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domingo, 25 de outubro de 2020

A inacreditável submissão da diplomacia bolsolavista a Trump - Jorge Vasconcellos (CB)

Conexão de Bolsonaro não é com EUA, mas com Trump; problema é se ele não se reeleger, dizem analistas

Jorge Vasconcellos

Correio Braziliense, 25/10/2020 

https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2020/10/4884507-conexao-de-bolsonaro-nao-e-com-eua-mas-com-trump-problema-e-se-ele-nao-se-reeleger-dizem-analistas.html

Embaixadores aposentados e professores advertem: estreitamento excessivo com EUA não trará resultados positivos automaticamente ao Brasil. Conexão Brasília-Washington ameaça isolar o país, sendo preterido até por tradicionais parceiros comerciais

A política de alinhamento do Palácio do Planalto com as posições do governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem trazido preocupações a representantes da diplomacia e a especialistas. Eles alertam que o interesse nacional deve estar acima de questões ideológicas ou geopolíticas, nas discussões importantes para o desenvolvimento do país. Segundo essa visão, a disputa comercial entre os EUA e a China exerce uma forte pressão sobre decisões do Brasil em temas como a tecnologia 5G, a relação com as nações vizinhas, a aquisição de vacinas contra a covid-19 e outras questões.

Traço marcante do governo do presidente Jair Bolsonaro, o alinhamento com Washington tem levado o Brasil a corresponder aos interesses norte-americanos em diferentes arenas, seja nos organismos globais ou nas relações comerciais. Por outro lado, essa postura tem empurrado o país para uma situação de crescente isolamento internacional, de distanciamento de outras potências importantes, sobretudo europeias. Também tem provocado incômodos nas relações bilaterais com a China, principal destino das exportações brasileiras.

Em um dos casos mais evidentes, o Ministério das Comunicações, atendendo a pedido de Bolsonaro, segue na indefinição sobre a data da realização do aguardado leilão da tecnologia 5G, dominada pelos chineses. Da mesma forma que o Brasil, outros países sul-americanos também têm sido pressionados pelos EUA nesse sentido, já que o governo americano teme o avanço dos interesses de Pequim na região.

Disputa do 5G

Crítico da “ideologização da diplomacia” durante os governos do PT, Rubens Barbosa, ex-embaixador brasileiro em Londres e em Washington, considera que esse viés persiste na administração Bolsonaro, porém na direção contrária. Na sua visão, o Brasil não deveria tomar partido da China nem dos EUA, mas abrir a licitação da 5G para todos os interessados em concorrer e buscar o resultado mais favorável. Ao defender “menos ideologia e geopolítica e mais interesse nacional”, ele afirma que essa tecnologia poderia ajudar o Brasil a sair da crise por meio da modernização da economia e das indústrias.

“Há muitos outros interesses envolvidos, não é só o do governo. É o interesse da sociedade, porque afeta a vida dos consumidores; afeta os custos do produto que vai ser adquirido pelas empresas brasileiras. Dessa forma, precisam ser ouvidos o Congresso e as empresas para saber quais são os interesses do conjunto”, afirmou Barbosa, hoje diretor-presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), em São Paulo.

Para o embaixador aposentado, o Brasil é um país muito grande para se submeter a interesses externos. “Todos os países têm interesses e o Brasil tem que examinar qualquer pedido feito por um outro país, qualquer que seja esse país, segundo o interesse nacional, acima de ideologias e acima de questões geopolíticas. O Brasil é uma das maiores economias do mundo, o relacionamento tem que estar subordinado ao interesse nacional. O Brasil seria uma exceção se não fizer”, cobrou.

Em uma outra questão envolvendo as ambições de Washington na região, o governo tem sido acusado, e não só por opositores, de estar a serviço dos interesses dos americanos na Venezuela, entre os quais uma possível invasão militar. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), por exemplo, divulgou nota, em 18 de setembro, condenando a visita do secretário de Estado americano, Mike Pompeo, a Roraima, que faz fronteira com a Venezuela, às vésperas das eleições presidenciais americanas. Considerou que a visita “afronta as tradições de autonomia e altivez” das políticas externa e de defesa do Brasil.

Um grupo de ex-chanceleres brasileiros divulgou nota em apoio ao presidente da Câmara. Um dos signatários é Celso Amorim, à frente do Itamaraty de 2003 a 2010. “É um absurdo o que está acontecendo com a nossa política externa há muito tempo. É um contrassenso. A única característica coerente dela é a submissão total não aos Estados Unidos, mas ao governo Trump. Isso é política de submissão, é a internalização da política externa de um outro país”, criticou.

