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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

País deve R$ 2,5 bi a órgãos multilaterais - Estadão, 7/01/2021

 País deve R$ 2,5 bi a órgãos multilaterais

 

Estadão07/01/21

 

Na virada do ano, o governo brasileiro deixou de honrar pagamentos com seis organismos multilaterais. A fatura que não foi paga alcançou R$ 2,459 bilhões (US$ 462,29 milhões), segundo levantamento obtido pelo Estadão com o Ministério da Economia.

 

Na lista do calote, além do Banco do Brics, estão o Banco de Desenvolvimento do Caribe, a Corporação Andina de Fomento (CAF), o BID Invest (braço do Banco Interamericano de Desenvolvimento), o Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata (Fonplata) e a Associação Internacional de Desenvolvimento (AID).

 

Os compromissos com os organismos multilaterais não foram pagos porque faltou dotação orçamentária. A articulação do governo no Congresso não foi capaz de manter no Projeto de Lei 29 (PLN) a suplementação orçamentária para garantir os pagamentos. Na votação do PLN, a última do ano, o dinheiro foi remanejado para obras e emendas de parlamentares, de interesse dos aliados do governo.

 

Segundo apurou o Estadão, no fim do ano passado, o Palácio do Planalto chegou a cogitar a possibilidade de encaminhar um crédito extraordinário ao Congresso para fazer os pagamentos. Esse tipo de crédito fica fora do teto de gastos (regra que limita o crescimento das despesas à variação da inflação) e vale para despesas imprevisíveis e urgentes, como as contraídas durante a pandemia.

 

O argumento apontado durante a discussão foi o de que a ex-presidente Dilma Rousseff tinha usado esse mesmo mecanismo para pagar compromissos parecidos. Como essas despesas são previsíveis, havia risco de crime de responsabilidade fiscal e até mesmo de impeachment do presidente Jair Bolsonaro. O governo acabou desistindo de avançar com a ideia.

 

O Ministério da Economia trata o não pagamento como atraso. Nos próximos dias, o ministro Paulo Guedes vai encaminhar explicações ao Tribunal de Contas da União (TCU), que já havia apontado no ano passado a necessidade de o governo corrigir o problema dos atrasos dos pagamentos.

 

A informação oficial é de que esforços estão sendo feitos para fazer o pagamento em breve, mas há na equipe econômica uma preocupação de a imagem do Brasil ficar arranhada na comunidade internacional. Esse ponto foi relatado ao Palácio do Planalto. O Ministério da Economia não quis comentar o impacto do não pagamento na avaliação da classificação de risco do Brasil pelas agências internacionais.

 

Como revelou o Estadão na segunda-feira, 3, a parcela de aporte de capital não paga ao Banco do Brics foi de US$ 291,7 milhões (R$ 1,551 bilhão), o valor mais alto. Com a CAF, a dívida não paga foi de US$ 66,99 milhões (R$ 356,41 milhões). A inadimplência com o BID Invest ficou em US$ 32,11 milhões (R$ 170,8 milhões). O Fonplata ficou sem receber US$ 54,8 milhões (R$ 291,8 milhões), a AID outros US$ 15,64 milhões (R$ 83,2 milhões) e o Banco de Desenvolvimento do Caribe, US$ 988,8 mil (R$ 5,26 milhões).

 

Em nota divulgada na terça-feira, o Ministério da Economia jogou a responsabilidade sobre o Congresso, que vetou os recursos necessários para o pagamento e utilizou a verba para obras de interesse do governo e emendas parlamentares.

 

Na nota, a Economia disse que o pagamento só pode ser feito com dotação autorizada pelo Congresso e citou, de forma detalhada, as providências tomadas pela pasta para prever os recursos necessários no Orçamento, assim como todas as vezes que esses esforços foram derrotados no Congresso.

 

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) reagiu à nota: “Governo transferindo responsabilidade. É prática de um governo incompetente. É sempre assim”, postou Maia no Twitter.

