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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Escritos que precederam o ostracismo (2002) - Paulo Roberto de Almeida

Uma introdução e uma listagem de trabalhos escritos (vários inéditos) no decorrer de 2002, meses antes que os companheiros assumissem o poder. Eles certamente leram alguns desses trabalhos "perigosos" e talvez tenham sido motivados por isso mesmo a me manterem afastado de qualquer trabalho na Secretaria de Estado durante todo o período em que eles se empenharam em roubar o Brasil. Eu já os tinha farejado de longe...
Divirtam-se, quem puder. Eu posso apenas constatar a extensão da "provocação".
Paulo Roberto de Almeida


Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, professor 
Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, IPRI-Funag
Brasília, 17 de agosto de 2018

Alinho a seguir, por dever de transparência, uma lista seletiva de possíveis textos, alguns publicados, outros inéditos, produzidos no decorrer de 2002, que apoiam e provavelmente justificam o “exílio” (ou ostracismo) a que estive submetido durante todo o decorrer do regime lulopetista no Brasil, ou seja, de janeiro de 2003 a maio de 2016, exatamente o dobro de meu primeiro exílio, voluntário, durante o regime militar. Apenas alguns títulos já justificariam o ostracismo a que fui condenado, compreensível, digamos, na visão censória e sectária dos defensores de uma postura totalitária (que sempre foi a do partido companheiro), mas inadmissível num contexto democrático. 
Esses textos, vários revelados aqui pela primeira vez, testemunham de minha condição de adversário, no começo apenas sutil, depois declarado, do regime instalado no Brasil em janeiro de 2003. Os companheiros, diga-se a verdade, confirmaram as minhas piores expectativas. Eu sabia que eles eram ineptos e corruptos; apenas não desconfiava que fossem TÃO corruptos, o que confirmou-se amplamente logo em seguida: já em 2003, pelo aparelhamento deslavado do Estado, em 2004, por um primeiro escândalo no gabinete do Richelieu do Planalto, e imediatamente após, no episódio do Mensalão, milhares de vezes superado pelo escândalo do Petrolão, ainda não devidamente contabilizado. Eles formavam uma organização criminosa que se apossou do Estado, o que eu vim a constatar plenamente com o Mensalão.
Sempre me pautei por total transparência quanto a minhas opiniões e posturas e nunca escondi de ninguém – até mesmo no regime “neoliberal” anterior – o que pensava sobre política externa e sobre as políticas públicas de modo geral. Como regra básica, posso dizer que nunca deixei o cérebro em casa quando saia para trabalhar; tampouco o depositava na portaria quando ingressava no trabalho cotidiano. Nunca hesitei em contrapor-me a colegas ou superiores, com base na minha percepção e em meu conhecimento dos problemas que me estavam afetos, ou em uma série de outros que eram apenas objeto de opiniões (ainda que bem informadas). Sempre escrevi o que pensava, e sempre assinei embaixo do que escrevia – salvo raras exceções, na ditadura certamente, na democracia episodicamente – e por isso mesmo nunca me submeti de bom grado a regimes censórios, ou excessivamente disciplinados. Alguns de meus artigos (e mesmo um livro) tiveram partes censuradas no âmbito profissional, o que eu admitia como fazendo parte das regras do jogo, mas no plano estritamente diplomático. No plano das opiniões políticas, eu sempre me senti livre para escrever o que pensava, e publicar o que desejava divulgar, nem sempre com autorização (pois julgava que isso só valia para textos estritamente diplomáticos, ou seja, sobre política externa do Brasil).
O partido companheiro, que assumiu o poder em janeiro de 2003, já estava sob “observação” desde muito tempo antes, praticamente desde a sua fundação, mas só comecei a escrever sobre ele, já na carreira diplomática, quando passei a me dedicar aos temas da interação entre partidos políticos e a política externa. Escrevi vários artigos nos anos 1980 e na década seguinte, seguindo as eleições e os posicionamentos dos candidatos durante as campanhas presidenciais ou adotados no curso dos debates públicos. Já tinha escrito, por exemplo, que o PT era um típico partido esquerdista latino-americano, mas prometido (em minha visão) a uma revisão reformista em função da evolução natural dos partidos socialdemocratas. Creio ter negligenciado a dominação cubana sobre os membros do PT, tanto os sindicalistas mafiosos quanto os guerrilheiros reciclados, vários treinados em Cuba, e que nunca deixaram de ser sectários, fortemente vinculados aos cubanos e dotados de comportamento neobolchevique, alguns até pior do que isso (um pouco ao estilo gangster).
Independentemente da trajetória dos companheiros no cenário político nacional, continuei escrevendo meus artigos e divulgado (não todos) em veículos basicamente discretos (pasquins universitários em sua maior parte). Ou seja, nunca escondi o que eu pensava dos companheiros, e das melhores políticas que eu entendia devessem orientar as grandes opções de Estado em prol do crescimento sustentado, com transformações produtivas e distribuição social dos resultados de um bom funcionamento da economia de mercado. Em outros termos, o meu marxismo juvenil estava longe, e eu me pautava essencialmente por políticas não necessariamente “liberais”, mas basicamente racionais, ou seja, adaptadas às necessidades da economia brasileira, tema obsessivo de minhas pesquisas, estudos, escritos, artigos publicados ao longo de anos e anos. 
Os artigos aqui listados são de natureza mais política do que econômica, e bem mais conjunturais do que ensaios históricos ou conceituais. Eles são uma mostra do que eu pensava no ano que precedeu a assunção ao poder dos companheiros. Não hesito em dizer que foi em função desses artigos, alguns de circulação muito restrita, que estão na origem de meu “segundo exílio”, entre 2003 e 2016, período no qual estive afastado de qualquer cargo na Secretaria de Estado das Relações Exteriores durante toda a duração do regime que eu nunca hesite em chamar de lulopetismo. Junto com ele, se exerceu o lulopetismo diplomático, a tal de “política externa ativa e altiva”, uma fraude que encantou muitos acadêmicos enquanto durou, e que ainda deixa nostálgicos essas almas cândidas da academia, como a elas se referia Raymond Aron. 
Vários desses artigos, ou simples textos, aparecem aqui pela primeira vez, já que tomei a providência de inseri-los agora em meu blog; muitos outros já tinham sido postados, embora tardiamente, no blog Diplomatizzando, praticamente dez anos, ou mais, depois de escritos. Creio que eles oferecem um retrato fiel do que eu pensava, sobre os companheiros ou sobre suas políticas equivocadas. Não tenho certeza de que eles forneceram a justificativa para meu afastamento de funções na Secretaria de Estado – um postura, aliás, totalmente irregular, no plano administrativo –, mas o fato é que, enquanto durou o regime companheiro não pude trabalhar na Secretaria de Estado, fazendo da biblioteca o meu escritório de trabalho. Talvez fosse o caso de agradecer agora esses meus algozes: eles me permitiram ler muito mais do que o habitual, e de escrever livremente contra suas práticas e políticas, justamente, numa dessas “leis das consequências involuntárias”. 
Sem mais delongas, passo a listar aqueles textos que julgo mais “saborosos”, digamos assim, e que poderiam “justificar” – se o termo se aplica – meu ostracismo na carreira durante mais de treze anos, a duração total do regime companheiro. Dedico a eles, se me permitem, a atual transcrição.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 17 de agosto de 2018

