatamente pelo oposto.
Em tese, é sempre preferível concentrar-se em estruturas democráticas. E a secretária Clinton certamente referiu-se enfaticamente a isso durante sua visita. Mas em países onde a pobreza continua excessiva, um contra-argumento desconfortável pode ser sustentado, apoiado no histórico dos últimos 50 anos.
E se uma democracia atrofiada constituiu-se em obstáculo ao surgimento de um verdadeiro mercado para as economias nacionais? Nessas circunstâncias, não será preferível privilegiar a construção de um mercado para produzir uma estrutura mercantil suficientemente distribuída?
Esse é, sem dúvida, um dilema bastante desconfortável para ser analisado pelos ocidentais. Mas, claramente, são os africanos que precisam optar por seguir ou não o conceito ocidental de "democracia primeiro".
Melhor ainda, os defensores da estratégia chinesa para a África podem apontar para o fato de que a África não é a China. A preservação do poder em um Estado de partido único não está em causa na maior parte da África.
Em outras palavras, concentrem-se primeiro em acabar com a fome; depois, disseminem-se os benefícios não tão materiais da democracia. Esse foco assegura a formação de um eleitorado com melhor formação educacional e autoconfiante, não suscetível à compra barata de votos.
Essa abordagem também implica que o desenvolvimento econômico produza desenvolvimento político. Coincidentemente, isso é bastante semelhante ao que ocorreu na história da Europa. Lá, a tomada das rédeas da economia catalisou a demanda por mais direitos políticos por parte das classes mercantis, que terminou por colocar a Europa no rumo de democracia plena.
Por enquanto, em grande parte da África, a evolução política permanece tão atrofiada quanto o desenvolvimento econômico. Dito de outro modo, mas em última análise no mesmo sentido, a maturidade política - no sentido de democracia suficientemente robusta para que as eleições resultem em mudança efetiva no poder - só funciona praticamente em países como Gana, onde o desenvolvimento econômico é suficientemente avançado e amplo.
Ponderar esse tipo de sequenciamento é certamente desconfortável para os ocidentais que têm uma preferência instintiva pela democracia. Apesar disso, essa preferência é também desconcertante - especialmente tendo em vista a forte ênfase dos americanos em economia de mercado em seu país. Os americanos, como sabemos, foram afortunados em seu caso histórico especial, onde os desenvolvimentos econômico e político caminharam de mãos dadas.
É muito desconcertante observar nesse debate sobre construção de mercado versus construção de democracia - que são os chineses, e não os americanos - que podem argumentar persuasivamente que seu foco na África é a criação de futuros clientes e parceiros comerciais.
Esse foco em clientes parece contrário à doutrina marxista. E, de fato, os chineses podem citar ninguém menos que o admirável Adam Smith como sua testemunha principal. Ao avaliar estratégias econômicas de grandes impérios, escreveu ele: "Fundar um grande império com o propósito único de criar um povo de clientes pode, à primeira vista, parecer um projeto capaz de servir a uma nação de lojistas. Trata-se, porém, de um projeto totalmente impróprio para uma nação de lojistas. Mas extremamente adequado a uma nação cujo governo é influenciado por lojistas".
Embora os direitos ao voto não possam ser considerados um luxo, na realidade africana, ao menos, o foco central na construção da democracia, em vez da construção de mercados, tem tido o efeito perverso de asfixiar, e não de promover, o crescimento econômico. (Tradução de Sergio Blum)
Stephan Richter é editor chefe do "The Globalist".

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segunda-feira, 25 de junho de 2012