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Ricardo Seitenfus: Manual das Organizações Internacionais, 7a edição, aumentada (e-book, edição Kindle)

 O grande manual de Ricardo Seifenfus finalmente em e-book.

In fine, dois outros livros do mesmo autor no mesmo formato. 

Manual das Organizações Internacionais 

eBook Kindle

domingo, 26 de julho de 2020

Política externa e diplomacia no contexto das liberdades democráticas - Paulo Roberto de Almeida

Um trabalho preparado para uma palestra online, como explicitado nestas coordenadas: 

Neste domingo, dia 26/07, às 17hs, terei o prazer de falar sobre “Política externa e diplomacia no contexto das liberdades democráticas”, no 1o. Colóquio Sertanejo pela Liberdade, organizado pelo Instituto Libercracia (URL de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=aRAzDtPiVXM).



Política externa e diplomacia no contexto das liberdades democráticas
  
Paulo Roberto de Almeida
[Objetivo: palestra no I Colóquio Sertanejo pela Liberdade, no dia 26 de julho, Instituto Libercracia; finalidade: exposição e debate]


Esquema da palestra:
Introdução: como a diplomacia interage com as liberdades e a democracia
1. As conferências da paz da Haia de 1899 e de 1907: Rui Barbosa e a igualdade soberana das nações; Corte Arbitral Internacional; possibilidades e limites
2. A Grande Guerra e os 14 Pontos de Wilson; a denúncia bolchevique dos acordos secretos;
3. A Liga das Nações e o Acordo Briand-Kellog: o recurso obrigatório a meios pacíficos de solução de controvérsias e de disputas entre os Estados
4. O nascimento oligárquico da ordem internacional do pós-Segunda Guerra: a ONU
5. O processo de multilateralização da ordem política e econômica internacional
6. A descolonização, o fim do socialismo e a triplicação dos Estados membros da ONU
7. A busca de justiça nas relações internacionais: de Nuremberg ao TPP, passando pelas guerras civis nos Balcãs, por Ruanda e na África e Oriente Médio
8. A responsabilidade de proteger (R2P), limites da soberania estatal e a responsabilidade ao proteger
9. Progressos limitados da ordem democrática no contexto internacional
10. O Brasil no contexto global das liberdades democráticas: da ditadura à democracia e aos retrocessos do multilateralismo-globalista.

Leiam a íntegra neste link:

https://www.academia.edu/43713456/Pol%C3%ADtica_externa_e_diplomacia_no_contexto_das_liberdades_democraticas_2020_


sexta-feira, 24 de julho de 2020

Da conferência da paz da Haia (1907) às negociações de paz de Paris (1919) - Paulo Roberto de Almeida

Meu trabalho mais recente, ainda não publicado: 

3722. “Da conferência da paz da Haia (1907) às negociações de paz de Paris (1919): Quando o Brasil emergiu para a diplomacia mundial?”, Brasília, 23 julho 2020, 19 p. Ensaio de caráter histórico sobre a construção da postura multilateralista do Brasil no início do século XX. Texto de apoio para palestra em 28 de julho, no quadro do programa comemorativo do centenário da visita do rei Albert ao Brasil (1920), organizado pela embaixada da Bélgica. Divulgado via plataformas Academia.edu (link: https://www.academia.edu/43705254/Da_conferencia_da_paz_da_Haia_1907_as_negocia%C3%A7%C3%B5es_de_paz_de_Paris_1919_Quando_o_Brasil_emergiu_para_a_diplomacia_mundial_2020_) e Research Gate (link: https://www.researchgate.net/publication/343193547_Da_conferencia_da_paz_da_Haia_1907_as_negociacoes_de_paz_de_Paris_1919_Quando_o_Brasil_emergiu_para_a_diplomacia_mundial).

Da conferência da paz da Haia (1907) às negociações de paz de Paris (1919): Quando o Brasil emergiu para a diplomacia mundial?

