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segunda-feira, 2 de maio de 2016

Tullo Vigevani: repercussoes internacionais da crise brasileira - CRIES

https://medium.com/@CRIESLAC/crise-no-brasil-e-seu-impacto-regional-4f95f9a1e2ef#.8yktb7z51

Crise no Brasil e seu impacto regional

Tullo Vigevani, Universidade Estadual Paulista

 

  Coordinadoria Regional de Investiogaciones Económicas y Sociales

Tem sido escrito muito sobre a crise brasileira. Aguçou-se decisivamente em março de 2016. Neste 1 de maio, em que houve manifestações em favor de Dilma Rousseff, e algumas contrárias, ninguém dúvida de que a maioria do Senado aprovará o afastamento provisório da presidenta, talvez em 11 de maio. Na Câmara dos Deputados a aceitação das acusações foi aprovada amplamente, por mais de dois terços do plenário, 367 a 137, dia 17 de abril.
A crise tem raízes longínquas. Tem raízes na história do Brasil (lembremos 1954, 1961, 1964, talvez 1992, para não falar de antes). Mais especificamente origina-se em 2005, quando começou a crise chamada “mensalão”. O Partido dos Trabalhadores acreditou que poderia ser superada com novas vitórias eleitorais. Os métodos para conseguir votos no Parlamento de parte dos governos têm raízes seculares: oligarquia, patrimonialismo, etc.. E continuaram depois da redemocratização e da constituição de 1988, inclusive nos governos do PT. Ao mesmo tempo, diferentes fatores confluíram para a criação de instrumentos do Estado que fortaleceram os controles. Essa ação foi reconhecidamente levada adiante e fortalecida pelo Partido dos Trabalhadores, nos governos Lula e Rousseff. Some-se a isso novos regimes internacionais que também estimularam controles, inclusive da corrupção. Não é nosso objetivo discutir as causas da crise. Mas, pelas suas consequências para a política externa do Brasil, algumas devem ser lembradas.
A política internacional alcançou prestígio em alguns pontos, em geral reconhecidos: visibilidade, soft-power, influência em algumas negociações (OMC, Meio ambiente, sistema financeiro, integração regional). Ao mesmo tempo, reconheça-se, foi combatida intensamente, ao menos desde 2004, pela oposição, o DEM por exemplo, mas também pelo PSDB. Tornou-se objeto de disputa interna de bastante importância. Aspecto de alta relevância para a compreensão da atual situação a se considerar é a gravíssima crise econômica. A política econômica dirigiu-se ao objetivo de justiça social, grande bandeira foi o “combate à fome” e à diminuição da extrema desigualdade. Segundo Pierre Salama, é neste campo que deve ser encontrada a origem da atual tragédia. A reprimarização da economia e a debilidade da política industrial também têm origens remotas, certamente na segunda metade do governo Sarney, a partir de 1988, onde os vetores globalização e comércio ganharam maior peso. A abertura era inevitável, mas os instrumentos do Estado para a adaptação, para alcançar competitividade, diferentemente de Coréia, China, etc., permaneceram débeis. Os governos seguintes, inclusive o de Cardoso, seguiram esse caminho. O governo Lula, apesar de algumas ações, não contrastou a tendência, que finalmente levou à crise. O desenvolvimento tecnológico, mesmo com a densidade do debate, não conseguiu caminhar, reduzindo a competividade. Certamente outras causas contribuíram, juros, taxa de câmbio, etc.. Inútil falar de preço de matérias primas, de China, de Europa, têm sido bastante discutidos.
Fator propriamente político dinamizador da crise é que os governos Lula e Rousseff nunca foram reconhecidos como governos próprios de parte dos poderes fortes, econômicos, sociais, burocráticos. Esses poderes respeitaram e colaboraram durante algum tempo. Mas acreditavam não tratar-se do governo deles. O que aconteceu em 2015 e nos primeiros meses de 2016 é declaradamente o jogo do “quanto pior melhor”. É verdade que não é fenômeno especificamente brasileiro, algo da relação dos republicanos com Obama assemelha-se, quem se preocupa com governabilidade os estudará. O resultado é que no governo Rousseff evoluiu-se para a ingovernabilidade. Em interessante ponderação de Roberto Schwartz, o risco é de dar-se a mesma tendência no futuro governo Michel Temer ou quem seja. A oposição a Rousseff argui que o impeachment está inscrito na constituição, o que é verdadeiro. Os debates que levam a ele, como nunca antes na história, foram amplamente divulgados. Nisso há diferença em relação aos chamados “novos golpes”. A ampla divulgação teve a virtude de tornar públicos os argumentos a favor e contra. Tanto os argumentos jurídicos quanto os políticos, no mínimo, se mostraram sujeitos à sua refutação. O uso fora das normas dos recursos públicos, acusação central, acabou tendo pouco peso frente ao fato que o governo há bastante tempo tinha sua base parlamentar corroída. Tudo isso coloca uma hipoteca sobre a legitimidade futura, quaisquer sejam os desdobramentos imediatos. Pode-se prever instabilidade, portanto consequências negativas para a ação internacional do país, que serão superadas apenas a longo prazo. Com legitimidade, estabilidade, com desenvolvimento.
Nosso objetivo é discutir os impactos regionais, sul e latino-americanos da crise. A relação entre política interna e internacional é de reconhecida importância. A desaceleração econômica (PIB: -3,8 % em 2015) em curso desde 2011 vem limitando a capacidade de ação do Brasil. Segundo formuladores da política externa ligados ao Partido dos Trabalhadores, essa limitação já está em curso, desativando parte das iniciativas que dependem de uma presidência ativa. Um exemplo seria o congelamento do IBAS (Fórum de Diálogo Índia, Brasil, África do Sul) e outro seria a razoável passividade frente ao fracasso das negociações comerciais multilaterais, com estancamento da Rodada Doha e semi-paralisia da OMC. Sobre a política externa a consequência maior da crise foi um sentido de paralisia, e sinais de movimentos que já levam a mudanças, algumas delas convergindo com os objetivos declarados da oposição política. Constrangimentos internos passaram a incidir de forma significativa, ampliam a atuação de outros órgãos em áreas específicas. No tocante ao comércio exterior, parte das iniciativas passaram ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior MDIC). Segundo notícias de imprensa atribuídas ao vice-presidente Michel Temer, futuro presidente se o afastamento da presidente se confirmar, o provável ministro do Exterior, José Serra, deverá ter não apenas as atribuições tradicionais, mas incorporar as negociações de comércio exterior até agora geridas pelo MDIC.