Lista seletiva de trabalhos de natureza política durante o ano de 2002

844. “O FMI como bode expiatório de políticas equivocadas”, Orlando, 8 janeiro 2002, 2 p. Comentários a carta de leitor responsabilizando o FMI pelos erros de política cambial na Argentina. Publicado sob o título “Diplomata brasileiro comenta observações de leitor sobre o artigo de Rubens Ricupero”, em Jornal da Ciência, JC E-Mail (n. 1951, 11 de jan. de 2002, notícia 17). Blog Diplomatizzando (16/08/2018; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/08/o-fmi-como-bode-expiatorio-de-politicas.html). Relação de Publicados n. 306.

854. “A esquerda jurássica marca encontro em Porto Alegre”, Washington, 24 janeiro 2002, 3 p. Artigo sobre o próximo encontro do Foro Social Mundial, em Porto Alegre, alternativo ao Foro Econômico Mundial, antecipando algumas conclusões. Publicado n’O Estado de São Paulo  (Sábado, 26 jan. 2002, seção “Espaço Aberto). Motivou aplicação da “lei da mordaça” pelo Itamaraty; disponível no blog pessoal (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/a-esquerda-jurassica-marca-encontro-em.html). Relação de publicados n. 309.

863. “Mercosul, Alca e Argentina: opções do Brasil: Comentários a texto de Samuel Pinheiro Guimarães”, Washington, 8 fevereiro 2002, 3 p. Observações críticas a respeito do texto “A Argentina, o Brasil e o futuro do Mercosul”, destinado à revista Carta Maior. Inédito. Blog Diplomatizzando(16/08/2018; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/08/mercosul-alca-e-argentina-opcoes-do.html

875. “A diplomacia que temos e a que não queremos”, Washington, 12 mar. 2002, 4 p. Comentários a artigo de Roberto Mangabeira Unger, coordenador do Instituto Desenvolvimento com Justiça sob o título “Por que o Brasil não tem política exterior?” (Folha de São Paulo, 12/02/2002, p. 3). Encaminhado ao próprio; postado no blog Diplomatizzando (20/08/2017; link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/um-duelo-diplomatico-distancia-com.html), com introdução. 

886. “O Brasil e as perspectivas dos acordos comerciais: Mercosul, Alca, OMC”, Washington, 29 mar. 2002, 24 p. Atualização e ampliação do trabalho n. 798, para fins de palestra no curso do Prof. Gesner Oliveira, na Fundação Getúlio Vargas – São Paulo, em 5/04/2002, 13h. Inédito.

889. “O projeto externo como projeto nacional”, Washington-Miami-Rio de Janeiro, 31 março 2002, 4 pp. Comentários sobre as propostas de política externa dos principais candidatos nas eleições presidenciais de 2002. Divulgado pela primeira vez no blog Diplomatizzando(22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/seguindo-as-disputas-presidenciais-uma.html).

895. “A esquerda francesa e a esquerda brasileira: eleições “didáticas” para políticos tradicionais”, Washington, 26 abr. 2002, 5 p. Reflexões sobre os resultados das eleições presidenciais francesas de primeiro turno e seus ensinamentos para a esquerda brasileira. Publicada em Espaço Acadêmico (Maringá: UEM, Ano I, nº 12, Maio de 2002, link:http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/35907; pdf: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/35907/21066). Versão revista em formato abreviado (4 p.), sob o título “As eleições francesas e a esquerda brasileira”, feita em 9.05.02. Publicado no boletim Carta Internacional (São Paulo: NUPRI-USP, a. X, n. 111, mai. 2002, p. 17). Publicado novamente no blog Diplomatizzando (18/11/2017; link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/11/eleicoes-presidenciais-na-franca-em.html).

901. “O Brasil e os Estados Unidos: Contraponto a Roberto Mangabeira Unger”, Washington, 18 maio 2002, 3 p. Comentários ao artigo de Roberto Mangabeira Unger, “O Brasil e os Estados Unidos”, publicado na Folha de São Paulo (1705/2002). Inédito. Blog Diplomatizzando (18 agosto 2018, link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/08/o-brasil-e-os-estados-unidos.html).

906. “Dez coisas que eu faria se tivesse poder (licença poética imaginária, mas justificada em uma fase pré-eleitoral)”, Charlottetown (Ilha do Príncipe Edward, Províncias Atlânticas do Canadá), 1º e 2 de jun. de 2002, 9 p. Lista de mudanças a serem implementadas por um governo com orientação social-reformista. Publicado na revista Espaço Acadêmico (Maringá: UEM, a. II, n. 13, jun. 2002; linkpdf: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/download/35909/21334). Incorporado ao livro A Grande Mudança: consequências econômicas da transição política no Brasil (São Paulo: Códex Editora, 2003). Divulgado no blog Diplomatizzando(10/12/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/12/dez-coisas-que-eu-faria-se-tivesse.html).