Vacina e etanol

Além da questão venezuelana, Celso Amorim também criticou o acordo, firmado em setembro, pelo qual o governo brasileiro aprovou uma cota de isenção tarifária para a importação de 187,5 milhões de litros de etanol dos Estados Unidos, país que responde por cerca de 90% do que chega desse combustível aos portos brasileiros a cada ano. Com a decisão, o etanol poderá entrar no Brasil sem a incidência do imposto de importação – que, atualmente, é de 20% para todos os países que não integram o Mercosul.

“Não dá para entender essa questão da tarifa do etanol. Não tem paralelo na história. É um momento de uma absoluta submissão aos Estados Unidos. É a única explicação”, indignou-se Amorim.

Ele também criticou o veto do presidente Bolsonaro à compra da vacina chinesa, a Coronavac, destinada ao combate ao novo coronavírus. "O ministro da Saúde, que é um general, anuncia que vai comprar a vacina chinesa e, algumas horas depois, o presidente decide o contrário. O que é que é isso? Como é que o Brasil ataca o principal parceiro comercial. Um país com o qual nós temos um superávit de 70% de todo o superávit comercial brasileiro. Foge à razão. É uma coisa anormal", declarou o ex-ministro.

Juliano Cortinhas, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), lembrou que Bolsonaro nomeou como chanceler um embaixador inexperiente que, segundo ele, deu um giro de 180 graus na experiência centenária de apoio às organizações internacionais e a uma política externa autônoma e soberana. Segundo o docente, o Brasil filiou-se, em vários sentidos, a uma visão de mundo a partir da qual não há ganhos.

“Nosso interesse significa proteger o produto nacional de concorrências desleais do sistema internacional. Não é isso que a gente vem fazendo; ao contrário, a gente vem protegendo o produto americano. O interesse nacional brasileiro é aumentar o nosso mercado, não o mercado dos EUA, como o Brasil tem feito na questão do 5G”, lamentou Cortinhas.

Para Günther Richter Mros, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o alinhamento do governo atual com a administração Trump reflete uma aposta alta feita por Bolsonaro e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, por investimentos diretos com dinheiro dos EUA. Segundo ele, desde 2018 Washington vem trabalhando para tornar realidade um plano envolvendo até US$ 60 bilhões para a oferta de crédito a projetos de interesse da Casa Branca. Günther afirma que essa é uma das respostas americanas aos avanços da China em investimentos diretos em vários países de desenvolvimento baixo ou médio.

“Caso Trump seja reeleito, em novembro, poderá ocorrer avanços nas linhas de crédito americanas, mas em troca do afastamento do Brasil dos investimentos chineses. Mas, caso Joe Biden vença, a tendência é de que as sonhadas linhas de crédito não saiam tão facilmente. É verdade, ainda, que com Trump, tampouco, há certeza de cumprimento das promessas”, frisou o Günther.

Procurado pela reportagem para comentar as críticas à política externa, o Ministério das Relações Exteriores não respondeu até o fechamento desta edição. 

 

sábado, 15 de agosto de 2020

Os sete pecados da diplomacia bolsolavista - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente trabalho publicado:


1360. “A relação Brasil-EUA e os sete pecados capitais da diplomacia bolsolavista”, jornal Zero Hora (RS; 14/08/202; link: ); e postado no blog Diplomatizzando (15/08/2020; link: ). Relação de Originais n. 3733. 

Eis o texto original: 

Sete pecados capitais da diplomacia bolsolavista

Paulo Roberto de Almeida
Diplomata de carreira, professor no Uniceub (Brasília)