Aspectos menos discutidos também sinalizam debilitamento do softpower alcançado nas administrações anteriores e baixa consideração do papel internacional do Brasil. A falta de importância que nesta crise se atribui a um dos trunfos alcançados anos atrás, a realização da Olimpíada de 2016 no Rio de Janeiro, mostra o clima preocupante em que se deverá debater a política externa. Apenas para lembrar, quando em 1992 cresceu na opinião pública, entre os partidos políticos e nas elites, a pressão pelo impeachment do presidente Collor de Mello, houve consenso no adiamento do processo para evitar uma grave crise ou um vácuo de poder no momento da realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio 92.
Considerando a crise, certamente haverá uma rediscussão da política externa. Há forte pressão das forças que serão governo com o afastamento da Presidenta (PSDB, DEM e mesmo do PMDB, este parte do atual e do futuro governo, partido de Michel Temer), pela mudança de aspectos da política regional e geral. As relações econômicas externas, sobretudo a não inserção em cadeias produtivas globais, é objeto de críticas crescentes e o movimento para maiores vínculos com os países centrais deverão crescer. A busca do fortalecimento dos vínculos com a Aliança do Pacífico em curso no governo Rousseff, sinalizará o caminho para a discussão de novas relações com o TPP e, provavelmente, se fortalecerá a busca de inserção no debate sobre a área de livre comércio EUA-UE. Essas tendências deverão encontrar oposição das forças políticas e sociais afastadas do governo, o que tornará a capacidade de negociar do governo mais díficil. Será importante observar na nova relação de forças, o comportamento das diferentes áreas empresariais, não apenas industriais, mas também agro-business, serviços, bancos. Estes setores terão que avaliar a relação custo/benefício da nova inserção. O que não é simples. A nova geração de tratados assinados ou em negociação mostra que grupos fortemente críticos são fortes em diferentes países.
No caso do Mercosul, o objetivo de redução a uma área de livre comércio, pode ferir interesses brasileiros consolidados. Certamente será um campo em que a relação entre desejos e realidades se apresenta. Considerando as dificuldades em que se encontram boa parte dos países da América do Sul, aumentará a crítica ao Mercosul. Segundo essas críticas, o bloco seria um obstáculo a acordos com outros países por ser uma união alfandegária. Dificultaria acordos com as economias mais desenvolvidas — sobretudo com Estados Unidos. Ao mesmo tempo, a contrapressão das vantagens da união alfandegária para as empresas com produtos de maior valor agregado é importante. Em 2014 produtos manufaturados correspondiam a 77% do total das exportações brasileiras para os outros membros do Mercosul. Enquanto para os outros principais parceiros representaram: China, 4%; União Europeia, 37%; Estados Unidos 55%. Vistas algumas coincidências entre os membros fundadores do Mercosul, é importante observar quais propostas poderiam ser elaboradas no Palacio San Martin e no Palácio do Itamaraty.
No caso da Unasul, a ideia de cooperação poderia ser preservada, visto tratar-se de compromisso menos vinculante. De todo modo, os planos que dependem de aportes brasileiros não estão assegurados. Os financiamentos, com origem no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), são objeto de forte crítica, estimulando Ministério da Fazenda, do Planejamento e Banco Central a restringirem a continuidade.
A crise econômica e o combate à corrupção tiveram como subproduto o enfraquecimento de alguns dos grandes grupos empresariais, estatais ou privados, que deram sustentação a uma política externa mais ativa na região, quando se esboçou o fortalecimento da presença economica regional de parte do Brasil. Empresas como Petrobras, grandes empreiteiras da área da construção civil e pesada, e mesmo grupos industriais e de serviços, estão enfraquecidos, alguns correm o risco de destruição.
A atual crise demonstra porque não se podia dizer que a política brasileira, particularmente a hemisférica, mesmo durante o governo Lula, tivesse preocupação por uma liderança acima das próprias possibilidades. O interesse pela região sul-americana é fator histórico estruturante da política exterior. Isso não será modificado, qualquer seja o resultado da atual crise. O que existe e assim continuará por alguns anos, é enfraquecimento de atuação, mesmo considerando que o maior peso relativo do Brasil continuará existindo. A melhoria das relações com os Estados Unidos ganharão relevância.
O Estado brasileiro deverá manter os compromissos com as organizações regionais. Após um período de posicionamento forte contra o unilateralismo norte-americano, Iran, NSA, há o crescimento da reivindicação de empresários, forças políticas, com impacto na administração do Estado, visando a adesão a regimes internacionais formatados pelos Estados centrais. Objetivamente, o Brasil continua como ator de média capacidade internacional, é contribuinte médio na assistência humanitária internacional, é contribuinte significativo para as ações de peacekeeping da ONU, tornou-se uma razoável referência nos índices de desenvolvimento humano, participa em cargos significativos nas organizações internacionais (WTO, FAO, etc.), é membro do G-20 financeiro, teve sua quota de participação no IMF aumentada de 1,78 % para 2,3%, juntamente com os outros países BRICS.
Portanto, a crise que tem pesado impacto de curto prazo não deverá eliminar traços clássicos da política externa brasileira. O interesse pelas relações com a China e pela ativa participação em diferentes fóruns internacionais, particularmente os BRICS, provavelmente será mantido. Os atuais impasses no cenário político doméstico não se resolverão rapidamente, mesmo com Temer na presidência. A pergunta que podemos fazer, sem resposta, é se o continuo agravamento da crise deixa em aberto a possibilidade de mudanças radicais nos valores de autonomia, soberania, multilateralismo e no objetivo de fortalecimento das instituições regionais. Nossa hipótese é que mudanças radicais não são possíveis. O Brasil participa há décadas, desde os anos 1980, dos principais regimes internacionais, tendo inclusive um papel destacado na sua elaboração, como é o caso do clima, foi ator relevante na construção das instituições regionais nas décadas de 1980, 90 e em todos os anos 2000. O que é verdade é que a crise, sobretudo econômica, debilita a capacidade de ação. Isso perdurará, ao que deve se acrescentar um período de crise de confiança na estabilidade e na legitimidade da governança no Brasil.