907. “Camaradas, agora é oficial: acabou o socialismo”, Washington, 12 jun. 2002, 16 p. Ensaio sobre a crise e a derrocada do modo de produção socialista, a partir de decisão tomada em 06/06/2002, por EUA e UE, de reconhecer na Rússia uma “economia de mercado”. Revista Espaço Acadêmico (Maringá: a. II, n. 14, jul. 2002; link: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/download/35910/21351) revista Meridiano 47(Brasília: n. 25, ago. 2002, p. 1-11; link: http://www.mundorama.info/Mundorama/Meridiano_47_-_1-100_files/Meridiano_25.pdf). Incorporado ao livro A Grande Mudança: consequências econômicas da transição política no Brasil (São Paulo: Códex Editora, 2003). 

914. “Lula e as relações internacionais do Brasil”, Washington, 24 junho 2002, 6 pp. Comentários a aspectos de relações internacionais da “Carta ao Povo Brasileiro”, apresentada como resultado da conferência nacional sobre programa do PT, pelo candidato Luis Inácio Lula da Silva. Divulgado no blog Diplomatizzando (22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/carta-ao-povo-brasileiro-lula-2002.html). 

917. “O Programa de Campanha do PT em 2002: arredondando o quadrado ou ainda a quadratura do círculo?”, Washington, 29 junho 2002, 6 p. Comentários ao programa preliminar do PT. Blog Diplomatizzando (22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/programa-do-pt-para-as-eleicoes.html).

920. “O Brasil como sócio menor da globalização: insuficiente interdependência econômica e pequena participação comercial”, Washington, 5 jul. 2002, 15 p. Publicado na Revista de Economia e de Relações Internacionais (São Paulo: Fundação Armando Alvares Penteado; ISSN: 1677-4973; v. 1, n. 2, jan. 2003, p. 5-17; http://www.faap-mba.br/revista_faap/rel_internacionais/socio.htm).

924. “Política externa do governo Geisel: breves considerações sobre rupturas e continuidades”, Washington, 11 jul. 2002, 13 p. Depoimento prestado para Grupo de alunos da Faculdade Casper Líbero na qualidade de colaborador intelectual do projeto de livro-reportagem: “O Brasil diante das escolhas e os desafios da Multipolarização: rupturas e continuidades do governo Geisel (1974-1979)”. Divulgado no blog Diplomatizzando (22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/politica-externa-do-governo-geisel.html); novamente postado no Diplomatizzando (16/08/2018; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/08/comparacoes-entre-as-diplomacias-de.html).

926. “As relações internacionais nas eleições presidenciais de 1994 a 2002”, Washington, 19 jul. 2002, 38 p. Reformulado e ampliado sob o título “A política externa nas campanhas presidenciais, de 1989 a 2002”, 21 ago. 2002, 43 p. Primeira versão como seção destacada do capítulo 6 (“A Política da Política Externa”), segunda versão como capítulo independente do livro: Relações internacionais e política externa do Brasil: história e sociologia da diplomacia brasileira (Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2003).

930. “A política externa e a campanha presidencial de 2002”, Washington, 30 jul. 2002, 9 p. Destaque do trabalho n. 926, atualizado, para circulação nas listas de relações internacionais. Divulgado no blog Diplomatizzando (22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/a-politica-externa-e-campanha.html).

932. “The Upcoming Presidential Election in Brazil: Parties, Platforms, and Candidates”, Washington, 3 ago. 2002, 6 p. Dossiê sobre as eleições, em inglês, preparado para palestra dada a alunos da School of Foreign Service, do Department of State, feita na Embaixada em 06/08/2002. Divulgado no blog Diplomatizzando (22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/eleicoes-para-americano-ver.html).

933. “O Brasil e o acordo com o FMI: reflexões diplomáticas”, Washington, 9 ago. 2002, 6 p. Minuta de Informação sobre o significado do acordo do Brasil com o FMI, de 07/08/2002, cobrindo o significado e as implicações diplomáticas para o Brasil do acordo com o FMI e contendo reflexões a partir de Washington. Inédito. Divulgado no blog Diplomatizzando (16/08/2018; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/08/o-acordo-do-brasil-com-o-fm-em-2002.html).

934. “A América Latina e os Estados Unidos desde o 11 de setembro de 2001”, Washington, 10 ago. 2002, 5 p. Artigo sobre a evolução política, econômica e social da região desde os atentados terroristas. Publicado na revista eletrônica Espaço Acadêmico(a. II, n. 15, 08.2002, http://www.espacoacademico.com.br/015/15pra01.htm); Meridiano 47 (Brasília: ISSSN 1518-1219, n. 27, out. 2002, p. 3-5; link: http://www.mundorama.info/Mundorama/Meridiano_47_-_1-100_files/Meridiano_27.pdf).

938. “Carta Aberta ao Próximo Presidente: (qualquer que seja ele)”, Washington, 31 ago. 2002, 10 p. Ensaio em forma de recomendações ao vencedor das eleições presidenciais de outubro, com argumentos de natureza econômica, política e social. Incorporado ao livro A Grande Mudança: consequências econômicas da transição política no Brasil (São Paulo: Códex Editora, 2003). Divulgado no blog Diplomatizzando (22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/carta-aberta-ao-proximo-presidente.html).

940. “A Alca e os interesses do Brasil”, Washington, 3 set. 2002, 7 p. Comentários a propósito da síntese elaborada por D. Demétrio Valentini (CNBB) em torno do “Pronunciamento dos Bispos do Canadá sobre a Alca”, demonstrando equívocos e inconsistências na posição dos opositores da Alca, por ocasião do plebiscito nacional organizado pela CNBB (e outras organizações) para “rejeitar” a participação do Brasil nas negociações. Inédito. Blog Diplomatizzando (16/08/2018; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/08/debate-sobre-alca-em-2002-paulo-roberto.html)

943. Sinais Trocados na Alca: Teria a esquerda deixado de ser progressista e passado a trabalhar contra os interesses daqueles com quem supostamente se identifica?”, Washington, 10 set. 2002, 19 p. Ensaio contestando as ideias e os fundamentos do movimento contrário à Alca. Publicado no website Gramsci e o Brasil, (11.11.02; http://www.artnet.com.br/gramsci/arquiv233.htm). Incorporado ao livro (Relação de Trabalhos n. 976) A Grande Mudança: consequências econômicas da transição política no Brasil (São Paulo: Códex Editora, 2003).