A diplomacia bolsolavista, formulada em grande medida fora do Itamaraty e operada apenas formalmente por auxiliares da Casa, é feita de rupturas com respeito aos padrões históricos da política externa brasileira, que sempre foi tradicionalmente caracterizada pela busca de autonomia e comprometida, antes de mais nada, com o interesse nacional. Ela é tão bizarra no horizonte bissecular de nossa diplomacia que sequer pode ser assemelhada a uma espécie de desvio padrão numa linha de tendência da política externa nacional, pois ela se situa completamente fora do quadro. Observando-se cronologicamente seu desempenho em um ano e meio de esquisitices de inspiração bolsolavista, pode-se identificar os sete pecados capitais dessa diplomacia sui generis
1) Ignorância: não parece haver dúvidas de que os que conduzem, de fato, as relações exteriores do Brasil são profundamente ignorantes sobre as relações internacionais e sobre a própria política externa do Brasil. O filho 03 do presidente, que exerce esse papel, não tem a menor ideia de quem foi, nem nunca ouviu falar de Henry Kissinger.
2) Irrealismo: esses “decisores” começam partindo de uma fantasmagoria, o tal de globalismo – que nunca demonstram existir empiricamente – e passam daí a atacar o método por excelência da diplomacia contemporânea: o multilateralismo.
3) Arrogância: como a anterior tribo dos lulopetistas, eles acham que tudo o que existia antes deles foi errado; o chanceler acidental vive apontando distorções na política externa dos últimos 30 anos (falou até “depois de Rio Branco”), não mencionando que serviu de forma obediente todas essas distorções até com entusiasmo (existem provas disso). Ele fez uma completa reforma do Itamaraty sem jamais consultar seus colegas de carreira: por cima.
4) Servilismo: a frase símbolo desse alinhamento automático é o famoso “I love you Trump”, disparado pelo presidente a seu colega americano em setembro de 2019 na ONU. Teve início no primeiro dia de governo quando se ofereceu uma base militar americana no Brasil, prontamente rejeitada pelos ministros militares; mas tem muitos outros exemplos.
5) Miopia: já manifestada numa alegada “ameaça globalista”, tem recusado a cooperação multilateral no combate a um desconhecido, até aqui, “comunavirus”; ela se manifestou em especial na animosidade em relação à China e numa adesão unilateral ao governo de Israel, desconhecendo a complexidade dessas relações e ameaçando negócios e investimentos extremamente relevantes para o presente e o futuro do Brasil.
6) Grosseria: Ela se manifestou sobretudo em direção de líderes estrangeiros que não pensam como o presidente, com ofensas a estadistas europeus comprometidos com a defesa do meio ambiente e também a dirigentes vizinhos de outras correntes políticas.
7) Inconstitucionalidade: a primeira já está comprometida no servilismo, ou seja, a renúncia à independência nacional, para subordiná-la a um dirigente estrangeiro, mas também existe a intervenção nos assuntos internos de outros países; a mais grave é o desconhecimento do Direito Internacional, manifestado no apoio às sanções unilaterais do governo americano, o que pode concretizar-se inclusive contra o próprio Brasil, como no caso das salvaguardas abusivas (e ilegais) contra exportações brasileiras de aço e alumínio. 
Todos esses pecados se revelaram abertamente na recusa do multilateralismo, na negligência de normas consagradas do Direito Internacional, no abandono da formulação autônoma da política externa brasileira, na relativização da noção de interesse nacional, na substituição da diplomacia profissional pelos preconceitos de amadores ignorantes, assim como o desprezo pelos princípios constitucionais das relações internacionais. Dois exemplos, entre outros, da subordinação aos EUA: a aceitação do candidato americano à presidência do BID e a adesão ao veto de Trump à participação da empresa chinesa Huawei no leilão do 5G.
  
[Brasília, 3733, 12 de agosto de 2020]


Esse trabalho, na verdade, teve de limitar-se à imposição dos 2.000 caracteres com espaço, mas a intenção seria publicar um trabalho mais amplo, como reproduzido abaixo: 

As eleições americanas e a política externa bolsonarista
  
Paulo Roberto de Almeida
Diplomata de carreira, professor no Uniceub (Brasília)
  