quarta-feira, 30 de março de 2016

Venezuela: novo impasse entre Parlamento e Executivo bolivariano; o que vao fazer Mercosul e Unasul?

Não seria o Executivo bolivariano que está provocando uma "ruptura democrática", ao prometer vetar uma anistia aprovada pelo Parlamento? O Mercosul e a Unasul pretendem fazer alguma coisa? Ou vão ficar calados, como é o mais provável? A situação tende a ficar mais tensa no país, e o assunto pode cair na OEA, se os órgãos regionais, supostamente destinados a promover a cooperação, a democracia, etc, não fizerem nada. Vamos acompanhar a posição brasileira nessa questão. A CREDN-SF pretende se interessar pelo assunto?
Paulo Roberto de Almeida


CONTROLADO PELA OPOSIÇÃO

Parlamento da Venezuela aprova anistia para presos políticos

Presidente venezuelano já prometeu, no entanto, vetar a lei

Parlamento da Venezuela aprova anistia para presos políticos
Condenado a quase 14 anos de prisão, Leopoldo López é o principal líder opositor preso na Venezuela (Fonte: Reprodução/Agência Brasil)
O Parlamento da Venezuela, que é controlado pela oposição, aprovou nesta terça-feira, 29, a lei de anistia para políticos presos.

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, já prometeu, no entanto, vetar a lei, por considerar que ela beneficia pessoas que cometeram graves delitos.
O anúncio da aprovação do projeto foi feito pelo presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Henry Ramos Allup. A medida foi recebida por aplausos pela bancada opositora e por protestos por parte dos deputados chavistas.
A lei de anistia visa beneficiar particularmente um grupo de 76 presos políticos que foram detidos durante protestos contra o presidente Nicolás Maduro em fevereiro de 2014. Entre eles está Leopoldo Lópes, que foi condenado a quase 14 anos de prisão por incitação à violência na onda de protestos naquele ano, que deixou 43 mortos e 878 feridos no país.
Maduro reiterou nesta terça que não vai promulgar a lei de anistia aprovada pelo Parlamento venezuelano, uma vez que o projeto teria como objetivo “proteger assassinos, criminosos, narcotraficantes e terroristas”. “Por aqui não passam, façam o que fizerem”, ressaltou o presidente da Venezuela.
Leia também: Oposição lança campanha para derrubar Maduro
Leia também: Venezuela condena Leopoldo López a quase 14 anos de prisão

quarta-feira, 16 de março de 2016

Dia da Infamia Politica: o 16o. Brumario de Dom Corleone - Paulo Roberto de Almeida


Dia da Infâmia Política: o 16o. Brumário de Dom Corleone

Paulo Roberto de Almeida
[notas postadas no Facebook, em 16/03/2016]

Aquilo que não se concebia possível, se consumou. Depois que as grandes massas se tivessem pronunciado, não em favor do proto-ditador, como na versão original da repetição da História, mas contra o demolidor de instituições, depois que um juiz de província pretendeu torná-lo réu de processos escabrosos, depois que juristas se tivessem revoltado ante o prometido escárnio, o chefão de milícias e de quadrilhas deu o seu passo à frente.
Não pensávamos que seria confirmado, mas eles ousaram desafiar toda a cidadania revoltada.
Já que o encantador de serpentes atravessou o Rubicão, nos idos de março, só lhe resta agora remodelar toda a república no seu padrão imperial mafioso.
A repetição sempre traz surpresas. Queremos das grandes...

Esse Brumário do Dom Corleone tupiniquim vai custar caro, primeiro pela rápida deterioração dos indicadores econômicos, o que vai atingir todos nós, depois pela reação que tal infâmia política provocará na sociedade e em certas corporações que ainda se esforçam para cumprir seu papel institucional. Repito aqui aquela frase da sabedoria popular: a esperteza quando é muita, cresce e engole o dono...

A deterioração econômica não tem nenhuma importância para o partido cleptocrata e para o seu chefe mafioso. A única coisa que lhes interessa, no momento, e da qual eles necessitam desesperadamente, é uma tábua de salvação para servir de sustentação para, pela ordem:
1) o chefão mafioso;
2) o governo inepto e corrupto;
3) o regime celerado dominado pelo partido totalitário;
4) o próprio partido neobolchevique e seus principais caciques, dirigentes de quadrilha.
A economia brasileira, a dignidade política, o próprio Brasil que se danem, nada mais lhes interessa. Como eles não podem continuar sozinhos, o fiel da balança vem a ser novamente o PMDB: dele depende a sobrevivência do governo, do regime bonapartista, dos seus dirigentes cleptocratas. Todo o resto depende da sociedade e de um pequeno punhado de lutadores da esfera da Justiça. Será possível reverter a queda do Brasil para o caos?

Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 16 de março de 2016
Notas diversas no Facebook.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Edmar Bacha diz que Brasil nao tem mais governo - Thais Bilenky (FSP)

Brasil segue ladeira abaixo, diz Bacha
Thais Bilenky de Nova York
Folha de S. Paulo, 9/10/2015

Economista diz em aula nos EUA que raiz da crise atual é política e que país está sem governo e preso ao curto prazo
Um dos idealizadores do Plano Real, ele preferiu não responder sobre corrupção e elogiou o Bolsa Família
Em uma aula de pós-graduação na Universidade Columbia (Nova York), uma das mais prestigiadas do mundo, o economista Edmar Bacha teceu duras críticas ao governo Dilma Rousseff e apresentou um ponto de vista pessimista em relação à recuperação do Brasil.
A Folha assistiu à aula, que aconteceu nesta quarta-feira (7) à noite.

A franqueza com que respondeu a uma pergunta sobre as perspectivas para a economia nacional causou um riso constrangido na sala, ocupada por um grupo de economistas de renome, como José Alexandre Scheinkman, André Lara Resende, Fernando Sotelino, Guillermo Calvo e Albert Fishlow.
"As perspectivas são terríveis", disse, em inglês. "Estamos indo ladeira abaixo e continuaremos ladeira abaixo até que se resolvam problemas centrais."
Um dos formuladores do Plano Real e simpático ao PSDB, Bacha afirmou que o país está desgovernado e que a nova composição ministerial ainda é uma incógnita. "Não temos mais governo. Até agora, só se finge que se faz algo." O ministro Joaquim Levy (Fazenda) "faz o que pode", disse, "mas, como se diz no Brasil, uma andorinha só não faz verão".

BOLSA FAMÍLIA
O economista preferiu pular perguntas sobre o impacto da corrupção e cedeu nas críticas quando perguntado sobre o Bolsa Família, programa de transferência de renda instituído pelo governo Lula. "Estava lá, esperando para ser encontrado." A tecnologia já existia e foi implantada da maneira certa, disse. "E foi esse tremendo sucesso."
Sócio-fundador do centro de estudos Casa das Garças, o economista começou sua exposição com uma comparação entre a baixa produtividade do trabalhador no Brasil e no México.
Depois, foi questionado por estudantes brasileiros e estrangeiros do curso do professor brasileiro Sidney Nakahodo –que dá aulas de desenvolvimento político, social e econômico brasileiro em Columbia.
Bacha argumentou que a raiz da crise é política. Questionado sobre quais medidas o governo deveria adotar, ele disse que não há uma em particular como havia quando da implementação do Plano Real, em 1994. "Não há um problema de fundamento na economia. O que se precisa é de uma visão a longo prazo."
Ele defendeu uma abertura maior da economia e criticou as escolhas dos governos do PT, que, segundo ele, não impediram o inchaço do Estado nem posicionaram o país de forma estratégica no comércio internacional.
Sem citar especificamente a CPMF, cuja recriação é defendida pelo governo, Bacha disse que o país "não precisa de mais impostos".
"No Brasil, a gente taxa muito bem. A [Receita Federal] é uma das instituições mais eficientes do país", ironizou ao citar a carga tributária de 36%, a maior da América Latina.
Para Bacha, é urgente uma contenção dos gastos correntes para diminuir o deficit e abrir espaço para investimentos em infraestrutura e melhoria da educação.
Essa contenção envolveria a reforma da Previdência e a desvinculação das receitas da União, o que daria mais flexibilidade aos recursos previstos no Orçamento.
Ele disse que a adoção da idade mínima para aposentadoria é crucial para diminuir os gastos do governo.