958. “Preparado para o poder?: pense duas vezes antes de agir: As consequências econômicas da vitória; Parte 3 (da série: manual de nova economia política para a fase de transição)”, Washington, 8 outubro 2002, 9 p. Continuidade da série, com ênfase nos amigos-inimigos da nova maioria (e do velho pensamento econômico). Publicado na revista eletrônicaEspaço Acadêmico(Maringá, a. II, n. 17, out. 2002). Revisto em 18.11.02, com ampliação do texto. Incorporado ao livro (Trabalhos n. 976) A Grande Mudança: consequências econômicas da transição política no Brasil (São Paulo: Códex Editora, 2003). Divulgado no blog Diplomatizzando(22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/preparado-para-o-poder-pense-duas-vezes.html).

970. “Como vencer a transição: recomendações espontâneas sobre como alcançar a vitória na subida ao poder (da série: Consequências econômicas da vitória, parte 4)”, Washington, 16 outubro 2002, 1 p. Esquema de futuro ensaio no estilo “novo manual de economia política”, para ser redigido ulteriormente. Desenvolvido em 20.10.02, 10 p. Publicado de forma resumida na coluna de Luís Nassif, sob o título “Um decálogo para a transição”, na Folha de São Paulo (22/10/2002), indicando tratar-se de “diplomata experiente e polêmico, por sua independência intelectual, autor de livros importantes sobre a história da diplomacia, PRA, de seu posto em Washington, elaborou o chamado ‘decálogo da transição’, com conselhos para o PT sobre como a transição com o mínimo de sobressaltos”. Complementado em 28.12, com avaliação da transição, e colocado em apêndice ao trabalho n. 989. Divulgado no blog Diplomatizzando (22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/como-vencer-transicao-consequencias.html). Relação de Publicados n. 374.

972. “Hipóteses de Política Externa: alternativas para um governo PT”, Washington, 23 outubro 2002, 4 p. Respostas a questões de jornalista da Gazeta Mercantil sobre o exercício da política externa no Governo Lula. Blog Diplomatizzando (22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/hipoteses-de-politica-externa.html).

977. “A Política Externa do novo Governo do Presidente Luís Inácio Lula da Silva: retrospecto histórico e avaliação programática”, Washington, 28 outubro 2002, 14 pp. Síntese das posições de política externa do PT e do candidato Lula nas disputas eleitorais de 1989, 1994, 1998 e 2002. Publicado como nota na Revista Brasileira de Política Internacional (ano 45, n. 2, julho-dezembro 2002, pp 229-239; disponível em Scielo, link: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-73292002000200011&lng=en&nrm=iso&tlng=pt). Publicado na revista eletrônica Espaço Acadêmico (Maringá: ano II, n. 19, dezembro 2002). Relação de Publicados n. 380 e 381. 

978. “Consequências econômicas da derrota: identificando vencedores e vencidos”, Washington, 2 novembro 2002, 10 p. Último ensaio (5) da série “novo manual de economia política”, identificando ideias vencedoras e perdedoras no seguimento do embate eleitoral e antes de iniciar o próximo governo. Publicada na revista Espaço Acadêmico (Maringá: ano II, n. 18, novembro 2002. Incorporado ao livro A Grande Mudança: consequências econômicas da transição política no Brasil (São Paulo: Códex Editora, 2003). Blog Diplomatizzando (22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/consequencias-economicas-da-derrota.html). Relação de Publicados n. 378 e 401.

985. “Pensando adiante: como a nova maioria salvou a burguesia e todos os seus bens (advertência preventiva)”, Washington, 16-17 novembro 2002, 1 p. Revisão, atualização 29/12/ 2002, 8 p. Novo ensaio da série “consequências econômicas da vitória, parte 6”, com antecipação de possíveis resultados de políticas setoriais aplicadas em favor de alguns setores da economia brasileira. Anexo: Pensando um pouco adiante: como conciliar políticas sociais e políticas setoriais na administração da nova maioria. Postado no blog Diplomatizzando (27/05/2016; link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/05/minha-revisao-da-era-lulopetista-o-que.html) e novamente em 17/08/2018 (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/08/como-nova-maioria-salvou-burguesia-e.html). 

986. “O que se deveria dizer ao Império (e o que não dizer): Notas indicativas para um encontro ameno e sem prevenções”, São Paulo-Brasília, 20 novembro 2002, 3 p. Revisto e ampliado em Washington, 2/12/2002, 5 p. Notas indicativas para um encontro sem prevenções. Inédito. Blog Diplomatizzando (17/08/2018; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/08/notas-para-o-primeiro-encontro.html).

989. “Avaliando a transição: Balanço da vitória, no momento da subida ao poder (da série: Consequências econômicas da vitória, parte 7)”, Washington, 8 dezembro 2002, 8 p. Continuidade da série, a partir do texto “vitória na fase de transição” (n. 970), com avaliação sintética do desempenho da equipe da nova maioria, e propondo um sistema objetivo de avaliação quantificada. Revisto e ampliado em 28/12/02, com inclusão de quadros de indicadores objetivos para avaliação dos resultados econômicos e sociais da nova administração. Espaço Acadêmico (n. 20, janeiro 2003). Divulgado no blog Diplomatizzando(22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/consequencias-economicas-da-vitoria.html). Relação de Publicados n. 389.