O primeiro elemento do título é, como dizem os americanos, self-explaining: desde George Washington, que exerceu dois mandatos sucessivos numa espécie de concessão inaugural a um dos “pais fundadores” de um regime presidencialista até então inédito na história dos sistemas constitucionais modernos, os Estados Unidos têm conduzido eleições regulares a cada quatro anos para escolher, sob o formato de colégio eleitoral, os seus dirigentes executivos. A limitação a dois mandatos foi introduzida em tempos excepcionais, depois que Franklin Roosevelt venceu quatro escrutínios, em meio à crise da Grande Depressão e à Segunda Guerra Mundial. É possível que Donald Trump não consiga renovar o seu, em virtude de erros sucessivos na condução do país, não apenas por causa da pandemia.
O segundo elemento requer uma explicação, justamente porque não se refere à política externa brasileira e sim bolsonarista. Isso se deve a que, nunca antes na história do Brasil, estivemos confrontados a uma diplomacia tão distante dos padrões habituais a que estamos acostumados no Itamaraty e nas relações exteriores do país. Alguns exemplos desse caráter inédito das posturas externas do governo Bolsonaro, aliás desde antes, são ilustrativos dessa caracterização. Logo após as eleições de outubro de 2018, o filho 03, tido como chanceler real do Brasil e candidato, por um tempo, à embaixada em Washington, passeou por Washington, em contato com familiares do presidente Trump, exibindo, já naquele momento, um boné da campanha “Trump 2020”. Ele também se manifestou publicamente, no mesmo sentido da xenófoba campanha do presidente americano contra os imigrantes, sobre a presença de brasileiros ilegais nos Estados Unidos, declarando-os “uma vergonha nacional”.
Logo depois, veio ao Brasil, John Bolton, então conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, velho falcão da Guerra Fria, um dos entusiastas da invasão do Iraque por George Bush Jr, em 2003, e antigo “inimigo” do Brasil, no período anterior à aceitação do Tratado de Não Proliferação Nuclear por FHC, em 1996. Ele reuniu-se com o presidente eleito no Rio de Janeiro, já acompanhado pelo chanceler escolhido – um diplomata jovem, sem expressão reconhecida no Itamaraty –, e ali iniciou-se um grande “namoro”, depois confirmado pelo próprio presidente com um sonoro “I love you Trump”, por ocasião da abertura dos debates na Assembleia Geral da ONU, em setembro de 2019. No próprio dia da posse, na presença do Secretário de Estado Mike Pompeo, o chanceler acidental alardeou, com a aparente concordância do presidente, a instalação de uma “base americana” no Brasil, apenas para ser imediatamente desmentido, e o projeto recusado, pelos assessores militares do governo, a começar pelo ministro da Defesa e pelo ministro do GSI.
O primeiro assunto de política externa a ocupar o governo Bolsonaro foi a crise da Venezuela, e mais uma vez se revelou o alinhamento automático da diplomacia brasileira com um projeto eleitoreiro do presidente Trump no sentido de forçar a queda do regime chavista; mais uma vez, os militares, a começar pelo vice-presidente Mourão, tiveram de se mobilizar para impedir que o território brasileiro fosse usado como plataforma de uma suposta ofensiva “humanitária” de ajuda ao povo venezuelano, capaz de deslanchar uma guerra civil e provocar desestabilização nos países fronteiriços, entre eles a Colômbia. O vice-presidente Mourão teve de pessoalmente liderar uma delegação brasileira a uma reunião do Grupo de Lima para barrar a aventura militar dos americanos, apoiada pelo chanceler, e confirmar a via diplomática para alguma solução, se possível, ao problema venezuelano.
Logo no primeiro semestre de 2019, o presidente pretendia fazer designar o seu filho Eduardo, o chamado chanceler efetivo, como embaixador do Brasil em Washington, o que recebeu rejeição unânime da classe política e da opinião pública de modo geral, uma vez que o deputado não tinha a menor condição de desempenhar tal cargo. Confirmando a política de submissão da diplomacia bolsonarista aos interesses do governo americano, e ao desejos do presidente Trump em especial, o Itamaraty – mais provavelmente os verdadeiros decisores pela política externa, todos eles estranhos ao Itamaraty – emitiu notas de apoio e de adesão a várias iniciativas ou ações do governo Trump sobre temas de relevância na agenda internacional: o assassinato do general iraniano Suleimani em Bagdá; a votação na ONU em resolução sobre sanções unilaterais (quando o Brasil ficou totalmente isolado, com Israel e os próprios EUA); um desequilibrado “plano de paz” para a Palestina (que não recebeu sequer o apoio de nenhum aliado da OTAN) e diferentes propostas levantadas no Conselho de Direitos Humanos sobre temas de igualdade de gêneros e direitos das mulheres e de minorias. O mais grave defeito dessas notas de apoio é o fato de elas terem ignorado completamente o Direito Internacional e até resoluções do Conselho de Segurança sobre seus temas, ou até contrariado os interesses nacionais (como a aceitação de sanções unilaterais americanas, o que pode até voltar-se contra o próprio Brasil). 
Dois outros temas, da maior relevância para o Brasil, traduzem a compulsão do chanceler, e de seus patronos de fora do Itamaraty, de sempre alinhar a política brasileira aos interesses americanos, aliás desde antes mesmo de ser inaugurado o governo: presidente, familiares, chanceler, todos anunciaram a mais estreita aliança não apenas com os EUA, mas sobretudo com o governo Trump. Foi por causa dessa submissão total, para todos os efeitos práticos, mas também por crenças equivocadas de todos eles, que teve início antes mesmo da campanha eleitoral, esse largo exercício diplomático de servidão voluntária, começando pela animosidade demonstrada em relação à China, nosso maior parceiro comercial e o país que, sozinho, fornece praticamente um terço do saldo comercial externo. Essa hostilização, por razões puramente ideológicas, causou reações não só na China, como principalmente entre a comunidade dos homens de negócios que transacionam com a China, sobretudo no agronegócio (grãos e carnes), mas também em mineração (minérios e petróleo). Foi também pelas mesmas razões que os mesmos decisores equivocados começaram a sinalizar um veto brasileiro à participação da empresa eletrônica chinesa Huawei – já presente no Brasil há mais de uma década e grande fornecedora de equipamentos de comunicações e eletrônicos em geral – no leilão de seleção das empresas habilitadas a operar o sistema 5G no Brasil. Outras sinalizações irracionais foram manifestadas a propósito da pandemia do Covid-19, chegando o chanceler ideológico a falar de um “comunavirus” a esse respeito.
Os mais recentes escolhos nas frustrações acumuladas nas relações bilaterais com os EUA – que nunca corresponderam às demonstrações de submissão unilateral do Brasil – foram a renovada comunicação de que visitantes provenientes do Brasil não seriam admitidos nos EUA, em virtude da extensão da pandemia entre nós, assim como o anúncio, por Trump, de que poderia impor sanções a produtos brasileiros se o Brasil não reduzir as tarifas sobre o etanol americano, o que configura uma espécie de chantagem contra nossa soberania em matéria de política comercial. Registre-se que, contrariamente às normas do Gatt-OMC, a política comercial de Trump já impôs salvaguardas unilaterais e ilegais às exportações de aço e alumínio, de diversos países, não só ao Brasil, mas também a sócios dos EUA no Nafta, ou seja, Canadá e México. No plano mais geral, o governo Trump está desmantelando as instituições que os próprios EUA criaram desde Bretton Woods, em especial a OMC e seu sistema de solução de controvérsias. Nesse capítulo, a diplomacia submissa do Brasil também seguiu os EUA ao denegar o status de economia de mercado à China, um gesto considerado inamistoso pelo gigante asiático, e que talvez sirva de motivo para retaliações ponderadas. 
Não obstante todas essas demonstrações de desapreço ao Brasil – assim como a outros supostos aliados dos EUA, na OTAN ou em outras instâncias –, a diplomacia bolsonarista continua a praticar um alinhamento praticamente automático às posturas do governo Trump, uma opção absolutamente inédita nos anais da política externa brasileira, mesmo considerando os tempos da luta comum contra o comunismo, durante a Guerra Fria, quando o suposto alinhamento nunca foi automático e quando ocorreu consistia numa espécie de barganha negociada em troca de alguma vantagem ou benefício ao Brasil, geralmente de natureza econômica. A suprema ironia dos bolsonaristas é que eles recusam a caracterização de ideológica para essa diplomacia feita de ruptura de padrões históricos da política externa brasileira, tradicionalmente caracterizada pela busca de autonomia e comprometida, antes de qualquer outra coisa, com o interesse nacional. 