MUDAR O EIXO
Parcerias no chamado eixo Sul-Sul, por exemplo, são pouco produtivas: "A gente deveria ir aonde o mercado está", sustentou. "No Brasil, a gente desenvolveu uma mentalidade de que podemos ser autossuficientes e é difícil enfrentar isso. A primeira coisa que o [ex-presidente] Lula fez ao assumir o governo foi riscar fora a Alca [Área de Livre-Comércio das Américas, criada pelos EUA]."
O economista criticou a baixa competitividade das empresas brasileiras, que estariam acomodadas pela proteção do Estado. "Não há pressão para que alcancem melhor desempenho", disse.
Bacha afirmou que a queda no preço de commodities não deveria afetar o agronegócio brasileiro, que, ainda que em expansão, deveria ser mais forte. "O Brasil é grande o suficiente para não precisar escolher um setor [a desenvolver]: ou manufaturas, ou commodities ou serviços."

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Venezuela: de Chávez ao cadeado? Depois ao porrete?

Parece que a situação da e na Venezuela vai continuar se deteriorando, com aumento da repressão, do autoritarismo, da violência, até algum tipo de ruptura, que desejaríamos pacífica, mas as milícias fascistas do bolivarianismo não estão dispostas a ceder o poder.
Os companheiros daqui também gostariam de continuar no poder indefinidamente, mas salvo os brucutus do MST ainda não dispõem de condições para impor seus Tonton-MaCUTs, ou seja, seus fascii de combatimento, na pior tradição do fascismo mussoliniano.
Pobre Venezuela


Editorial O Estado de São Paulo, 26.04/2013

Como se sabe, Nicolás Maduro venceu a eleição presidencial venezuelana por um fio, uma vantagem de menos de dois pontos porcentuais sobre seu adversário, Henrique Capriles, mas seu governo está agindo como se tivesse tido 100% dos votos e como se Capriles representasse não metade do eleitorado, mas um bando de delinquentes.
É esse o tom do “diálogo” que Maduro ofereceu à oposição em seu discurso de posse. “Estou disposto a conversar até com o diabo”, afirmou o eleito, no mesmo pronunciamento em que comparou os opositores aos nazistas.
Mal acabou a cerimônia de posse, porém, Maduro e seus correligionários passaram a articular a condenação de Capriles sob a acusação de ter incitado os protestos após a eleição, nos quais houve nove mortos – todos chavistas, segundo o governo, que tem sido a única fonte de informações a respeito das vítimas. Por ora, não foram exibidas provas, e Capriles nega responsabilidade.
O cerco a Capriles segue o figurino chavista: finge-se cumprir a lei e prestigiar as instituições para chegar a um resultado totalmente arbitrário e danoso para a democracia. Seguindo esse modelo, Capriles está sendo acusado num processo cujo desfecho, mantidas as atuais condições, é conhecido de antemão: ele poderá ser exemplarmente condenado.
A Assembleia Nacional instalou uma comissão para apurar a responsabilidade pelos confrontos. Todos os seus 11 integrantes são do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), a agremiação chavista. Segundo o presidente da comissão, deputado Pedro Carreño, a oposição foi deixada de fora porque “não é democrática e não pode fazer parte de uma comissão democrática”, já que não reconhece a eleição de Maduro.
Carreño não deixou dúvida sobre a isenção dos trabalhos que ele presidirá. Segundo o deputado, serão investigadas “todas as ações fascistas geradas pelo assassino Capriles e seu comando de campanha”, e a comissão parlamentar “servirá para desmascarar a canalha midiática, o golpismo e o fascismo, além da direita reacionária, criminosa e assassina que Capriles dirige”.
O próprio presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, que cassou a palavra dos deputados da oposição, disse que “as mortes ordenadas pelo fascista assassino Capriles não podem ficar impunes”. No mesmo tom, a ministra para os Serviços Penitenciários, Iris Varela, disse que já está “preparando a cela” para Capriles, porque ele “tem de pagar por seus crimes”.
Não são apenas Capriles e os deputados oposicionistas que estão sofrendo perseguição implacável. Há informações de que funcionários públicos estão sendo assediados e demitidos porque se declararam eleitores da oposição. Além disso, sob o pretexto de acabar com as “sabotagens” que, segundo os chavistas, são a causa dos constantes apagões no país, Maduro militarizou a estatal de eletricidade, usando a oposição como bode expiatório para a incompetência do governo na gestão do setor, que está sucateado.
Foi nessa atmosfera de intimidação que o governo de Maduro recebeu o respaldo integral da presidente Dilma Rousseff, que logo lhe telefonou para dizer que estava “pronta para trabalhar junto” com ele. Ao justificar seu apoio e o dos demais países da Unasul (União das Nações Sul-Americanas) a Maduro, Dilma disse que reiterava “os compromissos com os processos democráticos”. Ora, se assim é, Dilma e a Unasul deveriam ter ao menos mencionado, em algum momento, a necessidade da restauração de um mínimo de normalidade democrática na Venezuela.
Mas não. Enquanto as instituições republicanas são destroçadas na Venezuela, e o principal líder da oposição, dono de mais de 7 milhões de votos, pode ser encarcerado num processo claramente viciado, Dilma e seus parceiros bolivarianos agem como se vigorasse naquele país o mais perfeito Estado de Direito, como se o “diálogo” prometido por Maduro fosse possível diante de tanta truculência.
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Analistas

Globovision, 26 / 04 / 2013
- 07:53:16
La crisis política
La crisis política
Ramón Guillermo Aveledo / Globovisión
El principal ingrediente de la crisis política venezolana es que un actor fundamental de ella, el grupo en el poder, no quiere admitirla, como parte de su rebeldía ante la realidad, la misma que le impide leer cabalmente el resultado electoral del pasado domingo 14. 

La Constituciòn, y los órganos del poder público que en ella se originan, no pueden ser concebidos en clave partidista sino nacional. Decir “aquí hay una legalidad y unas instituciones que deben respetarse” mientras se las irrespeta desde dentro y desde arriba, al usarlas para imponer un modo de pensar, es vaciar de significado a esa institucionalidad porque deja de ser protectora de la convivencia para convertirse en arma de unos contra otros. 

Lo que Capriles y la Unidad han pedido es la revisión de un resultado estrecho que se anuncia en medio de circunstancias que van mucho màs allà de la duda razonable. Lo han pedido ante el Poder Electoral con un indiscutible apoyo de masas. Su pedimento ha sido considerado razonable por la comunidad internacional. El comunicado de Unasur, antes del acto de toma de posesión, se fundò en que el CNE declaró acceder a la solicitud de Capriles, de lo cual ahora se retracta en la pràctica con circunloquios y pretextos de un formalismo que nunca practicaron, por ejemplo, para velar por la equidad en el debate electoral. 

La respuesta ha sido denunciar un golpe fascista, iniciar una campaña de propaganda que acusa al gobernador de Miranda y a la dirección de la Unidad de sedición y les atribuye actos de violencia y los amenaza con la cárcel, usando para ello al Ministerio Pùblico y a despachos gubernamentales como los ministerios del Interior y Servicios Penitenciarios. En una escalada que desnuda su naturaleza han abolido de facto el parlamento al agredir diputados en pleno hemiciclo y negar el derecho de palabra como censura a su opinión política aparte de constituir con el nombre de “comisión” un pelotón de fusilamiento, se ha abusado de los medios públicos y las cadenas de radio y televisión para difundir mentiras propagandísticas, se ha amenazado y perseguido a empleados públicos, se ha detenido manifestantes a quienes han además agredido física y moralmente. 

El grupo en el poder actùa como si los resultados oficiales dados por el CNE, cuya revisión ha sido solicitada y cuya impugnación ha sido anunciada, lo autorizaran para creerse la totalidad del país y no una parte de èl, por muy importante que sea. Segùn esos números, que han sido cuestionados, el candidato proclamado Presidente, habrìa recibido el 50.78% de los votos y Capriles el 48.95%. Los cuatro restantes aspirantes a la Presidencia recibieron el 0.24% del escrutinio oficial publicado ¿No sería sensato, aùn con base en ellos, reconocer a esa mitad del país y tratarla con respeto? ¿A dònde puede llevarnos ignorar a media Venezuela e intentar imponerle un modelo que rechaza? 

Unos resultados oficiales impugnados cuya revisión formal se niega con trucos de apariencia formal y contradicciones, y con base en los cuales se persigue a la mitad de la población cuya legitimidad se desconoce. El problema no es que unos venezolanos exijan evidencias concluyentes para reconocer el gobierno, sino que el gobierno no reconoce a los venezolanos.  Ese es el corazón de la crisis política nacional. 

GABINETE 

Los ministros designados reflejan la triste realidad de un poder solitario y prisionero. Solitario porque al negarse al reconocer al país se niega a sì mismo la posibilidad de incorporar talentos y experiencias variados y valiosos. Prisionero, porque quien ejerce la Presidencia està sometido a una especie de “consejo de tutela”, rodeado por un cìrculo que exige cuotas y al cual debe complacer para mantener tranquilos. 

El gabinete no tiene novedad ni en los nuevos ministros, que son nombres usados en estos catorce años en distintas funciones de alto nivel. 

Hay unos ministros “intocables”, que son los que ocupan las carteras principales. Y otros que parecen extras, relleno, eso que en el léxico español del espectáculo llaman figurantes. 

La ratificación de Molina en Vivienda, a pesar de su declaración desconociendo la legislación laboral, y de Varela en Prisiones, no obstante su fracaso escandaloso, son síntomas de una contumacia que no promete sino conflicto y fracaso. 

La designación del cordial Nelson Merentes en Finanzas ha sido bien recibida en sectores económicos. Es un hombre con quien se puede hablar, repiten con razón, alegres de haberse liberado de Giordani. Pero ojo, ese optimismo debe ser cauteloso. El enigmático y dogmàtico profesor no salió del gobierno, permanece en Planificaciòn (cargo desde el cual ya antes estorbò bastante) y en las directivas del BCV y Pdvsa. Ademàs, las restantes designaciones en el área económica y el discurso de Maduro, no presagia las rectificaciones que la realidad reclama a gritos. ¿podrà el gobierno zafarse del dogma? Veremos. 

Lo que sì es evidente es que, aunque no lo admitan, sì saben que hay realidades que deben atender y ante las cuales la propaganda no basta. 

El nombramiento de Jesse Chacòn en Electricidad y sus primeros anuncios deja claro que la versión oficial del “saboteo” como causante de la crisis eléctrica era falsa y que ellos estaban conscientes de eso aùn cuando lo sostenían pùblicamente. El nuevo ministro ha propuesto medidas técnicas y ha intervenido Corpoelec, lo cual ha motivado la renuncia de Argenis Chàvez, nada menos. 

El que en Ambiente se coloque a Dante Rivas, uno de los pocos ejecutivos con buena fama del elenco, por sus actuaciones en el Saime y el INTTT, debería ser un síntoma de querer atender algo que por negligencia, incompetencia y terquedad se ha venido agravando, como es el del agua. Una crisis del agua similar a la eléctrica se avizora. La han venido advirtiendo expertos venezolanos capaces y responsables. 

EL MENSAJE DEL PAPA 

El domingo 21, Su Santidad Francisco declaró seguir de cerca los acontecimientos de nuestro país, a los cuales acompaña “…con profunda preocupación, con una oración intensa y con la esperanza de que se busquen y encuentren los caminos justos y pacíficos para superar el momento de grave dificultad que el país està atravesando.” 

No quiso quedarse allì, y se adentrò en el terreno de los hechos: “Hago un llamado al querido pueblo venezolano, especialmente a los responsables políticos e institucionales, a rechazar firmemente cualquier tipo de violencia, y a establecer un diálogo basado en la verdad, en el reconocimiento mutuo, en la búsqueda del bien común y en el amor por la Naciòn.” 

Finalmente, pidiò “….a los creyentes que recen y trabajen por la reconciliación y la paz…” e invitò a los católicos venezolanos a unirse a èl “…en una oración llena de esperanza por Venezuela, poniéndola en manos de nuestra Señora de Coromoto.” 

El mensaje del Papa nos llama a la reflexión, pero también a conductas concretas. 

ESTA SEMANA, EN LOS MEDIOS… 

“No sè si el Gobierno del vociferante Maduro pase la prueba de un recuento de votos. Pero si fuera asì, està claro que Venezuela tiene un líder valeroso (Henrique Capriles) y una oposición unida.” 

Enrique Krauze, intelectual mexicano, en su artículo “El ardid y el valor” en El Paìs, Madrid, 22 de abril de 2013. 


domingo, 22 de julho de 2012

Paraguai-Mercosul: Tribunal de Revisao nao revisa, apenas protela...