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 17 de agosto de 2018

domingo, 24 de junho de 2018

Uma longa travessia do deserto: testemunho pessoal - Paulo Roberto de Almeida

Alguns poucos meses depois do término de uma longa travessia do deserto, que durou praticamente 14 anos – o dobro de meu primeiro exílio, sob a ditadura militar –, eu escrevi um pequeno testemunho pessoal, que alguém ainda relembrou recentemente, ao buscar esse texto na plataforma Academia.edu. Eis a ficha do trabalho: 

3066. “Como atravessar o deserto (e permanecer digno ao fim e ao cabo)”, Brasília, 18 dezembro 2016, 7 p. Divulgado no blog Diplomatizzando(link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/12/como-atravessar-o-deserto-e-permanecer.html) e disponibilizado na Academia.edu (link: http://www.academia.edu/30511412/3066_Como_atravessar_o_deserto_e_permanecer_digno_ao_fim_e_ao_cabo_2016_).

Transcrevo-o novamente aqui, desta vez acompanhado dos comentários que recebi de amigos, colegas e novos leitores.
Paulo Roberto de Almeida 


Como atravessar o deserto (e permanecer digno ao fim e ao cabo)

Paulo Roberto de Almeida
 [Memórias, balanço]

Como sabem muitos dos meus colegas e amigos, certamente todos os inimigos – e até pessoas que desconheço, com as quais não tenho relações, mas que acompanharam meus escritos e minha trajetória ao longo da última década –, acabo de atravessar, talvez não inteiramente, um longo deserto de atividades e funções, justamente naquela que deveria ser (e foi assim nos primeiros 25 anos de carreira), minha ocupação principal: a diplomacia. A travessia não terminou ainda, pois que ainda não retornei às atividades que caracterizam a carreira: representação, informação, negociações. Atualmente, mais exatamente, a partir de 3 de agosto de 2016, encontro-me numa atividade subsidiária, que é a de Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, IPRI, um órgão assessor da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), junto com o Centro de História e Documentação Diplomática (CHDD), com sede no Palácio Itamaraty do Rio de Janeiro.
A longa travessia do deserto quer dizer, mais precisamente, que, desde o início do governo dos companheiros, em 2003, até meados do presente ano, não tive nenhuma função, não ocupei nenhum cargo, não desempenhei nenhuma atividade vinculada à área do serviço público federal para a qual fiz concurso, na qual me desempenhei desde o final de 1977, e à qual eu deveria, teoricamente, servir, inclusive por obrigações de direito administrativo, e mais não fosse, para simplesmente justificar o salário que eu recebia todo o mês desde aquela longínqua data treze anos e meio atrás (ainda que meus vencimentos tenham sido reduzidos ao mínimo, sem qualquer remuneração por desempenho de função justamente). À parte a irregularidade administrativa cometida pelo ministério ao qual estou vinculado, uma tão longa desvinculação do serviço ativo na diplomacia só poderia ser explicada por duas razões objetivas: 
1) eu seria, presumivelmente, um péssimo diplomata, um mau servidor público, um inepto funcionário de carreira, um trabalhador totalmente incompetente para ocupar qualquer cargo ou função na diplomacia lulopetista;
2) eu fui julgado incompatível com os objetivos e propósitos da dita diplomacia lulopetista, e assim considerado um dissidente, um opositor, um outcast, um funcionário totalmente inadequado, indesejado, um contrarianista, e um objetor declarado dos tais objetivos e propósitos da referida diplomacia, e por isso mesmo mantido à distância, como um desses leprosos da Idade Média, condenados a viver apartados da sociedade, um pestiferado, uma espécie de vírus qualquer, capaz de contaminar perigosamente mentes e vontades naquela Santa Casa toda ela devotada a cumprir os altos desígnios dos novos dirigentes da nação e da sua diplomacia.
Os que me conhecem, e até os que não me conhecem pessoalmente, mas sabem de meus escritos e publicações, saberão escolher a hipótese que convém, das duas opções colocadas acima. A mim, cabe apenas, neste curto texto, expor objetivamente o que foram esses anos de travessia do deserto, quase que um segundo exílio – depois daquele enfrentado durante o regime militar – com a particularidade de que este durou exatamente o dobro do primeiro, aquele voluntário, este totalmente involuntário, uma vez que eu estava pronto e disposto a trabalhar, apenas que fui obstado por uma barreira impenetrável de negações e tergiversações. Nem vou entrar em considerações sobre os aspectos subjetivos dessa longa travessia, como a destruição da minha carreira, pois isso faz parte dos imponderáveis funcionais a ela associados: nela se é, ou não, promovido, pela avaliação que fazem colegas e superiores de seu próprio desempenho – supondo-se que todo o processo de ascensão funcional se faça por mérito efetivo, e não pelo mais comum “quem indica, quem apoia” – e não se pode prejulgar que eu teria sido merecido promoção ao longo do período, pois essa é uma possibilidade, não uma certeza. Vou ater-me apenas à descrição factual do processo, como convém a um depoimento com finalidades unicamente descritivas.
Minha última designação para um cargo na carreira diplomática, e para uma função no quadro da Secretaria de Estado das Relações Exteriores tinha ocorrido em meados dos anos 1990, quando eu fui nomeado chefe da então Divisão de Política Financeira e de Desenvolvimento (temas de investimentos, finanças, acordos e negociações nessas áreas e assuntos correlatos, regionais, bilaterais e multilaterais). No final da década fui indicado para exercer o cargo de ministro-conselheiro na embaixada em Washington, a convite do embaixador Rubens Barbosa, com quem já havia trabalhado algumas vezes anteriormente. Foram quatro anos muito felizes na capital americana, onde aprendi enormemente um pouco sobre tudo, o que teoricamente faz do feliz ocupante do cargo um servidor habilitado a exercer qualquer função na Secretaria de Estado ou qualquer outro posto e missão da carreira, uma vez que em Washington se trabalha sobre praticamente todos os dossiês e assuntos de uma Secretaria de Estado. 