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 3732, 11 de agosto de 2020



sexta-feira, 8 de maio de 2020

Livros sobre o Brasil e os Estados Unidos - Paulo Roberto de Almeida

3293. “Livros sobre o Brasil e os brasilianistas e sobre as relações Brasil-Estados Unidos organizados/editados por Paulo Roberto de Almeida”, Lisboa-Porto, 29 de junho-1 de julho de 2018, 15 p. Explicações sobre e sumários dos seguintes livros:

 O Brasil dos Brasilianistas: um Guia dos Estudos sobre o Brasil nos Estados Unidos, 1945-2000Rubens Antonio Barbosa, Marshall C. Eakin e Paulo Roberto de Almeida (editores) (São Paulo: Paz e Terra, 2002); 


Envisioning Brazil: A Guide to Brazilian Studies in the United States, 1945-2003Edited by Marshall C. Eakin and Paulo Roberto de Almeida (Madison: Wisconsin University Press, 2005); 

Guia dos Arquivos Americanos sobre o Brasil: coleções documentais sobre o Brasil nos Estados Unidos; Paulo Roberto de Almeida, Rubens Antonio Barbosa e Francisco Rogido Fins (orgs.) (Brasília: Funag, 2011); 

Relações Brasil-Estados Unidos: assimetrias e convergênciasPaulo Roberto de Almeida e Rubens Antônio Barbosa (orgs.) (São Paulo: Saraiva, 2005). 