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: texto de apoio a palestra; finalidade: Evento Embaixada Bélgica]
Palestra Terça-feira 28 de julho, 17h00 – 17h40 (BRT), no quadro do programa comemorativo do centenário da visita do rei Albert ao Brasil (1920), organizado pela embaixada da Bélgica.

Sumário: 
1. Os conceitos de diplomacia mundial, internacional, global ou multilateral
2. Como o Brasil emerge para a diplomacia mundial, ou multilateral
3. A passagem do Brasil da política regional para a política internacional
4. O Brasil na conferência da paz da Haia (1907)
5. Rui Barbosa defende a neutralidade da Bélgica na Grande Guerra (1916)
6. O Brasil nas negociações de paz de Paris (1919)
7. Encontros entre o presidente Epitácio Pessoa e o Rei Albert

1. Os conceitos de diplomacia mundial, internacional, global ou multilateral
Existem vários sentidos, já consolidados, ao conceito de diplomacia mundial, que pelo seu adjetivo seria algo equivalente a internacional, ou global, embora esse termo seja mais recente. Mas o conceito pode também querer dizer diplomacia multilateral, ou seja, a de organismos internacionais, que podem ser intergovernamentais, de tipo setorial, mas podem também ser de âmbito universal, continental ou regional, ou no sentido plurilateral.
No primeiro sentido, isto é, mundial, significaria uma diplomacia nacional capaz de cobrir todo ou a maior parte do planeta, ou um conjunto significativo de atores relevantes, países, Estados, economias relevantes do ponto de vista das relações internacionais, da dinâmica dos intercâmbios globais, ou tocando aos temas mais sensíveis da comunidade internacional, ou mundial, que tem a ver com a paz (ou a guerra), a segurança, as relações de comércio, de investimentos, de transações financeiras, de movimentos de pessoas, tanto quanto de bens intangíveis (cultura, arte, conhecimento, cooperação), e suas respectivas instituições de suporte. 
Num contexto mais tradicional desse primeiro conceito ele tem a ver com a ação das grandes potências, os chamados poderes hegemônicos, as antigas nações coloniais ou imperiais, ou seja, os grandes atores, definidos pela sua capacidade de projetar poder externamente com base em seus recursos intrínsecos. São atores capazes de imprimir sua vontade num contexto transfronteiras, ou seja, deslanchar guerras de conquista, eventualmente de defesa, incorporar territórios sem jurisdição própria, se constituir um império colonial, ou participar ativamente de ações em âmbito global ou regional, geralmente de cooperação, que também podem ser de caráter unilateral – ou seja, tomadas por sua própria iniciativa – ou em acordo com outros países envolvidos nesse tipo de ação. 