Ao cabo da experiência, e já com intenção de retornar ao Brasil, fui convidado pelo então Diretor do Instituto Rio Branco, nossa academia diplomática, para servir como coordenador do curso de mestrado em diplomacia, que tinha sido iniciado em 2001, e ao qual eu já estava associado como professor orientador de teses (tendo vindo ao Brasil de férias, em 2002, voluntária e especialmente para discutir suas teses com meus seis ou sete orientandos). Já estávamos no início de 2003, e o convite deve ter sido formulado entre o final de março e o começo de abril, ao qual respondi positivamente, a despeito de meu desejo primário de voltar a servir na Secretaria de Estado, tendo em vista, justamente, minhas habilidades nas mais diversas áreas da diplomacia econômica, em especial em suas vertentes comercial e financeira. Mas, como eu também tenho essa inclinação para as atividades acadêmicas, já tendo me desempenhado como professor do Instituto Rio Branco e da UnB (e de algumas outras instituições em caráter temporário), julguei que seria uma boa experiência didática e intelectual, possivelmente como passo preliminar para ocupar a própria chefia do IRBr, cargo para o qual eu me julgava plenamente habilitado e competente, inclusive para mudar algumas coisas ali existentes.
A surpresa, mas não a frustração imediata, veio poucos dias depois, quando o mesmo diretor que tinha formulado o convite telefonou-me de modo algo desconsolado, para dizer que, infelizmente, não poderia confirmar o convite porque o “secretário-geral do Itamaraty tinha outros projetos em mente”. Uma desculpa diplomática, digamos assim, pois imaginei imediatamente, e realisticamente, que o dirigente em questão se opunha a que eu fosse trabalhar numa área que ele provavelmente julgava de extrema importância para o futuro da diplomacia na gestão lulopetista que então se iniciava, e que prometia ser uma “ruptura com tudo o que havia antes no Brasil” (como de fato foi, e como descobrimos, para o bem e para o mal, na sequência do regime celerado). Assim foi que permaneci por mais alguns meses em Washington, até surgir uma outra função ou cargo, em Brasília ou em qualquer missão ou posto no exterior. Mas preocupado com arranjos familiares – término na universidade do filho mais velho, Pedro Paulo – e necessidade de decidir quanto a renovação de aluguel e outras providências práticas, ou o próprio fato que eu já me aproximava dos quatro anos no posto, levaram-me a tomar uma atitude proativa nesse processo, tirando mais alguns dias de férias para tentar resolver em Brasília minhas atribuições ou destino futuros. 
Na Secretaria de Estado, onde cheguei justo no momento em que o chanceler único e resplandecente do lulopetismo proclamava a necessidade de os diplomatas “vestirem a camisa do governo” – o que era de certa forma surpreendente, numa carreira que se orgulha de dizer que serve ao Estado, mais do que aos governos, como tinha já sintetizado um século antes o Barão do Rio Branco – eu fui finalmente apresentado ao quadro formal e realista de minha condição no novo governo: não havia nada previsto para mim na Secretaria de Estado, e a administração não estava removendo para Brasília ministros que não tivessem já uma função definida, pois já havia muitos, como fui informado, que estavam sem funções na Casa, situação a que vulgarmente se dava o nome de DEC, não o Econômico, mas o “Departamento de Escadas e Corredores”. O que me foi oferecido foi ficar mais tempo em Washington, ou negociar algum outro posto, ou seja, partir como embaixador comissionado em algum posto perdido em continentes longínquos (isso imaginei eu, em função das “boas” disposições dos meus interlocutores para comigo, que não preciso indicar quem fossem). 
Não havia como não concluir que havia um veto em curso ao meu nome, para qualquer função na Secretaria de Estado, e eu já deveria ter imaginado as razões desse veto. Eu sempre manifestei minhas posições e opiniões sobre tudo e qualquer coisa da carreira diplomática e das posturas do Brasil em política externa, e nunca escondi de ninguém o que pensava de tudo isso, aliás expresso em dezenas de artigos publicados e, nessa altura, em pelo menos, seis livros editados por diferentes editoras. Minhas ideias sobre o novo governo lulopetista estavam por sinais disponíveis em meu site e em blogs e veículos diversos do mundo acadêmico, tendo sido publicado, já no início do governo lulopetista, um artigo meu na revista Sociologia e Política (da UFPR), no qual eu dizia, claramente, que o PT era um mero partido esquerdista tipicamente latino-americano – ou seja, socialista, anti-imperialista e antiamericano – mas que, a despeito disso, a política externa e a diplomacia não seriam significativamente alteradas, ou seja, haveria mais continuidade do que ruptura nas relações internacionais do Brasil. Imagino, mas já retrospectivamente, que essa última afirmação, arriscada em si mesma, deva ter deixado mais de um companheiro irritado, e provavelmente seus auxiliares diplomáticos comprometidos com a gloriosa missão de mudar tudo o que existia antes, inclusive e principalmente na diplomacia. 
O fato é que as portas estavam fechadas para mim na Secretaria de Estado, e assim permaneceram durante todo o regime lulopetista, ou seja, exatamente treze anos e meio, ao longo dos quais enfrentei, como disse, um deserto quase interminável. Mas, paradoxalmente, fui convidado, por um dos próceres mais importantes do novo regime, para trabalhar no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, dirigido justamente por um dos membros da troika que assessorava o novo demiurgo nos assuntos mais importantes do governo salvacionista. Não preciso me estender agora – tanto porque pretendo escrever a respeito mais detalhadamente no futuro – sobre os três anos durante os quais eu me desempenhei em funções que eu imaginava importantes do ponto de vista do planejamento governamental, mas que os companheiros pretendiam transformar numa espécie de “revival” do dirigismo geiseliano sobre a economia e a política no Brasil. Depois da saída do governo do grão-petista que dirigia o NAE, eu me desliguei daquelas funções e me apresentei novamente na Secretaria de Estado, no final de 2006, disposto a assumir quaisquer funções que me fossem oferecidas para trabalhar pela Casa e no Estado (bem menos, já pensava eu, por um governo que se tinha revelado inerentemente corrupto, inepto e incorrigível). Não preciso dizer que encontrei o mesmo quadro de tergiversações e de embromações que já se tinha manifestado três anos antes. 
Em síntese: nada me foi oferecido como funções ou cargos na Secretaria de Estado. Mas, corrijo: a chefia de gabinete do então ministro ativo e altivo chegou a oferecer-me três cargos para posse imediata, talvez sem saber que meu nome já tinha entrado no rol daqueles seres condenados a um dos círculos do inferno lulo-dantesco. Aceitei um dos cargos, mas depois nada, ou seja, não aconteceu nada, quando então descobri que não apenas o SG, mas igualmente o chefe da Casa tinha objeções ao meu nome. Obtive a confirmação disso logo depois, quando o próprio titular reagiu negativamente a uma abordagem fortuita que lhe fiz, numa recepção de fim-de-ano no Clube das Nações, ao manifestar-lhe minha intenção de voltar à Casa: ele simplesmente me disse, acerbamente, que “minha entrevista [que havia dado pouco antes ao Estadão sobre a “construção intelectual” do Bric] não tinha ajudado em nada”, e virou as costas para mim. Nunca mais falei com o personagem, hoje na tropa de choque, junto com o mesmo SG, do chefão mafioso, ou seja, o pelotão de defesa de um dos maiores bandidos da política brasileira (que já conheceu vários, mas nenhum maior). 