3664. O Brasil dos Brasilianistas: um guia dos estudos sobre o Brasil nos Estados Unidos, 1945-2000organizadores:Rubens Antônio Barbosa, Marshall C. Eakin e Paulo Roberto de Almeida (São Paulo: Paz e Terra, 2002, 514 p.; ISBN: 85-219-0441-X); Brasília, 7 maio 2020, 455 p. Reformatação da edição comercial, fora do mercado, para fins de divulgação nas redes sociais. Disponível nas plataformas Academia.edu (link: https://www.academia.edu/42973774/O_Brasil_dos_Brasilianistas_um_guia_dos_estudos_sobre_o_Brasil_nos_Estados_Unidos_1945-2000_2002_) e Research Gate (link: https://www.researchgate.net/publication/341220241_O_Brasil_dos_Brasilianistas_um_guia_dos_estudos_sobre_o_Brasil_nos_Estados_Unidos_1945-2000); divulgado no blog Diplomatizzando (link:  https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/05/o-brasil-dos-brasilianistas-livro.html). Capítulo 1 (“Introdução: uma certa ideia do Brasil: as afinidades eletivas dos brasilianistas”, Marshall Eakin e PRA; na Academia.edu, link: https://www.academia.edu/42975463/Introducao_Uma_certa_ideia_do_Brasil_as_afinidades_eletivas_dos_brasilianistas); Capítulo 2 (“Tendências e perspectivas dos estudos brasileiros nos Estados Unidos”, PRAlmeida; link na plataforma Academia.edu: https://www.academia.edu/42975560/2._Tend%C3%AAncias_e_perspectivas_dos_estudos_brasileiros_nos_Estados_Unidos); Capítulo 15. (“Cronologia da produção brasilianista de 1945 a 2001”; na plataforma Academia.edu; link: https://www.academia.edu/42975754/Cronologia_da_Producao_Brasilianista_1945_a_2001); Capítulo 18 (“Bibliografia seletiva”, plataforma Academia.edu; link: https://www.academia.edu/42975795/18._Bibliografia_seletiva_da_produ%C3%A7%C3%A3o_editada_ou_publicada_nos_EUA_sobre_o_Brasil).


3172. “Você é um ‘accident prone diplomat’: minhas interações com o embaixador Rubens Antônio Barbosa”, Brasília, 2 outubro 2017, 45 p. Ensaio impressionista para servir de depoimento sobre minha relação de trabalho e amizade com o diplomata que foi meu chefe em diversas ocasiões. Publicado em versão resumida no livro de Rubens Antônio Barbosa: Um diplomata a serviço do Estado: na defesa do interesse nacional (depoimentos ao Cpdoc) (Rio de Janeiro: FGV, 2018, 300 p.; ISBN: 978-85-225-2078-7), pp. 273-289. Divulgado em versão completa na plataforma Academia.edu (21/10/2018; link: https://www.academia.edu/37622963/Um_accident-prone_diplomat_depoimento_sobre_emb._Rubens_Barbosa) e em Research Gate (link:https://www.researchgate.net/publication/328416691_Voce_e_um_'accident-prone_diplomat').




quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Brasil fornece maior superávit comercial para os EUA (Valor)

Brasil é país com quem EUA têm maior avanço no superávit comercial

Conta positiva para Washington cresce em U$S 3,6 bi, com venda maior de gasolina

Barral: pequeno crescimento pode ter impacto na importação de insumos — Foto: Luis Ushirobira/ValorBarral: pequeno crescimento pode ter impacto na importação de insumos — Foto: Luis Ushirobira/Valor
Barral: pequeno crescimento pode ter impacto na importação de insumos — Foto: Luis Ushirobira/Valor 
Valor Econômico, 22/01/2020