Paraguay: Tribunal del Mercosur desestima demanda contra suspensión

Infolatam/Efe
Asunción, 22 de julio de 2012

Las claves
  • La cancillería paraguaya acusó al TPR de configurar "una situación de denegación de Justicia" al aceptar su competencia para tratar la cuestión de fondo planteada en la demanda de Paraguay, "pero derivar la solución" a "un procedimiento de cumplimiento imposible".
  • Argentina, Brasil y Uruguay resolvieron, el 29 de junio pasado suspender temporalmente la pertenencia de Paraguay al Mercosur aduciendo que el país sufrió un "quiebre democrático" con la destitución Lugo.
El Tribunal Permanente de Revisión del Mercosur desestimó una demanda de Paraguay contra la suspensión temporal del país de ese mecanismo de integración comercial y la inclusión de Venezuela.  Paraguay calificó de “inaceptable” el fallo.
Según la resolución del tribunal, adoptada en la noche del sábado pero que solo se conoció a través de algunos medios locales de comunicación, no ha lugar a la demanda presentada por Paraguay el pasado día 9.
El Tribunal evitó pronunciarse sobre el pedido de Paraguay y se limitó a señalar que no podrá dar trámite al reclamo porque no se agotaron las instancias previas previstas para los casos de controversias.
La demanda fue presentada por el gobierno del presidente Federico Franco, quien sustituyó en la jefatura del Estado a Fernando Lugo, destituido hace un mes mediante un rápido juicio en el Senado.
El tribunal, que tiene su sede en Asunción, está integrado por dos representantes de Brasil, uno de Argentino, otro de Uruguay y el quinto de Paraguay.
Uno de los abogados del Ministerio de Relaciones Exteriores, el excanciller José Antonio Moreno Rufinelli, dijo al diario Ultima Hora que en el transcurso de este domingo darán una respuesta a la resolución del tribunal.
Argentina, Brasil y Uruguay resolvieron, el 29 de junio pasado suspender temporalmente la pertenencia de Paraguay al Mercosur aduciendo que el país sufrió un “quiebre democrático” con la destitución Lugo.
En un comunicado, la cancillería paraguaya acusó al TPR de configurar “una situación de denegación de Justicia” al aceptar su competencia para tratar la cuestión de fondo planteada en la demanda de Paraguay, “pero derivar la solución” a “un procedimiento de cumplimiento imposible”.
En el laudo con fecha de ayer que difundió hoy la cancillería, el TPR consideró por unanimidad que “no están presentes los requisitos para la admisibilidad del procedimiento excepcional de urgencia” reclamado por Paraguay para que el tribunal declarara “inaplicables” la suspensión del país y la entrada de Venezuela en el Mercosur.
Ambas decisiones se adoptaron el 29 de junio pasada en la cumbre del bloque realizada en Argentina, sin presencia paraguaya, en castigo por el “quiebre democrático” que, en opinión de Brasil, Argentina y Uruguay, se produjo con la destitución de Fernando Lugo de la Presidencia paraguaya hace hoy un mes.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Trapalhadas no Mercosul - Sergio Leo (Valor)

Existem muitos equívocos no que foi feito em Mendoza, e depois.
Eu apenas recomendaria que as pessoas -- aqui incluído o Advogado Geral da União -- lessem os principais instrumentos jurídicos do Mercosul (que a Venezuela jamais ratificou) para constatar onde estão as ilegalidades cometidas em várias etapas deste triste e patético processo.
Paulo Roberto de Almeida 



Por Sergio Leo | De Brasília
Valor Econômico, 17/07/2012

A cerimônia de ingresso da Venezuela no Mercosul, marcada para o dia 31, terá efeito simbólico, e só em agosto os governos do bloco esperam que possa ter efeito legal, de acordo com as regras do protocolo de adesão firmado pelo país em 2006. "Será uma cerimônia política", reconheceu, em conversa com o Valor, o assessor internacional da presidência de República, Marco Aurélio Garcia. Os paraguaios, que não foram ouvidos, contestam até o prazo de agosto, alegando que, sem o voto do Paraguai a incorporação é impossível.
No dia 31, será reativado o grupo de trabalho criado para discutir as condições de entrada da Venezuela no Mercosul, especialmente a adesão dos venezuelanos à Tarifa Externa Comum (TEC) do bloco, que garante imposto de importação idêntico nas transações com terceiros países. A definição sobre a TEC é pré-condição para o ingresso no Mercosul, mas o grupo de trabalho deverá ter um prazo, ainda não estipulado, para definir como a Venezuela adotará esse compromisso. Pelas regras do bloco, essa definição deveria ocorrer antes da incorporação do país.
Os sócios do bloco têm um número limitado de produtos com autorização a ter tarifas diferentes da TEC - são 200 no caso da Argentina e Brasil e mais para os países menores. Os venezuelanos deverão reivindicar também sua lista - há indicações de que querem mais de 200 produtos.
A Venezuela aprovou o protocolo de adesão ao Mercosul em 2006, mas não informou até hoje como pretende cumprir os compromissos do bloco, a começar pela TEC. Até sexta-feira, nem havia registrado nos órgãos do Mercosul a ratificação do protocolo de adesão pelo Congresso. Só na sexta-feira houve o registro, na Secretaria do Mercosul (e não no governo paraguaio, como estava previsto no protocolo). Com o registro, começou a ser contado o prazo de 30 dias antes que se possa oficializar a entrada do novo integrante do Mercosul como membro pleno. Especialistas e o governo paraguaio contestam esse prazo, porque o depósito não foi feito no Paraguai e o país não foi ouvido.
"Está tudo resolvido", diz Garcia, que afirma ter recebido garantias do governo venezuelano de que não haverá retrocesso nos compromissos assumidos e será regularizada a situação do país para entrada no bloco.
Durante as reuniões do grupo de alto nível criado para discutir a entrada da Venezuela, o governo venezuelano chegou a propor adiar a redução de tarifas já prevista no acordo de livre comércio existente entre o país e o Mercosul - que prevê o fim de taxação no comércio até 2014, com uma pequena cesta de produtos "sensíveis" a ser liberalizada só em 2019.
A ideia não foi aceita, mas também não se cumpriu a previsão, inscrita no protocolo de adesão, de livre comércio a partir de janeiro de 2012. A maior parte do comércio, porém, já tem tarifa, atestam especialistas do setor privado.
A maior expectativa do governo brasileiro e do setor privado é a aplicação, na Venezuela, da tarifa externa comum, que implicaria taxação de 35% para automóveis, por exemplo, hoje submetidos a tarifas inferiores. "A maior parte do que a Venezuela consome ainda vem dos EUA. Nesse mercado vai haver mudança importante a nosso favor", avalia Garcia, que conta com a tarifa externa do Mercosul para dar vantagem competitiva a produtos brasileiros, como automóveis e máquinas e equipamentos.
Mesmo com a vantagem da TEC, porém, há restrições a importações na Venezuela, devido à necessidade de divisas estrangeiras para garantir o equilíbrio das contas externas venezuelanas, afetadas com a queda nos preços do petróleo. O governo brasileiro argumenta que a entrada dos venezuelanos no Mercosul dará mais instrumentos, inclusive jurídicos, para negociar o fim de barreiras injustificadas ao comércio - ainda que os problemas tenham aumentado, e não diminuído, com o maior sócio no bloco, a Argentina.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Assim e', se lhe parece... -- Mercosul vs OEA no embate paraguaio