No segundo sentido, multilateral, a diplomacia de um Estado se faz no quadro de acordos estabelecidos, geralmente ao abrigo de alguma instituição dotada de um mandato específico, que pode ser setorial ou “global” (como a ONU), ou estruturais informais de cooperação em torno de um objetivo preciso ou mutuamente acordado. Esta é a forma contemporânea por excelência, que emergiu progressivamente desde o final do século XIX, nas organizações de cooperação técnica, evoluindo progressivamente para o terreno da cooperação política, como por exemplo as duas conferências da paz da Haia (1899 e 1907), com destaque para as negociações de paz de Paris, ao final da Grande Guerra, em 1919, das quais resultaram a criação da Liga das Nações e a formalização do Escritório Internacional do Trabalho. A forma especificamente contemporânea da diplomacia mundial, ou internacional, ou ainda global, se identifica, evidentemente, com a Organização das Nações Unidas, criada na conferência de San Francisco de 1945, e suas agências especializadas, que foram sendo criadas antes ou imediatamente depois da entidade global. 
A conjuntura histórica examinada no presente ensaio sintético refere-se ao início do regime republicano no Brasil, na última década do século XIX, e às duas primeiras décadas do século XX, quando têm lugar os eventos ou processos aqui enfocados: a emergência da nova diplomacia republicana, as conferências da paz da Haia (sendo que o Brasil participou unicamente da segunda, em 1907), a Grande Guerra e as negociações de paz de Paris, em 1919, com referência especial para as relações do Brasil com o Reino da Bélgica, em vista da solidariedade demonstrada por ilustres brasileiros – com destaque para Rui Barbosa – por ocasião da invasão do país pelas forças militares do Império Alemão e para as relações pessoais entre o presidente Epitácio Pessoa e o rei Albert, que visitou o Brasil em 1920. A melhor síntese sobre a posição internacional do Brasil nesse período foi oferecida na obra do embaixador Rubens Ricupero, na seção “As novas tendências da política exterior”, parte VI, “A Política Externa da Primeira República (1889-1930), como segue: 
A evolução do panorama externo agiu nessa fase sobre a diplomacia brasileira por meio de três fatores estruturantes, capazes de fazer surgir tendências profundas e sistêmicas, destinadas a durar muito além de 1930 como características diferenciadoras da orientação da política exterior do Brasil.
primeiro consistiu na emergência e afirmação do poder político e da irradiação econômica dos Estados Unidos. O segundo fez-se sentir pela intensificação de um relacionamento mais intenso e cooperativo entre países da América Latina, seja sob a modalidade do pan-americanismo patrocinado por Washington, seja por iniciativas latino-americanas autônomas. Finalmente, o terceiro residiu no aprendizado de novo tipo de ação diplomática nas instâncias do incipiente multilateralismo da Liga das Nações, estágio inicial de uma forte tradição da diplomacia multilateral que se desenvolveria nas fases seguintes. 
Em termos sintéticos, as três transformações estruturais da política exterior na Primeira República resumem-se: 1ª) no estreitamente da relação ou “aliança não escrita” com os Estados Unidos; 2ª) na sistemática solução das questões fronteiriças e na ênfase em maior cooperação com os latino-americanos; e 3ª)  nos primeiros lances da diplomacia multilateral, na versão regional, pan-americana, ou global, da Liga das Nações. (Ricupero, 2017: 258). 