No primeiro ano de aproximação do governo de Jair Bolsonaro ao de Donald Trump, o Brasil deve se firmar como o país que mais contribuiu positivamente para a balança comercial dos Estados Unidos em 2019, considerando os pares com que os americanos têm superávit. Segundo especialistas, ainda é cedo, porém, para cravar que o movimento é fruto do alinhamento político dos líderes. 
Pelas contas de Washington, os EUA tinham um saldo positivo com o Brasil de US$ 11,3 bilhões até novembro, ante US$ 7,7 bilhões em igual período de 2018. Um cenário bem diferente da balança comercial americana geral, que estava deficitária em US$ 786 bilhões nos 11 primeiros meses de 2019, um cenário constantemente evocado por Trump ao justificar a guerra tarifária com a China. 
A expansão de US$ 3,6 bilhões do superávit americano com o Brasil é bem superior à de US$ 1,7 bilhão para o Peru, que aparece em segundo lugar entre as maiores contribuições de 2019. Pelos dados dos EUA, as exportações ao Brasil crescem 8,8% - de US$ 36,3 bilhões entre janeiro e novembro de 2018 para US$ 39,5 bilhões em 2019 -, enquanto as compras americanas de produtos brasileiros recuam 1,4% (de US$ 28,7 bilhões para US$ 28,3 bilhões). 
Especialistas observam que a pauta do comércio entre EUA e Brasil não mudou significativamente em 2019, mas chama a atenção o crescimento da venda de combustível americano ao Brasil, que avançou 35% até novembro de 2019, para US$ 7,7 bilhões, sempre de acordo com o governo americano. Com isso, o produto, que é o principal item de exportação dos EUA ao Brasil, passou de uma participação de 16% para 19% no total das vendas para o país. 
“Como o preço da gasolina caiu, o que deve ter ocorrido é um aumento de volume”, diz Lia Valls, pesquisadora da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). 
Uallace Moreira, professor de economia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) que analisou a balança comercial entre Brasil e EUA no período de 2000 a 2014, explica que, a partir de 2015, a Petrobras começou a focar suas exportações em óleo cru, o que contribuiu para que as importações de derivados de petróleo aumentassem significativamente. 
Além disso, há questões regionais. “O refino na Europa tem caído e a América Latina não tem capacidade de atender o mercado brasileiro. O refino hoje cresce na Ásia, mas, por logística, não compensa importar, então o mais favorável é mesmo se voltar para os Estados Unidos”, diz Moreira. 
Eric Farnsworth, vice-presidente do centro de estudos Council of the Americas, também cita o petróleo, mas acrescenta outros fatores. “Mudanças de curto prazo na balança comercial provavelmente são causadas por alterações nas taxas de juros domésticas, no câmbio e em commodities específicas, como o petróleo, em que os Estados Unidos agora se tornaram exportadores líquidos, e não importadores”, afirma. 
Na avaliação de Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil e sócio da Barral M Jorge, houve ainda “um pequeno crescimento da economia brasileira”, o que pode ter impactado o aumento da importação de insumos, sobretudo de combustíveis. Ele lembra que, incluindo etanol, combustíveis representam 30% das compras brasileiras dos EUA. 
Moreira afirma que, se as previsões do mercado para um crescimento econômico brasileiro acima de 2% neste ano se confirmarem, a demanda por esse tipo de produto vai aumentar. 
Por usar metodologia diferente - que não leva em conta custos como frete e seguro, por exemplo -, os números do Brasil são distintos daqueles computados pelos Estados Unidos, mas não contrariam a tendência de ganho de espaço das importações americanas no país. 
Os EUA representaram 17% da pauta de importações do Brasil em 2019, atrás da China, com 20%. No ano passado, as compras de produtos do país asiático cresceram US$ 540,4 milhões, somando US$ 35,3 bilhões. Embora o volume americano total seja menor (US$ 30,1 bilhões), o acréscimo de US$ 1,1 bilhão em importações ante 2018 foi o maior entre os países com que o Brasil tem relação comercial. 
Com isso, pelas contas brasileiras, as trocas com os americanos aprofundaram seu déficit de US$ 271,1 milhões em 2018 para US$ 525,5 milhões no ano passado - a balança fechou 2019 com superávit de US$ 46,7 bilhões. 
Apesar dos avanços, o Brasil ainda representa apenas 2,5% dos destinos das exportações americanas. Moreira destaca o maior alinhamento do último governo, de Michel Temer, e, principalmente, do atual com o mercado americano, na comparação com os anos do PT na Presidência, mas pondera que, “do ponto de vista de gerar crescimento, ainda é cedo para avaliar”. 
Mesmo agora, a relação entre os dois países não é linear. No fim de 2019, Trump anunciou que reinstalaria tarifas ao aço exportado do Brasil, acusando o país de desvalorizar artificialmente sua moeda. Dias depois, Bolsonaro anunciou que ligara para Trump e que o presidente americano desistira do plano. “Os Estados Unidos são um parceiro importantíssimo. Podem ter certeza que nossa balança comercial crescerá muito nos próximos anos”, disse Bolsonaro à época. 
Mudanças mais significativas não devem ocorrer no próximo um ou dois anos, pondera Peter Hakim, presidente emérito da organização Inter-American Dialogue. “Foram necessários dois anos de negociações para fazer mudanças modestas no acordo de livre-comércio EUA-México-Canadá de 25 anos. E o Brasil precisa resolver sua relação com o Mercosul”, diz. 
Segundo ele, a ampliação do comércio EUA-Brasil depende ainda do desenrolar da agenda de reformas brasileira e do acordo entre Mercosul e União Europeia. 
“Para 2020, com a temporada de eleições nos EUA em andamento, será importante que os dois governos trabalhem juntos para definir o tipo de relacionamento comercial e econômico de longo prazo que desejam ter entre si”, acrescenta Farnsworth.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

A diplomacia bolsonarista é uma vergonha - Matias Spektor

Sempre seguindo as postagens mais interessantes: 