Crescimento do credito: quanto seria sustentavel? - alerta do BIS


BIS alerta Brasil por descompasso entre crédito e PIB

Reuters, 24/6/2012 16:36,  de Londres
BIS
Instituição faz alerta de perigo ao Brasil por descompasso de crédito e crescimento da economia e cita dívida de famílias e empresas no mercado imobiliário
As condições monetárias globais mais flexíveis, com crescimento do crédito e do preço de ativos em algumas economias emergentes, podem levar a uma nova crise financeira, alertou neste domingo o Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês).
A instituição sustentou que o Brasil está na zona de perigo por considerar haver um descompasso entre o crescimento do crédito e da expansão da economia. Citou também preocupação com o nível de endividamento das famílias e das empresas brasileiras e com o forte crescimento dos preços do mercado imobiliário.
A instituição fez um apelo para que os bancos centrais prestem mais atenção às repercussões no mundo das suas políticas internas, em sintonia com as reclamações do Brasil e de outros de que um cenário monetário muito frouxo pode desestabilizar os fluxos de capitais para os mercados emergentes.
- Isso cria riscos de desequilíbrios financeiros similares aos vistos nas economias avançadas nos anos que precederam a crise – declarou o BIS.
O aumento do crédito muito acima do crescimento econômico é normalmente presságio de turbulência econômica. Esse é o caso quando tal descompasso supera os 6%, segundo o BIS.
Na Tailândia e na Turquia, esse descompasso é de pelo menos 15%. Brasil e Indonésia também estão na zona de perigo, com mais de 6%, de acordo com o BIS.
O aumento do crédito na Argentina e na China também ultrapassou o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), mas o descompasso deles está bem abaixo da marca de 6%.
O preço de ativos também é um problema em muitas economias emergentes, afirmou o BIS. Em alguns mercados locais brasileiros, os preços de imóveis praticamente dobraram. Em algumas cidades chinesas, os preços subiram ainda mais rápido.
Outra preocupação é endividamento. O montante que lares e empresas no Brasil, China, Índia e Turquia destinam a dívidas está no seu nível mais alto desde o fim dos anos 1990, apesar das baixas taxas de juros.
O BIS sustentou que uma saída é adotar medidas macroprudenciais como ação para reduzir o crescimento do crédito.
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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Dinamicos e retardatarios em 2012: previsoes da Economist

O quadro abaixo é meio enganador, pois tomo como base apenas o crescimento em termos nominais numa escala linear, mundial. Existem países de economias ridiculamente pequenas, que não têm condições de representar qualquer incentivo, estímulo ou desestímulo, à economia mundial.
Outros são mais impactantes, a despeito de não figurarem nem entre os de maior crescimento, nem de maior recuo...
Paulo Roberto de Almeida


Growth in 2012

Jan 4th 2012, 14:05 by The Economist online
Which economies will grow and shrink the fastest in 2012?
LIBYA’S economy will grow faster than any other in 2012, according to the Economist Intelligence Unit’s forecasts, boosted by reconstruction following the fall of Muammar Qaddafi’s regime. The surge is a bounce-back from an even more precipitous slump while war raged. In Iraq, post-conflict chaos has delayed recovery but performance in 2012 may mark the start of something new. Mongolia is enjoying a mining boom and will benefit from investment in that sector; Angola and Niger will gain from relatively high commodity prices. China will continue to experience robust growth; this is fortunate since demand generated by the world’s second-largest economy will counteract some of the drag from the rich world. As for the fastest shrinkers, Europe’s economies feature prominently, as they remain embroiled in the Euro crisis. But Sudan will suffer the heaviest economic contraction, having lost three quarters of its oil reserves to South Sudan when that country seceded in July.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Pra frente Brasil! (ainda que lentamente): sobre o ufanismo governamental