Parece que a cláusula democrática do Mercosul é melhor do que a da OEA.
(Se você duvida, compare as duas...)
Parece que a OEA deveria ter seguido o Mercosul e a Unasul.
(Como se sabe o Mercosul e a Unasul são maiores, e muito melhores, do que a OEA).
Parece que a OEA precisa ser coerente com o que fazem o Mercosul e a Unasul.
(A OEA é um poço de coerência, como se viu no caso de Honduras, no caso permanente da Venezuela, e vários outros casos também).
Assim é, se lhe parece, como diria Pirandello...
Paulo Roberto de Almeida 



Luciana Coelho, de Washington
Folha de S.Paulo, 11/07/2012

Saída de Lugo foi legal, diz missão da OEA
Relatório sobre Paraguai aponta que há 'opiniões divergentes' sobre se destituído teve tempo para 'legítima defesa'
Brasil e demais sócios do Mercosul atacam texto, que não sugere punição; nova sessão deve analisar informe

A missão ao Paraguai liderada pelo secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, José Miguel Insulza, concluiu que o sumário impeachment do presidente Fernando Lugo respeitou a Constituição local e que as instituições democráticas, por ora, estão preservadas.
Segundo relatório da missão apresentado ontem ao Conselho Permanente do organismo, em Washington, "o julgamento político foi feito estritamente conforme o procedimento constitucional".
"Ainda assim, há opiniões divergentes sobre se os prazos concedidos permitiram o exercício da legítima defesa do acusado", leu Insulza.
Lugo, destituído em junho, teve só quatro horas para preparar sua defesa, diz a OEA.
Insulza encontrou forte rechaço dos aliados de Lugo à esquerda, como o Brasil.
Para o ministro Breno Dias da Costa, que representa Brasília na OEA, o texto "traz mais do que foi pedido" a Insulza: "Temos de ser coerentes com o que o Mercosul e a Unasul decidiram".
O Mercosul e a Unasul suspenderam o Paraguai por desrespeito à democracia, sem sanções econômicas.
Insulza desencorajou punições ao país e alegou que em "apenas dez meses" deve haver "eleições democráticas". Sugeriu o envio de uma missão de monitoramento da OEA para acompanhar a campanha e o pleito.
Um dos argumentos de Insulza, que chefiou a missão composta por EUA, Canadá, México, Honduras e Haiti, é que Lugo aceitou publicamente o impeachment e está em "plena liberdade". O mesmo defende o Paraguai.
Vários países da OEA pediram tempo extra para examinar o relatório com seus governos. Depois disso, Insulza marcará sessão para debater eventuais punições, que vão de advertência à suspensão.
"Seria muito ruim [que o relatório] servisse para passar a mão na cabeça de um processo anômalo como o do Paraguai", disse o assessor internacional da presidente Dilma Rousseff, Marco Aurélio Garcia, à Folha.
Ressalvando ter lido só extratos do texto, Garcia disse que as cláusulas democráticas do Mercosul são "mais avançadas" que as da OEA.
"Não se discute se no Paraguai foi golpe ou não; é questão para cientistas políticos. O importante é que não se pode olhar o que ocorreu só amparado no direito substantivo. Tem de olhar todo o processo. O direito de defesa foi assegurado? A acusação foi acompanhada de provas? Que negócio é esse, então?"

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Patriota pede que OEA siga exemplo do Mercosul e da Unasul e puna Paraguai

Para ministro brasileiro, é importante considerar as decisões dos blocos


O Estado de S.Paulo, 12/07/2012


BRASÍLIA - O Brasil espera que a Organização dos Estados Americanos (OEA) leve em consideração a suspensão imposta ao Paraguai pelo Mercosul e pela União das Nações Sul-americanas e decida também tomar medidas contra o país, apesar da posição contrária manifestada na quarta-feira, 11, pelo governo dos Estados Unidos.

"Esperamos que a OEA considere a posição que foi tomada pelos vizinhos fronteiriços do Paraguai. É importante no multilateralismo que o órgão mais amplo leve em consideração o que os subgrupos regionais pensam. Isso acontece, por exemplo, no Conselho de Segurança das Nações Unidas", afirmou nesta quinta-feira, 12, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota.
Ontem, ao sair de uma audiência pública no Senado, o ministro desconsiderou a avaliação feita pelo secretário-geral da Organização, Miguel Insulza, que afirmou, depois de uma visita a Assunção, que a suspensão do Paraguai não seria produtiva e poderia prejudicar economicamente o país. Segundo o chanceler, os países da Unasul trabalharão em conjunto na OEA, mantendo a mesma posição de suspender o Paraguai por rompimento da ordem democrática.
Sem embaixador
No entanto, não há grandes expectativas por uma decisão da OEA, que precisa ser tomada por consenso. Até agora, o caso do Paraguai não foi nem mesmo objeto de conversas mais aprofundadas. Apenas o relatório de Insulza foi apresentado. Uma reunião está marcada para o próximo dia 18 e só então os 34 membros devem começar uma discussão. Mas, se não houver chance de um consenso, o tema não é levado oficialmente para a assembleia e nenhuma decisão é tomada.
Apesar de considerar que o Paraguai descumpriu também a cláusula democrática da OEA, o governo brasileiro não pretende pressionar por uma suspensão. É mais uma demonstração do pouco apreço que Brasília tem pela organização, que considera esvaziada e, hoje, pouco relevante.
Não há nem mesmo um embaixador brasileiro na OEA, apenas o encarregado de negócios, segundo na hierarquia de uma representação, desde a retirada de Ruy Casaes após a representação do Conselho de Direitos Humanos contra o Brasil por conta da construção da usina de Belo Monte.

The Economist examina o Mercosul sob sua lupa neoliberal...