A bem da verdade, o mesmo chanceler altivo chegou a oferecer-me a chefia de uma embaixada no exterior, poucos meses depois, ao que respondi negativamente, por razões puramente familiares, mas agradecendo a concessão (que obviamente deveria ser considerada como um afastamento providencial de um opositor moderado das políticas esquizofrênicas dos lulopetistas na frente diplomática). Não preciso dizer que, a partir daí, minha carreira simplesmente terminou, passando a amargar vários anos adicionais de “DEC”, com imensos prejuízos em termos profissionais, familiares e financeiros. Não obstante, persisti, mesmo no deserto a que estava relegado, na mesma atitude que sempre foi a minha: ler, refletir, escrever, eventualmente publicar, aquilo que julgava correto de um ponto de vista meramente epistemológico, ou seja, o resultado de uma reflexão própria, independente, sobre questões da política internacional, da diplomacia brasileira, de nossas posturas em política externa, unicamente com o espírito acadêmico que sempre foi o meu.
De certa forma, devo agradecer a meus “algozes” a oportunidade que me deram de aprofundar essas pesquisas, ideias, reflexões e escritos, pois ao me obrigarem a fazer da biblioteca do Itamaraty o meu escritório de trabalho, ofereceram-me tempo e lazer – ainda que com remuneração reduzida – para ampliar minha produção de caráter acadêmico. Nesse período, em nenhum momento tive acesso a qualquer forma de comunicação interna ao Itamaraty – telegramas ou quaisquer outros tipos de expedientes – e minhas únicas fontes de reflexão e de escrita eram as mesmas a que tinham acesso quaisquer acadêmicos e jornalistas, ou seja, material de imprensa e artigos e livros em disponibilidade pública. De certa forma, eu já fazia isso em qualquer época anterior, mas apenas nos momentos de lazer, no recesso do lar, no tempo livre do trabalho em dedicação integral. Ao permitirem “férias compulsórias”, meus “inimigos funcionais” me habilitaram a produzir um volume anormalmente elevado de artigos e livros, que eu provavelmente não teria tido condições de conduzir em uma situação normal de trabalho.
Talvez, outros diplomatas colocados nesse tipo de situação poderiam ter exibido algum comportamento depressivo, o que não foi absolutamente o meu caso: eu tinha forças morais para atravessar o deserto e, ao fazê-lo, pude dedicar-me a atividades acadêmicas que sempre fizeram parte de minha “segunda vida”, ao lado da carreira profissional. A escrita de livros, artigos e outros materiais – uma infinidade de comentários em blogs próprios ou de outros internautas – ocupou o restante do período em que estive no exílio lulopetista. Com duas pequenas alterações: em 2012, sem perspectiva de alteração em minha condição na Secretaria de Estado, aproveitei uma licença oficial para dedicar seis meses do ano a atividades docentes na Sorbonne; e de 2013 a 2015 aceitei um posto subalterno num pequeno consulado da costa leste dos EUA, expressamente com o objetivo de estudar mais, ler intensamente, viajar um pouco, e esperar o fim do regime lulopetista. Pensei que ele viesse nas eleições de outubro de 2014, e aí sim experimentei uma grande frustração, pois o poste lulopetista foi reconduzido à presidência, numa campanha de mentiras e de grandes falcatruas, como aliás esperado por todos os conhecedores dos meandros do regime.
Resolvi voltar ao Brasil no final de 2015, sem qualquer perspectiva de mudança no quadro geral da política podre do lulopetismo, e de fato permaneci no deserto por mais seis meses adicionais, sem quaisquer perspectivas concretas de retomada de algum cargo ou função na Secretaria de Estado. Retomei minhas atividades acadêmicas, mas no contexto do processo de impeachment, deslanchado no final daquele ano. Foram exatamente seis meses de golpes e contragolpes, de mais falcatruas e patifarias, até que, finalmente, os companheiros corruptos foram apeados do poder, em maio de 2016. Foi quando, finalmente, os novos barões da Casa se decidiram por extinguir o meu exílio, com um convite para exercer o cargo prestigioso, mas inoperante em termos de política externa, de Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, o que de toda forma é uma distinção e um prêmio, na perspectiva de meus interesses intelectuais.
Foram ainda necessários mais três meses para que a função fosse efetivada, período no qual colaborei informalmente com a instituição, ao organizar seminários, livros e publicações, sem ainda dispor de título ou remuneração condigna. Por uma dessas ironias da história, meu cargo é o mesmo do qual tinha sido defenestrado meu colega dissidente – em outros termos – da política externa do ancien régime tucanês, e que por isso mesmo se tornou um mártir da causa lulopetista, e daí passou a ocupar a função a partir da qual me vetou para qualquer cargo na Secretaria de Estado. Não tenho nenhuma animosidade ao companheiro – em duplo sentido – e até pretendo convidá-lo para participar de atividades acadêmicas do IPRI, no que ele decidir aceitar, mas não pretendo, tampouco, deixar de fazer aquilo que fiz ao longo dos treze anos e meio do nefasto regime lulopetista: analisar, sintetizar, descrever e expor os absurdos teóricos e práticos perpetrados pelos companheiros apparatchiks e seus aliados diplomatas.
Não sei se devo julgar-me “reabilitado”, pois essa é uma avaliação que não me cabe pessoalmente fazer, mas sim devo confirmar que não pretendo mudar de atitude, que corresponde, finalmente, a uma postura intelectual que sempre mantive ao longo desses anos de “exílio”, e invariavelmente ao longo de uma vida dedicada ao estudo, à reflexão, e à exposição de minhas ideias sobre uma gama variada de assuntos: manter um ceticismo sadio sobre todas as questões de interesse público que sejam objeto de políticas, encarar interrogativamente qualquer postura acadêmica, de pesquisa, que possa ser feita sobre os mesmos problemas, e expor de forma independente e honesta as conclusões ou resultados que extraio de meus estudos, leituras e reflexões. Não tenho razões para mudar de atitude, seja para galgar distinções políticas que não almejo, seja para agradar superiores ou colegas que se exercem nos mesmos campos que são os meus desde sempre: a dupla carreira na diplomacia e na academia.
Vale!

Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 18 de dezembro de 2016.

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Mensagens recebidas: 

Achilles Emilio ZaluarO grande erro que muitos cometem é afastar as vozes dissidentes, o que os franceses chamam os "empêcheurs de penser en rond". Foi um erro, para o Governo da época, demitir Samuel Pinheiro Guimarães. Foi um erro para o Governo subsequente colocar um diplomata do seu valor na geladeira. Como você não "quebrou", isto é, não caiu na depressão e no desânimo (não te conheciam bem...), você acabou sendo muito mais influente e eficaz, com a liberdade de trabalhar por fora contra os projetos deles na batalha mais importante, que é a das idéias. 
O Itamaraty precisa, a cada momento, manter uma diversidade ideológica que permita um debate interno saudável. Isso é positivo mesmo do ponto de vista da eficácia do projeto no poder em cada momento (que é alertado sobre os erros táticos que é tentado a cometer, sob a ilusão da onipotência que aflige os detentores do poder), e ainda mais do ponto de vista dos interesses permanentes do Brasil. 
Mesmo os militares mantiveram dentro do MRE um número considerável de diplomatas "de esquerda", que ocuparam funções importantes. A tentativa de impor uma monocultura ideológica termina sempre como todos as monoculturas: pragas, rendimentos decrescentes, ciclos de boom and bust. Benvindo de volta, Paulo.

Minha resposta ao Achilles:Paulo Roberto de AlmeidaConcordo com absolutamente tudo, ou quase tudo, meu caro Achilles Emilio Zaluar, e agradeço imensamente as palavras generosas e simpáticas. Também acredito que a batalha das ideias é a mais importante. Mas eu não afirmaria que, no meu caso específico, se tratou de um "erro", pois eu acho que eles "acertaram", ao me julgar um "empêcheur de penser en rond", ou um contrarianista fundamental. Simplesmente pretenderam me silenciar, e até me impedir de trabalhar, o que aliás é uma violação de normas de direito administrativo (o que me habilitaria, teoricamente, a processar o Ministério, para obrigá-lo a me designar para qualquer coisa, até chefe da garagem que fosse). No cargo atual, pretendo, justamente, debater todas as questões relevantes, em aberto aquelas que podem ser feitas em aberto, e em reuniões fechadas aquelas questões sensíveis. Vamos ver até onde será possível...

Cyro AndradeReceba meu abraço de plena solidariedade (o adjetivo vai como reforço proposital).

Carlos Eduardo Véras NevesLeopoldo Faiad da Cunha

Adivo Paim FilhoUm cordial Abraço Dissidente, desde o centro geográfico do sertão gaúcho! Description: https://www.facebook.com/images/emoji.php/v6/f4c/1/16/1f642.png:)

Carmen Lícia PalazzoAdorei o blog com esta nossa foto. Description: https://www.facebook.com/images/emoji.php/v6/f4c/1/16/1f642.png:)

Carlos Alberto AsforaPaulo, dá vergonha alheia lembrar de tudo que passamos, pelas mãos dos companheiros, você, talvez mais do que todos. Eles me dão nojo, muito nojo. É só o que eu posso sentir.

Hadassah SantanaSempre uma boa reflexão! Description: https://www.facebook.com/images/emoji.php/v6/f57/1/16/1f609.png😉

Marco Tulio Scarpelli CabralBem-vindo de volta, Paulo. É um privilégio trabalhar com você.

Pedro Fernando Bretas BastosE eu aposentado, no Rio, o seguirei, sempre com a minha admiração, apreço e respeito. Forte abraço do Pedro Fernando Bretas Bastos

Vera Do Val GalanteParabéns, Paulo Roberto, pela retidão e coerência. O Itamaraty perdeu esse tempo todo. Agora começa a se redimir, mas ainda falta...


Minha resposta geral: 
Meus sinceros agradecimentos aos muitos amigos e colegas (recebi e-mails diretamente também) que se manifestaram a respeito dessa postagem, que de ordinário não teria sido feita se não tivesse ocorrido a "provocação" de um colega: normalmente sou extremamente discreto quanto a tudo o que se refere a questões pessoais e apenas me pronuncio sobre temas objetivos, separados de minha própria condição. Mas como ele abordou o "deserto", achei que minha resposta -- e de certa forma explicação, pois muita gente ainda me cumprimenta pela direção do IPRI -- merecia ser veiculada de forma pública, uma vez que a situação era, efetivamente, pública: todos sabiam que eu estava no deserto, mas ninguém sabia exatamente como e porque, em que circunstâncias isso tinha ocorrido, e o que eu tinha feito nesse longo período de treze anos e meio (talvez mais), em que estive totalmente -- enfatizo totalmente -- afastado de quaisquer funções na Secretaria de Estado. Voilà...

 Paulo Roberto de Almeida