Acredito que o governo não tem NADA a comemorar com o anúncio abaixo, ou seja, de que o Brasil já é a sexta maior economia do mundo, e deveria até pedir desculpas à sociedade pelo mal que ele faz, à própria sociedade, aos cidadãos e à economia brasileira, em qualquer ordem e em diversas proporções.
Em primeiro lugar, tamanho do PIB nacional nunca foi indicador de prosperidade nacional, do contrário países pequenos, como Dinamarca ou Luxemburgo seria países horríveis para se morar, e não sociedades com renda per capita altamente satisfatória, e mesmo superlativa.
Em segundo lugar, quem obteve esse PIBão não foi o governo, sequer o Estado brasileiro, e sim as milhares de empresas brasileiras e os milhões de trabalhadores que realmente criaram riqueza e renda, sendo que o governo, o Estado de forma geral, só atuou para diminuir o potencial de criação de riqueza, ao extrair renda dos cidadãos e das empresas para gastos não produtivos. O Estado brasileiro é um despoupador líquido, capturando dois quintos da riqueza e investindo 1% do PIB em investimentos produtivos.
Em terceiro lugar, muito desse PIB é ilusão estatística, ou manipulação cambial, já que uma outra taxa de câmbio, mais realista, ou desvalorizada -- como querem vários economistas malucos que existem por aí -- representaria um PIB bem menor. Dou um exemplo: em 1998, antes da famosa crise de desvalorização e da introdução do regime de flutuação, no começo de 1999, éramos uma "enorme", superior a 800 bilhões de dólares; bastou o câmbio sair de 1,6 para mais de 2,4 reais por dólar, para que o PIB baixasse vergonhosamente para 450 bilhões de dólares, ou seja, ficamos pobres outra vez. Isso tudo, portanto, é uma ilusão cambial, e não traduz o potencial exato da economia brasileira.
Em quarto e mais importante lugar, cabe referir que prosperidade mesmo se mede em PIB per capita, ou seja, disponibilidade de renda para que cada um possa satisfazer suas necessidades. Cabe referir que, mesmo com esse PIBão, nossa renda per capita é quatro, cinco ou seis vezes menor do que a dos países mais ricos, e que, para alcançar a renda média europeia, como reconhece o próprio ministro da Fazenda, ainda vai demorar muito. Mais vergonhoso ainda será quando a China, que cresce três vezes mais do que o Brasil, superar a nossa renda per capita, ela que tem ainda milhões e milhões de miseráveis ou de pobres. E isso não é difícil: crescendo 8,5% em termos per capita, ao ano, a China pode ultrapassar o Brasil em mais alguns anos, pois ela dobra a sua renda per capita em menos de uma geração (17 anos, aproximadamente), ao passo que o Brasil só consegue dobrar a sua renda per capita em mais de duas gerações, ou seja, mais de 50 anos.
Em quinto lugar, o PIB do Brasil é explicado, basicamente, pela valorização dos produtos primários de exportação, algo totalmente alheio e independente dos méritos ou deméritos da economia brasileira. Ou seja, o Brasil não está vendendo, ele está sendo comprado, e graças à valorização das commodities pela voracidade industrial chinesa, tem auferido uma renda extra por ser um país de enormes recursos naturais. O Brasil foi enormemente beneficiado pelo crescimento da economia mundial, sem que ele tenha feito praticamente nada para isso.
Em sexto e último lugar, esse crescimento todo se dá justamente pelos produtos de baixa elasticidade-renda, já que estamos perdendo espaço nos mercados de crescimento mais dinâmico, que são os manufaturados eletrônicos, num processo que alguns chamam (mas eu não estou de acordo) de "desindustrialização", um termo muito vago para abranger de maneira adequada a complexidade do fenômeno. Em todo caso, o Brasil participa muito pouco dos mercados de alta tecnologia ou de alto valor agregado, ocupando apenas os nichos de baixa valorização, e muito pouco em serviços, em finanças, em know-how. Isso se explica, em grande medida, pela qualidade pavorosa, para não dizer horripilante, da educação brasileira, que só anda para trás, em função das novas saúvas que ocupam o MEC, as pedagogas freireanas. Nesse aspecto, não há nenhum risco de melhorar, pois as barbaridades educacionais permanecem e se ampliam, com um MEC que só se conserta destruindo e construindo outra estrutura, outras carreiras do professorado, outra filosofia educacional.
Finalmente, é uma ilusão que o Brasil seja um país melhor do que a Grã-Bretanha, ou a Itália, ou talvez dentro em pouco a França, apenas porque o seu PIB superou ou superará os PIBs desses países. Qualquer pessoa que conheça os países, e seus fatores intangíveis, constata, verifica, sabe, pessoalmente, que isso é uma bobagem monumental.
Volto a repetir: o Brasil já poderia ser, há muito tempo, um país mais rico, ou melhor, com cidadãos mais prósperos, e só não o é, ou seus habitantes não dispõem de rendas superiores, por culpa exclusivamente do Estado, que rouba, literalmente, a renda dos cidadãos.
O Estado tornou-se, na atualidade, o principal obstrutor do desenvolvimento brasileiro. Os brasileiros ainda vão se convencer disso, e prender o ladrão...
Em outros termos, não cabe nenhum ufanismo deslocado.
Paulo Roberto de Almeida 

Brasil demorará até 20 anos para ter padrão de vida europeu, diz Mantega

Ao comentar estudo que mostra o País como a sexta maior economia do mundo, o ministro da Fazenda destacou que ainda é preciso investimento nas áreas social e econômica

OESP, Segunda, 26 de Dezembro de 2011, 15h09
Adriana Fernandes, da Agência Estado BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta segunda-feira, 26, que o Brasil poderá demorar de 10 a 20 anos para fazer com que o cidadão brasileiro tenha um padrão de vida semelhante ao europeu. Ao comentar o estudo do Centro de Pesquisa para Economia e Negócios (CEBR, em inglês), que aponta o Brasil como a sexta maior economia do mundo, à frente do Reino Unido, o ministro afirmou que o Brasil vai consolidar essa posição porque continuará crescendo mais do que outros países em razão de crise internacional afetar mais as economias avançadas. 
Mantega disse que o País ainda precisa investir mais nas áreas social e econômica. "Isso significa que nós vamos ter continuar crescendo mais do que esses países, aumentar o emprego e a renda da população. Nós temos um grande desafio pela frente", disse Mantega. "Mas a boa notícia é que nós estamos nessa direção e caminhando a passos largos para que o Brasil, num futuro próximo, seja um país melhor", afirmou, em nota à imprensa.


Mantega disse que essa posição vai ser consolidada e a tendência é de que o Brasil se mantenha entre as maiores economias do mundo nos próximos anos.