Corrijo: a Economist não é neoliberal, ela é apenas liberal.
Corrijo também o epíteto que me deram: "dissident diplomat".
Absolutamente não: o que apenas mostrei, neste post: 
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2012/07/venezuela-no-mercosul-como-pode-entrar.html
é que a Venezuela não ratificou sequer o seu próprio Protocolo de Adesão, além de 130 outros instrumentos do Mercosul, entre eles alguns que hoje talvez sejam "desimportantes", como o Tratado de Assunção, o Protocolo de Ouro Preto, o Protocolo de Olivos sobre Solução de Controvérsias, e uma miríade de outras normas essenciais do bloco comercial, entre elas a Tarifa Externa Comum.
Ou seja: eu não sou dissidente; apenas estou do lado da legalidade.
Como é que o Mercosul vai apresentar a Venezuela ao Gatt-OMC?
Como um amigo de passagem, um visitante temporário, um hóspede eventual, um primo que ainda não conseguiu se ajustar aos novos hábitos do Cone Sul, um parente bizarro que tem dificuldades em cumprir regras mínimas de uma "união aduaneira em implementação"?
Qualquer que seja a escolha, os demais países membros da OMC têm direito de saber sob quais tarifas eles poderão exportar para a Venezuela, entre eles Israel, país com o qual o Mercosul tem um acordo de livre comércio, mas com o qual a Venezuela de Hugo Chávez rompeu relações diplomáticas.
Bizarro tudo isso, pois não?
Enfim, até que a situação se esclareça, vamos ler a Economist...
Paulo Roberto de Almeida 

South American integration

Mercosur RIP?

Mounting protectionism and the rule-breaking admission of Venezuela have fatally undermined a once-promising trade block

IT WAS such a good idea. In 1991 Brazil and Argentina set aside decades of rivalry and, together with smaller Uruguay and Paraguay, founded Mercosur as a would-be common market. The project went hand-in-hand with a broader opening of inward-looking economies. Diplomats got to work on harmonising trade rules. Cross-border trade and investment boomed.
Yet Mercosur, like the European Union (EU) on which it was modelled, ran into difficulties. Brazil’s devaluation in 1999 caused Argentina to seek, and obtain, emergency restraints on imports from there. Politically negotiated exceptions to the block’s rules became the norm. Nevertheless, a dispute-settlement body and a small secretariat were eventually set up. In 2010 the presidents finally agreed on a common customs code, to avoid outside goods having to pay tariffs more than once.
But under left-wing governments, Brazil and—especially—Argentina have become more protectionist. They have come to see Mercosur as a fortress, rather than a bridge: outside South America, the only trade deals concluded by the block in the past decade were with Israel and the Palestinian Authority. Negotiations with the EU, begun in 1999, have languished. Although intra-Mercosur trade has continued to rise in absolute terms, it represents a much smaller share of each member’s total exports than at its peak in 1997 (see chart). That is partly because the commodity boom has lifted the group’s exports to the rest of the world. But it also because Mercosur has not evolved into the seamless single market its founders dreamed of.
Since January 2011 Argentina has increased (to 600) the items for which import licences are not automatic—a measure accepted by the World Trade Organisation (WTO) that allows countries to detain imports for up to 60 days. Exporters to Argentina complain that the delays are even longer. Since February, it has required importers to swear an affidavit with the tax agency before ordering goods. That has prompted a host of complaints against Argentina at the WTO. Its Mercosur partners have not been exempted: so far this year, Brazil’s exports to Argentina are down 15% on the same period in 2011, while Uruguay’s are down by 10%. Brazil has responded by imposing some barriers on Argentine exports.
Mercosur now faces a new, self-inflicted, problem—one that could potentially break it apart. Meeting on June 29th in Mendoza, Argentina, the presidents suspended Paraguay for a year, following the lightning impeachment the previous week of Fernando Lugo, the country’s left-wing president. His ousting, by 39 votes to four in the Senate, was abrupt and misguided—but constitutional. Nevertheless, the others decided it offended Mercosur’s “democracy clause”. They went on to admit Hugo Chávez’s Venezuela as a full member of the group; Venezuela’s application had been held up for years because Paraguay’s Senate had refused to approve it.
Violating due process
All this was legally questionable. Mercosur’s rules require decisions to be unanimous, with all members given a fair hearing. The envoy of Paraguay’s new government was turned away in Mendoza. Its foreign ministry denounced the suspension as “not only illegal but illegitimate and in violation of due process”. Bernadino Hugo Saguier, the country’s ambassador to the Organisation of American States, said: “if we took a poll, 90% of Paraguayans would vote to quit” Mercosur.
What makes these decisions more perverse is that Venezuela’s democracy is as flawed as Paraguay’s, albeit in different ways. Mercosur was set up to be a group of liberal democracies advancing free trade in South America. Mr Chávez is unenthusiastic about these causes. He has variously called for a “new Mercosur”, with a dose of “political Viagra” that would “decontaminate neoliberalism” in the block, and instead “prioritise social concerns”.
Although Mr Chávez agreed in principle to adopt Mercosur’s common external tariff, his government has yet to implement this—or indeed any but one of the 131 formal decisions taken by the block so far, according to Paulo Roberto de Almeida, a dissident Brazilian diplomat. Under Mr Chávez, the state has taken over many industries, and non-oil exports have shrivelled. But Venezuela’s oil wealth has offered opportunities to Argentine and Brazilian companies, especially in government contracts. Its entry is of “strategic interest” to Mercosur, Brazil’s foreign minister, Antonio Patriota, said this week.
To a greater or lesser extent, the governments of Brazil and Argentina share Mr Chávez’s view that Mercosur should primarily serve the cause of political union, and act as a rival project to what they see as the free-trade agenda of the United States in Latin America. “The founding idea that Mercosur would be an instrument of trade liberalisation has disappeared,” says Rubens Barbosa, a former Brazilian diplomat involved in the block’s creation. “What we have today is a political and social forum, and micromanagement of trade.”
The decision to admit Venezuela is already prompting buyer’s remorse. Uruguay’s vice-president, Danilo Astori, called it perhaps the most serious “institutional wound” in Mercosur’s history; the country’s foreign minister also criticised the way the decision was taken.
Turning Mercosur into a political union has in practice meant that its decisions are based on the preferences of the current left-of-centre governments, rather than on long-term national interest. It also means that it is hard to spot the difference between Mercosur and the South American Union, a broader but shallower group.
This is a costly moment for Mercosur to neglect its primary purpose. In June Brazil’s seasonally adjusted trade fell into deficit for the first time since 2000, says GlobalSource Partners, a consultancy. The commodity boom looks to be drawing to a close. Credit growth is slowing; retail sales fell in May (see article). Brazil’s manufacturers are losing markets to China.
The fastest-growing part of South America is the free-trading Pacific countries (Chile, Colombia, and Peru), which have shunned full membership of Mercosur. Brazil has chosen as its main allies protectionist Argentina and Venezuela, which practises an archaic state socialism. To revive economic growth, Brazil needs to put more stress on competitiveness and market-opening trade diplomacy. Mercosur once aspired to do precisely that. A group that now consists of little more than bear-hugs and kisses among compañeros serves little purpose in a harsher world.