A diplomacia bolsonarista é uma vergonha. Para derrotar esse projeto fajuto em 2022 e trocá-lo por algo melhor, é necessário que as oposições tenham o diagnóstico correto. Melhor síntese do alinhamento aos EUA hoje.
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Diego Zancan Bonomo
@dzbonomo
·
Esse
🧵
não é uma tentativa de “normalizar” o que não está bom, mas de oferecer uma forma diferente de olhar os fatos das relações entre #Brasil e #EUA em 2019. Essa relação é mais densa e complexa do que as emoções das manchetes. 15 pontos para quem tiver paciência.
🇧🇷
🇺🇸
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2) Aliado Extra-OTAN: designação tem efeito simbólico, mas abre caminho para adensar cooperação econômica futura na área de defesa e segurança. Ambos querem vender mais no mercado do outro, sobretudo em compras públicas. Ponto para o
🇧🇷
e os
🇺🇸
.
1
10
3) OCDE:
🇧🇷
precisa do apoio dos
🇺🇸
para aceder à organização, mas apoio dos
🇺🇸
não significa que
🇧🇷
fure a fila de quem já tinha assegurado esse apoio antes.
🇺🇸
apoiam formalmente o
🇧🇷
. Ponto para o
🇧🇷
.
2
10
4) TED na OMC:
🇧🇷
comprometeu-se a limitar TED futuro. Ponto para os
🇺🇸
, que trouxeram
🇧🇷
para sua posição, mas ponto também para o
🇧🇷
, que preservou TED já existente e ainda poderá usar oportunidade para forçar
🇨🇳
e
🇮🇳
a pararem de usar TED contra interesses brasileiros.
1
9
5) Global Entry: anúncio de criação de projeto piloto com o Fórum de Altos Executivos é demanda antiga dos brasileiros. Primeiro passo para um acordo amplo. Ponto para o
🇧🇷
.
1
9
6) Isenção de vistos: extensão da isenção unilateral de vistos pelo
🇧🇷
estimula turistas americanos a visitarem o país e consumirem aqui. Ponto para os
🇺🇸
, mas também ponto para o
🇧🇷
, que passa a exportar mais serviços.
1
10
8) Etanol:
🇧🇷
ampliou a quota de importação. Ponto para os
🇺🇸
, mas também para o
🇧🇷
, que precisa dessa importação para atender à demanda pelo combustível aqui; e para os produtores do NE, incluíram critério de sazonalidade na quota.
1
9
9) Trigo:
🇧🇷
planeja abrir a cota em 2020. Em princípio, ponto para os
🇺🇸
, mas a cota é para todos os países.
🇨🇦
e
🇷🇺
podem ocupá-la, em detrimento dos americanos. A ver.
2
9
10) Alumínio e aço:
🇺🇸
impôs tarifa ao primeiro e quota ao segundo. Ponto parcial para os
🇺🇸
porque prejudicam outros setores de sua própria indústria.
1
8
11) SGP:
🇧🇷
, por enquanto, escapou das exclusões de países já feitas pelos
🇺🇸
. Ponto para o
🇧🇷
, mas também para os
🇺🇸
porque exportações brasileiras são insumos para a indústria americana.
1
8
12) PPH: nova regra do INPI tornará acordo de patentes com os
🇺🇸
permanente e válido para todos os setores. Ponto para os
🇺🇸
, que aceleram processos aqui, mas também ponto para o
🇧🇷
, que reduz “backlog” e pode acelerar seus processos por lá.
1
9
13) Mercosul-União Europeia: acordo beneficia
🇧🇷
,
🇦🇷
,
🇵🇾
,
🇺🇾
e
🇪🇺
. Ponto duplo para o
🇧🇷
, que, além do ganho econômico, cria incentivo para os
🇺🇸
sentarem à mesa para discutir um acordo com o #Mercosul.
1
9
14) Guerra comercial: tarifas dos
🇺🇸
contra
🇨🇳
e consequente retaliação chinesa criaram um “boom” de exportações agrícolas do
🇧🇷
para a
🇨🇳
, sobretudo soja. Ponto para o
🇧🇷
.
2
9
15) Venezuela:
🇺🇸
atraíram
🇧🇷
para uma posição de maior crítica ao regime da
🇻🇪
. Ponto para os
🇺🇸
, mas também ponto parcial para o
🇧🇷
, que, segundo a imprensa, bloqueou proposta de intervenção militar feita pelos americanos. Ponto ainda para
🇨🇳
e
🇷🇺
, que ampliaram apoio à
🇻🇪
.