Ao citar as boas relações comerciais do Brasil com outros países, especialmente com os asiáticos, Mantega destacou que, atualmente, o Brasil é "respeitado e cobiçado, tanto que os investimentos estrangeiros diretos devem somar US$ 65 bilhões esse ano".

Lei das consequencias involuntarias...

Tem gente que detesta que eu coloque notícias desabonadoras do ponto de vista dos responsáveis políticos, sobretudo quando o foco das más notícias se situa mesmo nos últimos anos. 
Mas, como já disse alguém, fatos são fatos, por mais que não se goste deles.
E o fato é que houve um progresso fantástico da criminalidade no Brasil. 
E a mais danosa para a nacionalidade, para a cidadania, se refere mesmo à criminalidade de alto coturno, aquela que se situa nas altas esferas do poder, e que envolvem gatunos profissionais, alguns até homenageados por certo partido, que não se dá conta que o gatuno em questão se utiliza dos aparelhos partidários para enriquecer, continuando a corromper com cobertura política, entronizando a imoralidade como prática normal.
Pois é, tem gente que acha a corrupção uma coisa normal, assim tão bem distribuída entre todos que se torna algo aceitável... Eu não acho e acredito que a maioria dos meus leitores tampouco.
Só os patrulheiros a soldo, os mercenários partidários, os adesistas profissionais, ou os muito ingênuos a ponto de serem estúpidos é que aceitam esse tipo de tese podre...
Para desespero desses coniventes e tolerantes com a corrupção, a criminalidade diminuiu justamente ali onde ele não PODERIA diminuir, e aumentou lá onde eles não gostariam que ela aumentasse. Tristes fatos, não é?
Paulo Roberto de Almeida 



Brasil ha registrado más de un millón de homicidios en los últimos 30 años

El País, 15/12/2011.
Cadáver en el Complejo do Alemao, en Río de Janeiro. / EFE
Podría apellidarse “la guerra de Brasil”. Los números son estremecedores. En los últimos 30 años, los índices de violencia en el país han aumentado de 11,7 asesinatos por cada 100.000 habitantes a 26,2. En total, las muertes violentas en el país fueron 1.100.000, con una media de 137 por día y cuatro por hora. Salvo en São Paulo, Río de Janeiro y Santa Catarina, en casi todos los demás Estados del país, el índice de asesinatos ha ido creciendo año por año en los tres últimos decenios. Según Julio Jacobo Waiselfisz, responsable de la mayor investigación sobre la violencia brasileña registrada hasta hoy y llevada a cabo por el Instituto Sangari de São Paulo, por lo menos en 67 municipios con población superior a 10.000 habitantes se han registrado proporcionalmente más homicidios entre 2008 y 2010 que en todo el conflicto de Irak.
El Instituto Sangari ha utilizado para esta investigación cifras del Ministerio de Sanidad. “A pesar de no registrar conflictos étnicos, religiosos o políticos, la violencia homicida en Brasil es una de las mayores del mundo”, afirma Weilsfisz. El estudio revela datos interesantes y sorprendentes. Por ejemplo, los dos mayores Estados del país, como São Paulo y Río de Janeiro han sido los únicos que han registrado una disminución drástica de la violencia, mientras que las ciudades y municipios menores, sobre todo del noreste de Brasil, como los Estados de Bahía o Pará, han sido los que más asesinatos han sufrido. Por otro lado, los Estados pobres del noreste, que han recibido durante estos 10 últimos años las mayores inversiones económicas y donde se han volcado las políticas sociales, han sido los más golpeados por la violencia.
Mientras en São Paulo, en efecto, el número de homicidios por cada 100.000 habitantes ha descendido de 42,2 a 13,9, y en Río de Janeiro, de 51 a 26,2, en el noreste, el crecimiento ha sido astronómico. En Bahía, el aumento del índice de homicidios ha crecido un 303% y en Pará, el crecimiento ha sido de 252%. Los responsables del estudio apuntan tres posibles motivos para explicar la disminución de los homicidios en São Paulo y Río: las campañas de desarme de la población que llevó a entregar voluntariamente cientos de miles de armas; las inversiones en seguridad pública y las políticas estatales contra la violencia.
Según explica José María Nóbrega, catedrático de la Universidad Federal de Campo Grande y autor de Los homicidios en el noreste brasileño, el aumento de la criminalidad en esta región, pese a su avance en desarrollo, se debe precisamente al crecimiento económico. La mayor riqueza, según Nóbrega, ha atraído a la criminalidad organizada al aumentar el consumo de drogas pesadas. Al mismo tiempo, las políticas duras de represión en las grandes ciudades como São Paulo y Río, han hecho que muchos narcotraficantes hayan emigrado.
Por último, el informe pone de relieve el descuido de los políticos locales en los territorios más pobres del país en promover campañas eficientes contra el aumento de la violencia.
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