2. Como o Brasil emerge para a diplomacia mundial, ou multilateral?
         (...)

Texto na íntegra nos links: 



sábado, 20 de junho de 2020

Multilateralismo: resposta necessária para enfrentar a pandemia - Renato Zerbini Ribeiro Leão (Nexo)

Multilateralismo: resposta necessária para enfrentar a pandemia

Nas relações internacionais, o termo multilateralismo é utilizado para se referir ao trabalho conjunto de vários países sobre um determinado tema. Refere-se, portanto, a um sistema coordenado de interações entre três ou mais países de acordo a certos princípios de conduta. Como política, trata-se de uma ação deliberada por um país, em coordenação com outros, em prol da realização de objetivos em áreas de interesses comuns. Na filosofia política, o inverso de multilateralismo é o unilateralismo.
O mundo emergido da Segunda Guerra Mundial é reconstruído sobre seis pilares consagrados como os princípios gerais das relações internacionais contemporâneas e do direito internacional vigente. Estes estão inclusive elencados no artigo segundo da Carta de São Francisco, tratado internacional que cria a Organização das Nações Unidas, a instituição que poderia ser designada como o símbolo maior do multilateralismo. São eles: a igualdade soberana entre os países; a não interferência nos assuntos internos dos países; a proibição do uso da força entre países (salvo exceções como legítima defesa e sua autorização pelo Conselho de Segurança da ONU, possibilidades estas previstas no capítulo 6 da Carta da ONU intitulado “Ação relativa a ameaças à paz, ruptura da paz e atos de agressão”); a solução pacífica de controvérsias entre países; a cooperação internacional; e a afirmação dos direitos humanos. Esses princípios se consagram para preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra e reafirmar a fé nos direitos fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano, objetivando a promoção do progresso social e melhores condições de vida numa liberdade planetária mais ampla.
Desde 24 de outubro de 1945, data de criação da ONU, várias ações foram tomadas consagrando e sacramentando esses seis princípios gerais. Mais recentemente, especialmente a partir desta segunda década do século 21, reiterou-se a necessidade de acelerar a ação sobre a construção de um mundo mais equitativo e sustentável, com fulcro especialmente em duas estratégias-chave: a Agenda 2030 e seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Ora, não se necessita ser alguém especialmente dotado de profundo espírito humanitário ou elevado conhecimento científico para entender os benefícios múltiplos para a humanidade em seu conjunto e para o planeta em sua ampla dimensão, incluindo fauna e flora, caso a meta ambiciosa de alcance desses objetivos seja atingida. Pois é notável que os desafios globais de hoje, tais como a mudança climática, a pobreza, a desigualdade ou a migração, afetam a tudo e a todos, incluindo países pobres e ricos, sem nenhum tipo de discriminação. Ademais, os desastres naturais, o terrorismo, a guerra cibernética e as pandemias de saúde estão aumentando aceleradamente.
Prova disso está no atual desafio de combate e contenção à pandemia da covid-19. A cooperação internacional entre países, organizações internacionais e indivíduos é essencial para o logro eficaz e rápido da vitória da humanidade sobre o vírus. Tal esforço requer uma ação imediata e coletiva, cujo êxito somente será palpável se todos esses três atores isoladamente e em seu conjunto puserem seus grãos de areia. Finalmente, o futuro de todos estes está inexoravelmente conectado. Dias melhores para as pessoas e o planeta passam pela defesa dos direitos humanos, manutenção da paz e promoção do desenvolvimento sustentável. Para tanto, o multilateralismo é o vetor ideal.
No contexto da cooperação internacional em prol de uma solução duradoura, eficaz e sustentável à pandemia que carcome a humanidade, muitos países dos distintos continentes somam-se em esforços para enfrentar tal realidade. Recentemente, dois chamam a atenção: um trabalho coordenado conjunto para a descoberta de uma vacina cabal e uma coalizão mundial para planejar e levar adiante uma reconstrução orquestrada da economia mundial. Em um cenário global multilateral e à luz da cooperação internacional, tais esforços serão mais facilmente alcançados. Assim como todos e quaisquer desafios que se proponha o ser humano alcançar.
Contrariando a lógica da sobrevivência planetária e humana, o multilateralismo enfrenta uma profunda crise. Há uma notável diminuição do apoio concertado da sociedade internacional ao mesmo tempo em que se nota um aumento de opinião exacerbada, tendenciosa ou agressiva em seu desfavor. Assim mesmo, o nacionalismo fútil e o protecionismo tosco desafiam a virtude da cooperação internacional, obrando na direção oposta ao multilateralismo.
Observa-se suntuosamente que fundamentalismos ideológicos, políticos e religiosos têm impactos centrais sobre o mundo que nos cerca: vários de nossos amigos, colegas de profissão, familiares, nossas culturas e sociedades já estão por eles afetados, seja por simples interesse vulgar ou diferentes psicopatias. 
O fundamentalismo não é um fenômeno que se aproxima, pois é algo que já está entre nós. Fred Halliday nos alertou que os fundamentalistas têm uma visão bastante clara e determinada do que são. Estes combinam, sem necessária relação estreita entre eles, dois elementos: a invocação de um retorno aos textos sagrados lidos literalmente e a aplicação dessas doutrinas na vida social e política. Por isso, estes têm no multilateralismo um foco de combate. Trata-se de uma oposição certeira e vigorosa à visão doentia e insana de todo o tipo de fundamentalismo.
O multilateralismo é um ambiente propício à convivência harmônica, pacífica e sustentável entre diversas culturas, países e povos.

Renato Zerbini Ribeiro Leão é PhD em direito internacional e relações internacionais. Presidente do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU.